Eutrofização Curso: Teoria e Métodos em Limnologia EPAMIG, 29 de Janeiro a 1 de fevereiro, 2008 Prof. José Fernandes Bezerra Neto Prof. Ricardo Motta Pinto Coelho Tópicos importantes • Qualidade da água • Eutrofização • Estado trófico Conceitos básicos A produtividade de um lago, indicada pela produção de biomassa algal, é uma classificação muito utilizada na análise da qualidade de água Terminologia do estado trófico Oligotrófico – baixa concentração de nutrientes e produtividade; usualmente alta claridade Mesotrófico – moderada concentração de nutrientes, produtividade e claridade Eutrófico – alta concentração de nutrientes e produtividade; baixa claridade Originalmente pensava-se que os lagos eram todos criados oligotróficos, mas tornavam-se eutróficos com o tempo Menos produtivo •EUTROFIZAÇÃO NATURAL Pensava-se que havia uma ontogenia natural dos lagos Mais produtivo Eutrofização cultural • Esta mudança no tempo no estado trófico pode ser verdade para alguns lagos, mas alguns já são produtivos naturalmente. • Mas o ser humano tem alterado a produtividade dos corpos de água • No final do século 19 e início do século 20 , tornou-se claro que alguns lagos estavam tornando-se eutróficos mais rápido do que originalmente previsto • Lagos que tinham sido historicamente claros, estavam desenvolvendo grandes florações de algas e peixes estavam morrendo • Eutrofização Cultural— Aumento na biomassa fitoplanctônica devido ao aumento da entrada de nutrientes (P) causada pelo homem Eutrofização – natural vs cultural Sedimentação natural por sedimentos minerais e orgânicos – levando a diminuição do Volume e a uma relação elevada AB:A0 e A0:V Conversão de lago para pântano Escala de tempo > 103 anos Irreversível Causado pelo homem pela entrada excessiva de nutrientes e o manejo pobre das práticas de uso do solo Qualidade da água degradada; perda dos usos benéficos Escala de tempo < décadas Reversível Fontes pontuais de poluição Efluentes domésticos Fontes pontuais de poluição Efluentes industriais Fontes pontuais de poluição Efluentes provenientes de criatórios intensivos Poluição difusa: - água de chuva urbana - run off de campos agrícolas • De ruas, jardins, prédios e construções • Óleos e graxas, sais, excrementos animais, nutrientes, sedimentos http://www.planthealth.gov.mt/pest03.JPG http://lakeaccess.org/la kedata/lawnfertilizer/st udydesign.htm http://www.lanl.gov/orgs/pa/News/ParkingClosed.jpg http://www.mqtinfo.org/media/planningeduc/runoff_1.jpg Poluição difusa: fonte agrícola Nutrientes, sedimentos, pesticidas, herbicidas http://www.ers.usda.gov/Briefing/biotechnology/Images/b94c3886.jpg http://www.iird.vic.gov.au/Web/ORR/ORR.nsf/ImageLooku p/Graphics4/$file/spraying.gif http://biology.usgs.gov/s+t/SNT/images/wu108f08.jpg http://www.usda.gov/oc/photo/b93c3671.jpg Principais fontes de nutrientes: sumário Sistema natural Efluentes domésticos Fitoplâncton = algas flutuantes Nutrientes limitantes (N e P) A decomposição do fitoplâncton consome oxigênio O2 Poluição orgânica O2 decomposição Estado trófico Oligotrófico Eutrófico Hipereutrófico •O índice de estado trófico de Mesotrófico Carlson (ITC) – mais amplamente utilizado • baseado nas transformações log dos valores de Secchi (transparência da água), clor-a (biomassa algal) e fósforo total (PT) da zona eufótica 80 75 70 E 65 IET 60 55 M 50 45 Fósforo total Clorofila-a 40 O 0 t/0 se o/ 00 0 ag l/0 ju 00 n/ 0 ju /0 0 r/0 m ai 0 ab ar /0 0 m v/ 0 fe 00 n/ ja 99 z/ 9 de v/ 9 no t/9 ou se t/9 9 9 35 Variação mensal do estado trófico da Lagoa do Nado segundo o IET de Carlson (1977) para o fósforo total e Respostas de algumas variáveis químicas ao aumento da produtividade NH4+ H2S Fe+2 Estado trófico O2 PO4-3 Oligotrófico Alta (maioria) Baixa Baixa Ausente Ausente Mesotrófico Baixa anoxia parcial Baixa Alta se anóxico Moderado alto se anóxico Presente Ausente se anóxico Eutrófico Anóxico Alta Alta Alta (ferroso) Alta Eutrofização e qualidade da água Eutrofização – Excesso de nutrientes e de matéria orgânica (fertilizantes) levando a um excessivo crescimento algal e a uma incapacidade do sistema em processar (circular) toda a biomassa gerada nesse processo (desequilíbrio). D. Schindler 1974 Lago ELA 226 Oligotrófico Eutrófico Eutrofização - Impactos sobre a qualidade da água (alguns deles) • Excesso de algas: escumas, cianobactérias tóxicas,gosto / odor / cheiro • Depleção de O2; perda de habitats de peixes • Perda de transparência (prof.Secchi); perda estética; • Excesso de macrófitas flutuantes; favorecimento de espécies exóticas; desestabilização dos sedimentos • impacto na pesca Eutrofização - Impactos sobre a qualidade da água (alguns mais) • perda de macrófitas nativas por sombreamento causado pelo excesso de algas; perda de habitats de aves aquáticas; redução da linha da costa / aumento da erosão • Baixa concentração O2 no fundo:aumento da concentração de nutrientes Transparência da água – claro vs turvo Prof. 5 m & secchi >5 m Transparência da água – claro vs turvo Reservatório da Pampulha (Belo Horizonte): Colapso Ecológico e Expansão Urbana Desordenada Surface: 2.1 Km2 Volume: 12 mio m3 Shoreline: 18 Km Max Depth: 17 m Mean depth: 5 m Res. Time: 200 days •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ A represa da Pampulha foi construída em 1938 e novamente reconstruída em 1954. A sua bacia conta com uma área de cerca de 97 km2 e extende-se pelos municípios de Belo Horizonte e Contagem, MG. A área original do espelho de água da represa era de 2,1 km2, com a acumulação de um volume de cerca de 11 milhões de m3. Os principais tributários da represa são: Mergulhão (A), Tijuco (B), Ressaca (C), Sarandi (C), Água Suja (D), Baraúnas (E), Córrego da AABB (F) e Córrego do Céu Azul (G). Cerca de 300 mil pessoas vivem nas suas diferentes sub-bacias. RIBEIRÃO DAS NEVES G E F F D C CONTAGEM C •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ H O reservatório da Pampulha sofreu uma grande degradação ambiental a partir de 1970. Inicialmente, notouse uma perda da área inundada da represa devido ao assoreamento (foto). Em cerca de 20 anos, a represa perdeu cerca de 20% de seu volume acumulado. Numa segunda etapa, a população passou a sofrer os efeitos da eutrofização: super crescimento de macrófitas, algas, proliferação das tilápias e déficit permanente de oxigênio dissolvido. Finalmente, o acúmulo do lixo doméstico tornou-se um grande problema. •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ Figura - Fotos áreas da lagoa nos anos 1984 (esq.) e 1999 (dir.) com a identificação das áreas de assoreamento, As principais áreas assoreadas (amarelo) e inundadas (azul) na área alvo da DLD foram quantificadas através de um sistema SIG. •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ 12000 T P&N H 4 10000 8000 400 TP(ppb) 6000 4000 200 N-NH 4 [ppb] T o ta lp h o sp h o ru s(6 m ) A m m onium(6m ) 600 2000 0 1/1/2093 0 1/1/2094 1/1/2095 1/1/2096 1/1/2097 1/1/2098 1/1/2099 1993-1998 -1 ] 450 200 S ecchi&C ond. C onductivity(6m ) S ecchi 400 160 350 120 300 250 80 200 40 150 93 Secchi[m] Cond[uS.cm O reservatório sofreu um notável aumento da eutrofização na década de noventa. A transparência da água decresceu, a condutividade elétrica aumentou assim como os valores das concentrações de amônio, fósforo total e clorofilaa. Os picos anuais observados para fatores tais como o fósforo total, a clorofila-a ou o íon de amônio enquadram o reservatório na categoria de hipereutrófico. 0 94 95 96 97 98 99 1993-1998 2 0 2 0 0 C hl-a&P O C P O C(1 m ) 1 5 1 5 0 -1 ] -1 ] C h lo ro p h yll-a(1 m ) POC[mg.l 5 0 5 0 •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ Fig.1 0 9 4 9 4 9 5 9 5 9 6 9 6 1994-1998 9 7 9 7 9 8 9 8 9 9 Chl-a[ug.l 1 0 0 1 0 extinto extinto Zooplâncton da Pampulha: Houve muitas espécies que não resitstiram ao incremento da eutrofização. extinto extinto •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ A teoria ecológica moderna indica que apenas um elemento (limitante) regula os processos de produção e de consumo nos ecossistemas (Lei de Liebig). O fósforo é muitas vezes o fator limitante da produção primária em muitos ecossistemas aquáticos. Isso quer dizer que um pulso na concentração desse nutriente pode mudar toda a estrutura biótica do ambiente. Figura - Relação entre os pulsos de fósforo e o déficit de oxigênio (DBO), que é a base para os impactos causados pela dragagem de sedimentos na qualidade de água da represa (original). De onde vêm a poluição e o excesso de nutrientes limitantes que chegam na Pampulha ? Nossos estudos foram capazes de identificar os tributários que são os maiores poluidores do reservatório. O esquema ao lado demonstra que os ribeirões Ressaca/Sarandi são os principais responsáveis pela moior parte do aporte de fósforo que chega ao lago. Outros estudos indicam que o fósforo é o elemento limitante da produção primária nesse ambiente. Figura – Balanço de massa de fósforo na Pampulha (de Torres & Pinto-Coelho, submetido). •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ Para onde vão os nutrientes que chegam na represa da Pampulha ? Durante a década de 90, o grupo do laboratório de ecofisiologia de organismos planctônicos da UFMG realizou uma série de estudos objetivando conhecer os detalhes do complexo metabolismo de várias comunidades da represa, principalmente os organismos planctônicos. Determinamos, por exemplo, que o zooplâncton acumula e recicla grandes quantidades de fósforo no ambiente. Figura - “Compartimentação” biótica do fósforo na represa da Pampulha. Mensurações •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/ Eutrofização e as cianobactérias Florações de cianobactérias É um problema constante para o abastecimento público no Brasil: • Reservatórios – principais capitais • Rios • Lagos/ lagoas • Águas subterrâneas Aumento da eutrofização nos ambientes aquáticos decréscimo da diversidade do fitoplâncton maior ocorrência de florações de cianobactérias Outras condições importantes para o surgimento de florações: - Tempo de retenção da água - Estratificação da coluna d’água - Regime de ventos Florações de cianobactérias em águas de abastecimento público Floração de Microcystis em uma lagoa costeira Reservatório de Iraí Paraná – região sul do Brasil Reservatório da Pampulha – BH/MG •Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~rmpc/