Aspectos Climáticos da Viticultura Prof. Dr. Paulo Cesar Sentelhas ESALQ – Universidade de São Paulo Introdução Videira Cultivada de 52oN a 40oS Representa cerca de 16% do total de frutas produzidas no mundo (52% na Europa). O tempo e o clima exercem grande influência na cultura, delimitando sua adaptabilidade em diferentes regiões (Zoneamento agroclimático). Além de influência do clima na adaptabilidade da videira a diferentes regiões, o tempo exerce influência no crescimento, desenvolvimento, qualidade dos frutos, fitossanidade e produtividade da videira. Introdução Videira Cultura de clima temperado (folhas decíduas), porém adapta-se bem a diferentes condições climáticas, desde que haja calor suficiente durante a estação de crescimento. Originária de clima mediterrâneo (Verão quente/seco e Inverno frio/úmido). Necessita de um repouso (redução do metabolismo, fundamental para que as plantas expressem todo seu vigor no novo ciclo vegetativo): Clima Temperado/Sub-Tropical FRIO Clima Tropical/Semi-Árido DÉFICIT HÍDRICO Regiões produtoras de Uva no Brasil NHF<13C DEF S.M.Arcanjo, SP Jales, SP Jundiaí, SP Manga, MG Caxias, RS Petrolina, PE Condicionamento climático do repouso em videiras 2000 1500 1000 500 0 Influência do Tempo/Clima na produção e qualidade da uva Radiação Solar Efeito indireto por meio da temperatura do ar e do solo. Efeito direto na fotossíntese produção. Efeito direto na qualidade dos frutos acúmulo de açúcares (Florescimento e Maturação). Exigência expressa em horas efetivas de brilho solar (insolação): 1200 a 1400 h durante o ciclo Insolação nas principais regiões produtoras de uva do Brasil Local Ano Prim-Ver Out-Inv Petrolina, PE 2845 1429 1419 Manga, MG 2708 1222 1486 Jales, SP 2524 1209 1316 Jundiaí, SP 2315 1137 1178 S.M. Arcanjo, SP 2300 1130 1170 B. Gonçalves, RS 2278 1290 987 Influência do Tempo/Clima na produção e qualidade da uva Temperatura do ar Efeito direto nas taxas de fotossíntese bruta e líquida crescimento. Efeito direto no desenvolvimento fenologia e duração do ciclo. Efeito direto na qualidade dos frutos acúmulo de açúcares e coloração das bagas. Exigência térmica expressa em termos de graus-dia (Tb = 10oC): Niagara rosada = 1550oCd (Poda-Maturação) Itália/Rubi = 1990oCd (Poda-maturação) Limites de temperatura do ar para as diferentes fases da videira Fase T base inferior T ótima T base superior T letal Brotação 8 10 a 13 18 -2,5 Des. Veg. 10 15 a 25 39 -2,0 Floração 10 15 a 25 35 -1,0 Des. Baga 10 15 a 25 35 -0,5 Maturação 14 20 a 30 35 -0,5 Temperatura média do ar nas regiões produtoras de uva do Brasil o Temperatura média do ar ( C) 30 25 20 15 10 5 0 J F M A M J J A S O Petrolina Manga Jales Jundiaí SMArcanjo B.Gonçalves N D Data de colheita e duração do ciclo da videira Itália em diferentes regiões produtoras, considerando-se a poda em maio Local Data de Poda Data da Colheita Ciclo (dias) S.M.Arcanjo 01/05 20/12 232 Jales 01/05 02/11 185 Manga 01/05 28/09 150 Petrolina 01/05 11/09 133 É principalmente a temperatura do ar que condiciona a variação do ciclo nessas diferentes regiões. Amplitude térmica média do ar em algumas regiões produtoras de uva do Brasil 18 14 o Amplitude térmica ( C) 16 12 10 8 6 4 2 0 J F M A M Petrolina J J A Manga S O Jales N D Amplitude Térmica mais elevada, favorece a coloração das bagas 18 14 o Amplitude térmica ( C) 16 12 10 8 6 4 2 0 J F M A M Petrolina J J A Manga S O N D Jales Amplitude Térmica menor desfavorece a coloração das bagas Influência do Tempo/Clima na produção e qualidade da uva Precipitação pluviométrica Efeito direto no crescimento e desenvolvimento da videira (poda – maturação) deficiência hídrica acarreta em redução de produtividade. Efeito direto na fitossanidade períodos excessivamente chuvosos favorecem doenças. Efeito direto na qualidade dos frutos períodos excessivamente nublados e com chuva na maturação afeta acúmulo de açúcares e coloração das bagas. Exigência hídrica das videiras – depende do clima e da duração do ciclo: Varia de 500 a 1200 mm/ciclo Extrato do Balanço Hídrico - Petrolina, PE 160 110 P-ETP = -990 mm 10 -40 -90 -140 -190 Jan Fev Mar Abr Mai Jun DEF(-1) Jul Ago Set Out Nov Dez EXC Extrato do Balanço Hídrico - Jales, SP 140 90 40 P-ETP = +28 mm mm mm 60 -10 -60 -110 -160 Jan Fev Mar Abr Mai Jun DEF(-1) Jul Ago EXC Set Out Nov Dez Extrato do Balanço Hídrico - S.M. Arcanjo 140 90 mm 40 P-ETP = +215 mm -10 -60 -110 -160 Jan Fev Mar Abr Mai Jun DEF(-1) Jul Ago Set Out Nov Dez EXC Extrato do Balanço Hídrico - Caxias do Sul, RS 140 90 mm 40 P-ETP = +1144 mm -10 -60 -110 -160 Jan Fev Mar Abr Mai Jun DEF(-1) Jul Ago EXC Set Out Nov Dez Petrolina e Jales – Irrigação é necessária para suprir as deficiências hídricas S. M. Arcanjo e Caxias do Sul – Excesso de chuvas favorecem a ocorrência de doenças, como o míldio e a antracnose Influência do Tempo/Clima na produção e qualidade da uva Velocidade do vento Efeitos benéficos transpiração, suprimento de CO2 Fotossíntese. Efeitos desfavoráveis (ventos excessivos) danos mecânicos, aumento excessivo da transpiração, queda de flores e frutos redução de produção. Quando sob condições de ventos excessivos, recomenda-se o uso de quebra-ventos naturais (árvores) ou artificiais (telas), com permeabilidade de 40 a 50% e altura (H) maior do que a do parreiral. Quebra-ventos artificial Quebra-ventos natural Resultados experimentais em Jundiaí demonstraram que a utilização de um QV artificial de 4m de altura e permeabilidade de 40% reduziu a velocidade do vento e aumentou a produção da videira Niagara rosada em cerca de 22% Direção do vento 1,4 1,2 4 8 12 16 20 24 Distância do QV (*H) 0,8 0,6 0,4 QV Efeito do uso de QV no microclima, na umidade do solo e na produtividade vegetal Influência do Tempo/Clima na produção e qualidade da uva Umidade Relativa Afeta a taxa de transpiração das plantas e de evapotranspiração do parreiral < UR, > e, > ET. Aumento excessivo da ET pode ocasionar deficiência hídrica, caso a umidade do solo seja baixa. Efeitos diretos sobre a fitossanidade dos parreirais alta umidade favorece uma maior duração do período de molhamento foliar (DPM) condicionador das principais doenças da videira (Míldio, Antracnose e Manchas foliares). Em função disso, espera-se mais problemas fitossanitários nas regiões Sul e Sudeste do que na região NE Umidade relativa média do ar em algumas regiões produtoras de uva do Brasil Umidade Relativa Média (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 J F M A Petrolina M J J Jales A S O Caxias do Sul N D Aplicações da Agrometeorologia na Viticultura Uso dos graus-dia para planejamento poda-colheita Uva Itália CT = 1990oCd e Tb = 10oC Local: Petrolina, PE Data de Poda Data da Colheita Duração do ciclo (dias) 01/05 – Ano 1 01/10 – Ano 1 11/02 – Ano 2 07/07 – Ano 2 11/09 – Ano 1 22/01 – Ano 2 16/06 – Ano 2 08/11 – Ano 2 133 113 125 124 28/11 – Ano 2 26/03 – Ano 3 118 OBS: repouso por deficiência hídrica por 20 dias Estimativa da ETc da videira para manejo da irrigação Exigência hídrica das videiras – depende do clima e da duração do ciclo: Varia de 500 a 1200 mm/ciclo ETc = ETo * Kc ETo = Evapotranspiração de referência, podendo ser calculada por vários métodos Fase fenológica Kc Brotação 0,30 Des. Vegetativo 0,70 Floração 0,85 Formação do cacho 0,80 Maturação 0,45 Adaptado do Boletim 56 da FAO (Allen et al., 1998) Sistema de recomendação de pulverizações para a videira Sistema Fenológico-Ágrometeorológico para controle do míldio Pulverizações preventivas: brotação, floração e na formação do cacho Pulverizações curativas: Tmin > 10oC e 3 dias seguidos com chuva acumulada > 10mm Sistema Pluviométrico para controle do míldio, manchas das folhas e antracnose Pulverizações: sempre que a chuva acumulada > 20 mm OBS: Resultados obtidos na videira Niagara rosada, em Jundiaí, mostraram que esses sistemas possibilitaram reduções de 40 a 50% no número de pulverizações, quando comparados ao sistema convencional (pulverizações a cada 7 dias) FIM