1º Lugar Tito Belchior Silva Moreira Mecanismos de Transmissão da Política Fiscal no Brasil: uma investigação empírica. XIV PRÊMIO TESOURO NACIONAL – 2009: Homenagem a Euclides da Cunha TEMA 1. POLÍTICA FISCAL E DÍVIDA PÚBLICA 1.1 – EQUILÍBRIO FISCAL E POLÍTICA MACROECONÕMICA Mecanismos de Transmissão da Política Fiscal no Brasil: uma investigação empírica 1 Mecanismos de Transmissão da Política Fiscal no Brasil: Uma Investigação Empírica Resumo: Esse artigo testa empiricamente se a política fiscal brasileira no período de 1995: I a 1998: III é ativa ou passiva. Nós analisamos os canais de transmissão da política fiscal pela estimativa de funções onde a razão dívida publica/PIB afeta superávit primário, demanda por moeda, taxa de juros nominal, investimento, hiato do produto e a taxa de crescimento do produto. Utilizamos testes de Cointegração de Johansen, além de modelos de equações simultâneas - GMM com variáveis instrumentais. Os resultados indicam que a razão dívida publica/PIB é estatisticamente significante e afeta positivamente a demanda por moeda, o superávit primário e a taxa de juros e afeta negativamente o nível de investimento, o hiato do produto e a taxa de crescimento da economia. Além disso, mostrou-se no mesmo período que a razão superávit primário/PIB reage positiva e diretamente a incrementos na razão dívida/PIB e que a razão dívida/PIB afeta negativa e indiretamente o hiato do produto via superávit primário e positiva e indiretamente a taxa de juros nominal, também via superávit primário. Por fim, as estimativas com base no modelo de Leeper mostram que a economia brasileira encontra-se numa situação de dominância fiscal, que descreve a teoria fiscal do nível de preços. Nesse contexto, nós encontramos evidencias empíricas de que a economia brasileira apresenta uma política fiscal ativa e uma política monetária passiva. Esses resultados sugerem um processo de dominância fiscal no período analisado e, portanto, um regime não Ricardiano. Quando o regime é Ricardiano, implicando que a política monetária é ativa e a política fiscal é passiva, faz sentido analisar apenas os mecanismos de transmissão da política 1 monetária. Mas no caso de um regime não ricardiano, onde a política fiscal é ativa e a política monetária é passiva, podemos e devemos analisar os mecanismos de transmissão da política fiscal, o que constitui a principal contribuição desse trabalho. Isso posto, podemos inferir que se a dívida pública afeta positivamente a demanda por moeda, ela também deve alterar a taxa de juros. Por outro lado, quando há um incremento no superávit primário há uma redução da base monetária, tudo mais constante. Redução da base monetária leva a uma redução da oferta de moeda, ceteris paribus. Também encontramos evidências empíricas de que incrementos na dívida pública geram incrementos na Selic. Nesse contexto, taxas de juros mais elevadas implicam em menores níveis de investimentos e, por sua vez, menores níveis de hiato do produto e de crescimento do PIB. Esses resultados são suportados pelas evidências empíricas. Vimos também que dívida pública afeta negativamente o hiato do produto e afeta positivamente a taxa de juros via superávit primário. Tais conexões mostram como os efeitos da política fiscal são propagados ou transmitidos na economia. Os resultados aqui apresentados também podem contribuir para explicar por que o Brasil é um dos países que possuem uma das mais elevadas taxa de juros do mundo. Com base nos resultados empíricos apresentados, mostramos que variações positivas da dívida pública têm impacto positivo sobre a taxa de juros. 2 1. Introdução O Brasil tem adotado um regime de meta inflacionaria desde 1999 em ambiente de desequilíbrio fiscal, haja vista os sucessivos déficits nominais gerados nas últimas décadas. Apesar dos sucessivos superávits primários implementados nos últimos anos e de uma relativa estabilidade da razão dívida/PIB, o país ainda apresenta uma trajetória e perfil da dívida pública preocupante, principalmente se considerarmos uma provável trajetória ascendente da razão dívida/PIB após a recente crise bancária/financeira (crise do subprime) que assola todo o mundo. Com a forte redução do nível de atividade econômica desde o último trimestre de 2008 e a expectativa de forte retração da taxa de crescimento do produto no Brasil em 2009, as receitas públicas devem reduzir, enquanto que o nível de gastos do governo tende a manter-se. As elevadas taxas de juros utilizadas pelo Banco Central (BACEN) como instrumento para alcançar as metas inflacionarias contribuem para que o valor relativo ao pagamento do serviço da dívida seja superior ao do superávit primário. Apesar da recente redução da Selic em 2009, o Brasil ainda apresenta uma das maiores taxas de juros reais do mundo. Um contínuo crescimento do déficit nominal e, conseqüentemente, da dívida pública torna o desequilíbrio fiscal particularmente preocupante, dado o elevado estoque da dívida pública e dos elevados passivos de curto prazo num contexto de forte retração da economia mundial e, conseqüentemente, nacional. O contexto do desequilíbrio fiscal supracitado faz muitos economistas acreditarem que o BACEN deva incluir na sua regra monetária alguma variável fiscal relevante. Morais e Andrade (2004), por exemplo, calculam a regra ótima 2 de política monetária supondo que a autoridade monetária segue um regime flexível de metas de inflação, no qual existe possibilidade de inclusão de uma meta para a razão dívida/Produto Interno Bruto (PIB). No modelo proposto, a dívida pública afeta diretamente o prêmio de risco e, conseqüentemente, a taxa de câmbio. Os autores incluem uma meta para a razão dívida/PIB na função de perda da autoridade monetária. Outros economistas têm-se preocupado em discutir essa temática e em propor formas alternativas para a construção de regras monetárias que levem em conta as restrições fiscais do caso brasileiro. A maioria deles impõe uma IS (Investment-Save) fiscal que redunda em uma regra ótima de reação da taxa de juros que inclui também uma variável fiscal. Freitas e Muinhos (2002) estimam equações de Philips e IS para o Brasil após o Plano Real para estudar o mecanismo de transmissão da política monetária. Eles mostram que regras subótimas simples, como as do tipo Taylor, podem ter desempenho tão bom quanto às regras ótimas, dependendo dos parâmetros escolhidos e das preferências do Banco Central. Os autores trabalham com uma IS fiscal em que o hiato do produto depende da taxa de juros real, do hiato defasado, da taxa de câmbio e também do déficit fiscal. 1 Verdini (2003) desenvolve um modelo com o propósito de avaliar se as regras monetárias derivadas sob regime de metas para a inflação podem ser adaptadas para corrigir desvios explosivos da dívida pública. Os resultados mostram que, apesar da potencial solvência de longo prazo, a dívida ainda pode gerar preocupações no curto prazo, mesmo se o Banco Central, na sua 1 De fato, a variável fiscal não foi significante. 3 reação de política, considerar problemas com a administração da dívida e atuar com base na previsão de inflação. Blanchard (2004) discorre sobre a eficácia da política monetária brasileira em 2002 e 2003, mostrando os efeitos perversos dessa política num contexto em que o BACEN perseguiu a meta inflacionaria em um ambiente de dominância fiscal. O argumento ou a intuição de que a política fiscal brasileira afeta, em certa medida, a política monetária parece ter fundamento e nota-se que parte dos economistas comunga com essa percepção. Nesse contexto, parece fazer sentido que variáveis de política fiscal devam ser consideradas na regra ótima de política monetária do Banco Central. Entretanto, ao se admitirem variáveis fiscais na regra ótima de política monetária, permite-se que a política fiscal engendrada na economia brasileira restrinja os resultados e o alcance da política monetária. Nesse contexto, a política monetária seria ineficaz ou não tão eficaz. Geralmente, os modelos de política monetária ótima consideram que a política fiscal é dada e não depende da política monetária corrente e futura. Isso quer dizer que a autoridade responsável pela política fiscal escolhe uma taxa de tributação tal que a dívida pública seja solvente do ponto de vista intertemporal.2 A hipótese de equivalência ricardiana é válida e, nesse contexto, tem-se uma política monetária ativa3 e uma política fiscal passiva. O argumento de que a política fiscal brasileira afeta a política monetária parece ter acolhida por parte dos economistas. Ao assumir que o BACEN 2 Isso significa, grosso modo, que a política fiscal é passiva. De forma simplificada, uma política monetária é ativa quando a política fiscal não impõe restrições sobre a política monetária e esta está preocupada tão-somente com a meta 3 4 precisa levar em conta, em sua regra monetária, a restrição fiscal admite-se implicitamente que a política monetária não é ativa e/ou que a política fiscal não é passiva. Contudo, deve-se ponderar que uma variável fiscal pode afetar diretamente o hiato do produto via curva IS e indiretamente a taxa de inflação via curva de Phillips. Mas isso não significa que a política monetária deva reagir diretamente a variáveis fiscais por meio de uma regra ótima de política monetária a la Taylor. Uma boa analogia é o impacto da taxa de câmbio sobre a taxa de inflação. A maioria dos Bancos Centrais que adotam um regime de metas inflacionaria fazem uso de uma política monetária que não reage diretamente a mudanças na taxa de câmbio. De fato, a reação é indireta via impacto inflacionário. Em outras palavras, a tradicional regra de Taylor assume que o Banco Central reage somente à taxa de inflação e ao hiato do produto, independentemente da origem das variações dessas variáveis. Isso posto, o policymaker pode utilizar uma regra ótima de política monetária incluindo outras variáveis como déficit fiscal ou taxa de câmbio apenas para ter informações sobre como estas variáveis afetam a taxa de juros. Por exemplo, eles poderão saber se as variáveis fiscais afetam a taxa de juros e a taxa de inflação, o que revelaria uma política monetária com certa passividade. Dessa forma, trata-se de um instrumento de avaliação e gestão de política econômica. A principal proposta deste trabalho é testar empiricamente para o período de 1995:I a 2008:III, com base em modelos não Ricardianos, se as políticas fiscais têm impacto em variáveis reais e nominais tais como, demanda por moeda, taxa de juros nominal, investimento, hiato do produto e taxa de crescimento da economia. Devem-se testar alguns desses modelos tais como: inflacionária. Nesse contexto, não há qualquer preocupação da autoridade monetária com a dívida pública, uma vez que o regime da economia é ricardiano. 5 Martins (1980), Araújo e Martins (1999), Kneebone (1989), Scarth (1996) e Leeper (1991). Especificamente, pretende-se avaliar o impacto da razão divida/PIB sobre todas as variáveis mencionadas. Dessa forma, pretende-se delinear os canais de transmissão da política fiscal e investigar se a política fiscal é ativa no período analisado. O que está por trás de toda essa discussão é a idéia de equivalência Ricardiana, conforme Barro (1974). A hipótese de equivalência Ricardiana assume que financiar o governo com dívida é equivalente a financiá-lo com impostos. A implicação da equivalência Ricardiana é que um corte fiscal financiado por dívida deixa o consumo inalterado. As famílias poupam a renda disponível extra para pagar a obrigação fiscal futura que o corte fiscal acarreta. Esse aumento da poupança privada compensará exatamente o decréscimo da poupança pública. A poupança nacional permanece a mesma. Dessa forma, pretendemos investigar se a dívida pública realmente importa. Destacamos ainda que tais resultados tenham contribuições relevantes, uma vez que esse tema não tem tido a devida atenção desde que grande parte da academia admite a equivalência Ricardiana quase como um dogma. A idéia é chamar a atenção para essa discussão novamente, que tem ficado em estado de hibernação desde os anos setenta, com a publicação do paper seminal do Barro (1974) intitulado: “Are Government Bonds Net Wealth?”. 2. Interação entre política fiscal e monetária O Brasil vem apresentando sistematicamente desequilíbrios macroeconômicos interno e/ou externo especialmente a partir dos choques do 6 petróleo na década de 70. As políticas de estabilização de preços e de produto recorrentemente resultam em desequilíbrios das dívidas interna e/ou externa. Uma das possíveis explicações dos desequilíbrios dos estoques das dívidas deve-se às possíveis inconsistências entre as políticas fiscal e monetária. Bittencourt (2003) discute esse tema desde o compromisso dos ideais liberais em Friedman (1948) até as proposições dos novos keynesianos e da Teoria Fiscal do Nível de Preços (TFNP). Para Friedman (1948), o orçamento do Governo é uno e, portanto, não há separação entre as políticas fiscal e monetária. Nesse contexto, não faz sentido discutir coordenação de políticas. A inconsistência entre as políticas seria meramente nominal. O orçamento do Governo seria respeitado via ajuste tributário ou inflacionário. Em outras palavras, a emissão monetária seria decorrente de formação de déficit fiscal. O orçamento tenderia a ser sempre equilibrado, sujeito apenas a variações cíclicas. A taxa de câmbio deveria simplesmente flutuar. 4 Friedman (1959) propõe uma regra monetária de crescimento da moeda de forma fixa e consistente, além de algumas sugestões sobre o funcionamento do Tesouro e do sistema bancário. Ao contrário de sua proposição de 1948, ele sugeria separação das políticas monetária e fiscal. A proposta de 1959 seria mais factível (e também mais simples e transparente) em termos de implementação do que a de 1948. O controle discricionário da oferta monetária poderia minimizar ou suavizar os ciclos econômicos. Com a regra de expansão monetária alinhada à taxa de crescimento natural da economia, emergia o Friedman monetarista. 4 A ênfase de Friedman estava em definir regras simples de política econômica que fossem consistentes em termos de estabilização (Bittencourt, 2003). 7 Podem-se observar, grosso modo, duas vertentes quanto à interação entre as políticas monetária e fiscal: os monetaristas, que procuram reduzir ações intervencionistas e que são contra políticas econômicas discricionárias, e os keynesianos, que são mais intervencionistas e se destacam por procurar estabelecer políticas monetárias e fiscais ótimas. Na linha monetarista, destacam-se os trabalhos de Kydland e Prescot (1977), Lucas (1983), Sargent e Wallace (1981) e Sargent (1982). Por outro lado, várias contribuições destacam-se na linha keynesiana, como os trabalhos de Leeper (1991), Taylor (1993), Sims (1994) e Woodford (1995), dentre outros. De certa forma, as críticas dos monetaristas aos keynesianos quanto à discricionariedade do policymaker na condução das políticas econômicas impulsionaram essa literatura e, portanto, o debate acadêmico. Os keynesianos buscaram regras de políticas ótimas, modeladas com fundamento microeconômico e com ênfase no papel das expectativas. Eles também incorporaram as expectativas racionais e fundamentaram melhor a rigidez de preços para se defenderem das críticas dos monetaristas. Tais esforços mantiveram em evidência a curva de Phillips e os efeitos não neutros da política monetária no curto prazo. Nesse contexto, os keynesianos cresceram com as críticas monetaristas. No embate entre monetaristas e keynesianos, parece que a visão intervencionista keynesiana tem levado vantagem atualmente. Entretanto, com a inserção da hipótese de equivalência ricardiana, a política fiscal ficou relegada ao segundo plano, gerando distanciamento entre as literaturas de políticas monetárias e fiscais ótimas. Houve maior desconexão entre as 8 políticas monetária e fiscal, arrefecendo o debate sobre a coordenação entre as duas políticas. A polêmica sobre as políticas monetária e fiscal tem-se restringido basicamente à discussão entre regras versus comportamento discricionário. Atualmente, essa contenda tem enfatizado principalmente as propostas de metas inflacionarias. A regra de política monetária ótima assevera que a política fiscal não tem relevância para a política monetária, pois se considera implicitamente que a dívida pública é solvente. Em outras palavras, a autoridade fiscal sempre ajusta os tributos para garantir a solvência da dívida. De fato, num regime fiduciário, a dívida sempre será solvente, uma vez que se pode utilizar a senhoriagem como fonte de receita. Nesse contexto, com a política fiscal relegada ao segundo plano, a discussão sobre coordenação entre políticas monetária e fiscal enfraquece-se. Países que correntemente empregam o regime de metas inflacionariam como Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia, não possuem sérios desequilíbrios fiscais, ao contrário de boa parte dos países emergentes. No caso específico do Brasil, a elevada taxa de juros, que é muito superior à taxa de crescimento da economia, gera efeito desestabilizador ao impor sucessivos déficits nominais. Nesse sentido, parece correto considerar a possibilidade de coordenação das políticas monetária e fiscal para se manter a estabilidade econômica. Sargent e Wallace (1981) discutem essa questão no seu trabalho seminal relativo à desagradável aritmética monetarista. Sargent e Wallace (1981) consideram que, se a política monetária afeta a extensão na qual a senhoriagem é explorada como fonte de receita, as políticas monetárias e fiscais devem ser coordenadas. Nesse sentido, a política 9 de estabilização de preços depende da seguinte questão: Quem age primeiro, a autoridade fiscal ou a monetária? Visto de outra forma, quem impõe disciplina sobre quem? A desagradável aritmética monetarista sugerida pelos autores surge de um processo de coordenação de políticas no qual a política fiscal domina a política monetária, e a autoridade monetária se depara com restrições impostas pela demanda por títulos do Governo. Esse é um possível caso de política fiscal ativa e de comportamento monetário passivo. Muitos trabalhos mostram a política de equilíbrio como resultado de um jogo entre autoridades fiscal e monetária. Sargent (1986), por exemplo, descreve um regime ricardiano no qual a autoridade monetária é o jogador dominante enquanto a autoridade fiscal é o seguidor. Nesse sentido, a autoridade fiscal aumenta a alíquota tributária para satisfazer a condição de equilíbrio orçamentário. Esse é um exemplo de política fiscal passiva e de política monetária ativa. Para Leeper (1991), o que distingue uma política ativa de uma passiva é o fato de que a política ativa não se preocupa apenas com o comportamento de variáveis corrente ou passada (política passiva), mas também com o comportamento esperado de certas variáveis em dado período futuro. Nesse contexto, uma política ativa não é restringida pelas condições correntes, mas é livre para escolher uma regra de decisão que dependa de variáveis passada, corrente ou futura. Já uma política passiva ou uma autoridade (fiscal ou monetária) passiva é restringida pelas decisões de otimização do consumidor e pelas ações da autoridade ativa. Se a política fiscal é passiva, por exemplo, a regra de decisão da autoridade fiscal dependerá necessariamente da dívida pública corrente e/ou passada. 10 Blanchard (2004) ressalta que a discussão relativa ao tema da dominância fiscal sobre a monetária não é nova, discorrendo desde a moderna literatura de Sargent e Wallace (1981), a exemplo de Some Unpleasant Monetarist Arithmetic, até a teoria fiscal do nível de preços de Woodford (2003).5 Nesse sentido, estudos recentes, como os de Leeper (1991), Sims (1994), Woodford (1994, 1995, 1997, 2001 e 2003) e Cochrane (1998, 2001a,b), têm mostrado renovado interesse na discussão sobre coordenação e interação entre políticas monetária e fiscal. Destaque-se que antes do artigo de Sargent e Wallace (1981), Martins (1980) desenvolve um artigo seminal onde estabelece que os preços dos títulos sejam equivalentes ao nível de preços, e a taxa de juros nominal é determinada pela razão estoque da dívida e estoque de moeda. Nesse contexto, a divida afeta da taxa de juros nominal. Araújo e Martins (1999) mostram que a presença da dívida do governo afeta adversamente a taxa de crescimento do estoque de capital. O principal ponto enfatizado pela linha de pesquisa da TFNP é que o valor presente da restrição orçamentária do Governo e a política fiscal são fatores determinantes na determinação do nível de preços. O argumento supracitado vai de encontro à teoria tradicional de determinação dos preços, na qual o estoque de moeda e, portanto, a autoridade monetária é o único determinante do nível de preços. Além disso, a política fiscal, explícita ou implicitamente, ajusta passivamente o superávit primário para garantir a solvência do Governo para qualquer nível de preços. 6 O argumento contrário ao parágrafo supracitado releva o ponto da TFNP. Se a autoridade fiscal é livre para escolher o superávit primário 5 Vide o trabalho de Loyo (1999), sobre uma aplicação da teoria de Woodford para o Brasil, e de Sala (2004), sobre a teoria fiscal do nível de preços. 11 independentemente da dívida do Governo, então é o nível de preços que deve se ajustar para satisfazer o valor presente da restrição orçamentária do Governo, de forma que exista somente um nível de preços compatível com o equilíbrio. 7 A teoria fiscal do nível de preços pode ser entendida, de forma simplista, como uma aplicação de um dos aspectos discutidos por Sargent e Wallace (1981), em que o comportamento da política fiscal pode impor restrições sobre os resultados que a política monetária pode alcançar. A principal distinção entre a teoria clássica e a TFNP está na interpretação do valor presente da restrição orçamentária do Governo. De acordo com a interpretação de tradição monetarista, a equação intertemporal do Governo é uma restrição assegurada para qualquer nível de preços. De acordo com a TFNP, a equação intertemporal do Governo é uma condição de equilíbrio e, como tal, seleciona o nível de preço de equilíbrio. A distinção entre regimes ricardianos e não ricardianos traz importantes implicações para a política econômica. Com base na tradição monetarista, uma boa prescrição de política monetária é condição necessária e suficiente para a garantia de baixa inflação. Um banco central independente, com forte compromisso institucional para garantir a estabilidade de preços, deverá compelir a autoridade fiscal a adotar uma política fiscal correta e responsável. Para a TFNP, uma boa prescrição de política monetária não é uma condição suficiente para a garantia de baixa inflação, a menos que medidas adicionais sejam levadas em conta para restringir a liberdade da autoridade 6 Esse regime é denominado por Woodford (1995) de Ricardian price determination. Inversamente, esse regime é denominado por Woodford (1995) de Non-Ricardian price determination. 7 12 fiscal. Nesse contexto, torna-se imprescindível a coordenação entre as políticas monetária e fiscal. 3. Revisão da literatura sobre a validade do regime ricardiano para a economia brasileira Loyo (1999) foi o primeiro a argumentar que a TFNP pode explicar as elevadas taxas de inflação observadas no Brasil no final dos anos 70 e início dos anos 80. Tanner e Ramos (2003), utilizando uma base de dados mensal, examinam várias questões a respeito da sustentabilidade e ajustamento fiscal de 1991 a 2000. Eles mostram que antes do Plano Real (1994), o regime parece ter dominância fiscal (não ricardiano) ao contrario da dominância monetária, uma vez que o superávit primário não responde a mudanças da dívida real do governo. Após o Plano Real, há evidencias de dominância monetária com base em curtos períodos de análise. Os autores concluem, com base nos resultados encontrados, que não necessariamente há impedimentos para uma política monetária independente e para comprometer a credibilidade do regime de meta inflacionaria. A metodologia utilizada inclui testes de raiz unitária, testes de causalidade de Granger e funções de impulso resposta. Rocha e Silva (2004) seguem a metodologia proposta por Canzonery, Cumby e Diba (2001) para testar a validade do regime ricardiano para a economia brasileira de 1996 a 2000. Eles usam testes de raiz unitária e VAR para concluir que o regime ricardiano é confirmado no período analisado. Fialho e Portugal (2005) usam uma base de dados mensal de 1995:1 a 2003:9, e também seguem a metodologia de por Canzonery, Cumby e Diba (2001). Eles aplicam a abordagem de Muscatelli et al. (2002) para investigar as 13 interações entre as políticas monetária e fiscal e usam o modelo de vetor autoregressivo Markov-switching (Krolzig, 1997). Eles concluem que a coordenação macroeconômica entre políticas monetárias e fiscais no Brasil foi virtualmente uma política substituta, com um regime de predominância monetária. No período analisado por Blanchard em 2002 e 2003, de fato o Brasil encontrava-se numa situação muito delicada, de alta instabilidade e incertezas, pois 2002 foi ano pré-eleitoral e 2003, o primeiro ano do atual Governo. Os resultados de Blanchard (2004) mostram que o Brasil poderia estar operando numa situação onde a política fiscal seria ativa e a monetária passiva. Nesse contexto, justifica-se a expressão fiscal dominance utilizada pelo autor. Nishijima (2005) estima uma regra ótima de taxa de juros para o período de 2001 a 2003, quando a taxa de inflação corrente excedia o intervalo estipulado pela meta inflacionaria, e também caracteriza tal período pela chamada “dominância fiscal”. Discute os canais de transmissão da política monetária relacionando a política de fixação de juros, que visa alcançar dada meta inflacionaria, com o risco de default da dívida pública, prêmio de risco da taxa de câmbio e risco-país. O autor destaca que a taxa de juros fixada pelo BACEN respondia diretamente ao incremento do risco-país e da dívida do Governo. Esse resultado mostra que a dívida pública afeta a taxa de juros e, portanto, interfere na determinação do nível de preços. Nesse contexto, tal resultado sugere uma política monetária passiva e uma política fiscal ativa, condizente com a TFNP ou com a chamada “dominância fiscal”. Carneiro e Wu (2005) argumentam que a economia brasileira, no período de 1995 a 2002, apresenta características de regime de dominância 14 fiscal. Destacam que o alto grau de endividamento interno e externo pode fazer com que decisões de política monetária possuam efeitos perversos sobre a economia e sobre a eficácia da política monetária como instrumento de controle da inflação. Os autores entendem efeitos perversos, em geral, como os efeitos inflacionários decorrentes das elevadas taxas de juros. No contexto supracitado, alegam que elevado grau de endividamento público pode provocar efeito perverso sobre a eficácia da política monetária como instrumento de controle da inflação, na medida em que gera desconfiança. Mostram ainda que um segundo efeito perverso decorre do endividamento privado externo, na medida em que essa variável pode intensificar a magnitude do efeito contra cíclico da taxa de câmbio. Moreira, Souza e Almeida (2007) usam o modelo de Leeper (1991 e 2005) para testar a TFNP e encontram evidencias empíricas em favor de um regime não-ricardiano com dados trimestrais de 1995:1 a 2006:4. Com base na estimativa de uma curva IS (que incorpora o déficit nominal) e de uma Curva de Phillips, os autores mostram que a variável fiscal é estatisticamente significante e que ela afeta de uma forma direta o hiato do produto e de uma forma indireta a taxa de inflação. Nesse contexto, eles atestam que a política monetária é passiva e que a política fiscal é ativa. 4. Alguns aspectos metodológicos A base de dados trimestral relativo ao período de 1995:I a 2008:III teve como principal fonte o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. A seguir relacionamos as variáveis que foram coletadas no ipeadata e as respectivas nomenclaturas adotadas nesse trabalho (entre parênteses): meio de pagamento – fim de período – em R$ milhões ( M ); PIB – preços de 15 mercado - em R$ milhões ( Y ); taxa de juros % – over/Selic ( R ) ; investimento ou formação bruta de capital fixo - em R$ milhões ( I ); deflator implícito do PIB ( P ); taxa de câmbio nominal – R$/US$ - comercial – compra – média ( E ); taxa de câmbio efetiva real – INPC – exportações ( e ); superávit primário ou NFSP – governo federal e banco central – primário – c/desvalorização cambial – em R$ milhões ( SP ); taxa de inflação – IPCA - % a.m. – ( π ). A receita direta do governo federal, ou seja, os impostos diretos - em R$ milhões (ID) - resulta do somatório dos impostos de renda pessoa física e jurídica e imposto sobre a propriedade territorial rural. Utilizamos como proxy para a dívida pública os títulos públicos federais e operações de mercado aberto ( B ), cuja fonte é o Banco Central. Utilizamos também uma variável dummy para diferenciar o período de câmbio administrado (1995:I a 1998:IV) do câmbio “flexível” no período subseqüente. O PIB real foi calculado com base no deflator implícito do PIB. Para calcular o hiato do produto (y) usamos o filtro Hodrick-Prescott onde definimos como a diferença entre PIB real e PIB potencial (trend). Um valore positivo indica * excesso de demanda. A taxa de crescimento do produto ( y ) é calculada com base no PIB real. Para calcular a taxa de juros real ( r ) utilizamos o IPCA8. Em todas as estimativas utilizamos as variáveis em log. Os modelos de series temporais a serem estimados serão explicitados no item 5. Utilizaremos testes de Cointegração de Johansen e de raiz unitária, além de modelos de equações simultâneas 8 - GMM com variáveis A taxa de juros real foi calculada da forma tradicional, onde (1 + Rt ) = (1 + rt ) * [1+ E t (π t +1 ) ], onde assumimos que E t (π t +1 ) = π t +1 16 instrumentais. Analisaremos as equações de longo prazo resultante dos testes de cointegração enfocando principalmente se a dívida pública é significante e se está com o sinal esperado com base no modelo teórico apresentado. Outras técnicas padrão de séries temporais também são utilizadas, como testes de fraca exogeneidade. As técnicas econométricas aqui utilizadas são largamente aplicadas na literatura e são apresentadas em vários livros de econometria a exemplo de Hamilton, (1994), Johsnton e DiNardo (1997), Green (2000), Maddala (2000). Deve-se usar GMM com variáveis instrumentais para estimar sistemas de equações, a exemplo da equação IS fiscal e a equação que mostra a relação entre superávit primário e dívida pública. Sabe-se que quando as variáveis não são estacionárias, esperam-se problemas específicos relativos aos procedimentos convencionais de inferência com base em regressões por mínimos quadrados ordinários (MQO). Almeida, Pinheiro e Moreira (2002), destacam ao citarem Johnston e Dinardo (1997, p.317), que é importante saber se problemas similares surgem no contexto das regressões de mínimos quadrados em duas fases ao se defrontarem com esses problemas. Esse problema é investigado por Cheng Hsiao (1997a, 1997b). A conclusão do trabalho de Hsiao é a de que a inferência com estimadores de 2SLS com uso de variáveis instrumentais continua válida, mesmo no caso de séries não estacionarias ou não cointegradas9. Nesse contexto, as mesmas conclusões de Hsiao também são validas quando aplicado o GMM. Esse método também é amplamente utilizado na literatura a exemplo dos trabalhos de Almeida, Souza e Moreira (2004 e 2006), Moreira, Souza e Almeida (2007). 9 Veja também Johnston e DiNardo (2001,p.348): 17 5. Apresentação dos modelos não Ricardianos e seus resultados Nessa seção sustentabilidade apresentamos fiscais e evidências estimativas de empíricas diversos de testes modelos de teóricos relacionando o impacto de variáveis fiscais sobre variáveis nominais e reais da economia. Optamos por fazer um breve resumo dos diversos modelos teóricos apresentados em cada subseção para o melhor entendimento dos resultados encontrados. 5.1- Efeito da dívida pública sobre a demanda por moeda Kneebone (1989) define a demanda real por moeda como função de uma relação negativa com a taxa de juros nominal e positiva com o produto e a riqueza real10. A definição de riqueza liquida real é dada por W = M / P + β ( B / P) (1) onde W é o valor da riqueza real líquida dos agentes privados; β é a fração dos títulos do governo que os agentes privados percebem como riqueza líquida ( 0 ≤ β ≤ 1 ); B é o estoque nominal dos títulos da dívida pública; Y/P é o produto real; R é a taxa nominal de juros; P é o nível de preços e M é a oferta de moeda nominal. Assim, a definição da demanda real de moeda é dada por M / P = L1 (Y / P) + L2 R + L3 [ M / P + β ( B / P)] (2) Seguindo Kneebone (1989), após dividir a equação (2) por Y/P tem-se m = L1 + L2 R + L3 (m + β b) (3) onde L1 > 0 , L2 < 0 e L3 > 0 ; m = M / Y ; b = B / Y . A equação (3) pode ser escrita de outra forma como m = ( L1 / 1 − L3 ) + ( L2 / 1 − L3 ) R + β ( L3 / 1 − L3 )b (4) 10 Scarth (1996) trabalha com uma abordagem similar para a demanda real por moeda em um contexto de equivalência não ricardiana. 18 Agora, nós definimos uma equação estocástica a partir da equação (4) tal que mt = β 0 + β 1 Rt + β 2 bt + η t onde β 0 = ( L1 / 1 − L3 ) ; β1 = ( L2 / 1 − L3 ) e β 2 = β ( L3 / 1 − L3 ) . (5) Se β 2 é estatisticamente igual a zero nós impomos a hipótese de equivalência Ricardiana. Estimamos a equação (5) com as variáveis em logaritmo. A tabela em anexo A1 mostra que m, b e R são não estacionárias. Os testes de cointegração de Johansen mostram que há duas equações de cointegração ao nível de 5% de significância, conforme tabela em anexo A.4 e A.5. Também utilizamos a variável dummy (como variável exógena no VAR) no modelo aqui apresentado. A equação de longo prazo mostra que mt = − 1,924 − 0,286 Rt + 0,820bt (0,088) (6) (0,087) (0,114) Os valores entre parênteses representam os desvios-padrão dos respectivos coeficientes estimados. De acordo com a equação de longo prazo, nota-se que para cada 1% de incremento da relação Divida/PIB, há um incremento de 0,82% da demanda por moeda. Há uma correlação (Pearson) positiva de 94,2% entres essas duas variáveis a um nível de significância de 1%. Com base na estatística Qui-quadrado, no valor de 15,197, rejeita-se a hipótese nula de fraca endogeneidade da relação Dívida/PIB (prob. < 0,001). Como esperado, há uma relação negativa entre taxa de juros e demanda por moeda. Nota-se que para cada 1% de incremento da Selic, há uma redução de 0,286% da demanda por moeda. 19 5.1.1 - Teste de sustentabilidade fiscal e efeito da dívida pública sobre a demanda por moeda A literatura mostra que existem diversas formas de testar a sustentabilidade fiscal. Uma boa resenha e análise sobre testes de sustentabilidade fiscal são apresentadas por Luporini (2006). Nós utilizamos especificamente a abordagem de Buiter e Patel (1992), também descrita por Luporini (2006), por uma questão de conveniência metodológica, uma vez que podemos utilizar a equação sugerida pelos autores para estimar equações simultâneas via GMM. Buiter e Patel (1992) propõem, com base no artigo de Wilcox (1989), um critério de solvência forte que além da estacionariedade da dívida, esta não pode possuir uma tendência positiva, estocástica ou determinística. O teste consiste em estimar a equação apresentada a seguir: ∞ Bt = α 0 + α 1trend + ∑ β i Bt −i + ε t (7) i =1 onde B é a dívida pública, trend é o termo da tendência e ε é o termo estocástico. A insolvência poderá ocorrer se ao menos uma das condições abaixo for satisfeitas, conforme Buiter e Patel (1992). i) As raízes de 1 − β ( L) não se encontram todas fora do círculo unitário, isto é, a equação diferencial não é estável; ii) existe uma tendência determinística, tal que, α1 ≠ 0 e o coeficiente é possivelmente positivo; iii) a média expectacional é não nula, isto é, α 0 ≠ 0 tal que o processo que rege a dívida pode ser estacionário, mas sua média expectacional não é nula. 20 Seguindo ainda Buiter e Patel (1992) onde Bt = α 0 + α 1trend + β Bt −1 + ε t (8) a hipótese nula de insolvência é dada por β1 = 1 e α1 = 0 . Nesse contexto, temse que: i) Se a hipótese nula não é rejeitada, a dívida descontada é não estacionária, a política fiscal é insustentável e levará à insolvência se tal situação se mantiver indefinidamente; ii) se a hipótese nula é rejeitada mas há uma tendência determinística positiva, a política fiscal é fracamente sustentável pois eventualmente o problema de insolvência surgirá; iii) se a hipótese nula é rejeitada e não pode-se rejeitar β1 < 1 e α1 = 0 , então se houver uma média positiva tal que α 0 > 0 , mais uma vez tal situação levará a uma eventual insolvência. A equação (8) pode ser normalizada pelo produto tal que bt = α 0 + α 1trend + β bt −1 + α 2 dummy + ε t (9) com as variáveis em logaritmo, onde introduzimos uma dummy para diferenciar o período de câmbio fixo (administrado) do período de câmbio flutuante que começou a vigorar a partir de janeiro de 1999. Dessa forma podemos estimar as equações (9) e (5) em forma de sistema via GMM. Os resultados apresentados na tabela 1 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%, exceto a constante e a tendência. Com base no teste de Wald a hipótese nula não é rejeitada, onde Ho: β1 = 1 e α1 = 0 , com um qui-quadrado no valor de 1,4286 e um p-value de 0,4895. Nesse contexto, como a hipótese nula não é rejeitada temos uma 21 política fiscal insustentável e que levará à insolvência se tal situação se mantiver indefinidamente. Tabela 1 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: bt = α 0 + α 1trend + β bt −1 + α 2 dummy + ε t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 1,62E-06 0,0079 0,0002 0,9998 Tendência -0,0002 0,0003 -0,6881 0,4931 Dívida/PIB(-1) 1,0269 0,0243 42,3339 <0,0001 Dummy 0,0719 0,0107 6,6889 <0,0001 R2 0,9769 R2 ajustado 0,9754 Nota: Instrumentos b(-3,-4,-5,-6), m(-3,-4,-5,-6), R(-3,-4,-5,-6), constante O método de GMM com Bartlett Kernel, aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 1 e 2. A especificação do modelo é testada pela estatística J associada com restrições de sobreidentificação. O valor da estatística J de 0,27 com um p-value de 0,975 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. Tabela 2 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: mt = β 0 + β1 Rt + β 2 bt + η t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 0,1637 0,0027 60,9467 <0,001 Selic -0,0335 0,0041 -8,1930 <0,001 Dívida/PIB 0,0818 0,0030 27,0272 <0,001 R2 0,8616 R2 ajustado 0,8556 Nota: Instrumentos b(-3,-4,-5,-6), m(-3,-4,-5,-6), R(-3,-4,-5,-6), constante Os resultados apresentados na tabela 2 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Os coeficientes apresentam os sinais esperados de forma que para cada 1% de incremento da taxa de juros, há uma redução na demanda por moeda de 0,033% e para cada 1% de 22 incremento na razão dívida/PIB há um aumento de 0,082% na demanda por moeda. Isso mostra que uma parcela da dívida pública é considerada pelos agentes econômicos como riqueza liquida e, portanto, resulta num regime não ricardiano. Destaque-se que os resultados apresentados nas tabelas 1 e 2 são consistentes ao mostrarem que no período considerado há evidências empíricas de que o Brasil possui uma política fiscal insustentável e que se encontra em um regime não ricardiano. 5.2 – Efeito da dívida pública sobre o superávit primário Bohn (1998) procura avaliar a sustentabilidade da política fiscal a partir da resposta do superávit primário a mudanças na razão dívida/PIB. Simplificamos essa relação através de uma regressão com variáveis em logaritmo da seguinte forma: SP/Y = 0,004 + 0,031*B/Y (0,002) (10) (0,003) As tabelas em anexo mostram que ambas as variáveis são I(1) e que cointegram ao nível de significância de 5%. Os valores entre parênteses representam os desvios-padrão dos respectivos coeficientes estimados. De acordo com a equação de longo prazo, nota-se que para cada 1% de incremento da relação Divida/PIB, há um aumento de 0,031% da razão Superávit primário/PIB. A correlação (Pearson) positiva entre as duas variáveis é de 74,7%, a um nível de significância de 5%. Destaque-se ainda que, com base na estatística Qui-quadrado, no valor de 1,168, não rejeita-se a hipótese nula de fraca endogeneidade (prob = 0,279) , isto é, a razão Divida/PIB é fracamente exógena. 23 5.2.1 - Teste de sustentabilidade fiscal e efeito da dívida pública sobre o superávit primário Os resultados apresentados na tabela 3 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%, exceto a constante e a tendência. Nesse contexto, como a hipótese nula não é rejeitada temos uma política fiscal insustentável e que levará à insolvência se tal situação se mantiver indefinidamente. Tabela 3 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: bt = α 0 + α 1trend + β bt −1 + α 2 dummy + ε t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 0,0009 0,0086 0,1105 0,9122 Tendência -2,80E-05 0,0003 -0,0799 0,9365 Dívida/PIB(-1) 1,0123 0,0201 50,3442 <0,0001 Dummy 0,0691 0,0086 8,0382 <0,0001 R2 0,9815 R2 ajustado 0,9803 Nota: Instrumentos b(-2,-3,-4,-5,-6), sp(-2,-3,-4,-5,-6), R(-2,-3,-4,-5,-6), constante O método de GMM com Bartlett Kernel, aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 3 e 4. O valor da estatística J de 0,274 com um p-value de 0,90 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. Tabela 4 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: spt = β 0 + β1bt + η t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 0,0049 0,0006 7,6443 <0,0001 Dívida/PIB 0,0305 0,0014 21,7183 <0,0001 R2 0,6151 R2 ajustado 0,6070 Nota: Instrumentos b(-2,-3,-4,-5,-6), sp(-2,-3,-4,-5,-6), R(-2,-3,-4,-5,-6), constante Os resultados apresentados na tabela 4 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Os coeficientes apresentam 24 os sinais esperados de forma que para cada 1% de incremento da razão dívida/PIB, há um incremento na razão superávit primário/PIB de 0,03%. Isso mostra que o superávit primário reage às variações da dívida pública. 5.2.2 - Breve comentário sobre a relação entre superávit primário, conta única do tesouro nacional e base monetária Vale à pena ressaltar que o superávit primário do governo federal está contabilizado na conta única do tesouro nacional. A conta única por sua vez faz parte do passivo não monetário do Banco Central. Considerando-se que a variação da base monetária é dada pela diferença entre a variação dos ativos do BACEN e a variação do passivo não monetário, se há um incremento do superávit primário e, portanto, da conta única do tesouro contabilizada no passivo não monetário, então, tudo o mais constante, haverá uma redução da base monetária. Nesse contexto, sucessivos aumentos do superávit primário levam à redução da base monetária, ceteris paribus, e por conseqüência, redução dos meios de pagamentos. Esse arranjo institucional mostra que há um canal direto de transmissão da política fiscal para a política monetária. Aliado a esse fato, se a dívida pública que responde a variações no superávit primário afeta positivamente a demanda por moeda, então é de se esperar que tanto a divida pública quanto o superávit primário afetem a taxa de juros. Mas em que direção? Se considerarmos que a taxa de juros é determinado pela oferta e demanda por moeda, e se de um lado a demanda por moeda responde positivamente a variações da divida pública, dado a oferta de moeda, haverá um incremento da taxa de juros. Por outro lado, sabendo-se que incrementos do superávit primário afetam a base monetária reduzindo-a, mais uma vez 25 ceteris paribus, haverá um movimento no sentido de alta da taxa de juros. Esse é apenas um exercício intuitivo para avaliar a direção da taxa de juros dado um incremento da dívida pública, embora saibamos que num regime de metas inflacionárias a oferta de moeda é endógena, pelo fato do BACEN controlar a Selic Na subseção seguinte analisaremos os efeitos da dívida pública sobre a taxa de juros. 5.3 - Teste de sustentabilidade fiscal e efeito da dívida pública sobre a taxa de juros Martins (1980) desenvolve uma teoria de determinação da renda e da taxa de juros nominais assumindo a hipótese de que em diferentes períodos os agentes econômicos podem carregar moeda e títulos públicos. Os agentes levam em conta a restrição orçamentária do governo e não se preocupam com a taxa de desconto futura dos passivos associados com a emissão de títulos do governo. De acordo com essa teoria, o preço dos títulos é análogo ao nível de preços. Além disso, a taxa de juros nominal é determinada pela razão entre os estoques de títulos do governo e de moeda e ela não guarda qualquer relação com a taxa de expansão do nível de preços. Esse resultado implica que a teoria de Fisher (Fisher [1930], chaps. 2 and 19) da taxa de juros nominal não se mantém. Com base no modelo de Martins (1980) nós podemos escrever a equação fundamental como Rt = Bt / M t onde Rt = (1 + it ) . O subscrito t representa o tempo, i representa a taxa de juros nominal, B representa o estoque de títulos públicos e M representa o estoque de moeda. Aplicando logaritmo em ambos os lados da equação e representando-a de forma estocástica obtém-se log( Rt ) = log( Bt ) − log( M t ) + et (11) 26 Nesta seção estimaremos dois sistemas para avaliar o impacto da dívida pública sobre a taxa de juros (selic). O primeiro para avaliar o efeito direto da dívida pública sobre a taxa de juros, conforme tabelas 5 e 6. O segundo sistema, para avaliar o efeito indireto da dívida pública sobre a taxa de juros via superávit primário, conforme tabelas 7, 8 e 9. Dessa forma, também estaremos testando o efeito direto do superávit primário sobre a taxa de juros. Os resultados apresentados na tabela 5 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 5%, exceto a tendência. Nesse contexto, como a hipótese nula é rejeitada, mas há uma tendência determinística positiva, a política fiscal é fracamente sustentável, pois eventualmente o problema de insolvência surgirá. Tabela 5 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: Bt = α 0 + α 1trend + β Bt −1 + α 2 dummy + ε t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 1,9346 0,6172 3,1344 0,0023 Tendência 0,0033 0,0019 1,7091 0,0908 Dívida (-1) 0,8522 0,0499 17,0591 <0,0001 Dummy -0,1051 0,0409 -2,5648 0,0120 R2 0,9957 R2 ajustado 0,9954 Nota: Instrumentos B(-2,-3,-4,-5,-6), R(-2,-3,-4,-5,-6), constante O método de GMM com Bartlett Kernel, aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 5 e 6. A especificação do modelo é testada pela estatística J associada com restrições de sobreidentificação. O valor da estatística J de 0,22 com um p-value de 0,99 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. 27 Tabela 6 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: Rt = β 0 + β1 Bt − β 2 M t + η t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 0,0553 0,0097 5,6843 <0,0001 Dívida 0,0245 0,0067 3,6683 0,0004 M 0,0325 0,0073 4,4298 <0,0001 R2 0,1225 R2 ajustado 0,0843 Nota: Instrumentos B(-2,-3,-4,-5,-6), R(-2,-3,-4,-5,-6), constante Os resultados apresentados na tabela 6 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. O coeficiente da dívida pública indica que para cada 1% de incremento da dívida, há um incremento na taxa de juros de 0,02%. Isso mostra que a dívida do governo tem um impacto positivo e significante sobre a taxa de juros, sugerindo um regime não Ricardiano e uma política fiscal ativa. Podemos observar também que quando o governo aumenta a liquidez na economia, há uma redução na taxa de juros. Para cada 1% de aumento no agregado monetário M, obtém uma redução na taxa nominal de juros de 0,03%. Os resultados relativos ao segundo sistema de equações são apresentados a seguir, com base em três equações, conforme tabelas 7, 8 e 9. Os resultados na tabela 7 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Nesse contexto, como a hipótese nula é rejeitada, mas há uma tendência determinística positiva, a política fiscal é fracamente sustentável, pois eventualmente o problema de insolvência surgirá. O teste de Wald não aceita a hipótese nula de que β = 1 , com um p-value < 0,0001. 28 Tabela 7 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: Bt = α 0 + α 1trend + β Bt −1 + α 2 dummy + ε t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 1,7303 0,1425 12,1408 <0,0001 Tendência 0,0025 0,0004 6,1506 <0,0001 Dívida (-1) 0,8691 0,0115 75,2616 <0,0001 Dummy -0,1086 0,0048 -22,4522 <0,0001 R2 0,9955 R2 ajustado 0,9952 Nota: Instrumentos B(-2,-3,-4,-5,-6), R(-2,-3,-4,-5,-6), SP(-2,-3,-4,-5,-6), constante O método de GMM com Bartlett Kernel, aplicado conjuntamente para as três equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 7, 8 e 9. A especificação do modelo é testada pela estatística J associada com restrições de sobreidentificação. O valor da estatística J de 0,20 com um p-value de 0,90 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. Os parâmetros apresentados na tabela 8 são estatisticamente significantes a um nível de 1%. Observa-se que para cada 1% de incremento da dívida pública obtém-se um aumento do superávit primário de 0,85%. Tabela 8 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: sp t = β 0 + β 1 Bt + η t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante -2,1326 0,0656 -32,4982 <0,0001 Dívida 0,8566 0,0048 177,7032 <0,0001 R2 0,6431 R2 ajustado 0,6355 Nota: Instrumentos B(-2,-3,-4,-5,-6), R(-2,-3,-4,-5,-6), SP(-2,-3,-4,-5,-6), constante Os resultados apresentados na tabela 9 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Observa-se que para cada 1% de incremento do superávit primário há um incremento da taxa de juros nominal de 0,001%. Isso mostra que o superávit primário tem um impacto 29 positivo e significante sobre a taxa de juros, sugerindo uma política fiscal ativa e uma política monetária passiva, ou seja, um regime não Ricardiano. Podemos observar também que quando o governo aumenta a liquidez na economia, há uma redução na taxa de juros. Para cada 1% de aumento no agregado monetário M1, obtém uma redução na taxa nominal de juros de 0,006%. Tabela 9 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: Rt = β 0 + β 1 SPt − β 2 M t + η t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 0,0778 0,0009 78,0522 <0,0001 SP 0,0011 0,0001 6,8915 <0,0001 M 0,0065 0,0002 32,9243 <0,0001 R2 0,5067 R2 ajustado 0,4852 Nota: Instrumentos B(-2,-3,-4,-5,-6), R(-2,-3,-4,-5,-6), SP(-2,-3,-4,-5,-6), constante Considerando-se o efeito de um incremento da dívida pública ou do superávit primário sobre a taxa de juros, nada mais natural do que avaliarmos o efeito dessas mesmas variáveis fiscais sobre o nível de investimento da economia. Na próxima subseção analisaremos essa relação. 5.4- Efeito da dívida pública sobre o investimento Araujo e Martins (1998) demonstram que é possível um crescimento de longo prazo sustentável em um modelo de um setor com gerações superpostas. Eles assumem uma tecnologia convexa, sem redistribuição de renda da geração mais velha para a mais nova, com taxação via imposto sobre a renda e sem altruísmo puro a la Barro (1974). Trabalhando com uma função de produção AK e assumindo uma hipótese na qual a função utilidade do agente incorpora um motivo herança absoluto, os autores derivam uma clara 30 implicação de política do modelo: um incremento na dívida governamental afeta negativamente a taxa de crescimento do estoque de capital tal que K t − K t −1 δ A − 1 Bt / K t −1 − = K t −1 1+ δ (1 + A)(1 + δ ) (12) onde Kt é o estoque de capital no início do período t, Bt é o estoque de títulos da dívida do governo no início do período t, A representa a tecnologia e o coeficiente δ indica as preferências dos agentes. Essa equação mostra que a taxa de crescimento do estoque de capital é endógena. Nesse contexto, o fluxo de financiamento da dívida como proporção do estoque de capital no período anterior afeta negativamente a taxa de acumulação de capital. Esse resultado deve-se do efeito deslocamento da redução do investimento produtivo em decorrência do incremento da dívida pública. Considerando-se que a diferença entre o estoque de capital em t e t-1 é o investimento, K t − K t −1 = I t , e que Yt −1 = AK t −1 , podemos reescrever a equação (12) da seguinte maneira: I t / Yt −1 = β 0 + β 1 * ( Bt / Yt −1 ) (13) onde β 0 = (δ A − 1) / A(1 + δ ) e β1 = 1 /[ A(1 + A)(1 + δ )] . Isto posto, vamos estimar a equação com as variáveis em logaritmo, conforme a seguir : I t / Yt −1 = β 0 + β 1 * ( Bt / Yt −1 ) + u t onde o parâmetro β1 (14) mostra a relação entre as razões dívida(t)/PIB(t-1) e investimento(t)/PIB(t-1), β 0 é o parâmetro do intercepto e u t é o erro (termo estocástico). Vamos verificar se o parâmetro β1 é estatisticamente significante, isto é, se é estatisticamente diferentes de zero, e o seu respectivo 31 sinal. Se β1 for negativo e estatisticamente significante, então poderemos inferir que a razão dívida/PIB afeta negativamente a razão investimento(t)/PIB(t-1). Em outras palavras, se β1 = 0, nós impomos a hipótese de equivalência Ricardiana. Inicialmente verificaremos se as variáveis supracitadas são estacionárias. Se as variáveis não forem estacionárias, vamos checar se as mesmas cointegram. A tabela em anexo A1 apresentada em anexo mostra que ambas são não estacionárias. Nesse caso precisamos fazer um teste de cointegração para verificar se a regressão será validada, ou seja, para verificar se a regressão não é espúria. Os testes de cointegração de Johansen mostram que há uma equação de cointegração ao nível de significância de 5%, conforme tabela em anexo A.2 e A.3. Destaque-se que utilizamos uma variável dummy (como variável exógena no VAR) no modelo aqui apresentados para representar dois períodos distintos: de janeiro de 1995 a dezembro de 1999 a economia brasileira apresentou um regime de câmbio administrado e a partir de 1999 o Brasil tem utilizado um regime de câmbio “flutuante”. A equação de longo prazo resultante mostra que o parâmetro β1 é estatisticamente significante ao nível de 5%, conforme a seguir: I t / Yt −1 = − 1,621 − 0,220( Bt / Yt −1 ) (0,073) (15) (0,116) Os valores entre parênteses representam os desvios-padrão dos respectivos coeficientes estimados. De acordo com a equação de longo prazo, nota-se que para cada 1% de incremento da relação Divida(t)/PIB(t-1), há uma redução de 0,22% da razão Investimento(t)/PIB(t-1). A correlação (Pearson) 32 negativa entre as duas variáveis é de -27,3%, a um nível de significância de 5%. Destaque-se ainda que, com base na estatística Qui-quadrado, no valor de 1,819, não rejeita-se a hipótese nula de fraca endogeneidade (prob. = 0,177), isto é, a razão Divida(t)/PIB(t-1) é fracamente exógena. Destaque-se que a dívida pública não tem um papel neutro sobre a variável real da economia – razão investimento/PIB. Tal evidencia empírica sugere uma clara prescrição de política pública: o governo deve ter como meta reduzir a razão dívida/PIB. Uma redução da razão dívida/PIB gera um maior nível da razão investimento/PIB. A implicação desse resultado é mais crescimento, menos desemprego e, portanto, melhoria do bem estar da população. 5.4.1 - Teste de sustentabilidade fiscal e efeito da dívida pública sobre a formação bruta de capital fixo Os resultados na tabela 10 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 5%, exceto a tendência. Nesse contexto, se a hipótese nula não é rejeitada, a dívida descontada é não estacionária, a política fiscal é insustentável e levará à insolvência se tal situação se mantiver indefinidamente. O teste de Wald não rejeita a hipótese nula de que β1 = 1 e α1 = 0 , com a estatística do qui-quadrado igual a 4,0573 e um p-value de 0,1315. 33 Tabela 10 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: Bt = α 0 + α 1trend + β Bt −1 + α 2 dummy + ε t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 0,3812 0,1837 2,0750 0,0408 Tendência 0,0016 0,0010 1,5888 0,1156 Dívida real (-1) 0,9549 0,0246 38,8315 <0,0001 Dummy 0,0378 0,0099 3,8098 0,0003 R2 0,9968 R2 ajustado 0,9966 Nota: Instrumentos B(-2,-3,-4,-5,-6), I(-2,-3,-4,-5,-6), R (-2,-3,-4,-5,-6), constante O método de GMM com Bartlett Kernel, aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 10 e 11. A especificação do modelo é testada pela estatística J associada com restrições de sobreidentificação. O valor da estatística J de 0,274 com um p-value de 0,90 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. Tabela 11 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: I t = β 0 + β 1 Yt −1 + β 2 Bt Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante -3,1073 0,1800 -17,2566 <0,0001 PIB real (-1) 1,4357 0,0515 27,8792 <0,0001 Dívida real -0,2557 0,0301 -8,4955 <0,0001 R2 0,9781 R2 ajustado 0,9772 Nota: Instrumentos B(-2,-3,-4,-5,-6), I(-2,-3,-4,-5,-6), R (-2,-3,-4,-5,-6), constante Os resultados apresentados na tabela 11 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Observa-se que para cada 1% de incremento da dívida real há um decréscimo da formação bruta de capital fixo de 0,2561%. Isso mostra que a dívida tem um impacto negativo e significante sobre o investimento, sugerindo uma política fiscal ativa. 34 Podemos observar também o efeito positivo do PIB real defasado sobre o investimento. Dado o efeito negativo da dívida publica sobre o nível de investimento, o caminho natural é testarmos o efeito dela sobre o produto. Nesse contexto, vamos checar na próxima seção o efeito do superávit primário sobre o hiato do produto. Depois testaremos o efeito da dívida pública sobre a taxa de crescimento da economia. 5.5– Efeito do superávit primário e sobre o hiato do produto Nessa seção estima-se as equações da IS fiscal e da relação entre Superávit Primário e Dívida Pública. O método mais adequado para a estimativa em forma de sistema dessas duas equações é via GMM, com adequadas variáveis instrumentais. Todas as variáveis estão em forma de logaritmo. A estimativa da equação que mede a resposta da razão superávit primário/PIB, SP/Y, aos níveis da razão dívida governamental/PIB, B/Y, pode ser definida como ( SP / Y ) t = a 0 + a1 ( SP / Y ) t −1 + a 2 ( B / Y ) t −1 + u t (16) onde ut o termo estocástico. A IS fiscal pode ser definida como y t = a3 + a 4 y t −1 + a5 rt −1 + a 6 ( SP / Y ) t −1 + a 7 et −1 + η t (17) onde yt é o hiato do produto, rt é a taxa de juros real, (SP/Y)t é a variável fiscal de interesse (superávit primário/PIB), et é a taxa de câmbio real e η t +1 é o termo estocástico. A denominação IS fiscal deve-se ao fato de considerarmos uma variável fiscal na curva IS. Admite-se que os termos estocásticos das equações (16) e (17) não são serialmente correlacionados. 35 Com base nesse modelo podemos verificar os efeitos diretos da dívida pública sobre o superávit primário e o efeito indireto dessa variável (dívida pública) sobre o hiato do produto. Se a razão dívida pública/PIB for estatisticamente significante na equação (16) e se a razão superávit primário/PIB também for estatisticamente significante na equação (17), tem-se um indicativo de que a política fiscal é ativa. Isso significa que a dívida governamental afeta indiretamente uma variável real, o hiato do produto via superávit primário. Os resultados apresentados na tabela 12 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1% e que para cada 1% de incremento na razão divida/PIB, a razão superávit primário/PIB reage aumentando em 0,023%. Tabela 12 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed: ( SP / Y ) t = a 0 + a1 ( SP / Y ) t −1 + a 2 ( B / Y ) t −1 + u t Variáveis Constante (SP/Y) (-1) [B/Y](-1) R2 Coeficientes 0,004 0,221 0,023 0,612 Desviopadrão <0,001 0,026 <0,001 Estatística t Valor prob. 18,045 8,411 27,670 R2 ajustado <0,001 <0,001 <0,001 0,595 Nota Instrumentos: y(-3,-4,-5,-6), r(-3,-4,-5,-6), SP/Y(-3,-4,-5,-6), e(-3,-4,-5,-6), B/Y(-3, -4,-5,-6),c O método de GMM com Bartlett Kernel, aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 12 e 13. A especificação do modelo é testada pela estatística J associada com restrições de sobreidentificação. O valor da estatística J de 0,28 com um p-value de 0,50 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. 36 Tabela 13 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed:: y t = a3 + a 4 y t −1 + a5 rt −1 + a 6 ( SP / Y ) t −1 + a 7 et −1 + η t Variáveis Constante Hiato(-1) Juro-r(-1) [SP/Y](-1) Câmbio-r(-1) R2 Coeficiente s 0,431 0,771 -0,048 -2,963 0,006 0,722 Desviopadrão 0,029 0,013 0,009 0,250 0,003 Estatística t Valor prob. 15,047 59,371 -5,316 -11,836 2,091 R2 ajustado <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,039 0,696 Nota Instrumentos: y(-3,-4,-5,-6), r(-3,-4,-5,-6), SP/Y(-3,-4,-5,-6), e(-3,-4,-5,-6), B/Y(-3,-4, -5,-6),c Os resultados apresentados na tabela 13 também mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 5%. Dado um aumento de 1% na razão superávit primário PIB, há uma redução de 2,963% no hiato do produto tal que, o efeito final do incremento de 1% na razão divida/PIB será uma redução de 0,07% no hiato do produto de curto prazo. No longo prazo, levando em conta o efeito auto-regressivo do coeficiente do hiato defasado, o efeito final será uma redução do hiato do produto de 0,31%. Esse resultado mostra que há evidências empíricas de que a política fiscal é ativa. Os demais coeficientes apresentam os sinais esperados de forma que para cada 1% de incremento da taxa de juros real, há uma redução no hiato do produto de 0,048% e para cada 1% de incremento do taxa de câmbio real há um aumento de 0,006% no hiato do produto. Notem que embora haja reação do superávit primário em resposta a variações da divida pública, o que pode indicar preocupação por parte do governo com a restrição orçamentária, nada garante que a reação tenha ocorrido na magnitude adequada para tornar a dívida solvente. Se a magnitude da reação fosse adequada então a política fiscal seria passiva, isto é, ela não teria qualquer efeito sobre as variáveis reais, a exemplo do hiato do produto. 37 5.6 - Teste de sustentabilidade fiscal e efeito da dívida pública sobre a taxa de crescimento do produto Os resultados apresentados na tabela 14 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%, exceto a tendência. Nesse contexto, como a hipótese nula é rejeitada e não se pode rejeitar β < 1 e α1 = 0 , então se houver uma média positiva tal que α 0 > 0 , mais uma vez tal situação levará a uma eventual insolvência. Tais hipóteses foram confirmadas pelo teste de Wald. Tabela 14 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Newey-West bt = α 0 + α 1trend + β bt −1 + α 2 dummy + ε t Variáveis Coeficientes Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 0,1569 0,0336 4,6625 <0,0001 Tendência -0,0015 0,0009 -1,5723 0,1194 Dívidat/PIB(1) 0,8543 0,0615 13,8826 <0,0001 Dummy -0,1112 0,0407 -2,7306 0,0076 R2 0,9632 R2 ajustado 0,9607 ^ Nota: Instrumentos b(-2,-3,-4,-5,-6), y t (-2,-3,-4,-5,-6), constante O método de GMM com Bartlett Kernel, aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 14 e 15. O valor da estatística J de 0,191 com um p-value de 0,975 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. 38 Tabela 15 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth: Newey-West * y t = β 0 + β 1b't + β 2 b't −1 +ε t Variáveis Coeficiente s Desviopadrão Estatística t Valor prob. Constante 1.0389 0,0023 454,4616 <0,0001 divida t / PIBt −1 -0,2237 0,0246 -9,0888 <0,0001 ( divida t / PIBt −1 ) (-1) 0,2087 0,0227 9,2106 <0,0001 R2 0,2034 R2 ajustado 0,1680 ^ Nota: Instrumentos b(-2,-3,-4,-5,-6), y t (-2,-3,-4,-5,-6), constante A equação estimada na tabela 15 que relaciona taxa de crescimento do * produto ( y ) à razão divida t / PIBt −1 ( b' t ) é derivada da equação (12), considerando-se que K=Y/A. Os resultados apresentados na tabela 15 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Utilizamos a razão divida t / PIBt −1 defasada para ajustar melhor o modelo. Notem que os sinais dos coeficientes de b' t e b 't −1 apresentam sinais alternados, talvez por uma questão de sazonalidade, mas o resultado líquido é negativo. Isso mostra que a razão divida t / PIBt −1 reduz a taxa de crescimento do produto. Tal resultado indica que no período considerado há evidências empíricas de que o Brasil possui uma política fiscal que levará a uma eventual insolvência e que se encontra em um regime não ricardiano. Considerando-se os efeitos da dívida pública sobre variáveis reais e nominais na economia, pode-se concluir com base nas evidências empíricas que a economia brasileira no período analisado não corrobora com a hipótese de equivalência Ricardiana. Além disso, os resultados sugerem uma política fiscal ativa e uma política monetária passiva. Isso posto, vamos fazer mais um 39 teste para tentar validar tais evidências. O modelo de Leeper (1991) apresentado a seguir nos permite validar ou não tais resultados. 5.7 –Dominância Fiscal: Evidências empíricas com base no Modelo de Leeper O modelo desenvolvido por Leeper em 1991 e depois revisitado pelo próprio autor em 2005 define as condições pelas quais as políticas monetária e fiscal podem ser classificadas como passivas e/ou ativas. Partindo de uma modelagem a la Sidrausk (1967) o autor admite que o produto, y , e o consumo do governo, g , são constantes. Assumindo g = 0 , o agente escolhe a seqüência (ct , M t , Bt ) para resolver: ∞ max E 0 ∑ β t [log(ct ) + δ log( M t / pt ], 0 < β < 1, δ > 0 , (18) t =0 sujeito a ct + M + Rt −1 Bt −1 M t + Bt + τ t = y + t −1 pt pt (19) onde M é o estoque nominal de moeda, B é a dívida nominal do governo, na qual paga uma taxa Rt de juros nominal, c é o consumo, τ é o imposto direto lump-sum (se positivo) e transferência (se negativo) e p é o nível de preços. A restrição orçamentária para esta economia, que também é a condição de equilíbrio do mercado de bens é dada por ct + g t = y (20) As condições de primeira ordem geram as relações de equilíbrio da equação de Fisher e da demanda por moeda tal que ⎡ 1 ⎤ 1 = β Et ⎢ ⎥ , Rt ⎣π t +1 ⎦ (21) 40 −1 ⎡ R − 1⎤ mt = δ c ⎢ t ⎥ , ⎣ Rt ⎦ (22) onde π t = pt / pt −1 e mt = M t / pt . A política do governo é dada pela seqüência (M t , Bt ,τ t ) . Esta seqüência deve satisfazer a identidade orçamentária do governo, onde ignorando g temse bt + mt + τ t = g + Rt −1bt −1 + mt −1 πt (23) tal que bt = Bt / pt . O autor descreve as políticas de governo com base em regras simples onde a política fiscal é dada por τ t = γ 0 + γ bt −1 + Ψt (24) onde Ψt é o choque exógeno, realizado no início de t , tal que Ψt = ρ Ψ Ψt −1 + ε Ψt (25) com ρ Ψ < 1 e Et ε Ψt +1 = 0 . A política monetária também obedece a uma regra simples para a taxa de juros a la Taylor (1993) tal que Rt = α o + α π t + θ t (26) onde θ t é um choque exógeno, realizado no início de t , tal que θ t = ρ 0θ t −1 + ε θt (27) com ρ 0 < 1 e Et ε θt +1 = 0 Leeper (2005) mostra como o equilíbrio depende dos parâmetros (α , γ ) ao resolver o modelo. Com base nas regras de política (7) e (9), mostra que este modelo não linear não pode ser resolvido analiticamente. Ele reduz o modelo a um sistema dinâmico em (π t , bt ) de forma que encontra duas raízes: 41 α β e β −1 − γ . Neste contexto, mostra que uma das raízes precisa ser maior do que 1 e a outra menor do que 1 em valor absoluto. Assim, são geradas quatro regiões: Região I: α β ≥ 1 e β −1 − γ < 1 Equilíbrio único. Nesta região choques monetários produzem previsões monetárias usuais e os choques fiscais são irrelevantes. A equivalência ricardiana se mantém. Nesse caso, a política monetária é ativa e a fiscal é passiva. Isto quer dizer que a política monetária é eficaz na determinação do nível de preços e a autoridade monetária não precisa se preocupar com a restrição orçamentária, uma vez que a autoridade fiscal é capaz de escolher um nível de tributação a cada instante do tempo de modo que a dívida seja financiável via arrecadação tributária. Leeper (2005) mostra que a inflação de equilíbrio é um fenômeno inteiramente monetário e que choques tributários não afetam a inflação ou a taxa de juros nominal11. Esta é a região ideal para uma economia implementar um regime de metas inflacionárias via controle da taxa de juros. Mais precisamente, a política monetária não possui restrições e pode agir ativamente perseguindo a estabilidade de preços, ao reagir fortemente à inflação. A 11 Neste contexto, se uma regra ótima de reação da taxa de juros for resultante da interação de uma IS fiscal e da equação de Phillips, e se a variável fiscal for significante na estimativa da 42 política fiscal obedece às restrições impostas pelo comportamento da política monetária e do setor privado e passivamente ajusta os impostos diretos para equilibrar o orçamento. Região II: α β < 1 e β −1 − γ ≥ 1 Equilíbrio único. A região II descreva a teoria fiscal do nível de preços, onde choques nos impostos geram inflação e choques monetários geram impactos não monetários. Leeper (2005) argumenta que nesta situação, um superávit fiscal exógeno corresponde à mesma hipótese que Sargent e Wallane (1981) faz sobre política fiscal quando cunharam a expressão “Unpleasant Monetarist Arithmetic”. Leeper segue argumentando que sob certas condições, choques de política hoje pode não gerar mudanças nos impostos futuros esperados e que este é um elemento essencial na teoria fiscal do nível de preços. Nesse caso tem-se uma política monetária passiva e uma política fiscal ativa. Dito de outra forma, a autoridade fiscal recusa-se a realizar um forte ajuste na tributação direta, impedindo que os choques no déficit não sejam financiados inteiramente com os futuros impostos. Agora, a autoridade monetária obedece às restrições impostas pelo comportamento da política fiscal e do setor privado e permite que o estoque monetário responda aos choques no déficit. equação IS, pode-se concluir que a economia não se encontra na Região I e que a política 43 Região III: α β < 1 e β −1 − γ < 1 Nesta região, as autoridades fiscal e monetária agem passivamente, sujeitando-se à restrição orçamentária. Sem uma restrição adicional imposta por uma autoridade que aja ativamente, existem muitos possíveis processos de expansão monetária, associados por um choque monetário inicial, que são consistentes com as condições de equilíbrio. Neste caso, pode haver infinitos pontos de equilíbrios, ou seja, o equilíbrio é indeterminado. Isto reproduz o resultado da indeterminação do nível de preços de Sargent e Wallace (1975), na qual desenvolvem algebricamente um sistema com raízes instáveis. A indeterminação surge mesmo se a regra da taxa de juros dependa da inflação, mas a dependência não é muito forte (trata-se do caso de um α pequeno). Pode-se dizer que neste caso a política monetária é ineficaz, uma vez que ela tem pouca capacidade de determinação do nível de preços. Neste caso defendemos uma coordenação entre as políticas monetária e fiscal com o objetivo da economia migrar para a Região I. Região IV: α β ≥ 1 e β −1 − γ ≥ 1 Não há equilíbrio - a menos que os choques exógenos, ε ψ t e ε θ , sejam perfeitamente correlacionados. Neste caso as t políticas monetária e fiscal são ativas. Nesta região, cada monetária não é ativa. 44 autoridade (fiscal e monetária) negligencia a restrição orçamentária tentando determinar preços. Isto produz duas raízes instáveis. Neste caso, não há um processo de expansão monetária que assegure que o consumidor irá manter (ou não irá se desfazer) os títulos da dívida pública do governo, a menos que os choques de política sejam relacionados de uma forma que viole a hipótese de choques mutuamente não correlacionados. Tais resultados geram importantes conseqüências quanto à prescrição de política econômica ótima. As regras ótimas de política monetária que dominam a literatura desde os trabalhos de Taylor até os mais recentes de Woodford estão admitindo explicita ou implicitamente que a economia trabalha na Região I. Neste contexto, utilizam-se regras ótimas onde a taxa de juros responde a variações no hiato do produto e na taxa de inflação e, ao considerar economias abertas, a taxa de juros também responde a variações na taxa de câmbio. Ainda no contexto da Região I, destaca-se que geralmente as regras monetárias ótimas são derivadas a partir da Curva IS e da Curva de Phillips. Mais recentemente, a maioria destes modelos parte de um arcabouço com fundamento microeconômico. Entretanto, independentemente da forma de derivação, a grande maioria dos modelos da literatura internacional possui algo em comum. Na regra do Banco Central para determinação da taxa de juros utilizada para manter a inflação próxima à sua meta, não há qualquer referência a variáveis fiscais. Em outras palavras, a taxa de juros não responde a variáveis fiscais, sejam tributos, déficit primário ou dívida pública. Como já 45 ressaltado, a política fiscal é passiva por tratar-se de um regime ricardiano. Neste contexto a dívida e a política fiscal não têm qualquer influencia sobre o nível de preços e, portanto, sobre a taxa de inflação. Neste contexto, não faz sentido utilizar uma IS fiscal12 e gerar uma regra de taxa de juros que responda a variáveis fiscais num ambiente de política monetária ativa e de política fiscal passiva. Por outro lado, considerando-se que uma dada economia trabalha na região II, onde predomina a TFNP, é de se questionar uma regra de política monetária ótima via controle da taxa de juros a la Taylor da forma tradicional. Talvez faça mais sentido utilizar uma regra ótima nos moldes da proposta por Morais e Andrade (2004). Eles calculam a regra ótima de política monetária supondo que a autoridade monetária segue um regime flexível de metas de inflação, no qual existe possibilidade de inclusão de uma meta para a razão dívida/Produto Interno Bruto (PIB). No modelo proposto, a dívida pública afeta diretamente o prêmio de risco e, conseqüentemente, a taxa de câmbio. Os autores incluem uma meta para a razão dívida/PIB na função de perda da autoridade monetária. Fica clara a necessidade de que as autoridades monetária e fiscal atuem de forma coordenada para os casos das regiões III e IV. Em ambos os casos a não coordenação das políticas geram políticas ineficazes. No caso da região III, embora a política fiscal seja passiva, a autoridade monetária não consegue implementar uma política eficaz com o intuito de estabilizar preços. A coordenação de políticas é necessária no sentido de que ao se constatar que a política monetária é passiva, obviamente o Banco 12 O termo IS fiscal é utilizado por Verdini (2003) por incluir na IS uma variável fiscal, no caso o superávit primário. 46 Central não é independente, uma vez que não consegue cumprir sua função básica, qual seja, impor a estabilidade de preços. O caso da região IV reflete a completa falta de coordenação entre as políticas. Ambas autoridades, monetária e fiscal, procuram ativamente determinar preços negligenciando por completo a restrição orçamentária. Tratase do prior dos mundos. Neste contexto, percebe-se a necessidade de coordenação entre as políticas e do dialogo entre as autoridades no intuito da economia migrar de preferência para a Região I. O bom senso diz que se a economia encontrar-se nas regiões II, III ou IV torna-se necessário que haja uma coordenação das políticas fiscal e monetária de forma que seja realizado um esforço para que a economia migre para a região I. Para que isso aconteça não se pode negligenciar o impacto da dívida pública sobre as variáveis reais e nominais da economia. Deve-se trabalhar com metas para redução da relação da razão divida/PIB de forma clara e transparente. A seguir apresentamos as estimativas para determinação dos coeficientes γ e α relativo às equações (24) e (26) onde o coeficiente γ representa a reação dos impostos diretos em resposta à variação da dívida pública e o coeficiente α , que é derivado de uma regra de Taylor simplificada, representa a reação da taxa de juros em resposta à variação da inflação. A determinação do coeficiente γ ocorre por meio de uma estimativa de duas equações em forma de sistema via GMM conforme tabelas 18 e 19. A determinação do coeficiente α também ocorre por meio de uma estimativa de duas equações em forma de sistema via GMM conforme tabelas 20 e 21. Essa forma de estimativa evita eventuais problemas e raiz unitária e de cointegração 47 como já mencionado na seção aspectos metodológicos. Como a regra de Taylor utilizada no modelo de Leeper é muito simplificada, nós utilizamos uma regra mais usual onde a taxa de juros responde a inflação esperada e ao hiato do produto. Os resultados apresentados na tabela 18 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 5%, exceto a constante. Nesse contexto, como a hipótese nula é rejeitada, mas há uma tendência determinística positiva, a política fiscal é fracamente sustentável, pois eventualmente o problema de insolvência surgirá. Tabela 18 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth – Andrews ( B / Y ) t = a0 + a1Trend + a 2 ( B / Y ) t −1 + a 4 * Dummy + u t Variáveis Constant Tendência (B/Y)(-1) Dummy R2 Coeficientes 0,001 0,001 0,717 0,146 0,968 Desviopadrão 0,021 <0,001 0,043 0,031 Estatística t Valor prob. 0,057 2,064 16,847 4,636 R2 ajustado 0,955 0,042 <0,001 <0,001 0,966 Nota: Instrumentos B/Y(-3,-4,-5,-6), I.D.(-3,-4,-5,-6), c O método de GMM aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema, conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 18 e 19. A especificação do modelo é testada pela estatística J associada com restrições de sobreidentificação. O valor da estatística J de 0,20 com um p-value de 0,97 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. Os resultados apresentados na tabela 19 mostram que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Para um incremento de 1% na razão divida/PIB há um incremento de 0,005% na razão impostos diretos/PIB. Esse valor representa o coeficiente γ do modelo de Leeper (1991), que mostra a reação dos impostos diretos em resposta à variação da dívida pública. 48 Tabela 19 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth – Andrews ID / Yt = a3 + a 4 * ( B / Y ) t −1 + η t Variáveis Constante (B/Y)(-1) R2 Coeficientes 0,006 0,005 0,386 Desviopadrão <0,001 <0,001 Estatística t Valor prob. 27,282 10,035 R2 ajustado <0,001 <0,001 0,373 Nota Instrumentos: B/Y(-3,-4,-5,-6), ID/Y(-3,-4,-5,-6), c Os resultados apresentados na tabela 20 mostram a estimativa de uma curva IS em que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Os sinais de todos os coeficientes estão de acordo com o esperado. Tabela 20 – Estimativa GMM Kernel: Bartlett, Bandwidth: Fixed:: y t = a1 + a 2 y t −1 + a3 rt −1 + a 4 et −1 + a5 * Dummy + η t Variáveis Constante Hiato Juro-r Câmbio-r Dummy R2 Coeficientes 0,8555 0,331 -0,236 0,111 0,274 0,505 Desviopadrão 0,096 0,077 0,031 0,028 0,036 Estatística t Valor prob. 8,947 4,312 -7,612 3,971 7,659 R2 ajustado <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,460 Nota: Instrumentos R(-2,-3,-4,-5,-6), ipca(-2,-3,-4,-5,-6), B/Y(-2,-3,-4,-5,-6), c O método de GMM aplicado conjuntamente para as duas equações em forma de sistema conduz às estatísticas apresentadas nas tabelas 20 e 21. A especificação do modelo é testada pela estatística J associada com restrições de sobreidentificação. O valor da estatística J de 0,25 com um p-value de 0,90 não indicam evidencias para rejeitar a especificação do modelo. Tabela 21 – Estimativa GMM com Kernel: Bartlett, Bandwidth – Andrews Rt = a6 + a 7 * Et (π t +1 ) + a8 * y t + a9 * Rt −1 + η t Variáveis Constante Et (π t +1 ) Hiato Selic(-1) R2 Coeficientes -0,315 0,149 0,177 0,872 0,789 Desviopadrão 0,054 0,038 0,033 0,026 Estatística t Valor prob. -5,835 3,940 5,398 34,070 R2 ajustado <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,775 Nota: Instrumentos R(-2,-3,-4,-5,-6), ipca(-2,-3,-4,-5,-6), B/Y(-2,-3,-4,-5,-6), c 49 Os resultados apresentados na tabela 21 mostram a estimativa de uma regra de Taylor em que todas as variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Os sinais de todos os coeficientes estão de acordo com o esperado. Nós assumimos que Et (π t +1 ) = π t +1 . Notem que para um incremento de 1% no valor esperado da inflação há um incremento de 0,149% na selic. Esse valor representa o coeficiente α do modelo de Leeper (1991), que mostra a reação da taxa de juros em resposta à variação da inflação. Com base nos resultados acima onde o coeficiente α = 0,149 (tabela 21) e = 0,005 (tabela 19) e considerando-se que β = 0,98 , o coeficiente γ alcançamos um estado de equilíbrio único na Região II, tal que α β < 1 e β −1 − γ ≥ 1 . Note que α β = 0,149 * 0,98 < 1 e que β −1 − γ = (1 / 0,98) − 0,005 > 1 . Utilizamos o mesmo valor de β = 0,98 estimado por Lima e Issler (2003) e seguido por Moreira, Souza e Almeida (2007). A região II descreva a TFNP ou a dominância fiscal. Leeper argumenta que sob certas condições, choques de política hoje pode não gerar mudanças nos impostos futuros esperados e que este é um elemento essencial na teoria fiscal do nível de preços. Nesse caso tem-se uma política monetária passiva e uma política fiscal ativa. Dito de outra forma, a autoridade fiscal recusa-se a realizar um forte ajuste na tributação direta, impedindo que os choques no déficit não sejam financiados inteiramente com os futuros impostos. Agora, a autoridade monetária obedece às restrições impostas pelo comportamento da política fiscal e do setor privado e permite que o estoque monetário responda aos choques no déficit. 50 6. Considerações preliminares Os resultados apresentados na subseção 5.7 mostram com base no modelo de Leeper que a economia brasileira encontra-se numa situação de dominância fiscal. Essa situação é coerente com os resultados apresentados nas subseções anteriores. Notem que todos os testes de sustentabilidade fiscal apresentados com base em Buiter e Patel (1992) mostraram que a situação fiscal brasileira no período analisado é no mínimo preocupante. Podemos sintetizar de uma forma simplista dois caminhos de transmissão da política fiscal, conforme caracterizados pelos esboços 1 e 2 apresentados a seguir. O quadro 1 mostra os efeitos das variação da dívida pública sobre o superávit primário, base monetária, taxa de juros, investimento, hiato do produto e taxa de crescimento econômico, onde (B/Y) = razão dívida/PIB; SP/Y = razão superávit primário/PIB; M = oferta de moeda, M1; R = selic; I = * Investimento; y = hiato do PIB e y é a taxa de crescimento do produto Quadro 1 - Transmissão da política fiscal via oferta de moeda ↑ ( B / Y ) ⇒↑ ( SP / Y ) ⇒↑ (Conta Única do Tesouro) ⇒↑ ( Passivo não Monetário) ⇒ * ↓ ( Base Monetária) ⇒ ↓ ( M ) ⇒↑ R ⇒ ↓ ( I ) ⇒ ↓ ( y ) e ↓ y ⇒↑ ( B / Y ) ⇒↑ ( SP / Y ) ...... círculo vicioso Os resultados apresentados na seção 5 mostram que o superávit primário reage positivamente à variação da dívida pública. Entretanto, o fato do coeficiente da razão divida/PIB ser positivo e estatisticamente significante não significa que a magnitude do coeficiente garanta a sustentabilidade fiscal. Nesse caso, conforme Leeper (1991, 2005), a autoridade fiscal recusa-se a realizar um forte ajuste na tributação direta, impedindo que os choques no déficit não sejam financiados inteiramente com os futuros impostos. 51 Já comentamos que o superávit primário do governo federal está contabilizado na conta única do tesouro nacional. A conta única por sua vez faz parte do passivo não monetário do Banco Central. Considerando-se que a variação da base monetária é dada pela diferença entre a variação dos ativos do BACEN e a variação do passivo não monetário, se há um incremento do superávit primário e, portanto, da conta única do tesouro contabilizada no passivo não monetário, então, tudo o mais constante, haverá uma redução da base monetária. Nesse contexto, sucessivos aumentos do superávit primário levam à redução da base monetária, ceteris paribus, e por conseqüência, redução dos meios de pagamentos. Esse arranjo institucional mostra que há um canal direto de transmissão da política fiscal para a política monetária. Sabendo-se que incrementos do superávit primário afetam a base monetária reduzindo-a, ceteris paribus, espera-se que haja um movimento no sentido de alta da taxa de juros. Os resultados mostram que a divida pública afeta positivamente a taxa de juros nominal, Selic. Da mesma forma, os resultados apresentados mostram que variações positivas na dívida pública levam a incrementos no superávit primário, que por sua vez levam a incrementos na taxa de juros. Admitindo que maiores taxas de juros nominais sejam acompanhadas por maiores taxas de juros reais, então é de se esperar que variações positivas de dívida pública redundem em menores níveis de investimento, de hiato do produto e do crescimento econômico. As estimativas confirmam essa relação do efeito negativo da divida pública sobre os níveis de investimento, o hiato do produto e taxa de crescimento do produto. Isso posto, menores níveis de produto, dado o estoque da dívida, redundam em uma maior 52 razão dívida/PIB. Esse processo de retroalimentação pode engendrar um circulo vicioso não desejável. O esboço 2 mostra de uma forma similar ao esboço 1 como a política fiscal é propagada a partir de variações da razão dívida/PIB, com a diferença de que a transmissão da política fiscal ocorre agora via demanda por moeda. Os resultados mostram que incrementos na razão dívida/PIB aumentam a demanda por moeda. Isso mostra que uma parcela da dívida pública é considerada pelos agentes econômicos como riqueza liquida e, portanto, resulta num regime não ricardiano. Uma maior demanda por moeda, dado a oferta de moeda, sugere uma elevação da taxa de juros. Os resultados também mostram que incrementos na razão dívida/PIB aumentam a taxa de juros. Além disso, as evidências empíricas também mostram que um incremento da taxa de juros leva a um movimento de redução do nível de investimento, do hiato produto e da taxa de crescimento econômico, conforme já descrito no quadro 2, o que também pode redundar no mesmo circulo vicioso não desejável. Quadro 2 - Transmissão da política fiscal via demanda por moeda * ↑ ( B / Y ) ⇒↑ (demanda por Moeda) ⇒↑ R ⇒ ↓ ( I ) ⇒ ↓ ( y ) e ↓ ( y ) ⇒↑ ( B / Y ) ⇒ ↑ (demanda por moeda)....... círculo vicioso 7. Considerações finais Os resultados mostram que a dívida pública tem um papel importante na determinação de variáveis como a demanda real por moeda, a razão investimento/PIB, taxa de juros nominal, hiato do produto e taxa de crescimento da economia. No período de 1995: I a 2008: III constatou-se que há uma relação positiva entre a razão dívida/PIB e a demanda por moeda normalizada pelo PIB, a razão superávit primário/PIB e a taxa de juros nominal, selic. 53 Constatamos também que há uma relação negativa entre a razão dívida/PIB e a razão investimento/PIB, o hiato do produto e a taxa de crescimento do PIB. Nesse contexto, há evidencias empíricas que não corroboram com a hipótese de equivalência Ricardiana. Além disso, mostrou-se no mesmo período que a razão superávit primário/PIB reage positiva e diretamente a incrementos na razão dívida/PIB e que a razão dívida/PIB afeta negativa e indiretamente o hiato do produto via superávit primário e positiva e indiretamente a taxa de juros nominal, também via superávit primário. Esses resultados sugerem mais uma vez que há evidencias empíricas de que a economia não obedece ao regime de equivalência Ricardiana. Por fim, as estimativas com base no modelo de Leeper mostram que a economia brasileira encontra-se numa situação de dominância fiscal, equivalente à Região II. A região II descreva a teoria fiscal do nível de preços, TFNP. Em outras palavras, pode-se inferir também que há evidências empíricas de que a política fiscal é ativa e a política monetária é passiva, o que caracteriza um regime não Ricardiano. Quando o regime é Ricardiano, implicando que a política monetária é ativa e a política fiscal é passiva, faz sentido analisar apenas os mecanismos de transmissão da política monetária. Mas no caso de um regime não ricardiano, onde a política fiscal é ativa e a política monetária é passiva, podemos e devemos analisar os mecanismos de transmissão da política fiscal. Isso posto, podemos inferir que se a dívida pública afeta positivamente a demanda por moeda, ela também deve alterar a taxa de juros. Por outro lado, quando há um incremento no superávit primário há uma redução da base monetária, tudo 54 mais constante. Redução da base monetária leva a uma redução da oferta de moeda, ceteris paribus. Também encontramos evidências empíricas de que incrementos na dívida pública geram incrementos na selic. Nesse contexto, taxas de juros mais elevadas implicam em menores níveis de investimentos e, por sua vez, menores níveis de hiato do produto e de crescimento do PIB. Esses resultados são suportados pelas evidências empíricas. Vimos também que dívida pública afeta negativamente o hiato do produto e afeta positivamente a taxa de juros via superávit primário. Tais conexões mostram como os efeitos da política fiscal são propagados ou transmitidos na economia. Nesse sentido, nosso resultados confirmam os resultados apresentados por Moreira, Souza e Almeida (2997) para o período 1995:I a 1996:II onde os autores mostram que a política fiscal é ativa e que a política monetária é passiva resultando num regime de dominância fiscal. Vale ressaltar que se considerarmos uma provável trajetória ascendente da razão dívida/PIB após a recente crise bancária/financeira (crise do subprime) que assola todo o mundo, o desequilíbrio fiscal no Brasil neste e nos próximos anos deve se acentuar, o que pode tornar o efeito da dívida pública sobre o nível de investimento e hiato do produto ainda mais crônico. Em termos de prescrição de política econômica, considerando-se que uma dada economia trabalha na região II, onde predomina a TFNP ou a dominância fiscal, não faz sentido considerar uma regra de política monetária ótima via controle da taxa de juros a la Taylor da forma tradicional. Talvez faça mais sentido utilizar uma regra ótima nos moldes da proposta por Morais e Andrade (2004). Os autores calculam a regra ótima de política monetária supondo que a autoridade monetária segue um regime flexível de metas de 55 inflação, no qual existe possibilidade de inclusão de uma meta para a razão dívida/PIB. No modelo proposto, a dívida pública afeta diretamente o prêmio de risco e, conseqüentemente, a taxa de câmbio. Os autores incluem uma meta para a razão dívida/PIB na função de perda da autoridade monetária. Os resultados aqui apresentados podem contribuir para explicar por que o Brasil é um dos países que possuem uma das mais elevadas taxa de juros do mundo. Com base nos resultados empíricos apresentados, mostramos que variações positivas da dívida pública têm impacto positivo sobre a taxa de juros. Essa é uma linha de pesquisa a ser aprimorada. Outra linha de pesquisa a ser desenvolvida a partir dos resultados aqui apresentados pode ser focada no impacto da dívida sobre a taxa de câmbio. Para isso, seria necessário trabalhar com os modelos numa economia aberta. Os modelos associados à demanda por moeda, Martins (1980) e Araújo e Martins (1999) trabalham com a economia fechada. Outro aspecto a ser considerado é o fato de que parte dos títulos da dívida pública é indexada à taxa de juros, índice de preços e taxa de câmbio. Nesse contexto, os resultados aqui apresentados estão abertos a outras linhas de investigações, indicado que, certamente, o debate continua. Anexo Tabela A. 1 – Teste de Raiz Unitária Variáveis ADF – AIC Modificado Valor Estatístic Valor crítico 5% at Prob, L(m) -2,927 -1,701 0,424 L(R) -2,919 -2,506 0,120 L(b) -3,502 -2,145 0,509 L(I/Y-1) -2,924 -0,723 0,831 L(B/Y-1) -1,949 -0,916 0,314 L(SP/Y) -2,919 -0,929 0,771 ADF – SIC Modificado Valor Estatístic Valor crítico 5% at Prob, -2,921 -2,196 0,210 -2,919 -2,506 0,120 -3,495 -2,518 0,319 -2,924 -0,723 0,831 -1,947 -0,506 0,821 -2,919 -0,929 0,771 Nota: L = Log. 56 Tabela A. 2 – Teste de Cointegração de Johansen: L(I/Y-1) = f [ L(B/Y-1)] Hipótese: N° E.C Autovalor Estatística Valor crítico Valor (s) traço 5% prob. Nenhum* 0,333 29,388 20,262 0,002 Pelo menos 1 0,157 8,726 9,164 0.060 Nota: Teste do traço indica 1 equação de cointegração (E.C.) ao níbel de 5%. ( * ) = Indica rejeição da hipótese nula ao nível de 5%. Tabela A. 3 – Teste de Cointegração de Johansen: L(I/Y-1) = f [ L(B/Y-1)] Hipótese: N° E.C (s) Autovalor Estatística Valor crítico Valor prob. Max-Autovalor 5% Nenhum* 0,333 20,662 15,892 0,008 Pelo menos 1 0,157 8,726 9,164 0.060 Nota: Teste do max-autovalor indica 1 equação de cointegração (E.C.) ao níbel de 5%. ( * ) = Indica rejeição da hipótese nula ao nível de 5%. Tabela A. 4 – Teste de Cointegração de Johansen: L(M/Y) = f [L(R), L(B/Y)] Hipótese: N° E.C Autovalor Estatística Valor crítico Valor (s) traço 5% prob. Nenhum* 0,520 62,742 35,193 <0,001 Pelo menos 1* 0,262 23,825 20,262 0.016 Pelo menos 2 0,136 7,744 9,164 0.092 Nota: Teste do traço indica 2 equações de cointegração (E.C.) ao nível de 5%. ( * ) = Indica rejeição da hipótese nula ao nível de 5%. Tabela A.5 – Teste de Cointegração de Johansen: L(M/Y) = f [L(R), L(B/Y)] Hipótese: N° E.C (s) Autovalor Estatística Valor crítico Valor prob. Max-Autovalor 5% Nenhum* 0,520 38,917 22,299 <0,001 Pelo menos 1* 0,262 16,081 15,892 0.047 Pelo menos 2 0,136 7,744 9,164 0.092 Nota: Teste do max-autovalor indica 2 equações de cointegração (E.C.) ao nível de 5%. ( * ) = Indica rejeição da hipótese nula ao nível de 5%. Tabela A.6 – Teste de Cointegração de Johansen: L(SP/Y) = f [L(B/Y)] Hipótese: N° E.C Autovalor Estatística Valor crítico Valor (s) traço 5% prob. Nenhum* 0,532 47,908 20,262 <0,001 Pelo menos 1 0,150 8,434 9,164 0.070 Nota: Teste do traço indica 1 equação de cointegração (E.C.) ao nível de 5%. ( * ) = Indica rejeição da hipótese nula ao nível de 5%. Tabela A.7 – Teste de Cointegração de Johansen: L(SP/Y) = f [L(B/Y)] Hipótese: N° E.C (s) Autovalor Estatística Valor crítico Valor prob. Max-Autovalor 5% Nenhum* 0,532 39,474 15,892 <0,001 Pelo menos 1 0,150 8,435 9,164 0.070 Nota: Teste do max-autovalor indica 1 equação de cointegração (E.C.) ao nível de 5%. ( * ) = Indica rejeição da hipótese nula ao nível de 5%. 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ALMEIDA, CHARLES L., GERALDO DA S. E SOUZA E TITO BELCHIOR S. MOREIRA. 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