Portilho, E. S., et al.
PRATICANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÉ-ESCOLA, DESPERTANDO VALORES HUMANOS.
EDILENE SANTOS PORTILHO1
FABIANO TEIXEIRA JUCÁ2
ANA MARIA DANTAS SOARES3
1. Educadora/ Discente do curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas - UFRRJ;
2. Arte Educador/ Discente do curso de Engenharia Florestal – UFRRJ;
3. Docente/ Doutora em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade.
RESUMO: PORTILHO, E. S.; JUCÁ, F. T.; SOARES, A. M. D. Praticando a Educação Ambiental na
Pré-Escola, despertando valores humanos. Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas,
Seropédica, RJ: EDUR, v.26, n.1-2, p. 139-142, jan.- dez., 2004. O presente trabalho refere – se a uma
vivência educativa na turma do pré-II do turno vespertino na Creche Municipal Engenho Encantado no Estado
do Rio de Janeiro na cidade de Itaguaí, no ano de 2004. A partir do conhecimento da realidade anseios e
limitações dos sujeitos do processo educativo (pais/ crianças/ educadores) e as condições reais da creche,
optamos por desenvolver uma prática educativa transformadora, guiada pelos princípios da Educação Ambiental, que nos incentivou a pesquisar, refletir e avaliar constantemente nossas ações durante o complexo
ensino – aprendizagem.
Palavras-chave: Alfabetização, Valores, Linguagens.
ABSTRACT: PORTILHO, E. S.; JUCÁ, F. T.; SOARES, A. M. D.The pratice of the environmental education in kindergarten, arousing interest in human values. Revista Universidade Rural: Série Ciências
da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v.26, n.1-2, p. 139-142, jan.-dez., 2004. The present paper is an account
of an educative being at children’s education class at the city of Itaguaí – RJ, during 2004, on creche Municipal Engenho Encantado. By the reality knowing, necessities and limitation of the persons of the educative
process (parents, children and teachers) and the real conditions of the nursery. Guided by the principles of
Environmental Education that motivaded us to research, to reflect and to value our actions during the process
of teaching-learning.
Key words: The teadring of reading, values, language
INTRODUÇÃO
A Creche Municipal Engenho Encantado, localiza-se em Itaguaí, no bairro do
Engenho, área de periferia. O município
pertence à região da Costa Verde, que
também abrange os municípios de Angra
dos Reis, Mangaratiba e Parati. Possui
281,3 quilômetros quadrados. De acordo
com o senso de 2000 a população era de
82.003 habitantes, sendo que em 2002
foi estimado em 87.086 pessoas (Estudo
socioeconômico – 2003 Itaguaí/TCE RJ).
Iniciamos a prática educativa em fevereiro de 2004 e nossa experiência se
dará durante todo o ano letivo. A turma é
composta por 9 (nove) crianças com faixa
etária de 5 a 6 anos.
Nossa proposta em Educação Ambiental na pré-escola nasceu da necessidade
de repensar a prática educativa no município de Itaguaí, numa nova experiência
em que possa ser respeitada a complexidade do pensamento dos sujeitos da
aprendizagem (Educadores/ Educandos);
Proporcionar o desenvolvimento psicomotor, lingüístico e psicossocial das
crianças através de jogos e dinâmicas
de arte-educação; Despertar os valores
humanos (respeito, solidariedade, criatividade, alegria, harmonia, etc.) dos sujeitos do processo ensino-aprendizagem a
partir da prática educativa do dia-a-dia;
Incentivar em educandos e educadores a
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Praticando a educação ambiental ...
importância do processo de alfabetização
possibilitando a apropriação das diversas
linguagens que favorecem a comunicação. Aliar arte – educação na temática
ambiental a fim de promover e resgatar os
valores humanos mediados pela natureza
e pelos conhecimentos já apreendidos na
vida torna-se fundamental nesse mundo
complexo e desafiador; Integrando os
elementos de arte-educação como teatro, danças, artes plásticas, reciclagem,
artesanato, dentre outros, inspirados pela
reflexão coletiva dos atuais problemas
que afetam e incentivar à participação
favorecendo o exercício da cidadania da
população envolvida, é o que nos animou
a propor o projeto que aqui relatamos.
O ambiente escolar deve ser um espaço de transformação da sociedade, pois
o saber construído atinge por ressonância
todo o conjunto da comunidade, educadores – educandos, seus familiares e os
ambientes de socialização. Como bem
enfatiza CARVALHO 2003),
“A inserção do meio ambiente como
um dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares nacionais da Educação
parece representar um grande avanço
para o desenvolvimento e aprimoramento
tanto da Educação Ambiental Formal,
quanto da própria Educação em geral no
sentido de despertá-la para a dimensão
Ambiental que inevitavelmente abriga”.
METODOLOGIA
Numa perspectiva metodológica participativa, nossa prática educativa está
sendo desenvolvida em etapas que se
completam. Inicialmente procuramos
realizar um diagnóstico dos aspectos
socioeconômicos e culturais das famílias e da creche, cujas crianças que nos
propomos acompanhar, freqüentam.Os
métodos utilizados para o levantamento
de dados iniciais foram visitas nas casas
das crianças, encontros de pais e fichas
de dados pessoais de cada criança.
Após obtenção dos dados necessários,
procedeu - se uma etapa de planejamento
das atividades que foram desenvolvidas
durante os quatro primeiros meses do
corrente ano.
Durante todo o processo busca-se a
fundamentação teórica, através do estudo
de bibliografias relacionadas à temática,
efetivando a práxis da proposta de uma
ação educativa transformadora. Como
enfatiza GAYOTTO, p. 41:
“A educação para a transformação
significa um processo aberto, constante e
contraditório, da criança consigo mesmo
e recíproco, entre ela e as pessoas com
quem convive”.
Está sendo necessário proceder
uma ação fundamentada nos princípios
da Educação Ambiental, utilizando as
técnicas de reciclagem e reutilização de
produtos. Avançando em um relacionamento de constante aprendizado com os
seres bióticos e abióticos existentes no
meio. Utilizando também a arte – educação como meio de integrar as diferentes
linguagens (em forma de oficinas de teatro, artesanato, jogos, etc). Tendo clareza
que o ensino e a aprendizagem ocorrem
em todos momentos e em todos os espaços de vivência onde, de acordo com os
pressupostos da metodologia participante,
deve-se buscar em todo o processo que
os participantes reconheçam seus objetivos e que estes possam se articular nas
atividades propostas, buscando com isso
uma ação direta de pais/ mães/ educandos/ educadores.
Utilizamos a pesquisa - ação como
indagação sobre a prática do dia-a-dia. Na
perspectiva do entendimento de FREIRE
(2003):
“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se
encontram um no corpo do outro. Enquanto
ensino continuo buscando, reprocurando.
Ensino porque busco, porque indaguei,
porque indago. Pesquiso para constatar,
constatando, intervenho, intervendo, educo
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e me educo”
Durante este processo buscamos
nos inteiramos dos saberes da Educação
Ambiental, da Arte-educação e de uma
pedagogia libertadora, a fim de repensar tais saberes incorporá-los e articular
numa experiência na pré-escola, levando
em conta a realidade local. Observamos
também as instalações da Creche, constatamos que o espaço físico apresenta- se
abaixo da área mínima 1m2 /criança em
área de estimulação(RIZZO, 1984).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como mencionamos, a necessidade
de realizar ações educativas específicas
que possibilitem o sucesso do complexo
ensino-aprendizagem foi reconhecida a
partir do diagnóstico realizado durante as
primeiras semanas de troca de experiências entre educadores, pais e crianças.
Nesta etapa constatamos a defasagem
da auto-estima, do respeito mútuo, a
violência gratuita, privações de materiais
e espaço físico; pois este apresenta–se
inferior aos padrões mínimos, a falta de
reconhecimento do ser criança.
Frente a tais limitações, buscamos durante o processo, uma educação libertadora que atenda a natureza do educando,
e não apenas uma educação instrumental
(a que exercita habilidades). Para que o
ser humano se reconheça como um ser
capaz de mudar e melhorar suas próprias
condições de vida a partir do exercício da
cidadania fazendo uso de seus direitos e
deveres.
Busca-se, a partir desta proposta, a
conquista da complexidade do conhecimento, numa formação interdisciplinar,
que concorda com as palavras de CARVALHO (1998), quando aponta que na
pratica educativa há necessidade da
adoção de uma proposta interdisciplinar
que possa implicar nas profundas mudanças no modo de ensinar e aprender,
bem como na organização formal das
instituições de ensino.
Na tentativa de ação consciente frente
aos reais problemas no município, no que
se refere ao ensino, a aprendizagem e
às questões de ordem sócio-ambiental;
reconhecemos as técnicas da arte educação a partir da ótica ambiental permeada
de valores humanos como instrumento
de ação cultural alternativo no espaço
escolar. Utilizamos também os princípios
da pesquisa-ação para analisar a influência
desta prática educativa. A proposta educativa que apresentamos se fundamenta
em uma visão de homem como ser cognoscente, que é definido como um sujeito da
práxis tendo a possibilidade de apropriar-se
da realidade para transformá-la, podendo
transformar-se através da relação com o
mundo. (GAYOTTO, 1992 )
CONCLUSÕES
A conquista da complexidade do conhecimento numa formação interdisciplinar,
da evolução dos valores humanos, da
consciência ambiental, não nasce de
ações padronizadas e sim de ações educativas que condizem com cada realidade.
Nesse sentido, destaque-se que:
“A Educação Ambiental implica um
processo de conscientização sobre os
processos socioambientais emergentes,
que mobilizam a participação dos cidadãos
na tomada de decisões, junto com a
transformação dos métodos de pesquisa
e formação, a partir de uma ótica holística
e enfoques interdisciplinares”. (LEFF,
2001).
Apesar de estarmos realizando esse
trabalho há apenas oito meses, já podemos observar algumas alterações significativas, principalmente no que se refere
ao relacionamento interpessoal, tanto
entre as crianças, quanto com relação
aos pais, que hoje têm apresentado uma
disponibilidade maior para ouvir e partilhar
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os problemas, bem como para participar,
com críticas e indagações sobre as questões que envolvem as relações do cotidiano. Tais constatações nos animam a dar
continuidade à nossa proposta e a buscar
novos referenciais, tanto conceituais,
quanto metodológicos, que nos permitam
inclusive a contribuir para o repensar das
práticas educativas na educação infantil,
e a necessária ênfase que deve ser dada
às questões ambientais, para as quais
muitos docentes não estão devidamente
preparados a desenvolver.
GAYOTTO, M. L. C. et.al. Creches: desafios e contradições da criação coletiva
da criança pequena. São Paulo: Ícone,
1992.
LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.
Petrópolis: Vozes, 2001.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisaação. São Paulo: Cortez, 2002.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, C. R. Pesquisa Participante,
São Paulo: Brasiliense, 1981.
CARVALHO, I. C. M. Em direção ao mundo
da vida: Interdisciplinaridade e educação
ambiental, Brasília: Ipê – Instituto de pesquisas Ecológicas, 1998.
FREIRE P. Ação Cultural para a liberdade.
São Paulo: Paz e terra, 1982.
_____. Pedagogia da autonomia. São
Paulo: Paz e Terra, 2003.
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