Desafios no diagnóstico da toxoplasmose congênita: como sinais e sintomas precoces podem auxiliar o pediatra Elaine Cristina Rey Moura Monografia apresentada ao Supervisor da Residência Médica em Pediatria – Hospital Regional da Asa Sul Orientadora: Dra Liú Campello Porto 06/11/09 www.paulomargotto.com.br 6/11/2009 INTRODUÇÃO - - Toxoplasmose: zoonose: Toxoplasma gondii Distribuição universal Toxoplasmose Congênita: Incidência DF: - 2007: 1,4/1000 nascidos vivos - 2008: 2,4/1000 nascidos vivos INTRODUÇÃO - Toxoplasmose Congênita: Transmissão e gravidade dependem da idade gestacional: Idade gestacional transmissibilidade gravidade doença - Idade gestacional transmissibilidade gravidade doença CLASSIFICAÇÃO Classificação: - Forma generalizada: hepatoesplenomegalia, icterícia, lindadenopatia - Forma neurológica: encefalite, hidrocefalia, microcefalia, ADNM, surdez, convulsões, nistagmo. - Lesões oculares: coriorretinite, estrabismo, amaurose. CLASSIFICAÇÃO - Forma subclínica (Assintomática) : - Ocorre em 70-90% casos - Manifestação dos sinais e sintomas: - RNT: 2 meses vida - RNPT: 3 meses vida - 85% desenvolverão coriorretinite durante infância e adolescência - 40% apresentarão seqüela neurológica CLASSIFICAÇÃO Marcadores clínicos precoces de probabilidade de infecções congênitas: -> Gerais: - baixo peso - prematuridade - baixos índices de Apgar - icterícia - anemia - petéquias - hepatoesplenomegalia maior CLASSIFICAÇÃO -> Neurológicos: - Estrabismo macro e microcrania convulsões ADNM OBJETIVOS Geral: - Diagnosticar precocemente crianças com toxoplasmose congênita para instituição de medidas terapêuticas e prevenção de seqüelas. Específicos: - Identificar marcadores clínicos precoces (sinais e sintomas) até os 3 meses de vida nos casos suspeitos de toxoplasmose congênita. METODOLOGIA * Tipo de estudo: - Estudo observacional, analítico, tipo caso-controle População estudada (amostra): - Crianças atendidas no ambulatório de Infectologia Pediátrica do HRAS* no período de maio de 1998 a maio de 2008, filhas de mães classificadas como casos confirmados ou suspeitos de toxoplasmose congênita, segundo a classificação de Lebech. Serviço de referência para investigação e acompanhamento de toxoplasmose congênita da SESDF. Quadro 1: Números de casos de toxoplasmose congênita ocorridos no DF notificados ao SINAN* e/ou atendidos no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), período de 1993 a 2007. Ano SINAN* Ambulatório de Infectologia Pediátrica do HRAS No. No. (%) 1993 ... 3 ... 1994 ... 19 ... 1995 ... 25 ... 1996 39 30 (76,9) 1997 79 16 (20,2)** 1998 89 23 (25,8) 1999 49 17 (34,6) 2000 68 20 (29,4) 2001 93 8 (8,6)** 2002 56 45 (80,3) 2003 52 44 (84,6) 2004 121 59 (48,8) 2005 112 60 (53,6) 2006 89 60 (67,4) 2007 54 36 (66,7) Total do período 901 465 (51,7) * SINAN: Sistema de Informação de Agravos de Notificação; ** O pequeno número de casos registrados no HRAS nos anos de 1997 e 2001 deve-se ao afastamento da pesquisadora por motivos pessoais. METODOLOGIA Definição de caso: - Crianças elegíveis que apresentaram anticorpos IgG persistentemente positivos após 12 meses de vida. Definição de controle: - Crianças elegíveis cujos anticorpos IgG negativaramse antes dos 12 meses de vida. METODOLOGIA Critérios de exclusão: Foram excluídas as crianças: - Cujas mães já tinham tido toxoplasmose antes da gestação atual (teste sorológico positivo antes da última gestação) - Iniciaram tratamento após 1 ano de idade - Que abandonaram o seguimento clínico antes da conclusão diagnóstica. METODOLOGIA Fontes de dados: - Prontuários médicos das crianças, cartão da gestante e o cartão da criança padronizados pela SES/DF. - Dados foram transcritos para formulários de coleta de dados da pesquisa. METODOLOGIA Variáveis de estudo: Referentes à criança: - Dados demográficos - Clínicos - Laboratoriais ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL Caso seja confirmado diagnóstico de toxoplasmose congênita, a criança é acompanhada em ambulatório especializado por toda a vida. Caso seja descartado o diagnóstico o paciente recebe alta para acompanhamento na UBS. ANÁLISE DE DADOS Criada máscara de dados no programa Surweywi, com os campos referentes aos dados pesquisados Dados analisados pelo software SPSS 13 e calculadas as medidas de associação – odds ratio (OR). CONSIDERAÇÕES ÉTICAS Protocolo de pesquisa submetido à aprovação e autorização prévia do Diretor do HRAS e do Diretor da Unidade de Pediatria do HRAS, local de realização da pesquisa. Protocolo (Nº 276/09 em 12/08/09) submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da FEPECS. RESULTADOS Foram elegíveis 422 crianças: - 32 não tiveram desfecho aferido (perdas) 39 casos 351 controles TABELA 1: Associação entre os sinais clínicos até os 3 meses de vida e confirmação do diagnóstico de toxoplasmose congênita nos primeiros 12 meses de vida - Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), 1998-2008. Variável Prematuridade PIG Baixo peso Microcrania Estrabismo Hepatomegalia Esplenomegalia Palidez Coriorretinite Calcificação Dilatação ventricular Casos Controles OR N % N % Sim 10 25,60% 33 9,40% Não 29 74,40% 318 90,60% Sim 9 23,10% 33 9,40% Não 30 76,90% 318 90,60% Sim 9 23,10% 42 12,00% Não 30 76,90% 309 88,00% Sim 7 17,90% 1 0,30% Não 32 82,10% 346 99,70% Sim 6 15,40% 2 0,60% Não 33 84,60% 345 99,40% Sim 9 23,10% 5 1,40% Não 30 76,90% 342 98,60% Sim 7 17,90% 7 2,00% Não 32 82,10% 340 98,00% Sim 14 38,90% 12 6,50% Não 22 61,10% 172 93,50% Sim 23 63,90% 2 0,80% Não 13 36,10% 243 99,20% Sim 14 48,28% 3 1,74% Não 15 51,72% 169 98,26% Sim 7 24,14% 3 1,74% Não 22 75,86% 169 98,26% OR: Odds ratio (razão de chances); LI=Limite inferior; LS=Limite superior do Intervalos de Confiança de 95% (IC 95%). (IC 95%) LI LS 3,32 1,49 7,42 2,89 1,26 6,61 2,21 0,98 4,97 75,69 9,03 634,58 31,36 6,09 161,63 20,52 6,46 65,14 10,63 3,51 32,19 9,12 3,75 22,2 214,96 45,68 1011,66 52,58 13,57 203,66 17,92 4,32 74,42 RESULTADOS Outros sinais clínicos presentes apenas entre os casos: - ADNM macrocrania icterícia petéquias convulsões. EXAMES LABORATORIAIS Significativo: - anemia (OR: 7,36) - eosinofilia (OR: 6,31) - hiperproteinorraquia (OR: 5,59) Não significativo: - hipercelularidade no líquor (OR: 9,21; IC 95%:0,56-150,25) - neutropenia (OR: 1,87; IC 95%: 0,52-6,76) RESULTADOS Apenas entre os casos: -Plaquetopenia DISCUSSÃO Exames de imagem: Exames imagem OR Calcificações intracranianas 52,28 Dilatação ventricular 17,92 Quando identificados ao nascimento, associados a microcrania ou macrocrania=> pior prognóstico. DISCUSSÃO Brasil (alta incidência) adotadas medidas visando o diagnóstico e tratamento precoces: - triagem sorológica (principal método diagnóstico) - tratamento fetal e neonatal. Dificuldade de triagem sorológica no pré-natal => incertezas nos diagnósticos materno e fetal => acompanhamentos e tratamentos desnecessários no período pós-natal. DISCUSSÃO Será que os pacientes, ao nascer, eram realmente assintomáticos? Na forma subclínica, os sinais podem não ter sido identificados precocemente. Necessidade da realização de exame físico detalhado ao nascer e investigação laboratorial nos casos suspeitos. CONCLUSÃO O reconhecimento dos sinais clínicos precoces associados a toxoplasmose congênita pode auxiliar no diagnóstico e tratamento, evitar acompanhamento ambulatorial desnecessário e promover a prevenção das seqüelas da doença. OBRIGADA!