487 Mal-Estar e Bem-Estar Docente e Educação Inclusiva: um Estudo em Escolas Públicas e Privadas de Porto Alegre V Mostra de Pesquisa da PósGraduação Jamile Zacharias1, Claus Dieter Stobäus1 (orientador) 1 Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, PUCRS 2 Resumo Introdução A temática do mal-estar docente vem sendo investigada desde a década de 1970 e reflete uma preocupação mundial. Segundo Stobäus, Mosquera e Santos (2007, p. 262), os problemas que afligem os docentes encontram-se “ligados à própria origem, ao desenvolvimento histórico e à valorização social dessa profissão”. Isto porque, antigamente, os professores eram respeitados e tinham prestígio, sendo considerados uma fonte de sabedoria. Com as mudanças sociais, econômicas e políticas que ocorreram nas últimas décadas, e com a democratização do conhecimento, o professor foi perdendo seu reconhecimento social, seu status, e sua profissão passou a ser desvalorizada. Logo, “o malestar docente é doença social que provoca a pessoal e é causado pela falta de apoio da sociedade aos professores, tanto no terreno dos objetivos de ensino, como nas compensações materiais e no reconhecimento do status que se lhes atribui” (STOBÄUS; MOSQUERA 1996, p. 141). Dentre as causas do mal-estar docente podemos destacar: carência de tempo para realizar um trabalho de qualidade; descrença no ensino como elemento modificador da aprendizagem dos alunos; modificação no conhecimento, provocando ansiedade e sentimento de inutilidade; deficiência do Estado como desencadeador de uma educação eficiente; falta de uma Filosofia de Educação analisada e discutida por todos; necessidade de uma educação para a cidadania; e deficiência em considerar o conhecimento como modificador da sociedade (STOBÄUS; MOSQUERA 1996). Nesta perspectiva, muitos docentes sentem-se insatisfeitos, desvalorizados, esgotados, apáticos, frustrados, com baixa auto-estima, baixa motivação e desejo de abandonar a 488 profissão, caracterizando manifestações de mal-estar (JESUS, 2004). Estudos têm comprovado que os professores que iniciam a carreira manifestam um grau maior de mal-estar (JESUS, 2001), devido ao choque com a realidade plural da sala de aula e com a distorção de valores por parte dos alunos. Associado a isto, surgem outras questões que contribuem para o mal-estar, como a falta de preparo do professor e apoio para realizar a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE). No entanto, têm professores que, apesar das complexas adversidades presentes na educação, conseguem desenvolver bem-estar na profissão. Segundo Esteve (1994, p. 24-25, tradução nossa), o conceito de mal-estar docente vem sendo utilizado para “descrever os efeitos permanentes de caráter negativo que afetam a personalidade do professor como resultado das condições psicológicas e sociais em que se exerce a docência”. Estas condições psicológicas e sociais estão produzindo um “ciclo degenerativo da eficácia docente” (BLASE, 1982 apud ESTEVE, 1994, p. 25, tradução nossa). Neste sentido, Blase (1982 apud ESTEVE, 1994) estabeleceu uma classificação dos possíveis fatores que configurariam a presença de mal-estar docente: os fatores de primeira ordem ⎯ que incidem diretamente sobre a ação docente, gerando tensões de caráter negativo em sua prática cotidiana, como recursos materiais e condições de trabalho, violência nas instituições escolares e esgotamento docente e acumulação de exigências sobre o professor ⎯ e os fatores de segunda ordem ⎯ que incidem indiretamente sobre a ação docente, relacionando-se com as condições ambientais e o contexto em que se exerce a docência, como modificação no papel do professor e dos agentes tradicionais de socialização, contestação e contradições da função docente, modificação do apoio do contexto social, objetivos do sistema de ensino e avanço dos conhecimentos e imagem do professor. Ademais, os fatores de segunda ordem afetam a eficácia do professor ao promover uma diminuição da sua motivação no trabalho, no que diz respeito a sua implicação e ao seu esforço. Desse modo, pensamos ser importante realizar uma pesquisa que analise os aspectos do mal-estar e do bem-estar docente e sua relação com a educação inclusiva, para reunirmos informações que possam contribuir no aprofundamento desta temática, possibilitando um olhar mais real da profissão docente, bem como servindo de apoio aos professores que sofram de mal-estar, na medida em que se identificarão com outros colegas de profissão e terão exemplos positivos de professores que desenvolvam bem-estar. Diante desta proposta, formulamos o seguinte problema: que aspectos do mal-estar e do bem-estar docente estão presentes em escolas públicas e privadas que realizem inclusão de alunos com NEE no V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 489 município de Porto Alegre? Portanto, a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar os aspectos do mal-estar e do bem-estar docente em escolas públicas e privadas que realizem inclusão de alunos com NEE no município de Porto Alegre. Para tanto, foram traçados os seguintes objetivos específicos: analisar os aspectos do mal-estar docente; analisar os aspectos do bem-estar docente; e identificar os fatores e sintomas do mal-estar e bem-estar docente perante a inclusão de alunos com NEE. Metodologia A abordagem metodológica será de cunho quanti-qualitativo. Para tanto, estamos realizando a revisão de literatura acerca do tema da pesquisa e utilizaremos como instrumentos questionários e entrevistas semi-estruturadas. Os questionários já vêm sendo utilizados em outras pesquisas, como o de Jesus (1997), portanto, estão validados. Serão trabalhados com base na Análise de Estatística Descritiva e Inferencial, que será realizada com auxílio de professor de Estatística. As entrevistas semi-estruturadas serão complementares e trabalhadas com base na Análise de Conteúdo, proposta por Bardin (2004). Os sujeitos da pesquisa serão professores de escolas públicas e privadas que realizem inclusão de alunos com NEE no município de Porto Alegre e que aceitarem participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados Como a pesquisa está em projeto e não foi realizada a análise de dados, ainda não temos resultados nem conclusões formulados. Referências BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. ESTEVE, José M.. El Malestar Docente. 3. ed. Barcelona: Paidós, 1994. JESUS, Saul Neves de. Psicologia da Educação. Coimbra: Quarteto, 2004. ______. Pistas Para o Bem-Estar dos Professores. Educação, Porto Alegre, ano XXIV, n. 43, p. 123-132, abr. 2001. ______. Bem-Estar dos Professores. Estratégias para Realização e Desenvolvimento Profissional. Coimbra: Edição do Autor, 1997. STOBÄUS, Claus Dieter; MOSQUERA, Juan José M.. O Mal-Estar na Docência: Causas e Conseqüências. Educação, Porto Alegre, ano XIX, v. 19, n. 31, p. 139-146, 1996. STOBÄUS, Claus Dieter; MOSQUERA, Juan José M.; SANTOS, Bettina Steren dos. Grupo de Pesquisa Mal-Estar e BemEstar na Docência. Educação, Porto Alegre, ano XXX, n. especial, p. 259-272, out. 2007. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010