RELATÓRIO DO SEMINÁRIO
Fundação Konrad Adenauer
BRASILIEN
KATHRIN ZELLER
JULIKA HERZBERG
FRIEDERIKE SCHOLZ
November 2012
„Imagina na Copa“
www.kas.de/brasilien/pt
PREPARAÇÃO PARTICIPATIVA PARA MEGAEVENTOS SUSTENTÁVEIS
O carioca no engarrafamento, ruas i-
a infraestrutura da cidade são, por exemplo,
nundadas depois da chuva, domingo
a construção de novos corredores de ônibus
numa praia suja. Seja qual for o pro-
e a extensão de ciclovias. Mesmo que o
blema na cidade, nos últimos meses a
número de quilômetros de ciclovias tenha
reação é sempre a mesma: “Imagina na
dobrado, ainda é pouco em comparação
Copa”. O que mostra um tipo de preo-
com o padrão europeu. A infraestrutura,
cupação de “mostrar sua casa” para
que já parece deficitária de longa data, será
quem vem de fora sem querer passar
melhorada junto com as preparações aos
vergonha, na verdade chama em pri-
megaeventos futuros. Mesmo assim há a
meiro lugar atenção ao planejamento
ausência de investimentos em mudanças
urbano de uma metrópole, que já quer
urbanas, irrelevantes para os visitantes dos
alcançar um modelo mais sustentável
eventos, mas necessárias para facilitar o
em todos os sentidos. O que sobrará do
dia-a-dia do carioca. Em vez de restaurar
dinheiro investido nos preparativos? E
hospitais ou escolas, ocorre que estes têm
como a população carioca pode fazer
de recuar para deixar espaço para constru-
parte nos progressos do planejamento
ções novas, consideradas como parte da
e dos investimentos? Achar respostas
Copa do Mundo ou das Olimpíadas. Como
adequadas foi a finalidade do seminário
exemplo “par excellance”, levantamos em
“Imagina na Copa”, que ocorreu no dia
conta a Escola Municipal Friedenreich, que
30 de outubro, organizado pela Funda-
será demolida para dar lugar a um ginásio .
ção Konrad Adenauer em colaboração
com o Meu Rio.
Meu Rio a favor de mais participação
Não é somente a Copa do Mundo que já es-
Parceira de evento, a ONG Meu Rio, está
tá perto, mas também a Copa das Confede-
engajada na campanha contra o fechamento
rações, no ano seguinte, e as Olimpíadas
desta escola, ou seja, trabalha ativamente
em 2016 que chamarão a atenção do mun-
para achar pelo menos uma substituição
do inteiro ao Rio. A realização destes mega-
comparável. Através de informações, apoio
eventos significa tanto uma grande chance
e acompanhamento às atividades de protes-
quanto um desafio enorme. A cidade já ti-
tos e entrar em diálogo com as pessoas
nha perdido a chance de se pôr em desta-
responsáveis aos cidadãos, Meu Rio mostra
que diante do olhar internacional por conta
um meio excelente da possibilidade da par-
de um planejamento bom, segundo Eduardo
ticipação política nos planejamentos e o pa-
Paes, Prefeito do Rio de Janeiro. Atraso na
recer público. Esta ideia, de encontrar mei-
construção de estádios e obras, planejadas
os de participação ativa da população, foi
para melhorar a situação do trânsito, não
considerada como foco do evento.
era um ponto de partida bom para apresentar um local no qual se valeria a pena inves-
A abertura do evento foi feita pelo repre-
tir. Contudo já observam-se as primeiras
sentante da KAS no Brasil, Felix Dane, e
mudanças urbanas. Projetos para melhorar
Miguel Lago de Meu Rio. Na sua fala, Felix
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Dane apontou a grande chance que os futu-
também mais comunicação entre políticos e
ros eventos representavam para a popula-
a população.
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ção carioca. Mesmo assim deveria ser to-
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mado em consideração que o lucro para o
Quase era impossível comparar Londres e o
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cidadão dependia do planejamento e da
Rio de Janeiro com a vista nas Olimpíadas,
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realização, ele falou. Tanto ele quanto Mi-
apontou Michel Castellar, jornalista da re-
guel Lago mencionaram a oportunidade úni-
vista O lance. As condições das cidades tan-
ca de recuperar o atraso em infraestrutura e
to na questão da infraestrutura quanto do
desenvolvimento. Segundo ele, agora era a
ponto de vista econômico eram totalmente
chance para o Rio aparecer novamente no
diferentes, segundo ele. Mesmo assim havia
público mundial, depois da perda do seu es-
a possibilidade de aprender através dos a-
tatuto em ceder o título de “capital” a Brasí-
contecimentos em Londres. Ele levou em
lia. Isto seria somente possível se a partici-
conta as construções de estádios e ginásios
pação ativa do público e a colaboração do
polivalentes e mencionou o uso de instala-
governo e os cidadãos melhorasse significa-
ções fotovoltaicas. Seria muito importante
tivamente.
levar estes exemplos em consideração para
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que as Olimpíadas possam ser um evento
Em seguida, o tema do diálogo entre audi-
positivo e, sobretudo, sustentável para a
tório e palestrantes foi a organização e rea-
cidade.
lização sustentável a respeito dos eventos
passados assim como os que em breve o-
A palestra seguinte, de Pedro Trengrouse da
correrão no Rio.
Universidade Getúlio Vargas, tinha como
foco a discussão sobre os custos dos mega-
O que já foi feito – Opiniões sobre as
eventos. Ele começou a falar dos custos de
preparações
oportunidade, gerados pela organização das
Olimpíadas e a Copa do Mundo. Os eventos
Nelson Moreira Franco, representante da
futuros podiam ser vistos como catalisado-
Prefeitura do Rio de Janeiro elogiou na sua
res, falou Tengrouse, e conduziu a atenção
palestra a grande participação e o interesse
ao fato do desenvolvimento desigual da e-
do público na conferência internacional da
conomia em comparação com o desenvol-
ONU “Rio+20“ realizada recentemente. Mo-
vimento da infraestrutra brasileira. Ele
bilização era o ponto mais importante no
mencionou o exemplo do “Public Viewing”,
desafio de realização dos megaeventos, ele
como ocorreu muito na Alemanha na época
falou. Comparando com as Olimpíadas pas-
da Copa do Mundo de 2006 e remeteu à
sadas, ele mencionou o grande desafio de
grande chance de criar a possibilidade da
atingir um nível adequado da infraestrutura
participação de todas as classes sociais. No
para o número de visitantes previstos. A
final do segundo debate sublinhou Tarmo
problemática era muito maior no Rio do que
Dix, Cônsul-Geral Adjunto da Alemanha, a
na organização dos jogos em Londres, a su-
grande oportunidade de envolver voluntá-
perfície de Londres era menor, mas tinha
rios no procedimento dos eventos e assim
um sistema de Transporte mais complexo. A
incluir o público. Ele falou da grande partici-
segunda participante da mesa foi Rita Lamy
pação através de trabalho voluntário na so-
Freund, representante da ONG Instituto E-
ciedade alemã, principalmente em clubes de
thos. Ela defendeu uma visão mais crítica a
futebol locais. A maior atratividade do em-
respeito da preparação dos megaeventos.
penho nos megaeventos seria o fator princi-
Ele criticou principalmente a transparência
pal para fortalecer o interesse, apontou ele.
ausente do município em termos de planejamento. Além disso, acrescentou o fato de
O tal do legado - o que sobrará para o
que o custo do orçamento original, que era
cidadão?
ponto de partida para obter o direto a organizar os eventos, tinha estado muito mais
Abrindo a terceira mesa do dia com o tema
baixo que o número do custo atual mostra-
“De que forma o Rio se tornará uma cidade
va. Ela exigiu não só mais informações, mas
mais sustentável?”, Rita Lamy Freund falou
que a maioria dos cariocas estava com uma
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grande incerteza quanto ao futuro do Rio
Olimpíadas, mas também a Copa do Mundo
depois do megaeventos. Eles não sabiam o
eram eventos exclusivamente privados. Isto
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que esperar do futuro, pois não haveria cer-
era usado como justificação para defender
KATHRIN ZELLER
teza do impacto das medidas feitas sobre o
os custos altos que a organização dos even-
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futuro. A questão era se estas medidas
tos exigia, mesmo que houvesse um gasto
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seriam continuados depois ou não. A pales-
muito grande de recursos públicos.
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trante sugeriu a publicação de todos os reNovember 2012
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latórios das reuniões políticas, os planos dos
Jan Schreiber Krüger, autor do Blog
organizadores e o envolvimento de todos os
www.caosCarioca.com.br, falou como último
“Stakeholder“ no processo.
palestrante do dia e declarou que, para ele,
a única forma de tornar o Rio de Janeiro
O urbanista Vinícius M. Netto declarou a in-
mais sustentável era um envolvimento mai-
fraestrutura, assim como os palestrantes
or da sociedade nas decisões políticas. Para
anteriores, como o maior desafio na organi-
conseguir uma melhora significativa da ci-
zação dos megaeventos. Em sua opinião,
dade, as decisões não poderiam ser contrá-
ainda tinha muito espaço para cima na for-
rias ao interesse do público. Devia-se ser
ma de explorar a chance que os eventos
capaz de ter certeza da existência das pos-
futuros ofereciam para obter uma mudança
sibilidades de participação, não só momen-
significativa e sustentável.
taneamente, mas essencialmente depois da
realização dos megaeventos. Com grande
Para concluir a mesa, foi convidada Paula
participação do auditório, ele finalizou sua
Serrano do Carmo do Instituto Pereira Pas-
palestra chamando atenção para o fato de
sos, Instituto Municipal de Planejamento
que toda a responsabilidade começava no
Urbano. Ela enfatizou o benefício que os
indivíduo mesmo.
megaeventos trariam à cidade. Não seria
para explorá-la, mas reforçaria a coesão
social dos cariocas e ao mesmo tempo traria
vantagens econômicas, como, por exemplo,
um aumento da renda.
Participar – mas como?
A última discussão do dia, com o tema
“Preparação inclusiva – Como participar nas
decisões políticas?“, foi introduzida por Miguel Lago de Meu Rio. Ele começou sua fala
com a colocação do problema de definir o
termo “Participação política”. Segundo ele,
para esta expressão não havia um certo
sentido inerente, se não forem determinadas possibilidades concretas, esclarecendo
uma forma de tomar parte nas decisões políticas. Além disso, apontou que os políticos
exigiam mais interesse e empenho do público, mesmo não dando nenhuma oportunidade de realizá-lo e muito menos dando
uma ideia de como poderia ser o resultado
desta participação.
Bernardo Brito, Coordenador da Comissão
Especial do Legado dos Megaeventos Esportivos, ALERJ, começou sua palestra com a
confirmação daquilo que foi apontado antes.
Ele remeteu ao fato de que não somente as
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