DESAFIOS NA COMUNICAÇÃO DA AÇÃO SOCIAL PRIVADA Outubro 2007 Cenário • Esta pesquisa é fruto da parceria entre o GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas e o DATABERJE, responsável pela condução de pesquisas da ABERJE – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. • O estudo investiga conceitos relacionados ao Investimento Social Privado (ISP) e Responsabilidade Social Empresarial (RSE), fontes de informação sobre o terceiro setor, zonas de conflito na comunicação da ação social, status da área de Comunicação nas empresas, institutos e fundações e a composição das equipes. • O estudo foi coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Nassar, presidente da ABERJE e professor da ECA-USP e Profª Suzel Figueiredo, diretora do DATABERJE, docente de pesquisa da Faculdade de Comunicação da FAAP. • A coleta de dados ocorreu entre 18 e 22 de outubro de 2007. Perfil da amostra e metodologia • A amostra representada neste estudo refere-se a 71 organizações associadas ao GIFE, sendo 55 institutos e fundações e 16 empresas, de um universo de 105 associados. • A metodologia foi quantitativa, com aplicação telefônica de questionário estruturado com maioria de perguntas fechadas. • O público-foco para responder à pesquisa foram os gestores da comunicação social da organização. No entanto, observou-se que o responsável por essa função nem sempre podia responder pelas ações do instituto, fundação ou área social da empresa. Optou-se então por abordar a pessoa mais informada sobre as ações sociais das organizações. Perfil dos entrevistados Foram entrevistados profissionais de vários níveis, de presidentes a assistentes, metade deles responsável pela comunicação com a imprensa e a outra metade da área de responsabilidade social, relacionamento com o mercado e coordenação das ações da entidade. Nos cargos de gestão de primeira linha encontra-se um terço da amostra, na coordenação e assessoria outro terço e nos cargos técnicos, os demais participantes. 4,2% 23,9% 35,3% 18,3% 18,3% Coordernador / Chefe / Supervisor Presidente / Superintendente / Diretor Gerente / Gestor Assistente/ Assessor / Analista Outros Perfil dos entrevistados Embora a maioria dos entrevistados (63,4%) seja ligada à área de comunicação, chama a atenção a variedade de áreas de formação dos profissionais que atuam no campo social, sinalizando o caráter transversal da área. 39,4% 19,7% 8,5% 8,5% 8,5% 7,0% 7,0% Jornalismo Outra formação na área de Humanas Marketing / Comunicação Relações Públicas Formação na área de Exatas Administração de empresas Publicidade e Propaganda Área de atuação das organizações Educação é o foco de atuação social de 81,7% dos associados. O dado sugere um esforço para a realização de atividades mais voltadas à promoção da cidadania do que ao assistencialismo. 81,7% 26,8% 23,9% 15,5% 14,1% 11,3% 11,3% Educação Cultura e Artes Desenvolvimento Comunitário Economia Popular Tecnologia e Produção de Conhecimentos 9,9% 8,5% 2,8% Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Saúde Assistência Social Cidadania, Direitos Humanos e Justiça Social Fortalecimento de Organizações da Sociedade Civil Comunicação integrada A maioria absoluta das organizações entrevistadas tem um plano integrado de comunicação. Isso sugere que a Comunicação tem sido valorizada como área estratégica na ampliação do relacionamento das organizações com seus públicos de interesse. 25.4% Existem ações de comunicação 73.2% Existe um plano integrado de comunicação Outra 1.4% Equipes de comunicação enxutas Em quase metade dos casos, as equipes têm até 3 profissionais. Em 8,5% deles, as equipes encarregadas da comunicação são externas. As mais numerosas respondem pela comunicação de toda a empresa e não exclusivamente das ações sociais. 47,9% 18,3% 16,9% 7,0% 8,5% 1,4% Até 3 funcionários De 4 a 5 funcionários Entre 6 e 10 funcionários Mais de 10 funcionários A empresa trabalha somente com equipe externa Não sabe Alta gestão valoriza comunicação Na maioria dos casos (53,5%), a alta gestão das empresas considera estratégica a comunicação das ações sociais. O percentual de 7% que não se aplica refere-se a organizações geridas de forma independente, não existindo portanto uma empresa mantenedora. 53.5% 18.3% 15.5% 7.0% 2.8% Uma área estratégica Uma área de apoio Uma ferramenta Não se aplica Recusa 2.8% Não sabe Alta gestão comprometida Reiterando os dados sobre a valorização da comunicação pela alta gestão, a maioria dos entrevistados (59,2%) percebe muito envolvimento das diretorias com o trabalho das entidades que mantêm. 59.2% 25.4% 7.0% 7,0% 5.6% 1,4%1.4% Muito Algum envolvimento envolvimento Pouco Nenhum Não se aplica 1.4% Não sabe envolvimento envolvimento Muito Algum Pouco Nenhum Não se aplica envolvimento envolvimento envolvimento envolvimento Não sabe Ações variadas para comunicar o social As organizações estão se valendo de múltiplas formas para comunicar as ações sociais que apóiam ou desenvolvem. Divulgação para a imprensa, site institucional e eventos dirigidos para clientes, governo e possíveis investidores são as mais comuns. Anúncios publicitários são utilizados por quase metade das empresas. 94.4% Divulgação para imprensa 91.5% Site 84.5% Eventos dirigidos 76.1% Meios de Comunicação Interna Publicações 69.0% Balanços anuais 67.6% 47.9% Relatórios de sustentabilidade 46.5% Anúncios publicitários Não divulgamos assuntos ligados a investimento social privado 5.6% Conflitos entre marketing e entidades A existência de conflito entre a área de comunicação das ações sociais e a área de marketing da empresa mantenedora está diretamente relacionada ao grau de envolvimento da alta gestão. Entre as empresas cuja alta gestão está muito envolvida, 69% responderam que não existem conflitos, para 44,4% naquelas em que não há tanto envolvimento. Os conflitos são mais freqüentes nas entidades do que nas empresas. A possível explicação está no fato de que nas empresas o marketing é integrado à comunicação. 56.3% Não existem conflitos 21.1% Existem alguns conflitos Existem muitos conflitos 4.2% 15.5% Não se aplica Não sabe 2.8% Meios eletrônicos são os favoritos Questionados sobre o canal mais utilizado para se manterem informados sobre o terceiro setor, os respondentes destacam os meios eletrônicos, embora dificilmente sejam a única fonte de informação. Também são valorizados jornais e revistas especializadas, palestras, cursos, encontros com públicos específicos e mesmo troca de experiências com outras empresas. 25.7% 19.4% 18.3% 9.4% 7.9% 4.7% 3.7% 2.6% 6.3% 2.1% Internet Jornal Revistas especializadas Eventos Boletins eletrônicos Programas de TV Reuniões com públicos dirigidos Rádio Balanços sociais Outras empresas do setor Fonte de informação sobre 3º setor 30.3% 26.7% GIFE e ETHOS são as organizações mais citadas como referência em informação sobre o terceiro setor, seguidos por Rits e Akatu. Entidades da mesma área de atuação dos entrevistados também são valorizadas. 20.5% 9.7% 4.3% 3.2% 2.2% 1.6% 0.5% Gife – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas Instituto Ethos de empresas e responsabilidade social Rits – Rede de Informação sobre o terceiro setor Instituto Akatu pelo consumo consciente Empresas / Entidades Abong – Associação Brasileira Organizações não Governamentais Pauta Social – Agência de Pautas de Responsabilidade Social Outros Não sabe Falta de alinhamento conceitual A maioria absoluta (91,5%) dos entrevistados se considera muito bem informada sobre o campo social. No entanto, ao serem testadas frases que tratam dos conceitos de ISP e RSE, não há consenso sobre suas diferenças. Mais de um terço da amostra discorda que ISP e RSE têm objetivos distintos. Se por um lado 83,1% dos respondentes concordam em que ISP utiliza recursos privados com fins públicos, apenas 28,2% concordam em que RSE é praticada com recursos privados, para fins privados. 1.4% A responsabilidade social empresarial utiliza recursos privados com fins privados 28.2% Investimento social privado e responsabilidade social têm finalidades distintas 7.0% 59.2% Concorda Nem concorda, Nem discorda 63.4% 5.6% Discorda 35.2% Não sabe Falta de alinhamento conceitual A afirmação de que o ISP pode gerar vantagens de mercado foi a que obteve maior concordância (87,3%). Cerca de 60% dos entrevistados discordam de que filantropia seja uma forma de investimento social privado. Isso indica que o termo, embora integre o ISP, pode estar associado à idéia de assistencialismo. 1.4% O investimento social privado utiliza recursos privados para fins públicos 83.1% Investimento social privado pode gerar vantagens de mercado para as empresas 5.6% 9.9% 87.3% Filantropia também é Investimento social privado 33.8% 8.5% 12.7% 54.9% 2.8% Concorda Nem concorda, Nem discorda Discorda Não sabe Objetivo de divulgar ações sociais A divulgação das ações sociais tem finalidades empresariais, para a maioria absoluta dos respondentes. Em seguida, vêm objetivos relacionados à transformação social, dentre eles o interesse em gerar e compartilhar conhecimento e, em alguns casos, tornar-se referência na área. 78.9% 46.5% 18.3% 7.0% Objetivo empresarial Objetivo social Gerar conhecimento / compartilhar práticas Não se aplica Público-alvo da comunicação As entidades tentam comunicar suas ações sociais a toda a sociedade, mas sabem que isso nem sempre é possível. Daí o esforço de se comunicar de forma dirigida com públicos específicos de relacionamento. 76.1% 67.6% 67.6% 66.2% 63.4% 56.3% 25.4% 4.2% 2.8% 5.6% Toda a sociedade ONGs / profissionais ligados ao 3º setor Consumidores Parceiros/ Curadores / mantenedoras Público atendido/ Comunidade Funcionários Jornalistas Entidades de classe Governo Outras empresas Dificuldades para comunicar Os jornalistas são o público com que se tem a maior dificuldade na comunicação das ações sociais, pela falta de compreensão sobre os conceitos de ISP e RSE. A resistência parece vir da desconfiança de que as ações não passam de estratégia de marketing. Outros pontos de destaque são a falta de alinhamento com a empresa mantenedora e a escassez de recursos. 35.2% Falta de compreensão sobre o tema 21.1% Pouco espaço na mídia 12.7% Resistência da mídia 14.1% Pouco alinhamento com a mantenedora 12.7% Escassez de recursos 7.0% Excesso de informação sobre o tema Não se aplica Recusa Não sabe 2.8% 1.4% 2.8% Relacionamento com jornalistas Para 76% dos entrevistados, o relacionamento com os jornalistas é ótimo ou bom. Dentre os que disseram ter relacionamento regular, os principais motivos foram: resistência da imprensa à divulgação de projetos sociais empresariais, escassez de espaço e de profissionais especializados no assunto. 39.4% 36.6% 18.3% 2.8% Ótimo Bom Regular Recusa 2.8% Não sabe Profissional procurado no veículo Editores e repórteres especializados costumam ser os mais abordados quando existe interesse em comunicar alguma informação. Parte dos entrevistados não soube responder porque não se relaciona diretamente com a imprensa. 39.4% 29.6% 23.9% 12.7% 12.7% 8.5% 4.2% 1.4% 1.4% Editor Repórter Contato variado (veículo/assunto) Não se relaciona diretamente Assessoria tercerizada Diretor de redação Redator Recusa Não sabe Veículos com boa cobertura Os jornais O Globo e Valor Econômico (ambos com 25,5%), seguidos por O Estado de São Paulo (18,3%), foram os canais mais mencionados pela boa cobertura dos assuntos ligados à ação social privada. O alto percentual de Outros (68,6%) mostra a pulverização de veículos reconhecidos por realizar boa cobertura. Dentre eles, 28% são especializados, com destaque para a revista Página 22 40,6% (7%). 28,0% 25,4% 25,4% 18,3% 11,3% 9,9% 9,9% 9,9% 8,5% 8,5% 7,0% 9,9% Jornal O Globo Valor Econômico O Estado de S. Paulo Revista Exame Folha de S. Paulo Revista Época Revista Idéia Sócio- Ambiental TV Cultura TV Globo Jornal da Tarde Outros - Mídia Social Outros - Mídia Geral Nenhum Mais relacionamento com a imprensa Embora a maioria dos entrevistados avalie como ótimo ou bom o relacionamento com a imprensa, há muito interesse em ampliálo. O dado confirma o caráter essencial da mídia como instância capaz de contribuir para a visibilidade das ações das organizações sociais. 70.4% 21.1% 2.8% Muito interesse Algum Interesse Pouco interesse 1.4% Nenhum interesse 2.8% Recusa 1.4% Não sabe Divulgação social deve aumentar Para mais de 80% dos entrevistados, as organizações devem ampliar a divulgação de suas ações sociais nos próximos 5 anos. Isso sugere que o conhecimento do ISP pela sociedade torna-se cada vez mais importante para as empresas. 80.3% Ampliar Manter Reduzir Recusa Não sabe 8.5% 1.4% 7.0% 2.8% Conclusões • Os resultados dessa pesquisa mostram que os conceitos de Investimento Social Privado (ISP) e Responsabilidade Social Empresarial (RSE) não estão claros mesmo entre profissionais que trabalham nessa área. • Embora a maioria concorde com a idéia de que ISP e RSE são práticas distintas, mais de 60% discordam que responsabilidade social tem finalidade privada. • Chama a atenção que, para a maioria, o objetivo de divulgar a ação social está relacionado a objetivos empresariais. Para um terço da amostra, o compromisso é com a transformação social. • Para a maioria dos entrevistados, a relacionamento com os jornalistas é considerado ótimo ou bom. Mas, uma das maiores dificuldades de divulgação da ação social se dá justamente com a imprensa. Conclusões • Os entrevistados apontam para a falta de compreensão sobre o tema e a escassez de espaços de divulgação. Por outro lado, a pulverização de citações sobre fontes de informação do terceiro setor e veículos que se destacam por realizar uma boa cobertura mostram que há muitos espaços de divulgação. Cabe questionar se os espaços disponíveis atendem aos objetivos das organizações que a praticam. • Vale questionar também se as informações que os profissionais das fundações, institutos e empresas querem divulgar é relevante do ponto de vista jornalístico – para isso, seria necessário pesquisar a visão dos jornalistas. • Outro fator que dificulta a comunicação da ação social é a falta de alinhamento das fundações e institutos com as empresas mantenedoras e a escassez de recursos para a divulgação. Conclusões • De acordo com o Código de Ética do GIFE, o investimento social não deve ser confundido com uma ferramenta de comercialização de bens, sejam eles tangíveis ou intangíveis. No entanto, se a transformação social é um desejo genuíno, por que mais da metade dos entrevistados menciona como objetivo de divulgação algum aspecto empresarial? E se a ação social é o que importa, por que tanto foco na divulgação do nome das empresas? • Para o GIFE e para a ABERJE, o investimento social privado se baseia na premissa do interesse público e é legítimo que as organizações sociais privadas tenham um maior valor agregado para sua imagem como conseqüência de um investimento estruturado e gerador de impacto social. No entanto, isso deve ser subproduto e não atividade-fim. Ficha Técnica Pelo DATABERJE Direção Geral Prof. Paulo Nassar e Profª. Suzel Figueiredo Pesquisa Quantitativa Alaíde Ribeiro e Flávia Martins Processamento de dados Fabiana Rinaldi e Isabela Lazdans Codificação André Rieger e Felipe Assumpção Análise de dados Adriana Charoux e Suzel Figueiredo Revisão Geral Inês Castilho Pelo GIFE Fernando Rossetti e Tatiana Vieira