EFICIÊNCIA&ENERGIA PASSIVHAUS João Gavião e João Marcelino (PHPT) com Anne Vogt (PEP) e Francesco Nesi (ZEPHIR). Formação e reabilitação são os grandes desafios Aplicar o conceito Passivhaus a climas mais amenos já deixou de ser uma tarefa hercúlea para os profissionais dos edifícios e a verdade é que há cada vez mais interesse e procura por esta solução no Sul da Europa. Aproveitando a estada em Portugal dos dois responsáveis pelas associações Passivhaus espanhola e italiana, a Edifícios e Energia quis saber como o conceito está a ser implementado nestes países. Quais são os principais desafios para construir um edifício PH? Anne Vogt (AV): Na minha opinião, o principal desafio é a qualidade dos tradesperson para construir PH ou Nearly Zero Energy Buildings (NZEB). A qualidade da construção tem sido muito reduzida nos últimos anos e esta tem de aumentar para preencher os requisitos da norma PH – um desafio mas, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade para o sector da construção que tem sofrido muito com a crise em Espanha. Francesco Nesi (FN): Em Itália, podemos orgulhar-nos de ter um clima ideal para a norma PH. No entanto, podemos dividir o país em duas zonas climáticas principais: o Sul e o Norte. Por um lado, para construir uma PH no Sul de Itália, o principal desafio é evitar o sobreaquecimento já que a temperatura é muito elevada. Por outro, no Norte, temos um inverno muito rígido e um verão quente. Quem são os mais críticos/cépticos relativamente ao conceito? AV: Ao início, talvez, os engenheiros fossem mais cépticos do que os arquitectos, mas normalmente os profissionais com experiência em eficiência energética compreendem rapidamente que a PH faz parte do senso comum na elevada eficiência energética. Os utilizadores finais “normais” não sabem nada sobre PH ou NZEB, não compreendem detalhes técnicos e muitas vezes não estão sequer interessados na efi- 68 ciência energética. Mas percebem muito de conforto: por um lado, conforto térmico, por outro, em termos de qualidade do ar, por isso compreendem logo as vantagens das PH ou dos NZEB. Utilizadores finais convencidos de que querem uma PH falam muito sobre eficiência energética ao início, mas, depois de viver ou trabalhar num edifício destes, deixam de fazê-lo e passam a falar de conforto, porque, no fim de contas, é o mais importante. FN: Os projectistas, que, muitas vezes, compreendem o poder e importância desta norma – na maioria dos casos, não são sequer capazes de converter um projecto convencional num projecto PH. Hoje, os utilizadores finais estão a procurar cada vez mais este conceito, embora ainda haja muito trabalho de disseminação a fazer. Há já exemplos de cidades e países que adoptaram a norma como obrigatória. Vêem isso acontecer nos vossos países? AV: Em Espanha, não temos ainda uma definição para os NZEB mas está claro que a norma PH é uma referência para esta definição. Gostaria de uma mudança na legislação nacional não com base numa comparação com um edifício de referência mas com uma definição independente como a norma PH, que define requisitos independentes do clima procurando sempre um nível óptimo. FN: A nossa associação está a trabalhar para promover a norma PH em todas as direcções. Por exemplo, EFICIÊNCIA&ENERGIA PASSIVHAUS a cidade de Muzzano incentiva a construção de projectos PH. Isto foi um primeiro passo levado a cabo com a ZEPHIR para mostrar ao mercado que há alguém que já escolheu a norma. De que forma a PH pode tornar-se mais competitiva com a construção convencional? AV: Uma PH não tem necessariamente de ser mais cara. Com uma boa orientação e um bom projecto pode conseguir-se muito. Um projecto de habitação social pode ser uma PH, essa é a melhor prova de que uma PH não custa mais do que um edifício convencional. FN: É preciso escolher o melhor projecto para tornar o investimento adequado. Através de uma análise económica, é possível comparar a solução Passivhaus com a construção tradicional e estimar o tempo de retorno ao investimento (ROI) conseguido para o edifício PH. Embora este seja mais caro na fase inicial, depois de alguns anos, permite reduzir significativamente os custos com energia e o ROI é completo. FN: Na minha opinião, a PH para a reabilitação é um grande desafio, mas significa também um grande passo em frente para alcançar padrões de vida elevados e um ambiente de alta qualidade. Em Itália, há muitos edifícios históricos, o que precisamos de fazer é estudar novas formas de os reabilitar sem desfigurar a sua beleza. Em que sector considera que há mais potencial para as PH? AV: Em Espanha, o maior potencial não está na nova construção, mas na reabilitação de todos os tipos de edifícios – residencial e de serviços. Quanto maior o edifício mais fácil é cumprir com os requisitos. Não obstante, em cada país, os primeiros exemplos são de habitações unifamiliares, que são os projectos mais difíceis. FN: Há muitos edifícios residenciais com certificação em todo o mundo, em contrapartida, há apenas alguns edifícios não-residenciais construídos de acordo com a norma. Penso que é nesta área que a PH pode crescer. A PH é um objectivo muito ambicioso para a renovação? Na vossa perspectiva como peritos, o que pode ser melhorado na norma? AV: A norma PH procura o óptimo numa instalação, o ponto onde não são necessários sistemas – aquecimento, arrefecimento e ventilação, mas apenas um sistema, portanto não é muito ambicioso, mas o óptimo na renovação ou reabilitação. A PEP está actualmente a participar num projecto europeu chamado EuroPHIT, onde estudamos e divulgamos a reabilitação passo a passo. Em muitos casos, o investimento para fazer uma reabilitação completa não está disponível ou algumas partes da envolvente térmica ainda não completaram o seu ciclo de vida. É por essa razão que estudamos fazer uma reabilitação passo a passo com um conceito de eficiência energética holístico desde o início para alcançar, no final, num último passo, os requisitos do EnerPHIT, a norma PH aplicada à reabilitação e renovação. AV: A definição da norma PH é independente do clima, e foi estudada e testada em todo o mundo. O desafio é encontrar a melhor forma e a mais barata para cumprir com os requisitos em cada clima, é aqui que podemos melhorar o conceito PH. Pergunto sempre aos proprietários sobre os problemas que têm e dizem que o maior é o facto de terem deixado de gostar de viajar porque o conforto que têm em casa é muito maior do que o de qualquer hotel. FN: Na minha opinião, o conceito Passivhaus pode ser melhorado do ponto de vista ecológico. Seria importante analisar o ciclo de vida de cada material utilizado para alcançar níveis elevados de sustentabilidade nos edifícios. Outra área com potencial de melhorias é a reabilitação de edifícios existentes. n ANNE VOGT Arquitecta e responsável pela Plataforma Passive House espanhola – PEP. FRANCESCO NESI Físico e presidente da associação italiana para a Passivhaus - ZEPHIR. 69