INVESTIGAÇÃO DO EFEITO DA RESTRIÇÃO ALIMENTAR PRECOCE SOBRE O DESENVOLVIMENTO CORPORAL E A ADIPOSIDADE EM RATOS WISTAR. Ananda Malta (PIBIC/CNPq-FA-UEM), Maria Montserrat Diaz Pedrosa Furlan (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Ciências Fisiológicas/Maringá, PR. Área e sub-área do conhecimento conforme tabela do CNPQ: Fisiologia; Fisiologia Geral Palavras-chave: restrição alimentar, desnutrição, obesidade Resumo: O baixo peso ao nascimento em humanos foi associado à predisposição a obesidade e doenças crônicas na idade adulta. Este estudo tentou estabelecer como a restrição alimentar perinatal influencia o crescimento e a adiposidade em ratos. Foram estabelecidos protocolos de restrição alimentar de 50% durante a gestação, a lactação ou ambas, seguidos de alimentação livre. O peso corporal foi acompanhado periodicamente e ao término do período foi registrado comprimento nasoanal, peso de órgãos e de gordura. A restrição alimentar precoce não causou deficiência de crescimento linear significativa. Não foram encontrados indicativos biométricos de que a desnutrição gestacional favorece a deposição aumentada de gordura no rato adulto, nem mesmo com suprimento de dieta hipercalórica. A restrição alimentar na lactação, em contraste, resultou, no animal adulto, em peso corporal menor e massa gorda relativa reduzida. Introdução A desnutrição continua sendo um problema principal de saúde pública em muitos países, comprometendo o crescimento físico e mental e ameaçando a sobrevivência das crianças. A desnutrição inicial poderia reduzir a necessidade energética e promover balanço energético positivo e acúmulo de gordura quando o alimento torna-se mais amplamente disponível. Em animais, as experiências nutricionais iniciais também podem ter reflexos no padrão metabólico dos adultos. Pequenos mamíferos e primatas têm mostrado que a nutrição inicial pode ter efeitos de longo prazo sobre diversos parâmetros metabólicos e sobre a fisiologia geral do organismo. O período específico para essa programação metabólica poderia ser a gestação e/ou a lactação, assim este estudo foi planejado para tentar estabelecer como a restrição alimentar durante a gestação e/ou a lactação influencia o desenvolvimento biométrico e a adiposidade de ratos Wistar. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Materiais e Métodos Durante o período gestacional, as fêmeas controles receberam suprimento à vontade de água e ração, enquanto as gestantes com restrição alimentar receberam 50% do alimento até o nascimento. Após o nascimento foram formados os seguintes grupos: Grupo Controle (C): ninhadas de 6 filhotes de gestantes alimentadas livremente que continuaram a receber suprimento à vontade de ração durante a lactação. Grupo Restrição na Gestação (RG): ninhadas de 6 animais de gestantes com restrição alimentar. Na lactação, as mães foram alimentadas livremente. Grupo Ninhada Expandida (RL12): ninhadas de 12 animais, de gestantes alimentadas livremente. Na lactação, o suprimento de ração para as mães continuou sendo livre. Grupo Restrição na Lactação (RL): ninhadas de 6 animais, de ratas alimentadas livremente na gestação, mas com restrição alimentar de 50% durante a lactação. Grupo Restrição na Gestação e Lactação (RGL): ninhadas de 6 animais, filhotes de ratas com restrição alimentar de 50% na gestação e na lactação. Após o desmame, todos os ratos passaram a ser alimentados livremente até os 90 dias de idade. Parte dos animais dos grupos C e RG receberam dieta hipercalórica no período de 60 a 90 dias de idade. O peso corporal e o comprimento naso-anal dos filhotes foram registrados periodicamente; aos 90 dias os ratos foram abatidos para coleta e pesagem de órgãos e depósitos abdominais de gordura. Os valores obtidos foram apresentados como média ± desvio padrão. Todos os conjuntos de dados foram analisados estatisticamente por análise de variância ou teste t de Student, com nível de significância de 5%. O número mínimo de repetições em cada conjunto de dados foi de seis. Resultados e Discussão Os filhotes dos grupos RL e RL12 não diferiram significativamente em seu peso corporal, comprimento nasoanal ou relação peso-comprimento em todo o período. O peso relativo dos órgãos foi maior, o peso corporal e o peso relativo das gorduras foram menores no grupo RGL do que no grupo C. O grupo RL teve uma redução no seu peso em relação ao grupo C, mas recuperou após o desmame, seu peso relativo de alguns órgãos foi significativamente maior e o peso relativo das gorduras foi significativamente menor. Os RL12 mostraram peso corporal significativamente menor em todo o período de acompanhamento com peso relativo dos órgãos e o comprimento do intestino maiores do que o C e menor peso relativo das gorduras. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. O grupo RG recuperou rapidamente seu peso corporal após o nascimento em relação ao C. Nos grupos CH e RGH, com dieta hipercalórica, foram registrados um aumento significativo de peso em comparação com seus pares alimentados com ração (grupos C e RG, respectivamente), porém os dois grupos não diferiram entre si no peso corporal alcançado. Nenhum dos grupos submetidos a algum período de restrição alimentar precoce apresentou deficiência de crescimento linear significativa quando comparados com animais controles. Houve, entretanto, redução duradoura do peso corporal e redistribuição ponderal nos animais dos grupos RGL, RL e RL12, com aumento relativo dos órgãos e redução relativa da gordura. Nos parece que, se há algum tipo de programação metabólica no período perinatal, ela é representada pela condição nutricional na lactação. Quando ocorre nessa fase, a restrição nutricional consistentemente altera a trajetória do desenvolvimento, resultando em animais adultos de menor peso corporal e menor conteúdo relativo de gordura Com os dados deste estudo não foram encontrados indicativos biométricos de que a desnutrição gestacional programa o metabolismo fetal de tal maneira a favorecer a deposição de gordura quando o aporte de nutrientes torna-se adequado, como foi sugerido para humanos. A restrição alimentar na lactação, em contraste, deixou sua marca no animal adulto, porém na forma de peso corporal menor e massa gorda relativa reduzida. Conclusões A restrição alimentar durante a gestação e/ou a lactação com livre alimentação após esse período, não gerou indicativos biométricos aumentados na fase adulta dos ratos, mas menor peso corporal e massa gorda relativa reduzida. Agradecimentos Os autores agradecem a colaboração das técnicas Elizete Rosa e Valéria Romão. Referências Aubert, R.; Suquet, J.P.; Lemonnier, D. Long-term morphological and metabolic effects of early under- and over-nutrition in mice. J. Nutr. 1980, 110, 649. De Onis, M.; Blössner, M. The World Health Organization global database on child growth and malnutrition: methodology and applications. Int. J. Epidemiol. 2003, 32, 518. Desai, M.; Gayle, D.; Babu, J.; Ross, M.G. Programmed obesity in intrauterine growth-restricted newborns: modulation by newborn nutrition. Am. J. Physiol. Regul. Integr. Comp. Physiol. 2005, 288, R91. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Desai, M.; Hales, C.N. Role of fetal and infant growth in programming metabolism in later life. Biol. Rev. Camb. Philos. Soc. 1997, 72, 329. Faust, I.M.; Johnson, P.R.; Hirsch, J. Long-term effects of early nutritional experience on the development of obesity in the rat. J. 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