Estratégia empresarial e desenvolvimento econômico: o caso da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Autoria: Marta Zorzal e Silva Resumo A forma como a CVRD gerou desenvolvimento e transformou as regiões de sua área de influência direta, ao longo de seus quase 55 anos de existência como estatal, é o tema desse artigo. Tendo por objetivo conhecer os fatores políticos e institucionais que estiveram na raiz do sucesso da Vale, examina-se as principais estratégias da empresa visando a vencer os desafios que fizeram parte de sua história. A análise revelou a presença de cinco etapas distintas na escalada de crescimento da empresa, as quais refletem mudanças qualitativas de patamar tanto em termos tecnológicos como administrativos e empresariais. Tais mudanças têm como fulcro um amplo inter-relacionamento constituído pela estatal com empresas privadas, cuja sinergia produziu um profundo “entrelaçamento” com o setor industrial e de serviços tanto no mercado nacional como no internacional. Esta estratégia a transformou desde muito cedo numa empresa com características de global player o que permitiu que ela crescesse e se multiplicasse por caminhos diversos. Palavras chave: Estado desenvolvimentista; regulação; estratégia empresarial, empresas estatais. 1 INTRODUÇÃO A ação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) na trajetória de crescimento da economia brasileira, pós guerra, é o tema deste artigo. Focalizo sobretudo o impacto causado pela atuação da Companhia no desenvolvimento socioeconômico das regiões de sua área de influência direta – Espírito Santo e Minas Gerais, no Sudeste, e Amazonas, Pará e Maranhão, no Norte – ao longo de seus quase 55 anos de existência como estatal. Conhecer os fatores políticos e institucionais que estiveram na raiz do sucesso da CVRD em gerar crescimento e mudança econômica, assim como, as suas principais estratégias objetivando vencer os gigantescos desafios que fizeram parte de sua história foi um dos objetivos centrais da pesquisa que realizei sobre a Companhia. Tal investigação esteve vinculada ao tema da crise e do processo de reforma do Estado desenvolvimentista brasileiro, cuja centralidade no debate contemporâneo colocou em evidência o tema da mudança na natureza de suas atribuições. O estudo do processo de reforma do Estado foi abordado a partir da perspectiva dos processos de desregulamentação e de privatização. Para tanto, foi escolhido o caso da CVRD como referente empírico. O resultado da pesquisa constituiu-se em tese de doutorado em Ciência Política defendida no departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em janeiro de 2001. Uma das razões que contribuiu para que a privatização da Vale se constituísse em objeto de estudo com muitas veredas por explorar, dentro do recorte analítico que estabeleci, esteve na relativa ausência de estudos sobre a empresa. A trajetória de crescimento e a forma como se efetivaram as relações políticas e institucionais da CVRD com o Estado, na fase desenvolvimentista, ainda não haviam sido exploradas. Assim, apesar de o tema da privatização ter se constituído no foco mais geral da pesquisa, um dos ângulos da análise 1 esteve voltado para a forma de regulação das relações entre empresa estatal e Estado; e para o caráter da ação estratégica das estatais no contexto do desenvolvimento capitalista retardatário, característico do Brasil. Essas análises visaram a destacar o padrão de relações e os mecanismos de regulação da relação estatal/Estado e estatal/mercado e suas modificações ao longo do tempo, antes da crise e reforma do Estado ocorrida a partir dos anos 80. O objetivo deste artigo é apresentar de forma sucinta as reflexões e analises realizadas sobre estas duas vertentes analíticas.. Deste ângulo, o artigo examina o papel estratégico atribuído à estatal no cenário do desenvolvimento econômico e a forma como a empresa deu vida a este papel, gerando crescimento e transformação econômica em sua área de influência direta. Mostra que o know how e a expertise técnica desenvolvidas e acumuladas pela empresa e, sobretudo, os vínculos e conexões estabelecidos com o mercado internacional, nesse percurso, permitiram à CVRD, tanto aproveitar novas e ricas janelas de oportunidades, como navegar olimpicamente em águas tranqüilas, apesar das diversas crises vividas pela economia brasileira. Focalizando os nexos e conexões constituídos pela estatal, tanto na direção do mercado como no âmbito do Estado, no contexto da industrialização por substituição de importações, ocorrida no pós guerra, o artigo está organizado em quatro seções, além desta introdução. A segunda apresenta em linhas gerais os traços característicos do Estado desenvolvimentista constituído no Brasil. A terceira mostra a ação estratégica da CVRD neste contexto, e a quarta traz as principais conclusões. 2 ESTADO DESENVOLVIMENTISTA A institucionalização do padrão de relações Estado/mercado na América Latina conformou em alguns países, em especial, no Brasil e no México a predominância de determinada modalidade de intervenção estatal que tem sido apreendida pela idéia de Estado desenvolvimentista. A teorização em torno da noção de Estado desenvolvimentista surgiu muito recentemente no âmbito da teoria política comparada ligada aos estudos que visam explicar o desenvolvimento industrial acelerado do Japão e demais países do Leste Asiático, no pós-guerra, em confronto com países ocidentais desenvolvidos, como uma teoria de médio alcance. Essa literatura, geralmente situa a obra de Chalmers Johnson “MITI and the Japanese Miracle: The Growth of Industrial Policy, 1925-1975”, publicada em 1982, como sendo pioneira no revigoramento das teses desenvolvimentistas. Embora os termos desenvolvimentista, nacional-desenvolvimentismo e Estado desenvolvimentista tenham um amplo lastro no debate das ciências sociais e econômicas sobre o problema do desenvolvimento da América Latina, não se chegou a produzir uma coerente sistematização teórica em torno da idéia de Estado desenvolvimentista neste debate. Entre nós predominou muito mais um discurso desenvolvimentista preconizando a necessidade da industrialização e da intervenção do Estado para promovê-la, do que uma formulação das características essenciais deste tipo de Estado e de suas relações com a economia e com a política. Sem entrar em considerações sobre os termos deste debate e seu efeitos sobre os traços característicos dos tipos de estados constituídos tanto na América Latina como no Leste Asiático, é importante destacar que a idéia de Estado Desenvolvimentista tem suas raízes vinculadas a realidades históricas profundamente distintas, tanto no tempo como no espaço: a América Latina, pós crise dos anos 30, e o Leste Asiático no contexto da bipolaridade LesteOeste. 2 Na verdade, o que essas formulações tem em comum é uma construção feita a partir da observação de realidades empíricas distintas e nelas as práticas constituídas visando adequar meios para obter fins racionalmente defensáveis, tais como a construção do Estado e da autonomia nacional, calcadas numa estratégia de desenvolvimento econômico. Resumidamente, a idéia de Estado desenvolvimentista especifica uma modalidade de relação entre Estado e Mercado característica do desenvolvimento capitalista tardio, em que o Estado, via intervenção no mercado, assume a tarefa de instaurar a ordem industrial moderna. Ou, segundo a formulação oriunda dos países do Leste Asiático, são considerados desenvolvimentistas, àqueles Estados capitalistas que desempenharam um papel estratégico no controle das forças de mercado internas e internacionais e na sua utilização em favor de um interesse econômico nacional (White & Wade, apud Evans, 1993, p. 117). Como Johnson (1982) sublinha, a principal prioridade da ação estatal, atualizada permanentemente, é o desenvolvimento econômico definido em termos de crescimento, produtividade e competitividade mais do que em termos de bem estar. Tais metas são construídas a partir de referências econômicas externas que provêem modelos à administração pública. A legitimidade para esta modalidade de ação estatal foi construída a partir das teorias do desenvolvimento. Estas produzidas, sobretudo no pós-guerra, sistematizaram a idéia de que os aparatos de Estado podiam ser usados para promover o desenvolvimento capitalista nos países periféricos. O principal encargo do Estado era acelerar a industrialização, mas também se esperava que desempenhasse um papel na modernização da agricultura e no fornecimento de infra-estrutura necessária à urbanização (Evans, 1993, p. 107). Embora as trajetórias de cada um dos países que seguiram essa modalidade contenham especificidades que os singularizam frente aos demais, pode-se afirmar que a dimensão econômica dos processos sociais, expressa na premissa do desenvolvimento industrial, assumiu status predominante na capacidade estratégica dos Estados e dos governos para administrar o exercício político – de conflito e de cooperação – no interior das diversas sociedades e nas sua relações com o sistema internacional (Contreras, 1994, p. 11). Em que pese o fato do período pós-guerra ter sido marcado, em termos do desenvolvimento capitalista, em geral, pela hegemonia do consenso keynesiano, o que produziu, além de muitas variantes empíricas, quer nos países desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento, uma ativa e crescente intervenção do Estado na economia, tal quadro ideológico e intelectual reforçou os fundamentos intervencionistas da estratégia desenvolvimentista tanto nos países da América Latina como nos do Leste Asiático. Assim, apesar das diferenças entre estes países (Asiáticos e Latinos), o traço comum que permite considerá-los enquanto pertencentes a uma mesma categoria analítica está no caráter intervencionista da relação Estado/mercado. Todavia, no contexto da superposição das crises externas e internas, dos anos 70 e 80, tais fundamentos ideológicos foram colocados em xeque, assim como, a modalidade de intervenção estatal que viabilizou a expansão do capitalismo no Brasil. Nesse movimento, a idéia de Estado desenvolvimentista, fundada no suposto papel estratégico do Estado como indutor da transformação socioeconômica, foi considerada anacrônica. Ao mesmo tempo em que os termos intervenção e regulação assumiram conotações distintas no debate, na medida em que trazem por substrato sentidos que os remetem a teorizações que postulam papéis diametralmente opostos para a ação estatal. A noção de regulação assumiu conotação positiva, associada à idéia de Reforma do Estado, enquanto que intervenção, associada à idéia de Welfare State e de Estado Desenvolvimentista, passou a expressar o inverso. Enfim, sintetizando e delimitando, é para a modalidade de intervenção do Estado Desenvolvimentista constituído no Brasil que as atenções desta artigo estão voltadas. O tema central aglutinador é o processo através do qual foi forjado um marco institucional e uma 3 dinâmica reguladora das relações Estado/mercado, e nesse âmbito as características das relações e conexões constituídas entre empresa estatal, Estado e mercado no Brasil. Meu principal argumento é o de que em países como os da América Latina e, sobretudo no Brasil, o padrão de regulação das relações entre estes agentes, se visto da ótica do tipo clássico de Estado capitalista, tal como o originário no mundo anglo-saxão, era muito precário, ou simplesmente não existia. Com isto quero dizer que nesta esfera de atividades e relações predominava uma dinâmica semelhante àquela verificada nos Estados desenvolvimentistas constituídos no Leste Asiático, porém com as particularidades próprias do caso brasileiro. Isto é, do ponto de vista da institucionalização do sistema político se produziu, no Brasil, um híbrido institucional (Santos, 1993). Tal formação híbrida resultou, de um lado, da seqüência em que a ordem industrial e a sociedade de massa foram instauradas e, de outro, do papel assumido pela política social neste processo. Como conseqüência, pelo menos quatro padrões institucionais de relações estruturam os laços entre sociedade e Estado. São eles: o clientelismo, o corporativismo, o insulamento burocrático e o universalismo de procedimentos (Nunes, 1997). Além disso, do ponto de vista da dimensão legisladora e regulatória do Estado a interação entre essas várias dimensões institucionais produziu formas distintas de incidência dos mecanismos reguladores nas diversas esferas de relações entre sociedade e Estado. Sobre este aspecto há um relativo consenso na literatura no sentido de que determinadas esferas são super reguladas (ex. Estado/mercado de trabalho), enquanto que outras são sub reguladas (ex. Estado/empresas públicas). Tais particularidades têm conduzido os comparativistas a agregar novos adjetivos ao termo Estado para descrever o tipo constituído no Brasil, tais como: “Estado desenvolvimentista intermediário” (Evans, 1993, 1995), Estado desarrollista (Schneider, 1999), entre outras, para dizer que não se trata de um caso tipo ideal no sentido weberiano do termo. Como mostrarei, na conclusão, a análise a partir desta perspectiva revelou traços importantes que marcaram a trajetória do Estado brasileiro nas suas relações com a economia e com a política. O foco sobre o caso da Companhia Vale do Rio Doce, cujo percurso histórico vincula-se à trajetória da era desenvolvimentista ajudou a lançou luz sobre as conexões e teias de relações constituídas entre o Estado, a estatal e o mercado ao longo do período. A descrição, a seguir, das principais etapas de crescimento da empresa centrada nas dimensões estratégicas das mudanças empreendidas face aos desafios enfrentados, seja no âmbito político institucional, seja no mercado em geral, tem a intenção de mostrar, em grandes linhas, a forma como a empresa lidou com estes aspectos. 3 A AÇÃO ESTRATÉGICA DESENVOLVIMENTISTA DA CVRD COMO CONTRAFACE DO ESTADO Não cabe explorar aqui os antecedentes históricos e toda a batalha política sobre a questão mineral e sua vinculação com a emergência do Estado desenvolvimentista no Brasil. Apenas registrar que, no limiar dos anos 40, tais questões conduziram à decisão política no sentido de desvincular o problema da instalação da siderurgia da questão da exploração do minério de ferro através da criação de duas organizações estatais distintas: a CSN e a CVRD. Esses conflitos haviam se estendido durante toda primeira metade do século XX e, na conjuntura da Segunda Guerra, foram equacionadas via acordos de guerra entre Brasil, Estados Unidos e Inglaterra, conhecidos como Acordos de Washington, assinados em 1942. Estes, entre outras determinações, definiram as bases para a organização de uma Companhia para a mineração e exportação do minério de ferro brasileiro. 4 Com estes acordos, o Presidente Getúlio Vargas, por meio do Decreto-Lei nº. 4.352, de 1º. de junho de 1942, definiu as bases para a organização e estruturação da Companhia Vale do Rio Doce. Como conseqüência, as Companhias Brasileiras de Mineração e Siderurgia e a Itabira de Mineração S/A, naquele momento pertencentes ao grupo de Percival Farquhar, e a Estrada de Ferro Vitória a Minas1 foram encampadas, os acionistas indenizados pelo governo, e os contratos em vigor rescindidos. Os bens pertencentes a estas empresas foram incorporados ao patrimônio da União e passaram a ser administrados e gerenciados pela Companhia recém criada. Constituída sob os imperativos da guerra, a CVRD nasceu institucionalmente vinculada as nações que respaldaram sua criação. Vínculos estes impressos no arranjo institucional que estabeleceu as bases organizacionais da empresa, na medida em que foi definida uma estrutura gerencial binacional, em que brasileiros e norte-americanos deveriam dividir entre si as atividades de direção e controle da empresa. Como resultado uma série de dificuldades e restrições nasceram junto com a empresa. Além disso, o fim da guerra, pouco tempo depois, viria agravar ainda mais as suas possibilidades de alavancagem operacional. Resumidamente, a primeira década de vida da Vale foi marcada por vulnerabilidades e restrições diversas ao empreendimento2. Tais fatores, a conduziriam, ao final dos anos 40, a uma situação pré falimentar e de graves limites, na medida em que muito pouco havia se avançado em termos da construção de sua infra-estrutura operacional. Situação esta, de dificuldades diversas que em nada poderiam prenunciar os desdobramentos virtuosos que a empresa passaria a espelhar nas décadas subsequentes. Os anos 50, no entanto, marcam uma fase de inflexão e de virada definitiva na história da empresa. Primeiro, a situação gerencial seria resolvida via redefinição dos seus estatutos3. Segundo, a conjuntura favorável no mercado transoceânico de minério de ferro, propiciada pela guerra da Coréia, ao lado de uma arrojada estratégia gerencial no sentido de consolidá-la como grande estatal capaz de gerar divisas para a nação, mudaria definitivamente o perfil da empresa. Esta estratégia conduziria a CVRD a realizar maciços investimentos integrados em infra-estrutura operacional – reconstrução da ferrovia, do porto de Vitória e aparelhamento da minas – e administravo-gerencial cuja resultante, ao mesmo tempo em que gerou as condições para seu crescimento transformaria, no longo prazo, radicalmente o perfil socioeconômico dos municípios e, em alguns casos até de unidades estaduais4, de sua área de influência. Os anos 60, caracterizam a etapa de integração vertical e de implantação da logística de transporte de carga de longa distância. Respaldada pelo crescimento e autonomia gerencial e financeira conquistada na fase anterior, a empresa realizou um intenso movimento de integração vertical, dominando todos os elos de sua cadeia produtiva – desde a produção e transporte do minério, passando pela venda até a entrega do produto para o consumidor final – sem intermediários. Além disto, realizaria, no limiar dos anos 60, os primeiros contratos de longo prazo com as empresas japoneses de siderurgia. Por meio destes foram constituídos, no dizer de Eliezer Batista, uma verdadeira ponte entre o Brasil e Japão. Viabilizou, com esta estratégia, a modernização de toda sua infra-estrutura operacional de transporte, ao mesmo tempo em que se tornou pioneira em termos mundiais na área de logística de transporte de longa distância, revolucionando os padrões da época. Tal logística fundou-se na construção de navios para cargas combinadas (óleo/minério) de grande capacidade5, e na construção de portos simétricos em condições operacionais equivalentes para receber os referidos navios tanto no Brasil como no Japão. Como resultante foi construído, no Brasil, o Porto do Tubarão, em Vitória-ES, e constituída a subsidiária DOCENAVE para transportar o minério de ferro da empresa. 5 Importante destacar que desta conexão com o Japão, construída numa conjuntura crítica de decolagem do processo reestruração produtiva da indústria do aço, cuja consolidação nas décadas subsequentes provocaria desconcentração na geografia mundial de produção do aço, a CVRD acabaria inserida no fulcro deste processo. Como resultante, a empresa daria volta por cima na situação de crise que se desenhava no mercado ferrífero no limiar dos anos 60, afirmando sua posição de líder no mercado transoceânico de minério de ferro. Ao mesmo tempo, a engenharia da logística de transportes, definida para solucionar problemas mútuos, porém distintos dos dois países, foi a grande invenção que revolucionou o transporte marítimo, a indústria naval e o sistema portuário então existente. Na seqüência, viria a etapa de diversificação e conglomeração da empresa que, ao lado da abertura de novas janelas de oportunidades no norte do país, especificou os rumos estratégicos da CVRD nos anos 70 e 80. Tendo já assegurado sua posição de líder no mercado mundial de ferro e, desfrutando, no plano interno, de ampla autonomia gerencial e financeira, ela moveuse, desde o final da década de 60, no sentido da diversificação e conglomeração, via constituição de diversas empresas coligadas e associadas. Posteriormente, em meados dos 70, ampliou seu raio de atuação entrando nas áreas de minerais não ferrosos e de madeira e celulose. A realização deste percurso se fez basicamente via constituição de joint-ventures, como resultante, a empresa passou a funcionar como holding, a partir de então. A ampliação do seu raio de ação teve como importante vetor o ingresso da Companhia na região Amazônica, em meados dos anos 60, via grandes investimentos em pesquisa e prospecção mineral, realizados através da subsidiária DOCEGEO. Com esta estratégia abriu novas e ricas janelas de oportunidades as quais se materializariam nas décadas seguintes via implementação de dois megas projetos de investimentos. O primeiro, executado nos anos 70, por determinação do Governo Médice, consistiu na organização e viabilização de um amplo consórcio multinacional para implantação do complexo minero-industrial para exploração de bauxita e produção de alumina/alumínio na Amazônia. Com a execução deste projeto a CVRD consolidaria sua atuação tanto na área dos não ferrosos como na região amazônica, ao mesmo tempo em que pavimentaria seu caminho para constituição do Sistema Norte de exploração mineral. Este se efetivaria a partir da implantação do complexo mina-ferroviaporto para mineração e exportação da produção oriunda das ricas jazidas de minério de ferro, manganês, ouro e outros metais. Conhecido como projeto Ferro Carajás foi implantado, no início do anos 80, apesar da conjuntura de crises que marcou aqueles anos, consumando, assim, o segundo mega projeto na Amazônia. Cumpre destacar que a implantação destes projetos se efetivou em moldes similares aqueles vigentes no Sistema Sul, cuja dinâmica mais geral estrutura-se via sistemas integrados de produção, articulados pela logística de transportes da empresa. O início dos 90 marcam a fase de reformulação radical das estruturas de gerência, que passam a funcionar como áreas de negócios e, também, o período de preparação da empresa para entrar na agenda da política de privatizações. Como resultado, ao longo de seus quase 55 anos de existência, enquanto estatal, a empresa constituiu um amplo leque de atividades que vão desde o setor agrícola, passando pela indústria tradicional e de ponta, setores de infra-estrutura e de serviços, até a agenda financeira. Nessa trajetória, a empresa transformou-se num grande conglomerado, constituído por 52 empresas, cuja composição se organiza através de quatro tipos de empreendimentos: a) operações próprias, b) empresas controladas, c) empresas coligadas, e d) participações estratégicas. Estes empreendimentos abrangem sete segmentos econômicos incluindo operações produtivas e de serviços, os quais no início dos anos noventa foram organizados em 7 áreas de negócios. São elas: 6 ÁREAS DE NEGÓCIO 4 Nº. EMPRESAS POR ÁREA 01 Minério de Ferro, Pelotas e Manganês 9 empresas 02 Transportes e Operações Portuárias 10 empresas 03 Metalurgia e Siderurgia 9 empresas 04 Bauxita, Alumina e Alumínio 6 empresas 05 Pesquisa Mineral e Minerais Não Ferrosos 7 empresas 06 Madeira, Celulose e Papel 5 empresas 07 Escritórios Comerciais 6 empresas TOTAL 52 empresas CONCLUSÕES A partir dos anos 30, sob a direção de Getúlio Vargas, com forte apoio dos militares, a face institucional do Estado brasileiro foi modificada via criação de novos órgãos, mudanças qualitativas nos gastos do governo e na relação Estado/Mercado. A partir de então iniciou-se o processo de construção da estrutura institucional que caracterizou o Estado desenvolvimentista brasileiro. No âmbito da reforma do Estado implementada foram criados novos ministérios, especialmente os ligados a regulação do mercado de trabalho e a promoção do desenvolvimento industrial, assim como, foram criados diversos conselhos, autarquias e empresas estatais visando a abarcar a expansão da agenda de demandas que a industrialização tardia passava a impor. Ao mesmo tempo, uma nova engenharia fiscal e financeira foi gestada para dar conta do aumento dos gastos e investimentos que cresceram na esteira deste processo. O novo modelo fiscal criado consistiu na fórmula: Fundo Fiscal + Receita Vinculada + Entidade Autônoma (Prado, 1994). A forma como se equacionou o problema da mudança institucional naquela conjuntura de crises e de mudanças econômicas acabou gerando um Estado que incorporou a dualidade presente na persistente tensão entre permanência e mudança, ressaltada anteriormente. Esta caracterizou a trajetória desenvolvimentista brasileira, entre os anos de 1940 a 80, considerados de pleno funcionamento deste modelo. O preço da transição sem rupturas, da perspectiva da construção dos elos e conexões entre Estado e sociedade, como já foi demostrado pela literatura pertinente6, foi a produção de uma institucionalidade dual. Os pares destas dualidade podem ser visualizados, seja na edificação do sistema de regulação e controle; seja na produção de um aparato organizacional dicotômico, resumido na fórmula: administração direta, de um lado, e administração indireta de outro; seja na forma de incorporação política das elites e das massas; seja no redesenho do pacto federativo da nação. Do ponto de vista da constituição dos aparatos de intervenção e de regulação da relação Estado/mercado, tal estratégia conduziu a formação de bolsões de eficiência no interior da burocracia estatal. Assim, ao invés de uma profunda reforma visando a dotar a estrutura institucional do Estado, em construção, de uma efetiva autonomia assentada na sociedade, se realizou reformas parciais que combinou elementos de conservação e de mudança. A dualidade produzida na dinâmica de funcionamento do Estado, constituiu o traço singular que define o caráter intermediário do caso brasileiro, de acordo com Evans (1993, 1995). 7 A análise de como foram construídas as teias de relações entre o setor produtivo estatal e o mercado, e neste âmbito a forma como foram amalgamadas as relações simbióticas entre Estado e mercado, à luz do caso da CVRD, evidenciou características institucionais que moldaram tanto a ação intervencionista direta como a regulação mais geral dessa relação, no período de vigência da estratégia desenvolvimentista. Foi possível demonstrar, nos termos descritos por Evans (1995), o papel de “bolsão de eficiência” exercido pela Vale ao longo dessa trajetória. Os impactos sinérgicos que promoveu crescimento e expansão econômica nos estados da federação sob sua área de influência direta, tanto no Sistema Sul como no Sistema Norte, atestam o caráter de agência de desenvolvimento exercido pela empresa neste período. Atestam também a hipótese de que é nas características do Estado Desenvolvimentista de tipo intermediário constituído no Brasil, e na natureza dos vínculos institucionais estabelecidos entre este tipo de Estado e a CVRD que se encontram as razões que explicam o fato de a empresa ter se tornado um bolsão de eficiência no contexto da expansão capitalista brasileira. Ademais, é somente considerando a natureza dual da estrutura institucional do Estado que se tornam inteligíveis as ações estratégicas do Estado via empresas estatais, assim como, a forma como se processou a regulação dessa relação. Também nela reside os nexos que explicam a forma como foram equacionados os conflitos resultantes das tensões entre as diferentes frações do capital – nacional, multinacional e estatal –, ao longo desta trajetória. Como resultante, se produziu uma institucionalidade que exacerbou a tendência à crescente autonomização das empresas estatais. Tal tendência, no caso da CVRD, se reforçou duplamente. Primeiro, por suas atividades estarem ligadas ao mercado externo, o que a obrigou a submissão às regras deste mercado. Competência, competitividade e boa dose de astúcia eram condições sine qua non para a empresa sobreviver e sobrepujar concorrentes melhor posicionados quando de seu ingresso em cena. Segundo, por atuar na extração e exportação de minério de ferro. De um lado, esta matéria prima foi perdendo importância estratégica para o desenvolvimento industrial e, de outro, se tornou super abundante no contexto mundial, em razão de descobertas de ferro na Austrália e África do Sul, nos anos 60. Fatos estes que obrigaram a empresa a realizar investimentos maciços em logística de transportes e em desenvolvimento tecnológico, tanto para encurtar as distâncias dos mercados para torna-se competitiva, como para tornar seu produto básico – minério de ferro – diversificado, para atender as novas demandas de reestruturação produtiva que se processava na indústria do aço. Ao lado destes fatores emanados do jogo das forças do mercado estão aqueles resultantes das determinações e regulações do Estado brasileiro. Estes últimos expressos em termos de diretrizes e do papel reservado à empresa no contexto da estratégia desenvolvimentista. Na conjuntura da industrialização retardatária e simultânea afirmação do Estado nacional brasileiro, a criação da CSN (1941) e da CVRD (1942), funcionou como importante ícone no advento do novo modelo de Estado que emergia, assim como, na afirmação do discurso nacional-desenvolvimentista como guia e elemento de legitimação da estratégia intervencionista do Estado. O novo formato de ação do Estado, via intervenção direta, no imediato pós guerra, quando os temas nacionalistas estavam mais do que exacerbados, acabou por conformar uma área de atividades e relações geridas pelo Estado; através da constituição de um bloco de empresas estatais – CSN, CVRD e PETROBRAS – capaz de contra-arrestar a cobiça dos interesses externos sobre os recursos minerais brasileiros. Como conseqüência, tais “condições ambientais” gerais, nos termos definidos por Michael Loriaux (1999), deu aos primeiros dirigentes da empresa a energia vital que os motivou a lutar pela afirmação da empresa enquanto estatal, num primeiro momento, assim como, amalgamou uma forte coesão interna e um espírito de 8 corpo, traduzido em força e solidariedade interna, movidas para superar os mais árduos obstáculos, nas décadas subsequentes. Esta energia e coesão interna, permanentemente reafirmada, pelo menos até os anos oitenta, conduziu a empresa a auto afirmar-se, via construção de uma forte auto-regulação interna7. Com isso, ela obteve condições para consolidar-se enquanto grande empresa exportadora, num contexto adverso, principalmente, em termos das distâncias dos principais mercados consumidores de seus produtos e de reestruturação da indústria siderúrgica ocorrida a partir dos anos 60. Se, além disso, se levar em conta que, no período dos anos 40 a 70, o desenvolvimentismo se constituía numa ideologia que conferia a industrialização um alto grau de prioridade, mais do que a qualquer outra meta societal, e atribuía ao Estado a tarefa de promovê-la (Schneider, 1999), tem-se a exata dimensão do que representava o sucesso daqueles empreendimentos estatais pioneiros, seja do ponto de vista microempresarial seja da perspectiva da estratégia de desenvolvimento do Estado-nação. Deste ângulo, tornam-se claras as tarefas específicas que o Estado desenvolvimentista emergente conferiu à Companhia Vale do Rio Doce desde o seu nascedouro, qual seja, ... a de gerar divisas e, assim, ser um instrumento de desenvolvimento do país (Eliezer Batista, 1985). Assim, se da confluência das restrições e possibilidades, externas e internas, emergiu o imperativo que moveu a ação do Estado na provisão de bens e serviços, este se materializou via ação empresarial estatal. Ao mesmo tempo em que, neste diapasão, foram sendo constantemente ampliado e repactuado os graus de autonomia financeira, gerencial e sobretudo estratégica das estatais. Esta última, no sentido da formulação de suas próprias diretrizes empresariais de crescimento. A CVRD, ao cumprir sua tarefa na construção da modernidade industrial brasileira, agiu buscando eficácia, rentabilidade e crescimento constante. Dessa forma conquistou patamares crescentes de autonomia. As análises efetuadas atestam sobremaneira a dimensão de sua autonomia estratégica, o que garantiu a linha de continuidade de sua expansão empresarial em consonância com os rumos das transformações mais gerais do sistema capitalista, sobretudo, no âmbito das mudanças tecnológicas. Revelam, por outro lado, a contraface da ação empresarial do Estado via empresas estatais, permitindo decifrar os nexos e as teias de relações constitutivas da estratégia desenvolvimentista que conduziu os rumos da ação interventora do Estado. Tal estratégia, na verdade, estruturou a dinâmica relacional empresa estatal/governo, cujo amalgama permitiu sobrepujar a transitoriedade dos governos, vistos como coalizões de forças políticas conjunturais circunscritas a um dado período governamental. Esses nexos, radicam-se em duas dimensões básicas do Estado desenvolvimentista. Primeiro, na existência de uma certa “ambição moral para o desenvolvimento”, no sentido que Loriaux (1999) dá a esta expressão neste tipo de relação Estado/sociedade. Em essência, significa a presença de uma incorporação normativa, para usar o poder interventor do Estado para guiar o investimento de forma a promover uma certa visão compartilhada em termos de rumos da economia nacional8. Essa visão esteve calcada no discurso desenvolvimentista, atribuindo à industrialização o papel de carro chefe à conquista de padrões de crescimento e consumo idêntico àqueles observados nas economias avançadas. Como tal se constituiu no mote mais geral que moveu tanto a intelligentsia econômica e militar brasileira, como também, o empresariado e as demais classes sociais, especialmente, as classes médias, neste rumo. Produziu, assim, o substrato que deu sentido e continuidade a essa estratégia. Se no plano das percepções, o desenvolvimentismo sinalizou os rumos, no plano tático, a garantia de continuidade da ação esteve, em grande medida, a cargo das estatais, enquanto 9 estruturas estáveis, cuja permanência no tempo as diferenciam da provisoriedade dos governos. Embora, empresa estatal e governo caracterize duas esferas de relações distintas que demarcam o caráter da estrutura institucional dual do Estado brasileiro, elas se constituem enquanto faces da mesma moeda. É exatamente nessa estrutura que reside a chave para compreender a lógica da relação empresa estatal/Estado, no Brasil. O aparato constituído, do ponto de vista de sua unidade, é uma entidade dual, ao mesmo tempo: forte e fraco, eficaz e ineficaz, ágil e lento, enfim ..., polaridades que tem sido ressaltadas pela literatura, e que se poderia acrescentar outras. Mas, o que importa reter é que, nessa constituição dual, mediando entre duas áreas de atividades e relações distintas, está o nexo que explica sua lógica e seus mecanismos. Portanto, o nexo que explica, de um lado, sua força e sucesso, onde as estatais do setor produtivo sobressaíram; de outro, sua fragilidade e fracasso, sobretudo, no âmbito da política social ampliando as desigualdades e exclusão social, que marcou o percurso excludente e elitista do período. Outro aspecto que deve ser ressaltado é relativo a regulação e controle das estatais, cuja lógica deve ser compreendida nos marcos do desenvolvimentismo acelerado. Esta orientação definiu, no plano estratégico, o raio de ação mais geral para as empresas estatais. Portanto, o horizonte e espaço de ação sinalizado, o qual continha por substrato a idéia de que as estatais deveriam funcionar como se empresas privadas fossem. Como Trebat (1983) sublinhou, esta concepção, do ponto de vista do controle público, portanto, da regulação das atividades das estatais, significava a não necessidade de criar agências especificas destinadas a supervisioná-las. O pressuposto era de que elas deveriam ser julgadas por seus resultados, pelas suas habilidades em caminhar de tal forma a eliminar inteiramente a dependência financeira do governo. Como resultante, ao longo de toda trajetória desenvolvimentista, não se fez nenhum esforço para averiguar se, por exemplo, o plano orçamentário das empresas públicas refletia uma preocupação com custos, ou se os planos de investimentos eram racionais, ou ainda, se os seus excedentes financeiros (lucros) eram tão elevados quanto poderiam ser. Esse fato, ao lado da ambigüidade resultante da institucionalidade dual do Estado brasileiro, produziu um modelo que ficou a meio caminho, por isso denominado de intermediário. Traço este observado nas mais diversas dimensões. Seja nos mecanismos reguladores fragmentados, incapazes de ordenar e disciplinar a ação estatal, seja na formação de uma estrutura burocrática coesa capaz de realizar uma efetiva articulação Estado/mercado em termos de desenvolvimento, principal diferença em relação aos países Asiáticos. A conseqüência danosa é que o Estado brasileiro, sob o ponto de vista da regulação e mesmo da direção “falava por muitas vozes” (Trebat, 1983). Com isto, se produziu fragmentação da autoridade refletindo-se na não coordenação ordenada das metas e decisões políticas. Do ponto de vista da intervenção direta, permitiu a crescente expansão das empresas estatais para os mais diversos setores. Estas características aliadas ao fato de que para as empresas estatais estavam reservadas atividades distintas daquelas que deveriam ser realizadas pelo governo, através da administração direta, completa a natureza do âmbito institucional onde as estatais detinham ampla autonomia para definir suas próprias estratégias empresariais. A forma como cada estatal dos diversos ramos industriais e de serviços processou e materializou as diretrizes mais gerais da orientação desenvolvimentista, neste contexto, esteve em grande medida nas mãos dos dirigentes que durante este percurso deu substância e conteúdo a ação empresarial do Estado. O caso da Companhia Vale do Rio Doce, demonstra que a empresa agiu verdadeiramente “como se empresa privada fosse”, num horizonte de futuro definido com um alto grau de 10 abrangência e elasticidade, em termos dos limites de até onde deveria avançar com metas e estratégias empresariais próprias a perseguir. A idéia introjetada pela burocracia empresarial de que a empresa deveria crescer e tornar-se competitiva para gerar divisas visando alimentar o desenvolvimento industrial brasileiro, mais do que indicou que ela deveria caminhar com as próprias pernas e, ainda, gerar excedente para contrabalançar as contas do balanço de pagamentos. Cumprindo tal missão estaria colaborando para o desenvolvimento industrial da nação e dessa forma contribuindo para superar o atraso do país. A ambição moral para o desenvolvimento que alimentou as várias gerações de dirigentes da CVRD, não ficou só na geração de divisas. Desde a década de cinqüenta disseminaram e fortaleceram a idéia de que a empresa deveria ser uma autêntica agência de desenvolvimento, agindo no sentido de fecundar novos investimentos. Ou seja, no dizer de Eliezer Batista, torna-se uma autêntica “incubadora de novas empresas” e, dessa forma, gerar empregos, renda e crescimento econômico e social, enfim, desenvolvimento. Este é um traço forte que caracteriza a estratégia da CVRD ao longo de sua trajetória de quase 55 anos enquanto estatal. Caminho este que a conduziu a constituir um patrimônio próprio invejável sobre todos os aspectos. Ou seja, parafraseando a fala de um trabalhador das minas de Itabira-MG: a Vale é uma empresa que nasceu pequena, pobre que nem nós, e hoje, é esse monstro que está aí”. Enfim, concluindo, a sinergia resultante do profundo “entrelaçamento” com mercado interno e externo e, principalmente, com a experiência japonesa de desenvolvimento, permitiu a empresa crescer e se multiplicar por caminhos e áreas de atividades diversas. Caminhos estes que, de um ponto de vista restrito, seria inusitado prever como atividade típica de uma empresa exportadora de minérios, cuja função mais óbvia atribuída foi a de extrair, vender e transportar minério de ferro de um ponto a outro do planeta. REFERÊNCIAS AUSTIN, James. Autonomy revisited. Public Enterprise. 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(Doutorado em Ciência Política) Programa de Doutorado em Ciência Política, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas, Universidade de São Paulo. 1 A ferrovia Vitória–Minas foi constituída em 1901, por empresários capixabas e mineiros, para escoar a produção agrícola do vale do rio Doce. Havia iniciado sua construção em 1903 com um traçado projetado para Vitória-ES a Peçanha-MG, depois mudou para Vitória a Diamantina. Em 1942 contava com apenas 313 Km construídos. 2 Os anos 40 foram consumidos na administração dos conflitos resultantes das ambigüidades de direção contidas no decreto de criação. O Artigo 6º, Inciso 3º, define que a diretoria seria constituída de 5 membros, composta por um presidente de nacionalidade brasileira, dois diretores de nacionalidade norte-americana e dois de nacionalidade brasileira. Este conflitos, somados ao fim da guerra, em 45, reduziu a urgência da necessidade de minério de ferro, ameaçando a sobrevivência da empresa. 3 O novo estatuto definindo que toda a diretoria seria constituída por brasileiros foi aprovado na Assembléia Geral Extraordinária realizada em 07/02/50. 4 O Estado do Espírito Santo exemplifica este processo, na medida em que a dinâmica do crescimento econômico estadual, a partir dos anos 60, passou a estar estreitamente vinculada aos impactos das estratégias de expansão da Vale em seu território. 5 À época o maior graneleiro tinha capacidade para transportar 35 mil toneladas. Com os acordos com o Japão foram construídos navios para transportar 100 mil toneladas e, posteriormente, ampliados para 250 e 300 mil/t. Hoje as dimensões dos navios estão limitadas em 500 mil toneladas. 6 Ver, entre outros, Sônia Draibe, (1985); Wanderley G. dos Santos (1993); Brasílio Sallum Jr. (1995, 1996), José L. Fiori (1993, 1995), Nunes (1997). 7 Auto-regulação entendida em termos genéricos de autodisciplina e de regulação de padrões de comportamento dos membros da organização, tal como definidos por Baggot (1989) e Boddewyn (1985). 8 Loriaux, apud Woo-Cumings (1999, p. 24). Isso não significa inexistência de conflitos entre projetos alternativos de desenvolvimento no plano interno. 13