CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SENSO COMUM: ENSINO DE CIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA PARA A FORMAÇÃO CRÍTICA MARTINS, Edneia (HUOP/UNIOESTE/SEED) [email protected] RESUMO: Este trabalho aborda uma breve discussão sobre o ensino de ciências na Educação de Jovens e Adultos, em relação ao conhecimento científico, ao senso comum, bem como a sua importância na formação crítica do educando para a transformação social. Foi dado ênfase na aprendizagem significativa partindo de concepções dos alunos da EJA. Considerou-se, para tanto, o processo de formação de conceitos para a apropriação dos conhecimentos científicos no ensino de ciências. Com a finalidade de compreender o processo, foi aplicado um questionário qualitativo e quantitativo, objetivando identificar se os alunos utilizavam em suas respostas explicações científicas, discursos do senso comum ou argumentos com aproximações científicas. Foi verificado um número de respostas significativas em processo de formação de conceitos científicos. Isto sugere que o professor deva abordar, em seu trabalho, os conhecimentos sob diversos contextos em diferentes mediações, o que pode possibilitar a assimilação do saber científico resultante da investigação da natureza no contexto histórico. Sendo assim, abrem-se possibilidades, ao educando, de ampliar a sua visão de mundo, a fim de transformar a sua realidade para viver melhor. PALAVRAS-CHAVE: Ciências; EJA; Científico; Senso Comum. 1 - Introdução Na antiguidade os gregos buscavam a razão para superar o mito, ou mesmo, o saber do senso comum. Os pensadores da época instituíram a filosofia, sociologia, unindo ciência e sistematização do conhecimento até o início da idade moderna. Destaca ARAUJO (2003, p. 23-24 “(...) a filosofia representou até o advento das ciências modernas a culminância de todos os esforços da racionalidade ocidental. Era o saber por excelência; a filosofia e a ciência formavam um único campo racional”. A partir disto, as relações entre os homens começam a ficar mais complexas em vista da busca de sua própria sobrevivência. No início do século XVII, a Europa passava por imensas transformações, o homem passa a ser o centro da natureza (antropocentrismo). Considerando a dialética histórica, houve muitas transformações, o homem muda seu pensamento, rompendo com a filosofia de Aristóteles que ainda eram vigentes e defendidas pela igreja. O mundo era visto como hierarquizado e imóvel. A razão humana deveria passar pelos testemunhos da fé. Explica CHALMERS (1993, p. 23), “O filosofo Francis Bacon e muitos de seus defensores sintetizaram a atitude científica da época ao insistirem que, se quisermos compreender a natureza devemos consultá-la e não os manuscritos de Aristóteles”. Com a mudança de concepção, o homem passa a ver a natureza como objeto de sua ação, podendo nela interferir. Estabelecem-se então, princípios tidos como incontestáveis com um conjunto de leis universais, dando origem à ciência como objeto específico de investigação, um objeto próprio para controle da produção do conhecimento. Todas estas transformações se deram pelos impulsos dos grandes pesquisadores da época, que conforme CHALMERS (1993), houve a revolução científica moderna como a descoberta da Física de Newton, a Astronomia de Galileu entre muitos outros avanços científicos. No século XIX, há o desenvolvimento das diversas ciências como as ciências biológicas, destacando-se os trabalhos de Darwin com a teoria da evolução das espécies. No início do século XX, surge a ciência contemporânea, o pensamento crítico sobre a ciência do passado de Eisten e Popper influenciou fortemente a concepção de ciência e método científico. Nessa nova visão, a ciência passa a ser compreendida através de diversos métodos para se chegar a uma conclusão na construção de um conhecimento. O homem passa a ser ao mesmo tempo objeto e sujeito do conhecimento. De acordo com ARAUJO (2003, p. 24) “(...) As ciências passaram a fornecer a explicação sobre a estrutura do universo físico, sobre a constituição do organismo, e mais recentemente sobre o homem e a sociedade”. E neste sentido, dá se a importância ao desenvolvimento das ciências humanas para a compreensão do processo da formação das relações sociais estabelecidas pelo homem e na própria constituição de sujeitos enquanto classe trabalhadora. Considerando a evolução da ciência, justifica-se o desenvolvimento histórico da humanidade e em consequência a transformação do mundo. Para melhor entendimento é destaca-se o senso comum que também faz parte da história da humanidade. Assim, este conhecimento é a primeira compreensão de mundo que os homens estabelecem historicamente e culturalmente de geração em geração. Mas, este saber acaba sendo insuficiente para explicar e resolver os problemas surgidos na realidade com o aumento da complexidade de relações no mundo atual. 2 - Conhecimento científico e senso comum Pode-se definir o conhecimento científico como aquele adquirido a partir de um caso particular de maneira ampla e geral. Preocupa-se com a pesquisa rigorosa, construindo teoria que conduzam a uma “certa verdade” sobre a realidade, produzindo o conhecimento a partir da racionalidade e objetividade. CHALMERS (1993) descreve sobre a explicação indutivista ingênua da ciência, tentando formalizar a imagem popular da ciência que grupos de pesquisadores construíram. Assim nomeou-os de indutivistas por basearem no raciocínio indutivo. Para o indutivista a ciência parte-se da observação experimental, depois induz para a teoria, deduz e parte da premissa indo para a lógica. Na teoria indutivista os dados específicos isolados são singulares. As junções destes dados observados e testados em finitos anglos constituem afirmações universais (generalizações). O problema é que os indutivistas podem tirar conclusões precipitadas. Pois a observação pode ser enganadora e pela indução leva-se a uma verdade, que também pode não ser verdadeira. A dedução só terá validade quando existir derivação de afirmações. É relevante neste estudo a afirmação de CHALMERS (1993, p. 41), “o conhecimento científico não é conhecimento comprovado, mas representa conhecimento que é provavelmente verdadeiro’’. O autor nomeia esta defesa como “o recuo da probabilidade”, uma forma que os indutivista utilizam para defender-se das críticas ao afirmarem que a ciência começa com a observação. Porém, CHALMERS (1993) faz duas críticas a este recuo. A primeira, refere se a afirmação de que após fazer uma variedade de eventos, pode se afirmar que algum evento do mesmo tipo pode ocorrer com um grau de probabilidade. Assim o problema de principio de indução acaba permanecendo. Em segundo, é que o dado da observação é limitada e o número de eventos de mesmo tipo a ser observados é infinito. A quantidade de eventos observados independe da quantidade, seja um número finito de eventos, será sempre equivalente a ( 0 ) zero do total de eventos possíveis. Diante desta posição, pode se fundamentar que na ciência não existe a exigência de certeza, mas um processo de construção. Preciosa à conceituação sobre ciência de Karl Popper citado por Alves: (...) não é um sistema de declarações certas e estabelecidas, nem ela é um sistema que avança para um estado final. (...) é um conhecimento (episteme), ela não pode nunca pretender haver ter atingido a verdade, nem mesmo um substituto a ela, como a probabilidade. (ALVES, 1981, p. 36) Portanto, o conhecimento científico é o saber sistematizado. Para FREIRE citado por MOURA (2006, p.199), “todo o conhecimento antes de ser científico foi antes um conhecimento da experiência, pois nenhum conhecimento nasceu sistematizado epistemologicamente”. Seu desenvolvimento é metódico através da técnica da ciência da observação e da certeza, distinguindo-se do senso comum pela sua forma de investigação do problema. Já o senso comum, pode-se descrever que ele é a forma como o ser humano explica e resolve situações e problemas surgidos no dia-a-dia, embasados nos seus conhecimentos empíricos e na história cultural transmitida de geração em geração. Assim, para Gramsci citado por Saviani (1980), acerca do senso comum: O senso comum é, pois contraditório, dado que se constitui num amálgama integrado por elementos intrínsecos na prática transformadora do homem de massa e por elementos superficialmente explícitos caracterizados por conceitos herdados da tradição ou veiculados pela concepção hegemônica e acolhidos sem crítica. (SAVIANI, 1980, p.2) Neste sentido, o autor dá ênfase à hegemonia que age sobre a mentalidade das classes populares em favor dos interesses desta classe dominante. Os sujeitos desprovidos do conhecimento científico são facilmente manipulados, não tendo criticidade para reivindicar seus direitos, perdem a força para a organização enquanto classe. 3 - O ensino de ciências para a formação crítica do educando da EJA Partindo do pressuposto da percepção da ciência como construção histórica, social e dinâmica que permite aos alunos uma visão crítica do mundo, focalizam-se as considerações na EJA. Os alunos da EJA das escolas públicas, em sua maioria são oriundos de classes populares, sujeitos caracterizados em um tempo histórico, que estabelecem relações sociais entre os pares, mas que devem ser considerados também, como sujeitos únicos que vivem e atuam no mundo da maneira que o compreendem. Para isto, FRIGOTTO (2004), considera que os alunos oriundos de classes assalariadas devem ter acesso ao conhecimento produzido pela humanidade, que será processado na escola, na organização dos conteúdos das disciplinas escolares. Daí a importância do ensino de ciências naturais para os alunos construírem sua concepção de mundo de maneira crítica perante a realidade. Para As DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DE CIÊNCIAS (2008), o conhecimento científico resultante da investigação da natureza é o objeto de estudo da disciplina de ciências. E o ensino das ciências objetiva possibilitar ao aluno a compreensão dos saberes científicos resultantes da investigação da natureza em um contexto histórico-social, tecnológico, cultural, ético e político. Este documento é fundamentado nas teorias críticas numa perspectiva do materialismo histórico dialético. Esta última compreende a escola como espaço de confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular, ou seja, o conhecimento científico e o senso comum. No que tange a EJA, há décadas que os educadores buscam soluções para as práticas educativas que venham a atender a realidade cultural e ao nível de subjetividade dos jovens e adultos. É necessário saber o que ensina, para quem ensina e credibilidade na capacidade do aluno, para se ter uma aprendizagem bem sucedida. O ensino de ciências naturais não foge a regra, cabe o professor dominar o conteúdo contextualizando historicamente. Conhecer e compreender seu aluno como sujeito histórico de uma sociedade excludente e valorizar seus saberes como ponto de partida para a construção do conhecimento científico. A ciência não é mais importante que outras formas de conhecimento e não deve estar isolada das formas de saberes, pois necessita de outros saberes para se ter a totalidade. Neste estudo não se defende um método exclusivo no ensino de ciências, mas foca-se o pluralismo metodológico objetivando que os alunos superem os obstáculos conceituais que advêm de sua vida cotidiana. BASTOS e outros autores (2009. p. 21) defendem o seguinte argumento acerca do tema: “(...) julgamos importante que se mantenha um pluralismo no que diz respeito à interpretação dos diversos eventos relacionados ao ensino e aprendizagem”. É fato que existem inúmeros problemas de ordem social que obstaculizam a aprendizagem do jovem e do adulto. Há a compreensão que é fundamental o professor valorizar os conhecimentos prévios do aluno, ou seja, o conhecimento que é denominado senso comum, para aprimorar este saber. Assim MOURA (2006, p.199), pontua que para Freire “o processo de aprendizagem de conhecimentos deve partir do conhecimento espontâneo para elevar-se ao conhecimento científico”. No entanto, quando fala em concepções prévias dos alunos, cabe ao professor tomar cuidado para não empobrecer a construção do conhecimento na prática pedagógica contextualizada no ensino de ciências. De acordo com AUSUBEL (1980), na assimilação de conceitos que se caracteriza a aquisição de conceitos secundários e pressupõe a maturidade intelectual para relacionar a estruturação cognitiva, os atributos abstraídos da nova ideia genérica, mesmo que estes atributos não estejam de forma primaria em intima associação com os muitos exemplos particulares do conceito do qual se derivou. Há todo um aparato complexo na mente cognitiva dos alunos que passam por um processo de amadurecimento para a estruturação cognitiva na construção dos conceitos. Para mediar o ensino de ciências objetivando a real construção do conhecimento que eleve o educando ao senso crítico do seu meio social, considera um critério fundamental neste processo: a aprendizagem dos conceitos científicos. Sendo assim, para trabalhar estes conceitos no ensino de ciências naturais é necessário compreender o processo de aprendizagem do aluno. De acordo com Vygotsky: (...) é mais do que um simples hábito mental; é um ato real e complexo de pensamento que não pode ser ensinado por meio de treinamento, só podendo ser realizado quando o próprio desenvolvimento mental (...) já estiver atingido o nível necessário. (VYGOSTSKY, 1991a, p. 71) Com base nesta concepção, Vygotsky elaborou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Assim, representa a distância do que o aluno já sabe e consegue fazer e ou resolver sozinho, (nível de desenvolvimento real) e o que o aluno ainda não sabe, mas pode aprender através da mediação do professor (nível de desenvolvimento potencial). Para VYGOTSKY(1991), a mente humana é capaz de criar estruturas cognitivas necessárias para a compreensão de um conceito trabalhado na mediação ensino aprendizagem. Assim, as estruturas cognitivas precisam deste processo para desenvolver-se, e só serão construídas com o ensino de novos conceitos. Daí a importância da mediação do professor quanto ao ensino de ciências, partindo do saber já elaborado pelo aluno, construindo novos conceitos elevando ao nível científico. É importante frisar que a EJA, de acordo com FREIRE (1982), seja vista como um espaço educativo, solidário, humanizador e transformador, visando o aprimoramento do conhecimento, construindo os saberes científicos. Este espaço educativo não só ensina o educando, mas também, capacita-o, conscientiza-o, promovendo-o para atuar e transformar o mundo. Neste sentido, deve se basear em um ensino motivador, uma linguagem acessível, significativa, problematizadora, envolvendo práticas, experiências investigativas, objetivando a construção de uma postura crítica e a mudança de comportamento do aluno. De acordo com MERAZZI & OAIGEN (2005, p.66), “o trabalho desenvolvido através de atividades práticas voltadas ao cotidiano, traz consigo a oportunidade de sua utilização como ferramenta facilitadora da aprendizagem no âmbito cognitivo e de motivação”. Na EJA, é necessário a escolha crítica dos recursos didáticos a ser utilizados durante as aulas, pois contribuem para a fundamentação dos conteúdos científicos, sendo necessário a adequação didática coerente realizada pelo professor. Na sociedade atual, existe um cenário amplo e vasto de informações que o aluno tem acesso. Informações essas que muitas vezes são banalizadas e manipuladoras, sendo positivas e ou negativas. O olhar crítico do professor sobre esta massa de informação é importante para seleção de materiais pertinentes, que venham instigar os alunos a uma postura crítica, levando os a identificar nas leituras as possíveis entrelinhas. Sendo válidos os textos problematizadores para a reflexão de problemas das necessidades do mundo. A utilização dos instrumentos instrucionais é de grande valia para a interpretação de dados dos conteúdos científicos. Lembrando que estes recursos fazem parte do cotidiano do aluno, como mapas, tabelas, gráficos entre outros. Verifica-se entre os jovens e adultos têm muita dificuldade de interpretação destes meios, a exemplo disto, como os dados de uma conta telefônica entre outros. A efetivação do planejamento com antecedência vem organizar e melhorar a prática pedagógica no decorrer do processo do ensino e aprendizagem. Com relação à prática didática no ensino de ciências naturais, de acordo com as DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DE CIÊNCIAS (2008, p. 68), “a mediação didática estabelece relações interdisciplinares e conceituais, envolvendo (...) conceitos de outras disciplinas e questões tecnológicas, sociais, culturais éticas e políticas”. As experiências devem fazer parte no ensino de ciências, pois sua prática pode contribuir para a superação de obstáculos a aprendizagem referente aos conceitos, visto que muitos assimilam melhor o conhecimento realizando a prática. Este momento é propício para se propor entre os alunos debates, discussões e reflexões referentes às causas e resultados, mas também, instigar a prática da natureza investigativa. Proporcionar nas atividades experimentais o confronto entre os alunos, problematizando o conteúdo a ser ensinado de forma que os mesmos elaborem as suas hipóteses. O ato de observar faz-se primordial neste processo, o aluno desenvolve a capacidade em perceber os detalhes na natureza, estabelecendo relações amplas interpretando os fenômenos. O uso de recursos tecnológicos enriquece a prática pedagógica e estimula o aluno a aprender. Em um ensino que tenha significado para a vida do aluno, acredita-se que existe certo conhecimento prévio sobre o assunto por parte do aluno. Este saber deve ser considerado no meio escolar como ponto de partida para o ensino de ciências na EJA. O aprender torna se mais motivador, uma vez que os conteúdos são assuntos de foco de interesse ao aluno com significado. MERAZZI & OIAGEN (2005), citam a proposta da teoria de Ausubel baseado na valorização dos muitos conhecimentos que o educando, jovem e adulto possui, partindo do que educando já sabe, efetiva-se assim um aprendizado significativo se estiver voltado ao interesse do mesmo. Assim ele se sentirá motivado no momento em que perceber que está aprendendo. A contextualização também trata da formação do conhecimento de alunos e professores como sujeitos históricos, compreendendo a sociedade em uma perspectiva histórica, dialética e contraditória. É através da mediação dos conteúdos sistematizados que será possível perceber e compreender as contradições existentes no meio social. As DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DE CIÊNCIAS (2008), enfatizam que a compreensão se dará em um processo de luta política, é os sujeitos constroem muitos sentidos em relação ao objeto, acontecimento, significado ou fenômeno. Podendo agir em prol da mudança social. Ao mediar o conhecimento é importante que o professor utilize a historização da ciência, porque propicia melhor integração entre os conteúdos escolares. Destaca-se que à avaliação apresenta um caráter polêmico nos contextos quando discutidas. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96 (LDB, 1996), a avaliação é contínua e cumulativa em relação ao nível de desenvolvimento do aluno, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Assim, ela é diagnóstica, partindo do saber do aluno como pré-requisito para as novas aprendizagens. É processual, onde o professor durante o trabalho pedagógico utilizará de vários instrumentos avaliativos para se chegar a um resultado. A avaliação não deve ser caracterizada como elemento classificatório e excludente. Deve servir como um embasamento onde o professor deve retomar sempre que se fizer necessário. As DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DE CIÊNCIAS (2008), defende: a avaliação deverá valorizar os conhecimentos alternativos dos educandos do seu cotidiano e experiências, ou a partir de estratégias pedagógicas diferenciadas e também o chamado “erro” deve servir para retomar a compreensão denominada equivocada do estudante através de instrumentos de ensino e avaliação. A partir do “erro” o professor pode interpretar como o aluno está pensando e construindo os significados dos conceitos, podendo retomar e intervir com a mediação do ensino. 4 - Metodologia Deste modo, fez se válido investigar, como o educando da EJA elabora e apresenta suas respostas na área do conhecimento de ciências, considerando as discussões acima sobre conhecimento científico, senso comum e formação de conceitos. Foi realizada a aplicação do questionário quantitativo e qualitativo, objetivando a análise sobre o conhecimento científico em ciências naturais dos alunos de duas turmas da disciplina de ciências, fase II, de uma escola de EJA, na cidade de Cascavel. O questionário selecionado envolveu questões focadas ao tema ambiental, saúde, religião e temperatura. Foram feitas indagações acerca de onde o aluno obteve o conhecimento para tais respostas. As perguntas foram estruturadas com questões abertas para que o aluno dissertasse com o seu conhecimento, também foi utilizado uma questão do tipo objetiva, ou seja, de assinalar a resposta escolhida. Os questionários foram analisados tendo por base as seguintes categorias em relação aos tipos de respostas utilizadas pelos alunos: nível científico, formação de conceitos científicos ou senso comum. Contou-se com a participação de (43) quarenta e três alunos. A - Quadro de questões: Questões: - 01 – Por que ocorreram deslizamentos de terras na região Serrana no Rio de Janeiro? Justifique a sua resposta: - 02 – Com o conhecimento que você possui, explique o que é um infarto do miocárdio (Coração) e que pode ser feito para evitá-lo? Justifique a sua resposta: - 03 – O terremoto (choque entre as rochas) ocorrido no Japão, se deu devido o território deste país localizar-se no limite da placa tectônica? Ou, devido apenas 1% da população japonesa ser cristã, 4% ser evangélica e os demais rejeitarem a Deus. Desta forma, o terremoto e em seguida o tsuname, foi um aviso de Deus com um castigo divino? Justifique a sua resposta: - 04 – Porque quando usamos uma blusa bem grossa, nós sentimos que o corpo está aquecido? - 05 – Relacionado às suas respostas das questões acima, de onde você obteve estas informações: Nas (04) quatro primeiras questões, somou-se um total de (164) cento e sessenta e quatro respostas obtidas. Verificou-se se que obteve (63) sessenta e três respostas de nível científico, (13) treze respostas em nível de senso comum, (77) setenta e sete respostas em processo de formação de conceito, (09) nove respostas oposta ao que se questionava, e (08) oito não responderam. É formidável o número de respostas sobre ciências que apresentou-se em nível do conhecimento científico, lembrando que realmente é esta a função da educação: Mediar o conhecimento científico para que o aluno aprenda e venha atuar criticamente no meio social para a conquista de seu espaço. As respostas apresentadas em nível do senso comum podem ser consideradas relevando que estes conhecimentos fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Tendo o entendimento que este conhecimento deve ser valorizado, mas na escola deve haver a preocupação em sistematizá-lo. As respostas denominadas de “incorretas”, sendo representadas por um porcentual que não se considera baixo, mas podem ser relevadas quando olhando sob um foco de interpretação equivocada do aluno. Devendo servir, como referência de como o aluno interpretou o conhecimento mediado, servindo de base para o professor encaminhar outros métodos para que o educando venha ter um entendimento correto. As respostas que expressas em nível de formação de conceitos, foram obtidas em número maior. Fator interessante é que os alunos estavam formando seus conceitos científicos. Na quinta questão achou-se pertinente saber e compreender de onde os alunos obtiveram os conhecimentos que expressaram para responder as questões. Em primeiro, todos os alunos assinalaram que obtiveram os tais conhecimentos na escola. Pois tratava-se de conteúdos que foram trabalhados pelo professor nas aulas de ciências. Em segundo, destaca-se a TV como fonte dos conhecimentos adquiridos para responderem as questões. Há lógica, pois a TV é o veículo de informação mais acessado pela população. Em terceiro, aparece o jornal, não especificado se via impressão ou rádio. A informação foi pertinente, representando um percentual favorável de alunos que se interessam pelo jornal como fonte de aprendizagem, e que na escola deve ser explorado com criticidade esse meio de informação. Só em quarto lugar, aparece o livro como meio de informação, que ao ver foi um porcentual baixo se considerando as outras formas que os alunos obtiveram as informações. O contexto o qual foi realizado a pesquisa, trata-se de jovens e adultos trabalhadores, com um histórico de evasão escolar já na época da infância ou da adolescência, sendo prejudicados em inúmeros fatores e, claro a escassez da leitura sendo uma delas. Em quinto, aparece a internet como fonte de informação, quase empatando com o livro. Sendo nesse caso um meio de informação escasso, devido o fator econômico, novidade neste século e a geração antiga possuem seus medos, insegurança e falta de domínio para manusear este instrumento tecnológico, entre outros. 5 - Considerações finais O conhecimento científico é importante para o progresso da humanidade, das ciências e tecnologias. E o senso comum embora não seja um conhecimento sistematizado ele é importante para a vida cotidiana das pessoas. Assim é por meio do senso comum e da ciência, que o homem busca certa organização para a sua sobrevivência, ambas são importantes no processo de construção do saber. No processo de ensino e aprendizagem de ciências naturais da EJA, o professor deve valorizar os conhecimentos do senso comum do educando, tais saberes fazem parte das experiências de vida deste estudante, sendo ricas em informações. Na mediação do conhecimento científico, parte-se do conhecimento que o aluno traz consigo, no qual, o educador terá a função em sistematizar estes conhecimentos formalizando-os. Desta forma, os conteúdos passam a ser mais significativos na vida do aluno, pois parte daquilo que ele já conhece. Neste processo, o educador considera os saberes prévios do aluno, observando a formação de conceitos científicos aproximando-se dos conhecimentos científicos. Como observado na aplicação do questionário aos alunos, um número considerável demonstrou em suas respostas estarem em processo de formação de conceitos científicos. Neste caso, o professor terá o cuidado em testar os conhecimentos dos alunos em diversos contextos para perceber a relevância destes conhecimentos se são de fato significativos para a vida do educando. Ele irá mediar o ensino aprendizagem, em uma postura investigativa da natureza, problematizando os conteúdos historicamente construídos pela humanidade. Cabe ao professor adotar uma postura de pluralismo metodológico, propiciando ao educando sujeito histórico, a construção e assimilação do conhecimento científico. Assim, o educando desenvolve-se no que tange ao senso crítico na sua visão de mundo, com a percepção das necessidades da natureza. Objetivando assim, uma real transformação de sua realidade social, política e econômica de seu tempo para viver melhor, exercendo a sua cidadania com direitos e deveres. Bibliografia ALVES, R. Filosofia das Ciências: introdução ao jogo e suas regras. Ed. Brasiliense: São.Paulo,.1981. ARAUJO, I. L. Introdução à filosofia da ciência. Curitiba: Ed. UFPR, 2003. AUSUBEL, D. P.; NOVAC. J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 1980. BASTOS, Fernando. et al. Da necessidade de uma pluralidade de interpretações acerca do processo de ensino e aprendizagem em Ciências: revisitando os debates sobre o construtivismo. Pesquisas em ensino de ciências. 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