Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Departamento de Biologia Geral Capacidade de suporte em Ecologia Energética Daniela Esteves U. Costa Disciplina: Ecologia Energética Professor: Ricardo Motta Pinto-Coelho Abordagem histórica e definições • Década de 1890: primeira vez que o termo capacidade de suporte surgiu em problemas ecológicos. Número de animais selvagens que uma área de pastagem poderia suportar sem a sua deterioração (Young, 1998). • 1930 - Diferentes significados: - número ideal de animais selvagens (cervos) capazes de atrair visitantes para o Parque - número máximo de cervos que evitaria destruir a pastagem e os componentes vegetais associados (Young, 1998) Abordagem histórica e definições • 1950, Odum (1988) o conceituou como o número máximo de indivíduos que um dado ambiente pode suportar. • Atualmente, capacidade de suporte (representada por K) representa o tamanho da população que os recursos do ambiente podem manter (“suportar”), sem uma tendência de aumento ou redução dessa população e sem que o ambiente se deteriore (Begon 2007). • Manejo de ecossistemas: a capacidade suporte é uma característica intrínseca da população ou do ecossistema? • Definição de Kashiwai (1995): capacidade suporte é uma medida de manutenção do ecossistema para uma determinada população ou ainda a “assíntota” (máximo) da biomassa da população que o ecossistema suporta. • “o limite de crescimento ou desenvolvimento de cada e de todos os níveis hierárquicos de integração biológica, começando com a população e moldada por processos e relações de interdependência entre recursos finitos e os consumidores destes recursos” (Monte-Luna et al, 2004). • É medida como indivíduos, biomassa e número de espécies • Dependente de fatores que determinam este crescimento como área, volume, produtividade, alimento, mudanças ambientais, energia, etc. • Nos dias atuais deve-se também considerar a aplicabilidade deste conceito para ecossistemas vitimados por ações antrópicas. • Nessa abordagem, capacidade suporte é a taxa máxima de consumo de recurso e lançamento de efluentes que pode ser sustentada indefinidamente sem afetar a integridade funcional e a produtividade dos ecossistemas (Folke et al., 1998). • Conceito de capacidade suporte aplicado a produção de organismos - maximizar a produção sem afetar a taxa de crescimento - preocupaçao com os danos ambientais Aqüicultura ecológica • Prevê a consideração da questão ambiental como limitante à produção máxima de um organismo que um ambiente pode sustentar, evitando assim que sejam gerados impactos ambientais, especialmente a deterioração da qualidade da água através do desenvolvimento do processo de eutrofização (Duarte et al., 2003) • O conceito de capacidade suporte ecológica aplicado a aqüicultura prevê a definição da produção máxima permissível de organismos aquáticos na qual a emissão de resíduos não ultrapasse a capacidade assimilativa do ambiente (Kautsky et al., 1997) Definição da capacidade suporte do Reservatório de Três Marias para cultivo intensivo de peixes em tanques redes. Autores: Fernando Starling, Carlos E. Pereira & Ronaldo Angelini Aqüicultura em tanques redes http://www.ambientebrasil.com.br Instituto de Pesca SP http://www.pesca.sp.gov.br/imagens.php?pag=8 Capacidade suporte de reservatórios para aqüicultura em tanques redes • A expansão dos sistemas de aqüicultura intensiva em tanques redes é freqüentemente acompanhada de uma degradação do ambiente natural nas imediações da área de cultivo (Beveridge, 1996). • Os efluentes do cultivo sedimentam e se acumulam no fundo do ecossistema. A acumulação de matéria orgânica aumenta o consumo de oxigênio dos sedimentos podendo levar a uma condição anóxica. • A liberação de nutrientes dissolvidos podem estimular a produção primária do fitoplâncton, que acarreta uma elevação do consumo de oxigênio durante a decomposição, acelerando o processo de eutrofização. • Portanto, uma das principais desvantagens da criação de peixes diz respeito a seus produtos metabólicos: ração não-ingerida e os nutrientes inorgânicos (fósforo) dissolvidos excretados com as fezes que permanecem na água (Pagand, et al. 2000). Fósforo • O fósforo é geralmente o nutriente limitante ao crescimento fitoplanctônico em ecossistemas aquáticos tropicais (Chorus & Mur, 1999). • Para a manutenção do citoplasma da maioria dos organismos fitoplanctônicos a proporção de nutrientes assimilados á aseguinte: 1 P: 16N : 106C (Redfield, 1958). • N:P acima de 17 é considerada elevada Razão N:P no Reservatório de Três Marias • Os valores da razão N:P variaram de 4 a 120, com média de 37. Estes elevados valores de razão N:P são indicativos nítidos de uma limitação por fósforo. Variação dos valores da Relação N:P (Nitrogênio Total e Fósforo Total, by weight) para os dados limnológicos do monitoramento do Reservatório de Três Marias, para o período de 2001 a 2006 Estado trófico de lagos e reservatórios • Classificação de Estado Trófico segundo Vollenweider (1968) • Classificação com distribuição de probabilidade: faixa de valores para um dado grau de eutrofização baseado em distribuição estatística (Ryding & Rast, 1989). Clorofila e nutrientes • A clorofila-a é uma variável que mede indiretamente a quantidade de algas presentes na água. • Indicativo da produtividade do sistema, podendo ser associada ao enriquecimento do ambiente por insumos agrícolas, o qual é evidenciado pelas concentrações de nutrientes como o N e o P. • Medida de produtividade e eutrofização. Biomassa algal e Fósforo Concentrações Limites • Para que a chance de um dado ecossistema tropical se tornar eutrófico seja nula: - limite máximo aceitável de concentração de fósforo total é 25 µg/l (CEPIS, 1990) - Clorofila-a: 3 µg/l. • Resolução No 357 do CONAMA, datada de 17/03/2005: - Fósforo total e clorofila: 30 µg/l Modelos de estimativa de capacidade de suporte • Modelos derivados da aplicação das equações que descrevem as respostas dos ecossistemas lacustres frente a aumentos das cargas de nutrientes como parte do conhecido processo de eutrofização artificial, e.g., Vollenweider (1968); CEPIS (1990). • Premissas básicas de todos os modelos: - a abundância algal é negativamente correlacionada à qualidade da água e positivamente correlacionada ao aumento populacional, - o fósforo (P) é o fator limitante que controla o crescimento fitoplanctônico. Modelo de Dillon & Rigler (1974) • Considera que a concentração de fósforo total [P] em um dado corpo d’água é determinada pela: - carga de P - tamanho do lago (área e profundidade média) - taxa de renovação da água • Numa situação de equilíbrio, [P] = L* (1-R) / z *ρ, onde: [P] é a concentração de P-total em mg/l L é a carga de P-total em g/m2/ano z é a profundidade média em metros R é a fração do P-total retida no sedimento e ρ é a taxa de renovação de água em volumes por ano. • Beveridge (1987) com base nesse modelo propôs determinar a capacidade suporte de um corpo d’água frente a “inputs” externos de nutrientes provenientes de um cultivo de peixes em tanques-rede. • A concentração original de P sofrerá um incremento como resultado desta atividade até um nível determinado em função dos usos pretendidos para este ecossistema • As elevações na concentração de P-total na água refletem diretamente os incrementos da biomassa fitoplanctônica, expressa como concentração de clorofila-a. • A capacidade de um corpo d’água para a manutenção de uma qualidade satisfatória pode ser expressa pela seguinte equaçao: Δ [P] = [P] F - [P] I , onde [P] I é a concentração de fósforo no período atual (antes do cultivo) e [P] F é concentração de fósforo final desejável ou aceitável • A determinação da mudança aceitável/desejável no nível trófico pelo input de nutrientes a partir da implantação dos tanquesredes é feita através da seguinte equação: Δ [P] = LPT (1- RPT) / zρ , onde LPT é a carga de P-total derivada dos aportes externos e internos; RPT é a fração do P-total que é retida nos sedimentos; z é a profundidade média em metros e ρ é a taxa de renovação de água em volumes por ano. • A partir do cálculo da carga permissível/aceitável (LPT), pode-se estimar a produção aqüícola equivalente, necessária para gerar essa carga. • Só se aplica para ecossistemas que tenham fósforo como nutriente limitante. • A grande limitação associada ao uso do Modelo de Dillon & Righler (1974) refere-se ao fato de representar uma estimativa genérica global sem considerar as variações sazonais reais na dinâmica de sedimentação do fósforo e a sua manutenção nos sedimentos de fundo. Modelos Matemáticos • Um modelo matemático é uma imagem simplificada da realidade, que descreve quantitativamente os processos e trocas que ocorrem num sistema, permitindo seu estudo sem uma análise experimental, isto é, sem impactar o ambiente. • Software STELLA (Structured Thinking Experimental Learning Laboratory with Animation) - simulação temporal da dinâmica do fósforo sob diferentes cenários de aportes externos deste nutriente. • Objetivo: avaliar o aumento da eutrofização (estimada pela clorofila-a) com a alocação de tanques-rede em parques aquícolas a serem criados no Reservatório de Três Marias • Variáveis: - Estado: os pontos de acumulação de material/energia dentro do sistema Retângulos - Forçantes: ou de direção) são aquelas que afetam (“direcionam”) as variáveis de estado, mas não, necessariamente, são influenciadas por elas. Círculos • Modelo CRITITA (Criação de Tilápia em Tanques) • Variação da “Produção Primária”, do “Fósforo observado + Fósforo proveniente da ração” e do “Fósforo na água”, simulada pelo modelo CRITITA para Três Marias. Note diferenças na escala de valores. Figura 6.7 - Variação da “Produção Primária”, do “Fósforo observado + Fósforo proveniente da ração” e do “Fósforo na água”, simulada SEM DILUIÇÃO pelo modelo CRITITA para Três Marias. Referências Bibliográficas • Fernando Starling, Carlos E. Pereira & Ronaldo Angelini. Definição da capacidade suporte do reservatório de Três Marias para cultivo intensivo de peixes em tanques redes. Estudo técnico-científico visando a delimitação de parques aquícolas no lago da usina hidroelétrica de Três Marias – MG. 2007 • Ecologia - de Indivíduos a Ecossistemas. Michael Begon, John L. Harper, Colin R. Townsend. 2007. 740p • Instituto de Pesca SP, disponível em: http://www.pesca.sp.gov.br/imagens.php?pag=8 • Ambiente Brasil, disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br