UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
SUYANNE CRISTINA DE OLIVEIRA NUNES
SINELLE VALLE DA COSTA
ALINE DE OLIVEIRA SOUZA
CINTIA TEIXEIRA SANTOS
ARTIGO
RIO DE JANEIRO
16 DE JUNHO DE 2014
SUYANNE CRISTINA DE OLIVEIRA NUNES
SINELLE VALLE DA COSTA
ALINE DE OLIVEIRA SOUZA
CINTIA TEIXEIRA SANTOS
ARTIGO – TREINAMENTO EM HABILIDADES SOCIAIS COM UNIVERSITÁRIOS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
Trabalho apresentado ao estágio em
Treinamento
supervisionado
em
pela
Habilidades
Sociais,
professora
Adriana
Benevides Soares, no curso de graduação em
Psicologia, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.
RIO DE JANEIRO
16 DE JUNHO DE 2014
TREINAMENTO EM HABILIDADES SOCIAIS COM UNIVERSITÁRIOS:
Relato de uma experiência de estágio
Suyanne Cristina de Oliveira Nunes*
Sinelle Valle da Costa*
Aline de Oliveira Souza*
Cintia Teixeira Santos*
Orientadora: Adriana Benevides Soares**
RESUMO
O objetivo deste estágio foi capacitar os jovens alunos no método e no processo de
Treinamento em Habilidades Sociais (THS) em um modelo preventivo de atuação no contexto
educativo universitário. O estágio se desenvolveu em três etapas: a primeira de revisão
bibliográfica, a segunda de planejamento das sessões e a terceira de aplicação e de análise dos
resultados. O Treinamento em Habilidades Sociais se desenvolveu em dez sessões semanais
de duas horas e contou com a participação de doze estudantes. Também foram aplicados três
instrumentos para comparação do antes e depois do THS: o Inventário de Habilidades Sociais
(IHS), a versão reduzida do Questionário de Vivência Acadêmica (QVA-r) e o Inventário de
Comportamentos Sociais Acadêmicos para Universitários (ICSA). Os temas trabalhados nas
sessões foram: Abordar Colegas, Expressar Sentimentos, Fazer e Recusar Pedidos, Expor
Opiniões, Resolução de Problemas, Solicitar Mudança de Comportamento, Falar em Público e
Lidar com Críticas. A análise dos resultados qualitativos indicou impactos positivos no
desenvolvimento dos jovens universitários.
Palavras-Chave: Habilidades Sociais, Treinamento em Habilidades Sociais, Universitários.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva apresentar um relato de experiência de estágio, em que foi
___________________________________________________________________________
*Graduandas em psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
**Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Paris XI, Pós Doutora pela UFSCar, Professora
Associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
desenvolvido um Treinamento em Habilidades Sociais com foco em desenvolver
comportamentos sociais assertivos em universitários, em situações consideradas difíceis no
contexto acadêmico. Para tanto será explicitada a fundamentação teórica que baseou a prática
e detalhada a construção, aplicação e apuração qualitativa do treinamento.
As habilidades sociais podem ser definidas como classes de comportamentos sociais
contribuintes para a competência social, que é um atributo avaliativo que se vale de critérios
de funcionalidade, a saber – manutenção ou melhora da qualidade da relação e da auto-estima
dos envolvidos, consequências do objetivo da interação, equilíbrio de perdas e ganhos dos
envolvidos e respeito e ampliação dos direitos humanos básicos - para avaliar o
comportamento do indivíduo (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2011). Segundo Magalhães e
Murta (2003) em toda relação interpessoal ocorre um desempenho social que demanda
habilidades sociais e pode ser caracterizado como socialmente competente ou não,
dependendo se o conjunto de comportamentos do indivíduo ao se relacionar expressa seus
sentimentos, opiniões, ações e desejos de forma contextualizada e respeita o direito do outro
de também fazê-lo.
As habilidades sociais são demandadas continuamente nas interações sociais dos
indivíduos. Em relação aos estudantes universitários Esta demanda, por vezes, apresenta-se de
forma mais incisiva no momento do ingresso na universidade, requerendo um aprendizado
necessário de convivência com um grande número de pessoas desconhecidas, lidar com as
exigências acadêmicas constantes (SECO et al, 2005) e a se adaptar ao novo. Soares, Poubel e
Mello (2009) destacam a fala de alguns estudiosos (ALMEIDA; SOARES; FERREIRA,
1999; SANTOS, 2000) sobre a importância das habilidades sociais no meio acadêmico
mostrando que as mudanças sociais trazem novas demandas ao sistema educacional superior,
que devem ultrapassar o limite de aquisição de conhecimentos e buscar desenvolver formas de
adaptação ao novo e a competência social. Os autores salientam ainda que a competência
acadêmica está fortemente relacionada à competência social.
Considerando a necessidade das habilidades sociais no contexto universitário para um
desempenho competente, muitos autores têm se dedicado a estudar esta relação. Estudos
empíricos no contexto universitário têm agregado ao tema informações importantes para a
expansão da área de habilidades sociais. Magalhães e Murta (2003) constataram, após a
aplicação de um treinamento em habilidades sociais em estudantes de psicologia, que houve
promoção do desenvolvimento das habilidades sociais, salientando a eficácia do Treinamento
e Ribeiro e Bolsoni-Silva (2011) explicitaram as situações em que os universitários citaram
como sendo difíceis em diferentes contextos, incluindo o universitário, a saber - exposição em
público, iniciar, manter e terminar relacionamento amoroso, iniciar, manter e encerrar
conversação com familiares, amigos e namorado(a), abordar pessoas para amizade, expressar
opiniões e sentimentos e lidar com críticas – situações estas, que envolvem a assertividade.
A assertividade destaca-se como uma habilidade social fundamental para um
relacionamento interpessoal saudável e competente (SOARES; DEL PRETTE, 2013), referese à defesa, por parte do indivíduo, de seus direitos, além da expressão de opiniões,
sentimentos e crenças de forma apropriada, direta e honesta, sem agredir ao direito do outro
(DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2012). Marchezini-Cunha e Tourinho (2010) destacam
algumas definições de assertividade, a saber - um conjunto de comportamentos pessoais que
funcionam em contextos sociais próprios; a expressão de sentimentos de forma socialmente
adequada, preservando tanto os direitos do indivíduo que responde assertivamente quanto os
seus e a habilidade para manter ou aprimorar uma situação interpessoal através da expressão
de sentimentos ou desejos mesmo quando estas manifestações envolvem riscos ou até mesmo
punição. Ao longo do tempo muitos conceitos foram elaborados para atender ao conceito de
assertividade, entretanto, apesar das diversas definições encontradas, grande parte delas
perpassam pela questão do exercício do direito, envolvendo características como recusa e
discordância, auto-afirmação, fazer pedidos e exigências sem constrangimentos e expressar
sentimentos positivos ou negativos (PASQUALI; GOUVEIA, 1990).
Marchezini-Cunha e Tourinho (2010) especificam que o comportamento assertivo é
comparado com o passivo e agressivo e sua definição está fundamentada na topografia destes
comportamentos, como o tom de voz e o contato visual. Salientam que as características
funcionais também devem ser consideradas, como as consequências que respostas podem
gerar, dependendo se foi dada de forma assertiva, passiva ou agressiva, destacando que estas
consequências podem ser de aprovação ou de desaprovação e de reforço ou aversão. Os
autores mostram ainda pesquisas indicativas de que em geral, o comportamento passivo
recebe mais avaliações positivas (maior aceitação social), o agressivo, mais negativas e o
assertivo, ambas. Como o comportamento assertivo tende às vezes a ser reprovado pelo
grupo, o indivíduo assertivo deve levar em consideração o contexto em que está inserido, ter
empatia e autoconhecimento, para poder prever as consequências de seu comportamento.
Lopes, Azeredo e Rodrigues (2013) salientam a importância da assertividade e das
habilidades sociais para o bem-estar social do indivíduo, mostrando que o comportamento
assertivo contribui positivamente no desempenho laboral, corroborando a relação das
habilidades sociais com melhor qualidade de vida e sucesso profissional.
Considerando a literatura sobre habilidades sociais e especificamente a assertividade,
percebe-se a importância da promoção das habilidades sociais assertivas não apenas para
universitários, mas para todo o indivíduo que busca usufruir de relações sociais competentes.
Assim, o Treinamento em Habilidades Sociais ganha destaque no cenário atual da Psicologia.
1.1 TREINAMENTO EM HABILIDADES SOCIAIS
O Treinamento em Habilidades Sociais – THS é um conjunto de atividades planejadas
que contribuem para o processo de aprendizagem do comportamento socialmente competente.
É conduzido por um terapeuta e objetiva aperfeiçoar habilidades sociais aprendidas, mas que
apresentam déficits, ensinar novas habilidades sociais e diminuir ou eliminar comportamentos
contrários às habilidades (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010).
O treinamento em habilidades Sociais fundamenta-se em dois conceitos – Habilidades
Sociais e Competências Social – sendo o primeiro referente a classes de comportamentos
sociais que contribuem para competência social e o segundo a um atributo avaliativo de
comportamentos de sucesso no ambiente social (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001)
Segundo Hidalgo e Abarca (1992, apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2012) a área
de THS foi formada a partir de cinco modelos teóricos – assertividade, percepção social,
aprendizagem social, cognição e teoria dos papéis – o modelo de assertividade surgiu a partir
de estudos experimentais de laboratório e baseia-se em duas linhas de pensamento para
entender os déficits e dificuldades no desempenho social, a saber, condicionamento
respondente e condicionamento operante; o modelo de percepção social foi criado por Argyle
e baseia-se na análise da capacidade de “leitura” do contexto social por parte dos indivíduos;
O modelo de aprendizagem social baseia-se na ideia de que a maioria das habilidades sociais
são aprendidas de forma vicária e de que o desempenho social aprendido, seria mediado pela
expectativa sobre as possíveis consequências de comportamentos interpessoais e por outros
processos como crenças, percepções e pensamentos; o modelo cognitivo baseia-se na ideia de
que o desempenho social é mediado por habilidades sociocognitivas que as crianças aprendem
no processo de interação com seu ambiente social e o modelo da teoria de papéis surgiu a
partir de estudos de psicologia social e da terapia de papel fixo e entende que o
comportamento social relaciona-se com o entendimento do próprio papel e do papel do outro
na relação social.
Por ser originado a partir da junção de diferentes modelos conceituais, Del Prette e Del
Prette (2012) destacam que a construção de uma teoria mais robusta do THS, depende muito
dos resultados práticos e teóricos produzido em suas aplicações. Na última década muitos
programas de Treinamento em Habilidades Sociais com universitários foram desenvolvidos,
trazendo resultados que salientam a validade de estudos nesta área e do desenvolvimento e
crescimento desta prática. Villas Boas, Silveira e Bolsoni-Silva (2005) realizaram um
Treinamento em um grupo de quatro universitários objetivando verificar se após a aplicação
do programa, mudanças comportamentais seriam identificadas. Na análise dos resultados, os
autores concluíram que houve ganhos de repertórios, como iniciar e manter conversação e
autoconhecimento, entretanto algumas dificuldades se mantiveram mesmo após a intervenção.
Bolsoni-Silva et al (2009) aplicaram um Treinamento em Habilidades Sociais em quinze
universitários e três recém-formados objetivando avaliar a efetividade desta intervenção, os
resultados mostraram que todos os participantes tiveram aquisições em relação às habilidades
manter conversa com desconhecidos, cobrar dívida de amigo, apresentar-se a outra pessoa,
abordar para relação sexual, discordar do grupo, abordar autoridade, manter conversação,
falar a público desconhecido, fazer pergunta a desconhecidos, pedir favores a desconhecidos,
expressar desagrado e pedir ajuda a amigos e embora alguns itens não apresentarem diferença
significativa pós-intervenção, os resultados indicaram a eficácia do treinamento. Diversos
outros trabalhos utilizando o THS com estudantes universitários também mostraram a eficácia
do método e aquisições em habilidades sociais para os participantes (DEL PRETTE; DEL
PRETTE; BARRETO,1999; A. DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2003; LIMA, 2014).
2. DESCRIÇÃO DO TRABALHO
O treinamento em Habilidades Sociais com Universitários foi elaborado e posto em
prática no contexto do estágio curricular intitulado “Treinamento de Habilidades Sociais”. O
estágio iniciou no primeiro semestre de 2013, sendo finalizado no primeiro semestre de 2014.
Foi estruturado em três partes: o primeiro semestre foi dedicado à instrumentação teórica
sobre as Habilidades Sociais e sobre o Treinamento em Habilidades Sociais, o segundo foi
voltado para a construção das sessões e aprendizado dos instrumentos e o último foi focado na
aplicação do Treinamento e na apuração qualitativa dos resultados obtidos.
Após a revisão bibliográfica proposta na primeira fase do estágio, iniciou-se, no
segundo semestre, a elaboração das sessões do Treinamento em habilidades Sociais.
Primeiramente foram estudados os instrumentos a serem aplicados durante o Treinamento, a
saber - o QVA-r, versão reduzida do Questionário de Vivência Acadêmica (ALMEIDA;
FERREIRA; SOARES, 1999). Este instrumento de auto-relato objetiva avaliar a forma com
que os jovens se adaptam as exigências da vida acadêmica universitária. O QVA-r possui 60
itens referentes a cinco dimensões - pessoal, interpessoal, carreira, estudo e institucional – a
dimensão pessoal (Alpha de Cronbach = 0,87) possui 13 itens e refere-se a aspectos de
percepção pessoal sobre bem-estar e auto-estima e da identidade do aluno; a dimensão
interpessoal (Alpha de Cronbach = 0,86) possui 13 itens e refere-se aos relacionamentos e a
aspectos relacionados com atividades extracurriculares de caráter social e associativo; a
dimensão carreira (Alpha de Cronbach = 0,91) possui 13 itens e refere-se a adaptação ao
curso, ao projeto vocacional e as perspectivas de carreira; a dimensão estudo (Alpha de
Cronbach = 0,82) possui 13 itens e refere-se aos métodos de estudo e gestão do tempo; a
última dimensão ,institucional (Alpha de Cronbach = 0,71), possui 8 itens e refere-se a
relação do estudante com a instituição de ensino do qual faz parte.
O Inventário de Comportamentos Sociais Acadêmicos para Universitários (SOARES;
MOURÃO; MELLO, 2011) objetiva avaliar comportamentos habilidosos e não habilidosos
no contexto universitário, possui formato tipo Likert de cinco níveis de resposta, variando de
nunca à sempre. O instrumento possui 34 itens divididos em 6 fatores – Comportamento
Adequado em Sala de Aula, Comportamento Indisciplinado em Sala de Aula, Cordialidade no
Relacionamento Interpessoal, Desrespeito a Professores e Colegas, Auto-exposição e
Assertividade e Comportamento de Eficácia Acadêmica – O fator Comportamento Adequado
em Sala de Aula (Alpha de Cronbach = 0,73), possui 6 itens que referem-se ao componente
comportamental positivo das habilidades esperadas em sala de aula; o fator Comportamento
Indisciplinado em Sala de Aula (Alpha de Cronbach = 0,81), possui 6 itens que referem-se ao
componente comportamental negativo das habilidades esperadas em sala de aula; o fator
Cordialidade no Relacionamento Interpessoal (Alpha de Cronbach = 0,77), possui 6 itens que
referem-se as reações internalizantes e externalizantes e habilidosas e não habilidosas nas
relações sociais; o fator Desrespeito a Professores e Colegas (Alpha de Cronbach = 0,59),
possui 5 itens que referem-se aos componentes interpessoais diretos que atravessam a relação
dos universitários com os colegas e com os professores; o fator Auto-exposição e
Assertividade (Alpha de Cronbach = 0,66), possui 6 itens que referem-se ao risco de reações
indesejadas e o fator Comportamento de Eficácia Acadêmica (Alpha de Cronbach = 0,60),
possui 5 itens que refere-se a adaptação acadêmica e a auto-regulação de competências.
O IHS (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001), é um inventário de auto-relato que
objetiva avaliar as dimensões situacionais e comportamentais das habilidades sociais. O
instrumento possui duas partes, a primeira é composta por instruções e 38 itens, cada um
deles descreve uma situação de relação interpessoal e uma possível reação à ela e possui
formato tipo Likert de cinco níveis de resposta, variando de nunca ou raramente (0 à 20%) à
sempre ou quase sempre (81% à 100%). A frequência elevada em determinados itens, indica
déficit na habilidade envolvida na situação descrita e a pontuação destes é invertida. A
segunda parte do inventário possui um cabeçalho com características, um quadro para
anotação das respostas e instruções e modelo de escala para estimativa de respostas. O
instrumento avalia 5 fatores – Enfrentamento com Risco, Auto-Afirmação na Expressão de
Afeto Positivo, Conversação e Desenvoltura Social, Auto-Exposição a Desconhecidos ou a
Situações Novas e Auto-Controle da Agressividade a Situações Aversivas – o fator
Enfrentamento com Risco (Alpha de Cronbach = 0,96), possui 11 itens que referem-se as
situações interpessoais que envolvem afirmação e defesa de direitos e de auto-estima com
risco de reação indesejável por parte do outro (assertividade); o fator Auto-Afirmação na
expressão de Afeto Positivo (Alpha de Cronbach = 0,86), possui 7 itens que referem-se a
demandas interpessoais de expressão de afeto positivo e de afirmação de auto-estima; o fator
Conversação e Desenvoltura Social (Alpha de Cronbach = 0,81), possui 7 itens que referemse a situações neutras de relacionamento relacionadas ao “traquejo social”; o fator AutoExposição a Desconhecidos ou a Situações Novas (Alpha de Cronbach = 0,75), possui 4 itens
que referem-se ao ato de abordar pessoas desconhecidas; o último fator, Auto-Controle da
Agressividade a Situações Aversivas (Alpha de Cronbach = 0,74), possui 3 itens que referemse ao auto controle da raiva e da agressividade.
Depois foi realizado um levantamento de dificuldades interpessoais no âmbito
universitário por meio de entrevistas realizadas com 30 estudantes sobre os temas das sessões
identificados na literatura (Soares e Del Prette, 2013; Bandeira & Quaglia, 2005). Os dados
foram coletados através de entrevistas abertas, disparadas pela pergunta “Quais as
dificuldades interpessoais encontradas por você, como aluno, dentro da Universidade?”. Os
indivíduos deveriam discorrer sobre cinco situações em que vivenciaram dificuldades
interpessoais dentro da universidade. As respostas obtidas nas entrevistas foram transcritas
e/ou gravadas e categorizadas de acordo com a habilidade social envolvida.
Das 133 respostas colhidas, 21 foram descartadas por serem consideradas
inadequadas, sendo válidas, apenas 112. Das situações válidas para a categorização de
habilidades sociais, observou-se que 22 (19,64%) referiam-se a categoria Falar em Público e
Exposição a Desconhecidos, sendo 11 (50%) referente à subcategoria Apresentação de
Seminários; 6 (27,27%) à Exposição de Ideias; 2 (9,09%) à Falar com Desconhecidos; 2
(9,09%) à Falar em Público em Geral e 1 (4,54%) à Apresentação de Si Mesmo. 22 (19,64%)
referiam-se a Categoria Expor Opinião, sendo 13 (59,09%) referente à subcategoria Expor
Opiniões/ Discordar de Professores; 5 (22,72%) à Expor Opinião à Direção; 3 (13,63%) à
Expor Opinião aos Colegas e 1 (4,54%) à Expor Opinião em Geral. 2 (1,78%) referiam-se a
categoria Fazer Pedidos, sendo 1 (50%) referente à subcategoria Fazer Pedido ao Professor e
1 (50%) à Fazer Pedido a Direção. 10 (8,92%) referiam-se a categoria Expressar Sentimento,
sendo 4 = 40% referente á subcategoria Expressar Sentimento para Professores; 3 (30%) à
Expressar Sentimentos para Colegas e 3 (30%) à Expressar Sentimentos para Funcionários da
Universidade. 29 (25,89) referiam-se a categoria Solicitar Mudança de Comportamento, sendo
12 (41,37%) referente à subcategoria Solicitar Mudança de Comportamento de Professor; 10
(34,48%) à Solicitar Mudança de Comportamento a Colegas (trabalho em grupo); 3 (10,34%)
à Solicitar Mudança de Comportamento Referente ao Uso de Cigarros; 2 (6,89%) à Solicitar
Mudança de Comportamento a Colegas (atrapalhar aula); 1 (3,44%) à Solicitar Mudança de
Comportamento de Funcionários da Universidade e 1 (3,44%) à Solicitar Mudanças de
Comportamento em Geral. 5 (4,46) referiam-se a Categoria Abordar Colega para
Relacionamento, sendo 2 (40%) referente à subcategoria Abordar Colegas para Iniciar
Amizade; 2 (40%) à Entrar em Grupos de Amizade Já Formados e 1 (20%) à Trabalho em
Grupo. 11 (9,82) referiam-se a categoria Resolução de Problemas, sendo 4 (36,36%) referente
à subcategoria Trabalho em Grupo; 3 (27,27%) à Lidar com Situações Novas; 3 (27,27%) à
Conciliar a Vida Pessoal com a Universitária; 1 (9,09%) à Tomada de Decisões e 1 (9,09%) à
Resolução de Problemas em Geral. 5 (4,46%) referiam-se a categoria Recusar Pedidos
Abusivos sendo 4 (80%) referente à subcategoria Recusar Pedidos de Colegas e 1 (20%) à
Recusar Pedidos de Professores. 6 (5,35%) referiam-se a categoria Lidar com Críticas, sendo
4 (66.66%) referente à subcategoria Críticas de Professores; 1 (16,66%) à Críticas de Colegas
e 1 (16,66%) à Críticas em Geral.
Além dos dados coletados no levantamento, foram consideradas para a estruturação
das sessões, as situações consideradas difíceis pelo Guia teórico-prático sobre as dificuldades
interpessoais na Universidade, elaborado por Soares e Del Prette (2013). A pesquisa efetuada
para fundamentar o Guia objetivou identificar situações vivenciadas como muito ou pouco
difíceis pelos estudantes universitários. A amostra foi de 250 estudantes universitários, sendo
206 mulheres e 43 homens; 153 solteiros, 77 casados, 13 divorciados e 2 viúvos; 23
pertencentes a classe social A, 136 à classe social B e 88 à classe social C e D e 45 de
instituições públicas e 204, de privadas. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um
questionário de 50 itens, sendo cada um correspondente a uma situação de contexto
universitário. O estudante deveria qualificar o grau de dificuldade em cada situação e a
frequência com que ocorria. As respostas foram tabuladas e foram identificadas as situações
mais difíceis e menos difíceis no âmbito universitário. Com os resultados obtidos foi possível
organizar dois grupos de situações, sendo o grupo um referente as mais difíceis e o segundo
grupo às mais fáceis. O grupo 1 compreendeu as situações mais difíceis: pedir aos colegas que
desliguem os celulares em aula, apresentar trabalhos em situações públicas, pedir a colegas
que evitem lanchar durante a aula, mobilizar colegas para reivindicar direitos junto à
autoridade pertinente e receber crítica do professor pela apresentação de trabalhos. O grupo 2
compreendeu as situações mais fáceis: agradecer por serviços prestados por funcionários,
agradecer por favores que são feitos por funcionários, agradecer ao professor quando ele “tira
dúvidas” fora do horário de aula, elogiar colegas que têm bom desempenho acadêmico e
elogiar a apresentação de um seminário dos colegas
Após a identificação dos temas das sessões, as mesmas começaram a serem
construídas. A estrutura básica de cada sessão consistia em instrumentação teórica, vivências
e tarefa de casa. No decorrer da construção do Treinamento, algumas mudanças foram
realizadas em função de imprevistos e as sessões, que inicialmente seriam doze, foram
sintetizadas em dez, sendo a primeira, uma sessão de abertura e de aplicação dos
instrumentos; a décima, uma sessão de encerramento e de reaplicação de instrumentos, a fim
de ser feito uma comparação entre os resultados quantitativos obtidos antes e depois do
treinamento; As oito sessões intermediárias, foram destinadas cada uma a uma habilidade
específica, a saber - falar em público, expor opiniões, fazer e recusar pedidos, solicitar
mudança de comportamento, resolução de problemas, abordar colegas, expressar sentimentos
e lidar com críticas. Após o término da construção do Treinamento, foi iniciada a divulgação
do mesmo via e-mail e panfletagem nas salas de aula da Universidade e aberta às inscrições,
via e-mail. No encerramento das inscrições, foi criado um grupo de 21 participantes.
Na terceira fase do estágio, foi a realizada a aplicação do Treinamento em Habilidades
Sociais com Universitários. Antes do seu início, houve uma reunião geral de planejamento e
fechamento. O treinamento aconteceu durante o primeiro semestre de 2114, às segundasfeiras, das 18:00h às 20:00h, no espaço físico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
no laboratório de Cognição e Contextos Sociais. Cada sessão foi conduzida por uma estagiária
e tinha as outras três como auxiliares. Cada estagiária conduziu como principal facilitadora
duas sessões. As sessões inicial e final foram conduzidas por todas.
A primeira sessão objetivou promover a ambientação do grupo de participantes,
explicitar o objetivo do treinamento, explicar sua estrutura e seu funcionamento, realizar a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e fazer a aplicação dos
instrumentos. A sessão foi iniciada com a apresentação das estagiárias seguida de uma
explanação sobre o Treinamento em Habilidades Sociais. Foi realizada a “Dinâmica do
nome”, que objetivou permitir que os participantes se apresentassem e por fim foi feita a
aplicação dos instrumentos.
A sessão dois do Treinamento objetivou desenvolver a habilidade social de abordar
colegas e participaram desta, dezessete universitários (P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11,
P12, P13, P14, P16, P17, P18, P20, P21). Antes de iniciar a sessão propriamente dita, foi
necessário retomar a explanação da primeira sessão, sobre o treinamento e seu
funcionamento, em virtude do ingresso de novos participantes. A sessão sobre abordar
colegas foi iniciada com um quebra-gelo intitulado “Entrevista”, que objetivou proporcionar o
entrosamento do grupo, em seguida foi feita uma apresentação teórica sobre o tema em
questão e realizada uma vivência intitulada “No zoológico” (SILVA; DEL PRETTE; DEL
PRETTE, 2013) que pretendeu desenvolver, principalmente, os seguintes comportamentos:
apresentar-se para os outros, fazer e responder perguntas, iniciar e manter conversas e
mostrar-se cooperativo com as pessoas. Após a finalização da vivência, foram apresentadas
algumas situações dentro do contexto universitário que envolvia a abordagem de colegas e
finalizando a sessão foi proposta uma tarefa de casa que consistia em abordar alguém que não
fosse um amigo, dentro da Universidade, e buscar manter uma conversa com esta pessoa.
A sessão três do Treinamento objetivou desenvolver a habilidade de expressar
sentimentos e participaram desta, sete alunos (P1, P5, P11, P12, P19, P20 e P21). A sessão foi
iniciada pela revisão da tarefa de casa indicada na sessão sobre abordar colegas e dois
universitários (P12 e P20) relataram o cumprimento da mesma. Em seguida foi apresentado o
tema da sessão e a fundamentação teórica do mesmo. Depois de finalizada a conceituação, foi
proposta a atividade “Identificando as Expressões Faciais” (SILVA; DEL PRETTE; DEL
PRETTE, 2013) que objetivou levar o grupo a refletir sobre as facilidades/dificuldades de
identificar expressões de sentimentos e de questionar se eles próprios tinham
facilidades/dificuldades em expressá-los; a tarefa foi finalizada com a descrição de cada
emoção. Após esta tarefa, foi exibido o vídeo de uma reportagem sobre um método de
detectar mentiras por meio das expressões faciais, objetivando mostrar ao grupo a importância
de tais expressões. Foram apresentadas dicas sobre a expressão de sentimentos e os
participantes tiveram a oportunidade de praticá-las. Em seguida foi realizada a leitura do texto
“A vara dos porcos espinhos” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001) levando o grupo a
refletir sobre proximidade e distanciamento em relação ao outro e realizada a vivência
“Círculos mágicos” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001) que objetivou desenvolver a
percepção
de
espaço
interpessoal
e
a
identificar
sentimentos
associados
à
proximidade/distanciamento. Por fim, foi apresentada a tarefa de casa que solicitava ao
participante que este apresentasse, na próxima sessão, a descrição de uma situação vivenciada
no decorre da semana que envolvesse expressar sentimentos dentro do contexto universitário.
A sessão quatro do Treinamento teve como finalidade desenvolver as habilidades fazer
e recusar pedidos e participaram desta, doze universitários (P1, P2, P3, P7, P8, P9, P11, P13,
P14, P15, P17 e P21). A sessão foi iniciada com a revisão da tarefa de casa indicada na sessão
sobre expressar sentimentos e apenas um participante (P1) relatou o cumprimento da tarefa.
Finalizada a revisão foi apresentado o tema da sessão e iniciado a fundamentação teórica
sobre o tema. Após a instrumentação teórica, foi perguntado para os participantes em qual
habilidade eles tinham mais dificuldade, fazer ou recusar pedidos, nove participantes (P1, P3,
P8, P9, P10, P11, P13, P15 e P17) responderam recusar pedidos e dois (P14 e P21)
responderam fazer pedidos. A pergunta foi feita com a intenção de direcionar os participantes
a participarem mais ativamente da vivência relacionada à habilidade identificada como
deficitária. Foi explicado para o grupo que a sessão seria divida em duas partes, sendo a
primeira com foco na habilidade de recusar pedidos e a segunda com foco na habilidade de
fazer pedidos. O primeiro momento foi introduzido com o texto “Trabalho em Grupo”, escrito
pela facilitadora da sessão, que descreve de forma cômica uma situação comum à rotina
universitária. Findando a leitura do texto, foi perguntado aos participantes quem já havia
passado por uma situação similar a do texto e qual o sentimento que eles experimentaram
vivenciando àquela experiência. Cada um teve a oportunidade de falar e cinco palavras foram
mencionadas: chateação, raiva, indignação, frustação e injustiça. As palavras foram escritas
em um cartaz que ficou exposto durante toda a sessão. Em seguida foram apresentadas quatro
dicas que os participantes poderiam utilizar a fim de serem mais assertivos quanto a recusar
pedidos. Após comentar sobre as dicas, o grupo participou de uma adaptação da vivência
intitulada “Peça o que quiser” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001), que objetivou treinar o
comportamento de recusar pedidos por meio de encenações de situações rotineiras no
contexto universitário e no fim da vivência foi feita uma reflexão com base no cartaz feito
anteriormente, questionando-se, se valia a pena aceitar pedidos por não conseguir dizer “não”
e por medo de prejudicar o relacionamento com o outro e em troca experimentar os
sentimentos e sensações citadas na confecção do cartaz, sendo passivos e desagradando a si
mesmo. Concluída a parte da sessão sobre recusar pedidos, foi introduzida a segunda parte,
fazer pedidos, com a leitura de um texto cômico sobre o tema e foram apresentadas dicas para
auxiliar os participantes quando fossem fazer algum pedido. Depois, foi realizada a adaptação
da vivência “Entrada no céu” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001), que objetivou treinar o
comportamento de fazer pedidos de forma assertiva. Finalizando a sessão foi apresentado um
vídeo para fundamentar a tarefa de casa, que solicitava aos participantes que durante a semana
escrevessem sobre situações em que tinham mais dificuldades em fazer pedidos e recusas
dentro do contexto universitário e que citassem pessoas em relação as quais era mais difícil
fazer pedidos e recusas. Eles deveriam, então, buscar fazer pedidos e recusas nessas situações
e para essas pessoas.
A sessão cinco do Treinamento objetivou desenvolver a habilidade de expor opiniões e
participaram desta, dez universitários (P2, P3, P5, P8, P12, P13, P14, P15, P17 e P20). A
sessão foi iniciada com a revisão da tarefa de casa da sessão sobre fazer e recusar pedidos e 3
participantes relataram ter conseguido fazer pedidos durante a semana, entretanto, não houve
relatos sobre a recusa de pedidos. Finalizada a revisão da tarefa de casa, foi introduzido o
tema da sessão, por meio de um vídeo que retratava uma situação de expor opinião; após seu
termino, houve um momento de discussão sobre a importância de expor opiniões no contexto
acadêmico. Em seguida foram apresentadas dicas sobre como lidar com a exposição de
opinião, própria e de outros, e iniciada a vivência “Jogos de papéis” (CARNEIRO, 2010) que
objetivou treinar o comportamento de expor opiniões, simulando situações do contexto
universitário onde sua opinião deveria ser expressa em discordância com a opinião da
maioria. Depois foi lido o texto “Versão Lupina da História da Chapeuzinho Vermelho”
(CARNEIRO, 2010) que levou o grupo a reflexão de que a maioria das situações da vida que
envolvem mais de uma pessoa, há mais de uma versão da história e que portanto, aprender a
lidar com a opinião do outro é tão importante quanto expressar a sua própria. O texto serviu
como introdução para a dinâmica da “Entrevista” que proporcionou que o grupo praticasse a
escuta da opinião do outro sem questioná-la de imediato caso fosse contrária a sua. Por fim,
foi apresentada a tarefa de casa que consistiu em solicitar aos participantes que buscasse
durante a semana conversar com pessoas da faculdade sobre a sua opinião a respeito de algum
assunto lembrando-se de ouvir também a opinião do outro.
A sessão seis do treinamento objetivou desenvolver a habilidade de resolução de
problemas e participaram desta, dez universitários (P1, P2, P3, P5, P8, P13, P14, P15, P17 e
P21). A sessão foi iniciada com a revisão da tarefa de casa da sessão sobre expor opinião e
três participantes (P5, P12 e P15) relataram terem cumprido a tarefa. Depois da revisão foi
apresentado o tema da sessão e feita uma conceituação teórica sobre o tema somada a o
ensino de uma técnica de auxilio para resolver problemas. Em seguida foi realizada uma
atividade que objetivou treinar a resolução de problemas com base na técnica aprendida, em
uma situação contextualizada na Universidade. Finalizando a sessão foi apresentada a tarefa
de casa que consistiu em solicitar aos participantes que buscassem praticar a técnica de
resolução de problemas ao longo da semana dentro do contexto universitário.
A sessão sete do Treinamento objetivou desenvolver a habilidade de solicitar mudança
de comportamento e participaram desta, dez participantes (P1, P2, P3, P8, P11, P13, P14,
P15, P17 e P21). A sessão foi iniciada com a revisão da tarefa de casa sobre resolução de
problemas e um participante (P21) relatou ter cumprido a tarefa. Em seguida o tema da sessão
foi apresentado seguido de uma fundamentação teórico sobre o mesmo. Depois foi
apresentada uma técnica para auxiliar na solicitação de mudança de comportamento,
denominada “DESC” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001), e foram expostas situações do
contexto universitário para o grupo treinar tal técnica. Após o treino, foi realizada uma
vivencia que consistia na dupla encenação, pelo grupo, de uma situação rotineira no contexto
universitário, sendo a primeira resolvida sem a técnica ensinada e a segunda, com a técnica.
Finalizando a sessão foi apresentada a tarefa de casa que consistia em solicitar aos
participantes que descrevessem duas situações marcantes vivenciadas por eles na
Universidade e que era necessário uma intervenção, solicitando-se mudança de
comportamento. Após descreverem, deveriam pensar em como deveriam ter resolvido a
situação com base na técnica “DESC”.
A sessão oito do Treinamento objetivou desenvolver a habilidade de falar em público
e participaram da sessão doze universitários (P1, P2, P3, P5, P8, P11, P12, P13, P14, P15,
P20, e P2). A sessão foi iniciada com a revisão da tarefa de casa sobre solicitar mudança de
comportamentos e dois alunos (P1 e P21) relataram terem conseguido realizar a tarefa. Em
seguida foi realizada a dinâmica da “Caixinha de Surpresa” que objetivou levar o grupo a
refletir sobre o medo de falar em público a partir do medo do desconhecido, que impede que
as pessoas tenham novas experiências gratificantes e leva-as a imaginar as situações a serem
vivenciadas de forma negativa e irreal. Concluindo a reflexão foi apresentado o relato de uma
aluna que apresentou seu trabalho para uma banca examinadora e ficou extremamente
nervosa, além do resultado de um levantamento realizado por um jornal inglês que apontou
que o medo de falar em público apareceu como sendo maior até do que o medo da morte para
41% das 3.000 pessoas entrevistadas na pesquisa. Depois foi perguntado ao grupo se já
haviam prestado atenção às reações do próprio corpo frente à necessidade de falar em público
e houve relatos de frio na barriga, tremor, dor na barriga, entre outros. Foi lido o texto “Falar
em público” com dicas sobre o falar em público e depois iniciada a “Dinâmica da Aulinha”
que objetivou treinar o comportamento de falar em público por meio da apresentação de um
tema à escolha do universitário na frente do grupo. Finalizando a sessão, foi apresentada a
tarefa de casa que consistiu em solicitar aos participantes que preparassem um breve discurso
como se fosse o orador de sua turma de segundo grau/ da faculdade para apresentar na
próxima sessão.
A sessão nove do Treinamento objetivou desenvolver a habilidade de lidar com
críticas e participaram desta, oito participantes (P1, P2, P5, P11, P12, 14, P20 E P21). A
Sessão foi iniciada com a revisão da tarefa de casa da sessão sobre o falar em publico e
nenhum universitário realizou a tarefa. Em seguida foi feita a apresentação do tema por meio
da “dinâmica do elogio” que objetivou levar o grupo a refletir sobre o lidar com criticas e
realizada uma explanação sobre o tema. Depois foi apresentada uma técnica para fazer criticas
denominada “técnica do sanduiche” (SOARES; DEL PRETTE, 2013) que consiste em
destacar algum ponto positivo do outro, fazer a crítica e encerrar a fala com algum
apontamento positivo novamente, e propostos três exercícios que estimularam a pratica da
técnica ensinada. Após o fim dos exercícios foi realizada a vivência sobre receber críticas, que
consistia em um ensaio comportamental que objetivou treinar a forma mais assertiva de lidar
com o recebimento de críticas; os alunos encenaram situações rotineiras do contexto
universitário e após a apresentação de dicas sobre o recebimento de críticas, reencenaram as
situações valendo-se das dicas para modelar seus comportamentos. Por fim, foi apresentada a
tarefa de casa que consistiu em solicitar aos participantes que buscasse durante a semana, a
lidar com as críticas que recebessem, valendo-se das dicas dadas na sessão. Eles deveriam
descrever como foi a sua lida e trazer na próxima sessão.
A sessão dez do treinamento foi voltada para a reaplicação dos instrumentos,
fechamento do treinamento e confraternização do grupo e participaram desta onze
universitários (P1, P3, P5, P8, P11, P12, P13, P14, P15, P20 e P21). A sessão foi iniciada com
a revisão da tarefa de casa sobre lidar com críticas e cinco alunos (P9, P12, P14, P15 e P20)
relataram terem conseguido realizar a tarefa. Em seguida foram reaplicados os instrumentos.
Após a finalização do preenchimento dos testes, foi realizado um feedback sobre o
Treinamento e por fim, foi feito uma confraternização para despedida do grupo.
3. APRECIAÇÃO
DO
DESENVOLVIMENTO
DAS
ATIVIDADES,
DAS
DIFICULDADES ENFRENTADAS E DA APURAÇÃO QUALITATIVA DO
TREINAMENTO.
O Treinamento
em
Habilidades
Sociais
com
Universitários
foi realizado
initerruptamente, conforme o cronograma proposto, apesar dos imprevistos que ocorreram
durante seu período de duração, como a baixa frequência relatada na primeira sessão e a
chuva forte que impossibilitou a presença de muitos participantes na terceira sessão. A
duração das sessões, embora programadas para duas horas, variou de 01:30h à 02:00h, devido
ao atraso de alguns participantes. Durante as sessões foram utilizados como recursos
materiais, computador, Datashow, Tela de Projeção, crachás, canetas e papeis. O material
teórico utilizado na sessão e as apresentações de power point foram disponibilizadas para os
participantes por meio de e-mail e/ou cópias entregue na sessão.
Durante o treinamento algumas dificuldades surgiram como os atrasos citados e
pontuais problemas técnicos no computador. No decorrer das sessões, a principal dificuldade
encontrada era a falta de voluntariado imediato para participar das vivências, pois, embora o
grupo, em geral, tenha se mostrado engajado durante o Treinamento, na maioria das vezes, era
necessário um “empurrãozinho” das facilitadoras para que os universitários participassem,
entretanto, isso não comprometeu o Treinamento, visto que quando a vivência iniciava a
participação era ativa e feita de forma comprometida. Outra dificuldade enfrentada foi a não
realização da tarefa de casa por muitos participantes, o que pode ter evitado um reforçamento
maior do aprendido nas sessões.
Sobre a análise dos dados do Treinamento, a análise quantitativa ainda será realizada.
Quanto a análise qualitativa, foi identificada uma melhora no comportamento dos doze
participantes (P1, P2, P3, P5, P8, P11, P12, P13, P14, P15, P20 e P21) que finalizaram o
Treinamento, a partir da observação das modificações no comportamento no decorrer das
sessões, além das falas e compartilhamento de experiências que os participantes vivenciaram
de um modo mais assertivo devido ao aprendizado adquirido no Treinamento. Segue algumas
situações e falas que indicam os ganhos do Treinamento.
A sessão de abordar colegas, embora tenha sido a primeira sessão com vivência e o
grupo ainda não se conhecer, propiciou na dinâmica da entrevista uma participação ativa de
todos os participantes ao propor uma atividade grupal onde a exposição individual era
minimizada deixando os universitários à vontade para participarem sem se expor muito e
levando-os a alcançar o objetivo de vivenciar a abordagem de colegas. Em relação à revisão
da tarefa de casa desta sessão, foi relatada por P20 que a mesma foi colocada em prática
imediatamente após o término da sessão quando a universitária abordou uma colega de
treinamento para ir junto com ela até o metrô e durante o caminho mantiveram uma conversa,
P12 também comentou que realizou a tarefa ao abordar uma estudante que já havia visto
antes, dentro do ônibus a caminho da universidade, e mantiveram uma conversa até o destino
final. Esta duas experiências relatadas mostram que o comportamento pode ser modificado a
partir de uma decisão por parte do indivíduo de modificá-lo.
Na sessão de expressar sentimentos, após a leitura de um texto sobre a expressão de
sentimentos e sua relação com proximidade/ distanciamento, quatro participantes (P11, P12,
P20 e P21) comentaram suas reflexões sobre o tema. P11 disse que “É necessário se afastar às
vezes para entender melhor os fatos e chegar a uma solução adequada e praticável” e P12
comentou que “Há limite de espaço entre as pessoas”, as reflexões mostraram que o expressar
sentimentos é influenciado pelo tipo de relação que é exercido entre duas pessoas e que o
refletir sobre um tema pode gerar mudanças no comportamento como mostrou P1, que
embora se destacasse como a participante mais tímida do grupo, a partir do aprendizado desta
sessão, compartilhou na sessão posterior que conseguiu realizar a tarefa de casa expressando
sentimento de gratidão e alegria diante a uma festa surpresa que ganhou.
A adaptação da vivência “peça o que quiser” feita na sessão sobre fazer e recusar
pedidos, foi muito proveitosa, todos os participantes do treinamento se empenharam de forma
ativa em sua realização e houve dedicação no momento em que fizeram a “atuação” das
situações comuns no contexto universitário que envolvia a recusa. Os pedidos apresentados
exemplificaram de forma bastante real o que acontece no dia-a-dia dos universitários o que foi
muito válido para o treinamento do comportamento assertivo em relação ao “não”. Um dos
bons exemplos que surgiram foi feito por P8 “É antes do feriado que antecede a prova. Você
pode me emprestar o seu caderno?”, P21 respondeu “Na verdade eu também vou aproveitar o
feriado para estudar utilizando as minhas notas, se você quiser eu te empresto agora para você
tirar xerox.”. Todos os participantes concordaram que a resposta foi assertiva, pois P21 não
deixou P8 levar seu caderno para casa, negando o pedido, mas conseguiu ajuda-la de outra
forma.
Na sessão sobre expor opinião, a dinâmica da entrevista mostrou aos participantes a
importância de escutar o outro e propiciou que eles vivenciassem esta escuta sem poder
comenta-la durante a vivência. Em seus relatos posteriores, foram compartilhados sentimentos
e contado experiências sobre esta questão. Os participantes explicitaram que se sentiram
frustrados por não poder discordar da opinião alheia e P12 compartilhou uma experiência em
que durante uma conversa com um amigo, ele não lhe deu a oportunidade de discordar de sua
opinião, aumentando o tom de voz e a interrompendo, P12 acabou finalizando a conversa e
ficando com raiva por não ter podido expressar-se. Esta experiência mostrou como é difícil,
mas necessário ouvir e respeitar a opinião do outro e a fala de P12 corrobora isso, mostrando
que quando não temos a oportunidade de nos colocar, ficamos com raiva, então, assim como
queremos respeito dos outros em relação a nossas opiniões, a reciproca também é verdadeira.
Na tarefa de casa sobre expor opinião, P15 relatou que ao conversar com uma mestranda
sobre um assunto que discordavam, lembrou-se da tarefa de casa e resolveu “arriscar” faze-la,
assim, discordou de uma opinião contraria a sua sentindo-se bem por isso. P15 relata ainda
que ficou surpreendida com a cordialidade com que sua discordância foi acolhida. Sua
experiência mostrou que a decisão mudança de comportamento parte da pessoa e que
comportamentos assertivos podem gerar um bem-estar pessoal.
Na sessão de resolução de problemas, após a divisão do grupo em dois, foi proposta
uma atividade em que um problema deveria ser solucionado com base na técnica de resolução
de problemas ensinada. Ambos os grupos conseguiram resolver o problema de forma
assertiva, mas diferente, aprendendo que a solução nem sempre é a mesma, pois as pessoas
têm suas subjetividades, mais o importante é que a resolução seja feita de forma assertiva.
Na sessão de solicitar mudança de comportamento, durante o treino da técnica DESC,
P15 treinou solicitar mudança de comportamento para uma colega que não estava fazendo sua
parte no trabalho em grupo, faltando às reuniões. P15 fez a solicitação da seguinte maneira:
“Estou verificando que você anda faltando muito às reuniões e estou ficando preocupada e
ansiosa com essa situação, gostaria de saber se o horário está viável, se não, marcamos outro
dia, afinal o trabalho é do grupo e a apresentação vai ficar melhor se você vier às reuniões”
Embora a solicitação de mudança de comportamento foi tímida, a participante conseguiu
aplicar a técnica, que foi descrita no fim da sessão como aplicável e útil, mostrando que as
técnicas do Treinamento podem colaborar de forma real para a melhoria dos comportamentos,
visto que são fáceis e funcionais.
Na sessão de falar em público durante a dinâmica da aulinha, os participantes puderam
vivenciar a experiência de falar em publico e avaliar as sensações que enfrentam neste
momento. P14 falou sobre os bairros da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro e comentou
que inicialmente ficou nervoso, mas depois foi tranquilizando. P20 falou sobre um filme,
assim como todos os outros participantes a partir dela fizeram, e relatou “frio na barriga”. P8
comentou que conforme sua vez de falar ia chegando, o nervosismo aumentava porem quando
começou a falar o mesmo foi minimizado. P21 relatou que suas pernas tremiam quando
levantou para falar para o grupo. P1 ficou visivelmente nervosa ao começar seu relato sobre
um filme, contou o mesmo em um tom de voz baixo e esqueceu parte dele, disse que “deu
branco”. Por último, P12 também comentou um nervosismo inicial que foi minimizado no
decorrer de sua narração, comentou ter sentido falta de anotações e ter tido dificuldade de
olhar para a plateia. Esta vivência, talvez tenha sido a que trouxe de forma mais real a
dificuldade em relação à habilidade, de forma a deixar os participantes mais cientes do que se
passa com eles quando precisam falar em público e tomando esta ciência, poderem buscar
modificar o comportamento tendo em vista o trabalho realizado na sessão.
A tarefa de casa da sessão lidar com críticas mostrou que a “técnica do sanduíche”
(SOARES; DEL PRETTE, 2013) ensinada foi de grande serventia para alguns participantes
que utilizaram a mesma durante a semana tanto em brincadeiras entre amigos, conforme
contado por P20 e P12, como em situações reais do contexto acadêmico, conforme relatado
por P5 e P12 e por fim, na vida pessoal, como comentado por P14 e P15.
Na última sessão do Treinamento, durante o feedback, o grupo foi unanime em relação
ao impacto positivo do mesmo em seus comportamentos. As sessões falar em público e lidar
com críticas foram as mais citadas como àquelas que contribuíram para a melhoria de seus
comportamentos, tornando-os mais assertivos, visto que abrangeram habilidades que
consideravam como sendo mais difíceis. As sessões de resolução de problemas e de expor
opiniões também foram mencionadas como uteis. As outras sessões, embora não destacadas
individualmente foram identificadas como proveitosas, pois, segundo os participantes, durante
todo o Treinamento houve aprendizado. P15 destacou a cumplicidade do grupo como um
facilitador do Treinamento e P20, o ambiente acolhedor e sem julgamentos. Os participantes
que buscaram fazer as tarefas de casa e participar de forma mais ativa no treinamento
demonstraram uma melhoria mais significativa do que os que ficaram mais passivos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência de estágio foi de extrema importância para a vida acadêmica das
estagiárias, agregando prática à teoria aprendida e enriquecendo as alunas não só no contexto
estudantil, mas profissional e pessoal também. O Treinamento não alcançou todos os seus
objetivos com todos os participantes, mas gerou mudanças positivas no comportamento de
muitos. Além disso, cumpriu seu papel como ferramenta da psicologia de apresentar para os
universitários a possibilidade de refletir sobre seu comportamento e a partir disso decidir o
que fazer com o produto da reflexão, com maior instrumentação teórica e prática para realizar
a mudança de seus comportamentos.
Com o Treinamento em Habilidades Sociais e suas consequências positivas nos alunos
participantes, fica a reflexão sobre a atividade do psicólogo e de sua capacidade de influenciar
a vida de seus pacientes. A responsabilidade do profissional de psicologia deve ser
fundamentada no possível impacto causado no outro e na consciência de que este impacto
depende de sua atuação, de seu comprometimento e busca continua por um melhor
desempenho profissional.
5. APRESENTAÇÃO DO LOCAL E CONDIÇÕES NAS QUAIS O ESTÁGIO
OCORREU
O estágio curricular sobre Treinamento em Habilidades Sociais foi realizado no
Instituto de Psicologia de uma universidade pública do estado do Rio de Janeiro. Iniciaram o
estágio seis estagiárias e concluíram o mesmo, quatro. O estágio teve duração de três
semestres, a saber, primeiro e segundo semestre de 2013 e primeiro semestre de 2014. Nos
dois primeiros semestres houve reuniões semanais de supervisão em uma sala do SPA
(Serviço se Psicologia Aplicada) da universidade e no terceiro semestre, quando o
Treinamento foi colocado em prática, além da reunião semanal de supervisão, mais um dia foi
disponibilizado para a aplicação das sessões, que aconteceram em um pequeno auditório
disponibilizado pela universidade. O auditório era um ambiente refrigerado, com cadeiras
confortáveis e contava com um computador, um Datashow e uma tela de projeção. As
supervisões aconteciam semanalmente e regularmente para ajustar as sessões a serem
realizadas e para relatar o ocorrido nas sessões realizadas.
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