Chipre: O povo diz não ao memorando da Troika!
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Chipre: O povo diz não ao memorando da Troika!
Date de mise en ligne : quinta-feira 6 de Março de 2014
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Chipre: O povo diz não ao memorando da Troika!
O CADTM afirma a sua total solidariedade para com o povo cipriota e as suas organizações
na luta contra a privatização do setor da energia, das telecomunicações e do setor portuário,
privatizações impostas pela Troika Troika A Troika é uma expressão de apodo popular que
designa a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. em
março de 2013. Chipre é o quarto país a ficar sob a tutela orçamental da União Europeia depois da
Grécia, Irlanda e Portugal.
Perante as manifestações de 27 de fevereiro último (greve renovável de três dias da EAC e greve do sindicado dos
estivadores do porto de Limassol e Larnaca), o Parlamento não obteve maioria para aprovar o texto inicial (25 votos
a favor, 25 contra, 5 abstenções: era preciso uma maioria de 29 para adotar o texto). Imediatamente depois o
governo apresentou a demissão. Face a esta situação no mínimo incomum, os media mantiveram total silêncio em
plena cumplicidade com a Troika.
Apesar da recusa expressa na rua pela população, os deputados cipriotas aprovaram a 4 de março, por 30 votos
contra 26, uma lei que é apenas uma versão ligeiramente modificada da que tinham rejeitado na semana anterior e
que levou à privatização dos principais serviços públicos. (EAC - Eletricidade, CYTA - Telecom e CPA - a Autoridade
Portuária). Essa nova versão da lei afirma garantir emprego aos funcionários dessas empresas, mas ninguém
acredita seriamente nisso.
A votação da lei condicionou a concessão de uma nova tranche de 236 milhões do empréstimo de 10 mil milhões de
euros acordados com a Troika em março de 2013.
As causas da crise cipriota são perfeitamente identificáveis:
1) Um sistema bancário hipertrofiado e fora de qualquer controlo. Os bancos, que dispunham de considerável
liquidez proporcionada pelos «mercados financeiros», apostaram de forma imprudente em investimentos arriscados.
Em 2012, os bancos cipriotas especularam com a reestruturação da dívida grega (40% dos seus compromissos
externos), o que lhes custou 4,5 mil milhões de euros, ou seja, o equivalente a um quarto do PIB, e provocou a
falência do setor hipertrofiado (cujos ativos representam sete vezes o PIB do país).
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Essas perdas privadas transformam-se passado pouco tempo em dívida pública. Essas dívidas são totalmente
ilegítimas e devem ser anuladas, assim como todas as que decorrem do plano de ajuda! Em 2009 e 2010, a dívida
pública de Chipre era apenas de 52,4% e de 60,8% do PIB respetivamente, enquanto na zona euro a dívida pública
média era de 80% em 2009 e de 86,5% em 2010. Na Alemanha, era de 74,5 % em 2009 e de 82,5 % em 2010.
Hoje, com o resgate do setor bancário, a dívida pública subiu para 114,1% do PIB no final de 2013 e espera-se uma
percentagem de 123% em 2014.
2) Um regime fiscal muito vantajoso para as empresas: o imposto sobre as empresas, que consistia até ao
memorando numa taxa oficial de 10%, subiu apenas para 12,5% (em nada ajudou a resolver o défice orçamental).
Para obter o resgate de 10 mil milhões de euros da Troika (9 mil milhões de euros do BCE e mil milhões de euros do
FMI), o governo cipriota aceitou também reestruturar o sistema bancário, baixar em 10% a despesa pública e
privatizar os setores públicos principais da ilha.
O próprio FMI, representado em Chipre por um ex-quadro do Lehman Brothers, reconhece a ineficácia económica
de tais medidas. O objetivo do FMI não é prestar apoio à população cipriota, mas proteger e salvaguardar os
interesses dos credores! É por essa razão que os funcionários do FMI devem ser expulsos do Chipre, assim como
os representantes da Comissão Europeia e do BCE!
Para além do risco óbvio do aumento do desemprego (previsto ser de 19,4% em 2014), os cipriotas temem o
aumento dos preços, tendo os salários e pensões caído já 20% num ano. A mobilização popular quase ininterrupta
durante meses vai muito para além dos setores profissionais em causa.
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Sacos de lixo transportados pela população amontoam-se em frente das agências bancárias. Há com regularidade
cortes de energia e o povo cerca o Parlamento e os edifícios oficiais. Todos os sectores profissionais do privado e
do público estão presentes no cerco ao Parlamento e expressam a sua oposição ao programa de ajustamento
estrutural da Troika.
O CADTM considera:
•
•
que toda a dívida do Chipre à Troika é ilegítima e odiosa e deve ser inteiramente anulada;
que o plano de austeridade imposto pela Troïka deve ser revogado.
A população não quer pagar a especuladores e ao 1% mais rico. A solidariedade internacional deve
organizar-se o mais rápido possível para apoiar esta luta exemplar. Ao seu nível, o CADTM empenhar-se-á
na luta.
Traduction: Maria da Liberdade. Révision: Rui Viana Pereira
Post-scriptum :
Foto: CC - Eu Council Eurozone
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