A FUNÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA Adriana da Silva1 Jaqueline Garcia Valéria Patrícia Turim Schulz Amália Madureira Paschoal2 INTRODUÇÃO: O presente trabalho apresenta a família como uma instituição histórica e social que, ao longo do processo de desenvolvimento capitalista, sofreu alterações em sua natureza. E tais alterações são resultados do modo de produção econômico que a sociedade brasileira assume, em conivência com as determinações internacionais. Diante disto, as respostas que o Estado direcionará aos problemas sociais, advindos da conflitante relação Capital/Trabalho, terão caráter de apaziguamento, com ações imediatistas e focalistas, contribuindo para a reprodução da ideologia dominante. OBJETIVOS: • Enfocar a família como uma instituição social e histórica que desempenha a função de enquadramento dos indivíduos ao sistema de valores e na capacitação destes aos padrões de conduta necessária ao desempenho de seus papeis sociais. • Compreender a “Política Social” como um instrumento que permite a reprodução das condições de desigualdades sociais impostas pela ideologia dominante. METODOLOGIA: O presente trabalho foi elaborado a partir de pesquisas bibliográficas. 1 Acadêmica do 3º ano do Curso de Serviço Social – UNIOESTE-. Contatos: FONE:045-33792617/ email [email protected]. 2 Coordenadora do Núcleo Temático de Políticas de Atenção à Criança e ao Adolescente. Curso de Serviço Social – UNIOESTE – “Campus” de Toledo. DISCUSSÕES E RESULTADOS: Historicamente a família representa um peso significativo no processo de construção das relações sociais, as quais são influenciadas pelo sistema de produção de cada sociedade. Isto representa que a família (...) “é para a sociedade, absolutamente funcional, e sua organização e manutenção como instituição, responde às necessidades pessoais e sociais de adestramento e capacitação dos indivíduos, tanto a nível de assimilação de um sistema de valores dados, como no plano da capacitação de padrões de conduta necessária ao desempenho de seus papeis sociais (...).” (NETO, 1982:13) Desta maneira, evidencia-se que a família contemporânea brasileira é um aparelho ideológico que, frente às relações de mercado, desempenham a função de formar cidadãos de acordo com as necessidades do sistema de produção capitalista3. A conjuntura econômica, política e social brasileira reflete a ideologia neoliberal, na qual o modelo de cidadania ideal admite a condição de que o consumidor predomina sobre as atitudes solidárias. Diante disto, a família contemporânea brasileira terá suas funcionalidades gradativamente alteradas, dando cada vez mais ênfase à sua função econômica: de produzir e reproduzir a força de trabalho necessária ao sistema econômico capitalista. Um dos reflexos de tal ideologia é a própria reestruturação na configuração da família; segundo PETRY : “Falar em família no momento presente significa falar em conjunto de pessoas que não necessariamente se enquadram no rigor do tradicional ou seja, significa a união entre os indivíduos que compartilham do mesmo teto, do mesmo cotidiano, dos mesmos valores, sentimentos, crenças, culturas. E que não precisamente estejam ligados por laços consangüíneos.” A submissão ás condições precárias de trabalho, a incorporação de seus membros cada vez mais cedo ao mercado de trabalho, a crescente inserção da mulher a este mercado, a taxa cada vez mais elevada de empregos informais, subempregos, desempregados, pobreza, miséria e o imenso contingente de famílias marginalizadas socialmente no 3 GUARESCHI, Pedrinho. O Aparelho Ideológico da Propriedade Privada e do Estado. In: Sociologia Crítica: Alternativas de mudanças. 50ed. Porto Alegre: Mundo Jovem, 2002. p.111-116. Brasil, refletem a luta desesperada pela sobrevivência e, sem dúvida registram a instabilidade e vulnerabilidade econômica, política e social do Estado. Estas instabilidades e vulnerabilidades são expressas em um processo contínuo de desempregos, falta de moradia, mortalidade infantil, falta de acesso à água salubre e precarização da saúde pública, ou seja, houve um forte sucateamento da vida e do trabalho para a maioria da população brasileira, precarização do atendimento nos serviços públicos de saúde e uma pauperização da população, enquanto que aumenta e expande a economia propiciando um acúmulo maior de renda para uma parcela minoritária da sociedade. TAVARES (2003, p.43) constata que “o número de pessoas e famílias em situação de pobreza, indigência e/ou miséria, sua distribuição por todas as regiões e estados do país, em áreas urbanas e rurais, o distanciamento entre os mais pobres e os mais ricos [...]” amplia-se nesta conjuntura. Portanto, o Estado se constitui como órgão defensor de um projeto societário burguês que, frente às relações de conflitos sociais geradas pelo sistema capitalista, necessitará criar meios para garantir o desenvolvimento e a perpetuação do mesmo. E tais estratégias reproduzirão também, a cultura clientelista de apadrinhamento, tão enraizada no cenário brasileiro, o que ratifica caráter de exclusão e subalternização dos chamados benefícios das políticas públicas. Por mais que discursemos sobre o “direito”, na prática, os serviços das diversas políticas públicas se apresentam aos excluídos e subordinados ao “favor” das elites dominantes. Contudo, o preço que a sociedade deve pagar pelo aumento do poder econômico e apropriação da renda convergirá em pobreza, exclusão social, e da participação da vida em sociedade e da defesa da democracia. E frente aos conflitos que advém desta relação de exploração, as estratégias de proteção social às famílias brasileiras serão programas e projetos de caráter controlador e manipulador os quais possibilitam, quando muito, a garantia fragmentada de elementos necessários para a sobrevivência de seus membros. Desta forma, entende-se que o processo de exclusão social está diretamente vinculado ao processo de acumulação perversa do capital. Isto confirma, segundo FALEIROS (1996, apud DEMO, 1997), que “Toda a política social no capitalismo consegue no máximo, combater a pobreza nos limites de mercado capitalista, donde terá sua tendência recorrente de tornarse mecanismo de controle e desmobilização social”. Por fim, compreende-se que a política social gestada sob os interesses do capital possui um caráter fragmentado e clientelista, o que favorece ao Estado e ao grande capital gerir uma maior condição para o maior acúmulo de capital em conseqüência ao agravamento das condições de exploração social. CONCLUSÃO: Indubitavelmente o Brasil necessita urgentemente de respostas efetivas às inúmeras faces da “questão social” que vem se desencadeando com a economia capitalista. Para COELHO (2002:76) tais respostas devem ultrapassar o caráter imediato e paliativo, necessitando de transformações profundas que visualizem a redistribuição de renda e riquezas socialmente produzidas, o que possibilitaria às inúmeras famílias brasileiras, condições dignas e humanas de sobrevivência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CARVALHO, Maria do Carmo Brant. Família e Individualidade: um problema moderno. IN: A Família Contemporânea em debate. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. p. 39-51. COELHO, Virginia Paz. Serviço Social e Sociedade. O trabalho da Mulher, Relações Familiares e Qualidade de Vida. Ed. Especial XXIII. São Paulo: Cortez, 2002.n 71. ENGELS, F. A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado. São Paulo: Civilização Brasileira, 1979. apud CARVALHO, Maria do Carmo Brant. Família e Individualidade um problema moderno. In: “A família contemporânea em debate”.4.ed. São Paulo: Cortez, 2002.p.39-51. NETO, Ana Maria Quiroga Fausto. O Universo Referencial da Análise.IN: Família operaria e reprodução da força de trabalho. Rio de janeiro: Vozes, 1982.p.9-21. SARTI, Cynthia Andersen et al. Família Individualidade um Problema Moderno. In: “ A Família Contemporânea em Debate”. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2002.p.39-51. SARTI, Cynthia Andersen. A Família como Espelho: um estudo sobre a moral dos pobres. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2003. p.152.