Página 1392 Comunicação Técnica 187 AUTOMAÇÃO DE CADASTRAMENTO GEO REFERENCIADO EM SISTEMAS DE TRANSPORTE PUBLICO Automação de cadastramento georeferenciado em sistemas de transporte público. Murilo Beltrame1; Gustavo Marchi Tancredo2. VividVision Tecnologia Ltda, [email protected]; VividVision Tecnologia Ltda, [email protected]. Rua Miguel de Cillo 468,13412-212, Piracicaba, 01934214290 RESENHA Artigo descreve as experiências e metodologia de uma solução automatizada, de geo cadastramento das entidades de um sistema de transporte público, implementada na cidade de Botucatu, SP. A solução facilita e acelera a implantação dos sistemas de Gestão Inteligente com monitoramento On-Line da frota e dos serviços programados e realizados da operação. PALAVRAS-CHAVE Gestão Inteligente, Cadastro, Automatização, Itinerário, Webilhetagem, Objeto Espacial-Temporal, Modelo de Serviços SIG, AVL, GPS, INTRODUÇÃO Implantação dos sistemas de gestão inteligente, com monitoramento On-Line necessita de cadastramento prévio da operação e das entidades na forma georeferencida (operações, linhas, itinerários, pontos da parada e zonas). Este processo é, tradicionalmente, manual e lento e freqüentemente sofre por falta de informações confiáveis. No caso da existência do cadastro, enfrenta-se outro problema, no que tange às questões dos padrões e formas (arquivos e banco de dados) dos dados cadastrados na forma georeferenciada para que possam ser aproveitados. DIAGNÓSTICO, PROPOSIÇÕES E RESULTADOS O Sistema de Informações Geográficas O Sistema de Informação Geográfica – SIG se baseia numa tecnologia de armazenamento das análises e tratamento de dados espaciais, não-espaciais e temporais. TEIXEIRA et al. (1992) subdividem um SIG em: Banco de dados, Equipamento e Operações espaciais. SILVA (1998) salienta que os Bancos de Dados são elementos que exigem grande atenção de qualquer implantação SIG e que, de maneira geral, o processo de aquisição de dados é caro e complexo. SILVA (1998) ainda observa que a obtenção de dados para SIG pode ocorrer de forma direta, através de levantamentos de campo (topográfico, geodésico, cadastrais, etc.), recenseamentos, fotografias aéreas, imagens orbitais e fontes secundárias como mapas e cartas temáticas, que derivam das fontes primárias. O Sistema de Informação Geográfica (SIG) permite manusear, atualizar, alterar e acrescentar informações. Convencionou-se chamar de GIS-T (KAGAN et al., 1992; WATERS, 1999) a extensão do GIS (ou SIG) que aborda questões específicas do transporte, como lista SILVA (1998): Dados socioeconômicos e demográficos da população; Dados sobre características de uso e ocupação do solo; Dados da oferta de transporte e Dados sobre demanda por transporte. Aplicação do SIG no Transporte Coletivo Página 1393 Comunicação Técnica 187 AUTOMAÇÃO DE CADASTRAMENTO GEO REFERENCIADO EM SISTEMAS DE TRANSPORTE PUBLICO Para toda implantação SIG, como dito anteriormente, é necessária grande atenção na modelagem e criação de dados para o Banco de Dados. Normalmente esse processo é feito manualmente, circulando pela via e mapeando os pontos usando um aparelho receptor GPS, como descreve GRANEMANN et al. (2007). CARVALHO (2002) descreve o processo de cadastramento manual usando o software MapInfo e percorrendo a via como forma de conferência e validação. Outras práticas incluem o cadastramento dos pontos de forma manual usando Google Earth ou outros SIG. A popularização dos mapas digitais Em 2005, a empresa Google lançou o Google Earth e o Google Maps API, uma API 1 que, junto com o Google Earth se valeu da extensibilidade da linguagem XML 2, para criar e publicar um novo padrão de transporte e manipulação de dados geográficos, junto ao OGC3: o KML4. O KML e a popularidade das aplicações da Google impulsionaram a criação de aplicativos e o uso de dados geográficos como comenta SMITH e LAKSHMANAN (2005). MILLER (2006) propõe o uso do Google Earth para a criação de mashups5 como GIS/2, baseado em discussões de grupos de trabalhos que sugerem um SIG menos rígido, mais social e mutável culturalmente. Podemos citar como um sistema genérico que se utiliza o SIG a seu favor o Google Transit, lançado em dezembro de 2005, que utiliza como SIG o próprio Google Maps, exibindo informações de trânsito e horários disponíveis para o transporte público, permitindo um melhor planejamento para o usuário. Modelagem dos serviços em sistema de transporte público Para contemplar a estrutura real de serviços de transporte, não apenas dados geográficos devem ser modelados, mas também a dinâmica temporal das viagens. FERRAZ e TORRES (2004) citam que o tempo da viagem é um indicador de qualidade importante para analisar o serviço. Segundo HUIBING (2008), “espaço e tempo são as informações mais básicas e importantes no mundo real”. Metodologia proposta para Coleta dos Dados – Realização através de AVL (GPS) instalado no Ônibus Comprovadamente, o cadastro manual é um processo demasiadamente lento e custoso, mesmo para sistemas de transporte de pequeno e médio porte, dado às variáveis envolvidas na modelagem dos serviços de transporte. Figura 1: Dinâmica real de uma viagem 1 API – Application Programming Interface de modo geral é composto por uma série de funções e que permitem utilizar e/ou embutir funcionalidades de um programa de terceiro. 2 XML – Extensible Markup Language, é uma linguagem de programação de computador que serve de padrão para transferência de dados entre aplicações e é mantido pelo World Wide Web Consortium (W3C). 3 OGC – Open Geographical Consortium discute e mantém especificações de linguagens e protocolos relacionados a dados geográficos. 4 KML – Keyhole Markup Language, uma extensão do XML. 5 Mashup – conteúdo tipicamente criado através de aplicações de terceiros ou API. Página 1394 Comunicação Técnica 187 AUTOMAÇÃO DE CADASTRAMENTO GEO REFERENCIADO EM SISTEMAS DE TRANSPORTE PUBLICO Nesta mesma linha, o resultado do processo manual é fortemente acoplado ao desempenho do operador que executa a tarefa. Todos os humanos são passíveis de falhas. Ocorrendo em freqüência, por motivos adversos, um cadastro pode ficar comprometido e descaracterizado. Para acelerar a implantação de um Sistema de Controle Operacional e Monitoramento, foi criada uma metodologia e conjunto de softwares que pudessem atender a essa causa. Essa solução usa um dispositivo AVL embarcado em ônibus que opera no sistema de transporte. Esse dispositivo envia para uma Central os eventos que localizam os trajetos da operação real, pontos de inflexão, pontos da parada, trazendo as informações da localização, velocidade, direção e horário do evento. Figura 2: Arquitetura da Central para Cadastramento Automático Modelo Espacial- Temporal dos serviços (atividades) no sistema de transporte O modelo dos dados implantado é espacial-temporal para atender as características reais do sistema de transporte que se caracteriza pela sua característica espacial (localização) e tempo (horário da entrega do serviço). Este modelo é chave para conseguir manuseio simultâneo dos dados espaciais e temporais gravados no banco dos dados (Data Warehouse). Figura 3: O modelo espacial-temporal das atividades no trecho – cerca virtual Tendo as informações temporais armazenadas na unidade mínima de controle do sistema – o objeto do trecho, “Segmento de Ponto”, uma vértice do vetor de itinerário – conseguimos reproduzir essas informações para os serviços de nível mais alto, numa estrutura hierárquica de serviços, transmitindo informações de espaço e tempo para outros objetos. Figura 4: O modelo geral espacial-temporal dos dados Dessa forma, para uma determinada linha, existe uma grande gama de modelos de viagens dependendo das variações temporais e espaciais da prestação desses serviços como atendimentos, variações do tempo de viagem em faixas horárias, mudanças de itinerários em finais de semana, etc. A hierarquia do modelo dos serviços com programação temporal - espacial Historicamente, a programação (as tabelas horárias) e os cadastros dos itinerários tratam de forma diferente e separada a informação temporal e a informação espacial. Este modelo integra os dados temporais e espaciais na estrutura única dentro de DataWarehouse o que facilita e acelera processamento e pesquisa posterior. É constituído de uma estrutura hierárquica de Serviços de Transporte, implantada da mesma forma em todos os módulos da aplicação, buscando um cenário mais próximo ao “mundo real” onde cada serviço é constituído a partir do fluxo de outros serviços e o fluxo da operação é dado pela conexão desses serviços. O uso de objetos na modelagem dos dados permite encapsular os dados de cada nível de Página 1395 Comunicação Técnica 187 AUTOMAÇÃO DE CADASTRAMENTO GEO REFERENCIADO EM SISTEMAS DE TRANSPORTE PUBLICO serviço, tornando possível flexibilizar a estrutura e simplificar a complexidade de um sistema real. . Figura 5: O modelo hierárquico de Serviços de Transporte O processo do cadastro usa dados disponibilizados através da Google Maps API somados aos dados do rastreamento baseado no padrão GXL para criar o modelo da viagem usando padrão KML que em seguida é usado para criação dos objetos espaciais – temporais. RESULTADOS Em comparação com processo de cadastramento nas anteriores outros projetos a solução facilitou e acelerou trabalho de forma significativa. Tempo necessário para cadastramento de modelo da uma linha, com mais de 200 trechos, um sentido, foi para 2-3 horas de trabalho. CONCLUSÃO Qualquer tipo de trabalho está sujeito a falhas, em especial, as tarefas que não possuem ferramentas para auxiliar no trabalho. O cadastro georefrenciado é uma peça complexa e essencial para implantação e operação dos sistemas de Gestão Operacional com monitoramento On-Line. A metodologia permite gravação automática e real da operação e posterior processamento, identificação e cadastramento das entidades na forma georeferenciada e automatizada, com todas as características do objeto EspacialTemporal. Operação, zonas, pontos, itinerários e os horários, com todos os detalhes das secções e dos trechos (localização, tempo de percurso, velocidade permitida, lombadas, áreas de risco, paradas, inflexões, pontos de controle, pontos de interesse) são identificados e cadastrados na forma automatizada por AVL / GPS. A nova metodologia está baseada no uso de plataforma para Gestão Inteligente do Sistema de Transporte, Webilhetagem, da VividVison Tecnologia Ltda. REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERRAZ, Antonio Clóvis “Coca” Pinto; TORRES, Isaac Guilhermo Espinosa. Transporte Público Urbano, 2º ed., São Carlos: Rima, 2004. SILVA, Antônio Nélson Rodrigues da. Sistemas de informações geográficas para planejamento de transportes. 1998 TEIXEIRA, A.L.A; MORETTI, E.; CHRISTOFOLETTI, A. Introdução aos Sistemas de Informação Geográfica. Rio Claro. 1992 SMITH, Travis M.; LAKSHMANAN, Valliappa. Utilizing Google Earth as a GIS platform for weather applications. 2005 SILVA, Alan Ricardo da; TEDESCO, Giovanna Meguni Ishida; YAMASHITA, Yaeko; GRANEMANN, Sérgio Ronaldo. Metodologia para roteirização do Transporte Escolar Rural. 2007 CARVALHO, Alexandre de. Geoprocessamento como recurso para analise das ocorrências em linhas de ônibus urbanos em Belo Horizonte – Um estudo de caso. 2002 RODRIGUES, Marcos Antonio; SORRATINI, José Aparecido. A qualidade no transporte coletivo urbano. 2008 BERNARD, Lars; WYTZISK, Andreas. A Web-based Service Architecture for distributed spatiotemporal Modeling. Página 1396 Comunicação Técnica 187 AUTOMAÇÃO DE CADASTRAMENTO GEO REFERENCIADO EM SISTEMAS DE TRANSPORTE PUBLICO HUIBING, Wang. Extending object-relational database to support spatio-temporal data GOODALL, J.L., D.R. MAIDMENT, and J. SORENSON. Representation of Spatial and Temporal Data in ArcGIS, AWRA GIS and Water Resources III Conference, Nashville, TN. 2004.