Thomas Bernhard no Brasil: recepção acadêmica e as traduções de Sergio Tellaroli Yuri Kulisky PIBIC/CNPq Ruth Bohunovsky A linguagem do austríaco Thomas Bernhard é hiperbólica, renitente, repetitiva e irritada. Traduzir esta linguagem é uma tarefa complexa, já empreendida, entre outros, por Sergio Tellaroli. Nosso objetivo foi, portanto, empreender uma crítica do projeto de tradução de Tellaroli. Ao analisar tal projeto como um momento da recepção de Bernhard no Brasil, nos foi possível entabular um projeto de tradução a partir das variáveis em jogo. Para efetuação de nossa tarefa, empreendemos leituras em três frentes diversas: a) a leitura da recepção acadêmica de Thomas Bernhard, b) a leitura de teóricos da tradução, com o intuito de estabelecer critérios para a crítica por nós pretendida e c) a leitura cerrada (close-reading) das traduções de Sergio Tellaroli e dos originais de Thomas Bernhard. Por fim, empreendemos um nosso projeto de tradução. ECO, Umberto. Quase a mesma coisa. KONZETT, M. A Companion to the Works of Thomas Bernhard. BERNHARD, T. O Imitador de Vozes. A primeira precaução de uma crítica de tradução deve ser a de evitar o vocabulário da equivalência e o da perda. Foi nosso intento ler as traduções de Tellaroli e marcar para elas um espaço discursivo, no sentido de delimitar em que medida elas dizem o original e o que elas dizem do original. Percebemos ainda que as estratégias de tradução de Tellaroli se reordenam quando ele traduz os romances ou os contos do autor, e isto pelo próprio ritmo exigido pelo texto. Evitamos também considerar as características do texto de Bernhard enquanto pertencentes a sua língua; em troca, consideramos suas particularidades como pertencentes a seu discurso. Deste modo, erigimos três critérios para a relação Tellaroli-Bernhard; a organização das partículas da frase, a repetição de palavras e partículas e o estiramento da tensão da frase, que tende a se resolver apenas perto do final. A partir dos três critérios supracitados, delineamos os modos de operação dos quais as traduções de Tellaroli se utilizam, e de que maneira o fazem. Os critérios por nós estabelecidos podem servir de comparação em relação a outros projetos que visam outras obras de Bernhard. O estado geral de crítica do austríaco é ainda incipiente, e existem lacunas por preencher. Mas tal progressão não pode ignorar suas etapas anteriores, já que cada tradução dá um novo significado ao que entendemos como “voltar para o original”.