HORTAS
URBANAS:
UMA
OUTRA
PERSPETIVA
SOBRE ESPAÇOS VERDES INTELIGENTES
Autores: Maria Inês Sousa¹; Laura Costa¹; Frederico Meireles Rodrigues¹
Afiliação: 1 - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Palavras – chave: Hortas Urbanas; sustentabilidade; recreio
As Hortas Urbanas (HU) constituem não só uma forma de suprir dificuldades
económicas, como também contribuem para a ocupação recreativa e restaurativa.
Considerando a atualidade e relevância do tema, pretende-se demonstrar a
importância e especificidade destes espaços nos diferentes contextos urbanos ao
desenvolverem-se modelos concetuais. Este estudo, baseado no Projeto “Horta à
Porta” da LIPOR, pretende demonstrar como o design inteligente de HU pode
desempenhar um papel importante na promoção e valorização do seu caráter
multifuncional enquanto espaços verdes urbanos, ao destacar os seus benefícios
económicos, sociais e ecológicos.
INTRODUÇÃO E OBJETIVO
As HU continuam a ser locais de eleição para as populações urbanas. Hoje são parte
essencial da vida urbana, não só como forma de produzir alimentos, mas também
como local de encontro social, troca de experiências, aprendizagem e contacto com a
natureza, podendo ainda contribuir para o equilíbrio ecológico da paisagem urbana
enquanto espaços de regeneração.
Em Portugal tem-se verificado nas últimas décadas a implementação de HU nos
espaços urbanos, processo no qual os municípios e outras entidades têm envidado
esforços na criação e implementação de programas que visam a reconversão e
revitalização
de
espaços
urbanos
permeáveis
expectantes,
marginais
de
infraestruturas, obsoletos ou verdes deteriorados em HU. Destas entidades destaca-se
a LIPOR, empresa de gestão de resíduos do Grande Porto, com o Projeto “Horta à
Porta”.
Considera-se que ao se reconverterem estes espaços para HU estão a criar-se
espaços verdes urbanos, que oferecem grande variedade de funções como recreação,
valorização do sentido de comunidade aos níveis pessoal e social, pedagógico,
terapêutico, ecológico (Rodrigues et al., 2014) e com custos de instalação e
manutenção baixos, constituindo-se por isso como espaços verdes urbanos
inteligentes.
Realizou-se um inventário sobre HU em Portugal, de onde se destacam as da AMP,
que permitiu desenvolver modelos demonstrativos desta visão abrangente das funções
que as mesmas podem realizar, tendo por principal conceito assegurar as ligações
entre a agricultura urbana e os espaços verdes recreativos urbanos (Fig. 1).
HORTAS URBANAS COMO ESPAÇOS VERDES INTELIGENTES
Com os resultados deste inventário, é possível perceber que as HU podem promover
muitos dos benefícios ambientais e sociais presentes nos restantes espaços verdes
urbanos com a vantagem de serem menos dispendiosos para o erário público, e mais
sustentáveis uma vez que estão menos dependentes de sistemas produtivos
distanciados dos centros urbanos.
Fadigas (2010) refere que a agricultura urbana, com fins ambientais e paisagísticos,
pode ser uma fonte de rendimento para quem pratica esta atividade na cidade e dela
recebe benefícios, desde que estes espaços produtivos assumam as funções de zonatampão diversificada e de espaço verde da cidade.
Segundo a visão de Crouch e Wiltshire (2005), o futuro das HU depende da criação de
lógicas modernas que justifiquem a retenção e o compromisso entre a sua cultura e os
pretendentes ao cultivo da terra, ou seja, não só tidas como propriedade mas também
como recurso paisagístico e de lazer. Dessas lógicas salienta-se o design e o papel
que este pode desempenhar para garantir o seu futuro, preservando os seus princípios
ao mesmo tempo que acompanha os novos indícios de mudança.
O conhecimento e a tecnologia tal como a capacidade de interligação e troca de
‘know-how’ que permitam otimizar o funcionamento das HU, são cada vez mais
relevantes para que se possa criar e evoluir uma rede de HU devidamente estruturada
aos níveis local, regional, nacional e internacional. Neste âmbito, destaca-se a Ação
COST TU1201 que visa o estudo de HU e a sua importância no planeamento urbano
sustentável através da criação de uma plataforma científica.
METODOLOGIA
Com vista a demonstrar como as HU se podem tornar em importantes espaços verdes
recreativos urbanos, desenvolveu-se uma metodologia de trabalho cujo objetivo final é
a definição de modelos desenhados demonstrativos de uma organização inteligente
das suas vertentes funcional, formal e estrutural. Deste modo, foi organizada uma
análise comparativa entre uma seleção de casos de estudo internacionais e um caso
de estudo representativo da realidade portuguesa – o Projeto “Horta à Porta”.
A análise dos casos de estudo internacionais tornou-se determinante para o
reconhecimento
das
diferentes
abordagens
programáticas/estratégicas
e,
fundamentalmente, para a obtenção de parâmetros-base para a consequente
avaliação das HU do caso nacional referido. O passo seguinte definiu-se pela criação
de um inventário e consequente levantamento de campo. Nesta fase foram
consideradas 21 HU com diferentes contextos urbanos, tipologias e configuração
espacial. A sistematização dos dados recolhidos em desenhos e tabelas-síntese
permitiu aglomerar as potencialidades e fragilidades destes espaços, contribuindo para
a definição de linhas estratégicas e critérios orientadores para os modelos
desenhados.
RESULTADOS E CONCLUSÕES
A avaliação focou-se na qualidade estética, nos aspetos funcionais e ecológicos, na
estrutura e organização espaciais e a sua adequação às necessidades dos
utilizadores, o que possibilitou a definição de dois modelos aplicados a diferentes
contextos urbanos: um para as áreas urbanas periféricas, e outro para as áreas
urbanas consolidadas, testados através do desenvolvimento de três propostas de
projeto (Figs. 2 e 3).
Com os modelos desenhados alcançados pretende-se contribuir para a melhor
adequação da multifuncionalidade das HU, quer no domínio da produção hortícola,
que satisfaça as necessidades básicas dos utilizadores tendo as parcelas e acessos
preocupações de inclusividade (física, cultural e social), quer na provisão de espaços
de sociabilização e aprendizagem permitindo maior consciencialização ambiental na
produção, ações de formação e ainda a permanente preocupação com o recreio e
lazer permitindo o entendimento das HU como espaços verdes urbanos.
Os modelos desenhados definidos para as HU subentendem princípios que
contribuem para a preservação dos equilíbrios ecológico, social, económico, sem
descurar os conhecimentos técnicos e científicos de que dispomos pelo que se
considera que os modelos de HU propostos são inteligentes, constituindo-se por isso
como espaços verdes inteligentes.
Referências bibliográficas
Crouch, David e Wiltshire, Richard (2005): “Design on the plot: The future for
allotments in urban landscapes”. In: Continuous Productive Urban Landscapes:
Designing Urban Agriculture for Sustainable Cities. Oxford: Architectural Press: 125131.
Fadigas, Leonel (2010): Urbanismo e Natureza. Lisboa. Edições Sílabo, Lda.
Rodrigues, Frederico, Costa, Sandra, Silva, Bianca, Fernandes, Lina, Sousa, Maria, e
Silva, Mariana (2014): Towards the classification of Urban Allotment. In ECLAS
Congress 2014 Proceedings "Landscape: a place of cultivation". Porto September
2014.
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uma outra perspetiva sobre espaços verdes inteligentes