Seminário Nacional Os Impactos dos Megaeventos nas Metrópoles Brasileiras A Copa do Mundo e as Olimpíadas na Cidade do Rio de Janeiro Para além de um evento esportivo, os megaeventos – Copa do Mundo e Olimpíadas – expressam um projeto urbano de reestruturação da cidade do Rio de Janeiro, e expressam a adoção de um novo padrão de governança empreendedorista neoliberal. 1- Seletividade espacial dos investimentos As principais intervenções na cidade se dão a partir dos seguintes projetos: - Mobilidade urbana: através da instalação de sistema de transporte BRT, BRS e VLT, linha 4 do metro e novas faixas para carros (barra da Tijuca). - Segurança pública: o programa das Unidades de Polícia pacificadora, UPPs, concentrado sobretudo no Centro e na Zona Sul da Cidade. - Equipamentos esportivos: reconstrução do estádio do maracanã, construção do parque olímpico e outras instalações para olimpíadas. 2- Restruturação socioespacial da cidade - Fortalecimento de centralidades já existentes (Zona Sul); - Revitalização de centralidades decadentes (área central e área portuária); - Criação de novas centralidades (Barra da Tijuca). 3 – Remoções e Despossessão das Classes Populares As intervenções urbanas afetam diversas áreas ocupadas por populações de baixa renda. Áreas estas que foram abandonadas pelo poder público ao longo dos anos. Assim, a cidade vem passando por intenso processo de remoção. Cerca de três mil famílias já foram removidas e outras oito mil estão ameaçadas. As indenizações oferecidas são incapazes de garantir o acesso a outro imóvel situado na vizinhança próxima. Opções de reassentamento em moradias do PMCMV localizados principalmente na zona oeste, região que apresenta baixa cobertura de infraestrutura urbana (transporte, saneamento, pavimentação das ruas). A partir das pesquisas de campo nota-se um padrão de atuação do Poder Público municipal marcado pela: - Ausência ou precariedade de informações às comunidades, no que se refere as remoções, sendo um processo arbitrário, executado através de ameaças ou coações. - As negociações individualizadas, deslegitimando as organizações comunitárias. 4 - Mercantilização e Elitização da Cidade As áreas em que estão recebendo as intervenções urbanas passam por um processo de elitização, na medida em que a população de baixa renda é expulsa e na medida em que são criados serviços destinados às classes média e alta. Ex. Porto Maravilha e a região do Parque Olímpico em Jacarepaguá. 5 - Militarização da cidade Uma das características mais notáveis em cidades que sediam mega eventos esportivos é a progressiva e permanente militarização, com investindo em armamento de ponta e agentes de segurança para reprimir qualquer ameaças ao evento. No do Rio de Janeiro este processo é muito evidente através da combinação de ações que envolvem uma forte política de controle da ordem pública (através da secretaria de ordem pública), repressão as manifestações com violência policial (notadamente nas manifestações de rua), disseminação de armas ditas menos letais usadas indiscrimimente, uso da tortura como método de investigação pela polícia nas áreas populares (como no conhecido caso do Amarildo). 6 - Transformação dos palcos esportivos Umas das intervenções mais polêmicas na cidade do Rio de Janeiro foi a modificação radical do Estádio Jornalista Mario Filho, o Maracanã. Desde 2005 O estádio vem sofrendo algumas reformas. Em 2007 para os jogos panamericanos e desde de 2010 vem se adequando às exigências da FIFA para a Copa do Mundo. As duas reformas do estádio custaram aos cofres públicos aproximadamente R$1.5 bilhão. Em 2013, o complexo esportivo do Maracanã foi entregue a um consórcio liderado por Odebrecht. Desde então vemos um aumento nos preços dos ingressos e assim, uma elitização da ocupação do estádio. Deixando de ser um local de entretenimento popular. Mobilização e Resistência Por fim, é fundamental registrar que a cidade do Rio de Janeiro se constitui hoje em um dos principais palcos de organização e resistência popular a esse projeto de megaeventos associado a mercantilização e elitização da cidade. O Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro emerge como um espaço de articulação de diversas representações da sociedade, como movimentos sociais, ONGs, estudantes, da academia, dos sindicatos, buscando mobilização contra este projeto de reestruturação urbana neoliberal e na defesa do direito à cidade.