Corte geral nas pensões A reforma da Segurança Social vai atingir o bolso dos portugueses. Para já, correm riscos as pensões mais altas, sejam do sector público ou do privado. No futuro, todos vão receber menos quando se reformarem AS REFORMAS dos portugueses que se aposentarem nos próximos 20 anos vão diminuir, pelo menos 10%. A nova forma de calcular as pensões, que o Governo anunciou há duas semanas, vai implicar que, quem deixe de trabalhar dentro de duas décadas, tenha sempre uma reforma mais baixa do que se ela fosse calculada com as regras que estão ainda em vigor. Uma projecção feita a pedido do EXPRESSO pela economista Sara Peralta, membro do Centro de Investigação sobre Economia Financeira do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), mostra que, com o regime actual, um trabalhador com um salário de cerca de 700 euros, no regime actual ficaria com uma reforma de €559 (cerca de 78% do ordenado). Com a nova fórmula de calculo - a média de toda a vida contributiva -, a pensão seria de €485, menos 13% da opção actual. O estudo desta especialista revela, além disso, que não basta calcular de outra forma a pensão para travar o crescimento das despesas da Segurança Social. Segundo Sara Peralta, o maior impacto na diminuição do valor das reformas vai sentir-se, sobretudo, por causa do «factor de sustentabilidade», sendo este, concluiu a economista, o elemento decisivo da reforma que o Governo quer fazer. E justifica: «O factor de sustentabilidade atinge todos», seja a sua aplicação feita a salários altos ou baixos, a carreiras contributivas de 40 anos ou às de quem trabalhe além desse limite. De facto, e segundo o trabalho feito por esta economista, um trabalhador que se reforme com um salário de 2031 euros, ficará com uma pensão de €1510 se for apenas feito o calculo pela média de toda a vida contributiva. No entanto, aplicando a esse cálculo o factor de sustentabilidade previsto pelo Governo, a pensão a que ele terá direito passa para os €1228. ou seja, menos 19% do primeiro valor - reforma que corresponde a 60% do ordenado. Uma terceira situação foi alvo de simulação no trabalho de Sara Peralta - a de um trabalhador que se irá reformar daqui a 20 anos, quando tiver um salário de €1256. Neste caso, a economista fez a projecção para todos os regimes possíveis. Com a aplicação do actual - a média dos melhores dez dos últimos 15 anos -, este trabalhador teria direito a uma reforma de €945 (75% do ordenado). Com a nova fórmula - a média de toda a vida contributiva -, a sua pensão seria de €923 (73% do ordenado). Combinando os dois regimes - que será a mais comum para quem já leva, hoje, 20 anos de trabalho -, a sua reforma ficaria nos €934 (74% do ordenado). Chegados aqui, pode já concluir-se que, entre as três simulações, não há grande diferenças: a pensão, seja qual for o regime, mantém-se nos mesmos níveis. A diferença far-se-á, mais uma vez, com a aplicação do factor de sustentabilidade. Dado que, por cada dez anos, se reduzem, pelo menos, 5% ao valor da pensão - e, como neste caso, o ajustamento será por 20 anos -, a penalização será de 10% e a pensão leva um corte de 101 euros, passando a ser de €833 (66% do ordenado). Quem perde mais. As duas principais medidas desta reforma - o «factor de sustentabilidade» e a antecipação do novo cálculo - têm impactos diferentes sobre as futuras reformas. O primeiro. até prova em contrário, vai aplicar-se a todos por igual e ter o mesmo efeito, o de reduzir da mesma forma todas as pensões. A não ser que se trabalhe mais ou se reforcem as contribuições. Já a antecipação do novo cálculo para 2007 pode não produzir qualquer redução no valor da reforma - se comparado com os regimes actuais. Isto se o Governo mantiver a nova fórmula de cálculo tal como ela já está prevista na lei de 2002 - e que previa a sua aplicação só em 2017. De facto, há casos em que esta medida não terá qualquer efeito para travar o crescimento da despesa da Segurança Social, uma vez que a sua aplicação salvaguardará os efeitos negativos sobre as pensões mais baixas e aquelas que resultam de carreiras contributivas constantes. «Trata-se de uma medida que serve, sobretudo, para beneficiar quem tem remunerações mais baixas». explica Sara Peralta. Em contrapartida, aqueles que se encontram hoje a meio da carreira contributiva com altos salários, e tiverem aumentos de 1% acima da inflação, serão os principais perdedores com a antecipação. Quem também já está a fazer contas são os que se preparavam para inflacionar os seus salários nos últimos anos de contribuições, quando se aproximam da idade da reforma. Com a antecipação, aperta-se o cerco a este expediente, até agora permitido por lei. Graça Rosendo e Isabel Vicente A pensão mais alta paga pelo regime geral da Segurança Social está próxima dos 20 mil euros. 7327 euros é o valor da pensão mais elevada paga a uma antiga funcionária pública, do MNE. Nos dois últimos anos, a Caixa Geral de Aposentações paga 147 reformas acima dos cinco mil euros. Altas reformas dos juízes e médicos têm origem nos Governos de Cavaco Silva. Casos de «manipulação» das contribuições no sector privado investigados pela Segurança Social. O maior corte no valor das pensões é provocado pela aplicação do novo «factor de sustentabilidade». Os trabalhadores com ordenados mais baixos não vão ser penalizados com a nova fórmula de cálculo. Só quem começou a trabalhar em 2001 terá uma reforma calculada, exclusivamente, com a média de toda a vida contributiva.