TemadeCapa
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por RITA ASCENSO
Bombas de calor
Mercado prepara-se para crescer
Pensar sustentável!
A construção ou reabilitação sustentáveis não são um exclusivo da arquitectura.
São também um compromisso do lado da engenharia! Aqui ou até na ocupação
dos edifícios, a sustentabilidade ganha-se quando conseguimos, em todas as
fases do processo, minimizar o impacto ambiental das nossas escolhas.
Depois, há que clarificar os vários contributos e conceitos, como o ecodesign
e a eficiência energética nas soluções construtivas.
por RITA ASCENSO
F
alar em construção sustentável é hoje quase
uma banalidade. Mas muitas vezes confundem-se conceitos, misturam-se contributos e perde-se o essencial. Sabemos que
a sustentabilidade já não é um conceito abstracto
e algo futurista que queria dizer quase tudo e coisa nenhuma. Já sabemos que sejam quais forem
os caminhos a seguir em direcção ao progresso, o
crescimento económico e o desenvolvimento social
têm que respeitar a ordem ambiental. Na concepção,
construção ou reabilitação de edifícios, a sustentabilidade ganha-se quando conseguimos, em todas as
fases do processo, minimizar o impacto ambiental
das nossas escolhas. Esta visão ou preocupação
terá de ser transversal e estar presente em todos
os momentos. Demasiado simples, mas demasiado
difícil de concretizar. É este o pressuposto base da
sustentabilidade e se, em algum momento, o perdemos algures entre a concepção, a arquitectura,
a engenharia, nas escolhas do materiais e até na
forma como interagimos com o edifício e o ocupamos, todo o processo fica comprometido. É este o
âmbito e a missão da arquitectura sustentável. É este
o seu compromisso. Mas para termos um edifício
sustentável não chega o compromisso do lado da
arquitectura. Ele de nada serve se não estiver em
sintonia perfeita com a engenharia, os sistemas, os
materiais e as tecnologias. Sim, a sustentabilidade
não é um exclusivo da arquitectura. É também um
compromisso que tem que ser assumido do lado
da engenharia!
Para Manuela Almeida (professora na Universidade do
Minho e coordenadora do projecto patrocinado pela
Agência Internacional de Energia ECBCS Annex 56 Cost-Effective Energy & CO2 Emissions Optimization in
Building Renovation), só faz sentido o projecto integrado. “É óbvio que a optimização do desempenho
energético de um edifício requer uma abordagem
de projecto integrada de modo a minimizar os consumos de energia do edifício e ao mesmo tempo
ir de encontro às necessidades e expectativas dos
ocupantes. Estratégias como a orientação do edifício
conjugadas com as suas características arquitectónicas
de modo a minimizar os ganhos solares no Verão
e a potenciá-los no Inverno e a maximizar a disponibilidade de luz natural, combinadas com controlo
preciso e rigoroso dos sistemas de aquecimento,
ventilação, ar condicionado e iluminação, são um
bom exemplo de uma abordagem de projecto integrada para optimizar o desempenho energético do
edifício. Um projecto integrado analisa e optimiza o
edifício como um todo, incluindo as potencialidades
oferecidas pelo espaço envolvente e para todo o
seu ciclo de vida”. Nesta linha, “isto significa que os
arquitectos, os engenheiros das várias especialidades,
como mecânica, civil, especialistas em climatização
e energia, e instaladores devem trabalhar juntos
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em equipas multidisciplinares logo desde a fase
inicial do projecto”. No entanto, esta não é a prática
corrente nos diversos países europeus. O normal
é existir um processo de concepção fragmentado,
O QUE FAZ COM QUE
O MULTI V III SUPERE
A CONCORRÊNCIA?
energias renováveis e a eficiência energética têm
sido a face mais visível. É deles que se fala quando
introduzimos a variável da energia e da sua utilização.
Mas existem outros factores. O ecodesign, nomea-
Para esta ambição que é a sustentabilidade no edificado são inúmeras as variáveis
a ter em conta. Trata-se de cultura que não se esgota na construção dos edifícios.
Vai muito mais além de uma etiqueta, uma classificação ou uma marca
onde cada um dos intervenientes entra numa fase
do projecto, no qual decisões influentes e condicionantes já foram tomadas, levando em muitos casos
a soluções ineficientes, edifícios não optimizados e
custos mais elevados dada a necessidade de em
alguns casos se introduzirem medidas adicionais
de eficiência energética para ir de encontro aos
padrões e exigências das mais recentes directivas
europeias”, conclui.
Para esta ambição que é a sustentabilidade no edificado são inúmeras as variáveis a ter em conta.
Trata-se de cultura que não se esgota na construção
dos edifícios. Vai muito mais além de uma etiqueta,
uma classificação ou uma marca. Existe uma linha
orientadora que, embora subjectiva, é determinante:
o conforto e, depois, a forma como utilizamos e
ocupamos os edifícios.
Se quisermos conceber ou reabilitar um edifício
já sabemos que temos o que fazer em completa
harmonia com o ambiente e tirar proveito de todos
os contributos do meio envolvente. Este percurso
agrega necessariamente vários factores onde as
damente a concepção ecológica dos produtos que
escolhemos para os nossos edifícios, o seu ciclo de
vida e as soluções construtivas são aspectos decisivos
se quisermos continuar a falar de sustentabilidade.
Os revestimentos, as tintas, as madeiras... representam um mundo de escolhas mas a equação é
simples: o processo de fabrico ou o seu transporte
(que emissões representam), o impacto que têm
durante o seu ciclo de vida até à sua destruição, etc.
são parte dessas variáveis. Hoje existem ferramentas
regulamentares, normas e sistemas de certificação e
outros que nos permitem tomar as melhores opções.
Do lado dos aspectos construtivos, o isolamento
térmico das fachadas, as caixilharias e as janelas
são alguns dos exemplos.
Desde logo encontramos diferentes níveis de intervenção e diferentes níveis de contribuição para
aquilo que procuramos: construir ou reabilitar de
uma forma sustentável. De um lado temos os aspectos que têm a ver com a concepção e construção
(ou reabilitação), onde se deve procurar privilegiar
as opções passivas com o objectivo de reduzir as
Maior eficiência, maior capacidade
e maior comprimento de tubagem.
A LG atinge um patamar superior
no AVAC*, com o novo ar
condicionado Multi V III. Devido à
enorme capacidade (20HP/unidade)
necessitará de menos unidades
exteriores, permitindo uma melhor
optimização de espaço. Com um
incrível comprimento de tubagem
de 1000m, é ideal para edifícios
altos, e com um COP de 4.58
em aquecimento e 4.27 em
arrefecimento, permite menos
consumos energéticos que
a concorrência.
Ecodesign na lei comunitária
No sentido de reduzir os usos da energia e os seus
impactos ambientais, económicos e sociais, a Comissão
Europeia tem mostrado uma preocupação acrescida
com a necessidade de uma concepção ecológica dos
produtos. Assim sendo, publicou em 2005 a Directiva
Ecodesign para produtos que consomem energia, estabelecendo um enquadramento metodológico para a
definição de requisitos ecológicos mínimos para grupos
de produtos que consomem energia. Em 2009, a lei
comunitária foi alargada, passando também a visar
também os produtos relacionados com o consumo
de energia. Aliada ao ecodesign, a informação sobre
os consumos energéticos dos produtos tem sido um
dos instrumentos para alcançar melhores desempenhos e, minimizar, assim, impactos ambientais. Para
isso, publicou-se, em Maio de 2010, a Directiva para
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a Rotulagem, relativa à indicação do consumo de
energia e de outros recursos por parte dos produtos
relacionados com a energia, por meio de rotulagens
e outras indicações uniformes relativas aos produtos.
Corresponde à reformulação da Directiva 92/75/CEE,
alargando o seu âmbito “aos produtos relacionados
com a energia que têm um significativo impacto directo ou indirecto no consumo de energia durante a
sua utilização”. Paralelamente a isto, Bruxelas tinha
já lançado, em 1992, uma iniciativa de etiquetagem
voluntária, cujo objectivo é ajudar a identificar produtos e serviços com um impacto ambiental reduzido
ao longo do seu ciclo de vida – a Ecolabel. Entre as
várias categorias de produtos que podem já usar a EU
Ecolabel estão as lâmpadas, bombas de calor, tintas
e vernizes, materiais para pisos.
MAIOR COMPRIMENTO
DE TUBAGEM
comprimento total da tubagem
MAIOR EFICIÊNCIA
para modelo de 8HP
MAIOR CAPACIDADE
por unidade independente
*AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado)
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necessidades energéticas dos edifícios. A optimização
das soluções construtivas é o primeiro passo para
a eficiência energética. Segue-se a implementação
das renováveis para dar resposta às necessidades
energéticas que temos e só depois deverão ser
considerados outras soluções como outros sistemas activos. Deste lado, a forma e a funcionalidade
devem convergir para minimizar a utilização de
energia mas também promover o conforto dos seus
ocupantes. Uma variável inevitável que tem que
estar no topo das preocupações e que nem sempre
é pacífica, mas já lá vamos. Do outro lado temos os
materiais e as soluções construtivas. Acontece que
aqui temos uma divisão importante em termos de
contributos ambientais: o ecodesign ou os produtos
e o seu ciclo de vida reflectem um impacto para o
ambiente mensurável através das emissões
na fase de fabrico, transporte, etc.,
mas outra coisa é a contribuição
que algumas escolhas de produtos ao nível dos isolamentos,
caixilharias, janelas, etc., podem
contribuir directamente para a
eficiência energética ou para
a redução dos consumos
dentro dos edifícios.
Trata-se de duas áreas
de contribuição muito
distintas e com funções
diferentes neste caminho que é a construção
sustentável.
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Continuando este processo, não podemos esquecer-nos da primeira motivação que temos, daquilo
que procuramos, ou seja, a função dos edifícios.
Os edifícios são concebidos ou reabilitados para
as pessoas e para que a sua utilização se faça de
uma forma funcional, com o máximo conforto e o
menor custo energético possível. Idealmente com
um custo zero de energia. Mas quando falamos em
conforto falamos em conforto ao nível da iluminação, térmico e acústico, variáveis necessariamente
subjectivas mas para as quais conhecemos os valores padrão em termos de bem estar e saúde dos
ocupantes. E quando falamos em conforto e como
raramente conseguimos conquistá-lo apenas com
soluções passivas, falamos em utilização de energia
e em sistemas. Falamos nas renováveis, nos sistemas mecânicos quando necessário e em eficiência
energética. Nesta lógica da sustentabilidade é aqui
que nos surge o principal problema. Deixámos de
conseguir respostas apenas com a interacção com o
ambiente. Tivemos que recorrer aos sistemas activos
com impactos reais no meio ambiente. Agora só
temos uma solução: minimizar este impacto com o
recurso à energia que conseguirmos obter localmente
através das renováveis e apertar o botão da eficiência energética para os sistemas e equipamentos
activos que lá tivermos que colocar. A este nível o
conceito da sustentabilidade nos edifícios coincide
com aquilo que agora se procura nos NZEB (Near
Zero Energy Buildings).
Em jeito de conclusão, os edifícios serão definitivamente sustentáveis se nos comprometermos a
não perder o fio condutor e soubermos jogar de
uma forma harmoniosa com todas as variáveis. Se
assumirmos todas estas etapas como obrigatórias,
minimizarmos ao máximo a utilização de energia
e utilizarmos os recursos renováveis. Se formos
criteriosos nos materiais que utilizamos e para isso
é preciso incutir uma cultura de sustentabilidade
nos vários actores e investirmos em conhecimento
nesta matéria.
A sustentabilidade, a eficiência energética e o conforto A partir daqui, todos estes
temas têm muito a dizer. A complexidade é grande
e a tarefa não é fácil. É importante entender que
a eficiência energética surge numa fase adiantada
do processo e como um factor quase que reparador
aquando da escolha de soluções que necessitamos
para as nossas necessidades de energia que não
conseguimos satisfazer de uma forma passiva. A
eficiência energética é muito importante para atingirmos os nossos objectivos mas ela não pode ser
em si mesmo uma finalidade ou um desígnio num
mundo edificado que se quer sustentável. Antes da
eficiência energética, o desígnio da preservação do
ambiente guia-nos por outros caminhos como já
vimos. Temos que começar por construir sustentável.
Recuperar ou reabilitar sustentável. Para Peixeiro
Ramos, presidente da ANPQ (Associação nacional de
Peritos Qualificados), se “nos focarmos demasiado
na eficiência energética, em vez de na minimização
da utilização da energia, corremos o risco de passar
a ideia de que se pode fazer tudo o que se quiser
desde que se faça do modo mais eficiente, e que
isso leva à redução da utilização de energia. Uma
ilustração de que isto não é verdade é caso do indivíduo que quer emagrecer, comendo o dobro das
batatas fritas com 50% menos de gordura – não
poupa nenhuma caloria”. De nada adianta premiar
a eficiência energética se estivermos a incentivar o
aumento dos consumos. A eficiência energética tem
directamente a ver com o rendimento, ou seja, o
balanço entre aquilo que investimos e aquilo que
gastamos. Importa pois, que antes disso as preocupações estejam na redução da utilização e correctos
usos da energia.
Mas importa ainda perceber onde estão as motivações das pessoas, qual o impacto da variável do
conforto neste processo e onde podemos actuar e
promover a sensibilização dessas pessoas sobretudo
ao nível da reabilitação. Reabilitar de uma forma
sustentável é possível se continuarmos a não perder
de vista o essencial e isso passa também por saber
comunicar este desafio. A componente da correcta
exploração dos edifícios pelos seus ocupantes é a
parte final deste processo e não menos importante
que as outras. Aqui, o factor da viabilidade económica das escolhas que fazemos enquanto ocupantes
é também um ponto crítico que obriga à máxima
clareza nas mensagens que passamos. Temos que
ser rigorosos a explicar as vantagens e os contributos
nas decisões que as pessoas podem tomar.
João Viegas, investigador do LNEC e especialista na
temática da conservação da energia nos edifícios,
considera que a promoção da eficiência energética
surge como um meio para minimizar os consumos
de energia quando se pretende assegurar condições
de conforto (em princípio, condições padronizadas
para permitir uma harmonização do referencial).
Para ele, “a necessidade de se assegurar conforto
nos edifícios (nas suas várias vertentes, conforto
higrotérmico, conforto acústico, conforto visual - em
especial na vertente do ambiente luminoso - e qualidade do ar) conduz com frequência à necessidade
de se actuar nas condições ambientais interiores de
forma a enquadrá-las numa gama de valores considerados adequados. Com alguma frequência esta
acção obriga a incorrer em consumos energéticos
significativos, através da ventilação, da climatização
ou da iluminação. À luz deste aspecto, a necessidade
de se assegurarem baixos consumos tem de ser vista
dentro do referencial definido pelas condições de
conforto. Por absurdo, se não for necessário garantir conforto, os consumos energéticos nos edifícios
ligados ao condicionamento ambiental podem ser
muito mais reduzidos. Por essa razão, um dos factores
importantes para se reduzirem os consumos reside
O papel da adene
Faz parte da missão da Adene, Agência para a
Energia, promover acções de racionalização dos
comportamentos energéticos, a aplicação de novos métodos de gestão de energia e a utilização
de novas tecnologias. Neste sentido as soluções
construtivas encaixam na sua actividade. De acordo
com a entidade gestora do Sistema de Certificação
Energética e Qualidade do Ar (SCE) nos edifícios, o
envolvimento da ADENE na promoção nos aspectos
que melhorem o conforto dos ocupantes, “decorre
naturalmente da actividade da Agência na certificação energética de edifícios. Desde logo porque
esse é um dos enfoques das medidas de melhoria
nos certificados energéticos, devidamente hierarquizado como prioridade de estudo pelos peritos
qualificados. Além disso, na nova regulamentação
térmica que irá sair para o ano, foram revistos os
requisitos mínimos e os valores de referência para
as soluções construtivas e criado um roadmap
até 2020 para reforço desses requisitos”. Segundo a Adene, este roadmap traduz-se na evolução
programada dos requisitos de qualidade ou das
condições de referência para os novos edifícios
e para as componentes do edifícios que sejam
intervencionadas. “Significa que parâmetros como
o coeficiente de transmissão térmica das paredes
e dos vidros, o factor solar dos envidraçados ou
as eficiências dos equipamentos energéticos têm
alterações programadas, desde já e para os anos de
2015, 2018 e 2020, no sentido de uma progressiva
maior exigência que visa tornar os edifícios mais
eficientes e aproximá-los do padrão NZEB”.
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em utilizar a capacidade de adaptação dos ocupantes
a diferentes condições ambientais (envergando a
roupa mais adequada para esse ambiente ou interagindo com a envolvente, por exemplo, abrindo
uma janela) e assim alargar a gama de condições
para as quais se presume conforto”.
Os requisitos mínimos deverão ser
estabelecidos tendo em vista alcançar
um equilíbrio óptimo em termos
de rentabilidade.
A principal motivação das pessoas é o seu próprio
conforto. Se tivermos um edifício sustentável mas
que não cumpre esta finalidade, de nada serve este
trabalho. Se juntarmos a viabilidade económica e
fizermos contas, chegamos à conclusão que muitas
escolhas, no caso da reabilitação, não são rentáveis
se a bandeira for apenas a eficiência energética ou
a redução dos consumos. A título de exemplo, as
pessoas não vão substituir as caixilharias e janelas
a pensar apenas na redução da factura energética.
O ponto de retorno não compensa o investimento
financeiro em soluções melhores e mais caras em
comparações com as soluções tradicionais ou menos
eficientes. Demoravam muitos anos a recuperá-lo
(no caso das renováveis é diferente, pois aí o retorno
é evidente e mais imediato). Vão fazê-lo para melhorar o seu conforto e depois poderão optar pela
melhor solução mesmo que mais cara, que ainda
permite ganhos de eficiência. É aqui que se deve
actuar ao nível da sensibilização e deverá ser esta
a mensagem. A opção pelo melhor equipamento
deverá estar ligada aquele que é comprovadamente
mais eficiente e ecológico. Para João Viegas, “o consumidor admite ter um custo do investimento inicial
mais elevado no produto desde que a redução do
custo de utilização que daí advém seja compensador
permitindo um período de retorno do investimento
inicial razoável. Esta simples constatação evidencia
que a mera promoção da eficiência energética não
deve ser um fim em si mesma, mas antes um aspecto
de uma política global de redução dos consumos, dos
custos e dos impactos ambientais de todo o ciclo de
vida desse produto. Como tal, deve pressupor uma
análise prévia de todo o ciclo vida, a constatação
de que a fase que se traduz em maiores impactes
no consumo de energia corresponde efectivamente
à fase de utilização e que os impactes devidos aos
consumos energéticos são preponderantes face aos
outros eventuais impactos ambientais associados ao
ciclo de vida desse produto da construção”.
O custo óptimo e a rentabilidade Falar de
sustentabilidade implica considerar a reabilitação
e o custo óptimo. Manuela Almeida sublinha que
“o sector dos edifícios é considerado essencial no
cumprimento dos objectivos 20-20-20 da UE, uma
vez que estes apresentam um potencial significativo
de poupança de energia em condições que se consideram economicamente rentáveis. Tendo em vista
a concretização do grande potencial de poupança
de energia nos edifícios, devem ser implementadas
medidas destinadas a melhorar o seu desempenho
energético que tenham em consideração não só as
condições climáticas e locais e o ambiente interior
mas também a rentabilidade económica das soluções a implementar. Neste contexto, os requisitos
mínimos para o desempenho energético dos edifícios
e dos elementos construtivos deverão ser estabelecidos tendo em vista alcançar um equilíbrio óptimo
em termos de rentabilidade entre os investimentos
efectuados e os custos de energia economizados ao
longo do ciclo de vida do edifício. Estes requisitos
devem ser cumpridos pelos novos edifícios mas
também pelos edifícios existentes sujeitos a obras de
reabilitação, uma vez que a actuação apenas sobre
Edifícios sustentáveis
Luís Bragança, presidente da Associação iiSBE (International Initiative for a Sustainable Built Environment) e
professor de Construção Sustentável na Universidade
do Minho, considera que “para que os edifícios em
Portugal se tornem sustentáveis ainda há um longo
caminho a percorrer, embora já se comece a verificar
um maior desejo por parte dos consumidores na implementação prática da sustentabilidade na edificação.
Em contra-partida, os investidores imobiliários têm
vindo a demonstrar maior conhecimento e interesse
sobre este tema, razões pelas quais temos vindo a
assistir a um aumento do esforço em realizar edifícios
sustentáveis, especialmente nos escritórios, espaços
comerciais e hotéis. Um edifício sustentável deve
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melhorar a vida quotidiana das pessoas e minimizar
os impactos provocados no meio ambiente. É um
imóvel que enfatiza estratégias tecnológicas inovadoras utilizadas no processo de construção, tendo
em conta a eficiência da construção e a manutenção
da mesma; a (re)utilização de todas as estruturas
passíveis de serem aproveitadas, prevendo, sempre
que possível, o uso de materiais ecológicos e o bom
enquadramento com a envolvente, minimizando
choques visuais, ambientais, sociais, reduzindo os
custos globais e aumentando o bem-estar dos utilizadores. É apenas pela conjugação de todos estes
aspectos que um espaço pode ser reconhecido pela
sua sustentabilidade”.
os edifícios novos requereria demasiado tempo para
se obterem impactos relevantes, dado o reduzido
ritmo de substituição do parque edificado. Será, por
isso, necessário avaliar no momento actual quais os
conjuntos de medidas que permitem converter os
edifícios existentes em edifícios com necessidades
quase nulas de energia, identificando as combinações
de medidas de eficiência energética e de geração
de energia de fontes renováveis que, para além de
garantirem os objectivos energéticos e ambientais
estabelecidos, o consigam com o melhor compromisso entre o custo de investimento e o custo para
todo o ciclo de vida do edifício”.
Manuela Almeida acrescenta que “neste tipo de
análises não se devem nunca esquecer as necessidades e preferências dos utilizadores dos edifícios.
No final são eles que decidem que tipos de intervenção vão fazer nos seus edifícios. E muitas vezes
essas intervenções não são motivadas por questões
energéticas. Muitas intervenções de reabilitação
energética têm muitos efeitos colaterais originando
co-benefícios muito relevantes (aumento de conforto,
diminuição das patologias, aumento do valor do
imóvel) que podem ser tão ou mais relevantes que
as potenciais poupanças energéticas alcançadas e
serem eles os motores das acções de reabilitação.
Tendo em conta o contexto e a realidade nacional,
conhecer e tirar partido estes co-benefícios e integrálos nos processos de decisão pode ser o caminho
a seguir para potenciar a reabilitação generalizada
do património edificado”.
Ecodesign Já sabemos que os materiais têm um
ciclo de vida e que um dia devem ser reutilizados.
Desde o seu fabrico até à sua utilização, deverão ter
o mínimo impacto no ambiente. Por isso podemos
dizer que o ecodesign, as etiquetas energéticas, as
obrigações das Directivas, etc., não chegam se nos
esquecermos do essencial. Temos várias opções
dentro dos produtos que correspondem aos requisitos
ecológicos enquadrados na directiva comunitária
mas em primeiro lugar as nossas escolhas é que
são sustentáveis. Não interrompemos esta cadeia
da sustentabilidade se optarmos por produtos locais
ou fabricados nas proximidades, por exemplo. Por
outro lado, “considerar apenas a vertente da eficiência energética dos produtos da construção na fase
de utilização, por exemplo, corresponde a encarar
apenas um dos seus impactes durante um período
limitado de todo o seu ciclo de vida. A energia incorporada no seu fabrico pode ser suficientemente
significativa para reduzir as vantagens que advêm
da redução dos consumos energéticos durante a sua
utilização. Embora não estando directamente relacionado, este aspecto tem reflexos nos custos, para
os quais o consumidor/utilizador final é sensível”,
explica João Viegas. 
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PDF - Edifícios e Energia