UMA ANÁLISE DAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS BRASILEIRAS
ENVOLVIDAS
NO
MERCADO
DE
CRÉDITO
DE
CARBONO
[email protected]
APRESENTACAO ORAL-Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável
GUSTAVO LEONARDO SIMÃO; NORA BEATRIZ PRESNO AMODEO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA - MG - BRASIL.
Uma análise das cooperativas agropecuárias brasileiras envolvidas no
Mercado de Crédito de Carbono1
An analysis of agricultural Brazilian cooperatives involved in the Carbon
Credit Market
Grupo de Pesquisa: Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável
Resumo
Este trabalho visa identificar a relação das cooperativas agropecuárias brasileiras
com o emergente mercado de crédito de carbono, bem como as conseqüências econômicas
e sociais do ingresso a esse novo mercado para essas organizações. Buscou-se identificar
os principais impactos que essa emergente oportunidade de participação no mercado de
serviços ambientais abre para organizações cooperativas, os benefícios advindos dessas
novas transações financeiras e os fatores sócio-ambientais que estavam a elas vinculados.
O método de coleta de dados foi o envio de questionários aos representantes das
cooperativas que figuravam em projetos MDL registrados. Os resultados preliminares
mostraram que os ganhos da comercialização dos créditos de carbono não têm grande
representatividade no balanço financeiro da cooperativa e não existe um padrão quanto à
distribuição desses ganhos. A maioria dos projetos é gerida por uma mesma empresa que
executa e comercializa os créditos. Conclui-se que mesmo não sendo a responsável pela
execução e comercialização dos créditos de carbono, é interessante a participação das
cooperativas nesses projetos, visto que grande parte deles, por não estarem ligados à
principal atividade da organização, seria inviável do ponto de vista econômico sua
execução se fosse somente por iniciativa da própria organização.
Palavras-chaves: Cooperativas agropecuárias, Mercado de Crédito de Carbono,
Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, Empreendimentos, Comercializações
Abstract
1
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) o apoio
financeiro deste projeto.
This paper aims to identify the relationship of agricultural Brazilian cooperatives with the
emerging carbon credits market and their economic and social consequences for these
organizations. We sought to identify the main impacts that this emerging opportunity of
participating in the environmental services market opens for co-operative organizations, as
well as the benefits derived from these new financial transactions and the involved socioenvironmental factors. The method of data collection consisted on sending questionnaires
to the representatives of the cooperatives with Clean Development Projects (CDP)
registered. Preliminary results showed that the gains from carbon credits trade have little
impact in the assets of the cooperative. Also showed that there is no pattern for the
distribution of those gains. Most projects are managed by an only company that runs and
sells the credits. We conclude that, while not responsible for the implementation and
marketing of carbon credits, is worth the cooperative participation in these projects, since
many of these are not linked to the main activity of the organization and would be
infeasible its implementation only by the initiative of the organization.
Key Words: Agricultural Cooperatives, Carbon credit market, Clean Development
Projects, Ventures, Commercialization
1. INTRODUÇÃO
O cooperativismo tem movimentado uma importante fatia do agronegócio nacional,
segundo dados obtidos pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) referentes ao
ano de 2008. As organizações cooperativas na área rural, ligadas ao mercado agropecuário,
são responsáveis por aproximadamente 47,5 % do PIB cooperativo no Brasil e 34,8% do
PIB agropecuário; com um número total de 1.611 organizações e quase um milhão de
associados, trata-se de um dos ramos mais importantes, que exporta mais de 4 bilhões de
reais anuais, com uma taxa de crescimento que supera o 10%. Presente em todas as regiões
e comercializando praticamente todo tipo de produtos, as cooperativas agrárias estão
gradativamente entrando no mercado de serviços ambientais.
Notícias recentes têm mostrado uma crescente inserção de programas de
cooperativas nacionais nas ações MDL; informam os meios de comunicação especializados
em questões energéticas que os créditos de carbono advindos de cooperativas atraem
estrangeiros ao Brasil (DCI Energia, 2008. sp), assim:
“No dia 16 de julho deste ano, a Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização das
Cooperativas Brasileiras assinaram um protocolo de intenções para
apoiar as ações do Programa de Inserção Sustentável das
Cooperativas no Mercado de Carbono (...). As ações são voltadas
para o desenvolvimento de projetos de mecanismos de
desenvolvimento limpo (MDL) para as cooperativas“ (Adital, 2008).
Observa-se desta forma a existência de ações concretas e crescente interesse das
organizações cooperativas para se inserir cada vez mais no MDL. Mas, quando analisamos
o papel das cooperativas nesse mercado nos deparamos com questões que mereceriam ser
mais bem avaliadas visto que, como se informa em DCI – Energia (2008, sp) “... o ainda
modesto mercado de créditos de carbono tem beneficiado, em sua maior parte, investidores
estrangeiros que, nas negociações com as cooperativas, firmam contratos de longo prazo
nos quais detém até 90% da renda”, ou ainda, em NINAUT (2008, sp) “na forma como
acontece hoje, a cooperativa fica presa a multinacionais em longos contratos e ainda
perdem um diferencial competitivo. Como não detém os créditos as cooperativas não
podem buscar uma certificação, um selo social”.
Embora promissor, segundo essas informações, esse novo mercado apresenta
nuances, visto que as cooperativas não parecem estar se beneficiando como potencialmente
poderiam. Assim, esse trabalho visa verificar o impacto econômico e social da participação
dessas empresas nesse novo mercado.
2. MATERIAL E METÓDOS
Neste trabalho utilizou-se o método de questionários, que foram enviados as
cooperativas agropecuárias identificadas na base de dados da Convenção Quadro de
Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, que apresentavam projetos já
aprovados, nesse sentido, aptas para comercializarem os Certificados de Reduções de
Emissões (CREs), popularmente denominados de Créditos de Carbono.
Foram identificadas 11 cooperativas do ramo agropecuário que figuravam em
projetos de MDL. Dos questionários enviados houve uma taxa de retorno em torno de 64%
(7 questionários), o que segundo BABBIE (1999, p.253) é bastante representativa, “ uma
taxa de pelo menos 50% é geralmente considerada adequada para análise e relatório. Uma
taxa de resposta de pelo menos 60% é considerada boa (...)”.
3. RESULTADOS
Segundo uma análise preliminar dos resultados pode-se concluir, conforme
apresentado na Tabela 1, que existe uma predominância de projetos desenvolvidos por uma
empresa de nacionalidade irlandesa, a qual, mediante contrato, é a responsável pela
montagem do projeto e a posterior comercialização dos CREs. Das 5 cooperativas que
possuem contrato com a mesma empresa, existe um acordo prévio que 90% dos valores
resultantes da comercialização dos CREs ficam retidos na mesma, uma vez que ela é a
proprietária do mecanismo durante a validade do projeto, o restante é repassado as
cooperativas que os usam em sua maioria para a capitalização da própria instituição, ou
distribuição ao final do exercício financeiro aos cooperados que participam diretamente do
projeto. Ressalta-se que todas as cooperativas detentoras de projetos com essa mesma
empresa (aqui chamada de Empresa 2), utilizam da metodologia de biodigestão de dejetos
de suínos para a consecução das atividades MDL e que, dentre essas cinco, em apenas uma
a suinocultura é a principal atividade econômica da cooperativa. Nessas organizações
houve também a evidenciação de que os ganhos repassados pela comercialização dos
CREs não constituíam valores expressivos nos ativos da cooperativa, ficando em média
abaixo de 1% dos mesmos.
Tabela 1 – Empresas Envolvidas dos projetos MDL de cooperativas Agropecuárias
COOPERATIVA
EMPRESA
ENVOLVIDA
1
Empresa 1
2
Empresa 2
3
Empresa 2
4
Empresa 2
5
Empresa 2
6
Empresa 3
TIPO DE MDL
Geração de energia pela
biomassa do arroz
Biodigestão em lagoas de
dejetos de suínos
Biodigestão em lagoas de
dejetos de suínos
Biodigestão em lagoas de
dejetos de suínos
Biodigestão em lagoas de
dejetos de suínos
Biodigestão em lagoas de
dejetos de suínos
PRINCIPAL ATIVIDADE
ECONÔMICA
Beneficiamento de arroz
Suinocultura
Produção de cereais
Produção de grãos
Produção de grãos
Produção de grãos
Fonte: Dados da pesquisa
Uma única cooperativa é proprietária do projeto gerador de MDL (Cooperativa 1).
Ela foi a responsável pela contratação da empresa que realizou a montagem de sua usina,
na qual queima as cascas de arroz resultantes do processo de beneficiamento. Para a
consecução desse empreendimento foi tomado um financiamento junto à entidade pública
e os valores advindos das comercializações anuais de carbono são aproximadamente
equivalentes a 20% do valor do investimento inicial do projeto.
4. CONCLUSÕES
Conclui-se que a maioria das cooperativas agropecuárias brasileiras que possuem
projetos MDL, não tem esses diretamente relacionados à sua atividade fim. Desta forma, os
mesmos são utilizados em complementação às atividades de responsabilidade social
existentes nas cooperativas, podendo em alguns casos resultarem em benefícios
secundários como o aquecimento de água, energia elétrica, etc. Uma vez que quando não
estão ligados a atividade fim da cooperativa são economicamente pouco interessantes pelo
baixo retorno financeiro. A opção de participar utilizando-se dos contratos com empresas
multinacionais, permite a geração de um pequeno ativo ambiental, anteriormente
inutilizado, proveniente dos títulos de arrendamentos efetuados entre a empresa e a
cooperativa. Assim, estariam cumprindo com o principio cooperativista de
responsabilidade social, confirmando o que já afirmava Gimenes et. al (2007, p. 2) “os
princípios cooperativistas são as linhas orientadoras por meio das quais as cooperativas
levam seus valores a prática (...), as cooperativas trabalham para o desenvolvimento
sustentado das suas comunidades”.
Mesmo não sendo a responsável pela execução e comercialização dos créditos de
carbono, é interessante a participação das cooperativas nesses projetos, visto que grande
parte deles, por não terem ligação direta com sua atividade principal, seria inviável do
ponto de vista econômico sua execução se fosse somente por iniciativa da própria
organização.
4. BIBLIOGRAFIA
Adital. Cooperativas entram na luta contra mudanças climáticas, 2009. Disponível em:
www.adital.com.br. Acesso em 30/04/2009
BABBIE, Earl. Métodos de pesquisas em Survey. Tradução de Guilherme Cezarino. Belo
Horizonte. Ed. UFMG, 1999.
DCI Energia. Credito de Carbono de Cooperativas atraí estrangeiros ao Brasil, 2008.
Disponível em: www.abnt.org.br/cb38/noticias_16_julho.html. Acesso em 30/04/2009
GIMENES, A.P; CACCIA, C.Z de; ZARELLI, F.M; GIMENES, F.M.P. A prática da
Responsabilidade Social pelas Cooperativas Paranaenses. V Encontro de Economia
Paranaense. Anais. 2007. Paraná-Brasil.
NINAUT, Evandro. Projetos de Crédito de Carbono atraem Cooperativas, 2008.
Disponível em http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo. php?id=25772. Acesso
em 12/05/2009.
OCB- Organização das Cooperativas Brasileiras. Números do Cooperativismo
Brasileiro. Disponível: http://www.ocb.org.br. Acesso em: 03/08/2009.
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