15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
CARACTERIZAÇÃO DO FÓSFORO NOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS
DO ESTUÁRIO DO FURO DA LAURA, AMAZÔNIA ORIENTAL, BRASIL.
Ana Carolina Santa Rosa de Sousa 1; Francianne Vieira Mourão 2; Rosinette Machado Santos 3;
Karina Ferreira Castro Mesquita 4; Pedro Henrique Campos Sousa 5; Maria de Lourdes Souza
Santos 6
Resumo – A zona costeira estuarina está entre os ambientes com maior produtividade, sendo
zona de deposição de material particulado e de dinâmica de elementos biogênicos. Nesse sentido,
este estudo objetivou determinar a distribuição espacial e sazonal da matéria orgânica (MO) e das
espécies químicas do fósforo inorgânico, nos sedimentos superficiais do estuário do Furo da
Laura, a fim de avaliar a distribuição dessas espécies químicas neste ambiente através de zonas
propícias à deposição e liberação de fósforo nos sedimentos do estuário. As amostras de
sedimento foram coletadas em quatro pontos distintos do Furo da Laura nos meses setembro e
novembro de 2011 e março e maio de 2012. No laboratório, as amostras foram processadas em
triplicatas, onde o teor de (MO) foi obtido por titulação e as espécies de fósforo pelo método de
Wiliams (1976). Os teores de MO presente no sedimento oscilaram nos dois períodos sazonais
com mínimo de 4,55 % e máximo de 10,71 %. Para o período sazonal de menor precipitação os
valores mínimos e máximos encontrados para as três espécies de fósforo variaram bastante nos
pontos de amostragem. A partir dos resultados encontrados é possível afirmar que o estuário do
Furo da Laura ainda não possui características de eutrofização, todavia com o lançamento de
efluentes domésticos no seu ambiente esse estuário tende a apresentar potencial poluidor, na
qual os resultados deste trabalho sugerem que os estoques de fósforo inorgânico presentes nos
sedimentos superficiais da área estudada podem ser de origem antrópica.
Abstract – The estuarine coastal zone is among the places with higher productivity, and
deposition zone of particulate matter and dynamics of biogenic elements. On this way, the present
study objectived to determine the spatial and seasonal distribution of organic matter (OM) and the
chemical species of inorganic phosphorus in surface sediments of the Furo da Laura estuary, in
order to evaluate the distribution of these chemical phosphorus species in the environment through
the favorable areas to deposition and release phosphorus in the estuary sediment. The sediment
samples were collected in four different points of Furo da Laura in the months September and
November 2011 and March and May 2012. In the laboratory, the samples were processed in
triplicate, where the content of (MO) was obtained by titration and phosphorus species by Williams
method (1976). The organic matter present in the sediment swung in two seasonal periods with
minimum of 4.55% and maximum of 10.71%. For seasonal period of low rainfall is noticed that the
minimum and maximum values for the three phosphorus forms varied considerably on the sample
points. From the results found it can be said that Furo da Laura estuary does not have
eutrophication characteristics, however with the launch of domestic sewage in your environment
that estuary tends to present pollution potential, where the results of this study suggest that
inorganic phosphorus in stocks in surface sediments of the study area can be of anthropogenic
origin.
Palavras-Chave – Estuário, especiação de fósforo, matéria orgânica.
1
Eng. Amb., Mestranda, Universidade Federal Rural da Amazônia, (91) 98813-6518, [email protected]
Eng. Amb., Mestranda, Universidade Federal Rural da Amazônia, [email protected]
Graduanda Eng. Pesca, Universidade Federal Rural da Amazônia, [email protected]
4
Eng., MSc, Doutoranda, Universidade Federal do Pará, [email protected]
5
Graduando Eng. Pesca, Universidade Federal Rural da Amazônia, [email protected]
6
Quím. Ind., Dra., Universidade Federal Rural da Amazônia, [email protected]
2
3
15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
1
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a definição clássica de estuário proposta por Pritchad (1967), estuário é um
corpo de água costeiro semifechado que tem uma ligação livre com o mar aberto e na qual a água
do mar é mensuravelmente diluída pela água doce decorrente da drenagem continental. O
estuário do Furo da Laura é um ecossistema que constitui importante interface entre os ambientes
continentais e marinhos, o qual recebe nutriente e sedimentos advindos da drenagem continental
(RAMOS, 2007).
Os sedimentos, por sua vez, são compartimento de grande importância para o sistema
aquático, haja vista que estes refletem os processos que ocorrem na coluna d’água (BARCELLOS
et al., 2005). Além disso, os sedimentos possuem uma participação ativa nos ciclos
biogeoquímicos dos nutrientes e de elementos traços, atuando na remobilização, retenção e na
biodisponibilidade dos mesmos, nos processos de oxidação da matéria orgânica e nos processos
de adsorção (BERBEL, 2008).
Os elementos presentes nos sedimentos também estão inclusos no ciclo biogeoquímico de
alguns elementos, como é o caso do fósforo. O ciclo do fósforo no sedimento é diretamente
influenciado pela concentração de oxigênio presente na água de contato. Desta maneira, se a
coluna d’água for aeróbica, o fósforo é precipitado no sedimento, enquanto que se esta for
anaeróbica, o fósforo é liberado novamente para a coluna d’água (LIBES, 1992).
O fósforo é imprescindível à formação da matéria orgânica, na medida em que integra
estruturas importantes e faz parte do grupo de nutrientes essenciais à vida, e possui um ciclo
biogeoquímico de destaque em ambientes costeiros e em diferentes graus de impactos antrópicos
(BERBEL, 2008). Dessa forma, muitos são os estudos relacionados às formas de fósforo nos
sedimentos aquáticos, porém a maioria contempla somente a determinação do fósforo total
(PROTAZIO et al., 2004).
Para melhor entender os processos biogeoquímicos que controlam os níveis de fósforo
biodisponíveis no ambiente procura-se conhecer as frações em que este elemento se encontra no
leito sedimentar. Logo, a partição geoquímica da fração total nas formas orgânica e inorgânica,
como também o detalhamento de tais frações, proporciona uma noção mais completa da dinâmica
do elemento fósforo no sistema estuarino sedimentar (RUTTENBERG; BERNER, 1993; BERNER;
RAO, 1994; KOCH et al., 2001).
Nesse sentido, este estudo objetivou determinar a distribuição espacial e sazonal das
espécies químicas do fósforo, sendo o Fósforo Inorgânico Não-Apatítico (fósforo ligado aos
óxidos/hidróxidos de ferro/alumínio), Fósforo Inorgânico Apatítico (fósforo ligado ao cálcio) e
Fósforo Inorgânico, e da matéria orgânica, nos sedimentos superficiais do estuário do furo da
Laura, no município de Vigia de Nazaré, a fim de avaliar a distribuição dessas espécies químicas
no ambiente estudado.
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
2.1.
Localização do Furo da Laura
O município de Vigia está a 93 km da capital Belém, se localiza na mesorregião do nordeste
do Estado do Pará e na microrregião do salgado. Para o Furo da Laura, inserido neste município,
convergem inúmeros rios e igarapés, como o rio Bituba ou Patauateua, que serve de limite com o
município de Santo Antônio do Tauá, bem como o rio Baiacu, ao sul e o rio Guarimã e seus
afluentes, entre os quais o Santa Maria na margem esquerda e o Curuçazinho na margem direita
(PARÁ, 2012).
Apesar de ainda ser chamado de rio Guajará Miri, o Furo da Laura não possui
características que o classifiquem como um rio, pois não há nascente ou fonte que façam suas
águas correntes pelos continentes, nem cursos superior, médio e inferior (COELHO, 1988). Assim,
a área de estudo possui uma denominação regional chamada Furo. O “furo” consiste em um canal
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ou acidente hidrográfico que faz a conexão de lagos, um rio a um lago ou um rio a ele mesmo,
sendo, nesse último caso, fora da planície aluvial (MARINI, 2003; PIMENTEL, OLIVEIRA;
RODRIGUE, 2012). Assim se enquadra o Furo da Laura que faz a ligação entre a área de estudo
e a Baía do Marajó.
2.2.
Coleta dos sedimentos superficiais
As amostras de sedimento foram coletadas durante as marés de quadratura em quatro
pontos localizados no Furo da Laura (Figura 1) nos meses setembro e novembro de 2011 (período
de menor precipitação na região) e março e maio de 2012 (período de maior precipitação na
região), em cada mês foram coletados quatro amostras, uma para cada ponto estudado, somando
16 amostras de sedimentos.
Figura 1 - Pontos de coletas de amostras de sedimentos superficiais, no Furo da Laura.
Fonte: Modificado pela autora de Montelo (2014) e Araújo (2013).
Todos os pontos foram devidamente georreferenciados (Tabela 1) com sistema de
posicionamento global (GPS da marca Magellan, modelo NAV 5000 PROTM). O Ponto 1 está
localizado a jusante do município de Vigia, o Ponto 2 é o ponto intermediário e com menor fluxo
de embarcações que os demais pontos, o Ponto 3 é a montante do município e está próximo ao
porto, consequentemente com grande circulação de embarcações, e o ponto 4 onde
possivelmente ocorrem trocas de materiais sedimentares entre o Furo da Laura e a Baía do
Marajó, sendo este considerando o ponto de maior dinâmica hídrica entre esses dois corpos
hídricos.
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Tabela 1: Coordenadas geográficas dos pontos amostrados no estuário do Furo da Laura.
3.
Pontos
Latitude
Longitude
Localização
P1
00°54'30.1" S
048°09'53.3" W
Porto do Salvo
P2
00°52'51,4" S
048°09'28,3" W
Vila de Guajará
P3
00°50'58,5" S
048°08'44,7" W
Em frente a Vigia
P4
00°49'07,7" S
048°10'09,2" W
Entrada do Estuário
METODOLOGIA LABORATORIAL
3.1.
Matéria orgânica
Neste estudo, a porcentagem de Matéria Orgânica (MO) foi definida a partir dos valores de
Carbono Orgânico total (CO). O carbono orgânico total foi determinado segundo o método
proposto por Loring e Rantala (1992), por meio da relação entre matéria orgânica (MO) e carbono
orgânico (CO) dissolvido e particulado, seguindo a seguinte equação:
Matéria Orgânica (%) = Carbono Orgânico (%) x 1,724 (EMBRAPA, 1997).
(1)
Para o cálculo do CO utilizou-se a seguinte fórmula:
% Carbono Orgânico = 10 x (1- T/S) x F
(2)
Onde:
S = Padronização do Branco (volume de solução ferrosa);
T = Titulação da amostra (volume de solução ferrosa);
F = Fator derivado como segue:
F = (1.0 N) X (12 / 4000) X 1,72 X (100/peso da amostra) = 1.03 quando o peso da amostra
é exatamente 0.5 g. Onde 12 / 4000 = meq de peso de carbono e 1,72 = fator para a MO do
carbono.
3.2.
Especiação química do fósforo
No laboratório, as amostras de sedimentos coletadas foram processadas em triplicatas e os
resultados, expressos em µg.g-1 de fósforo. Para o fósforo inorgânico total (PI), este foi
determinado a partir do somatório das frações fósforo inorgânico não apatítico (PINA) e fósforo
inorgânico apatítico (PA).
. A metodologia utilizada para a especiação química do fósforo inorgânico ocorreu pelo
método de Willians, descrito em Protázio et. al. (2004)
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1.
Matéria orgânica
Os teores de matéria orgânica (MO) presentes no sedimento oscilaram sazonalmente com
mínimo de 4,55 % e máximo de 10,71 % na estação de maior precipitação, enquanto seus teores
médios não ultrapassaram 10% em nenhum dos períodos sazonais. Quanto aos valores mínimo e
máximo para o fósforo inorgânico verificou-se 42,86 µg.g-¹ e 291,53 µg.g-¹, respectivamente
(Tabela 2).
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4
Os teores de matéria orgânica variaram entre os períodos sazonais, apresentando maiores
médias para o período de menor precipitação. Considerando o desvio padrão, os valores de
matéria orgânica foram mais distribuídos nos meses março e maio, durante o período de maior
precipitação da região, enquanto que durante a sazonalidade de menor precipitação os valores
foram mais uniformes. Isto ocorreu devido ao fato dos extremos de mínimo e máximo terem
ocorrido no período com maior precipitação.
Tabela 2: Concentração das espécies de fósforo e matéria orgânica encontrados no Furo da
Laura.
1
Menor
Precipitação
Maior
Precipitação
2
3
4
MO
(%)
PINA
(µg.g ¹)
PA
(µg.g ¹)
PI
(µg.g ¹)
Mínimo
7,32
33,38
9,48
42,86
Máximo
10,25
270,02
51,33
291,53
Média
8,77
146,60
31,14
177,74
±Desvio
Padrão
0,95
74,04
15,63
82,65
Mínimo
4,55
57,94
3,91
76,51
Máximo
10,71
250,12
31,63
256,97
Média
7,28
112,89
15,77
128,66
Período Sazonal
±Desvio
2,06
59,34
9,02
54,75
Padrão
Legenda: 1- Matéria Orgânica; 2-Fósforo Inorgânico Não Apatítico (ligado aos óxidos/hidróxidos de
ferro/alumínio); 3- Fósforo Apatítico (ligado ao Cálcio); 4-Fósforo Inorgânico.
Em relação a variação temporal verificou-se o aumento da concentração dos teores de
matéria orgânica de setembro a novembro de 2011, apresentado uma diminuição em março de
2012 e voltando a aumentar em maio de 2012. Esta variação de resultados pode ser explicada em
decorrência da influência da baía do Marajó no estuário do Furo da Laura, onde a dinâmica entre
estes dois corpos hídricos causa oscilação nas concentrações de matéria orgânica depositadas
nos sedimentos, como pode ser verificado no ponto 1 o qual apresenta menor dinâmica se
comparado aos demais pontos, pois a força de saída das águas no Furo da Laura influenciadas
pela baía do Marajó no ponto 1 é menor, favorecendo o acúmulo de matéria orgânica nesta área.
Outra justificativa é crescente urbanização na margem direita do Furo da Laura a qual tem gerado
cada vez mais efluente.
Um fator importante a ser considerado na geração de efluente doméstico são as atividades
festivas no município como o Círio de Vigia e o carnaval nos meses Setembro e Março,
respectivamente, na qual é possível verificar o aumento da concentração populacional durante
estes períodos e consequentemente do aporte de efluentes, o que acarreta no aumento da
deposição de matéria orgânica nos sedimentos, tendo seu máximo acumulado nos meses de
novembro e maio como pode ser observado para ponto 3 localizado em frente a cidade de vigia
que durante estes meses apresentou considerável aumento nos teores de matéria orgânica
(Figura 2).
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Concentração de MO (%)
Figura 2 - Variação temporal da Matéria Orgânica de Setembro a Novembro de 2011 e de Março a Maio de
2012.
12
10
P1
8
P2
6
P3
4
P4
2
0
Setembro
Novembro
Menor Precipitação
Março
Maio
Maior Precipitação
Outra possível causa das concentrações de matéria orgânica nos meses de setembro e
novembro é devido o índice pluviométrico ter sido menor nesse período, fazendo com que
ocorresse maior acúmulo de matéria orgânica no sedimento carreado pela drenagem continental.
Os valores da matéria orgânica encontrados foram superiores aos obtidos por Eschrique
(2007) para o estuário do rio Jaguaribe no estado do Ceará, oscilando de 0,0 a 1,0% em setembro
e fevereiro, respectivamente. Resultados encontrados por Subtil (2005) variaram de 1,39% e
17,69% para o estuário do rio Benevente no estado do Espírito Santo, já Reitermajer (2011)
encontrou valores para o estuário do rio Sauípe, litoral norte da Bahia, com mínima de 5,00% e
máxima de 18,81%, ambos os estudos apresentando valores bastante diferenciados ao registrado
neste trabalho.
4.2.
Especiação de fósforo
Para o período sazonal de menor precipitação percebe-se que os valores mínimos e
máximos encontrados para as três formas de fósforo variaram nos pontos de amostragem, com
33,38 µg.g-¹ e 270,02 µg.g-¹ para o fósforo ligado aos óxidos/hidróxidos de ferro/alumínio (PINA),
9,48 µg.g-¹ e 51,33 µg.g-¹ para o fósforo ligado ao cálcio (PA), e 42,86 µg.g-¹ e 291,53 µg.g-¹ para
o fósforo inorgânico (PI), respectivamente.
Para o período de maior precipitação os valores mínimos e máximos encontrados para as
três formas de fósforo também sofreram variação nos ponto de amostragem, sendo que as
menores concentrações foram verificadas na especiação PA do fosfato para ambos períodos
sazonais (Tabela 2).
Quanto à variação sazonal dos resultados obtidos para as espécies de fósforo não
mostraram haver grandes diferenças entre as concentrações encontradas, contudo, foi verificado
que no período de menor precipitação ocorreram as maiores médias para as três espécies de
fósforo trabalhadas.
4.2.1.
Fósforo inorgânico não-apatítico (PINA)
Para o fósforo ligado aos óxidos/hidróxidos de ferro/alumínio (fósforo inorgânico não
apatítico- PINA) a maioria das concentrações está acima dos valores encontrados no estuário do
Rio Bacanga (83,8 µg.g-¹ a 104,1 µg.g-¹) na região do bairro Maracanã em São Luís por Protázio
et. al. (2004). Exceto para os pontos P- 01 e P -04 no período de menor precipitação com valores
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de 33,38 e 96,11 µg.g¯¹ respectivamente, mas que não apresentam grande relação com o que foi
encontrado por Protázio et. al. (2004) em seu estudo, e segundo este mesmo autor e Gachter
(1998), a fração do fósforo associado ao ferro e alumínio (PINA), representa em grande parte os
íons de ortofosfatos de origem antrópica adsorvidos sobre os hidróxidos de ferro e alumínio, com
os quais formam complexos.
Valores de PINA também foram encontrados por Nunes (2013), com concentração de 1,8 a
512,22 (em µg.g-¹) também para o Rio Bacanga, em São Luís. Os valores encontrados por este
autor também tiveram distribuição espacial e de concentração com grandes variações nos
sedimentos superficiais do estuário, tal qual se pode observar neste estudo. Jesus (2013) também
obteve resultados para PINA com média de 223,38 µg.g-¹ para os sedimentos do estuário do Rio
Tibiri, no Maranhão.
Portanto, com exceção do P 01 durante o período de menor precipitação, os demais pontos
em todos os períodos sazonais são áreas que sofrem bastante oxidação da camada superficial do
sedimento, sendo grandes depósitos de fosfato no estuário do Furo da Laura.
4.2.2.
Fósforo inorgânico apatítico (PA)
Quanto ao fósforo ligado ao cálcio (fósforo inorgânico apatítico- PA), este representa os íons
de ortofosfatos incluídos na estrutura cristalina da apatita não sendo, portanto, biodisponível
(PROTAZIO, et al. 2004; SPAN, 1990). A especiação PA resultou em baixas concentrações de
fosfato se comparada com as outras formas de fósforo investigadas neste estudo, possivelmente
devido a não disponibilidade desta forma para o ambiente, e consequentemente para a coluna de
água.
Nunes (2013) encontrou valores expressivos da fração inorgânica apatítica no Rio Bacanga,
com variação de 1,21 a 286,14 µg.g-¹, identificando uma quantidade razoável de fósforo nos
sedimentos desse rio. Jesus (2013) encontrou em sua pesquisa valores do PI semelhantes aos
encontrados neste estudo, variando de 98,35 a 82,53 µg.g-¹ para os sedimentos do estuário do
Rio Tibiri, no Maranhão.
4.2.3.
Fósforo inorgânico total (PI)
Para o fósforo inorgânico (soma do PINA e do PA) os valores da concentrações para os
pontos investigados foram altos, exceto para o ponto 1 do mês de setembro do período de menor
precipitação, haja vista que o PINA e o PA também tiveram baixas concentrações neste ponto e
durante este período sazonal. Observa-se então, que a montante do Furo da Laura se tem um
estoque de fósforo inorgânico em menores concentrações se comparado com os pontos no
decorrer do Furo até a jusante, onde a concentração do fósforo inorgânico adsorvido ao
sedimento foi predominantemente alta.
Outros estudos desenvolvidos em ambientes costeiros do Brasil (BORGES et al., 2009;
MARINS et al., 2007; BARCELLOS et al. 2005; CARREIRA; WAGENER, 1998) e do mundo (VINK
et al.,1997; FRANKOWSKI et al., 2002) evidenciam que a fração inorgânica do fósforo nos
sedimento tende a ser predominante em sistemas estuarinos.
Jesus (2013) encontrou em sua pesquisa valores do PI semelhantes aos encontrados neste
estudo, variando de 269,41 a 324,75 µg.g-¹ para os sedimentos do estuário do Rio Tibiri, no
Maranhão.
Na Figura 3 pode-se observar o percentual das espécies PINA, PA e PI em relação ao
estoque de fósforo inorgânico. A fração PA em todos os pontos e períodos sazonais apresentou
menor participação em relação às outras duas formas de fósforo. Isto ocorre devido a sua não
biodisponibilidade no ambiente por estar relacionado à estrutura cristalina da apatita (PROTAZIO,
et al. 2004; SPAN, 1990).
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Figura 3 - Demonstrativo de participação das frações PINA, PI e PA em relação ao estoque de
fósforo inorgânico no Furo da Laura.
PI
PA
PINA
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
P1 P2 P3 P4 P1 P2 P3 P4 P1 P2 P3 P4 P1 P2 P3 P4
SETEMBRO
NOVEMBRO
Menor Precipitação
MARÇO
MAIO
Maior Precipitação
Comparado aos ciclos de outros elementos o ciclo do fósforo apresenta menor
complexidade porque esse elemento é principalmente encontrado em uma única forma inorgânica,
o fosfato (ESTEVES, 2011).
A mobilização do fosfato adsorvido a colóides ou combinado a outros elementos, bem como
a decomposição de matéria orgânica, torna o fosfato disponível para produtores primários de
bactérias associadas ao sedimento. Além disso, a difusão desse fosfato para camadas superiores
da coluna d’água, ou sua retenção pelo sedimento também pode ocorrer, dependendo das
concentrações de oxigênio, e de elementos como o ferro e o sulfato (ESTEVES, 2011).
Os estuários servem como filtros de materiais continentais em direção ao mar, atuando
como zonas de deposição para alguns compostos químicos. No entanto, é importante salientar
que estes podem não ser depósitos definitivos, em virtude de alterações geoquímicas do meio
sedimentar ou aquático, ou como resposta a processos erosivos que resultam em remobilizações
dos materiais depositados (MARINS et. al., 2007 e DYER, 1997).
O fósforo de origem antrópica encontra-se principalmente nas formas inorgânicas, devido ao
uso indiscriminado de fertilizantes químicos nos solos ou pelas emissões de efluentes urbanos,
que contêm polifosfatos dos produtos de limpeza e ortofosfato e fosfatos inorgânicos condensados
dos esgotamentos sanitários não tratados (MARINS et. al., 2007 e OSORIO, 2001).
5. CONCLUSÕES
O fósforo inorgânico não apatítico (PINA) é a espécie química do fósforo que apresenta
maiores possibilidades em se tornar biodisponível no ambiente, pois foi a forma de fósforo
encontrada com maiores concentrações adsorvidas no sedimento e a que mais se correlaciona
com as concentrações de matéria orgânica no sedimento superficial do estuário. Conclui-se ainda
que a forma apatítica do fósforo (PA) se encontra oclusa no Furo da Laura, e não representa
fração de fósforo passível de liberação de fosfato para a coluna d’água.
No Furo da Laura, o fósforo inorgânico está se depositando preferencialmente na região
central e na saída do estuário para a Baía do Marajó, este fato demonstra a importância de novos
estudos de mapeamento das espécies de fósforo na região, pois a partir destes é possível
identificar as zonas mais propícias a deposição do fósforo inorgânico.
A partir dos resultados de matéria orgânica encontrados é possível afirmar que o Furo da
Laura ainda não possui condições favoráveis à eutrofização, todavia com o lançamento de
efluentes domésticos no seu ambiente esse estuário possui grande potencial poluidor, na qual os
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resultados deste trabalho sugerem que os sedimentos deste corpo hídrico apresentam
contribuição antrópica por estoques de fósforo inorgânico.
O estudo das espécies de fósforo no estuário não apenas proporcionou informações sobre a
qualidade dos sedimentos do ambiente estuarino, como também evidenciou que a região tem
grande potencial de deposição de fósforo no sedimento elucidando possíveis relações de causa e
efeito do aporte de efluentes no ambiente aquático dentro do processo de eutrofização.
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