Letramento cultural em seu eixo oficina musical:
hibridismo entre conhecimento científico-midiático e
a arte do som
Emanuela Francisca Ferreira Silva1
Andréa de Lourdes Cardoso dos Santos2
Resumo:
As mídias digitais podem ser trabalhadas como potencial pedagógico na
prática do dia a dia escolar e/ou como auxiliares na formação cultural e
social dos alunos. A oficina de formação musical, que é parte integrante do
Projeto Letramento Cultural - que ocorre no CEFET-MG, campus Varginha
desde o ano de 2009, oferece aulas de violão e canto. Essa oficina teve a
internet como instrumento para a escolha de seu repertório, que abarcou
peças de diversos estilos e épocas musicais. É trabalho que hibridiza o
conhecimento científico-midiático a valores culturais e humanos
encontrados na música, que são propícios ao desenvolvimento
transdisciplinar dos alunos.
Palavras-chave:
Projeto
Letramento
cultural,
Oficina
Musical,
desenvolvimento transdisciplinar.
Abstract:
The digital media can be handled as potential pedagogical in practical day
to day school and / or as auxiliary in cultural and social development of
students. The workshop of musical formation, which is part of the Cultural
Literacy Project - that it happen in CEFET-MG, Varginha since year 2009, it
instructs guitar and song class. That workshop it had the internet as
instrument for the choice of her repertoire, which it includes musical
compositions of the different styles and epochs. It is work that hybridizes
scientific knowledge-media with cultural and human values, that it are
meeting in the music, that it are propitious of the development
transdiciplinar of students.
Keywords: Cultural Literacy Project, musical workshop, development
transdisciplinar.
Introdução
O presente trabalho é relato de uma experiência que dialoga o conhecimento
científico-midiático com valores culturais que, envolvem em seu eixo a Arte do
som. Com isso o processo ensino-aprendizagem se enriquece posto que ocorra
hibridização entre os conteúdos específicos que fazem parte do currículo e
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atividades que, estão aquém da repetição maçante de exercícios teóricos em sala
de aula.
A escola deve ser capaz de oferecer para o aluno atividades que ocorram em
sincronia com o programa, mas que traga o novo, a expectativa, transformando o
tempo escolar, em tempo sagrado, ritualístico. Segundo Gomes Silva (2007) “o
currículo deve ser entendido como o coração da escola, sendo muito mais que um
conjunto de saberes divididos em áreas de conhecimentos, disciplinas, atividades,
projetos e outras formas de recorte.”
Transvendo a forma de compreender aquisição de conhecimento buscou-se
através do eixo oficina musical propiciar ao aluno de escola técnica, maneira nova
de adquirir conhecimento, agregando aos já existentes, a arte do som.
O eixo Oficina de Formação Musical do Projeto Letramento Cultural que, é
desenvolvido no Cefet-MG, campus Varginha, é pautado em princípios e valores que
agregam no mesmo espaço os opostos antagônicos da transdisciplinaridade como:
ser sensível e ser cognitivo, civilização e cultura, técnica e arte. Mas, o que seria a
transdisciplinaridade? Segundo Parejo (2009, p.63):
A palavra surgiu em 1970, com Piaget, no I Seminário Internacional
sobre pluri e interdiscplinaridade, realizado na Universidade de Nice. O
prefixo “trans” exprime a idéia de ir além e através das disciplinas, o
que significa penetrar nas entrelinhas e nos significados ocultos. [...]
Dessa maneira, a transdiciplinaridade procura transgredir os limites
entre as disciplinas, assim como os limites interiores que nos impomos
ao assumir uma visão transformadora de mundo. (PAREJO, 2009, p.63).
A transdisciplinaridade na música propõe ser o terceiro termo incluído, que
integra os opostos presentes em uma escola tecnológica, como sensível e cognitivo.
O mundo da realidade midiático-tecnológica e o mundo interno da sensibilidade se
complementam, e passam a se coexistir na vivência escolar.
Ao se trabalhar música, em suas modalidades canto e instrumento, o
professor voltou sua atenção a estes pares díspares que se complementam na
formação do aluno não só como músico, mas como ser que transforma e age na
realidade em que se está.
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Segundo o CBC – Artes (2006, p.2) “ao conhecer e fazer arte, o aluno percorre
trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre sua
relação com a própria Arte, consigo mesmo e com o mundo.” O fazer musical como
atividade extraclasse em uma escola tecnológica propicia novas veredas em que
cognição e sensibilidade, técnica e arte se encontram, com o mesmo objetivo:
propiciar uma aprendizagem eficaz, em que a aquisição de conhecimentos ocorra
de forma lúdica e transdisciplinar.
Projeto Letramento Cultural
A palavra letramento apareceu pela primeira vez na Língua Portuguesa em
1986. Segundo Soares (1998, p.33): “Parece que a palavra letramento apareceu
pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva
psicolingüística.” Mas o que seria letramento? Para este projeto trabalhou-se o
conceito de Magda Soares (1998) sobre letramento. Em seu livro Letramento - um
tema em três gêneros, Soares, após trabalhar semântica e historicamente a palavra
letramento, conceitua: “Letramento é estado ou condição de quem não apenas sabe
ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita.”
(SOARES, 1988, p. 47).
Os estudantes que ingressam no Cefet-MG são considerados alfabetizados,
posto que sabem ler e escrever. Decodificam palavras e frases e sabem interpretar
textos, o que os faz letrados. Em conformidade com a definição de letramento de
Soares (1998), acredita-se que letramento é processo continuum e evolutivo.
O estudante que, está em uma escola técnica de nível técnico, precisa ter
acesso a diferentes formas de letramento que o levem a crescer holisticamente,
possibilitando que o mesmo interaja com diferentes gêneros e práticas sociais.A
formação do estudante de nível médio deve abranger práticas que ampliem seu
horizonte de expectativas, envolvendo-o em diferentes ações sociais e culturais de
leitura e de escrita.
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O Projeto Letramento Cultural é, por conseguinte, prática de leitura verbal e
não-verbal que tem como objetivo expandir o campo de visão do aluno do CefetMG, possibilitando ao mesmo interagir no meio em que vive através de um conjunto
de habilidades, comportamentos e conhecimentos que compõem um continuum
infinito de possibilidades. No Projeto Letramento Cultural, o estudante tem acesso
a diversas formas de leitura, que se unem a seu repertório formado, e o ampliam.
A apropriação do conceito de letramento ao campo cultural é relevante, se o
entendermos como foi conceituado anteriormente, e incorporarmos em suas
vertentes a leitura não-verbal, em que a Arte se faz presente em seu eixo visual e
musical. As artes, como tipo de escrita na esfera social, interessam ao âmbito
escolar, pois fornecem perspectivas e leituras que ultrapassam os níveis
elementares de alfabetização1 e levam o estudante a transver o mundo em que
está.
O Projeto Letramento Cultural oferece aos alunos do Cefet-MG, campus
Varginha, atividades diversificadas como: visitas a museus, resgate da cultura
folclórica através de gincanas e aulas expositivas, excursão a cidades históricas,
apresentações no Festival de Arte e Cultura. Esses eventos fazem com que os
estudantes tenham suas habilidades desenvolvidas, pois incorporam novos saberes
aos já existentes, tornando a aprendizagem mais significativa.
O Projeto Letramento Cultural tem como pontos destacados pelos estudantes
do Cefet-MG, campus Varginha:
- a ampliação do acesso aos bens culturais;
- o estabelecimento de novos paradigmas que lhes permitiram avaliar e
vivenciar a arte e a cultura de suas raízes.
- a valorização da cultura e do saber do outro.
- o desenvolvimento de habilidades como saber conviver, saber trabalhar em
equipe, saber respeitar a opinião e a produção do outro.
1
Ação de ensinar/aprender a ler e a escrever (SOARES, 1986, p. 47).
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Por ser uma ramificação do Projeto Letramento Cultural, faz-se necessário
relatar a experiência Oficina de Formação Musical e a hibridização que ocorreu
entre arte e a cibercultura, em seu espaço-tempo.
Recomenda-se que seja usado o formato JPG para todas as imagens inseridas
no trabalho. As imagens utilizadas devem estar com resolução adequada para
impressão, com o mínimo de 300dpi. Utilize legendas nas imagens e atribua o
crédito da autoria. Insira as imagens em tabelas conforme o modelo a seguir:
Oficina de Formação Musical: experiência transdisciplinar
O eixo Oficina de Formação Musical faz parte do Projeto Letramento Cultural
do CEFET-MG, campus Varginha, e acontece desde o primeiro semestre de 2009.
O projeto [...] inaugurou em março mais uma temporada da Oficina de
Formação Musical oferecida pela professora Emanuela Francisca
Ferreira Silva. [...] A partir de 2009, ela passou a oferecer as oficinas
como voluntária do Projeto. (CARDOSO SANTOS, 2010, p.3).
A Oficina de Formação Musical ocorre como atividade extraclasse e é
organizada semestralmente para que os alunos do campus Varginha possam ter
acesso à arte do som através de matrículas realizadas duas vezes ao ano. São
oferecidas aulas de violão e canto para todos os alunos interessados em trabalhar a
transdisciplinaridade como o terceiro termo incluído2 que convida ao diálogo e
integra o macro tecnológico e o micro sensível que há no estudante de uma escola
técnica.
As aulas ocorrem no próprio campus e, além de convidar para o resgate do
sensível, da arte e do impalpável, elas integram e fazem com que alunos divididos
em diferentes períodos escolares, se encontrem e se socializem através do fazer
musical.
2
Esse termo é utilizado por Parejo (2009, p.63) para definir a transdisciplinaridade.
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Figura 1: CEFET-MG - Campus Varginha 2010
Foto: Emanuela Francisca Ferreira Silva
Conforme Fig. 1 pode-se ver uma aula da Oficina de Formação Musical do
Projeto Letramento Cultural, em que alunos de diferentes cursos e períodos se
encontram para dialogar através da arte do som. A Oficina é aberta também aos
professores do campus. Na mesma figura aparece um professor de eletrônica, que a
convite do grupo reintegra técnica e sensibilidade, razão e emoção.
A música como Arte integra cognição e sensibilidade, sendo capaz de
transformar uma área destinada à praticidade do quotidiano, em um lugar de
interação, dialogismo e transdisciplinaridade. “A arte frequentemente nos leva
para regiões de não resistência, regiões de não racionalidades, impossíveis de
descrever com palavras”. (PAREJO, 2009, p.72).
Internet como instrumento que hibridiza conhecimento tecnológicomidiático e sensibilidade
No ano de 2010 a Oficina de Formação Musical contou com uma nova
ferramenta: a internet. Ao se oferecer o repertório que seria desenvolvido durante
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o semestre letivo, a professora incitou os alunos para que complementassem o
programa. Os estudantes aprovaram a proposta e utilizaram da internet para
escolherem as músicas que mais lhe agradavam.
Pesquisar na Internet possibilita ao aluno participar, intervir, usar
conceitos de bidirecionalidade (contidos nos hiperlinks, usar uma
multiplicidade de conexões (hipertextos), aprender através de
simulações, ter autonomia na organização dos conteúdos, ter acesso a
conteúdos em diversos formatos (som,texto, imagens, vídeo,
etc).(VIEIRA, 2007, p.274).
Os estudantes do CEFET-MG, campus Varginha, estão familiarizados com a
Internet e sua utilização em trabalhos do dia a dia escolar. Mas, ao se propor a
Internet como instrumento para escolha de repertório para a Oficina de Formação
Musical, houve nova perspectiva de aprendizagem.
A princípio, pensou-se que os alunos se limitariam a encontrar letras de
músicas e sua respectiva notação musical. Eles, porém, trouxeram para as aulas,
vídeos encontrados em diferentes links, que continham aulas de música expositivas
e cantores profissionais e/ou amadores, que desenvolviam o mesmo repertório
escolhido por eles.
Os links são elos que vinculam mútua e infinitamente pessoas e
instituições, enredando-as a uma teia virtual de saberes com alcance
planetário a qualquer hora do dia. Operam como vetores informáticos
por onde escorrem dados para dentro e para fora dos homepages. Estão
distribuídos e organizados estrategicamente pela superfície dos sites
que circulam na rede, encadeando-nos num complexo processo de auto
e heterorreferenciação endo e exoforicamente. (XAVIER, 2009, p.193).
Os links utilizados foram os mais variados possíveis e complementaram de
forma significativa o objetivo de transdisciplinaridade enfocado nessa Oficina. Ao
estudar e analisar diversas pessoas fazendo arte e a colocando na Internet em
diferentes links, os estudantes perceberam que a arte do som está presente nas
mais diversas culturas e que, nesse início do século XXI, ela se transforma ao ser
redistribuída de maneira virtual para todos àqueles que navegam pela Internet.
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Pode-se fazer comparações entre diferentes maneiras de tocar a mesma
música e, de como ela, a música, ao ser percebida em um meio midiático, se
hibridiza para transpor caminhos e chegar até seus intérpretes e/ou ouvintes.
Após essas aulas expositivas e midiáticas, optou-se por um determinado
repertório e, se criou estilo novo de tocar. Os alunos que compõe a Oficina de
Formação Musical hibridizaram os vários conhecimentos apreendidos através dos
vídeos da Internet aos adquiridos em sala de aula, e conceberam sua própria de
percepção e maneira de interpretar. Como resultado eles abriram o IV Salão de
Profissões do CEFET-MG, campus Varginha, conforme Fig. 2.
Figura 2: Abertura do IV Salão de Profissões do CEFET-MG campus Varginha2010
Foto: Andréa de Lourdes Cardoso dos Santos
Na Fig. 2 vê-se alunos de cursos distintos - Mecatrônica, Informática Industrial
e Edificações - unidos no mesmo palco. Palco este que, é resultado híbrido e
transdiciplinar, pois, reintegra razão e sensibilidade, técnica e emoção, há muito
tempo separados.
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Algumas Considerações
O processo de conhecer deve ultrapassar o campo das ciências exatas,
somando-o à Arte. O eixo Oficina de Formação Musical tem como objetivo principal
trazer para a Escola Técnica, a possibilidade de hibridizar os opostos antagônicos
razão e emoção, técnica e arte, civilização e cultura.
Percebendo o aluno como ser indivisível, pode-se fazer trabalho que teve a
Internet
como
instrumento
pedagógico,
e
que
proporcionou
trocas
de
conhecimentos midiáticos e culturais.
“A visão transdisciplinar possibilita transcender o reducionismo que tem sido
imposto ao ser humano e à realidade que o cerca, recuperando de ambos, uma
visão integradora e não fragmentária.” (PAREJO, 2009, p.79). Com essa afirmação
encerra-se esse relato de experiência que, utilizou da Internet como potencial
pedagógico e auxiliar na formação cultural e social dos alunos do CEFET-MG,
campus Varginha.
Referências Bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. O País dos Brinquedos: reflexões sobre a história e sobre o
jogo. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
CARDOSO SANTOS, Andréa de Lourdes. Projeto aposta na cultura como forma de
educação. Cefet-MG é Notícia. Belo Horizonte, 7 mai. 2010.p.3.
PAREJO, Enny. Música e Transdisciplinaridade: um caminho de interiorização. In:
Sonia Albano de Lima (Org.). Ensino, Música e Interdisciplinaridade. Goiânia:
Vieira, 2009.p.59-83.
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SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. Conteúdo Básico (CBC) de Arte no Ensino
Médio. Centro de Referência Virtual do professor, 2000. Disponível em:
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asp?id_projeto=27&id_objeto=6
8336&tipo=ob&cp=fc5e36&cb=&n1=&n2=Proposta%20Curricular%20%20CBC&n3=Ensino%20M%E9dio&n4=Arte&b=s > acesso em 10 mai.2009.
SOARES, Magda. Letramento, um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Editora
Autêntica, 1998.
VIEIRA, Iúta Lerche.Leitura na Internet: Mudanças no perfil do leitor. In: Júlio
César Araújo (org.). Internet e Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.p. p.264-280.
XAVIER, Antonio Carlos. A era do hipertexto: linguagem e tecnologia. Recife:
Editora Universitária da UFPE, 2009.192-197.
ZAPPONE. Mirian H. Y.. Fanfics- um caso de letramento literário na cibercultura?
Letras de Hoje, Porto Alegre, v.43, n.2, p.29-33, 2008.
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