Publicação da associação brasileira de distribuidores volkswagen Ano 33 • n• 295 AGOSTO 2O11 BRASIL: “VÍTIMA DO SEU PRÓPRIO HYPE?” O O que esperar do 2º semestre grande volume de dólares que entrou no País, a surpreendente dívida dos Estados Unidos e a crise na Itália e Espanha, fatores que na economia globalizada afetam a todos, indiscriminada e rapidamente, balançaram a fé até dos analistas econômicos mais otimistas. Mas foi só um momento. Apesar dessas interferências, o segundo semestre dos brasileiros não deverá ser muito diferente do primeiro. O relatório do FMI sobre o Brasil, divulgado no começo de agosto, nos tranquiliza, apesar dos costumeiros puxões de orelha. A análise ressalta o avanço do País nos últimos dez anos e continua apostando no seu crescimento, mas indica claramente que a inflação e a supervalorização do real devem ser controlados, sob pena de o País ser vítima do seu próprio superaquecimento. Esta é também a preocupação dos especialistas ouvidos nesta edição, que, em tese, concordam com a opção do governo em cuidar da inflação de forma lenta para não comprometer o crescimento. O receio de todos é justamente o que o cenário internacional pode mostrar e se de fato existirá o compromisso doméstico de quitar nossas velhas pendências. Externamente, a correção começou a ser feita. O presidente Barack Obama decidiu sancionar uma lei que eleva o limite da dívida dos Estados Unidos e reduz o déficit orçamentário, afastando, por enquanto, o “calote”, e na Europa, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse que os últimos acontecimentos da Itália e Espanha são “injustificados com base nos fundamentos econômicos e orçamentários desses dois países membros e nas medidas que eles estão implementando para reforçar esses fundamentos”. Internamente, o governo deu mostras de preocupação e anunciou um pacote de medidas de incentivo ao setor industrial, totalizando 25 bilhões de reais em incentivos fiscais e recursos, como forma de combater os prejuízos à industria nacional causados pelos produtos importados que chegam “mais baratos”, diante do dólar desvalorizado. E para o futuro? A médio prazo, o governo promete o ajuste do déficit até 2014, mas até lá terá que lidar com gastos grandes como as despesas em infraestrutura para os campos do pré-sal e para os preparativos da Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, melhorando estradas, portos e aeroportos. Além desse compromisso, o Brasil terá que enfrentar outras situações corriqueiras e inevitáveis já no ano que vem, segundo o professor de Economia Internacional do Ibmec, Reginaldo Nogueira, que são, além do risco latente com o cenário externo, “a queda no preço das commodities devido à desaceleração da China, a desindustrialização, as deficiências da burocracia, os níveis de corrupção e o seu custo para a sociedade e a pouca qualificação da mão de obra, que bloqueia ainda mais o nosso crescimento.” Nos resta esperar que desde já as tarefas comecem a ser cumpridas. SHOWROOM Conselho Editorial 3 A mensagem do Conselho Editorial. 5 Cartas O que dizem sobre Showroom. 6 Quem Passou por Aqui Personalidades e amigos que visitaram a Assobrav e o Grupo Disal. 8 Gente Exemplo de talento, conhecimento técnico e dedicação, Inélia Garcia, a educadora física chilena radicada no Brasil há mais de 30 anos, coleciona prêmios, alunos e prestígio internacional. É a maior autoridade em Pilates do País e uma das 10 mais do mundo. Foi a responsável pela introdução do método nacionalmente e já capacitou mais de 500 profissionais. Convicta de que a melhor filosofia de vida é “o desenvolvimento integral do ser humano” e incansável pesquisadora, promete ainda mais novidades no campo da Educação Física. 16 Mundo Verde 4 Nosso recado sobre a preservação do meio ambiente e suas implicações legais. 18 Comportamento Como lidar com “Geração Y” ? As pessoas nascidas entre 1978 e 1994 caracterizamse por terem facilidade com tecnologia e atitude egocêntrica no ambiente de trabalho. Vivem em ação, estimuladas por atividades, são profissionais multitarefa, muito bem preparados, mas têm dificuldade em lidar com fracassos e frustrações. 24 RH A reflexão do psicólogo, especialista em relações corporativas, Armando Siqueira Neto. 25 TechMania Os testes em laboratórios e em pistas de prova da indústria automobilística, segundo o jornalista Fernando Calmon. 26 Capa MUNDO VERDE A PASSEIO CAPA 3 Recado 32 A Passeio Algumas das melhores dicas para passar as festas de fim de ano em todo o mundo. 38 Fala Sério! O novo tom da crônica de Maria Regina Cyrino Corrêa. 39 Quando a Bola Rola... O comentário de Marcelo Allendes sobre o que acontece nos gramados, quadras, piscinas...e em outros espaços também. 40 Novidades O que há de novo em eletrônicos, periféricos de informática e outras utilidades. Se tudo der certo no cenário econômico brasileiro e mundial o segundo semestre de 2011 será igual ao primeiro. Mais do mesmo. Se não chega a ser uma boa notícia, ao menos não é a pior. O início do governo Dilma Rousseff foi marcado pelo dilema de atacar a inflação de forma cirúrgica ou homeopática. Optou-se pela forma lenta, como se sabe, e nem no fim de 2012 a inflação voltará para o centro da meta. Até lá, há riscos internos e externos, um deles é o Brasil “tornar-se vítima de seu próprio hype”. 41 Livros & Afins 30 Freio Solto Receitas, segredos e informações sobre a história da gastronomia com o chef Gustavo Corrêa. A opinião, a crítica e a ironia do jornalista Joel Leite. Nossas dicas para a sua biblioteca, cedeteca, devedeteca e pinacoteca. 42 Vinhos & Videiras A opinião abalizada de Arthur Azevedo, diretor executivo da ABS – Associação Brasileira de Sommeliers – SP e editor da revista WineStyle e do site www. artwine.com.br 42 Mesa Posta Publicação mensal da Muito boa a reportagem que vocês fizeram sobre o “Matchmaking” (Edição 293 – Junho 2011) Gostaria de saber mais detalhes para poder participar de uma rodada dessas. Márcia Alves • São Paulo Os que passam por aqui Adoraria ter minha foto publicada na seção Quem Passou Por Aqui. Como faço? Quando a Revista Showroom chega é a primeira coisa que lemos aqui em casa. Mesmo não conhecendo todas as pessoas que aparecem na coluna, gostamos de ver quem “passou por aí” A seção é divertida e acredito que as pessoas publicadas devam adorar se ver ali. Roseli Machado • Rio de Janeiro Montenegro Que maravilha Montenegro! (Seção A Passeio Edição 294 – Julho 2011) Confesso que desconhecia esse destino. Quero visitar as cavernas-igrejas ao redor do Mosteiro Ostrog, ponto de encontro de católicos e ortodoxos. Parabéns pela dica. Maria José • São Paulo Ontem e hoje. O mesmo dilema Quero parabenizar o articulista Armando Siqueira Neto por sua crônica “parece que foi ontem” (Edição 294 – Julho 2011). Realmente a maneira como os homens primitivos viviam e como vivemos hoje não mudou em essência. Apenas adquirimos um pouco de conhecimento e um outro tanto de conforto. Como raça humana, temos muito ainda que aprender. João Antonio Couto • Curitiba O vinho do Dr. Arthur Que boa notícia foi saber que o diretor executivo da ABS-SP, Arthur de Azevedo, competente médico e expert em vinhos, lançou seu próprio vinho em parceria com sommeliers portugueses (Edição 294 – Julho 2011). Estou pronto para degustar os dois novos rótulos do Dr Arthur: o Scancio Private Selection 2008 e o Scancio Reserva. Tenho certeza de que a importadora Vinissimo não vai dar conta dos pedidos. Parabéns! Sandro Pieron • São Paulo N.R.: Recordamos que para receber Showroom mensalmente os interessados devem enviar um e-mail à Redação ([email protected]) informando o seu endereço e solicitando o envio da publicação. Os pedidos serão atendidos por ordem de chegada e conforme a disponibilidade de exemplares. Ano 33 – Edição 295–agosto de 2011 Conselho Editorial Antonio Francischinelli Jr. , Mauro I.C. Imperatori, Juan Carlos Escorza Dominguez e Silvia Teresa Bella Ramunno. Editoria e Redação Trade AT Once - Comunicação e Websites Ltda. Rua Itápolis, 815 • CEP 01245-000 São Paulo •SP • Tel (11) 5078-5427 [email protected] Editora e Jornalista Responsável Silvia Teresa Bella Ramunno (13.452/MT) Redação - Rosângela Lotfi (23.254/MT) Projeto Gráfico e Direção de Arte Azevedo Publicidade - Marcelo Azevedo [email protected] Publicidade Disal Serviços - Maria Marta Mello Guimarães Tel (11) 5078-5480 [email protected] Impressão Gráfica Itú Tiragem 6.000 exemplares Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte. As matérias assinadas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição da Assobrav. Registro nº 137.785 – 3º Cartório Civil de Pessoas Jurídicas da Capital de São Paulo. Assobrav Av. José Maria Whitaker, 603 CEP 04057-900 São Paulo – SP Tel: (11) 5078-5400 [email protected] Diretoria Executiva Presidente: Mauro Saddi Vice-presidentes: André Oshiro Carlos Roberto F de Mattos Jr. Elias dos Santos Monteiro Eric Braz Tambasco Francisco Veríssimo S Filho Luis Eduardo B Cruz e Guião Luiz Francisco Viscardi Nilo Moraes Coelho Filho Rogério Wink Diretor Ad-hoc: Bruno Abib Conselho de Ex-Presidentes Sérgio Antonio Reze, Paulo Pires Simões, João Cláudio Pentagna Guimarães, Rômulo D. Queiroz Monteiro Filho, Orlando S. Álvares de Moura, Amaury Rodrigues de Amorim, Carlos Roberto Franco de Mattos, Roberto Torres Neves Osório, Elmano Moisés Nigri e Rui Flávio Chúfalo Guião. SHOWROOM Encontro entre profissionais e empresas 5 Lucas Delfino, gerente regional da Assurant Solutions, para uma análise in loco da Assobrav e seu expertise técnico... A educadora física e publicitária Bruna Carneiro, sucessora da VW Minas Auto, de Ponte Nova (MG), para participar do Programa Sucessores Assobrav, porque embora administre o seu próprio negócio há dois anos, a academia de ginástica “Studio de Personal”, acredita que o curso irá ajudá-la, “e muito”, a melhorar o seu atendimento ao público e a gestão da empresa... Para uma visita de cortesia e de conhecimento sobre o Grupo Disal, o gerente de produtos da Cardif do Brasil, Reinaldo Hagge Jr.... 6 Luis Felipe Queiroz, o “faz tudo” da VW Nova Ivesa, de Indaiatuba, interior de São Paulo, sucedendo com competência e dinamismo a empresa familiar... Excêntrico, divertido e talentoso, Maurílio Malta, diretor de cena, e sua Malta Consultores Associados, agência especializada em comunicação corporativa, para registrar, com maestria, eventos da Assobrav e da rede Volkswagen... Carlos André Fransosi, novo supervisor de Pós-Vendas do Escritório Regional I, da Volkswagen do Brasil, para comandar, com simpatia e eficiência, mais uma reunião dos gerentes da Rede VW... O engenheiro Tarso Rutklowski, gerente de Assistência Técnica da VW Biguaçu, da capital paulista, para mais uma reunião de Pós-Vendas na Assobrav... Elton (Kiko) Nigri, incansável empreendedor, agora também à frente da MOC Brasil Comércio de Produtos Automotivos... A sucessora da VW Carevel de Rondônia, Rosandra Fleck, há 10 anos gerenciando as finanças da empresa familiar, em busca de mais conhecimento técnico e da troca de experiências com os colegas mais ao sul do País... SHOWROOM André Luis Arantes, gerente de Vendas Corporativas da Sulamérica, para trocar ideias sobre novos produtos com a diretoria da Disal Corretora de Seguros... 7 Sempre em busca da felicidade plena, Inélia Garcia se destaca como divulgadora mundial do autêntico método Pilates e já capacitou mais de 500 profissionais com esta filosofia de vida. Inélia Garcia Empresária do corpo e da alma 8 Por Thais Martins fascínio pela educação física permitiu à Inélia Garcia uma carreira cheia de lutas, conquistas e descobertas que revolucionaram não só a sua maneira de pensar e agir, como a postura com que muitos profissionais encaravam, até então, a saúde. Seu jeito inquieto e questionador permitiu que encontrasse no método criado por Joseph Pilates a resposta de uma dúvida que surgiu ao assistir a uma palestra da universidade: “Como desenvolver integralmente o ser humano?”. Foram anos de atletismo, dança, yoga, karatê, cursos, especializações e nada de encontrar o conhecimento para dar significado maior ao exercício físico. Essas experiências, porém, não foram em vão. Por meio de sua vasta bagagem, desenvolveu técnicas como o alongamento consciente e o Ballness. Os frutos foram e são colhidos diariamente. Já foi homenageada em nome do próprio Joseph Pilates como a maior divulgadora mundial do tradicional método; sua arte de ensinar lhe rendeu o prêmio Top Fiep Brasil, proporcionado pela Federação Internacional de Educação Física; inaugurou diversas unidades do The Studio Pilates no Brasil; já capacitou cerca de 500 profissionais e conquistou a confiança e a admiração da máxima em Pilates no mundo: Romana Kryzanowska, a precursora oficial de Joseph. “Ela é minha mestre, amiga, minha inspiração no trabalho e na vida. Me ensinou, e ensina, como servir as pessoas com amor, motivação, com seriedade e responsabilidade”, se orgulha. Showroom: Como começou seu interesse pelo esporte? Inélia Garcia: O exercício físico sempre esteve presente na minha vida. Desde a infância tive oportunidade de praticar várias modalidades e minha paixão pela atividade física me levou a escolher como carreira a Educação Física. Fiz atletismo, dança, yoga, karatê... tudo isso me trouxe força de vontade, dedicação, treinamento, luta, conquista e disciplina. E isso se constrói dia a dia, com paciência, compreensão, e só o faz quem tem amor à vida e atitudes positivas. Me formei na Universidade Federal do Chile e naquela época trabalhava com a atividade física em hospitais, com ginástica para funcionários, quase uma ginástica laboral, naquele então inexistente. Também fazia trabalho social em escolas de padres dominicanos, na periferia. A primeira palestra que tive na faculdade tratou sobre “o desenvolvimento integral do ser humano” e esse tema, essa incógnita, me acompanhou por anos. Tudo que eu fazia buscava alcançar esse objetivo. Posso dizer que foi essa a motivação que me permitiu descobrir muitas coisas em benefício da saúde. E quais foram as descobertas? A primeira delas aconteceu por causa da lesão da musculatura posterior e abdutora da coxa que tive, que me impedia de sentar, ficar em pé, não podia fazer nada. Os médicos me disseram que demoraria muito tempo para me recuperar, dado o nível da distensão. Fiquei desesperada. Comecei a massagear e alongar o meu corpo, e percebi que ajudava na recuperação. Automaticamente me relaxava e a tolerância à dor e à flexibilidade aumentava. Uma das estratégias para aprender a relaxar é a cimbinação de massagem, música e o controle da respiração. Foi o início do que seria futuramente o trabalho de Alongamento Consciente. Como se desenvolveu essa técnica? Na faculdade, participei de vários estágios e projetos sociais que exigiam pesquisas específicas sobre o movimento e estratégias didáticas para trabalhar com públicos diferenciados. Devido a esta demanda, elaborei um trabalho específico de alongamento, onde utilizei minha experiência com SHOWROOM O Uma das estratégias para aprender a relaxar É a COMBINAÇÃO DE massagem, música e o controle da respiração. Foi o início do que seria futuramente o trabalho de Alongamento Consciente. 9 bola suíça e então, a partir de 1994, comecei a ministrar aulas com este nome em convenções de fitness por todo o Brasil e Itália. dança, yoga, artes marciais, técnicas terapêuticas e a fundamentação do trabalho de desenvolvimento psicomotor. A primeira experiência foi aplicar este trabalho, com o título de ginástica da saúde, para os profissionais (médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, equipe administrativa e de infra-estrutura) que trabalhavam no hospital Barros Luco Trudeau, em Santiago, no Chile. Paralelamente, fiz estágio em escolas e clubes, adaptando as recém-criadas aulas de Alongamento Consciente às necessidades de crianças e atletas. Já no fim do curso de Educação Física, o conhecimento acumulado era tão amplo que o organizei em forma de método, que seria enriquecido com minha vinda ao Brasil e ao trabalho junto a crianças carentes em Guarulhos, com atletas de ginástica rítmica desportiva e nas aulas de ginástica de academia. A partir de 1981 levei a técnica para congressos na América Latina, EUA e Europa. Após comemorar 32 anos da criação do método, continuo inovando, adicionando novos materiais e estudando as mais amplas possibilidades de movimento corporal. exemplar. Fiz um curso no Rio de Janeiro com aplicação da bola nos processos de recuperação de lesões. Em 1993 estive na Califórnia, onde tive a oportunidade de participar de algumas aulas e cursos utilizando a bola. Lá vi a abrangência do seu uso e adquiri 20 unidades para utilizálas nas aulas de ginástica na minha academia Corpus, em Guarulhos. Como o Alongamento Consciente já estava compilado e fazia muito sucesso, passei a usar os mesmos princípios e formatei um método próprio de trabalho completo com Qual é o fundamento da bola suíça? É uma aula com bola de diferentes tamanhos que possibilita desenvolver grande variedade de capacidades e qualidades físicas, como força, flexibilidade, resistência e consciência corporal com o objetivo do aprimoramento do condicionamento físico, controle motor, percepção corporal e consciência do movimento. É o bem-estar por meio da bola, usado muito em ginástica laboral, fisioterapia, exercícios lúdicos para crianças. Facilita a socialização, pois remete à infância, além de melhorar as capacidades físicas. É E quais são os benefícios do Alongamento Consciente? É muito praticado para diminuir os picos de tensão que se formam em função do dia a dia. Melhora as funções músculo-articulares, ajuda o alongamento e flexibilidade, harmoniza os fluxos energéticos do corpo e reestrutura o equilíbrio físico e mental. 10 Depois de desenvolver essa técnica, qual foi sua próxima conquista? Comecei o trabalho com bola suíça nos anos 90, posteriormente batizado de Ballness. Foi na Itália que adquiri o meu primeiro “É importante melhorar as funções músculo-articulares o alongamento e a flexibilidade” E você também deu o seu toque à técnica... Sim, em 1996 com a chegada ao Brasil de programas de condicionamento físico na bola suíça, surgiu a necessidade de diferenciar minha aula das demais. Assim, lancei em 1997 a primeira aula com o nome utilizado até hoje: Ballness, uma alusão ao desenvolvimento de programas de wellness (bem-estar). Mais de duas décadas depois do meu primeiro contato com este tipo de material, vejo que a bola suíça veio para ficar. Hoje, as aulas de Ballness incorporaram vários tamanhos de bolas com materiais diversificados, além de usar acessórios que podem aumentar o grau de solicitação física, motora e de aptidão física, como halter, elásticos, bandas elásticas, pesos livres, entre outros. O desenvolvimento da indústria dos acessórios de fitness nos trouxe outros tamanhos de bolas com materiais variados; atualmente estou pesquisando e fazendo a inserção de mais de 10 novos materiais que serão incorporados à metodologia Ballness. E o Pilates? Como entrou na sua vida? Foi em San Diego (EUA), na Idea Fitness International, em 1993, que me encantei com o método Pilates. No ano seguinte comecei a certificação com Romana Kryzanowska, em Nova York, em busca da tríplice saúde: física, mental e emocional. No mesmo ano já iniciei a atividade no Brasil, com o Mat (trabalho no chão com colchonetes, sem aparelhos e só com acessórios como banda elástica, bastão e pesos de um a três quilos). E em 1997 abri meu primeiro Studio na academia Corpus, em Guarulhos (São Paulo). E qual é a diferença entre o Pilates com e sem bola? É uma ótima pergunta, pois o verdadeiro Pilates não utiliza bola e quem criou foi Joseph Pilates, com aparelhos para a prática dos exercícios. As academias e os professores de educação física estão sempre criando novas modalidades e jeitos diferentes de praticar a atividade física, o que não garante que seja seguro e eficiente como o tradicional método é. Hoje, o mercado de fitness coloca a bola como elemento motivador e utiliza “erroneamente” o nome. Fale um pouco mais sobre o autêntico método Pilates... O método Pilates é muito abrangente. Joseph estava muito à frente da época dele, então tem muita coisa sempre pra ser explorada, desmembrada. O método Pilates, ou Contrologia, é um sistema completo de exercícios sistematizados, criado entre as décadas de 1920 e 1930 por Joseph Hubertus Pilates, que buscou soluções para driblar sua infância adoentada. Foi um estudioso das modalidades ocidentais e orientais de exercícios da época, mas principalmente das antigas filosofias gregas e romanas em busca do equilíbrio e da manutenção da saúde física e mental. Ele desenvolveu aparelhos conhecidos em nossos dias como Reformer, Cadillac, Eletric Chair, Wunda Chair, Full Barrel, Tower, entre outros. Mas foi na década de 20 que fez seu primeiro contato com o mundo da dança. Paralelamente, o governo alemão pediu a ele que usasse o seu treinamento nas forças armadas. Foi por isso que imigrou para os Estados Unidos a convite do empresário de boxe americano, Nat Fleischeir e de Max Schmeling. Foi aí que os EUA passaram a aderir ao seu método, pois viramse beneficiados com a Contrologia, fundamental para o treinamento de bailarinos e artistas. Hoje, mais de 90 anos depois, o The Pilates Studio Brasil tem o compromisso de levar adiante essa filosofia. A principal discípula continuadora da obra do alemão Joseph é Romana Krysanowska. O que significa ter saúde para você? Tenho 33 anos de formação como educadora física. Passei por vários cursos, especializações. Estou há 31 anos no Brasil. Ao longo dos anos ganhei bagagem, vivência, vi resultados rápidos e duradouros, e passei a ter maior consciência do corpo, o que é ter um condicionamento físico bom, uma ótima saúde. Saúde é ser saudável física, mental e emocionalmente. Lembra do desenvolvimento pleno do ser humano? Até hoje, só vi a plena excelência no Pilates. É preciso procurar dentro de cada um o equilíbrio do corpo, da mente e do emocional, desenvolver a espiritualidade. Criei o Alongamento Consciente, aderi ao Ballness, e encontrei o Pilates que me fez chegar à plenitude do bem-estar; ter saúde em todos os sentidos. Como foi e é sua relação com Romana, a maior autoridade em Pilares hoje? Ela tem 88 anos, mora no Texas, é minha mestre, amiga, inspiração no trabalho, é um exemplo de vida em como servir as pessoas com amor, motivação, como fazer as coisas bem. Me ensinou Pilates com seriedade e responsabilidade. Iniciei minha certificação com ela, em 1994, em Nova York, e agora dedico minha vida a divulgar, ensinar e formar profissionais que amem o que fazem e acreditam no poder da atividade física. Desde o princípio, Romana disse ter percebido minha capacidade de assimilação dos princípios da Contrologia, minha fluência didática, pedagógica e o reconhecimento e carisma no meio profissional. Foi quando propôs a implantação, em São Paulo, de um Centro de Certificação nos moldes dos existentes nos Estados Unidos e Europa. Em 1997, ela visitou o Brasil para iniciar oficialmente o trabalho, inaugurando o primeiro Studio. Retornou em 1999 para iniciar o 1º Centro de Certificação do Autêntico Método Pilates da América Latina, em São Paulo. Como é a realidade do The Pilates Studio Brasil? Após a implantação do primeiro Studio, Romana me nomeou como diretora SHOWROOM muito utilizada na prevenção de lesões músculo esqueléticas. 11 O mais importante é gostar do que se faz e eu só tenho a agradecer a Deus por fazer algo que gosto e acredito. Foi muito forte receber o troféu. Sou muito disciplinada e esse esforço foi reconhecido pelo que acredito. A partir de 2003 fui nomeada “teacher of teachers” mundialmente, e em 2006 veio a grande honra: a autorização de Romana para ministrar e avaliar todos os módulos da certificação, que passa a ser referência mundial de excelência e qualidade. Está para acontecer a Certificação 2012 para os instrutores, o único centro de certificação brasileiro. Em termos de inovação, o que vem por aí? O método Pilates é muito abrangente. Joseph estava muito à frente da época dele, então tem muita coisa sempre pra ser explorada, desmembrada. No início do segundo semestre deste ano faremos o planejamento para 2012. O trabalho social terá um peso mais forte, principalmente na terceira idade, o adulto maior. Como trabalhar essa geração para que tenha saúde, para que envelheça bem. Você sempre se dedicou a trabalhos sociais? Sempre ajudamos pessoas que não têm condições de pagar, que têm dor crônica e não têm como fazer um trabalho de fisioterapia. Cada estúdio faz o seu trabalho, porém nunca documentados ou divulgados. Pretendemos ampliar e estruturar mais este tipo de ação. 12 responsável para formar, divulgar e preparar futuros professores para a Certificação, junto à rede The Pilates Studio Brasil. Desde então, Romana visita anualmente o Brasil, participando da Certificação e ministrando a educação contínua aos instrutores formados, além de dar diretrizes para o desenvolvimento do Pilates no País. Hoje o The Studio Pilates conta com 50 unidades no Brasil, América Latina e Europa, cerca de 500 profissionais já foram formados e certificados. Sete unidades são de minha propriedade e as demais são franqueadas. Cada Studio tem em média 200 alunos. São Paulo concentra o maior número com 25 unidades, seguido por Curitiba com quatro, Brasília, Belo Horizonte e Rio Grande do Sul com três, Rio de Janeiro com duas e Natal, João Pessoa, Recife, Maceió e Campo Grande com uma unidade em cada Estado. Você recebeu diversas premiações. Como elas marcaram a sua carreira? Em 1997 recebi o Top Fiep pela Federação Internacional de Educação Física, como melhor professora de Educação Física do Brasil. Já em 2011, em um evento em Los Angeles, recebi uma homenagem em nome do próprio Joseph Pilates, por Romana, como a melhor divulgadora mundial do método. Foi uma surpresa, pois estava há apenas seis, sete anos inserida no meio, enquanto no evento havia profissionais com mais de 30 anos. Romana disse que se Joseph estivesse vivo ele faria isso. Quer deixar uma mensagem para finalizar nossa entrevista? O mais importante é gostar do que se faz e eu só tenho a agradecer a Deus por fazer algo que gosto e acredito. Com isso é possível traçar metas concretas para um futuro melhor, não só para mim, como para todos. Atualmente, busco manter a originalidade e a excelência do método para as próximas gerações saberem o que realmente Joseph Pilates criou. Quero continuar na formação de profissionais, expandindo a rede para que mais pessoas possam se beneficiar do método e alcançarem aquele que era o maior ideal de Joseph: mudar a essência das pessoas em busca da felicidade plena. Exposição transforma sucata de automóvel em ARTE A Iniciativa inédita no País, a exposição “Da sucata à arte” na concessionária VW Recreio BH valoriza a sustentabilidade e abre novos caminhos para jovem da periferia Por Regina Perillo Recreio BH, em Belo Horizonte, abre seu espaço cultural para uma exposição inédita entre as concessionárias Volkswagen do País: “Da sucata à arte na Recreio BH”. A exposição, que utiliza portas, capôs, para-choques e para-lamas, acontece de 1 a 15 de agosto, com doze trabalhos do jovem artista e grafiteiro Helbert de Lourdes Oliveira. Segundo o diretor da concessionária, Eric Braz Tambasco, a Recreio sempre deu o destino correto para as sucatas geradas na oficina, mas quis ir além, com a criação de um projeto de cunho ambiental e social, para transformação do material em arte. Ele explica que a exposição é a semente inicial de um projeto, que futuramente pode englobar as cerca de 60 concessionárias do Grupo Líder nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Jovem artista “Com o projeto já em mente, faltava encontrar o artista certo”, conta o diretor. “A concessionária buscava alguém que não fosse conhecido e para quem a exposição representasse também uma oportunidade de transformação social. Foi quando, 16 por uma dessas inexplicáveis coincidências, o jovem Helbert de Lourdes Oliveira, ao ser entrevistado para uma vaga na empresa, falou do seu interesse pela pintura. Na mesma hora, ele foi levado até as sucatas e mostrou um pouco do seu trabalho. Foi imediatamente convidado para iniciar o projeto. “ Morador da periferia de Santa Luzia e proveniente de uma família muito humilde, o jovem disse que sempre gostou de artes, mas que já estava pensando em desistir, por falta de oportunidades. Até então, ele se expressava como grafiteiro, fazendo pequenos trabalhos sob encomenda. Helbert, 22 anos, com segundo grau completo, nome artístico Rondas, conta que sua maior preocupação hoje é fazer um trabalho que tenha conteúdo e que expresse exatamente os seus pensamentos. “Não pinto apenas pelo prazer estético e espero que as pessoas entendam isso, e que cada um faça sua interpretação sobre o que vê”. O caos das cidades, o consumismo, o cotidiano massacrante, a massificação são temáticas que ele procura retratar em cada peça, em momentos que exigem muita inspiração. Ele conta que no início desenhava mais letras e símbolos, mas depois foi amadurecendo e hoje procura colocar um teor social nos quadros, baseado em sua vivência nas ruas e na arte dos muros que sempre praticou. A arte da resiliência (2 fig.capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças -Houaiss) O termo geração Y foi cunhado nos Estados Unidos, identifica uma geração que se desenvolveu em uma época de avanços tecnológicos e prosperidade econômica. Cujos pais, se sentido culpados e não querendo repetir o abandono das gerações anteriores, enchem os filhos de presentes, atenções e atividades. Com a autoestima fomentada, eles se acostumaram a conseguir tudo o que querem. É a geração do “eu mereço”, não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e lutam por salários ambiciosos desde cedo. Como escreveu a escritora e documentarista Eliane Brum em um artigo no site da revista Época, intitulado “Meu filho, você não merece nada”, a crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada: “Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Há toda uma polêmica se há ou não a tal geração Y no Brasil. E se há como lidar com ela no ambiente de trabalho. Jean Pralong, professor da Escola de Negócios, em Rouen, na França, define a Geração Y como as pessoas nascidas entre 1978 e 1994, caracterizadas por terem facilidade com tecnologia e atitude egocêntrica no local de trabalho. Pessoas que vivem em ação, estimulados por atividades, multitarefas, muito bem preparadas, mas que não sabem lidar com fracassos e frustrações. 18 POR Rosângela lotfi “Os jovens buscam gratificação instantânea e não lidam bem com promessas futuras” Para Fabiano Caxito, consultor de empresas e palestrante, é inegável que uma parcela de jovens, nascidos em famílias das classes A e B, apresente características da geração Y similares a dos jovens americanos: “estudam inglês, fazem intercâmbio, usam redes sociais, não têm paciência para coisas longas e demoradas. Buscam gratificação instantânea e não lidam bem com promessas futuras, demandam muito feedback e são movidos a elogios. Gostam de ser reconhecidos e são ambiciosos. Demonstram amplo domínio da tecnologia, são alegres e descontraídos e buscam equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.” A maioria não teve as mesmas oportunidades A polêmica se há ou não geração Y no Brasil é que a prosperidade econômica brasileira é recente e ainda frágil. A maioria dos jovens nascidos nas classes C e D não teve acesso a escolas de qualidade, apenas recentemente passaram a ter acesso a internet, muitos nunca assistiram TV a cabo. Não estudaram outras línguas e nunca saíram de sua cidade. O que têm em comum com os endinheirados, explica Caxito, baseando-se na pesquisa “Os dois Brasis – Encontros e Desencontros na internet da geração 90”, realizada pela Binder/ FC+M em 2009, é a cultura dos videogames, que forma nos jovens, independente da classe social, uma ideia de recompensa imediata. “Outra característica comum aos jovens da geração Y é o desejo de rápido crescimento profissional, mas as diferenças de oportunidades e de escolaridade ainda são grandes”, diz ele, ressaltando que é preciso evitar a generalização. “Não quer dizer que não há geração Y no Brasil, nem que há, porque nem todas as pessoas nascidas após a década de 80 pensam da mesma forma e têm os mesmos valores.” No trabalho não existe diferença entre profissionais de 25 e 45 anos Segundo ele, essas características de ambição, imediatismo, baixa tolerância à frustração, com dificuldade de lidar com processos e com pressão, para lidar com normas e regras, com limites de horários, pela busca do individualismo ou informalidade na forma de se vestir, não são exclusivas dessa faixa etária. “Vejo pessoas com mais idade e com a mesma atitude.” A afirmação do consultor corrobora as conclusões do estudo intergeracional realizado por Pralong, que entrevistou 400 participantes de formações semelhantes, variando de alunos até trabalhadores assalariados com 60 anos. O estudo mostrou que as atitudes no local de trabalho e ideias sobre carreiras da Geração X (nascidos entre aproximadamente 1959 e 1981) e da chamada geração Y são as mesmas. “Não existe diferença entre 25 anos de idade e 45 no trabalho.” Lilian Graziano, diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC), diz que resiliência, isto é, a capacidade de superar os obstáculos da vida, deve ser desenvolvida desde cedo. “Todos têm capacidade de resiliência; uns mais, outros menos. Não é uma questão de idade, mas a resiliência costuma ser desenvolvida à medida que a pessoa tem maturidade emocional. O que acontece com essa geração é que esta habilidade ainda não está desenvolvida, graças aos pais que os protegeram, deram tudo, não deixaram que passassem por problemas.” “Os jovens que continuarem acreditando que o mundo deve algo a eles e não desenvolveram a capacidade de resiliência, vão bater muito a cabeça...” As empresas não são tolerantes Lilian diz que isso aparece mais fortemente no mundo corporativo porque este é um ambiente que não é tão tolerante como a casa dos pais. “As empresas até estão tentando adequar seu estilo de gestão a esses jovens que estão chegando com força no mercado de trabalho, mas há limites. Entre os jovens, os que continuarem acreditando que o mundo deve algo a eles e não desenvolveram a capacidade de resiliência, vão bater muito a cabeça até perceberem que esta habilidade é uma alavanca para a felicidade.” Frustração, fracasso, decepção certamente acontecem em vários momentos da vida, para todas as pessoas, na família, na escola, no trabalho, nos relacionamentos e desde cedo é preciso ensinar que fracasso ou frustração não é o fim do mundo. “Ensinar a olhar as situações pelo lado positivo – ou por seus vários ângulos –, a minimizar os danos do problema ou compartilhá-lo, como forma objetiva de buscar uma solução”, explica Lilian, assim criam- SHOWROOM Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade.” 19 se indivíduos mais resilientes e mais aptos vencer os desafios que a vida lhes proporciona. “Ser feliz dá trabalho e é um trabalho diário” Ter resiliência não significa nunca ficar triste ou nunca ter uma depressão pontual, o que não seria humano. “Tristeza faz parte da condição humana saudável”, diz a psicóloga. Algumas pessoas ficam tristes, vivem esse “luto”, mas não ficam “alimentando” o sofrimento. Estas têm capacidade de superar o abatimento e tirar dessa situação algo proveitoso. Não apenas a geração Y nesta época contemporânea tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. “Ser feliz dá trabalho e é um trabalho diário”, diz a psicóloga, explicando a psicologia positiva (nada a ver com auto-ajuda ou neurolinguística, por exemplo) define felicidade não como ausência de problemas, mas o balanço positivo que o indivíduo faz e que inclui experiências emocionais agradáveis, baixos índices de humores negativos e alta satisfação com a vida. Lilian Graziano aconselha 20 a avaliar a vida a cada seis meses, buscando identificar qual o padrão emocional. Se o balanço for positivo, isto é, sentir na maioria das vezes emoções positivas e, às vezes, emoções negativas como medo, raiva, tristeza, fruto dos problemas cotidianos, a experiência das emoções negativas não compromete os níveis de felicidade do sujeito. O predomínio de emoções positivas, maior nas pessoas mais resilientes, eleva o nível de felicidade. O contrário, mais emoções negativas, dificuldade exagerada de superar os obstáculos e o desenvolvimento de comportamentos disfuncionais diante deles seriam sinais de que um especialista deve entrar em cena. Resiliência aprendida A resiliência pode ser aprendida. Tanto que na Universidade de Harvard, onde a disciplina nasceu em 1998, é a matéria mais procurada pelos alunos, superando a “Introdução à Economia”. São pessoas buscando educar suas emoções. A psicologia positiva não nega os problemas, mas ajuda as pessoas a desenvolverem o que têm de melhor, as forças pessoais. “Não é processo simples. É necessário, em um primeiro momento, ser pragmático e objetivo, manter o foco na resolução do problema. Em seguida, medir os possíveis “estragos” emocionais provocados pela situação, para avaliar ganhos e aprendizados. Enxergar o momento como um aprendizado já o coloca no passado, com função de ser um item do ‘manual interno’ de conduta diante de futuros obstáculos; o caminho certo para a superação”, ensina a psicóloga. Aprendizado que funciona também no ambiente corporativo, mudando o clima organizacional e educando os profissionais de todas as gerações a lidar, de forma saudável, com as frustrações. “Aliás, este deveria ser o objetivo da gestão por competências. Geralmente somos avaliados por aquilo que não somos. Uma avaliação positiva, com base naquilo que o profissional pode oferecer, seria o primeiro passo em um trabalho que visa a desenvolver o foco do profissional nas questões positivas e aprendizados, algo essencial para desenvolver a resiliência.” Afinal, como concluiu Eliane Brum no artigo já citado, “crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos.” O caos salvador A irregularidade, por aparentemente indesejável que se imponha, é o nosso anjo da guarda, e não o demônio do qual se deve fugir sem nem olhar para trás. É o caos salvador. Por Armando Correa de Siqueira Neto D 24 esde o Big Bang, evento que marcou o início do universo há 13,7 bilhões de anos, incontável número de transformações se sucedeu, e sob a cartilha do dinamismo, o cosmos continua se expandindo cada vez mais rapidamente através do tecido tempo-espaço, a “teia cósmica”, haja vista os cientistas realizarem os cálculos que confirmam tal progressão elástica. O universo, então, nunca foi e nunca será fixo como propunham alguns. Diz respeito, pois, a uma instabilidade em escala gigantesca, quase inimaginável, capaz de tirar o fôlego e causar até certo temor, pois aos olhos humanos, um lugar no qual não se pode contar com a sua correspondente estabilidade, mas, basicamente, com sua irregularidade, é questionável acerca da segurança relacionada à vida, seja no planeta Terra ou em outro ponto qualquer. Não é exatamente o que as pessoas gostariam de saber, mas tratase do conjunto de conceitos atuais, medidos e calculados metódica e exaustivamente. É do conhecimento científico, também, que a vida subatômica, em escala minúscula, no outro extremo da análise, carrega em si o pulsar dinâmico e incerto, cujas reflexões e teorias originadas nos seios da Física e da Matemática já o enunciaram há algumas décadas. E que tal acrescentar a este caldeirão efervescente as permanentes combinações dos elementos químicos, do mais leve ao mais pesado, em busca da tão almejada estabilidade? Qual a razão de tantas inconstâncias? E o que dizer da Biologia e sua complexa escala na evolução das espécies, cuja aleatoriedade é sua marca registrada e predomina desde tempos imemoriais? Por estranho que pareça, foi exatamente tal “descontrole” que permitiu que se seguisse às múltiplas possibilidades de adaptação, aperfeiçoamento e continuidade da vida, fato que nos permite viver e continuar vivendo até... Logo, a irregularidade, por aparentemente indesejável que se imponha, é o nosso anjo da guarda, e não o demônio do qual se deve fugir sem nem olhar para trás. É o caos salvador. É claro que nós, seres humanos dotados de uma psicologia complexa - evoluída conforme as necessidades adaptativas surgidas a torto e a direito -, desejamos a ordem e o conforto da segurança. Queremos muito a regularidade, somos obsessivos pelo controle. Lutamos arduamente para estabelecer métodos que facilitem o modo de se fazer as coisas cotidianas, de se obter mais por menos. Tudo bem. Contudo, não se pode escapar à realidade, os fatos cada vez mais cristalinos atestam que é em razão do caos, e suas propriedades lotéricas, que se pode expandir flexivelmente, evoluindo sem eventuais engessamentos e resistências que, a seu turno, impedem, em muito, novas aprendizagens e o desenvolvimento a que tanto temos disponibilidade. Então, coragem, permita-se olhar para novos horizontes, mesmo os de imagem obscura, de aparência confusa, e de porvir incerto, e conceda a si mesmo o espaço para pensar sobre o valor do caos, e talvez se conclua que o xarope amargo de repente adquire um doce sabor, e que temer o inevitável rouba tempo e energia, os quais, se bem empregados, podem promover maiores passadas evolutivas, algumas até beneficamente inesperadas. Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: [email protected] Corrida pela economia A busca pelo menor consumo levará a avanços no conjunto do automóvel, desde aerodinâmica a materiais mais leves, passando por caixa de câmbio e pneus. Até a F-1 terá propulsores mais econômicos. pesar das esperanças em meios de propulsão alternativos, o mundo conviverá por muito tempo com o transporte, em todos os modais, dependente de petróleo e seus derivados. Contudo, há um grande esforço para melhorar os combustíveis fósseis e, sempre que possível, viabilizar o uso de biocombustíveis. A Associação Brasileira de Engenharia Automotiva tem estado atenta a essa realidade e pelo quarto ano organizou seu Simpósio de Combustíveis, em São Paulo (SP), dividido entre painéis para motores de ciclos Otto e Diesel e um sobre emissões. O conferencista André Oliveira, da Scania, lembrou que a vinculação atual dos derivados de petróleo aos serviços mundiais de transportes em terra, mar e ar, inclusive veículos particulares, chega a 97%. Em poucos países o etanol tem importância, destacando-se o Brasil, seguido bem distante pela Suécia e uma presença quase simbólica nos EUA (só disponível em menos de 2% dos postos de abastecimento). O biodiesel é utilizado em mistura com o diesel comum em mais países. Porém, trata-se de um biocombustível mais complexo, caro e de baixa capacidade de sequestrar gás carbônico (CO2). O excesso de CO2 na atmosfera, subproduto da combustão nos motores convencionais, provoca o indesejado efeito estufa e consequentes mudanças climáticas. Há duas maneiras de evitar: biocombustíveis obtidos por meio de plantas (etanol à frente) e diminuição do consumo de combustíveis fósseis. Não há filtros ou catalisadores para controle de gás carbônico. Daí a busca crucial por ganhos de eficiência nos motores. Como lembrou Adrian Albora, da Dayco, a redução de atrito em 10% contribui em 3% na Fernando Calmon ([email protected]) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É reproduzida em uma rede nacional de 65 publicações entre jornais, revistas e sites. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site just-auto (Inglaterra). SHOWROOM A Por Fernando Calmon redução de consumo. Corre-se atrás de soluções tão sutis como desligar a polia da bomba d’água na fase de aquecimento para ganho de 1,5% ou correias dentadas lubrificadas por óleo e tensionadores de controle inteligente. A partida com aquecimento elétrico do etanol eliminará a necessidade de injetar gasolina nos motores flex, em dias frios. Também melhora o funcionamento do motor em um momento em que o consumo é alto, por estar abaixo da temperatura normal de trabalho. A busca pelo menor consumo levará a avanços no conjunto do automóvel, desde aerodinâmica a materiais mais leves, passando por caixa de câmbio e pneus. Até a F-1 terá propulsores mais econômicos. Mas, ainda existe espaço para combustíveis fósseis com especificações adequadas à diminuição de emissões e consumo. Um exemplo é o novo diesel com baixo teor de enxofre que, em maior escala, começa a ser disponível, em janeiro de 2012, no Brasil. Permitirá que caminhões e ônibus novos consigam reduzir níveis de óxidos de nitrogênio, além de consumirem em torno de 5% menos, com ajuda da eletrônica e do sistema SCR. No entanto, haverá encarecimento do motor e uso compulsório de ureia técnica (Arla 32) para pós-tratamento dos gases de escapamento. Foi confirmado no simpósio que, a partir de 2014, toda a gasolina vendida no Brasil será, obrigatoriamente, aditivada, ótimo para os motores. Nos países centrais e mesmo em alguns menos desenvolvidos isso já ocorre. Não se sabe sobre aumento de preço, mas cada distribuidora poderá comercializar seu pacote de aditivos e manter um nome comercial. 25 Brasil A promessa de adequar o déficit só em 2014 26 Se tudo der certo no cenário econômico brasileiro e mundial o segundo semestre de 2011 será igual ao primeiro. Mais do mesmo. Se não chega a ser uma boa notícia, ao menos não é a pior. O início do governo Dilma Rousseff foi marcado pelo dilema de atacar a inflação de forma cirúrgica ou homeopática. Optouse pela forma lenta, como se sabe, e nem no fim de 2012 a inflação voltará para o centro da meta. Até lá, há riscos internos e externos, um deles é o Brasil “tornarse vítima de seu próprio hype”. POR SOPHIA ZAHLE “Não vai acontecer mais” é a frase mais ouvida na conversa com analistas de mercado e economistas. Não haverá mais crescimento de 7,5% do PIB como em 2010; novos recordes de emprego não serão registrados; Selic de um dígito não se verá tão cedo. Idem inflação no centro da meta. O consenso por trás das afirmações é que um crescimento entre 3,5% (percentual que deverá ser registrado este ano) e 4,5% do PIB é o limite sustentável. Reginaldo Nogueira, professor de economia internacional do Ibmec, afirma que o crescimento do PIB está se acomodando nesse patamar, mais para três do que para quatro, na opinião dele. “A opção do governo de cuidar da inflação de forma lenta não comprometendo o crescimento é uma boa política, desde que o cenário internacional não piore.” Como mostrou o IPCA-15, a inflação está alta, 6,75%, a mais alta em seis anos. Se a conta for do IGP-M, dos preços ao consumidor, no ano o índice acumula alta de 3,15% em 2011, e nos últimos 12 meses o aumento é de 8,65%. “O cenário é de convergência para a meta”, diz o professor, ressaltando que não há mais nada a fazer para reverter esse quadro em 2011: “o ano está perdido, mas sabíamos disso desde o início. A lentidão só é um problema se o cenário mudar: se os Estados Unidos ou Europa subirem os juros, hoje zerados, os investimentos migram para lá piorando o déficit em conta corrente, que já preocupa, ou se a desvalorização do dólar se acentuar. Há muitas incertezas e variáveis.” Nas cinco reuniões do Copom no governo Dilma o Banco Central subiu juros (em julho estava 12,50%), mas há uma defasagem entre a ação e a reação na economia real, e só no primeiro trimestre de 2012 a inflação começará a voltar para o centro da meta de 4,5%. 50% da renda da classe média é usada para pagar dívidas Ainda aquecido em relação ao total de crédito mostram que a inadimplência de pessoas físicas subiu de 5,7% em dezembro para 6,4% em maio, último dado disponível. A Serasa Experian, que mede o volume bruto da inadimplência, mostra um aumento de 22% nos seis primeiros meses de 2011. Números do Ministério da Fazenda mostram que o atraso de mais de 15 dias no pagamento subiu de 7,8% em dezembro do ano passado para 9,1% em maio último. A mesma fonte aponta que a taxa de juros paga pelos consumidores subiu de 41% ao ano em 2010 para 47% ao ano em maio de 2011 e que 50% da renda da classe média é usada para pagar dívidas. Já a Fecomercio - SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) obteve como resultado do estudo “Radiografia do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras” que 64% das famílias moradoras das 27 capitais do País estão endividadas ante 61% das famílias em igual período de 2010, e que o valor médio das dívidas aumentou. “A piora na inadimplência é reflexo do aumento da Selic e da maior exigência feita pelo BC aos bancos na hora de emprestar”, explica Nogueira. Efeitos colaterais “Os números preocupam um pouco, ainda não há bolha. Sabemos que bolhas de crédito terminam com a ressaca de crédito. O alto endividamento das famílias pode levar o Brasil do ‘boom’ para a crise.” O problema é que não havia crédito no Brasil e há uma demanda reprimida, outro problema é lidar com a oferta alta. “Não há essa cultura no Brasil, as pessoas não se acostumam a avaliar o preço do dinheiro antes de tomar crédito e as taxas cobradas em empréstimos pessoais nos bancos, ou no crédito ao consumidor, são altíssimas. Para o professor Nogueira, o alto endividamento das famílias não é um cenário tão ruim quanto o déficit em conta corrente. O déficit em conta corrente é um dado que preocupa, representa 3% do PIB O remédio da elevação dos juros tem prós e contras: aumentase os juros para combater a inflação, mais dólares entram no mercado e a valorização do real se agrava (a moeda se fortaleceu 47% contra o dólar desde o final de 2008), com a moeda brasileira apreciada e o consumo aquecido aumenta-se o déficit. Problema para o setor produtivo que se queixa a cada SHOWROOM As mudanças não são sentidas de imediato e o consumo ainda está aquecido, lastreado no nível de desemprego, que diminuiu sensivelmente. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, 6,2% da população economicamente ativa estava desocupada em junho: “até o fim do ano a taxa de desemprego deverá continuar no mesmo patamar, talvez com uma pequena queda em dezembro. É um índice que atingiu seu equilíbrio e é bom lembrar que 6% é a metade do nível de desocupação registrado em 2003. Cortou-se pela metade o desemprego desde 2006. Quedas pequenas, suaves e sazonais não querem dizer que o mercado de trabalho perderá o dinamismo. O índice permanecerá nesta média até o fim deste ano e em 2012. À medida que o País cresce menos, menor é a geração de emprego. Mas o crescimento previsto já é suficiente e mantém o nível de ocupação estável.” Outro fator de aquecimento é que há ainda muito crédito na economia e as luzes de alerta começam a piscar. “O endividamento das famílias está caminhando para se tornar mais um risco”, diz Nogueira. Independente dos números analisados, as famílias estão usando uma parte maior do seu orçamento para pagar dívidas. Números do BC - que mede o percentual das dívidas em atraso 27 aumento promovido pelo Copom já que os juros altos afetam a competitividade das empresas, encarecem o crédito e freiam o consumo. O real apreciado afeta, especialmente, os setores exportadores e que concorrem com os importados - automóveis, por exemplo. O déficit continua aumentando. “O déficit em conta corrente é um dado que preocupa, representa 3% do PIB e dado que as taxas de juros nos EUA e Europa estão zeradas ou próximas a zero, os dólares que entram dos investidores ajudam o Brasil a financiar esse déficit. A Europa ou os Estados Unidos aumentando os juros e atraindo o capital ou o esfriamento da economia chinesa... qualquer fator aumenta o risco de reversão no futuro.” Risco de desvalorização cambial Segundo dados do Tesouro Nacional, em junho último, o governo brasileiro gastou R$ 15,84 bilhões para pagar os juros da dívida do País. O endividamento aumentou em mais R$ 43,31 bilhões com a 28 emissão de novos títulos públicos e a Dívida Pública Federal (DPF) cresceu R$ 59,14 bilhões - um aumento de 3,39% - subindo para R$ 1, 805 trilhão. Os investidores estrangeiros estão preocupados com a apreciação cambial e com o déficit em conta corrente. É isso o que os analistas olham com ressalva, que motivam declarações como as ouvidas no Bloomberg Brazil Conference, encontro que reuniu investidores para debater oportunidades de investimento, realizado em 14 de julho, em Nova York. “O Brasil já atingiu o limite” Christopher Sabatini, diretor sênior do Conselho das Américas, comentou que enquanto enfrenta o dilema do real apreciado e da inflação, o Brasil pode tornar-se “vítima de seu próprio hype”. Ou o alerta de Michael Shaoul, chairman do Marketfield Asset Management, de que a economia brasileira está prestes a passar por uma “recessão democrática moderna”. Augusto de la Torre, economista-chefe para a América Latina no Banco Mundial, declarou que o “futuro promissor e brilhante criou um estado de euforia, mas as expectativas têm excedido a capacidade. O Brasil já atingiu o limite.” “O governo diz que tem reservas de US$ 350 bilhões para irrigar o mercado de dólares se for preciso, mas a capacidade do governo é limitada: com o real apreciado compram dólares - o que aumenta as reservas, mas não muda a situação do câmbio”, explica Nogueira, dizendo que a única maneira de resolver seria a política fiscal agressiva, um corte profundo nas despesas do governo. “O governo não tem como mexer no déficit público porque não consegue cortar despesas. A esperança no início do governo Dilma era resolver os excessos, a gastança de 2009 e 2010, mas não vai acontecer. Reformas, prometidas para 2014. Será? “Por causa dessa incapacidade do governo, o único caminho que sobrou para conter a inflação é o aumento da taxa de juros. A promessa é adequar o déficit em 2014. Está muito longe e até lá é preciso elevar as despesas em infraestrutura para desenvolver os campos do pré-sal, para os preparativos para sediar a Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos de 2016, para melhorar aeroportos, portos, rodovias, gastos estimados em mais R$ 160 bilhões até 2012 pela Associação de Infraestrutura e Indústrias de São Paulo”, alerta o professor, recomendando: “o governo deveria usar o setor privado para realizar os investimentos, estranhamente, quer fazer tudo sozinho e não resolve os problemas com marcos regulatórios e parcerias públicoprivadas.” Declarando-se sem esperança de que o País encaminhe reformas importantes para reduzir o custo-Brasil, como a trabalhista, fiscal e previdenciária, o professor Reginaldo Nogueira antecipa a pauta para 2012, quando os problemas de fato vão começar: “Além do risco latente com o cenário externo, vamos conversar sobre queda no preço das commodities por causa da desaceleração da China, sobre a desindustrialização, deficiências da burocracia, os níveis de corrupção e o seu custo para a sociedade, além da pouca qualificação da mão de obra, emperrando ainda mais o crescimento.” Esse facebook, estimulante e perigoso M 30 O relacionamento virtual protege você dos escorregões que podem comprometer uma relação. Você pensa duas vezes na mensagem, relê o que escreve, floreia o texto. Provoca, apimenta a conversa, arrisca. arcinha era o nome dela. Cabelos pretos caindo aos ombros, atraente, sorriso cativante. Linda! Mas era muita areia pro meu caminhãozinho, como a gente dizia na época do colégio. Nunca imaginei que pudéssemos ter algum relacionamento. Os anos passaram e vim a saber, algumas décadas depois, que ela era apaixonada por mim. Por que não me falou? Se eu soubesse! E não é que um dia desses nos encontramos no facebook? A foto era de uma velhinha com o netinho no colo (será possível que só eu não envelheço, meu Deus?). Por JOEL LEITE Os sites de relacionamento proporcionam o reencontro com pessoas com as quais convivemos num passado distante, relações interrompidas pelas decisões que a vida nos fez tomar. Mas o resgate do passado faz a gente inferir a hipótese de que a vida poderia ter sido o que não foi. Reencontramos pessoas que, de outra forma, só teríamos oportunidade de ver nos enterros. Se eu tivesse ficado com ela, será que teríamos três filhos como ela tem, ou minhas duas meninas? Talvez os cinco? Teria, como ela, me transformado num fiel da Igreja Adventista ou ela é que seria ateia? A volta ao passado proporcionada pelas mídias eletrônicas faz a gente questionar o inquestionável. Ora, você é o que você construiu. As decisões que você toma é que definem a sua vida. Não poderia ter sido diferente. O Facebook expõe a intimidade e estimula a fantasia. O sujeito faz a foto na praia e remete para o mundo. Vai assistir a um espetáculo e anuncia para todos que está vivendo aquele momento. Em segundos, passa a receber mensagens: parentes, amigos, desconhecidos, internautas distraídos. O relacionamento virtual protege você dos escorregões que podem comprometer uma relação. Você pensa duas vezes na mensagem, relê o que escreve, floreia o texto. Provoca, apimenta a conversa, arrisca. E recebe essa fantasia de volta, o que alimenta o ego. É curioso: o relacionamento pessoal, que, como o próprio nome diz, deveria estar circunscrito ao foro íntimo, ganha proporções de disseminação incalculáveis, de abrangência mundial. Nem mesmo Willian Bonner, o editor do Brasil, sonharia com isso. Lembro-me de uma moça que, num programa de TV daqueles em que se revela o amor pretendido, declarou-se a um vizinho, com o qual convivia desde criança. Foi à TV porque tinha vergonha de se declarar diretamente a ele. Não é o fim do mundo? A timidez fez a moça declarar o amor ao amigo para milhões de expectadores! A mídia de relacionamento estimula esse contrassenso. E a geração informática usa e abusa da tecnologia. Essa demasiada exposição da intimidade, somada ao encontro com as emoções do passado, podem resultar em situações de conflito. Por isso, espero que esse artigo não ganhe ao espaço das mídias de relacionamento, senão poderei ter que explicar di-rei-ti-nho quem é essa Marcinha. Joel Leite é jornalista, formado pela Fundação Cásper Líbero, com pós-graduação em Semiótica, Comunicação Visual e Meio Ambiente. Diretor da Agência AutoInforme, assina colunas em jornais, revistas, rádio,TV e internet. Não tem nenhum livro editado e nunca ganhou nenhum prêmio de jornalismo. Nem se inscreveu. Fim de ano de A a Z Parece incrível, mas o final do ano já está chegando! Hora de escolher o que fazer. As opções são muitas... Então, aqui vai uma lista de alguns dos melhores lugares do mundo, para vários gostos. Tomara que você encontre o seu destino de Reveillon aqui. Por Carolina Gonçalves Kitzbühel, Áustria 32 Número um entre os verdadeiros esquiadores, Kitzbühel combina perfeitamente com esquiar. A fama legendária da “Cidade Chamois” faz o sonho de quem esquia a sério. E não é só esqui. Em Kitzbühel todos os esportes de neve são de primeira. Você pode fazer snowboard, crosscountry, caminhadas na neve, patinar... Tudo ao ar livre, sob o forte impacto de uma natureza espetacular. Kitzbühel não tem o esnobismo de outras estações, mas a infraestrutura supera todas. E o mais interessante é que tem personalidade. A tradição de esquiar na cidade começou há 118 anos. A garantia de neve a mantém no topo. Terra de Toni Sailer, um dos melhores esquiadores de todos os tempos, Kitzbühel sedia o Hahnenkamm-Races. A 72a edição será entre 20 e 22 de janeiro de 2012. A montanha eleva-se a 1.712 m acima do mar. As corridas acontecem na pista de descida clássica, o Streif, considerada uma das pistas de corrida mais exigentes do mundo. As condições climáticas de janeiro só aumentam o desafio. Ao lado da tradição do esqui, floresce a vanguarda de novos esportes. Os amantes de snowboard também aproveitam. Um dos mais maravilhosos parques de neve dos Alpes está lá. Montanhas majestosas, terreno incrível e áreas de fácil acesso e circulação tornam a região perfeita para o esporte. Pra completar, o pico de Kitzbüheler Horn. Kitzbühel tem 170 km de pistas e 33 km de pistas de esqui. Teleféricos e 54 gôndolas levam fãs de esportes de inverno até picos panorâmicos com mais de 2.000m acima do mar. Kitzbühel oferece uma infraestrutura de primeira para passar dias de muita adrenalina nas pistas e noites de diversão e bons programas. São muitos bons restaurantes e cafés. Sem falar nos abrigos na montanha. As especialidades tirolesas têm destaque num mundo de opções, que vão do exótico ao saudável, passando por lautos jantares de cinco pratos e seleções de frios típicos. Você tem que provar os Dumplings de queijo e Kaiserschmarrn, um doce austríaco que combina divinamente com o frio dos Alpes. Charme, História e boa mesa A cidade é muito charmosa, com suas casas coloridas, ruas históricas, butiques exclusivas perto do porto, tudo misturado a bares e restaurantes muito elegantes. No final do ano, tudo toma um ar festivo em função do Natal. O Casino completa a atmosfera de excitação. O Reveillon no meio desta paisagem pode ser inesquecível. O ponto alto das comemorações de Ano Novo em Kitzbühel é sempre no dia 1o de janeiro, na região da pista de Streif. O espetáculo é grátis e tem muitos fogos de artifícios, acompanhados de uma performance de esquiadores e música. É um dos eventos mais populares do ano. Vem gente de toda parte para assistir ao show na pista de corrida Hahnenkamm. Começa em torno de 5 e meia da tarde. Tochas iluminam a performance dos instrutores de esqui da escola Rote Teufel. Eles fazem coisas incríveis, saltam sobre o fogo! E os fogos de artifício fecham a noite, com música. Brasileiros não precisam de visto para a Áustria. Dhigu, nas Ilhas Maldivas Mas, se o que você procura é um spa resort realmente exclusivo, onde todos os seus desejos serão atendidos, que tal este? O destino por si só, já é maravilhoso. Este hotel é um refúgio perfeito. O ambiente tranquilo combina com o luxo na decoração, a vida rolando fácil e os cenários exóticos. É como viver um conto de fadas, cercado de água por todos os lados. Se você quer um Reveillon romântico, este é o seu. O spa fica na ilha Dhigufinolhu, no Atol Malé Sul. São 110 suítes de sonho. Você pode escolher entre suítes sobre a água ou bangalôs. São quatro opções: Sunrise Villa Beachfront, Sunset Villa Beachfont, Sunrise Over-water Suite e Sunset Over-water Suite. Os nomes dizem tudo: podem estar de frente para o mar ou sobre a água, voltados para o nascer ou o pôr do sol. Todos são equipados com todos os itens de conforto que se espera encontrar num lugar assim. Num estalar de dedos Você já acorda vendo o lindo oceano Índico, de um azul profundo e intenso. Se estiver numa suíte sobre as águas azul turquesa da lagoa, já pode mergulhar. Depois, vai de caiaque para fazer “snorkelling”, ou sai de barco para mergulhar ou fazer parasailing. Tudo foi planejado para você se sentir em casa, mesmo estando do outro lado do mundo. Basta estalar os dedos e você é atendido. O verdadeiro encanto do hotel está no serviço. Tem até piso de vidro pra você observar arraias, baiacus e tubarões de recifes. Aliás, a ilha tem recifes de corais maravilhosos. O hotel tem praia privativa, piscina com borda infinita, tratamentos de spa maravilhosos, centro completo de fitness, quadras de tênis e até babysitting, caso você decida levar as crianças. São seis restaurantes, sendo três deles dedicados às cozinhas tailandesa, italiana e maldiva. O café da manhã é um capítulo à parte, SHOWROOM Snowboard e paisagem de sonho 33 Entre no ritmo dos japoneses e celebre o ano novo comendo Toshikoshi Soba. É um noodle especial para a véspera do ano novo. A simbologia diz que o macarrão, por ser longo, significa vida longa e saudável. E você também vai ouvir Juya No Kane – o sino da noite. É a versão tradicional japonesa da contagem regressiva. Os sinos tocam 108 vezes nos templos de todo o Japão, simbolizando livrar-se da pobreza, infelicidade e outros males. Agradecer pelo ano que está acabando podendo ser tomado na praia ou com vista para o mar. Os drinques ao entardecer e os jantares também são especiais. Naturalmente, os frutos do mar são um destaque. Na noite de Reveillon acontece um jantar especial de gala. Mais de 3 mil anos As ilhas Maldivas são um arquipélago, formado por 1.196 ilhas, das quais, 203 são habitadas. Elas estão agrupadas em 26 atóis. O clima é quente e úmido. A temperatura média da água do mar é 30o C. O povo tem origem na antiguidade e as ilhas são habitadas por mais de 3.000 anos. As ilhas estavam na rota da seda e o povo sempre foi considerado amigável e caloroso. A cultura reflete todas as influências sofridas ao longo de muitos anos recebendo viajantes de diversas partes do mundo. A língua oficial é o Dhivedi, mas o turismo intenso leva a maioria a falar inglês. Uma curiosidade: é o país com a mais baixa altitude do mundo. Seu ponto mais elevado está a 2,3 metros do nível do mar. A Capital, Malé, está a apenas 90 cm do mar... Brasileiros precisam de passaporte com validade mínima de 6 meses e no mínimo 2 páginas em branco lado a lado. Também têm que tomar vacina de febre amarela, pelo menos 11 dias antes do embarque. O visto é providenciado na chegada ao país. Vale checar a necessidade de visto no país e trânsito. Se for por Dubai, não precisa. Tóquio 34 O réveillon do outro lado do mundo pode ter muito charme se você estiver disposto a experimentar coisas novas e integrar-se numa cultura tão diferente. Pode ser uma boa premissa de Ano Novo... O ano novo é o feriado mais importante do Japão. Eles veem cada ano como uma nova oportunidade de recomeço. Todas as tarefas devem estar cumpridas até o final do ano, para começar uma nova história. Para marcar, eles celebram com ‘festas do esquecimento”, abrindo as celebrações. Em Tóquio, a festa começa em 29 de dezembro e se estende até 4 de janeiro. Os locais turísticos fecham, mas a rua fervilha, com bares, restaurantes e clubes lotados. Tem fogos de artifício por toda parte e muita festa. E se você está lá, aproveite para conhecer o Palácio Imperial, que abre para o público nessa época. É possível até ver o casal imperial acenando de uma sacada. Também pode entrar no clima e visitar o Meiji Jingu, um santuário dedicado aos espíritos do Imperador Meiji, deificado e sua esposa, Imperatriz Shoken. O santuário fica numa área de floresta dentro da cidade. É um passeio muito relaxante. Os japoneses não desejam feliz ano novo, eles agradecem pelo ano que está acabando. Para compensar o clima popular, hospede-se no The Peninsula Tokyo, o hotel mais luxuoso da cidade. Se você programar que o hotel vá apanhá-lo no aeroporto, eles vão mandar um Rolls Royce, ou uma limusine BMW. Um hotel 5 estrelas no Japão é sempre uma experiência única. E a noite do réveillon no hotel pode ser muito especial. Na verdade, eles começam celebrando desde novembro, com a montagem de árvores de Natal, que vão sendo decoradas pelos hóspedes com peças de prata compradas no próprio hotel. Depois das festas, é tudo doado para o Make a Wish no Japão. Brasileiros precisam de visto para ir ao Japão. ser uma boa oportunidade. A atmosfera romântica da cidade induz a escolher um hotel do mesmo estilo. Fique no Bauer Il Palazzo. É um hotel butique, com vista para o Grande Canal, a poucos passos da Praça São Marcos. Autêntico palácio veneziano, é sofisticado e elegante como a cidade. Tudo é exclusivo e as acomodações e os serviços são personalizados. Brasileiros não precisam de visto para ir à Itália. Punta Del Este 31 de dezembro é dia de São Silvestre. Dia 1o de janeiro celebra o Il Capodano. Estas celebrações em Veneza ganham uma outra dimensão. Comece com uma fantástica refeição de muitos pratos, tomando prosecco. Depois, junte-se à multidão na Praça de São Marcos, para ouvir o sino do campanário. É de arrepiar ouvir as badaladas cercado pelas máscaras venezianas, lindas e diferentes. A orla toda se ilumina com fogos de artifício. Várias festas em toda parte vão até o amanhecer, para que se possa ver o primeiro nascer do sol do ano. Siga a tradição e use roupa íntima vermelha! Os italianos dizem que vai trazer boa sorte no ano que vem. Fique até o dia 6, para a Festa da Epifania, que celebra a chegada dos Reis Magos à manjedoura. O nosso Dia de Reis. A tradição diz que La Befana, uma bruxa, vem em sua vassoura no dia 5 e enche as meias das crianças boas com brinquedos e doces e as meias das más com carvão. Em Veneza, no dia 6 de janeiro acontece a Regatta delle Befane. Homens vestidos como La Befana, a bruxa bem humorada, apostam corrida em seus barcos a remo no Grande Canal. É muito divertido e colorido! Veneza é uma cidade mágica, um dos must go! do mundo. O Reveillon pode Rio de Janeiro O nosso Reveillon de branco, na praia, tomando champanhe e pulando as sete ondas figura entre os melhores. Por que não? O Rio de Janeiro é uma das cidades mais lindas do mundo, indiscutivelmente. Vá para o Copacabana Palace e passe um réveillon inesquecível. O Copa parece um hotel saído de um filme clássico. Por aqueles corredores passaram reis, artistas, intelectuais. As paredes pulsam. O serviço é impecável e a gastronomia de primeira. A programação de shows na praia ainda não está definida, mas a considerar os últimos anos, terá muitas atrações, inclusive internacionais. Sem falar na queima de fogos que ilumina a orla e traz o ano novo sob uma chuva de cores. SHOWROOM Veneza Se não quer ficar horas em aviões, Punta del Este é uma boa opção. O destino mais cosmopolita da América Latina, a cada ano atrai mais e mais pessoas do mundo inteiro, interessadas em praias ainda quase intocadas, ao lado de infraestrutura de conforto e sofisticação. O mundo parece ter “descoberto” Punta. O réveillon lá reflete esse frisson. São várias festas, uma mais badalada que a outra. Você tem que chegar uns dias antes para se enturmar e descobrir qual festa é a sua. Aí, é só conseguir comprar os convites. Mas não é difícil. Escolha entre os melhores hotéis da cidade e aproveite. O Mantra é um resort estilo mediterrâneo, que fica no alto, com vista para o Atlântico e a cidade. Tem tudo o que se espera de um bom hotel. O Fasano Las Piedras mantém a tradição da família em seu primeiro empreendimento internacional. E o Conrad, o mais tradicional na cidade, de frente para a Praia Mansa é famoso por sua hospitalidade. Brasileiros não precisam de visto para ir ao Uruguai. 35 Gente, importante ou não, é simplesmente gente Normalmente, quando a gente tem a chance de conhecer de perto alguém importante é meio decepcionante. A gente fantasia que os atores são sempre sensíveis e inteligentes como as falas de seus personagens P Por Maria Regina Cyrino Corrêa arece incrível, mas já faz dois anos que eu escrevo estas mal traçadas nesta página… Como diria o Millor Fernandes, não é mais um ano, mas menos um… O tempo e suas artes têm passado por aqui sob a melhor ótica que os meus olhos míopes podem gerar. Dediqueime a falar sobre efemérides no primeiro ano, destacando os fatos de cada mês que mais me chamaram a atenção. No segundo ano, afundei em elucubrações sobre como a vida seria “se” algumas coisas não tivessem – ou tivessem – acontecido. Neste terceiro ano decidi escrever sobre o que me der na cabeça. Espero que a minha editora concorde e não me corte este pequeno espaço que eu tanto gosto. Vocês não imaginam quanta gente bacana e generosa eu conheci por causa destas linhas. Hoje, nos encontramos todos no Facebook, que virou o grande “must” da minha vida social... Sendo assim, sento-me à frente do meu amiguinho Mac e tento pensar em coisas edificantes, que façam minha página de agosto uma página legal. São tantos assuntos palpitantes! Nem sei por onde começar. Na verdade, estou sentadinha em casa, escrevendo bem na véspera de ir filmar com um grande comediante da nova geração. Confesso que estou curiosa pra ver como vai ser. O cara é bacana, está na mídia. Será que ele vai ser simpático? Será que ele vai contribuir com os maravilhosos “cacos” que todos estamos esperando? Aí fico pensando no quanto a gente idealiza as pessoas, né? Criamos fantasias e queremos que elas sejam verdade. Comediantes, por exemplo. A gente acha que os caras contam a melhor piada até quando pedem pra passar o pão. Será que é 38 isso mesmo? Será que todas as falas deles têm um ar, assim, de stand up comedy? Com certeza, não, né? Eles têm mau humor igualzinho a todo mundo. E devem fazer piadas sem graça também, daquelas constrangedoras, seguidas por um silêncio ensurdecedor... Normalmente, quando a gente tem a chance de conhecer de perto alguém importante é meio decepcionante. A gente fantasia que os atores são sempre sensíveis e inteligentes como as falas de seus personagens. Ou que as modelos acordam lindas e frescas. Ou que os bem-sucedidos nunca dizem uma grande bobagem. No entanto, todos nós dizemos bobagens enormes, tropeçamos, derrubamos café na roupa branca. Todo mundo já acordou com uma espinha no nariz no dia de uma grande festa. Tem um lugar onde todos nós nos encontramos em vários momentos: nos encontramos em nossa humanidade falível. Talvez, o maior talento seja extrair dela um certo charme natural que ela tem. Pessoas que não se desconcertam com seus erros, que convivem bem com eles, são realmente interessantes. Eu sempre me lembro de uma modelo que eu vi cair na passarela, há alguns anos. A moça não piscou, levantou e continuou andando como se nada houvesse. Certamente a maior parte das pessoas achou o máximo. Eu achei muito estranho... Teria sido mais legal um gritinho de susto, uma boa risada ao perceber que não se machucou, sei lá! Não é normal tomar um tombo no trabalho e fingir que não aconteceu nada... Enfim, errar faz parte. As coisas dão errado. E depois dão certo de novo. Quando a gente entende isso, viver fica mais fácil e as decepções são menores. Eu espero que o meu comediante seja muito bacana, dê um ou dois foras, mas nos deixe encantados com seu talento. ... Escrevo depois de dois dias de filmagem. Foi ... humano. Gente sempre me fascina. Maria Regina Cyrino Correa, jornalista e publicitária, já deu foras homéricos, acordou de mau humor incontáveis vezes... Mas fez umas coisas bacanas, também. E tenta ser cada vez mais ... humana. [email protected] www.2showcomunicacao.com.br O Teimoso Dizem que os teimosos não medem as consequências dos atos. São obstinados e insistentes. Alguns até bem chatos. Não entro nessa categoria. Espero. ão sei por que insisto nas ameixas vermelhas importadas que o supermercado do meu bairro expõe toda semana, de forma charmosa e dentro de umas bonitas cestas de vime. Lá ficam elas, exalando um cheiro inconfundível, prometendo entregar um sabor adocicado e sensações da minha infância, quando, com minha irmã, escalava as árvores no jardim da minha avó para colher algumas. Tento recuperar esse passado toda vez que passo pela seção de frutas. E sempre me arrependo quando dou a primeira (e única) mordida. O gosto azedo se mistura à textura quase congelada do interior, obrigando-me a lembrar que ameixas são de época e não adianta adquiri-las no inverno. Em todo caso, tenho duas delas aqui ao meu lado enquanto escrevo. E que com certeza irão para a lata de lixo. Acho que nem para geleia serviriam. Sou teimoso também com outras coisas. Sei a resposta de antemão, mas minha cabeça dura me convence do contrário. Jogo de futebol na TV, por exemplo. Tirando alguns clássicos regionais, a maioria dos jogos nacionais é de uma ruindade tão aparente que antes dos primeiros quinze minutos já estou na fase de transição entre o estado de vigília e do sono, quando a minha Marcelo Allendes é jornalista e colaborador do Banco Volkswagen. email: [email protected] SHOWROOM N Por Marcelo Allendes melatonina me impede de abrir os olhos por mais que o locutor grite uma tentativa frustrada de gol. Mas lá estou eu, de cara ao aparelho nas noites de quartas e quintas, e nas tardes de sábados e domingos. O mundo correndo lá fora enquanto minha expectativa garante que desta vez será diferente. E não é. Rodízio de pizza é outra grande furada. O preço, por pessoa, é convidativo. Provavelmente eles compensam o preço-isca no valor das bebidas, que é absurdamente alto. O pior, mesmo, são os tais 80 sabores entre salgados e doces. Fico imaginando onde escondem tantas opções, pois os garçons tentam de todas as maneiras servir apenas as de mussarela, milho, calabresa e brigadeiro. Mas, no fim, acabo dando um voto de confiança e sempre volto. E sempre me arrependo. Em geral, não sou teimoso. E dizem que todo teimoso é chato. Mas um pouco (de teimosia) não faz mal a ninguém. Li por aí que a teimosia tem o seu lado útil. Afinal, você sempre sabe o que estará pensando amanhã. Para finalizar este assunto, e apenas para curioso registro, 31 de maio é o dia internacional do teimoso. E dizem que os taurinos são os seres mais representativos nesse assunto. Outros afirmam que são os de Aquário. Bem, sou canceriano. E, em todo caso, não acredito em horóscopo. 39 Novo Nokia Chega ao mercado brasileiro o novo smartphone da Nokia, o C7. Além do desempenho e qualidade comum aos Nokia, o C7 agrada aos olhos e às mãos: o acabamento é em metal inoxidável arredondado com uma tela touch de 3,5 polegadas AMOLED, a espessura é de apenas 10,5mm; integrada uma câmera com poderosos oito megapixels com flash de LED duplo e gravação de vídeo em HD. No quesito entretenimento musical, o tocador aceita diversos formatos de arquivo de áudio, rádio FM e de internet. Como os outros smartphones da empresa, o C7 integra os principais serviços da Nokia, incluindo o Ovi Mapas Um aparelhinho com apenas 2,5 cm de (mapas da America Latina já carregados), além de aplicativos sociais espessura integra sua TV à internet com que integra facilmente as contas do Facebook e Twitter, permitindo todas as possibilidades da rede mundial: que o usuário atualize, de uma vez só, seu status nas redes, subindo sites, redes sociais, portais de noticias, fotos e verificando atualizações de seus contatos. A memória interna e-mail, rádios, filmes on demand, recursos de oito GB, expansível até 32 GB com cartões MicroSD. As conexões são multimídia e de comunicação. TrataWi-fi, Bluetooth 3.0, entrada para fone de ouvido padrão 3,5mm e a se do FnacBox que habilita o acesso a famosa função USB on the go, presente em outros modelos da marca internet a partir de qualquer TV com que permite a leitura de arquivos de um pen drive diretamente pela tela entrada HDMI e home theater 5.1. O do produto. Tudo roda em um sistema operacional Symbian 3 poderá ser FnacBox vem com um pequeno teclado atualizado para o Symbian Anna, versão que contém diversas melhorias ergonômico de 80 teclas, wireless que na interface, incluindo teclado QWERTY vertical e um novo navegador de lembra a digitação do Blackberry e a internet, que chega ao mercado durante o terceiro trimestre. interatividade do Wii. A navegação é Preço sugerido: R$ 999,00. Onde encontrar: nos canais Nokia e Nokia Stores ou nas com apenas um clique, e dá acesso ao operadoras de celular com preço que variam conforme o plano. FnacBox-Office onde é possível comprar e baixar mais de 1.200 filmes já disponíveis para download. Vêm com os programas MSN Live Messenger e Skype instalados, o sistema operacional é o Windows A Nikon, um dos principais fabricantes 7, o processador Intel Atom, 2GB mundiais de câmeras fotográficas, desde de memória e o HD de 320GB e 6 abril presente no Brasil com uma unidade entradas USB. O mini-gabinete tem da companhia e com a ambiciosa meta de design arrojado e é oferecido nas conquistar a fatia de 15% do mercado de cores preto ou branco. câmeras compactas e 40% das câmeras DSLRs Preço sugerido: R$ 999,90 (Digital Single Lens Reflex) - percentuais que Onde encontrar: www.fnac.com. hoje correspondem a 1% e 17% respectivamente br, no televendas 4003-9696 -, oferece com preço especial a Reflex D3000. A mais (ambos com entrega em todo amigável da Nikon, segundo a empresa, oferece facilidade o território nacional) e nas de manuseio e uma série de recursos como um guia que dez lojas Fnac no Brasil. orienta os fotógrafos mais inexperientes, pois fornece dicas para obter uma melhor imagem ao clicar. Acompanhada de uma lente Nikkor 18-55 mm, com abertura f/3.5-5.6, a limpeza do sensor se dá de modo automático, impedindo o acúmulo de poeira e dispensando qualquer trabalho manual. O modelo possui resolução de 10.2 megapixels e LCD de três polegadas. O flash tem alcance aproximado de 12 metros (ISO 100), garantindo qualidade nas imagens, ainda que fotografadas a uma longa distância. Internet na TV Nikon mais acessível e fácil 40 Preço sugerido: R$ 1.999,00. Onde encontrar: http://www.nikon.com.br e SAC: 0800 – 8864566 Comoventes e arrebatadores Na leva de livros que chegam ao mercado brasileiro graças à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que este ano voltou a acontecer na primeira semana de julho, alguns se destacam. Caso do angolano radicado em Portugal Valter Hugo Mãe com o seu “a máquina de fazer espanhóis” (tudo em caixa baixa, como o autor gosta de enfatizar), editado pela Cosac Naif, e deste “A ausência Produzido, dirigido, protagonizado por Tom Hanks, também escrito por ele em parceria com que seremos”, do colombiano Héctor Abad Nia Vardalos, “Larry Crowne - o amor está de volta” estreia em agosto, após adiamentos, Faciolince, editado pela Companhia das Letras. para não concorrer com as animações e super-heróis que levam a garotada aos cinemas Ambos narram histórias de morte, ambos são nas férias. comoventes e arrebatadores. Na “máquina” o Hanks é o personagem-título desta comédia romântica que fala da recessão econômica personagem antónio jorge da silva relembra sua norte-americana sem ser dramática, nem crítico demais. Larry é funcionário de uma rede vida após a morte da esposa e fala do declínio de supermercados, separado, dedicado ao trabalho, eleito funcionário do mês por nove de Portugal. Já Héctor Abad rememora a figura vezes. Quando ele esperava receber mais um título, é demitido com a alegação de que do pai, assassinado numa rua de Medellín por não tem faculdade e, portanto, não poderia subir na hierarquia da empresa. paramilitares de direita em 1987. Como quase todos os estadunidenses, ele está endividado, pagando pela segunda O médico sanitarista colombiano Héctor Abad hipoteca da casa. Sem arrumar outro emprego e precisando recomeçar, volta à sala Gómez era um defensor de causas sociais e dos de aula em uma faculdade comunitária. Entre aulas de introdução à economia e direitos humanos, um livre pensador pacifista que oratória, ele conhece uma turma de jovens, liderados por Talia (a atriz britânica Gugu denunciava as ações paramilitares e a conivência das Mbatha-Raw), uma jovem alto astral, de espírito livre e estilo de vida despojado, autoridades. O título vem do primeiro verso do soneto que inspira Larry a, por exemplo, trocar a SUV beberrona por uma lambreta que “Epitáfio”, de Jorge Luis Borges, escrito em um pedaço consome bem pouco combustível. de papel encontrado no bolso de Gómez junto a uma Entre a nova turma de amigos, uma aula e outra, ele se apaixona pela lista de pessoas ameaçadas, ele inclusive. mal-humorada professora de oratória, Mercedes Tainot (Julia Roberts), Abad filho narra a história sob seu ponto de vista: da insatisfeita com a profissão e com um casamento fracassado. O resto criança que vê no pai um herói, do adolescente em conflito, é bem previsível. É um filme bem comum, que funcionará bem na do adulto perplexo com a violência. No início entrega-se ao televisão e que só ganhou financiamento em Hollywood porque é elogio excessivo que, ao longo da narrativa, vai desconstruindo, um projeto de Tom Hanks. mostrando o ser contraditório. Além da visão pessoal, Abad filho dá “Larry Crowne - o amor está de volta”, dirigido por Tom Hanks, voz ao pai, através dos seus escritos aos amigos, colegas, mãe e irmãs e com ele, Julia Roberts, Gugu Mbatha-Raw, Pam traça um retrato da Colômbia no século XX. Lá pela página 20 confessa que Grier, George Takei e Rita Wilson. só escreve porque seu pai teria gostado. Estreia prometida: 26 de agosto Um texto denso, refinado, carregado de dor, violência e lances de humor. Uma história real, narrada com elementos ficcionais. “A ausência que seremos” de Héctor Abad Faciolince (Companhia das Letras 320 páginas) Preço sugerido: R$ 46,00 SHOWROOM Fraco e previsível 41 Terroir, um conceito milenar Por Arthur Azevedo Na história do vinho, nenhum conceito é mais valorizado que o terroir, tratado de maneira quase sagrada pelos europeus e, até há pouco tempo, pouco valorizado nos países do chamado Novo Mundo. Mas no que consiste o tão falado terroir? Seria algo fácil de definir ou entender? Ou seria um conceito filosófico, criado unicamente para valorizar alguns vinhos, especialmente os europeus? Em seu senso mais estrito, terroir poderia ser definido como sendo o microclima do local onde se plantam as uvas. Ou seja, a soma dos fatores naturais que influenciam o caráter das uvas, dos quais os mais evidentes são a composição do solo, a temperatura em cada uma das estações do ano, a inclinação do terreno, a orientação do vinhedo, a incidência do sol, a presença de formações geográficas (montanhas, lagos, oceanos) próximas ao vinhedo, e outros elementos que possam interferir no ciclo vegetativo da parreira. Esse conceito ainda é adotado com muita força em várias regiões da Europa, das quais a Borgonha, na França, é o exemplo mais marcante. Em outras regiões da Europa, como Bordeaux, Champagne, Rhône, Rioja, Ribera del Duero, Priorato, Toscana, Piemonte, só para ficar mas mais famosas, o conceito de terroir é muito arraigado e valorizado. Também no Novo Mundo, alguns países valorizam seus terroirs específicos, tais como os vales de Casablanca, Maipo e Maule, no Chile e o Vale do Uco, em Mendoza, na Argentina. No Brasil, fala-se em terroir de modo mais tímido, mas podemos citar o Vale dos Vinhedos e até o Planalto Catarinense como exemplos de terroirs brasileiros. Nos dias de hoje este conceito tem sido cada vez mais ampliado e, de modo mais liberal, se aceitam como parte do terroir algumas práticas viticulturais e até, por que não, a influência decisiva do homem, no caso o viticultor e o enólogo, no resultado final da elaboração do vinho. Assim, detalhes como o tipo de porta-enxerto, o clone da uva, o modo de condução da videira, a espécie de levedura usada na fermentação, o tipo do carvalho das barricas e muitas outras variáveis, poderiam ser parte daquilo que se chama de terroir. Discussões filosóficas à parte, o que realmente interessa ao consumidor é a qualidade final do vinho, o que, em última análise é o bem maior a ser preservado. 42 Arthur Azevedo é diretor da Associação Brasileira de Sommeliers –SP, editor da revista Wine Style (www.winestyle. com.br) e consultor da Artwine (www.artwine.com.br) Carnes exóticas carne de caça Por Gustavo Corrêa Carne exótica é toda carne que não for de boi, porco, peixe e frango ou mesmo as carnes que não são de nosso território. As carnes de caça fazem parte das carnes classificadas como exóticas. Particularmente gosto muito das carnes de caça por terem aroma, cor e sabor intenso. São carnes difíceis de serem encontradas e, ao contrário do que muitos pensam, não requerem muita habilidade na execução, e sim, tempo para o preparo. Há grande diversidade de carnes de animais de caça. As mais conhecidas são as de avestruz, coelho e javali. No entanto, há também carne de capivara e jacaré, entre outras. A carne do avestruz tem sabor parecido com a picanha, mas sua textura é de filé mignon. Já a carne de coelho tem sabor suave e é parecida com a carne de frango. Para marinar o coelho, acrescente cascas de frutas cítricas como limão, também na hora de servir. A carne do javali lembra a carne de porco e seu sabor é mais marcante, com textura musculosa e firme. O mesmo se pode dizer da carne de capivara, também parecida à carne de porco e com textura muito firme. Por isso, nos molhos que a acompanham, o recomendado é acrescentar lascas de cascas de laranja antes de servir. Já a carne do jacaré tem um sabor que eu diria ser entre o peixe e o frango e sua textura é muito firme. Os benefícios destas carnes para uma alimentação saudável já foram comprovados e nelas se encontram menos gordura do que nas carnes vermelhas. Na hora de comprar dê preferência a produtores conhecidos e carnes que tenham o selo de registro. Por serem carnes que possuem um gosto forte sugiro uma marinada agridoce. Marinada para caça Ingredientes: 1 ramo de alecrim; 1 ramo de salsa; 1 ramo de tominho; 1 ramo de salvia; 6 dentes de alho; 2 cebolas; 2 cenouras; 4 folhas de louro; 1 litro de vinho tinto ou suco doce acido (abacaxi, maracujá ou laranja), 8 grãos de pimenta preta.; 8 grãos de coentro, 4 grãos cardamomo; sal quanto baste. Preparação: Corte os dentes de alho em lâminas finas e pique as ervas (menos as folhas de louro) e a cebola. Corte a cenoura descascada em rodelas finas. Misture todos os ingredientes com o vinho ou suco. Cubra o fundo de um recipiente plástico com um pouco de molho e disponha as peças de carne limpas. Despeje o molho por cima, cubra com papel filme plástico e reserve em lugar refrigerado por, pelo menos, 24 horas antes de cozinhar. Depois desse período de repouso, a carne está pronta para ser assada. Mas, atenção, não jogue fora a marinada. Bata o líquido no liquidificador e coe. Em seguida, em uma panela, acerte o ponto do molho com uma colher (das de sopa) de amido de milho diluído em água fria (150 ml). Acerte o ponto do sal e sirva bem quente sobre a carne. Sugiro servir a carne de caça com legumes no vapor e uma boa salada de folhas. Dica: Não aconselho marinar a carne em recipientes de metal, principalmente alumínio, porque pode alterar o sabor do animal. Gustavo Corrêa é chef formado pelo SENAC Águas de São Pedro. Trabalhou em várias regiões brasileiras, em restaurantes renomados internacionalmente. Sua especialidade e prazer são os jantares temáticos. [email protected] http://chefgustavocorrea.blogspot.com/