Queridos amigos, Por meio desta carta compartilho algumas propostas estratégicas que podem contribuir para o processo de fortalecimento e reconhecimento da especialidade, bem como para o seu crescimento. Inicialmente proponho fomentarmos a discussão quanto a capacidade instalada no Brasil para a realização dos transplantes. No caso dos transplantes de células tronco hematopoieticas é fundamental haver compreensão quanto à dinâmica de leitos disponíveis no País. Para tanto, faz se necessário distinguir as atividades entre TCTH autólogo e alogênico. No último levantamento realizado pela SBTMO/INCa verificou-se que foram realizados um total de 2.016 transplantes, dos quais 1.303 foram autólogos, no ano de 2012 (tendo em vista que não houve levantamento de dados de 2013). Mesmo seguindo a tendência mundial de realizar mais TCTH autólogos do que alogênicos, pois o número de pacientes que se beneficiam do auto TCTH é muito maior, ainda é realizada apenas a metade dos procedimentos alogênicos que deveriam ser feitos. E, neste contexto, muito possivelmente, um terço dos autólogos. No entanto, nas estatísticas oficiais apresentadas, pode-se avaliar que a capacidade instalada para o alogênico poderia aumentar muito em sua produção se todos os leitos arrolados fossem realmente dedicados a este fim. O auto TCTH é muito mais rápido, a mobi-mortalidade baixa e tem inúmeros pacientes com indicação para o procedimento. Os custos são significativamente inferiores, tanto financeiros, quanto em carga de trabalho para a equipe multidisciplinar. Além disto, como ressaltado antes, as doenças com indicação de TCTHa são mais comuns que as leucemias agudas, principal indicação atual do TCTHalo. Entretanto, vale ressaltar que a atividade autóloga não pode substituir os transplantes alogênicos. As instituições devem zelar para que seja respeitada a modalidade de transplante a qual determinado leito está destinado. No editorial “The medical importance of autologous hematopoietic stem cell transplantation” o qual fui autora, publicado na Revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul – AMRIGS, além de repercutir a experiência em transplantes autólogos do grupo de Santa Maria, cujos resultados foram publicados em artigo no mesmo número do periódico, sublinhei a demanda reprimida do TCTH autólogo no país. Com relação ao TCTH alogênico, a SBTMO publicou no primeiro semestre deste ano a nota de esclarecimento Panorama: leitos para TMO, na qual foram avaliadas e apontadas as necessidades de leitos para TCTH alogênico aparentado e não aparentado no Brasil. Neste sentido, a pesquisadora e membro do Conselho da SBTMO, Belinda P. Simões, recentemente levantou a morte em fila de transplante em Ribeirão Preto e deverá liderar, pela Sociedade, uma discussão sobre o assunto, com um olhar na situação do país como um todo. Outro aspecto preocupante é a demora na revisão da Portaria dos Transplantes, que irá contemplar a inclusão do procedimento como opção terapêutica aos pacientes falcêmicos. Transplantamos tarde. Logo, os resultados não podem ser muito bons (se não houver seleção) e pior do que tudo, a morte na fila do transplante (auto e alo) é inaceitável. Quantos pacientes perdemos? Quantos ainda vamos perder frente a esta realidade que enfrentamos hoje? Há aspirações por uma transformação, mas ainda são pouco efetivas as estratégias e ações capitaneadas por nós, enquanto Sociedade. Há também a pendência na liberação de recursos para a ampliação das unidades de transplante, decidida há mais de dois anos e o fomento ao Projeto de Centro Tutor, que mesmo já arrolado pelo menos a dobradinha Albert Einstein/ UFC, ainda aguardam a liberação dos recursos. Há mais de dois anos a SBTMO não tem assento, ou designou alguém representativo para ocupar este lugar no Ministério da Saúde. A última reunião da Câmara Técnica foi marcada exatamente para a época do Congresso Americano de Hematologia da ASH, o que impactou nas agendas e, obviamente, não houve quórum. Agora, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) convocou uma reunião para acontecer no dia anterior do início do Congresso Nacional da SBTMO. Estaremos presentes, sem dúvida e reconhecemos os esforços promovidos pelo SNT junto ao TMO. Precisamos buscar juntos mais ações em busca do reconhecimento de nossa entidade e classe. Somos tão importantes quanto os transplantadores renais (cirurgiões e clínicos), os de fígado, os de pulmão, os de pâncreas, os de intestino (pediatras e clínicos de adulto), para citar alguns, e que têm rotineiramente reuniões no SNT. Por isto, eu, como sócia, presidente da SBTMO, fiz uma consulta junto à AMB, na qual busquei informações quanto a perspectiva de nos tornarmos uma sociedade de especialidade. Verifiquei que podemos solicitar a presença de um representante da SBTMO, especificamente designado para este fim, na câmara técnica dos transplantes (SNT), assim como deve haver um regimento interno que especifique quantas vezes este grupo deve se reunir. Outro aspecto que venho a chamar a atenção neste documento cabe a formação de recursos humanos. Entre as iniciativas que colaboram nesta frente de capacitação, a LABMT, sob a liderança de Adriana Seber, membro do conselho da SBTMO, e da ABHH, vem desenvolvendo um estudo sobre a formação de recursos humanos em TCTH. Em tempo, vimos com satisfação a ABHH publicar edital de convocação para a prova de especialista em TCTH, o que atende a um anseio da comunidade de ampliar o espectro de especialidades que podem realizar TCTH no Brasil. É emblemática a publicação, também no mesmo dia, do edital para a prova de título de Especialista em Hematologia e Hemoterapia, facilitando sobremaneira, e até mesmo, talvez em demasia, a obtenção de um título emitido pela ABHH. Publico estas considerações aqui para abrir entre os sócios da SBTMO a discussão sobre leitos. Como sabem, sou gaúcha e pecuarista, aguento a discussão no tranco. Temos que intensificar a discussão sobre capacidade instalada e nos prepararmos para repensar nosso papel no TCTH no Brasil. Temos também que eleger uma nova diretoria a atuar a partir de agosto de 2016. Convido a todos a participarem desta discussão para juntos buscarmos soluções. Proponho que este momento venha a ocorrer na Assembleia Geral Ordinária (AGO), a ser realizada durante nosso Congresso, em Belo Horizonte, no dia 16 de agosto, às 19h, no auditório 1. Um grande abraço a todos e até Minas Gerais. Lucia Mariano da Rocha Silla Presidente da SBTMO Rio Grande do Sul, 4 de agosto de 2014