Transplante de fígado terá
mudanças
DOM, 25 DE AGOSTO DE 2013 15:00
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Médicos propõem alterações nas diretrizes nacionais para transplante de fígado, que limitariam
a cirurgia em casos muito graves / Foto: Divulgação
Pacientes hepáticos extremamente graves devem continuar na fila do transplante do fígado ou liberar a
vaga para aqueles com mais chances de sobrevida? Um estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo, o
principal centro transplantador do país, mostrou que estão sendo operados doentes muito graves, com
alto risco de morte ou complicações.
Ao mesmo tempo, outros pacientes graves, porém com mais chances de recuperação,
estão morrendo na fila. Foram avaliados dados de 543 pessoas operadas entre 2002 e
2011.
Com base nos resultados, publicados na revista científica 'Liver Transplantation', médicos propõem
alterações nas diretrizes nacionais para transplante de fígado, que limitariam a cirurgia em casos muito
graves. O assunto, polêmico, foi debatido em evento médico em São Paulo e entrará na pauta de
discussões do sistema nacional de transplante.
Até 2006, prevalecia no país o critério cronológico para a distribuição de órgãos, ou seja, os mais antigos
tinham prioridade na fila. A partir de 2007, o critério passou a ser a gravidade, que é avaliada por um
modelo matemático (Meld) que se baseia em resultados de exames laboratoriais e atribui pontos para
cada paciente.
Os números vão de 6 a 40. Quanto maior o valor, maior a gravidade, menor o tempo de vida previsto para
o doente e maior é a prioridade de receber o órgão. São considerados casos graves aqueles que têm
índices acima de 16. Segundo Luiz Augusto Carneiro D'Albuquerque, diretor da Divisão de Transplantes
de Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas e um dos autores do artigo, 70% dos pacientes
operados do HC tem Meld acima de 36.
Isso resulta em um índice mais alto de retransplante e de mortalidade. 'Perdemos de 20% a 25% dos
nossos pacientes até um ano após o transplante.' Na Califórnia, segundo ele, a taxa de sobrevida é de
92%. 'Mas os pacientes chegam melhor ao centro transplantador. Aqui nossos pacientes chegam muito
debilitados.'
Carneiro, que integra a câmara nacional de transplante de fígado, defende que o país limite em 36 o Meld
de candidatos a transplante de fígado. 'Hoje não há como fazer isso. A família [do paciente] pressiona
muito, as equipes têm um envolvimento com o doente. Mas o órgão é um bem público e escasso. Se um
recebe, outro fica sem.'
Para o médico Marcelo Bruno, que coordena a área de transplantes de fígado no hospital Albert Einstein,
é importante que haja um estudo multicêntrico no país para avaliar a necessidade de um limite máximo
para o Meld.
Segundo ele, no Einstein não há diferença no índice de sobrevida de pacientes com Meld acima de 30 em
relação aos que têm números inferiores. 'Mas eles ficam mais tempo internados na UTI, precisam de mais
transfusão de sangue, de diálise e reinternam mais. É um paciente que gera um custo maior.'
Na opinião de Eduardo Antunes da Fonseca, que dirige as áreas de transplantes de fígado nos hospitais
A.C. Camargo e Sírio-Libanês, é difícil estabelecer um limite de gravidade para não transplantar um
doente grave. 'Esbarra numa questão ética. É uma decisão complicada do ponto de vista médico.'
Segundo ele, antes de se pensar em mudança dos critérios do Meld, é preciso avaliar se a alta taxa de
mortalidade não está relacionada à falta de estrutura dos hospitais para atender pacientes muito graves.
'Talvez seja o caso de eleger instituições com melhores condições de fazer transplante dos mais graves.'
Revisão
A legislação de transplante de órgãos no país passa por uma revisão de critérios. Até o final do ano
devem ser publicadas novas regras. No caso do transplante de fígado, será incluído um novo exame (taxa
de sódio) que deve ajudar um grupo de pacientes muito graves, mas que mantêm baixos os valores do
Meld e, por isso, não têm prioridade na fila de espera e acabam morrendo.
Segundo Heder Murari Borba, coordenador do sistema nacional de transplantes, a revisão do Meld
proposta pelos médicos do HC ainda não foi discutida em âmbito nacional, mas ainda poderá entrar em
pauta.
Ele afirma, no entanto, que, para qualquer mudança na atuais regras, é preciso um estudo robusto e
multicêntico para avaliar o índice geral de mortalidade entre os pacientes muito graves.
A realidade encontrada no HC, segundo ele, não é a mesma observada em outros serviços que realizam
transplante de fígado, nos quais doentes menos graves, com Meld máximo de 29, são operados. Murari
diz ainda que está sendo criada uma câmara técnica nacional que vai propor novas medidas para ajudar
a reduzir as taxas de infecção pós-transplante, hoje a principal causa de mortalidade de pacientes.
http://odiariodemogi.inf.br/nacional/18117-transplante-de-figado-tera-mudancas.html
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