A INTERFERÊNCIA DO ACOMPANHANTE NO ESTRESSE DE CRIANÇAS INTERNADAS EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA Mércia Maria Fernandes de Lima Lira INTRODUÇÃO Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Imprescindível nos grandes Centros Hospitalares; necessária a contínua terapia e monitorização do paciente; hoje, reconhecida como fonte de estresse e de doenças emocionais que comprometem a recuperação do paciente. BALLARD, K S et al. Issues in Mental Health Nursing; vol.3:89-108,1981. BEDRAN,J.N. Anais Fac. Med. Univ. Fed. Minas Gerais. Belo Horizonte ,Vol. 4, n. 1 :45-58, 1985. ESTRESSE Estresse é visto como estado de desarmonia ou de homeostase ameaçada. Estresse é percebido por um conjunto de alterações não específicas ocorridos no corpo humano em dado momento, provocadas pela exposição contínua a um agente estressor. LIPP,M. N.Stress e suas implicações. Est. Psicol.; v.3,p.5-19,1984. CHROUSOS, G P.Os Conceitos e Distúrbios do Sistema de estresse. JAMA vol. 3 :100-103,1993. PAIVA, L. M. Stress e Psicossomática. Anais do 1 Simpósio Sobre Stress e suas Implicações,p. 66-9, 1996. ESTRESSE Infantil Principais causas de estresse na criança: o ambiente, a escola, a rejeição, doenças, hospitalização. Os primeiros trabalhos sobre as conseqüências que a hospitalização e a separação da mãe podem trazer para a criança aparecem em 1909. HOSPITALISMO PEREZ, V.R. Madre Acompanante em Terapia Intensiva:Tensiones Psicológicas. Revista Hosp. Psiq. Habana; vol.3:463-470, 1988. Alterações decorrentes da hospitalização Alterações comportamentais ocasionadas pela separação mãe-filho durante a hospitalização da criança: 70% Crianças hospitalizadas sem os pais apresentaram alterações de comportamento. FARIAS,F.L.R.Revista Brasileira de Enfermagem.,Brasília, 41(2): Abril/jun, p.107/112, 1988. Alterações decorrentes da hospitalização A doença é estressante, mas a doença grave, que requer cuidados intensivos, ameaça a vida, provoca um dos maiores estresses vivenciados pelo paciente. BEDRAN,J. N;O Centro de Tratamento Intensivo como Fonte de Estresse Psicológico.Anais da Faculdade de Medicina da UFMG, 1985. Depoimentos de pacientes e familiares sobre as UTI’s: “Nas UTI’S vivemos os piores momentos das nossas vidas”. VEJA,10/05/1995 Pesquisas Fatores estressores UTI’s Pacientes adultos • dor; • imobilização; • privação do sono; • perda de orientação; • despersonalização; •ruídos; • frio; • ficar só; • fome; • sede. BALLARD,K, S; Issues in Mental Health Nurse. 3:89-108,1981. NOVAES,M A; Intensive Care Medicine. 23:1282-1285,1997. Os pacientes costumam reagir a estes estressores Alterações fisiológicas Alterações comportamentais •Oxigenação • Fácies • Freqüência cardíaca • Musculatura • Estado de alerta • Pressão arterial • Freqüência respiratória Alterações neuroendócrinas • Catecolaminas • Glicemia • Hormônio do crescimento ANAND, K.J.S. Neuroanatomia,neurofisiologia da dor,do estresse e da analgesia em Recém- Nascido e crianças.Clin.Ped.da América do Norte; Vol 4.; Dor Aguda em Crianças- 835-55,1989. APANIUS,V.Stress and Immune Response.In:Advances the Study of Behavior .Vol 27 , 1998. Humanização das UTI’s Tornar humano, afável. HOLANDA, 1997. “ É a busca incessante do conforto físico, psíquico e espiritual do paciente, família e equipe.” AMIB. Humanização em cuidados intensivos,2004 Combatendo os fatores estressores Medidas Farmacológicas Uso de analgésicos e sedativos • Opióides, Benzodiazepinicos Medidas não Farmacológicas Medidas ambientais • Área física • Atendimento individualizado • Permitir acompanhante BEDRAN, J. N; 1985. AMIB. 2004. A presença dos pais junto a criança tem importância em todos os momentos da sua vida Pesquisa realizada por Macedo (1994), com recém–nascidos entubados, sedados, revela que o toque reduz a dor e a aflição neonatal, diminuindo a secreção de hormônios do estresse e aumentando a produção de endorfinas, acelerando o processo de liberação da ventilação artificial. AVALIAÇÃO DO ESTRESSE Não há um instrumento padrão ouro que avalie especificamente o estresse da criança grave, internada na UTI, como não há também um instrumento que avalie a dor isoladamente dos outros fatores estressores existentes na UTI. AMBUEL, B. Assessing distress in pediatric intensive care environments: The Comfort Scale .Journal of Pediatrics Psychology; vol. 17, n-1: 95-109, 1992. GUINSBURG,R. Resposta fisiológica, comportamental e hormonal a uma simples dose de fentanil em neonatos pretermos, entubados e ventilados. J. Pediatria; vol.132,n.9 :54-9, 1998. AVALIAÇÃO DA DOR • Escala de Cores • Escala de Avaliação de Dor do Hospital Infantil de Ontário • Escala da Mímica Facial de MCGRAF, (muito utilizada na avaliação de recémnascidos e lactentes) • Escala multidimensional ANAND, K.J.S. Neuroanatomia,neurofisiologia da dor,do estresse e da analgesia em Recém- Nascido e crianças.Clin.Ped.da América do Norte; Vol. 4.; Dor Aguda em Crianças- 835-55,1989. Avaliação do estresse e do nível de sedação • Escalas COMFORT;HARTWIG;HUNGHES;PARKINSON. • Escala COMFORT foi validada, inicialmente, para medir a aflição, ou seja o desconforto produzido e vivenciado pelo paciente grave na UTIP, sob ventilação mecânica. (AMBUEL, 1992; MARX, 1994; JONGHE,2000; ERWIN, 2005). Avaliação do estresse GLICOSE Apresenta importante variabilidade na presença do estresse, frente a qualquer agressão, podendo ocorrer desequilíbrio com aumento ou diminuição ISIGKEIT. R et al. Persistent endocrine stress response in patients undergoing cardiac surgery. Journal Endocrinol. Invest. 21:12-19, 1998. ANAND, K J S. Blind, randomisad trial comparing the effects of continuos versus Hormonal and metabolic stress responses after major surgery in children aged 0-3 years: a double – intermittent morfine - Journal Anaesth. Sept; 87(3):390-9,2001 Avaliação do estresse CORTISOL Evidências cientificas relacionam o estresse com o aumento do nível de cortisol. ISIGKEIT. R et al. Persistent endocrine stress response in patients undergoing cardiac surgery. Journal Endocrinol. Invest. 21:12-19, 1998. HOLST , V.D – Stress and it’s relevance for animal behavior. Advances in the study of behavior. New York; vol. 27: 1-127, 1998 . JOACHIM E F et al. Experience and endocrine stress response in neonatal and pediatric critical care nurses and physicians. Critical Care Med, vol.28, No. 9 pp.3281-3287, 2000. OBJETIVOS Geral Avaliar se a presença do acompanhante interfere no estresse das crianças internadas na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. OBJETIVOS ESPECÍFICOS •o estresse nas crianças internadas na UTIP; •a intensidade do estresse de crianças internas em UTIP's com ou sem acompanhantes •se as alterações decorrentes do estresse são modificadas com a presença dos acompanhantes. METODOLOGIA Desenho da pesquisa: estudo observacional, prospectivo,autorizado pelo Conselho de Ética e Pesquisa da Secretaria de Estado de Saúde do DF. Casuística: 20 crianças internadas na UTIP do Hospital Regional da Asa Sul, distribuídas em dois grupos de 10, sendo um grupo de crianças com acompanhantes e outro, sem. METODOLOGIA Procedimentos • verificação dos critérios de inclusão 1m a 156m, 12h a 36 h de internação na UTI, hemodinamicamente estável, sob mesmo tipo de monitorização, acesso venoso central, consentimento dos pais. METODOLOGIA • verificação dos critérios de exclusão internação anterior em UTI, pacientes cirúrgicos, com patologias neuromusculares, uso de bloqueadores neuromusculares, uso corticoide. • definição do grupo de acordo com a definição da família em ficar ou não acompanhando o filho METODOLOGIA •coleta de dados dos sujeitos da pesquisa referentes as características populacionais, procedimentos realizados,terapêutica; •observação dos pacientes durante três minutos para avaliação do estresse, através das variáveis contempladas na Escala COMFORT modificada; • coleta de sangue para dosagem de glicemia e cortisol; •os dados tabulados e os resultados submetidos a análise estatística(descritiva e comparação entre os grupos realizada com testes não paramétricos,considerando-se o nível de significância estabelecido de 5%). Escala COMFORT 1 – Alerta Sono profundo 1 Sono leve 2 Cochilando 3 Totalmente acordado e alerta 4 Hiperalerta 5 2-Calma/agitação Calmo 1 Levemente ansioso 2 Ansioso 3 Muito ansioso 4 Pânico 5 3- Resposta respiratória Sem tosse e respiração espontânea 1 Respiração espontânea com pouca ou nenhuma resposta à ventilação 2 Tosse ocasionalmente ou resistência ao respirador 3 Respira ativamente contra o respirador ou tosse regularmente 4 Briga com o respirador , tosse ou sufocação 5 4- Movimento físico Sem movimento 1 Movimento leve ocasional 2 Movimento leve freqüente 3 Movimentos vigorosos limitado às extremidades 4 Movimento vigoroso incluindo tronco e cabeça 5 5- Linha de base da pressão arterial (pressão arterial média) Pressão abaixo da linha de base(LB) 1 Pressão arterial consistentemente na LB 2 Elevações infreqüentes de 15% ou mais (1-3 3 durante o perodo de observação Elevações freqüentes (>3) de 15% ou acima de 4 LB Sustentada maior que 15% 5 6- Linha de base da freqüência cardíaca (FC) FC abaixo da LB 1 FC consistentemente na LB 2 Elevações infreqüentes (1 a 3) de 15% ou mais 3 acima da LB , durante o período de observação evações freqüentes (>3) de 15% ou acima da LB Sustentada maior que 15% 4 5 7-Tônus muscular Músculos totalmente relaxados sem tônus 1 Tônus reduzido 2 Tônus normal 3 Tônus aumentado e flexão de extremidades 4 Rigidez muscular extrema e flexão de extremidades 5 8- Tensão facial Músculos faciais totalmente relaxados 1 Músculos faciais com tônus normal , sem tensão facial evidente 2 Tensão evidente em alguns músculos da face 3 Tensão evidente em todos os músculos da face 4 Músculos faciais contorcidos 5 ESCORE: até 16: muito sedado; sem estresse de 17 a 26 :adequadamente sedado; estresse aceitável acima de 26 : sedação inadequada; estresse intenso. Resultados e Discussão Tabela 1 – Característica dos grupos quanto ao sexo Grupo Sexo Com Sem Acompanhant Acompanhante e Total n % n % n % Feminino 6 60,0 3 30,0 9 45,0 Masculino 4 40,0 7 70,0 11 55,0 Total 10 100,0 10 100,0 20 100,0 Fonte: Levantamentos obtidos no HRAS Resultados e Discussão Tabela 2:Comparação entre as principais variáveis nos dois grupos de pacientes Grupo sem Acompanhante Grupo com Acompanhante idade Tempo Tempi prism Int. nt. idade prism (coleta) (dias) Média 8,20 13,9 25,80 11,50 6,10 14,00 20,20 7,40 Mediana 6,50 10,5 25,00 5,50 6,50 15,50 19,50 6,50 D.padrão 6,27 8,99 7,52 11,74 4,25 4,55 3,88 3,69 3 7 13 5,00 1 5 14 4,00 23 37 36 41,00 12 19 26 14,00 Mínimo Máximo Tempo Temp. Int. int. (coleta) (dias) Fonte: Levantamentos obtidos no HRAS Resultados e Discussão Tabela 3 - Caracterização dos grupos quanto ao diagnóstico Grupo Diagnóstico Total Sem Com Acompanhante Acompanhante n % n % n % Insuficiência Respiratória 5 50,0 4 40,0 9 45,0 Int. Exógena 1 10,0 - - 1 5,0 Sepses 2 20,0 4 40,0 6 30,0 ICC 1 10,0 1 10,0 2 10,0 Cardiopatia 1 10,0 1 10,0 2 10,0 Total 10 100,0 10 100,0 20 100,0 Fonte:Levantamentos obtidos no Hospital Regional da Asa obtidos Sul de Brasília Fonte: Levantamentos no HRAS Resultados e Discussão Tabela 4- Caracterização dos grupos quanto à evolução Grupo Evolução Total Sem Com Acompanhante Acompanhante n % n % n % Alta 9 90,0 9 90,0 18 90,0 Óbito 1 10,0 1 10,0 2 10,0 Total 10 100,0 10 100,0 20 100,0 Fonte: Levantamentos obtidos no HRAS Resultados e Discussão Tabela 5- Caracterização dos grupos quanto ao uso de fentanil Fentanil mcg/kg/h – por grupo de crianças Fentanil - mcg/kg/h Sem Com acompanhante acompanhante Total 1,00 2 (20%) 2 (10%) 1,60 1 (10%) 1 (5%) 6 (60%) 14 (70%) 1 (10%) 1(5%) 2,00 8 (80%) 2,50 3,00 2 (20%) Total 10 (100%) 2 (10%) 10 (100%) 20 (100%) Fonte: Levantamentos obtidos no HRAS Resultados e Discussão Tabela 5- Caracterização dos grupos quanto ao uso de midazolam Midazolam- mg/kg/h – por grupo de crianças Midazolam – mg/kg/h Sem Com acompanhante acompanhante Total 0,1 1 (10%) 1 (5,0%) 0,16 1 (10%) 1 (5,0%) 0,20 8 (80%) 7 (70%) 15 (75%) 0,30 2 (20%) 1 (10%) 3 (15%) Total 10 (100%) 10 (100%) 20 (100%) Fonte: Levantamentos obtidos no HRAS Resultados e Discussão Gráfico 1 - Caracterização dos grupos quanto à Escala COMFORT 80 70 70 60 60 Sem Acompanhante 50 40 Com Acompanhante 40 30 20 20 10 10 0 Sem Estress / Muito Sedado Condição Normal/Sedação Estresse Elevado/Baixa Adequada Sedação Fonte: Levantamentos obtidos no HRAS Resultados e Discussão Tabela 7:Resumo das variáveis analisadas na Escala COMFORT Estatística Sem acompanhante Com acompanhante Alerta 125,5 84,5 Calma 125,5 84,5 *Resp. resp. Mov.físico. 131,5 121.0 78,5 89.0 PAM 118,5 91,5 FC 112,0 98,0 Tônus muscular 107,5 63,5 *Tensão facial 134,0 76,0 Fonte:Levantamentos obtidos no HRAS *Estatisticamente significativas. São alterações precocemente observadas no estresse. (ANAND, 1989,2001;GUINSBURG,998;ZORZETO,1999). Resultados e Discussão Tabela 8-Medidas descritivas e teste de MannWhitney para o nível de Estresse da escala COMFORT Grupo Com acompanhante Sem Acompanhante Amostra n 10 10 Soma dos Scores Score Médio 76 7,6 134 Teste de MannWhitney Estatística p-valor 76.000 0,0211* 13,4 *O resultado do teste, mostra que há diferença estatística entre os grupos estudados, (p-valor unilateral =0,0211=2,11%, menor que 5%). Resultados e Discussão Gráfico2: Caracterização dos grupos quanto ao Cortisol 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Com acom panhante Sem acom panhante Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Fonte:Levantamentos obtidos no HRAS Teste Estatística: p-valor = 0,1568 não significativo Resultados e Discussão Gráfico 3- Caracterização dos grupos quanto à Glicemia 250 200 Média 150 Mediana Desvio Padrão 100 Mínimo Máximo 50 0 Com acompanhante Sem acompanhante Fonte:Levantamentos obtidos no HRAS Teste Estatístico: p-valor = 0.4365=não significativo Resultados e Discussão Ocorreu grande variabilidade nos resultados do cortisol. Há uma correlação forte da interferência do acompanhante. (GUINSBURG, 1998; HOLST ,1998) Os resultados estão de acordo com a literatura que considera que intervenções múltiplas são mais eficazes no controle e prevenção do estresse. ( AMBUEL, 1992; GUINSBURG, 1998;AMIB, 2004;ERWIN 2005). Conclusão foi possível avaliar o estresse e nível de sedação e analgesia com o uso da escala COMFORT em pacientes graves, em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica; os sinais de estresse foram observados nos dois grupos de pacientes, mesmo estando avaliados como adequadamente sedados; dosagens elevadas do cortisol nos dois grupos são compatíveis com uma resposta endócrina ao estresse; não ocorreu alteração da glicemia plasmática nos pacientes estudados; Conclusão há uma forte correlação de que a presença dos acompanhantes contribui para diminuir o nível de estresse em crianças, graves, internadas nas UTIP's; a presença do estresse nos pacientes internados nas UTIP's deve ser considerado por toda a equipe, deve ser combatido com medidas farmacológicas e não farmacológicas; devemos considerar que um toque relaxante e amoroso é tão importante para a recuperação do paciente quanto a alta tecnologia existente nas UTI's. Que toda criança tenha o direito a ser acompanhada por sua mãe , pai ou responsável durante todo o período de sua hospitalização.” CONANDA ,1995. Obrigada Foto autorizada