UnP – UNIVERSIDADE POTIGUAR
ALQUIMY ART
PRÓ – REITORIA DE PESQUISA E PÓS – GRADUAÇÃO LATO SENSU
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA
VIVENCIANDO O UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA:
UMA VISÃO DA ABORDAGEM GESTÁLTICA
MARTA SANTOS DA SILVA
BELÉM-PA
2005
UnP – UNIVERSIDADE POTIGUAR
ALQUIMY ART
PRÓ – REITORIA DE PESQUISA E PÓS – GRADUAÇÃO LATO SENSU
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA
VIVENCIANDO O UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA:
UMA VISÃO DA ABORDAGEM GESTÁLTICA
MARTA SANTOS DA SILVA
Monografia apresentada como pré-requisito parcial, para
obtenção do título de especialista no Curso de PósGraduação Lato Sensu em Arteterapia Holística da
Unp/Potíguar – RN e Alquimy Art – SP, sob orientação da
Profª. Cristina Dias Alessandrini.
BELÉM-PA
2005
SILVA, Marta Santos da.
Vivenciando o Universo Feminino na Arteterapia: uma visão da abordagem gestáltica. /
SILVA, Marta Santos da. Belém. (s.n.), 2005.
42p. Monografia (Especialização em Arteterapia) – Universidade Potiguar. Pró- Reitoria
de Educação Profissional. Alquimy Art.
1. Arteterapia 2. Contato
3. Universo Feminino
4. Matriarcado
5. Gestalt Terapia
A todos que acreditam que a arteterapia é
imprescindível ao universo humano.
UNP – UNIVERSIDADE POTIGUAR
ALQUIMY ART
PRÓ – REITORIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTE TERAPIA
VIVENCIANDO O UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA:
UMA VISÃO DA ABORDAGEM GESTÁLTICA
________________________________________
________________________________________
________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus
Agradeço à minha família que sempre está comigo nas horas boas e também nas
horas difíceis.
Agradeço aos amigos que me acompanharam nesta jornada.
Agradeço ao Felipe por seu sorriso lindo e seu amor constante.
Agradeço a todos que tiveram comigo neste momento.
Agradeço a Cristina Dias Alessandrini
Por trazer este curso para Belém e por sua determinação, bem como reconheço
sua capacidade para dividir a arteterapia no Brasil.
Agradeço a Irene Arcuri que escolhi para me orientar, como também descobri o
quanto sou apaixonada por ela e por seu saber.
Agradeço muito a Eliane Almeida, que também escolhi para me orientar.
Aos colegas que estiveram comigo neste curso e o quanto me impulsionaram a
continuá-lo.
Aos mestres, professores, amigos e outras pessoas que comigo ainda vão estar.
Agradeço também as jovens mulheres que se permitiram confiar em mim, no
transcurso do meu estágio.
Agradeço ainda ao pequeno Lucas e ao Leonardo, ao Bruno e ao Arthur... a todos
que me acompanham no meu dia-a-dia.
Obrigada meu Deus, te agradeço muito.
A todos, o meu amor.
RESUMO
SILVA, Marta Santos. Vivenciando o Universo Feminino na Arteterapia – uma visão da
abordagem gestáltica. 2005. Belém-Pará. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu) UnP
Universidade Potiguar – RN e Alquimy Art – São Paulo, 2005.
A presente monografia tem como objetivo mostrar a importância das experiências
pessoais, dos papéis definidos de cada mulher em cada espaço que ocupa, de uma autoestima fortalecida e principalmente do resgate do feminino através da arteterapia como
facilitadora, promovendo uma “ponte” da subjetividade de cada mulher com o seu meio
externo, ou seja de seu mundo interno para o mundo externo. A partir do relato de cada
participante e do próprio processo de crescimento da autora, experienciando e vivenciando
a prática da psicologia e de sua experiência como Arteterapeuta Holística, aborda a relação
entre afetividade e crescimento pessoal em todos os sentidos, buscando estabelecer um
paralelo entre arteterapia e a abordagem gestáltica. Através das análises de mudanças
especialmente de 02 (duas) participantes, demonstra como o trabalho com a arteterapia
promoveu, facilitou e desenvolveu um crescimento pessoal, levando a um melhor autoconhecimento dos membros do grupo, bem como favoreceu uma relação de maior
credibilidade e afetividade entre essas jovens mulheres e suas relações parentais. Na
conclusão, há a necessidade de se abrir mais leques, ou seja, que mais trabalhos deste nível
seja oferecido à população, enfim a todas as pessoas, pois esta metodologia que é a
arteterapia e seus vários recursos, contribui à saúde mental e física de forma grandiosa,
natural e tranqüila.
PALAVRAS CHAVES: Arteterapia, Contato, Universo Feminino, Matriarcado,
Gestalt Terapia.
ABSTRACT
SILVA, Marta Santos. Vivenciando o Universo Feminino na Arteterapia – uma visão da
abordagem gestáltica. 2005. Belém-Pará. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu) UnP
Universidade Potiguar – RN e Alquimy Art – São Paulo, 2005.
The present monograph has as objective to show the importance of the personal
experiences, of the definite papers of each woman in each space that occupies, of auto-esteem
mainly fortified and of the rescue of the feminine one through the arteterapia as facilitadora,
promoting one “ponte” da subjectivity of each half woman with its external one, or either of
its internal world for the external world. From the story of each participant and the proper
process of growth of the author, experienciando and living deeply the practical one of
psychology and its experience as Holistic Arteterapeuta, it approaches the relation between
affectivity and personal growth in all the directions, searching to establish a parallel between
arteterapia and the gestáltica boarding. Through the analyses of changes especially of 02
(two) participant ones, it demonstrates as the work with the arteterapia promoted, facilitated
and developed a personal growth, leading to one better self-knowledge of the members of the
group, as well as it favored a relation of bigger credibility and affectivity between these young
women and its parental relations. In the conclusion, it has the necessity of if opening more
fans, or either, that more works of this level either offered the population, at last to all the
people, therefore this methodology that is the arteterapia and its some resources, contributes
to the mental and physical health of huge, natural form and tranquila.
WORDS KEYS: Arteterapia, Contact, Feminine Universe, Matriarchy, Gestalt
Therapy.
9
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – MINHA TRAJETORIA
10
CAPÍTULO II – O QUE É ARTETERAPIA?
13
CAPÍTULO III – ABORDAGEM GESTALTICA
16
3.1 A Relação Dialógica na Gestalt-Terapia
19
CAPÍTULO IV – FALANDO DO MASCULINO E DO FEMININO
21
4.1 A Importância do Matriarcado
22
4.2 Resgatando o Feminino
24
CAPÍTULO V – ARTETERAPIA COM MULHRES – Vivenciando o
universo feminino na arteterapia – uma visão da abordagem
gestáltica
26
CAPÍTULO VI – RELATO DE EXPERIÊNCIAS
33
CAPÍTULO VII – O TRABALHO COM A ARTE (RECURSOS ARTÍSTICOS)
35
7.1 Imagens do Processo
35
7.1.1 TRABALHANDO A ENERGIA VITAL
35
7.1.2 TRABALHANDO A DOÇURA DA INFÂNCIA
36
7.1.3 TRABALHANDO COM A PINTURA
36
7.1.4 TRABALHANDO COM OS FANTOCHES
37
CONCLUSÃO
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
41
10
CAPÍTULO I – MINHA TRAJETORIA
Sempre quis fazer um curso de arteterapia. Tentei em São Paulo com Selma Ciornai,
mas por diversos motivos, não deu certo. Quando surgiu aqui em Belém, vibrei de alegria.
Pensei: “É agora que vou me tornar Especialista em Arteterapia”. E assim tudo começou.
Venho de uma família humilde e de poucos recursos financeiros. Sou a terceira filha
de uma prole de sete. Sou a única que conseguiu ter uma formação acadêmica. Há 14 anos sou
formada em Psicologia. Atuo na área clínica em consultório particular e atualmente estou
como professora e supervisora da Abordagem da Gestalt-Terapia na Universidade Federal do
Pará – UFPA.
Minha infância foi bastante difícil pois perdi meu pai aos cinco anos. Minha avó
paterna foi quem ajudou minha mãe a cuidar de mim e de meus irmãos. Cresci escutando
nossas dificuldades financeiras.
Aprendi a fazer bolos, costurar, fazer crochê, tudo com minha avó. Cresci sonhando
em ter uma vida melhor. Dava aulas para crianças e dançava muito, bem como fazia poesias
sem saber que eram poesias. Agora percebo o quanto a arte estava em mim.
Comecei a trabalhar com carteira assinada aos dezoito anos. Sempre ajudando minha
família. Acredito que fui por muito tempo “arrimo de família”, mas nunca deixei de estudar.
Hoje sei que sou “orgulho” para muita gente que gosta de mim. Trabalhei numa Empresa de
Telecomunicações por dezenove anos sempre sentindo que faltava algo na minha vida.
Formei em Psicologia, entrei para a clínica e para a docência, mas confesso que
sentindo a falta de algo mais no meu dia-a-dia. Me tornei Especialista em Psicomotricidade,
em Gestalt-Terapia e o vazio dentro de mim, crescendo cada vez mais.
Sempre senti falta de “alguma coisa” em meu trabalho. Hoje, terminando este curso
tenho clareza que é a arteterapia que faltava em minha vida como um todo. Durante este curso
prometi a mim mesma ser fiel, ou seja, ser verdadeira com meus sentimentos, emoções,
11
pensamentos, e assim me mantive. A cada módulo experienciei com todos os meus sentidos:
Chorei, sorri, entrei em contato, revi, elaborei, ressignifiquei muito da minha história,... a cada
emoção vivida, dizia a mim mesma: Que bom que me entreguei!
Lembro muito que quando criança e adolescente, ao ficar triste corria para esconder
minha tristeza, não queria que alguém me visse chorar, não sabia dizer não aos outros, estava
sempre passando por cima de mim mesma. Ao entrar para o curso de arteterapia, fiz uma
promessa: Serei fiel a mim. E assim o fiz.
Não me arrependo, pois aprendi a dizer não com ternura, com doçura, porém com
firmeza. Sem passar por cima de alguém, porém o mais importante aprendi que não posso
amar mais alguém do que a mim mesma. E agora não passo por cima de alguém e também
não passo por cima de mim. Eu sou tão importante quanto o outro. Eu mereço ser bem tratada
quanto o outro. EU ESTOU COM O OUTRO, portanto, eu mereço ser feliz com o outro.
Encontrei na arteterapia uma de minhas formas, agucei mais minha intuição, e a
minha maneira de fazer algo mais, o meu fazer artístico junto com o meu aprender. Percebo
que na arteterapia posso estar preenchendo muitas vezes um vazio que existe dentro de mim.
Bem como realizar vários sonhos, junto é claro, com a psicologia, que também adoro.
Posso unir a Psicologia que é algo que adoro com a arteterapia, como posso também
trabalhar apenas a arte, pelo PRAZER DE FAZER ARTE.
Para finalizar minha trajetória, escrevo e acredito no seguinte poema:
ESTOU TE ENCONTRANDO
NO CAMINHO DO IR E VIR
NO AQUI AGORA
NA RELAÇÃO EU TU.
12
JUNTOS PODEMOS NOS ENCONTRAR
COMO TAMBÉM PODEMOS NOS SEPARAR
SEMPRE CONFIRMANDO UM AO OUTRO E
SEMPRE NA CERTEZA DE PODER CONTAR UM COM O OUTRO.
“A experiência artística é para o crescimento pessoal e para a educação e para a
criatividade, para o aumento da consciência, etc...”(Rhyne, 2000)
13
CAPÍTULO II – O QUE É ARTETERAPIA?
É a abordagem que se utiliza da arte para facilitar a expressão pessoal comunicando
sentimentos de forma verbal e não verbal. É um campo que tem identidade própria
compreendendo seu corpo teórico e sua metodologia. Sustenta-se na crença de que a atividade
envolvida nos recursos artísticos, facilita o desenvolvimento e potencialidades do ser. É um
método terapêutico que utiliza a linguagem artística como meio de comunicação e expressão
nos procedimentos de diagóstico (avaliação) e/ou tratamento.
Conforme definição da AATA; American Art Therapy Association (apud Carvalho,
1995):
Arteterapia é uma profissão assistencial ao ser humano. Ela oferece oportunidade de
exploração de problemas e de potencialidades pessoais por meio da expressão verbal e nãoverbal e do desenvolvimento de recursos físicos, cognitivos e emocionais, bem como a
aprendizagem de habilidades, por meio de experiências terapêuticas com linguagens artísticas
variadas (...) (p. 23).
Arteterapia e o processo de se trabalhar de forma amorosa, acolhedora, integrando
sentimentos bons ou ruins, trabalhando limites e possibilidades. Com a arteterapia utilizo
recursos plásticos, artísticos, corporais, desenhos, pinturas, argila, músicas, poesias, sucatas,
etc...
É a descoberta do meu ser, do meu interior, através de um desenho posso ver como
estou, para onde estou indo, fazendo ou atuando no mundo. Posso perceber de forma lúdica
minha agressividade ou minha teimosia, minha arrogância ou minha doçura – o estar comigo.
A visão de como estou comigo, com o outro e com o mundo, me é mais acessível.
É a forma suave, amorosa de ser e fazer, de sentir e perceber, de brincar, de rir e de
chorar. É o cuidado, é a ética, é o servir a mim mesma e ao outro com muito amor e respeito.
É ter consciência do meu eixo, da minha intenção. É a minha forma de fazer contato e de
14
dialogar, de suavizar os meus mais sublimes sentimentos e pensamentos. É o diálogo amoroso
comigo mesma.
A arteterapia se apresenta de técnicas e materiais artísticos diversos na busca de
resultados terapêuticos, na expressão e na elaboração de conteúdos internos da pessoa.
Quando utilizamos a pintura por exemplo, esta constitui desde a pré-história uma prática
constante do ser humano, que serve de comunicação de sentimentos, de idéias e de emoções.
Ao pintar espontaneamente, a pessoa simplesmente permite-se levar pelo ato. Em geral não há
um planejamento do que se vai pintar, as emoções vão surgindo e se fazendo presente na
pintura. Na realidade, pode-se observar o predomínio da emoção sobre a razão, ou seja, o
cognitivo dá lugar a uma consciência não racional, é o que podemos chamar de entrega e
confiança. Susan Bello (1996. p.93) em sua afirmação a seguir, confirma: “(...) através de uma
pintura, vemos uma parte da psique necessitando expressar aquilo que não é ainda capaz de
integrar dentro da estrutura do ego existente.”
Valladares e Oliveira (2002), afirmam: “(...) a pintura apresenta um valor terapêutico
distinto das demais técnicas, pois facilita a expressão das emoções através da fluidez da tinta e
induz movimentos da expansão da psique do indivíduo.” (p. 20)
Segundo Ciornai (2004) afirma: “(...) ao tomar contato com o vasto leque de
possibilidades de utilização de recursos expressivos em dinâmicas grupais e experimentos
terapêuticos, terapeutas iniciantes muitas vezes ficam deslumbrantes demais, fazem
demais...”(p. 120)
Portanto, devemos ter cuidado com as diversas possibilidades dos recursos
oferecidos. Uma vez que eles servem para:
Ampliar a capacidade de percebermos a nós mesmos, no
processo da estimulação do auto-conhecimento e da autoestima, uma vez que favorece o conhecimento através da
pintura, da argila, da areia, da poesia, do desenho, enfim dos
diversos recursos ofertados. O canal de comunicação entre
conteúdos internos e externos, facilita a elaboração dos
mesmos proporcionando meios para uma organização e
equilíbrio interno através do processo criativo. Servem ainda
15
para trabalhar a dor de maneira suave e as relações
interpessoais, favorecendo a integração e socialização da
pessoa no contexto grupal.
A Arteterapia serve a todas as pessoas que se dispuserem a estar em contato com esta
nova forma de se trabalhar diferentes contextos, de diferentes faixa etária. Pode ser utilizada
em ateliês de arte, em consultórios de psicologia, em hospitais, em centros comunitários, nas
escolas, nas empresas... qualquer profissional pode se utilizar da arteterapia, desde que se
submeta a formação e/ou especialização adequada.
Embora sua utilização como instrumento que facilita a cura seja milenar, a
arteterapia tem pouco menos de 100 anos de existência e, como profissão, é ainda mais
recente, principalmente no Brasil. Temos observado que o uso deste método terapêutico, têm
aumentado significativamente, o que favorece o desenvolvimento da criatividade e a busca de
entendimento das reais necessidades do indivíduo, além de reduzir o tempo necessário para o
tratamento, tornando o cliente mais participativo de seu processo pessoal.
Elizer (2004), afirma: “(...) A Arteterapia com finalidade terapêutica promove um
campo de forças de grande poder de comunicação, expressão, reabilitação e o
encaminhamento correio de uma energia represada ou mal canalizada, possibilita, além disso,
uma melhor socialização, respeitando as origens e a genética do cliente”. (p. 17)
16
CAPÍTULO III – ABORDAGEM GESTALTICA
A Gestalt-Terapia é uma abordagem fundada por Frederick S. Perls e colaboradores,
que enfatiza o contato. Feris era psicanalista judeu de origem alemã que emigrou para os
Estados Unidos, aos 53 anos. Se fundamenta nos pressupostos filosóficos do Humanismo, do
existencialismo, da fenomenologia e da relação dialógica de Martim Buber, bem como da
teoria de campo, teoria organísmica e teoria holística.
A gestalt-terapia não tem como recurso explicar a origem de nossas dificuldades,
mas experimentar pistas para soluções novas, enfatiza o sentir, o experienciar. Para esta
abordagem cada um é responsável por si, por suas escolhas e também pelas evitações. Cada
pessoa trabalha no seu próprio ritmo, a partir do que emerge no momento.
Segundo Ginger, (1995) em sua afirmação: “(...) A gestalt, para além de uma simples
psicoterapia, apresenta-se como uma verdadeira filosofia existencial, uma “arte de viver”,
uma forma particular de conceber as relações do ser vivo no mundo”, (p. 17)
Abordagem que surge no Brasil por volta dos anos 70, onde um grupo de psicólogos
e psiquiatras com formação em outras tendências teóricas, interessam-se por esta nova
proposta de trabalho.
Embora estejamos em um mundo onde as relações possuem muita influência, o que
torna cada ser humano diferente um do outro, não é propriamente a sua história de vida, a
história que viveu, mas como e o que esta pessoa faz com a sua história. Ou seja, quais são as
suas escolhas, como age ou como recebe as influências vindas do meio , como reage diante
dos fatos? Enfim, qual a construção que a pessoa faz de sua própria história.
Rodrigues, (2000) afirma: “(...) a abordagem gestáltica valoriza muito e ratifica a
possibilidade de contato, de comunicação, de trocas entre o ser humano e o seu mundo, de
maneira saudável, satisfatória e auto-reguladora, de acordo com as necessidades emergentes
do seu organismo”, (p. 87)
17
Enfatizando a visão existencial, a existência precede a essência. A capacidade
humana de escolher e criar a própria vida, transcende limites e condicionamentos, mesmo
diante das dificuldades que a pessoa enfrenta no dia-a-dia.
Ciornai, (2004) considera tais afirmações: “(...) Na visão existencial, o ser humano é
visto sempre em possível estado de refazer-se e de escolher e organizar a própria existência
criativamente, sendo sujeito da própria história, artista da própria vida”. (p. 54)
Yontef (1981,1998) afirma que a Gestalt-terapia é definida por três princípios:
É fenomenológica, sendo seu objetivo e metodologia principal
a awareness (uma forma de experienciar), estando em contato
atento com o que é mais importante do campo/ambiente, com
apoio energético, cognitivo, emocional e sensorial), baseia-se
no existencialismo dialógico: processo de contato/afastamento
Eu-TU (Marfim Buber), onde a visão de mundo gestáltica
inclui o holismo e a teoria de campo.
Sendo fenomenológica, contempla os fenômenos, para que estes se revelem à
consciência, à medida que são observados, sem apriores e julgamentos, tentando interroga-los,
descrevê-los e compreende-los no seu contexto, onde a explicação não existe.
Ao basear-se no existencialismo dialógico, considera o ser humano como singular,
em constante interação com o que o cerca e com os outros, sendo capaz de experimentar,
construir, escolher, assumir e ser responsável por suas escolhas e por dar forma à sua
existência.
A importância da relação dialógica e do encontro, tanto como fator estruturante do
ser, quanto como fator curativo dos diálogos abortados nas patologias é destacada por Hycner,
(1991) quando este faz referências aos pré-requisitos ao diálogo genuíno, que são: Presença,
que é o estar disponível ao outro sem julgamentos, atento à experiência do outro, colocando
entre “parênteses”todos os valores, que de forma significativa possamos estar inteiros com
quem estamos trabalhando.
18
May, (1983) afirma: “O uso de si próprio como instrumento exige, é claro uma
tremenda autodisciplina por parte do terapeuta... Na verdade, quero dizer que a autodisciplina
(se assim vocês a entendem), colocar entre parênteses as próprias distorções e tendências
neuróticas, até o limite possível para um terapeuta, parecem-me resultar em torná-lo capaz –
em maior ou menor grau - de experienciar o encontro como uma forma de participar dos
sentimentos e do mundo do paciente.”(p. 23)
Podemos também citar a Inclusão, pois para Buber, precisamos praticá-la. Ela ocorre
quando uma pessoa, que pode ser o terapeuta, os pais, ou mesmo os mestres, vivem o evento
comum aos dois a partir do ponto de vista do outro. Hycner também cita Confirmação, onde o
seu significado é o reconhecimento e afirmação da existência do outro.
Yontef (1981, 1988), afirma ser o diálogo a forma particular de contato mais
apropriada para uma relação terapêutica fenomenológico-existencial. O diálogo é a forma de
contato EU-TU e nas fronteiras de contato, baseando-se na autenticidade das pessoas
envolvidas na relação.
O contato é a consciência de e o comportamento em direção à novidade assimilável e
a rejeição da não assimilável. O Contato é a realidade mais simples e primeira (Perls,
Hefferline e Goodman, 1997).
Percebe-se que é a partir do contato que se propicia a awareness. Awareness e
Contato são dois instrumentos principais da Gestalt-Terapia. Awareness é uma forma de
experiência que pode ser definida aproximadamente como estar em contato com a própria
existência, com aquilo que é.
Yontef (1998), afirma que “a Awareness total é o processo de estar em contato
vigilante com os eventos mais importantes do campo indivíduo/ambiente, com total apoio
sensorimotor, emocional, cognitivo e energético”, (p. 31)
19
Contato é um ato de auto-consciência totalizante, envolvendo um processo no qual as
funções sensoriais, motoras e cognitivas se unem, em complexa interdependência dinâmica,
para produzir na pessoa e na sua relação com o mundo, através de uma energia de
transformação que opera em total interação eu-mundo. (Ribeiro, 1995, p. 8).
Portanto, percebe-se a importância do contato enquanto agente de consciência e de
mudança na vida da pessoa, considerando que a pessoa faz contato consigo mesma, com o
outro, com o ambiente, passando por períodos de contato e afastamento, até mesmo para
assimilar ou rejeitar o “objeto” de contato.
Quanto à visão de mundo gestáltica, refere-se a idéia de “todo”, que difere da soma
das partes, sendo que as partes só tem significado quando em referência ao todo ao qual
pertencem, sendo aquele também básico para as mesmas. Por isso a palavra alemã gestalt,
sem tradução exata para o português, se situe nos termos configuração, estrutura, tema,
relação estrutural ou todo organizado e significativo (Perls, Hefferline e Goodman, 1997).
3.1 A Relação Dialógica na Gestalt-Terapia
Yontef (1981, 1998) afirma ser o diálogo a forma particular de contato mais
apropriada para uma relação terapêutica fenomenológico-existencial. O diálogo é a forma de
contato Eu-Tu e nas fronteiras de contato, baseia-se na autenticidade das pessoas envolvidas
na relação.
Hycner cita Friedman (1965) na definição do dialógico:
Entende-se por dialógico o contexto relacional total em que a
singularidade de cada pessoa é valorizada. Relações diretas,
mútuas e abertas entre as pessoas são enfatizadas, e a plenitude
e presença do espírito humano são honradas e abraçadas. É
mais uma abordagem profundamente sentida do que uma teoria
(Friedman, apud Hycner, 1997).
Outros autores baseados na Filosofia Existencial e na Psicologia Humanista, como
(Burow & Scherpp, 1985, p. 108) afirmam:
 o ser humano é no fundo um ser digno de confiança;
20
 o ser humano carrega dentro de si um enorme potencial de possibilidades cuja
liberação depende somente da criação das premissas correspondentes;
 o ser humano é um ser social;
 o ser humano é por si só ativo e por isso muda a si mesmo, constantemente, assim
como suas relações com o meio;
 o indivíduo visa a um desenvolvimento global de suas capacidades e
possibilidades;
 as ações do ser humano só podem ser compreendidas em sua totalidade.
Podemos portanto, concluir que não basta ao arteterapeuta apenas conhecimento
teórico ou técnico, mas disponibilidade à relação verdadeira e um “centro”, de si que permita
estar com o outro enquanto um outro a ser respeitado, reconhecido e valorizado, sem que seja
ameaça ao próprio eu.
É através do estar amorosamente com o outro que o arteterapeuta cria condições para
que o outro possa ouvir, ver, compreender, aceitar e amar a si mesmo.
21
CAPÍTULO IV – FALANDO DO MASCULINO E DO FEMININO
As diferenças de gênero constituídas social e culturalmente deixaram marcas
profundas na formação da identidade e na definição dos espaços sociais masculinos e
femininos. Historicamente, homens e mulheres vêm passando por uma série de vivências que
desestabilizam as antigas fronteiras de gênero.
No que tange à sociedade primitiva, houve um tempo em que homens e mulheres
viviam em harmonia, pois coexistiam de forma recíproca. Não se confrontavam em lutas pelo
poder, os grupos eram governados pela persuasão, existia rodízios de lideranças.
Leonardo & Rose, (2002, p. 13) afirmam: “os princípios feminino e masculino então
– e por um milhão e meio de anos – governam o mundo juntos”.
Posteriormente, a situação modificou-se e o meio tornou-se mais hostil - eis que
surge a sociedade de caça, quando se inicia a dominação do masculino sobre o feminino.
Neste momento a relação homem/mulher passa a ser de dominação e a violência,
passa a ser a base das relações entre os grupos e entre a espécie e a natureza. É o princípio
masculino que governa o mundo sozinho.
No século XX, com a II Revolução Industrial, a mulher começa a ter um novo olhar
sobre si mesma.
Leonardo Boff, 2002, p. 52. afirma: “(...) Embora fosse instrumentalizada e, de certa
forma, objetivada para fins superiores aos individuais, ela continuava a manter, como pessoa,
o seu valor. Ela é sinal, mas também produtora de sinais, e há inclusive a percepção de que a
mulher, de certa forma, além de servir de objeto para sociabilidade, não deixa de continuar
sujeito. Transformada em objeto, é ofendia e diminuída”.
22
4.1 A Importância do Matriarcado
Leornardo Boff, ressalta o matriarcado e o patriarcado enquanto instituições, onde as
mulheres comparecem como as principais produtoras da cultura. Ele afirma que há pelo
menos 30 (trinta) mil anos, florescia em todo o continente, o matriarcado, ou seja, a
predominância da mulher.
É o tempo das grandes deusas que inspiram uma organização social, marcada pelo
espírito de cooperação e também de mistérios. As mulheres detinham a hegemonia política,
mediavam e solucionavam conflitos, além de organizarem a sociedade. Garantem a
continuidade da vida. Dão à luz.
Segundo Leornardo Boff, 2000, p. 54. “(...) o fim do matriarcado é situado
atualmente, por volta de 2000ª C.” onde o mundo começou a partir daí a pertencer aos
homens, originando-se o patriarcado, marcado pelo machismo e da ditadura cultural do
masculinismo.
O homem passou a dominar a mulher, construindo relações de poderes altamente
desumanas e conflitivas, resultando um patriarcado marcado pelo terror, principalmente para a
mulher. Começaram as diferenças de sexo, de cor, onde as mulheres negras ganhavam menos
que as mulheres brancas, quando uma mulher esperava um filho do sexo feminino era
obrigada a fazer aborto, etc...
Começam os conflitos entre as relações de gênero, principalmente no seio da família,
originando disputas pelo poder, onde as relações são carregadas de tensão, medo, opressão,
humilhação e subserviência.
Apesar do feminismo vir se opor a esta luta, o feminismo clássico e o pósfeminismo, que incluíram uma democracia participativa e aberta entre os gêneros, podemos
perceber que a guerra entre os sexos continua, que muitas vezes dentro da família, da
sociedade como um todo, existe ainda a humilhação, a tensão, o medo e também a
23
subserviência, entre pais e filhos, maridos e esposas, irmãos, chefes e subordinados amigos,
etc... infelizmente a relação de poder perdura até hoje.
Infelizmente esses movimentos geraram também uma certa confusão entre igualdade
de direitos e igualdade de natureza entre homens e mulheres. Muitas mulheres passaram a
desvalorizar o que pertence à natureza feminina e valorizar com muita ênfase o que pertence
por natureza ao masculino.
No livro de Selma Ciornai “Da contracultura à menopausa”, podemos encontrar
depoimentos de mulheres que marcam esta época:
“A sensibilidade não era muito permitida, era uma coisa meio babaca, meio piegas,
porque a gente achava que havia coisas mais sérias a serem feitas...”
“(...) não dava pra ser gentil, era um universo muito masculino!” (p. 74)
24
4.2 Resgatando o Feminino
Homens e mulheres são diferentes por natureza o que significa que são diferentes não
apenas na aparência, mas também no jeito de ser e no jeito de compreender e estar no mundo.
Podemos afirmar com certeza que os movimentos feministas e de emancipação trouxeram a
necessidade de mudanças entre homens e mulheres.
À medida que o mundo e a realidade se transformam, transformam-se também os
papéis sociais e as necessidades de homens e mulheres. Se homens e mulheres são diferentes
por natureza, é claro que além das diferenças físicas, há diferenças biológicas e fisiológicas,
portanto, há diferenças na totalidade do ser.
Os gêneros masculino e feminino, referem-se à identidade de gênero e não à
sexualidade. Homens continuam sendo homens e mulheres continuam sendo mulheres.
Embora nos homens há predominância de aspectos masculinos e nas mulheres de
aspectos femininos, há de alguma maneira em todos nós uma natureza andrógino do grego:
andros = homem e gyno = mulher.
De acordo com Gênesis na mitologia judaico-cristã. Deus era andrógino, contendo
elementos tanto masculinos quanto femininos, e nós, seres humanos, fomos criados à sua
imagem e semelhança.
Na filosofia chinesa há yin e yang, sendo:
 Yin o princípio feminino, (lua, nublado, escuro, noite);
 Yang o princípio masculino, (sol, céu, firmamento, brilho, dia).
Leonardo Boff, afirma:
“...Masculino e feminino existem em cada ser humano, homem e mulher como forças
produtoras de identidade e de diferenças...)”;
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(...) pertence ao masculino da mulher e do homem o movimento para a
transformação, para o trabalho, para a agressão, para a clareza que distingue, separa e ordena.
Pertence ao feminino do homem e da mulher, a capacidade de repouso, de cuidado, de
conservação, de entender símbolos e mensagens inscritas nos fatos, de cultivar o espaço do
mistério que desafia sempre a curiosidade e a vontade de conhecer.
No feminino, a reverência em face do mistério da vida e de Deus, no masculino, a
vontade de conhecer e decifrar todos os mistérios”, (p. 75-6)
26
CAPÍTULO V – ARTETERAPIA COM MULHERES – VIVENCIANDO O
UNIVERSO FEMININO NA ARTETERAPIA – UMA VISÃO DA
ABORDAGEM GESTÁLTICA
Esta pesquisa inicialmente era para ser com mulheres vítimas da violência doméstica
por seus parceiros ou por seus pais. Como não foi possível reunir mulheres que se
enquadrassem nesta categoria, a pesquisa foi feita apenas com jovens mulheres, entre 21 e 32
anos, onde foi trabalhada a auto estima e o autocrescimento. Pesquisa realizada através do
estágio em encontros semanais no período de 08 (oito) meses, com carga horária de 110
(cento e dez) horas, com 02 (dois) grupos de mulheres.
Portanto, este trabalho tem como referência de Análise o Ciclo de Contato, (Ribeiro,
1995), onde é percorrida cada etapa do ciclo, de acordo com o relato de experiências de duas
mulheres que tiveram grandes momentos de mudanças, no decorrer do estágio de arteterapia.
Através dessas 02 (duas) participantes, pois o grupo era composto por 08 (oito)
mulheres, percebemos claramente o fator de mudança. Algumas chegaram a verbalizar o
quanto a arteterapia as ajudou. Porém, a mudança visível se fez presente com I e R.
As dificuldades surgiram no decorrer dos primeiros contatos, uma vez que tínhamos
a Delegacia das Mulheres como prioridade, pois queríamos trabalhar com mulheres vítimas da
violência doméstica.
Como a dificuldade foi “logo de cara”, mudamos o foco, escolhemos que
trabalharíamos com jovens mulheres, e assim o fizemos. Montamos 02 (dois) grupos, um que
funcionava às sextas feiras de 14:00 h às 16:30 h e outro que funcionava às quintas feiras de
19:00 h às 21:30 h. Apesar de termos escolhido apenas duas participantes do primeiro grupo,
ressaltamos que também o segundo grupo teve grandes mudanças.
Os encontros aconteciam no Consultório de Psicologia que me pertence, onde a sala
era relativamente grande, existiam vários colchonetes, um aparelho de som, um sofá e vários
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recursos de arteterapia. Podemos dizer que a sala era aconchegante. Os encontros aconteciam
uma vez por semana.
No decorrer de nossa caminhada, pudemos perceber sutis mudanças, onde cada
participante dentro de suas capacidades de exteriorização, verbalizava algo novo no seu dia-adia. Durante as atividades (essa descrição refere-se ao primeiro grupo), havia momentos em
que tudo parecia “uma grande brincadeira”, “uma grande festa”, quando surgia risos,
aceitação, respeito. Em outros momentos, surgia “clima” de rivalidades, discussões,
desacordos, etc. E, ressaltando, havia momentos também de muito choro.
Continuando o processo, o grupo foi se modificando. Cada uma, à sua maneira teve
uma nova forma de se expor no grupo. Houve mudanças de uma fase de estranhesa, para uma
fase onde foram respeitando os sentimentos e as atitudes, bem como a vivência de cada uma.
Houve um grande passo nesta caminhada, cada participante passou a se ver com mais
autonomia, descrevendo sua trajetória nas relações parentais, situando-se nos seus espaços de
filha, de namorada, de esposa, de amiga e principalmente de mulher. Acreditamos que esse
avanço se deu a partir do momento em que cada uma foi revendo e entendendo seus valores
pessoais, sua história de vida, para então, aceitar as diferenças entre si e o mundo. O trabalho
em arteterapia facilitou esta interação e conseqüentemente a criatividade dessas jovens
mulheres.
Gostaria de estar enfatizando a força da mulher com a música de Erasmo Carlos
“SEXO FRÁGIL”.
A FORÇA DA MULHER
“Dizem que a mulher é sexo frágil
mas que mentira absurda
eu que faço parte da rotina de uma delas,
sei que a força está com elas...
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Vejam como é forte a que eu conheço, sua sapiência não tem preço
Satisfaz meu ego se fingindo submissa
Mas no fundo me enfeitiça.
Quando eu chego em casa à noitinha, quero uma mulher só minha
Mas, pra quem deu luz não tem mais jeito porque o filho quer seu peito
O outro já reclama sua mão, o outro quer o amor que ela tiver...
Quatro homens dependentes e carentes da força da mulher.
Mulher, mulher, do barro no qual você foi gerada
Me veio inspiração pra decantar você nesta canção...
Mulher, mulher, na escola em que você foi ensinada, jamais tirei um dez
Sou forte mas não chego aos seus pés (bis)”.
Ressaltamos que este trabalho tem como referência de análise (O ciclo de Contato e
seus Fatores de Cura), de Jorge P. Ribeiro, onde é percorrida cada etapa do ciclo, de acordo
com o relato de experiências de duas mulheres que tiveram grandes momentos de mudanças,
no decorrer do estágio de arteterapia.
Para Ribeiro (1995, p. 9) o ciclo de contato compreende:
O Conceito de Contato que inclui tudo: valores, desejos,
negações, que operam no momento em que o encontro se dá e
que estão operando sempre, diria, num nível não consciente,
através de uma matriz mental, interna, subjetiva. Como uma
ante-câmara, onde o encontro eu-mundo ocorre primeiro”.
O ciclo de contato é visto como uma totalidade (biopsicosocioespiritual), que muitas
vezes é quebrada pelo dia-a-dia, uma vez que estamos sempre habituados a dar as mesmas
respostas, não discriminamos mais o que sentimos, fazemos ou dizemos. E é desta forma que
interrompemos o contato, uma vez quando contínuas e perturbadoras, se tornam as chamadas
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resistências, que são formas desesperadas de manter, a todo custo, a relação organismo eumundo.
Os Bloqueios de Contato e os Fatores de Cura criados e revistos por Ribeiro (1997),
são os seguintes:
FIGURA 1 – VISUALIZANDO E TRABALHANDO NO CICLO DE CONTATO
 Fixação: Processo pelo qual a pessoa se apega excessivamente às pessoas, idéias,
coisas, temendo surpresas diante do novo e da realidade, sentindo-se incapaz de
explorar situações novas, permanecendo fixado em coisas e emoções passadas. Há
medo de correr riscos.
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 Fluidez, Fator de cura da Fixação em que há o processo pelo qual a pessoa se
movimenta, localiza-se no tempo e no espaço, deixa posições antigas, renova-se,
sente-se com disposição e espontaneidade para criar e recriar a própria vida.
 Dessensibilização é o entorpecimento, a frieza diante de um contato, há
diminuição sensorial no corpo. Não há estímulos externos existindo a perda e o
interesse por sensações novas e intensas.
 Sensação é o fator de cura da sensibilização. É quando a pessoa sai da frieza
emocional, sentindo-se mais atenta aos sinais de seu corpo procurando por novos
estímulos.
 Deflexão: Neste mecanismo há diminuição do contato pelos sentidos, existindo
desperdício de energia na relação com o outro, quando a pessoa usa um contato
indireto, vago, inexpressivo. Há a sensação de incompreensão, desvalor, etc.
 Consciência: Fator de Cura da Deflexão. Neste processo a pessoa se dá conta de
si mesma de forma clara e reflexiva. Estando mais atenta à sua volta,
relacionando-se de maneira mais recíprocas consigo mesma e com o outro.
 Introjeção: Bloqueio de Contato a pessoa obedece ordens, leis, opiniões
arbitrárias, sem se dar conta que estas pertencem ao outro. A pessoa “engole
seco”, sem querer e sem conseguir defender seus direitos, sua forma de pensar. Há
o medo de sua própria agressividade e das dos outros. Deseja mudar, porém há o
medo da mudança. Acha e sente que todos sabem mais que ela.
 Mobilização: Neste processo há o desejo pela mudança. Há a necessidade de
exigir os direitos, de separar suas coisas das dos outros, de sair da rotina, de
expressar seus sentimentos e não há o medo de ser diferente.
 Projeção: Aqui existe o processo pelo qual a pessoa tem dificuldades de
identificar o que é seu. Atribui aos outros toda a responsabilidade que seria sua.
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Atribui ao mau tempo, ao acaso, etc. desconfia de todos como prováveis inimigos,
sentindo-se ameaçada pelo mundo. Há dificuldades de assumir responsabilidades
pelo que faz.
 Ação: Neste processo a pessoa expressa mais confiança nos outros, assume
responsabilidades pelos próprios atos, identifica em si a razão se seus próprios
erros, sem medo da própria ansiedade.
 Proflexão: A pessoa deseja que os outros sejam como ela. Manipula o meio afim
de receber aquilo que precisa, sempre na esperança de ter algo em troca. Há
dificuldade de reconhecer-se como sua própria fonte de nutrição.
 Interação: Fator de Cura da Proflexão. Onde a pessoa se aproxima do outro sem
esperar nada em troca. Age de maneira igual com total prazer. Convive sem
esperar retribuição.
 Retroflexão: É o bloqueio de contato onde a pessoa volta para si toda a energia
que poderia voltar para o mundo. Há o movimento de fora para dentro, ou seja,
dirige para si mesma sua raiva, seu descontrole, sua ira. Considera-se inadequada
em tudo que faz. Sente-se muitas vezes que é inimiga de si mesma.
 Contato Final: Seu fator de cura. A pessoa sente a si mesma como sua própria
fonte de prazer, há nutrição sem intermediários, relacionando-se com as pessoas
de maneira direta e clara.
 Egotismo: Sempre a pessoa se coloca como o centro das atenções, onde existe o
controle excessivo e rígido no mundo fora dela. Tem muita dificuldade em dar e
receber.
 Satisfação: A pessoa vê que o mundo é composto de pessoas. A outra pessoa
pode ser fonte de prazer no contato nutritivo, que a vida pode ser co-dividida.
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 Confluência: Bloqueio onde existe a forte ligação ao outro. A pessoa se liga de
maneira tão forte ao outro, sem diferenciar o que é seu do que é do outro. Aqui há
a perda da identidade.
 Retirada: A pessoa percebe que ela é separada do outro, que pode sair de
situações ou de relações sem perder a identidade. Gosto de estar em grupo, mas
também gosto de estar sozinha.
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CAPÍTULO VI – RELATO DE EXPERIÊNCIAS (INDICADORES DE MUDANÇA)
Aqui é mostrado o relato de 02 (duas) jovens mulheres, onde é percorrida cada etapa
do ciclo. Nesses relatos ressaltamos como análise enfatizando alguns bloqueios de contato e
seus respectivos fatores de cura, que foram identificado nas falas, nas atitudes, ocorrendo
grandes momentos de mudanças, no decorrer do estágio.
RENATA – 28 anos, dependente química, estava neste momento do ciclo
desenvolvendo o bloqueio da fixação. Estava fixada (nas drogas, nos mesmos amigos, na
mesma forma de perceber os pais, sempre afirmava: “meus pais me odeiam, não me
compreendem...”)
Através do Fator de Cura da Fixação (FLUIDEZ), Renata foi aos poucos fluindo,
onde começou um trabalho para emagrecer (perdeu 8 quilos), na arteterapia foi descoberta a
depressão e a partir daí, ela foi se conscientizando sobre as drogas e foi parando de consumir,
bem como no final do ano passou no vestibular. Renata no início da arteterapia, sentia
vergonha por não ser universitária.
RENATA – aqui também foi detectada a dessensibilização de Renata. No decorrer
do seu processo na arteterapia, Renata parecia muitas vezes não ouvir, não sentir, não olhar
nos olhos. Sua fala era meio desconecta. “Muitas vezes não sei o que sinto, minha mãe fala
comigo, nem ligo... com o tratamento da depressão, foi se sentindo mais enérgica, mais
participativa. Aos poucos Renata foi dando conta que precisava sair da frieza emocional que
se encontrava, começou a ouvir mais aos pais, aos amigos, iniciou um processo de se
perceber. Aqui foi percebido mais a sua sensação. Parecia não ouvir, sentia-se pouca
valorizada pela mãe, sempre fugindo dos assuntos onde a responsabilidade poderia ser sua.
Renata aos poucos foi percebendo suas responsabilidades nos seus atos, tendo consciência
maior de si mesma.
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Outra participante que teve grandes mudanças foi IASSODARA (que no decorrer do
estágio apresentava certa distância do grupo, e aos poucos foi se familiarizando e ocupando
seu espaço no grupo.
IA, como é chamada, apresentou o mecanismo da Introjeção – “Ele existe, eu não” –
Processo através do qual obedeço e aceito opiniões arbitrárias, normas e valores que
pertencem a outros, engolindo coisas sem querer e sem conseguir defender meus direitos por
medo da minha própria agressividade e da dos outros. Desejo mudar, mas temo minha própria
mudança, preferindo a rotina, simplificações e situações que são facilmente controláveis.
Penso que as pessoas sabem melhor do que eu o que é bom para mim, gosto de ser mimado.
IA – no início da arteterapia, mostrava uma grande dependência junto à mãe, ao
namorado e a uma amiga do grupo, Carol. Nunca apresentava idéia própria. Seu namoro era
muito conturbado por sua dependência. Apresentava ainda, sintomas referentes a bulimia
nervosa.
Através da Mobilização, fator de cura da Introjeção, IA foi aos poucos ganhando
autonomia e independência nos seus relacionamentos e atos, como também os sintomas da
bulimia desapareceram. Na MOBILIZAÇÃO, há o desejo de mudanças, de exigir meus
direitos, de não ter medo de ser diferente.
Segundo Ribeiro (1997), muitas vezes os bloqueios de contata se interrelacionam,
onde podemos identifica-los ao mesmo tempo.
Através dessas 02 (duas) participantes, podemos mostrar a utilização da arteterapia,
ou seja o que usamos para facilitar o trabalho.
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CAPÍTULO VII – O TRABALHO COM A ARTE (RECURSOS ARTÍSTICOS)
7.1 Imagens do Processo
Neste momento, utilizamos vários recursos como FANTOCHES, na confecção da
história pessoal, A Forma dos Sentimentos, sucatas, tintas, poesias, músicas, almofadas,
diálogo entre si e o outro, o trabalho com metáforas, que mostro nas seguintes fotos:
7.1.1 TRABALHANDO A ENERGIA VITAL
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7.1.2 TRABALHANDO A DOÇURA DA INFÂNCIA
7.1.3 TRABALHANDO COM A PINTURA
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7.1.4 TRABALHANDO COM OS FANTOCHES
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CONCLUSÃO
Através da arteterapia, pude perceber muitas mudanças em mim mesma. Revi
profundos sentimentos de inadequação, rejeição, sensibilidade, meiguice, enfim, muitos
sentimentos adormecidos. Fiz um juramento a mim mesma: serei fiel aos meus sentimentos, e
assim o fiz.
Pude perceber também que foi preciso muita reflexão, pois muitas vezes sentia
vontade de parar, por diversas razões. Mas logo em seguida encontrava forças para continuar.
Procurei sintonizar minha experiência clínica em psicologia, bem como minha
vivência, com a arte, prazer, intuição, comprometimento, porém, ressalto que foi muito difícil.
O trabalho realizado com essas jovens mulheres, também veio me sinalizar o
feminino e o masculino que existem dentro de mim. Pude rever minha condição de filha, de
amiga, de esposa, de mulher. Pude perceber também o quanto sou frágil e forte, doce e
amarga, menina e mulher.
Neste trabalho o potencial criativo de cada uma pode emergir, é bem como
Alessandrini (2001, p. 97) afirma:.
“A Dimensão criativa está presente em cada pessoa e pode emergir de forma natural
e espontânea, ou então ser fruto de trabalho intenso e profundo, gerador de novas formas”.
Acredito que ficou a semente do amor nessas jovens mulheres através da arteterapia.
Ficou a semente do divino, da espontaneidade, do gostar de si mesma, de ser mulher em cada
papel exercido, sem guerras de gênero, apesar dessa guerra ainda continuar em nossa cultura.
A abordagem da Gestalt-Terapia, ressalta as palavras de Sartre, filósofo francês “(...)
não importa o que fizeram comigo, importa o que eu faço com o que fizeram comigo”. (1943,
p. 166).
O potencial criador existe em cada ser, e a vivência com essas jovens mulheres, veio
confirmar esse potencial. Todas demonstraram o solo fértil existente em cada uma. E a
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semente plantada neste solo, cresce, floresce emergindo em uma linda árvore: A CONDIÇÃO
DE SER MULHER.
O trabalho com essas jovens mulheres, também trouxe o fator confiança e intuição. O
trabalho especialmente mostrou o quanto a Confiança em nosso potencial criador merece
atenção, assim como trouxe muito forte a intuição, que é uma característica importante na
arteterapia. Eu confio muito em minha intuição e acredito que essas jovens mulheres, a partir
de suas experiências, não serão mais as mesmas, assim como eu também não sou a mesma.
Lembro muito das palavras de Susan Bello: (1996. p. 62).
“Confie na voz da sua intuição. Reconheça o fato de que a
intuição existe. Reconheça que ela é uma forma válida de
conhecimento, que necessita ser explorada e cultivada. Tornese mais sensível para reconhecer quando a intuição está
ocorrendo”.
Nas palavras de Irene Arcuri, minha orientadora, 2004, p. 30:
“O uso da arteterapia implica reconhecimento da importância
do processo criativo como uma forma de reconciliar conflitos
emocionais, bem como facilitar a auto-percepção e o
desenvolvimento pessoal. A arte proporciona o reconhecimento
da dinâmica psíquica, é uma via de acesso à totalidade do ser”.
Portanto, gostaria de terminar ou finalizar ou ainda recomeçar, pois esta experiência
de arteterapia veio abrir leques de possibilidades de aprendizado, de realizações, de prazer, de
poder ouvir e sentir a voz do coração. DO MEU CORAÇÃO. É uma abordagem
metodológica que não pode parar, uma vez que é útil a todas as pessoas, de diferentes faixa
etária, independente de sexo, independente de cor, independente de alguma coisa. O trabalho
com essas jovens mulheres, que muito verbalizaram suas frustrações, decepções,
principalmente com os pais, com as relações parentais, veio sinalizar a importância da
arteterapia, pois com os recursos diversos que existem nesta metodologia, podemos observar e
experienciar a riqueza de abordagem. Enfim, na arteterapia existem mil possibilidades de
estar sempre se inovando, se recriando no nosso projeto existencial.
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mesmo”. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
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MARTA SANTOS DA SILVA