AUDIOVISUAL & ROTEIRO
FACULDADES RIO BRANCO
Prof. Franthiesco Ballerini
www.franthiescoballerini.com
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PERSONAGEM
Personagem vem a ser algo como personalidade e
aplica-se às pessoas com um caráter definido que
aparecem na narração.
 Para Aristóteles, os traços de personalidade não
estavam necessariamente dentro da ação que o
autor idealizava. Dizem que Menandro, o
comediógrafo grego, um dos pais da comédia,
achava fácil escrever as linhas de caráter de
personagens quando já sabia o que se ia passar e
em que ordem (argumento e enredo).
 Henry James dizia: “O que é um personagem
senão a determinação de um incidente? O que é
um incidente senão a ilustração de um
personagem?”

PERSONAGEM
O nascimento do personagem que vai começar a
desenvolver o conflito é determinado no próprio
instante em que se começa a escrever a sinopse.
Poder-se-ia dizer que a sinopse é o reino da
personagem, e quando mais desenvolvida estiver,
mais possibilidades terá o roteiro.
 A sinopse são ideias da nossa própria lavra, a
defesa das nossas personagens, a expressão
escrita da alma da história. Convém que seja um
texto claro e fluido, que tenha boa redação. Mas
seu estilo deve ser literalmente neutro, com a
única intenção de descobrir o relato e a sua
capacidade de se converter em roteiro.

PERSONAGEM
Não é o lugar adequado para pretender fazer
brilhar o estilo; e embora deva ser atraente e
sugestivo, sua qualidade mais determinante é a
solidez, porque é sobre a sinopse que se apoio o
passo seguinte.
 O texto de uma sinopse diz apenas como serão
transportadas para o écran (superfície, tela) os
personagens, através de uma história. É um texto
que quer ser transformado em imagens.
 Uma sinopse é a primeira forma textual de um
roteiro. É preciso especificar de maneira clara e
concreta os acontecimentos da história.
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PERSONAGEM

Uma boa sinopse é o guia perfeito para se obter o
roteiro. Por vezes, uma sinopse escrita por um
autor pode ser roteirizada por outro. É mais uma
razão para ser claro e explícito em todas as
indicações que definam os principais elementos
da história e dos personagens.
RESPONDA A PERGUNTAS DO TIPO PARA SE
FAZER UMA BOA SINOPSE:
O objetivo do protagonista fica bastante claro?
 Qual é o clímax? Possui impacto?
 Quais são as ações principais do protagonista?
 O que pretendemos explicar com esta história?
 Vale a pena?
 O problema levantado será suscetível de gerar
conflito?

TERMINOLOGIAS
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No Brasil, argumentista é diferente de roteirista.
O argumentista é o “fazedor de histórias”, enquanto o
roteirista é “aquele que escreve o roteiro”, embora
normalmente as duas funções sejam desempenhadas
por uma mesma pessoa.
Argumento é um resumo da história; Sinopse sugere
uma visão de conjunto, uma olhada geral. Ambos os
termos têm tendência a confluir.
Em espanhol, a tradição literária opõe argumento –
como resumo descritivo da história tal como sucede no
tempo – a trama ou enredo – que é o resumo da
história tal como é contada, embora os dois se
oponham ao tema, que seria um termo conceitual e
genérico abarcando o assunto de que se trata no
sentido mais amplo.
TIPOS DE SINOPSE
A pequena sinopse vai de duas a cinco folhas,
contém as personagens principais e a respectiva
história, de forma resumida. Normalmente,
escreve-se com vistas a um primeiro contato com
o produtor ou com o diretor, embora o produtor a
use também nas negociações com possíveis
compradores ou patrocinadores.
 A grande sinopse está mais relacionada com a
tradição europeia e o roteiro literário.
Normalmente ocupa dez folhas por cada hora de
audiovisual. Pode até conter fragmentos de
diálogos. Gasta-se bastante tempo para elaborar
e escrever este tipo de sinopse, e é um trabalho
remunerado.

TIPOS DE SINOPSE
A sinopse é, das formas escritas, talvez uma das
de menor longevidade, pois vive apenas o curto
período de tempo que vai da storyline até o
roteiro.
 Reconhecendo que o público a quem a sinopse se
dirige é muito selecionado, pois é composto
basicamente por produtores e diretores,
acostumados a este tipo de trabalho, não devemos
tentar enganá-los com um texto artificioso.
 A sinopse é a primeira etapa da elaboração do
roteiro e que pode ser vendida ou raptada. Assim,
devemos sempre registrar a nossa sinopse antes
de difundir ou distribuir.

PORQUE FAZER SINOPSE OU ARGUMENTO?
Com ele, prepara-se a viabilidade de um projeto
em todas as facetas.
 1 – Produção: viabilidade econômica, custo. É o
convite para produzir ou para evitar fazê-lo. Por
exemplo: numa sinopse consta uma cena que se
passa na Índia. Depois de muitas discussões,
chega-se à conclusão de que uma vaca com um
colar de flores no pescoço e bebendo água num
lado, ao entardecer, era suficiente para recriar a
Índia. Audiovisual é a arte do engano, seu custo
varia com a criatividade do roteirista, produtor e
diretor.

PORQUE FAZER SINOPSE OU ARGUMENTO?
O produtor desempenhará seu papel de superego,
tentando reduzir os custos. O diretor será o ego, é
a ele que compete a realização e, portanto, gastar.
O roteirista é o id, a inconsciência total, compete
a ele sonhar.
 Com uma boa sinopse é possível ter uma visão de
aproximadamente 85% do custo de uma
produção. Não obstante, outros fatores, como as
complicações técnicas ou o tempo da ficção,
também devem ser levados em conta.

PORQUE FAZER SINOPSE OU ARGUMENTO?

No que diz respeito ao tempo, não devem ser
desprezadas aquelas obras que decorrem ao longo
de vários anos, com dificuldades tais como a visão
das estações ou o envelhecimento das
personagens, a evolução do ambiente, as
transformações na maneira de falar, que vão
correspondendo às mudanças de geração etc.
Quanto à tecnica, “...virtualmente tudo neste
mundo pode ser filmado, se se estiver disposto a
gastar o dinheiro suficiente. Mas, fora o custo, se
um plano com uma grau é essencial numa
sequencia passada numa fábrica, e você não
dispõe de grua, então está com dificuldades...”
PORQUE FAZER SINOPSE OU ARGUMENTO?
2. Mercado – Analisa-se se há público para o
espetáculo e que faturamento pode representar.
Naturalmente, um filme de custo muito elevado
dirigido a pouco público terá menores
possibilidades de ser produzido; embora toda
regra tenha exceções, e às vezes um produtor
aposte num filme de ‘pouco sangue’ e dá êxito em
bilheteria e vice-versa.
 Quando Luis Buñuel terminou a sinopse de O
Estranho caminho de São Tiago, pensou que o
filme ia resultar num fracasso de bilheteria,
porque seu caráter anti-religioso o restringia a
uma pequena parte do público. Virou um clássico.

PORQUE FAZER SINOPSE OU ARGUMENTO?
3. Técnica e Arte – se existem técnicos e atores
capazes de desempenhar tais papéis. Pode haver
falta de atores completos (dançam, cantam...) e
técnicos, maquiadores, diretores de fotografia etc.
Ou atores com biotipos específicos, que falam
certas línguas.
 4. Autoria – Capacidade de desenvolver o
trabalho sugerido numa sinopse. O roteirista
deve ter disponibilidade de tempo para continuar
o trabalho no caso de sua produção ser levada a
cabo. Ou seja, conviver com estes personagens
por vários meses. É conseguir receber vários
‘nãos’ e reescrever a história novamente.

CONTEÚDO DO ARGUMENTO OU SINOPSE

Assim como a storyline representa o quê
(conflito-matriz), a sinopse representa o
quando (temporalidade), o onde (a localização),
o quem (as personagens) e finalmente o qual
(que história vamos contar).
QUANDO?
Quando a história começa e seu desenrolar (dia,
meses, anos, décadas, séculos).
 É tempo contínuo, se salta de um mês para outro,
se o tempo é irreal (O Cão Andaluz).
 Não se deve confundir temporalidade com o
tempo dramático. Por exemplo, a sinopse de 2001
– Uma odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick,
podia ter começado da seguinte forma: “Esta
história começa 10.000 anos antes de Cristo, no
planeta Terra; depois, vamos até a Lua no ano
2001 e, finalmente, perto do planeta Júpiter no
ano de 2005”.

ONDE?
Localização. Num bosque? Em Júpiter? Num
quarto? Certos detalhes indicativos podem
acompanhar a localização e o tempo. Por
exemplo, a história de Ladrões de Bicicleta, de
Vittorio de Sica, passa-se numa época de muito
desemprego na Itália.
 O onde não contém apenas um componente
geográfico, com oportunos detalhes sobre o
cenário, mas também implica um contexto social
e histórico.No caso de Ladrões, é impossível
compreender a personagem e sua história fora do
contexto social da Itália do pós-guerra.

QUEM?
O protagonista é a personagem básica do núcleo
dramático principal, é o herói da história. Pode
ser uma pessoa, um grupo de pessoas, ou
qualquer coisa que tenha capacidade de ação e
expressão.
 Para Syd Field, um bom personagem tem de
ganhar ou terminar alguma coisa no decorrer da
trama, seu ponto de vista deve permitir
interpretar o mundo em que vive. Deve, portanto,
mudar no decorrer do enredo e adotar uma
atitude positiva ou negativa, superior ou inferior,
crítica ou inocente.

QUEM?
O ator secundário ou coadjuvante é a
personagem que está ao lado do protagonista.
Geralmente, o ator secundário nasce à medida
que vamos construindo drama.
 Por último, o componente dramático é um
elemento de união, explicação ou solução. Não
tem a profundidade da personagem; sua função é
complementar.
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OBSERVAÇÕES SOBRE PERFIL DE
PERSONAGEM

Depois de desenhar o personagem, faça-o ser
verdadeiramente seu. O que o motiva, do que tem
medo, ama, deseja. Conheça suas fraquezas. As
óbvias (bebida, mulheres, jogo). As menos óbvias,
como orgulho, má consciência, complexo de
inferioridade...
DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
1 - Adequação do personagem à história
 O protagonista se cria segundo a história, e não o
contrário. Se o personagem de James Stewart em
Um Corpo que Cai (Alfred Hitchcock) não
sofresse vertigens, o filme não faria sentido.
 Personagem e história vivem uma interação
perpétua. As vezes começamos uma sinopse
deslumbrado por uma personagem e só depois
procuramos a história; outras vezes, acontece
exatamente o contrário.

DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
2 – Pensar e sentir o personagem
 Pensar = Falar: em audiovisual não existe um
fluxo interior tal como existe no romance; assim,
o que ela diz é a única forma de que a
personagem dispõe para expressar seu
pensamento; e isto mesmo que as palavras sejam
falsas, equívocas ou dissimuladas. A voz em off é
outra opção, mas já batida no mercado.
 Sentir = Atuar: Exemplo: quando ama, beija,
quando se irrita, luta, quando está triste, chora.
O personagem não pode esconder sentimento,
como é na vida real, precisa exprimir por meio de
ação.
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DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
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3 – A maneira de falar: se gagueja, é lento, se tem
sotaque do sul etc. A maneira de falar do psicopata de O
Silêncio dos Inocentes ou de Frances McDormand em Fargo
era o que mais definia os personagens.
4 – O batismo: sua classe social, caráter, tipologia. Um
personagem rural pode chamar-se Natalino Toninho, mas
se é da classe média, chama-se André Gustavo, e se é da
classe alta, Luis Felipe. Nome representa classe e origem.
Pode-se recorrer a um nome clichê. Uma esteticista pode-se
chamar Shirley, mas esse nome não nos servirá se ela for
refugiada ou pobre. Tudo depende da história.
DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
5 – Tem de ser real: possuir valores universais
(morais, éticos, religiosos, políticos) e pessoais
(mania de ordem, obsessão pelo trabalho).
Quanto maior a densidade humana, mais real
nos parecerá. Um grave erro na configuração de
um personagem é pretender que seja perfeito.
 Deve-se levar em consideração seus atos
conscientes e inconscientes, e os impulsos
voluntários.
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DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
6 – Composição: formado basicamente por três
fatores
 6.1: fator físico (idade, peso, altura, presença, cor
do cabelo)
 6.2: fator social (classe social, religião, família,
origens, nível cultural)
 6.3: fator psicológico (ambições, anseios,
frustrações, sexualidade, perturbações,
sensibilidade)
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DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
7 – Características básicas:
 Veja quadro de Ben Brady sobre características e
suas contradições:
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DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE
8 – Contraste: é diferente de contradição.
Identidade é uma mistura de valores individuais
e universais. Contradição exprime o nível de
profundidade dramático ao personagem. Já o
contraste torna diferente de outros personagens e
de seres reais. Por exemplo: James Bond – de Ian
Fleming – apresenta poucas contradições, baixa
identidade mas muito contraste.
 9 – Dificuldade: vai aparecendo com o
desenvolvimento da história, criando obstáculos
tanto externos quanto internos do personagem.
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DEZ OBSERVAÇÕES PARA CONFIGURAÇÃO
DE PERSONALIDADE

10 – Antagonista: O contrário do protagonista, pode ser
também um grupo. Com certa frequencia, os antagonistas
ficam mais claros ou melhor definidos que o protagonista.
Em Amadeus, de Peter Shaffer, o personagem de Saglieri
tem uma maior especificidade humana do que o próprio
Mozart, que se mantém devido à lenda, mas não devido à
força dramática da sua própria personagem. Em O
Exterminador do Futuro, de James Cameron, o
antagonista, um cyborg assassino, ganha popularidade pela
força de sua máquina e, na sequencia, vira protagonista
pela força que teve com o espectador. O diretor permitiu-se
o papel de Deus, que redime as suas criaturas para o bem
em virtude da força de que deram provas para o mal. Ou
seja, vilão virando mocinho porque o público gostou de sua
formação como personagem.
EXERCÍCIO
CONSTRUÇÃO DE PERSONAGEM
Em grupos, crie um personagem para um filme,
seja por meio da escrita de uma sinopse curta.
Componha suas características gerais, sua linha
de ação, personagens ao redor (se necessário),
antagonista (se necessário).
 Pode-se inspirar em outras ficções ou na vida
real.
 Leve em conta o mercado cinematográfico atual
(diferenças de seu personagem para o que já
existe).
 Será escolhido o melhor personagem em sala.

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