Jornal Estado do Paraná
15/01/2011 às 00:00:00 - Atualizado em 15/01/2011 às 01:40:39
Transplante coclear já pode ser feito pelo SUS
no Estado
Mara Andrich
Anderson Tozato
Vitória e os pais, Nelcimara e Carlos: audição será recuperada em breve.
Depois de conseguirem, no final do ano passado, credenciamento junto ao Ministério da Saúde para
realizar o chamado transplante coclear pelo Sistema Único de Saúde (SUS), dois hospitais
paranaenses anunciaram, com poucos dias de diferença, a realização do procedimento.
Na última semana, o Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba realizou o primeiro implante coclear pelo
SUS no Paraná. O Hospital Pequeno Príncipe (HPP), também na capital, fez o segundo, ontem. A
cirurgia devolve a audição a pessoas com surdez severa.
No HC, o paciente de Curitiba Jonathan Veloso, de 18 anos, voltará a ouvir daqui um mês. O médico
responsável pelo procedimento, Rogério Hamerschmidt, explica que é realizado um pequeno corte
atrás da orelha, onde é colocado o aparelho.
Depois da cicatrização é instalado um aparelho externo, e só então a pessoa passa a ouvir, com
volumes gradativos. O paciente normalmente tem alta no mesmo dia.
“Foram dez anos de luta para conseguir a liberação. Consideramos esse implante uma evolução tão
grande como foi a do transplante de medula, há dez anos”, comemorou o otorrinolaringologista.
O implante coclear (a cóclea se localiza no ouvido, atrás do labirinto) pode ser feito em casos de
surdez severa, em pacientes que nasceram surdos ou, ainda, naqueles que perderam a audição
durante a vida. Não é uma novidade, pois foi criado fora do Brasil em 1957. Porém, só começou a
ser feito no país em 1990, em Bauru (SP). No Paraná, é realizado há alguns anos, mas somente de
forma particular ou por convênios. O aparelho custa em torno de R$ 60 mil.
Vitória
O HPP já realizou pelo menos 100 procedimentos deste tipo, mas ontem fez o primeiro pelo SUS. A
diarista Nelcimara Schmidt, mãe da paciente Vitória, de apenas três anos, que recebeu o implante
ontem, comemorou. “Ela já nasceu com o problema, mas só foi descoberto na creche. Agora fiquei
mais tranquila e feliz”, disse.
Nelcimara vive em Iretama, no norte do Paraná e o pai da menina, o técnico em informática Carlos
de França, mora em São José dos Pinhais. O HPP vai treinar uma fonoaudióloga de Iretama, pois
segundo o médico coordenador do Grupo de Implante Coclear do hospital, Rodrigo Pereira, a
cirurgia foi só o começo.
“Em crianças sempre temos bons resultados. Hoje temos a vitória da Vitória, mas não se trata de
uma intervenção milagrosa. Agora é que vai começar o trabalho”, brincou, lembrando que o
acompanhamento pós-cirúrgico é fundamental na recuperação. Estima-se que nasçam em Curitiba de
nove a dez crianças com surdez severa, a cada mês. Somente no HC a fila para o implante já chega a
20 pessoas.
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