UnP – UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART PRÓ – REITORIA DE PESQUISA E PÓS – GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA VIVENCIANDO O UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA: UMA VISÃO DA ABORDAGEM GESTÁLTICA MARTA SANTOS DA SILVA BELÉM-PA 2005 UnP – UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART PRÓ – REITORIA DE PESQUISA E PÓS – GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA VIVENCIANDO O UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA: UMA VISÃO DA ABORDAGEM GESTÁLTICA MARTA SANTOS DA SILVA Monografia apresentada como pré-requisito parcial, para obtenção do título de especialista no Curso de PósGraduação Lato Sensu em Arteterapia Holística da Unp/Potíguar – RN e Alquimy Art – SP, sob orientação da Profª. Cristina Dias Alessandrini. BELÉM-PA 2005 SILVA, Marta Santos da. Vivenciando o Universo Feminino na Arteterapia: uma visão da abordagem gestáltica. / SILVA, Marta Santos da. Belém. (s.n.), 2005. 42p. Monografia (Especialização em Arteterapia) – Universidade Potiguar. Pró- Reitoria de Educação Profissional. Alquimy Art. 1. Arteterapia 2. Contato 3. Universo Feminino 4. Matriarcado 5. Gestalt Terapia A todos que acreditam que a arteterapia é imprescindível ao universo humano. UNP – UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART PRÓ – REITORIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTE TERAPIA VIVENCIANDO O UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA: UMA VISÃO DA ABORDAGEM GESTÁLTICA ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus Agradeço à minha família que sempre está comigo nas horas boas e também nas horas difíceis. Agradeço aos amigos que me acompanharam nesta jornada. Agradeço ao Felipe por seu sorriso lindo e seu amor constante. Agradeço a todos que tiveram comigo neste momento. Agradeço a Cristina Dias Alessandrini Por trazer este curso para Belém e por sua determinação, bem como reconheço sua capacidade para dividir a arteterapia no Brasil. Agradeço a Irene Arcuri que escolhi para me orientar, como também descobri o quanto sou apaixonada por ela e por seu saber. Agradeço muito a Eliane Almeida, que também escolhi para me orientar. Aos colegas que estiveram comigo neste curso e o quanto me impulsionaram a continuá-lo. Aos mestres, professores, amigos e outras pessoas que comigo ainda vão estar. Agradeço também as jovens mulheres que se permitiram confiar em mim, no transcurso do meu estágio. Agradeço ainda ao pequeno Lucas e ao Leonardo, ao Bruno e ao Arthur... a todos que me acompanham no meu dia-a-dia. Obrigada meu Deus, te agradeço muito. A todos, o meu amor. RESUMO SILVA, Marta Santos. Vivenciando o Universo Feminino na Arteterapia – uma visão da abordagem gestáltica. 2005. Belém-Pará. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu) UnP Universidade Potiguar – RN e Alquimy Art – São Paulo, 2005. A presente monografia tem como objetivo mostrar a importância das experiências pessoais, dos papéis definidos de cada mulher em cada espaço que ocupa, de uma autoestima fortalecida e principalmente do resgate do feminino através da arteterapia como facilitadora, promovendo uma “ponte” da subjetividade de cada mulher com o seu meio externo, ou seja de seu mundo interno para o mundo externo. A partir do relato de cada participante e do próprio processo de crescimento da autora, experienciando e vivenciando a prática da psicologia e de sua experiência como Arteterapeuta Holística, aborda a relação entre afetividade e crescimento pessoal em todos os sentidos, buscando estabelecer um paralelo entre arteterapia e a abordagem gestáltica. Através das análises de mudanças especialmente de 02 (duas) participantes, demonstra como o trabalho com a arteterapia promoveu, facilitou e desenvolveu um crescimento pessoal, levando a um melhor autoconhecimento dos membros do grupo, bem como favoreceu uma relação de maior credibilidade e afetividade entre essas jovens mulheres e suas relações parentais. Na conclusão, há a necessidade de se abrir mais leques, ou seja, que mais trabalhos deste nível seja oferecido à população, enfim a todas as pessoas, pois esta metodologia que é a arteterapia e seus vários recursos, contribui à saúde mental e física de forma grandiosa, natural e tranqüila. PALAVRAS CHAVES: Arteterapia, Contato, Universo Feminino, Matriarcado, Gestalt Terapia. ABSTRACT SILVA, Marta Santos. Vivenciando o Universo Feminino na Arteterapia – uma visão da abordagem gestáltica. 2005. Belém-Pará. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu) UnP Universidade Potiguar – RN e Alquimy Art – São Paulo, 2005. The present monograph has as objective to show the importance of the personal experiences, of the definite papers of each woman in each space that occupies, of auto-esteem mainly fortified and of the rescue of the feminine one through the arteterapia as facilitadora, promoting one “ponte” da subjectivity of each half woman with its external one, or either of its internal world for the external world. From the story of each participant and the proper process of growth of the author, experienciando and living deeply the practical one of psychology and its experience as Holistic Arteterapeuta, it approaches the relation between affectivity and personal growth in all the directions, searching to establish a parallel between arteterapia and the gestáltica boarding. Through the analyses of changes especially of 02 (two) participant ones, it demonstrates as the work with the arteterapia promoted, facilitated and developed a personal growth, leading to one better self-knowledge of the members of the group, as well as it favored a relation of bigger credibility and affectivity between these young women and its parental relations. In the conclusion, it has the necessity of if opening more fans, or either, that more works of this level either offered the population, at last to all the people, therefore this methodology that is the arteterapia and its some resources, contributes to the mental and physical health of huge, natural form and tranquila. WORDS KEYS: Arteterapia, Contact, Feminine Universe, Matriarchy, Gestalt Therapy. 9 SUMÁRIO CAPÍTULO I – MINHA TRAJETORIA 10 CAPÍTULO II – O QUE É ARTETERAPIA? 13 CAPÍTULO III – ABORDAGEM GESTALTICA 16 3.1 A Relação Dialógica na Gestalt-Terapia 19 CAPÍTULO IV – FALANDO DO MASCULINO E DO FEMININO 21 4.1 A Importância do Matriarcado 22 4.2 Resgatando o Feminino 24 CAPÍTULO V – ARTETERAPIA COM MULHRES – Vivenciando o universo feminino na arteterapia – uma visão da abordagem gestáltica 26 CAPÍTULO VI – RELATO DE EXPERIÊNCIAS 33 CAPÍTULO VII – O TRABALHO COM A ARTE (RECURSOS ARTÍSTICOS) 35 7.1 Imagens do Processo 35 7.1.1 TRABALHANDO A ENERGIA VITAL 35 7.1.2 TRABALHANDO A DOÇURA DA INFÂNCIA 36 7.1.3 TRABALHANDO COM A PINTURA 36 7.1.4 TRABALHANDO COM OS FANTOCHES 37 CONCLUSÃO 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 41 10 CAPÍTULO I – MINHA TRAJETORIA Sempre quis fazer um curso de arteterapia. Tentei em São Paulo com Selma Ciornai, mas por diversos motivos, não deu certo. Quando surgiu aqui em Belém, vibrei de alegria. Pensei: “É agora que vou me tornar Especialista em Arteterapia”. E assim tudo começou. Venho de uma família humilde e de poucos recursos financeiros. Sou a terceira filha de uma prole de sete. Sou a única que conseguiu ter uma formação acadêmica. Há 14 anos sou formada em Psicologia. Atuo na área clínica em consultório particular e atualmente estou como professora e supervisora da Abordagem da Gestalt-Terapia na Universidade Federal do Pará – UFPA. Minha infância foi bastante difícil pois perdi meu pai aos cinco anos. Minha avó paterna foi quem ajudou minha mãe a cuidar de mim e de meus irmãos. Cresci escutando nossas dificuldades financeiras. Aprendi a fazer bolos, costurar, fazer crochê, tudo com minha avó. Cresci sonhando em ter uma vida melhor. Dava aulas para crianças e dançava muito, bem como fazia poesias sem saber que eram poesias. Agora percebo o quanto a arte estava em mim. Comecei a trabalhar com carteira assinada aos dezoito anos. Sempre ajudando minha família. Acredito que fui por muito tempo “arrimo de família”, mas nunca deixei de estudar. Hoje sei que sou “orgulho” para muita gente que gosta de mim. Trabalhei numa Empresa de Telecomunicações por dezenove anos sempre sentindo que faltava algo na minha vida. Formei em Psicologia, entrei para a clínica e para a docência, mas confesso que sentindo a falta de algo mais no meu dia-a-dia. Me tornei Especialista em Psicomotricidade, em Gestalt-Terapia e o vazio dentro de mim, crescendo cada vez mais. Sempre senti falta de “alguma coisa” em meu trabalho. Hoje, terminando este curso tenho clareza que é a arteterapia que faltava em minha vida como um todo. Durante este curso prometi a mim mesma ser fiel, ou seja, ser verdadeira com meus sentimentos, emoções, 11 pensamentos, e assim me mantive. A cada módulo experienciei com todos os meus sentidos: Chorei, sorri, entrei em contato, revi, elaborei, ressignifiquei muito da minha história,... a cada emoção vivida, dizia a mim mesma: Que bom que me entreguei! Lembro muito que quando criança e adolescente, ao ficar triste corria para esconder minha tristeza, não queria que alguém me visse chorar, não sabia dizer não aos outros, estava sempre passando por cima de mim mesma. Ao entrar para o curso de arteterapia, fiz uma promessa: Serei fiel a mim. E assim o fiz. Não me arrependo, pois aprendi a dizer não com ternura, com doçura, porém com firmeza. Sem passar por cima de alguém, porém o mais importante aprendi que não posso amar mais alguém do que a mim mesma. E agora não passo por cima de alguém e também não passo por cima de mim. Eu sou tão importante quanto o outro. Eu mereço ser bem tratada quanto o outro. EU ESTOU COM O OUTRO, portanto, eu mereço ser feliz com o outro. Encontrei na arteterapia uma de minhas formas, agucei mais minha intuição, e a minha maneira de fazer algo mais, o meu fazer artístico junto com o meu aprender. Percebo que na arteterapia posso estar preenchendo muitas vezes um vazio que existe dentro de mim. Bem como realizar vários sonhos, junto é claro, com a psicologia, que também adoro. Posso unir a Psicologia que é algo que adoro com a arteterapia, como posso também trabalhar apenas a arte, pelo PRAZER DE FAZER ARTE. Para finalizar minha trajetória, escrevo e acredito no seguinte poema: ESTOU TE ENCONTRANDO NO CAMINHO DO IR E VIR NO AQUI AGORA NA RELAÇÃO EU TU. 12 JUNTOS PODEMOS NOS ENCONTRAR COMO TAMBÉM PODEMOS NOS SEPARAR SEMPRE CONFIRMANDO UM AO OUTRO E SEMPRE NA CERTEZA DE PODER CONTAR UM COM O OUTRO. “A experiência artística é para o crescimento pessoal e para a educação e para a criatividade, para o aumento da consciência, etc...”(Rhyne, 2000) 13 CAPÍTULO II – O QUE É ARTETERAPIA? É a abordagem que se utiliza da arte para facilitar a expressão pessoal comunicando sentimentos de forma verbal e não verbal. É um campo que tem identidade própria compreendendo seu corpo teórico e sua metodologia. Sustenta-se na crença de que a atividade envolvida nos recursos artísticos, facilita o desenvolvimento e potencialidades do ser. É um método terapêutico que utiliza a linguagem artística como meio de comunicação e expressão nos procedimentos de diagóstico (avaliação) e/ou tratamento. Conforme definição da AATA; American Art Therapy Association (apud Carvalho, 1995): Arteterapia é uma profissão assistencial ao ser humano. Ela oferece oportunidade de exploração de problemas e de potencialidades pessoais por meio da expressão verbal e nãoverbal e do desenvolvimento de recursos físicos, cognitivos e emocionais, bem como a aprendizagem de habilidades, por meio de experiências terapêuticas com linguagens artísticas variadas (...) (p. 23). Arteterapia e o processo de se trabalhar de forma amorosa, acolhedora, integrando sentimentos bons ou ruins, trabalhando limites e possibilidades. Com a arteterapia utilizo recursos plásticos, artísticos, corporais, desenhos, pinturas, argila, músicas, poesias, sucatas, etc... É a descoberta do meu ser, do meu interior, através de um desenho posso ver como estou, para onde estou indo, fazendo ou atuando no mundo. Posso perceber de forma lúdica minha agressividade ou minha teimosia, minha arrogância ou minha doçura – o estar comigo. A visão de como estou comigo, com o outro e com o mundo, me é mais acessível. É a forma suave, amorosa de ser e fazer, de sentir e perceber, de brincar, de rir e de chorar. É o cuidado, é a ética, é o servir a mim mesma e ao outro com muito amor e respeito. É ter consciência do meu eixo, da minha intenção. É a minha forma de fazer contato e de 14 dialogar, de suavizar os meus mais sublimes sentimentos e pensamentos. É o diálogo amoroso comigo mesma. A arteterapia se apresenta de técnicas e materiais artísticos diversos na busca de resultados terapêuticos, na expressão e na elaboração de conteúdos internos da pessoa. Quando utilizamos a pintura por exemplo, esta constitui desde a pré-história uma prática constante do ser humano, que serve de comunicação de sentimentos, de idéias e de emoções. Ao pintar espontaneamente, a pessoa simplesmente permite-se levar pelo ato. Em geral não há um planejamento do que se vai pintar, as emoções vão surgindo e se fazendo presente na pintura. Na realidade, pode-se observar o predomínio da emoção sobre a razão, ou seja, o cognitivo dá lugar a uma consciência não racional, é o que podemos chamar de entrega e confiança. Susan Bello (1996. p.93) em sua afirmação a seguir, confirma: “(...) através de uma pintura, vemos uma parte da psique necessitando expressar aquilo que não é ainda capaz de integrar dentro da estrutura do ego existente.” Valladares e Oliveira (2002), afirmam: “(...) a pintura apresenta um valor terapêutico distinto das demais técnicas, pois facilita a expressão das emoções através da fluidez da tinta e induz movimentos da expansão da psique do indivíduo.” (p. 20) Segundo Ciornai (2004) afirma: “(...) ao tomar contato com o vasto leque de possibilidades de utilização de recursos expressivos em dinâmicas grupais e experimentos terapêuticos, terapeutas iniciantes muitas vezes ficam deslumbrantes demais, fazem demais...”(p. 120) Portanto, devemos ter cuidado com as diversas possibilidades dos recursos oferecidos. Uma vez que eles servem para: Ampliar a capacidade de percebermos a nós mesmos, no processo da estimulação do auto-conhecimento e da autoestima, uma vez que favorece o conhecimento através da pintura, da argila, da areia, da poesia, do desenho, enfim dos diversos recursos ofertados. O canal de comunicação entre conteúdos internos e externos, facilita a elaboração dos mesmos proporcionando meios para uma organização e equilíbrio interno através do processo criativo. Servem ainda 15 para trabalhar a dor de maneira suave e as relações interpessoais, favorecendo a integração e socialização da pessoa no contexto grupal. A Arteterapia serve a todas as pessoas que se dispuserem a estar em contato com esta nova forma de se trabalhar diferentes contextos, de diferentes faixa etária. Pode ser utilizada em ateliês de arte, em consultórios de psicologia, em hospitais, em centros comunitários, nas escolas, nas empresas... qualquer profissional pode se utilizar da arteterapia, desde que se submeta a formação e/ou especialização adequada. Embora sua utilização como instrumento que facilita a cura seja milenar, a arteterapia tem pouco menos de 100 anos de existência e, como profissão, é ainda mais recente, principalmente no Brasil. Temos observado que o uso deste método terapêutico, têm aumentado significativamente, o que favorece o desenvolvimento da criatividade e a busca de entendimento das reais necessidades do indivíduo, além de reduzir o tempo necessário para o tratamento, tornando o cliente mais participativo de seu processo pessoal. Elizer (2004), afirma: “(...) A Arteterapia com finalidade terapêutica promove um campo de forças de grande poder de comunicação, expressão, reabilitação e o encaminhamento correio de uma energia represada ou mal canalizada, possibilita, além disso, uma melhor socialização, respeitando as origens e a genética do cliente”. (p. 17) 16 CAPÍTULO III – ABORDAGEM GESTALTICA A Gestalt-Terapia é uma abordagem fundada por Frederick S. Perls e colaboradores, que enfatiza o contato. Feris era psicanalista judeu de origem alemã que emigrou para os Estados Unidos, aos 53 anos. Se fundamenta nos pressupostos filosóficos do Humanismo, do existencialismo, da fenomenologia e da relação dialógica de Martim Buber, bem como da teoria de campo, teoria organísmica e teoria holística. A gestalt-terapia não tem como recurso explicar a origem de nossas dificuldades, mas experimentar pistas para soluções novas, enfatiza o sentir, o experienciar. Para esta abordagem cada um é responsável por si, por suas escolhas e também pelas evitações. Cada pessoa trabalha no seu próprio ritmo, a partir do que emerge no momento. Segundo Ginger, (1995) em sua afirmação: “(...) A gestalt, para além de uma simples psicoterapia, apresenta-se como uma verdadeira filosofia existencial, uma “arte de viver”, uma forma particular de conceber as relações do ser vivo no mundo”, (p. 17) Abordagem que surge no Brasil por volta dos anos 70, onde um grupo de psicólogos e psiquiatras com formação em outras tendências teóricas, interessam-se por esta nova proposta de trabalho. Embora estejamos em um mundo onde as relações possuem muita influência, o que torna cada ser humano diferente um do outro, não é propriamente a sua história de vida, a história que viveu, mas como e o que esta pessoa faz com a sua história. Ou seja, quais são as suas escolhas, como age ou como recebe as influências vindas do meio , como reage diante dos fatos? Enfim, qual a construção que a pessoa faz de sua própria história. Rodrigues, (2000) afirma: “(...) a abordagem gestáltica valoriza muito e ratifica a possibilidade de contato, de comunicação, de trocas entre o ser humano e o seu mundo, de maneira saudável, satisfatória e auto-reguladora, de acordo com as necessidades emergentes do seu organismo”, (p. 87) 17 Enfatizando a visão existencial, a existência precede a essência. A capacidade humana de escolher e criar a própria vida, transcende limites e condicionamentos, mesmo diante das dificuldades que a pessoa enfrenta no dia-a-dia. Ciornai, (2004) considera tais afirmações: “(...) Na visão existencial, o ser humano é visto sempre em possível estado de refazer-se e de escolher e organizar a própria existência criativamente, sendo sujeito da própria história, artista da própria vida”. (p. 54) Yontef (1981,1998) afirma que a Gestalt-terapia é definida por três princípios: É fenomenológica, sendo seu objetivo e metodologia principal a awareness (uma forma de experienciar), estando em contato atento com o que é mais importante do campo/ambiente, com apoio energético, cognitivo, emocional e sensorial), baseia-se no existencialismo dialógico: processo de contato/afastamento Eu-TU (Marfim Buber), onde a visão de mundo gestáltica inclui o holismo e a teoria de campo. Sendo fenomenológica, contempla os fenômenos, para que estes se revelem à consciência, à medida que são observados, sem apriores e julgamentos, tentando interroga-los, descrevê-los e compreende-los no seu contexto, onde a explicação não existe. Ao basear-se no existencialismo dialógico, considera o ser humano como singular, em constante interação com o que o cerca e com os outros, sendo capaz de experimentar, construir, escolher, assumir e ser responsável por suas escolhas e por dar forma à sua existência. A importância da relação dialógica e do encontro, tanto como fator estruturante do ser, quanto como fator curativo dos diálogos abortados nas patologias é destacada por Hycner, (1991) quando este faz referências aos pré-requisitos ao diálogo genuíno, que são: Presença, que é o estar disponível ao outro sem julgamentos, atento à experiência do outro, colocando entre “parênteses”todos os valores, que de forma significativa possamos estar inteiros com quem estamos trabalhando. 18 May, (1983) afirma: “O uso de si próprio como instrumento exige, é claro uma tremenda autodisciplina por parte do terapeuta... Na verdade, quero dizer que a autodisciplina (se assim vocês a entendem), colocar entre parênteses as próprias distorções e tendências neuróticas, até o limite possível para um terapeuta, parecem-me resultar em torná-lo capaz – em maior ou menor grau - de experienciar o encontro como uma forma de participar dos sentimentos e do mundo do paciente.”(p. 23) Podemos também citar a Inclusão, pois para Buber, precisamos praticá-la. Ela ocorre quando uma pessoa, que pode ser o terapeuta, os pais, ou mesmo os mestres, vivem o evento comum aos dois a partir do ponto de vista do outro. Hycner também cita Confirmação, onde o seu significado é o reconhecimento e afirmação da existência do outro. Yontef (1981, 1988), afirma ser o diálogo a forma particular de contato mais apropriada para uma relação terapêutica fenomenológico-existencial. O diálogo é a forma de contato EU-TU e nas fronteiras de contato, baseando-se na autenticidade das pessoas envolvidas na relação. O contato é a consciência de e o comportamento em direção à novidade assimilável e a rejeição da não assimilável. O Contato é a realidade mais simples e primeira (Perls, Hefferline e Goodman, 1997). Percebe-se que é a partir do contato que se propicia a awareness. Awareness e Contato são dois instrumentos principais da Gestalt-Terapia. Awareness é uma forma de experiência que pode ser definida aproximadamente como estar em contato com a própria existência, com aquilo que é. Yontef (1998), afirma que “a Awareness total é o processo de estar em contato vigilante com os eventos mais importantes do campo indivíduo/ambiente, com total apoio sensorimotor, emocional, cognitivo e energético”, (p. 31) 19 Contato é um ato de auto-consciência totalizante, envolvendo um processo no qual as funções sensoriais, motoras e cognitivas se unem, em complexa interdependência dinâmica, para produzir na pessoa e na sua relação com o mundo, através de uma energia de transformação que opera em total interação eu-mundo. (Ribeiro, 1995, p. 8). Portanto, percebe-se a importância do contato enquanto agente de consciência e de mudança na vida da pessoa, considerando que a pessoa faz contato consigo mesma, com o outro, com o ambiente, passando por períodos de contato e afastamento, até mesmo para assimilar ou rejeitar o “objeto” de contato. Quanto à visão de mundo gestáltica, refere-se a idéia de “todo”, que difere da soma das partes, sendo que as partes só tem significado quando em referência ao todo ao qual pertencem, sendo aquele também básico para as mesmas. Por isso a palavra alemã gestalt, sem tradução exata para o português, se situe nos termos configuração, estrutura, tema, relação estrutural ou todo organizado e significativo (Perls, Hefferline e Goodman, 1997). 3.1 A Relação Dialógica na Gestalt-Terapia Yontef (1981, 1998) afirma ser o diálogo a forma particular de contato mais apropriada para uma relação terapêutica fenomenológico-existencial. O diálogo é a forma de contato Eu-Tu e nas fronteiras de contato, baseia-se na autenticidade das pessoas envolvidas na relação. Hycner cita Friedman (1965) na definição do dialógico: Entende-se por dialógico o contexto relacional total em que a singularidade de cada pessoa é valorizada. Relações diretas, mútuas e abertas entre as pessoas são enfatizadas, e a plenitude e presença do espírito humano são honradas e abraçadas. É mais uma abordagem profundamente sentida do que uma teoria (Friedman, apud Hycner, 1997). Outros autores baseados na Filosofia Existencial e na Psicologia Humanista, como (Burow & Scherpp, 1985, p. 108) afirmam: o ser humano é no fundo um ser digno de confiança; 20 o ser humano carrega dentro de si um enorme potencial de possibilidades cuja liberação depende somente da criação das premissas correspondentes; o ser humano é um ser social; o ser humano é por si só ativo e por isso muda a si mesmo, constantemente, assim como suas relações com o meio; o indivíduo visa a um desenvolvimento global de suas capacidades e possibilidades; as ações do ser humano só podem ser compreendidas em sua totalidade. Podemos portanto, concluir que não basta ao arteterapeuta apenas conhecimento teórico ou técnico, mas disponibilidade à relação verdadeira e um “centro”, de si que permita estar com o outro enquanto um outro a ser respeitado, reconhecido e valorizado, sem que seja ameaça ao próprio eu. É através do estar amorosamente com o outro que o arteterapeuta cria condições para que o outro possa ouvir, ver, compreender, aceitar e amar a si mesmo. 21 CAPÍTULO IV – FALANDO DO MASCULINO E DO FEMININO As diferenças de gênero constituídas social e culturalmente deixaram marcas profundas na formação da identidade e na definição dos espaços sociais masculinos e femininos. Historicamente, homens e mulheres vêm passando por uma série de vivências que desestabilizam as antigas fronteiras de gênero. No que tange à sociedade primitiva, houve um tempo em que homens e mulheres viviam em harmonia, pois coexistiam de forma recíproca. Não se confrontavam em lutas pelo poder, os grupos eram governados pela persuasão, existia rodízios de lideranças. Leonardo & Rose, (2002, p. 13) afirmam: “os princípios feminino e masculino então – e por um milhão e meio de anos – governam o mundo juntos”. Posteriormente, a situação modificou-se e o meio tornou-se mais hostil - eis que surge a sociedade de caça, quando se inicia a dominação do masculino sobre o feminino. Neste momento a relação homem/mulher passa a ser de dominação e a violência, passa a ser a base das relações entre os grupos e entre a espécie e a natureza. É o princípio masculino que governa o mundo sozinho. No século XX, com a II Revolução Industrial, a mulher começa a ter um novo olhar sobre si mesma. Leonardo Boff, 2002, p. 52. afirma: “(...) Embora fosse instrumentalizada e, de certa forma, objetivada para fins superiores aos individuais, ela continuava a manter, como pessoa, o seu valor. Ela é sinal, mas também produtora de sinais, e há inclusive a percepção de que a mulher, de certa forma, além de servir de objeto para sociabilidade, não deixa de continuar sujeito. Transformada em objeto, é ofendia e diminuída”. 22 4.1 A Importância do Matriarcado Leornardo Boff, ressalta o matriarcado e o patriarcado enquanto instituições, onde as mulheres comparecem como as principais produtoras da cultura. Ele afirma que há pelo menos 30 (trinta) mil anos, florescia em todo o continente, o matriarcado, ou seja, a predominância da mulher. É o tempo das grandes deusas que inspiram uma organização social, marcada pelo espírito de cooperação e também de mistérios. As mulheres detinham a hegemonia política, mediavam e solucionavam conflitos, além de organizarem a sociedade. Garantem a continuidade da vida. Dão à luz. Segundo Leornardo Boff, 2000, p. 54. “(...) o fim do matriarcado é situado atualmente, por volta de 2000ª C.” onde o mundo começou a partir daí a pertencer aos homens, originando-se o patriarcado, marcado pelo machismo e da ditadura cultural do masculinismo. O homem passou a dominar a mulher, construindo relações de poderes altamente desumanas e conflitivas, resultando um patriarcado marcado pelo terror, principalmente para a mulher. Começaram as diferenças de sexo, de cor, onde as mulheres negras ganhavam menos que as mulheres brancas, quando uma mulher esperava um filho do sexo feminino era obrigada a fazer aborto, etc... Começam os conflitos entre as relações de gênero, principalmente no seio da família, originando disputas pelo poder, onde as relações são carregadas de tensão, medo, opressão, humilhação e subserviência. Apesar do feminismo vir se opor a esta luta, o feminismo clássico e o pósfeminismo, que incluíram uma democracia participativa e aberta entre os gêneros, podemos perceber que a guerra entre os sexos continua, que muitas vezes dentro da família, da sociedade como um todo, existe ainda a humilhação, a tensão, o medo e também a 23 subserviência, entre pais e filhos, maridos e esposas, irmãos, chefes e subordinados amigos, etc... infelizmente a relação de poder perdura até hoje. Infelizmente esses movimentos geraram também uma certa confusão entre igualdade de direitos e igualdade de natureza entre homens e mulheres. Muitas mulheres passaram a desvalorizar o que pertence à natureza feminina e valorizar com muita ênfase o que pertence por natureza ao masculino. No livro de Selma Ciornai “Da contracultura à menopausa”, podemos encontrar depoimentos de mulheres que marcam esta época: “A sensibilidade não era muito permitida, era uma coisa meio babaca, meio piegas, porque a gente achava que havia coisas mais sérias a serem feitas...” “(...) não dava pra ser gentil, era um universo muito masculino!” (p. 74) 24 4.2 Resgatando o Feminino Homens e mulheres são diferentes por natureza o que significa que são diferentes não apenas na aparência, mas também no jeito de ser e no jeito de compreender e estar no mundo. Podemos afirmar com certeza que os movimentos feministas e de emancipação trouxeram a necessidade de mudanças entre homens e mulheres. À medida que o mundo e a realidade se transformam, transformam-se também os papéis sociais e as necessidades de homens e mulheres. Se homens e mulheres são diferentes por natureza, é claro que além das diferenças físicas, há diferenças biológicas e fisiológicas, portanto, há diferenças na totalidade do ser. Os gêneros masculino e feminino, referem-se à identidade de gênero e não à sexualidade. Homens continuam sendo homens e mulheres continuam sendo mulheres. Embora nos homens há predominância de aspectos masculinos e nas mulheres de aspectos femininos, há de alguma maneira em todos nós uma natureza andrógino do grego: andros = homem e gyno = mulher. De acordo com Gênesis na mitologia judaico-cristã. Deus era andrógino, contendo elementos tanto masculinos quanto femininos, e nós, seres humanos, fomos criados à sua imagem e semelhança. Na filosofia chinesa há yin e yang, sendo: Yin o princípio feminino, (lua, nublado, escuro, noite); Yang o princípio masculino, (sol, céu, firmamento, brilho, dia). Leonardo Boff, afirma: “...Masculino e feminino existem em cada ser humano, homem e mulher como forças produtoras de identidade e de diferenças...)”; 25 (...) pertence ao masculino da mulher e do homem o movimento para a transformação, para o trabalho, para a agressão, para a clareza que distingue, separa e ordena. Pertence ao feminino do homem e da mulher, a capacidade de repouso, de cuidado, de conservação, de entender símbolos e mensagens inscritas nos fatos, de cultivar o espaço do mistério que desafia sempre a curiosidade e a vontade de conhecer. No feminino, a reverência em face do mistério da vida e de Deus, no masculino, a vontade de conhecer e decifrar todos os mistérios”, (p. 75-6) 26 CAPÍTULO V – ARTETERAPIA COM MULHERES – VIVENCIANDO O UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA – UMA VISÃO DA ABORDAGEM GESTÁLTICA Esta pesquisa inicialmente era para ser com mulheres vítimas da violência doméstica por seus parceiros ou por seus pais. Como não foi possível reunir mulheres que se enquadrassem nesta categoria, a pesquisa foi feita apenas com jovens mulheres, entre 21 e 32 anos, onde foi trabalhada a auto estima e o autocrescimento. Pesquisa realizada através do estágio em encontros semanais no período de 08 (oito) meses, com carga horária de 110 (cento e dez) horas, com 02 (dois) grupos de mulheres. Portanto, este trabalho tem como referência de Análise o Ciclo de Contato, (Ribeiro, 1995), onde é percorrida cada etapa do ciclo, de acordo com o relato de experiências de duas mulheres que tiveram grandes momentos de mudanças, no decorrer do estágio de arteterapia. Através dessas 02 (duas) participantes, pois o grupo era composto por 08 (oito) mulheres, percebemos claramente o fator de mudança. Algumas chegaram a verbalizar o quanto a arteterapia as ajudou. Porém, a mudança visível se fez presente com I e R. As dificuldades surgiram no decorrer dos primeiros contatos, uma vez que tínhamos a Delegacia das Mulheres como prioridade, pois queríamos trabalhar com mulheres vítimas da violência doméstica. Como a dificuldade foi “logo de cara”, mudamos o foco, escolhemos que trabalharíamos com jovens mulheres, e assim o fizemos. Montamos 02 (dois) grupos, um que funcionava às sextas feiras de 14:00 h às 16:30 h e outro que funcionava às quintas feiras de 19:00 h às 21:30 h. Apesar de termos escolhido apenas duas participantes do primeiro grupo, ressaltamos que também o segundo grupo teve grandes mudanças. Os encontros aconteciam no Consultório de Psicologia que me pertence, onde a sala era relativamente grande, existiam vários colchonetes, um aparelho de som, um sofá e vários 27 recursos de arteterapia. Podemos dizer que a sala era aconchegante. Os encontros aconteciam uma vez por semana. No decorrer de nossa caminhada, pudemos perceber sutis mudanças, onde cada participante dentro de suas capacidades de exteriorização, verbalizava algo novo no seu dia-adia. Durante as atividades (essa descrição refere-se ao primeiro grupo), havia momentos em que tudo parecia “uma grande brincadeira”, “uma grande festa”, quando surgia risos, aceitação, respeito. Em outros momentos, surgia “clima” de rivalidades, discussões, desacordos, etc. E, ressaltando, havia momentos também de muito choro. Continuando o processo, o grupo foi se modificando. Cada uma, à sua maneira teve uma nova forma de se expor no grupo. Houve mudanças de uma fase de estranhesa, para uma fase onde foram respeitando os sentimentos e as atitudes, bem como a vivência de cada uma. Houve um grande passo nesta caminhada, cada participante passou a se ver com mais autonomia, descrevendo sua trajetória nas relações parentais, situando-se nos seus espaços de filha, de namorada, de esposa, de amiga e principalmente de mulher. Acreditamos que esse avanço se deu a partir do momento em que cada uma foi revendo e entendendo seus valores pessoais, sua história de vida, para então, aceitar as diferenças entre si e o mundo. O trabalho em arteterapia facilitou esta interação e conseqüentemente a criatividade dessas jovens mulheres. Gostaria de estar enfatizando a força da mulher com a música de Erasmo Carlos “SEXO FRÁGIL”. A FORÇA DA MULHER “Dizem que a mulher é sexo frágil mas que mentira absurda eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas... 28 Vejam como é forte a que eu conheço, sua sapiência não tem preço Satisfaz meu ego se fingindo submissa Mas no fundo me enfeitiça. Quando eu chego em casa à noitinha, quero uma mulher só minha Mas, pra quem deu luz não tem mais jeito porque o filho quer seu peito O outro já reclama sua mão, o outro quer o amor que ela tiver... Quatro homens dependentes e carentes da força da mulher. Mulher, mulher, do barro no qual você foi gerada Me veio inspiração pra decantar você nesta canção... Mulher, mulher, na escola em que você foi ensinada, jamais tirei um dez Sou forte mas não chego aos seus pés (bis)”. Ressaltamos que este trabalho tem como referência de análise (O ciclo de Contato e seus Fatores de Cura), de Jorge P. Ribeiro, onde é percorrida cada etapa do ciclo, de acordo com o relato de experiências de duas mulheres que tiveram grandes momentos de mudanças, no decorrer do estágio de arteterapia. Para Ribeiro (1995, p. 9) o ciclo de contato compreende: O Conceito de Contato que inclui tudo: valores, desejos, negações, que operam no momento em que o encontro se dá e que estão operando sempre, diria, num nível não consciente, através de uma matriz mental, interna, subjetiva. Como uma ante-câmara, onde o encontro eu-mundo ocorre primeiro”. O ciclo de contato é visto como uma totalidade (biopsicosocioespiritual), que muitas vezes é quebrada pelo dia-a-dia, uma vez que estamos sempre habituados a dar as mesmas respostas, não discriminamos mais o que sentimos, fazemos ou dizemos. E é desta forma que interrompemos o contato, uma vez quando contínuas e perturbadoras, se tornam as chamadas 29 resistências, que são formas desesperadas de manter, a todo custo, a relação organismo eumundo. Os Bloqueios de Contato e os Fatores de Cura criados e revistos por Ribeiro (1997), são os seguintes: FIGURA 1 – VISUALIZANDO E TRABALHANDO NO CICLO DE CONTATO Fixação: Processo pelo qual a pessoa se apega excessivamente às pessoas, idéias, coisas, temendo surpresas diante do novo e da realidade, sentindo-se incapaz de explorar situações novas, permanecendo fixado em coisas e emoções passadas. Há medo de correr riscos. 30 Fluidez, Fator de cura da Fixação em que há o processo pelo qual a pessoa se movimenta, localiza-se no tempo e no espaço, deixa posições antigas, renova-se, sente-se com disposição e espontaneidade para criar e recriar a própria vida. Dessensibilização é o entorpecimento, a frieza diante de um contato, há diminuição sensorial no corpo. Não há estímulos externos existindo a perda e o interesse por sensações novas e intensas. Sensação é o fator de cura da sensibilização. É quando a pessoa sai da frieza emocional, sentindo-se mais atenta aos sinais de seu corpo procurando por novos estímulos. Deflexão: Neste mecanismo há diminuição do contato pelos sentidos, existindo desperdício de energia na relação com o outro, quando a pessoa usa um contato indireto, vago, inexpressivo. Há a sensação de incompreensão, desvalor, etc. Consciência: Fator de Cura da Deflexão. Neste processo a pessoa se dá conta de si mesma de forma clara e reflexiva. Estando mais atenta à sua volta, relacionando-se de maneira mais recíprocas consigo mesma e com o outro. Introjeção: Bloqueio de Contato a pessoa obedece ordens, leis, opiniões arbitrárias, sem se dar conta que estas pertencem ao outro. A pessoa “engole seco”, sem querer e sem conseguir defender seus direitos, sua forma de pensar. Há o medo de sua própria agressividade e das dos outros. Deseja mudar, porém há o medo da mudança. Acha e sente que todos sabem mais que ela. Mobilização: Neste processo há o desejo pela mudança. Há a necessidade de exigir os direitos, de separar suas coisas das dos outros, de sair da rotina, de expressar seus sentimentos e não há o medo de ser diferente. Projeção: Aqui existe o processo pelo qual a pessoa tem dificuldades de identificar o que é seu. Atribui aos outros toda a responsabilidade que seria sua. 31 Atribui ao mau tempo, ao acaso, etc. desconfia de todos como prováveis inimigos, sentindo-se ameaçada pelo mundo. Há dificuldades de assumir responsabilidades pelo que faz. Ação: Neste processo a pessoa expressa mais confiança nos outros, assume responsabilidades pelos próprios atos, identifica em si a razão se seus próprios erros, sem medo da própria ansiedade. Proflexão: A pessoa deseja que os outros sejam como ela. Manipula o meio afim de receber aquilo que precisa, sempre na esperança de ter algo em troca. Há dificuldade de reconhecer-se como sua própria fonte de nutrição. Interação: Fator de Cura da Proflexão. Onde a pessoa se aproxima do outro sem esperar nada em troca. Age de maneira igual com total prazer. Convive sem esperar retribuição. Retroflexão: É o bloqueio de contato onde a pessoa volta para si toda a energia que poderia voltar para o mundo. Há o movimento de fora para dentro, ou seja, dirige para si mesma sua raiva, seu descontrole, sua ira. Considera-se inadequada em tudo que faz. Sente-se muitas vezes que é inimiga de si mesma. Contato Final: Seu fator de cura. A pessoa sente a si mesma como sua própria fonte de prazer, há nutrição sem intermediários, relacionando-se com as pessoas de maneira direta e clara. Egotismo: Sempre a pessoa se coloca como o centro das atenções, onde existe o controle excessivo e rígido no mundo fora dela. Tem muita dificuldade em dar e receber. Satisfação: A pessoa vê que o mundo é composto de pessoas. A outra pessoa pode ser fonte de prazer no contato nutritivo, que a vida pode ser co-dividida. 32 Confluência: Bloqueio onde existe a forte ligação ao outro. A pessoa se liga de maneira tão forte ao outro, sem diferenciar o que é seu do que é do outro. Aqui há a perda da identidade. Retirada: A pessoa percebe que ela é separada do outro, que pode sair de situações ou de relações sem perder a identidade. Gosto de estar em grupo, mas também gosto de estar sozinha. 33 CAPÍTULO VI – RELATO DE EXPERIÊNCIAS (INDICADORES DE MUDANÇA) Aqui é mostrado o relato de 02 (duas) jovens mulheres, onde é percorrida cada etapa do ciclo. Nesses relatos ressaltamos como análise enfatizando alguns bloqueios de contato e seus respectivos fatores de cura, que foram identificado nas falas, nas atitudes, ocorrendo grandes momentos de mudanças, no decorrer do estágio. RENATA – 28 anos, dependente química, estava neste momento do ciclo desenvolvendo o bloqueio da fixação. Estava fixada (nas drogas, nos mesmos amigos, na mesma forma de perceber os pais, sempre afirmava: “meus pais me odeiam, não me compreendem...”) Através do Fator de Cura da Fixação (FLUIDEZ), Renata foi aos poucos fluindo, onde começou um trabalho para emagrecer (perdeu 8 quilos), na arteterapia foi descoberta a depressão e a partir daí, ela foi se conscientizando sobre as drogas e foi parando de consumir, bem como no final do ano passou no vestibular. Renata no início da arteterapia, sentia vergonha por não ser universitária. RENATA – aqui também foi detectada a dessensibilização de Renata. No decorrer do seu processo na arteterapia, Renata parecia muitas vezes não ouvir, não sentir, não olhar nos olhos. Sua fala era meio desconecta. “Muitas vezes não sei o que sinto, minha mãe fala comigo, nem ligo... com o tratamento da depressão, foi se sentindo mais enérgica, mais participativa. Aos poucos Renata foi dando conta que precisava sair da frieza emocional que se encontrava, começou a ouvir mais aos pais, aos amigos, iniciou um processo de se perceber. Aqui foi percebido mais a sua sensação. Parecia não ouvir, sentia-se pouca valorizada pela mãe, sempre fugindo dos assuntos onde a responsabilidade poderia ser sua. Renata aos poucos foi percebendo suas responsabilidades nos seus atos, tendo consciência maior de si mesma. 34 Outra participante que teve grandes mudanças foi IASSODARA (que no decorrer do estágio apresentava certa distância do grupo, e aos poucos foi se familiarizando e ocupando seu espaço no grupo. IA, como é chamada, apresentou o mecanismo da Introjeção – “Ele existe, eu não” – Processo através do qual obedeço e aceito opiniões arbitrárias, normas e valores que pertencem a outros, engolindo coisas sem querer e sem conseguir defender meus direitos por medo da minha própria agressividade e da dos outros. Desejo mudar, mas temo minha própria mudança, preferindo a rotina, simplificações e situações que são facilmente controláveis. Penso que as pessoas sabem melhor do que eu o que é bom para mim, gosto de ser mimado. IA – no início da arteterapia, mostrava uma grande dependência junto à mãe, ao namorado e a uma amiga do grupo, Carol. Nunca apresentava idéia própria. Seu namoro era muito conturbado por sua dependência. Apresentava ainda, sintomas referentes a bulimia nervosa. Através da Mobilização, fator de cura da Introjeção, IA foi aos poucos ganhando autonomia e independência nos seus relacionamentos e atos, como também os sintomas da bulimia desapareceram. Na MOBILIZAÇÃO, há o desejo de mudanças, de exigir meus direitos, de não ter medo de ser diferente. Segundo Ribeiro (1997), muitas vezes os bloqueios de contata se interrelacionam, onde podemos identifica-los ao mesmo tempo. Através dessas 02 (duas) participantes, podemos mostrar a utilização da arteterapia, ou seja o que usamos para facilitar o trabalho. 35 CAPÍTULO VII – O TRABALHO COM A ARTE (RECURSOS ARTÍSTICOS) 7.1 Imagens do Processo Neste momento, utilizamos vários recursos como FANTOCHES, na confecção da história pessoal, A Forma dos Sentimentos, sucatas, tintas, poesias, músicas, almofadas, diálogo entre si e o outro, o trabalho com metáforas, que mostro nas seguintes fotos: 7.1.1 TRABALHANDO A ENERGIA VITAL 36 7.1.2 TRABALHANDO A DOÇURA DA INFÂNCIA 7.1.3 TRABALHANDO COM A PINTURA 37 7.1.4 TRABALHANDO COM OS FANTOCHES 38 39 CONCLUSÃO Através da arteterapia, pude perceber muitas mudanças em mim mesma. Revi profundos sentimentos de inadequação, rejeição, sensibilidade, meiguice, enfim, muitos sentimentos adormecidos. Fiz um juramento a mim mesma: serei fiel aos meus sentimentos, e assim o fiz. Pude perceber também que foi preciso muita reflexão, pois muitas vezes sentia vontade de parar, por diversas razões. Mas logo em seguida encontrava forças para continuar. Procurei sintonizar minha experiência clínica em psicologia, bem como minha vivência, com a arte, prazer, intuição, comprometimento, porém, ressalto que foi muito difícil. O trabalho realizado com essas jovens mulheres, também veio me sinalizar o feminino e o masculino que existem dentro de mim. Pude rever minha condição de filha, de amiga, de esposa, de mulher. Pude perceber também o quanto sou frágil e forte, doce e amarga, menina e mulher. Neste trabalho o potencial criativo de cada uma pode emergir, é bem como Alessandrini (2001, p. 97) afirma:. “A Dimensão criativa está presente em cada pessoa e pode emergir de forma natural e espontânea, ou então ser fruto de trabalho intenso e profundo, gerador de novas formas”. Acredito que ficou a semente do amor nessas jovens mulheres através da arteterapia. Ficou a semente do divino, da espontaneidade, do gostar de si mesma, de ser mulher em cada papel exercido, sem guerras de gênero, apesar dessa guerra ainda continuar em nossa cultura. A abordagem da Gestalt-Terapia, ressalta as palavras de Sartre, filósofo francês “(...) não importa o que fizeram comigo, importa o que eu faço com o que fizeram comigo”. (1943, p. 166). O potencial criador existe em cada ser, e a vivência com essas jovens mulheres, veio confirmar esse potencial. Todas demonstraram o solo fértil existente em cada uma. E a 40 semente plantada neste solo, cresce, floresce emergindo em uma linda árvore: A CONDIÇÃO DE SER MULHER. O trabalho com essas jovens mulheres, também trouxe o fator confiança e intuição. O trabalho especialmente mostrou o quanto a Confiança em nosso potencial criador merece atenção, assim como trouxe muito forte a intuição, que é uma característica importante na arteterapia. Eu confio muito em minha intuição e acredito que essas jovens mulheres, a partir de suas experiências, não serão mais as mesmas, assim como eu também não sou a mesma. Lembro muito das palavras de Susan Bello: (1996. p. 62). “Confie na voz da sua intuição. Reconheça o fato de que a intuição existe. Reconheça que ela é uma forma válida de conhecimento, que necessita ser explorada e cultivada. Tornese mais sensível para reconhecer quando a intuição está ocorrendo”. Nas palavras de Irene Arcuri, minha orientadora, 2004, p. 30: “O uso da arteterapia implica reconhecimento da importância do processo criativo como uma forma de reconciliar conflitos emocionais, bem como facilitar a auto-percepção e o desenvolvimento pessoal. A arte proporciona o reconhecimento da dinâmica psíquica, é uma via de acesso à totalidade do ser”. Portanto, gostaria de terminar ou finalizar ou ainda recomeçar, pois esta experiência de arteterapia veio abrir leques de possibilidades de aprendizado, de realizações, de prazer, de poder ouvir e sentir a voz do coração. DO MEU CORAÇÃO. É uma abordagem metodológica que não pode parar, uma vez que é útil a todas as pessoas, de diferentes faixa etária, independente de sexo, independente de cor, independente de alguma coisa. O trabalho com essas jovens mulheres, que muito verbalizaram suas frustrações, decepções, principalmente com os pais, com as relações parentais, veio sinalizar a importância da arteterapia, pois com os recursos diversos que existem nesta metodologia, podemos observar e experienciar a riqueza de abordagem. Enfim, na arteterapia existem mil possibilidades de estar sempre se inovando, se recriando no nosso projeto existencial. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALESSANDRINI, Cristina Dias (Org.) et alli. Tramas Criadoras na Construção “do ser si mesmo”. 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