PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ECONOMIA MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS JOSÉ JERÔNIMO DE MENEZES LIMA MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL BASEADO NOS CRITÉRIOS DE EXCELÊNCIA DO PNQ - PRÊMIO NACIONAL DA QUALIDADE Porto Alegre dezembro de 2005 1 JOSÉ JERÔNIMO DE MENEZES LIMA MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL BASEADO NOS CRITÉRIOS DE EXCELÊNCIA DO PNQ - PRÊMIO NACIONAL DA QUALIDADE Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração, pelo Mestrado em Administração e Negócios da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Lessa Gusmão Porto Alegre dezembro de 2005 JOSÉ JERÔNIMO DE MENEZES LIMA MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL BASEADO NOS CRITÉRIOS DE EXCELÊNCIA DO PNQ - PRÊMIO NACIONAL DA QUALIDADE Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração, pelo Mestrado em Administração e Negócios da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aprovada, em 16 de dezembro de 2005, pela Banca Examinadora. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. Clóvis Massaúd da Silveira Profa. Dra. Grace Vieira Becker Prof. Dr. Leonardo Rocha de Oliveira Prof. Dr. Sérgio Luiz Lessa Gusmão (Orientador) 3 Para meus pais, Jerônimo Lima e Eva Lima, pelo exemplo e pelo estímulo na busca do conhecimento do mundo ao meu redor. Ninguém me ensinou mais. A ninguém tenho em mais alta conta. Minha maior sorte é ser seu filho. Tento prolongar um pouco mais minha existência para além de minhas limitações e de minha mortalidade. Meu filho é uma maneira, consciente ou não, de tentar fazer isto. Metade dele veio de mim; outra metade, de sua mãe. Mas o guri insiste em desafiar o bom senso e desponta nele uma terceira identidade inesperada, repleta de flutuações, violando qualquer princípio de simetria, revelando ser uma fonte de surpresas. Dedico este trabalho ao mistério do futuro sem fronteiras. Dedico este trabalho a meu amado filho Tiago Lima. 4 AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho só foi possível graças à contribuição de muitas pessoas inteligentes e altruístas com as quais tenho o privilégio de conviver e às quais desejo agradecer pelo apoio e cooperação. Saulo Armos foi meu grande incentivador na busca do título de mestre e me mostrou os primeiros passos no caminho desta jornada. Sérgio Gusmão, meu orientador, foi sempre atencioso e esclarecedor, ajudando-me a superar as dificuldades e a garantir a qualidade técnica deste trabalho. Tânya Tatsch foi decisiva na formatação e correção do texto original, além de apoiar na tradução dos diversos artigos e livros em língua estrangeira. Cleusa Enck e Bernardete Weber possibilitaram o acesso às informações do Hospital Moinhos de Vento e Sara Cecin, Eliana Luzio e Márcio Müller às informações do Terra Networks Brasil. Ellen Mayhé Nunes enriqueceu meus conhecimentos e aportou técnicas inovadoras para a análise dos dados desta pesquisa. Ézio Oliveira Jr. e Paulo Mendel, colegas de turma, foram meus maiores companheiros e incentivadores durante todo o curso. Clóvis Massaúd, Grace Becker e Leonardo Oliveira, professores membros da banca examinadora, contribuíram com sugestões valiosas para o aprimoramento das idéias e do desenvolvimento deste trabalho. 5 “É somente por meio de novas perguntas e novas perspectivas que seremos capazes de mapear as águas incertas de nosso futuro, o qual, afinal de contas, se compõe do que não conhecemos”. Albert Einstein, in Como Vejo o Mundo, 1953 “Seu cérebro pode dar a luz à qualquer tecnologia, mas outros cérebros é que decidirão se a tecnologia vai se dar bem. O número de tecnologias possíveis é infinito, e só algumas passam no teste de afinidade com a natureza humana”. Robert Wright, in Nonzero: The Logic of Human Destiny, 2001 “Meu propósito não é ensinar o método que cada um deve seguir para bem conduzir sua razão, mas tão somente mostrar por que meios procurei conduzir a minha”. Renè Descartes, in Discurso do Método, 1637 6 RESUMO Este trabalho trata da proposição de um modelo de mensuração do capital intelectual das organizações aderente ao modelo de gestão do PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade. Para atingir este objetivo, partiu-se do estudo do modelo de gestão do PNQ, que orienta as organizações à busca de sua sustentabilidade pela satisfação das necessidades de todas as partes interessadas. Em seguida, estudouse a teoria sobre capital intelectual, efetuando-se a análise comparativa dos principais modelos de mensuração utilizados, em especial o Skandia Navigator. Após a modelagem, o modelo proposto foi aplicado a duas empresas, o Terra Networks Brasil e o Hospital Moinhos de Vento. Os dados da pesquisa foram coletados em documentos, com entrevistas semi-estruturadas com os principais gestores e com a aplicação de questionário fechado. Os resultados obtidos permitiram mensurar o valor do capital intelectual das empresas estudadas. O modelo proposto, depois de testado, teve sua aplicabilidade analisada junto aos gestores das empresas estudadas. Palavras-chave: capital intelectual, mensuração do capital intelectual, PNQ. 7 ABSTRACT This work deals with the proposition of the organizations’ capital intellectual measurement model adherent to PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade management model. To reach this objective, begins from the study of PNQ management model, that guides the organizations to search for sustentability by satisfying needs of all stakeholders. Next, study the intellectual capital theory, with the comparative analysis of the main measurement models used by the organizations, specially the Skandia Navigator model. After the modeling, the proposed model was put into practice in two firms, Terra Networks Brasil and Hospital Moinhos de Vento. The research data were collected in documents, semi-structured interviews with the main managers and a questionnaire. The results obtained allowed to measure the intellectual capital value of the firms studied. The proposed model, after tested, was analyzed in conjunction with the managers of the studied firms. Key-words: intellectual capital, intellectual capital measurement, PNQ. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Delimitação do Tema e Definição do Problema de Pesquisa ................... 25 Figura 2 - Modelo de Gestão do PNQ ....................................................................... 33 Figura 3 - Modelos de Mensuração do Capital Intelectual ........................................46 Figura 4 - Comparativo dos Principais Modelos de Mensuração do Capital Intelectual.......................................................................................................... 57 Figura 5 - Classificação dos Modelos de Mensuração do Capital Intelectual............ 58 Figura 6 - Taxonomia do Capital Intelectual .............................................................. 61 Figura 7 - Skandia Navigator..................................................................................... 63 Figura 8 - Valor Monetário Absoluto do Capital Intelectual ....................................... 65 Figura 9 - Coeficiente de Eficiência do Capital Intelectual ........................................ 66 Figura 10 - Modelo Matemático do Método Skandia Navigator................................. 67 Figura 11 - Referencial Bibliográfico da Pesquisa..................................................... 68 Figura 12 - Metodologia SSM.................................................................................... 79 Figura 13 - Desenho da Pesquisa ............................................................................. 83 Figura 14 - Desenho da Pesquisa ............................................................................. 84 Figura 15 - Processo Genérico de Gestão Estratégica ............................................. 87 Figura 16 - Alinhamento e Integração de Estratégias ............................................... 88 Figura 17 - Aderência do Modelo de Gestão Proposto com o Skandia Navigator e o Modelo de Gestão do PNQ.......................................................................89 Figura 18 - Modelo de Mensuração do Capital Intelectual Proposto ......................... 92 Figura 19 - Comparação do Skandia Navigator x Modelo Proposto.......................... 93 Figura 20 - Aplicação do Modelo de Mensuração do Capital Intelectual Proposto ao Terra Networks Brasil ....................................................................... 106 Figura 21 - Aplicação do Modelo de Mensuração do Capital Intelectual Proposto ao HMV...................................................................................................................120 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Comparativo do Valor de Mercado entre IBM e Microsoft........................ 60 Tabela 2 - Comparação de Resultados Skandia Navigator x Modelo Proposto.......128 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 JUSTIFICATIVA..................................................................................................... 19 3 DELIMITAÇÃO DO TEMA E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA........ 23 4 OBJETIVOS........................................................................................................... 26 4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 26 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 26 5 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 28 5.1 MODELO DE GESTÃO DO PNQ........................................................................ 28 5.1.1 PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade ........................................................... 28 5.1.2 Modelo de gestão do PNQ ............................................................................. 31 5.1.3 Critério 5 - Informações e Conhecimento .................................................... 39 5.1.4 Critério 8 - Resultados ................................................................................... 40 5.1.5 Tratamento das necessidades das partes interessadas............................. 42 5.2 CAPITAL INTELECTUAL .................................................................................... 44 5.2.1 Modelos de mensuração do capital intelectual ........................................... 45 5.2.2 Taxonomia do capital intelectual .................................................................. 59 5.1.3 Skandia Navigator .......................................................................................... 62 11 6 MÉTODO................................................................................................................ 70 6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ...................................................................... 71 6.2 SELEÇÃO DOS CASOS PARA ESTUDO........................................................... 73 6.3 MODELAGEM ..................................................................................................... 73 6.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS....................................................................... 79 6.5 DESENHO DA PESQUISA ................................................................................. 83 7 RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................................. 85 7.1 MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL PROPOSTO........ 85 7.2 APLICAÇÃO DO MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL PROPOSTO ........................................................................................................ 94 7.2.1 Terra Networks Brasil .................................................................................... 94 7.2.1.1 Perfil da empresa .......................................................................................... 94 7.2.1.2 Modelo de gestão .......................................................................................... 98 7.2.1.3 Gestão do capital intelectual ......................................................................... 99 7.2.1.4 Gestão da parte interessada clientes .......................................................... 100 7.2.1.5 Gestão da parte interessada acionistas ...................................................... 101 7.2.1.6 Gestão da parte interessada empregados .................................................. 102 7.2.1.7 Gestão da parte interessada fornecedores ................................................. 103 7.2.1.8 Gestão da parte interessada comunidade/sociedade ................................. 105 7.2.1.9 Aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto ......... 105 7.2.2 Hospital Moinhos de Vento ......................................................................... 108 7.2.2.1 Perfil da empresa ........................................................................................ 108 7.2.2.2 Modelo de gestão ........................................................................................ 112 7.2.2.3 Gestão do capital intelectual ....................................................................... 113 7.2.2.4 Gestão da parte interessada clientes .......................................................... 115 7.2.2.5 Gestão da parte interessada sócios ............................................................ 115 7.2.2.6 Gestão da parte interessada empregados .................................................. 116 7.2.2.7 Gestão da parte interessada fornecedores ................................................. 118 7.2.2.8 Gestão da parte interessada comunidade/sociedade ................................. 119 7.2.2.9 Aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto ......... 120 12 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 123 8.1 SOBRE AS LIMITAÇÕES DA PESQUISA ........................................................ 123 8.2 SOBRE A CONSECUÇÃO DOS OBJETIVOS DA PESQUISA......................... 124 8.3 SOBRE A MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL ................................ 125 8.4 SOBRE O MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL PROPOSTO, SUA APLICABILIDADE E SUGESTÕES DE MELHORIAS ........ 126 8.5 SOBRE SUGESTÕES PARA ESTUDOS POSTERIORES............................... 130 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 132 APÊNDICES ........................................................................................................... 139 APÊNDICE A - Questionário de Coleta de Dados................................................... 140 APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista ...................................................................... 141 13 1 INTRODUÇÃO As empresas estão passando por mudanças, não somente devido à globalização econômica, mas também por causa das forças que as tornam competitivas: o intercâmbio de informações, a gestão do conhecimento e a geração de capital intelectual. Neste sentido, Drucker (1993) afirma que o maior de todos os desafios organizacionais, nos dias de hoje, é responder à transformação de uma economia industrial para uma economia baseada no conhecimento e calcada em ativos intangíveis, em especial o capital intelectual. Neste trabalho é utilizado o conceito da FNQ - Fundação Nacional da Qualidade (2005, p. 50), segundo o qual “capital intelectual é o conjunto de ativos intangíveis representados pelo acervo de conhecimentos e geradores de diferenciais competitivos e que agregam valor à organização”. Em outras palavras, conforme define Lima (2003), o capital intelectual representa as melhorias e/ou inovações de processos, produtos e serviços decorrentes da aplicação de conhecimentos e que se traduzem na melhoria de resultados para a organização. Para um melhor entendimento do valor do capital intelectual no contexto econômico atual, a seguir é analisada uma retrospectiva dos movimentos de 14 mudanças em relação à influência da gestão do conhecimento no desenvolvimento econômico dos países e das organizações. Toffler (1985) utiliza a metáfora das ondas para explicar as grandes mudanças econômicas ocorridas na nossa civilização até os dias de hoje: a) A 1ª grande onda de mudança pela qual passou a humanidade foi a agrícola, de 8000 AC a 1750 DC; b) A 2ª grande onda de mudança foi a industrial, de 1750 a 1955, perdurando apenas 300 anos para ser concluída, e seu principal referencial centrou-se na Revolução Industrial; c) A 3ª grande onda de mudança é a do conhecimento, que perdura de 1955 até hoje, com previsão de que não dure mais do que algumas décadas. Considerando a atual era econômica baseada na 3ª onda, o conhecimento é o grande agregador de valor às organizações. Ou seja, a mola propulsora da sociedade atual não é mais capital financeiro, máquinas e ferramentas, e sim o conhecimento. O capital intelectual é que vai gerar riquezas para as organizações do presente e do futuro, doravante. A origem dos estudos do capital intelectual coincide com o surgimento da chamada Sociedade da Informação ou Sociedade do Conhecimento, que teve início logo após a 2ª Guerra Mundial, quando o conhecimento passou a ter um importante papel para a sociedade, paralelamente com o início da 3ª onda de Toffler. Stewart (1998), baseado nos registros da Agência de Análise Econômica de Departamento de Comércio Norte-Americano, verifica uma estabilidade nos gastos realizados pelo setor privado em bens de capital, tradicionais da Era Industrial, girando em torno de US$ 110 bilhões ao ano, oscilando positivamente em tempos de prosperidade e negativamente em tempos de recessão. No entanto, os dispêndios 15 de capital com equipamentos de informação deram um salto: em 1982, as empresas norte-americanas investiram US$ 49 bilhões em computadores e equipamentos de telecomunicações; em 1987, o investimento pulou para US$ 86,2 bilhões, seguindo num ritmo crescente. Em 1991, dispêndios do capital na Era Industrial e na Era da Informação se cruzaram. Os investimentos em tecnologia de produção chegaram a US$ 107 bilhões e os gastos com tecnologia da informação chegaram a US$ 112 bilhões. Por isto, considera-se 1991 como sendo o Ano Um da Era da Informação (STEWART, 2002). Bukowitz e Willians (2002) evidenciam o atual momento da gestão do conhecimento afirmando que as tecnologias de informação e de telecomunicações formam agora o conjunto das principais forças que levaram a gestão do conhecimento para o primeiro plano e para o centro da economia mundial. Estudos realizados na Suécia, em 1986 e 1987, estabeleceram os pilares para o desenvolvimento de uma nova ferramenta de gestão, o Monitor de Ativos Intangíveis, conforme descrito por Sveiby (1998) e comentado na pesquisa de Rezende (2003), segundo a qual as organizações precisam urgentemente de um sistema para mensuração do seu desempenho com base no equilíbrio de visões financeiras e não-financeiras. Na década de 1990, empresas suecas passaram a ser avaliadas em bolsas de valores por preços que superam em até 700% seus valores contábeis tradicionais. Esta foi uma questão determinante para incentivar os estudos sobre as fontes de valor e como elas interferem no processo de precificação realizado pelo mercado. Atualmente, as tendências mundiais apontam para a competência na gestão dos ativos intelectuais como sendo o fator crítico de sucesso para as organizações 16 do futuro. Isto torna ainda mais evidente a necessidade de se correlacionar o sucesso estratégico das organizações, a partir de seu capital intelectual, com sua sustentabilidade (sobrevivência e crescimento). Segundo Kaplan e Norton (1997) e em pesquisas realizadas pelo Brookings Institute em 500 empresas mundiais, o valor de mercado de uma empresa típica, em 1982, consistia de 62% de ativos tangíveis e 38% de ativos intangíveis. Em 1992, este percentual foi invertido, passando o valor de mercado a ser composto de 38% de ativos tangíveis e 62% de ativos intangíveis. Já em 2000, a parcela referente aos ativos tangíveis chegou a 15%, ficando 85% para os ativos intangíveis. Estes dados demonstram que o entendimento do papel estratégico do capital intelectual e de sua mensuração propicia a canalização de idéias e experiências que podem levar a vantagens em termos de custos ou inovação, ou seja, à transformação de material intelectual bruto em oportunidades para se atingir metas estratégicas (LIMA, 2003). Guthrie et al. (2001) e Skyrme (2004) afirmam que as vantagens decorrentes da mensuração do capital intelectual que justificam a preocupação de se encontrar mecanismos apropriados para realizá-la, são: a) as informações levantadas refletem mais fielmente o valor da organização; b) aumento no potencial informativo da Contabilidade; c) o processo de mensuração traz insights para novas perspectivas de desempenho; d) redimensionamento patrimonial da organização; e) suporte à geração de valor para todas as partes interessadas; f) canalização correta dos recursos para investimentos; g) facilitação na avaliação dos investidores potenciais; 17 h) determinação da melhor maneira de se efetuar a gestão do conhecimento para ajudar a organização a ganhar ou a economizar dinheiro; i) evitar danos e injustiças típicos de uma avaliação patrimonial, gerando lucros e/ou prejuízos indevidos. No entanto, segundo Shaikh (2004), os modelos de mensuração do capital intelectual utilizados no primeiro mundo para subsidiar a formulação de estratégias não são úteis para organizações em países emergentes, pois ainda apresentam excessiva preocupação com questões relativas aos clientes e às finanças e relegam a segundo plano as necessidades das demais partes interessadas na sustentabilidade das organizações. Por isto, justifica a mensuração do capital intelectual por meio de um modelo que privilegie a análise holística dos benefícios organizacionais buscando assim um avanço metodológico para a elaboração de estratégias capazes de satisfazer todas as partes interessadas, com uma visão de finalidade organizacional mais coerente com as necessidades das sociedades dos países emergentes. Segundo a FNQ (2005, p. 53), [...] partes interessadas são os indivíduos ou grupos de indivíduos com interesse comum no desempenho da organização e no ambiente em que ela opera. A maioria das organizações apresenta as seguintes partes interessadas: (1) clientes; (2) força de trabalho; (3) acionistas e proprietários; (4) fornecedores; (5) sociedade. A quantidade e a denominação das partes interessadas podem variar em função do perfil da organização. Considerando a abrangência do tema, este trabalho restringe-se à identificação do significado do capital intelectual e de sua importância estratégica para as organizações, e propõe um modelo para sua mensuração que seja útil para subsidiar os gestores em suas tomadas de decisão para a formulação de estratégias 18 eficazes em relação à análise de resultados preconizada pelo modelo de gestão do PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade, que privilegia a ação organizacional holística como forma de satisfazer todas as partes interessadas. Para atingir este objetivo, a estrutura deste trabalho é a seguinte: O Capítulo 2 faz a justificativa do tema abordado na pesquisa, demonstrando sua relevância para a busca de sustentabilidade pelas organizações e sua contribuição para a academia e a sociedade. O Capítulo 3 apresenta a delimitação do tema e a definição do problema de pesquisa. O Capítulo 4 apresenta os objetivos geral e específicos da pesquisa. O Capítulo 5 analisa a teoria sobre os temas propostos, evidenciando-se os conceitos e definições apresentados pelos principais autores estudados, iniciando-se com a análise do modelo de gestão do PNQ, e segue com a identificação e avaliação dos modelos de mensuração do capital intelectual utilizados pelas organizações, com sua taxonomia, abordagens de cálculo, vantagens e deficiências específicas, com destaque para o Skandia Navigator. O Capítulo 6 discorre sobre o método de pesquisa utilizado. O Capítulo 7 apresenta o desenvolvimento do modelo proposto para a mensuração do capital intelectual e analisa sua aplicabilidade às empresas estudadas, com os respectivos resultados da pesquisa. O Capítulo 8 traz as considerações finais do trabalho. 19 2 JUSTIFICATIVA O estudo do capital intelectual justifica-se pela ascensão da importância do conhecimento na economia moderna e por se tratar de um campo relevante de pesquisas para as organizações. Especialmente nos Estados Unidos e na Europa, muitas organizações passaram a manifestar preocupação em canalizar seu know-how para a melhoria da competitividade acrescentando a sua estrutura organizacional cargos como “Gerente do Conhecimento” ou “Gerente de Aprendizagem Organizacional”. Desta forma, passaram a reconhecer explicitamente a importância do conhecimento como fator preponderante para garantir diferenciais competitivos sustentáveis frente à concorrência (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). A despeito destas evidências, ainda assim é grande a dificuldade da maioria das organizações em compreender, identificar e mensurar os elementos que constituem seu capital intelectual, bem como em compatibilizar sua estratégia, cultura, capacidades e recursos para a implementação de uma gestão focada no conhecimento (GORAN RÖOS; JACOBSEN, 2001) (JOIA, 2000). É notório que as organizações do conhecimento eliminam cada vez mais ativos fixos de seus balanços. Para este tipo de organizações, quanto menos ativos melhor, desde que se tenha capital intelectual. Por isso, para poder avaliar seu 20 potencial de sustentabilidade no novo cenário competitivo mundial, as organizações têm de avaliar e mensurar seus ativos intangíveis. Todavia, apesar desta nova realidade na gestão, a Contabilidade continua enfatizando exclusivamente o capital físico e financeiro em suas demonstrações contábeis (FITZ-ENZ, 2001). Notam-se resistências quanto à divulgação das informações referentes ao capital intelectual, pois as principais demonstrações contábeis (Balanço Patrimonial e Demonstração de Resultados do Exercício) revelam momentos estanques do passado da organização, embora o dinâmico mundo dos negócios necessite de informações mais significativas sobre as possibilidades de seu desempenho futuro (MARR et al., 2004) (SVEIBY, 2001). Segundo Kaufmann e Schneider (2004) e Kannan e Aulbur (2004), recentes negociações evidenciam melhor esta situação: empreendedores, desconhecendo um modelo de mensuração que expresse mais fidedignamente quanto vale uma organização, concretizam operações de compra e venda por valores que não têm relação com a realidade. Essas transações baseadas em sistemas simples, considerando apenas valores contábeis, devem ser acrescidas de outras prerrogativas, como a capacidade inovadora, o número de patentes, o valor da marca, a carteira de clientes, a motivação e comprometimento dos empregados, por exemplo. A diferença entre o valor contábil e o valor de mercado de uma organização é gerada exatamente pelo seu capital intelectual. Joia (2000) exemplifica-se tais distorções na operação de aquisição da Lotus efetuada pela IBM, onde o valor contábil estava avaliado em US$ 250 milhões e a empresa foi adquirida por mais de US$ 3 bilhões. Edvinsson e Malone (1998) relatam que os sistemas de contabilidade atuais são incapazes de explicar porque isto ocorre e não têm como avaliar o que esteja 21 além do imobilizado. O problema é que, nos dias de hoje, como os fatores clássicos de produção não são mais os principais responsáveis pela criação de valor de mercado, o capital, na forma de imobilizado, e o trabalho, na velha concepção de mão-de-obra, cederam lugar a fatores que, na falta de melhor expressão, são designados por “intangíveis”. Marr et al. (2004) afirmam que a Contabilidade ainda não possui definições apropriadas para o reconhecimento do capital intelectual como um bem patrimonial. Portanto, faz-se necessário determinar uma metodologia para a sua classificação contábil e também para a sua mensuração, avaliando até que ponto este tipo de capital interfere nas organizações, não só em relação ao processo estratégico, mas também, quanto ao valor real delas. Todavia, conforme Green e Ryan (2005), um modelo de mensuração do capital intelectual não substituirá a Contabilidade financeira. Seu objetivo é captar e reconhecer os elementos subjetivos que influenciam a criação de valor e, desta forma, complementar e enriquecer a contabilidade na sua forma atual, fazendo com que a mesma alcance o seu papel informacional da melhor forma possível. A grande diferença está no fato de que enquanto a Contabilidade tradicional destaca elementos do passado, o capital intelectual viaja para o futuro. Assim, é justo esperar que, em um futuro próximo, as informações sobre o capital intelectual estarão mudando a concepção do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultados do Exercício. Existe um processo em construção que necessita ser validado e compreendido pelas organizações para que comecem a raciocinar dentro dessa nova lógica e a absorver os novos paradigmas econômicos e financeiros da economia corporativa moderna. Quando isto acontecer, as informações sobre o capital intelectual serão consideradas básicas e 22 indispensáveis para se conhecer a realidade de uma organização (MARR et al., 2004) (ANDRIESSEN, 2004). Em síntese: o desafio maior, no momento, consiste em se tentar estabelecer padrões para a mensuração do capital intelectual e testar a sua viabilidade no contexto organizacional, buscando a sustentabilidade das organizações pela satisfação de todas as suas partes interessadas (SEETHARAMAN et al., 2002). Exatamente neste sentido, este trabalho propõe um modelo que considera o capital intelectual de modo que sua mensuração e análise contribuam com informações relevantes para a formulação de estratégias visando à satisfação de todas as partes interessadas, como preconizado pelo modelo de gestão do PNQ e caracterizando uma administração holística da organização, como necessário àquelas em países emergentes como o Brasil. 23 3 DELIMITAÇÃO DO TEMA E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA Historicamente, as organizações alicerçaram a análise de sua sustentabilidade em balanços patrimoniais e em relatórios financeiros baseados exclusivamente em transações contábeis que envolviam ativos físicos e financeiros, ou seja, naquilo que era tangível. Entretanto, com a evolução da tecnologia da informação e da gestão do conhecimento, outros fatores relevantes devem ser considerados para a análise de seu desempenho e a formulação de estratégias competitivas. Na verdade, trata-se dos “intangíveis”, fatores não contemplados pela Contabilidade e pelos estrategistas clássicos, o que gera uma lacuna entre o valor real de uma organização e sua posição contábil e provoca a ineficácia em seu processo de planejamento estratégico (SHULVER et al., 2000). Segundo Edvinsson e Malone (1998), o valor de uma organização está nos seus ativos e estes se apresentam sob quatro formas, sendo três formas precisas e mensuráveis, e uma quarta forma imprecisa e essencialmente não-mensurável. A primeira categoria de ativos é composta pelos circulantes e realizáveis a longo prazo; a segunda, pelos investimentos; a terceira, pelos imobilizados e diferidos; e a quarta, pelos intangíveis. Esta quarta categoria, os intangíveis, como a própria palavra sugere, é de difícil avaliação precisa. O desafio dos gestores está em estabelecer modelos de 24 mensuração capazes de convencer empresários, empreendedores e investidores no sentido de tornar presente, nos relatórios contábeis e nos planos estratégicos, também os elementos intangíveis das organizações. Segundo Edvinsson e Malone (1998), a Contabilidade tradicional, que descreveu as operações das organizações durante meio milênio, não tem mais conseguido acompanhar a revolução que está ocorrendo no mundo dos negócios. Por conseqüência, a formulação de estratégias centradas apenas em análises financeiras ortodoxas também não cumpre mais seu papel de fazer emergir diferenciais competitivos sustentáveis baseados no aprendizado da organização e que é originado pelo uso eficaz de seus ativos intangíveis, em especial o capital intelectual. As distorções encontradas em bolsas de valores, como, por exemplo, o valor das ações da Microsoft, que são negociadas muito acima de seu valor contábil, levam os investidores a conviver com esses mistérios do mercado acionário. Sendo obrigados a encontrar suas próprias explicações, podem analisar o fluxo de caixa do ano anterior porque este está registrado nos documentos financeiros, mas quando se trata de avaliar mudanças no valor dos ativos intangíveis que irão gerar fluxos de caixa futuros, não conseguem se orientar. Em decorrência destas incertezas, o valor de organizações ricas em ativos intangíveis tende a flutuar muito no mercado. Antunes (2000) e McPherson e Pike (2001) destacam que a Contabilidade, como um sistema de informações, deve contemplar os novos requisitos de informações e conhecimento exigidos pela economia moderna, devendo, por meio de averiguações e de análises criteriosas, e utilizando métodos científicos de pesquisa, buscar demonstrar o impacto do conceito de capital intelectual nas organizações, inclusive demonstrando o que vem sendo feito para mensurá-lo. 25 Como demonstrado na figura a seguir, o propósito desta pesquisa é: como mensurar o capital intelectual das organizações de modo aderente ao modelo de gestão do PNQ? As organizações buscam sustentabilidade com a adoção de práticas de gestão de deexcelência excelênciaeeaabusca buscada dasatisfação satisfação de todas as partes interessadas por isto adotam o Modelo de Gestão do PNQ que incentiva que As organizações busquem diferenciais diferenciais competitivos competitivos sustent sustentáveis organizações busquem áveis para seu processo de Formulação de Estratégias que deve contemplar Estratégias inovadoras que considerem os ativos intang intangíveis íveis com como o recursos valiosos para alavancar diferenciais competitivos sustentáveis sustentáveis baseadas em informações obtidas do Modelo de Mensuração Mensuração do do Capital Capital Intelectual Intelectual aderente aderente ao ao modelo modelo de gestão do PNQ Figura 1 - Delimitação do Tema e Definição do Problema de Pesquisa Fonte: Elaborada pelo pesquisador 26 4 OBJETIVOS Levando em consideração a delimitação do tema e o problema de pesquisa definido, foram estabelecidos os seguintes objetivos da pesquisa: 4.1 OBJETIVO GERAL Desenvolver um modelo de mensuração do capital intelectual das organizações aderente ao modelo de gestão do PNQ. 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Identificar e classificar os principais modelos de mensuração do capital intelectual utilizados pelas organizações, com suas premissas, abordagens de cálculo, vantagens e deficiências; b) analisar os modelos identificados quanto a sua aderência em relação ao modelo de gestão do PNQ; c) avaliar os critérios utilizados pelos modelos identificados frente aos do modelo de gestão do PNQ e estabelecer os critérios para a mensuração do capital intelectual pelo modelo proposto; 27 d) testar e analisar a aplicabilidade do modelo proposto às empresas estudadas. 28 5 REVISÃO DA LITERATURA 5.1 MODELO DE GESTÃO DO PNQ (FNQ, 2005) Este capítulo efetua a revisão bibliográfica referente ao modelo de gestão do PNQ. 5.1.1 PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade Em outubro de 1991, foi instituída a FPNQ - Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade, entidade privada e sem fins lucrativos, fundada por 39 organizações privadas e públicas, para administrar o PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade e todas as atividades decorrentes do processo de premiação, em todo o território nacional, e fazer a representação institucional externa do PNQ nos fóruns internacionais. Em 2005, a FPNQ mudou sua denominação para FNQ - Fundação Nacional da Qualidade (www.fnq.org.br). O PNQ é um reconhecimento, sob a forma de um troféu, à excelência na gestão das organizações sediadas no Brasil, buscando promover: a) amplo entendimento dos requisitos para alcançar a excelência no desempenho e, portanto, a melhoria da competitividade; e 29 b) ampla troca de informações sobre métodos e sistemas de gestão que alcançaram sucesso e sobre os benefícios decorrentes da utilização destas estratégias. Os critérios de excelência do PNQ constituem um modelo sistêmico de gestão adotado por inúmeras organizações de classe mundial e são construídos sob uma base de fundamentos essenciais à obtenção da excelência do desempenho. Utilizando os critérios de excelência como referência, uma organização pode modelar seu sistema de gestão, realizar uma auto-avaliação e/ou se candidatar ao PNQ. Realizando a auto-avaliação com base nos critérios de excelência, a organização poderá: a) entender os requisitos para a excelência no desempenho; b) medir e identificar onde melhorar seu desempenho; c) identificar e entender, de forma sistemática, seus pontos fortes e oportunidades para melhoria; d) promover a cooperação interna entre setores, processos e pessoas da força de trabalho; e) considerar e integrar as necessidades de todas as partes interessadas no seu sucesso sustentável. Todas as organizações participantes do PNQ recebem um relatório de avaliação detalhado que relaciona os pontos fortes e diagnostica as oportunidades para melhoria, ou seja, este relatório detalha o que a organização candidata deve manter e aprimorar, assim como os aspectos que necessitam ser melhorados ou buscados para que ela venha a ter excelência em gestão, levando com isso ao aumento de sua competitividade. Este relatório é elaborado por profissionais de 30 reconhecida competência, que atuam de maneira voluntária e sem remuneração, durante cerca de 800 horas de avaliação por organização candidata. O conteúdo deste relatório constitui uma rica fonte de informações a partir da qual a organização poderá realizar as melhorias necessárias e voltar a se candidatar ao PNQ. Se alcançar a etapa final do processo de avaliação, a organização é visitada para comprovação e complementação das informações descritas no Relatório de Gestão. Esta visita é realizada pelos examinadores que avaliaram o Relatório de Gestão, atuando sob rigorosas regras do Código de Ética da FNQ, de maneira isenta e independente, sem conflitos de interesses. Se a organização for premiada, passará a ser reconhecida pela excelência de sua gestão, sendo comparada às organizações de classe mundial. Isto significa que demonstrou possuir métodos de gestão exemplares, aplicados por todas as suas áreas, com resultados excelentes em comparação a referenciais pertinentes, podendo ser líder em seu setor de atuação. Neste caso, de acordo com as regras da FNQ, ela assume o compromisso junto à sociedade de divulgar seu modelo de gestão e as práticas de gestão consideradas exemplares, ressalvando-se os aspectos confidenciais, o que, para a organização premiada, representa uma forte divulgação dela própria e de sua marca. Compromete-se também, como premiada, a participar de eventos, conferências, apresentações e programas de visitação para divulgar suas práticas bem-sucedidas de gestão, além de continuar a manter os princípios éticos, sociais e de gestão que a levaram à condição de premiada, durante pelo menos os três anos subseqüentes ao processo que a consagrou como organização vencedora. Assim, o PNQ estimula a melhoria da qualidade da gestão das organizações brasileiras, reconhecendo anualmente aquelas que atingiram o nível de excelência 31 da gestão de suas práticas e respectivos resultados, promovendo, interna e externamente, a reputação da excelência dos produtos e serviços brasileiros, divulgando as práticas exemplares da gestão e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro. 5.1.2 Modelo de gestão do PNQ Segundo Gomes (2004, p. 2) [...] um modelo de gestão é um conjunto de práticas e processos de gestão coerentes com uma filosofia de trabalho, escolhido deliberadamente pela alta direção a serviço do modelo de negócios, na crença de que através da sua aplicação e renovação sistemática a organização conseguirá vantagens competitivas. Em meados da década de 1980, diante da necessidade de melhorar a qualidade dos produtos e de aumentar a produtividade das organizações americanas, um grupo de especialistas analisou uma série de organizações bemsucedidas, então consideradas “ilhas de excelência”, em busca de características comuns que as diferenciavam das demais. As características identificadas eram compostas por valores organizacionais facilmente percebidos como parte de sua cultura, sendo praticados por seus líderes e profissionais em todos os níveis. Na ocasião, os valores identificados nas organizações de sucesso foram considerados fundamentos para formar uma cultura de gestão voltada para resultados e deram origem aos critérios de avaliação e à estrutura sistêmica do MBNQA - Malcolm Baldrige National Quality Award, nos EUA, em 1987. 32 O modelo de gestão do PNQ foi desenvolvido, desde a sua origem, em 1991, alicerçado neste conjunto de fundamentos, refletindo assim a experiência, o conhecimento e o trabalho de pesquisa de muitas organizações e especialistas do Brasil e do exterior. Mas, embora alicerçado em modelos de gestão consagrados como o Deming Prize japonês, o TEC-A europeu e o Malcolm Baldrige americano, o PNQ distinguese destes por incorporar fundamentos e critérios que não estão neles presentes, como por exemplo a questão da responsabilidade social, presente no Critério 4 – Sociedade, que traduz a necessidade de as organizações em países emergentes tratarem da questão social como forma de contribuir para a sustentabilidade do país, o que não ocorre nos países desenvolvidos. Em função de sua flexibilidade e simplicidade de linguagem, e, principalmente, por não prescrever ferramentas e práticas de gestão específicas, o modelo é útil para avaliação, diagnóstico e orientação de qualquer tipo de organização, no setor público ou privado, com ou sem finalidade de lucro e de porte pequeno, médio ou grande. A incorporação dos fundamentos de excelência às práticas da organização de maneira continuada e em consonância com seu perfil e estratégias, é enfatizada pelo modelo. Os oito critérios de excelência que compõem o modelo de gestão do PNQ do referem-se à gestão de: 1. Liderança 2. Estratégia e Planos 3. Clientes 4. Sociedade 33 5. Informações e Conhecimento 6. Pessoas 7. Processos 8. Resultados O modelo de gestão do PNQ é representado pela figura a seguir: Figura 2 - Modelo de Gestão do PNQ Fonte: FNQ (2005) O Critério 1 - Liderança avalia o sistema de liderança da organização e o comprometimento pessoal dos membros da alta direção no estabelecimento, disseminação e atualização de valores e diretrizes organizacionais que promovam a cultura da excelência, considerando as necessidades de todas as partes 34 interessadas. Avalia também como a alta direção analisa criticamente o desempenho global da organização. O Critério 1 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 1.1 - Sistema de liderança, 1.2 - Cultura da excelência e 1.3 – Análise crítica do desempenho global. O Critério 2 - Estratégias e Planos avalia o processo de formulação das estratégias de forma a determinar o posicionamento da organização no mercado, direcionar suas ações e maximizar seu desempenho, incluindo como as estratégias, os planos de ação e as metas são estabelecidas e desdobradas para toda organização e comunicados interna e externamente. Também avalia como a organização define seu sistema de medição do desempenho. O Critério 2 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 2.1 - Formulação das estratégias, 2.2 Desdobramento das estratégias e 2.3 - Planejamento da medição do desempenho. O Critério 3 - Clientes avalia como a organização identifica, analisa, compreende e se antecipa às necessidades dos clientes e dos mercados, divulga seus produtos, marcas e ações de melhoria, e estreita seu relacionamento com os clientes. Também examina como a organização mede e intensifica a satisfação e a fidelidade dos clientes em relação a seus produtos e marcas. O Critério 3 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 3.1 - Imagem e conhecimento de mercado e 3.2 - Relacionamento com clientes. O Critério 3 é suportado pelo fundamento da excelência “Foco no Cliente e no Mercado”, que orienta a criação de valor de forma sustentada para o clientes, visando maior competitividade nos mercados. O Critério 4 - Sociedade avalia como a organização contribui para o desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma sustentável, por meio da minimização dos impactos negativos potenciais de seus produtos e operações na 35 sociedade e como a organização interage com a sociedade de forma ética e transparente. O Critério 4 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 4.1 Responsabilidade socioambiental e 4.2 - Ética e desenvolvimento social. O Critério 4 é suportado pelo fundamento da excelência “Responsabilidade Social”, que orienta para o relacionamento ético e transparente da organização com todas as partes interessadas, visando ao desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. O Critério 5 - Informações e Conhecimento avalia a gestão e a utilização de informações pela organização e de informações comparativas pertinentes, bem como a gestão do capital intelectual da organização. O Critério 5 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 5.1 - Gestão das informações da organização, 5.2 Gestão das informações comparativas e 5.3 - Gestão do capital intelectual. O Critério 6 - Pessoas avalia como são proporcionadas condições para o desenvolvimento e utilização plena do potencial das pessoas que compõem a força de trabalho em consonância com as estratégias organizacionais. Também avalia os esforços para criar e manter um ambiente de trabalho e um clima organizacional que conduzam à excelência do desempenho, à plena participação e ao crescimento pessoal e da organização. O Critério 6 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 6.1 - Sistemas de trabalho, 6.2 - Capacitação e desenvolvimento e 6.3 Qualidade de vida. O Critério 6 é suportado pelo fundamento da excelência “Valorização das Pessoas”, que prega que a compreensão de que o desempenho da organização depende da capacitação, motivação e bem-estar da força de trabalho e da criação de um ambiente de trabalho propício à participação e ao desenvolvimento das pessoas. 36 O Critério 7 - Processos avalia os principais aspectos da gestão dos processos da organização, incluindo o projeto dos produtos e serviços com foco no cliente, sua execução e entrega, os processos de apoio e aqueles relacionados a fornecedores, em todas as áreas. Também avalia como a organização administra seus recursos financeiros, de maneira a suportar suas estratégias, seus planos de ação e a operação eficaz de seus processos. O Critério 7 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 7.1 - Gestão de processos relativos ao produto, 7.2 Gestão de processos de apoio, 7.3 - Gestão de processos relativos aos fornecedores e 7.4 – Gestão econômico-financeira. O Critério 8 - Resultado avalia a evolução do desempenho da organização em relação a clientes e mercados, situação financeira, pessoas, fornecedores, processos da atividade-fim, sociedade e processo da atividade-meio. Também avalia os níveis de desempenho em relação às informações comparativas pertinentes. O Critério 8 é subdividido nos seguintes itens de avaliação: 8.1 - Resultados relativos aos clientes e ao mercado, 8.2 - Resultados econômico-financeiros, 8.3 - Resultados relativos às pessoas, 8.4 - Resultados relativos aos fornecedores, 8.5 – Resultados dos processos relativos ao produto, 8.6 - Resultados relativos à sociedade e 8.7 Resultados dos processos de apoio e organizacionais. A figura representativa do modelo de gestão do PNQ simboliza a organização, considerada como um sistema orgânico, adaptável ao ambiente externo. O desenho sugere que os elementos do modelo, imersos num ambiente de informação e conhecimento, se relacionam de forma harmônica e integrada, voltados para a geração de resultados. 37 Embora o desenho admita diferentes interpretações, a que melhor descreve o modelo utiliza o conceito de aprendizado segundo o ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act), e é descrita a seguir. A sustentabilidade de uma organização está diretamente relacionada a sua capacidade de atender as necessidades de seus CLIENTES (Critério 3). Assim, estas necessidades devem ser identificadas, entendidas e utilizadas para que os produtos e serviços possam ser desenvolvidos, criando o valor necessário para conquistar e reter os clientes. Por outro lado, a organização também deve identificar, entender e satisfazer as necessidades da SOCIEDADE (Critério 4) e das comunidades com as quais interage de forma ética, cumprindo as leis, preservando os ecossistemas e contribuindo para o desenvolvimento das mesmas. A equipe da LIDERANÇA (Critério 1), de posse de todas estas informações, estabelece os valores e as diretrizes da organização e pratica e vivencia os fundamentos da excelência, impulsionando, com seu exemplo, a cultura da excelência na organização. Os líderes, principais responsáveis pela obtenção de resultados que assegurem a satisfação de todas as partes interessadas e a perpetuidade da organização, analisam criticamente o desempenho global da mesma e executam, sempre que necessário, as ações requeridas, consolidando o controle e o aprendizado organizacional. As ESTRATÉGIAS (Critério 2) são formuladas pelos líderes para direcionar a organização e o seu desempenho e para determinar sua posição competitiva. São desdobradas em PLANOS de ação, de curto e longo prazos, que servem como referência à tomada de decisões e à aplicação de recursos na organização. A fim de permitir a comunicação clara das diretrizes e das estratégias para todas as partes interessadas, direcionar sua implementação e possibilitar a análise crítica do 38 desempenho global pelos líderes, é planejado e operacionalizado um sistema de medição do desempenho da organização. Até este momento, considerando os quatro critérios apresentados, tem-se a etapa de planejamento (Plan) do ciclo PDCA da organização. As PESSOAS (Critério 6) que compõem a força de trabalho devem estar capacitadas e satisfeitas, atuando num ambiente propício à consolidação da cultura da excelência para executar e gerenciar adequadamente os PROCESSOS (Critério 7), identificar as melhores alternativas de captações e aplicações de recursos e utilizar os bens e serviços provenientes de fornecedores para transformá-los em produtos, criando valor para os clientes, de acordo com o que estabelecem as estratégias e os planos da organização. Conclui-se, neste momento, a etapa referente à execução (Do) do ciclo PDCA da organização. Para efetivar a etapa de controle (Check) do ciclo PDCA, os RESULTADOS (Critério 8) são o grande orientador do acompanhamento do desempenho da organização e de suas tendências em relação a clientes e mercado, situação econômico-financeira, pessoas, fornecedores, processos relativos ao produto, sociedade, processo de apoio e processos organizacionais. Os efeitos gerados pelas práticas de gestão e pela dinâmica externa à organização podem ser comparados às metas estabelecidas durante a definição das estratégias e planos, para eventuais correções de rumo ou reforço das ações implementadas. Finalmente, estes resultados, sob a forma de INFORMAÇÕES e CONHECIMENTO (Critério 5), retornam para a organização, para que esta possa executar as ações e buscar o aprendizado organizacional, complementando o ciclo 39 PDCA com a etapa referente à ação (Act). Estas informações representam a inteligência e o aprendizado da organização, viabilizando a análise crítica e a execução das ações necessárias, em todos os níveis. A figura enfatiza as informações e o conhecimento como elementos que permitem a ligação e a correlação entre todos os critérios, permeando todo o modelo, e, portanto, interagindo com todos os demais critérios, e, por conseqüência, todos os elementos que constituem a organização. A gestão das informações e do capital intelectual é um elemento essencial à jornada em busca da excelência na Sociedade do Conhecimento. Neste trabalho, propõe-se um modelo de mensuração do capital intelectual aderente ao modelo de gestão do PNQ, conforme indicado no Critério 5, e considerando as informações provenientes dos resultados das organizações, como preconizado no Critério 8, detalhados a seguir. 5.1.3 Critério 5 - Informações e Conhecimento Este critério examina a gestão e a utilização das informações da organização e de informações comparativas pertinentes, bem como a gestão do capital intelectual da organização. Avalia como a organização gerencia as informações necessárias para apoiar as operações diárias e a tomada de decisão. Avalia, especificamente, como a organização identifica, mede, desenvolve, mantém, protege e compartilha seu capital intelectual, com vistas a garantir o aprendizado organizacional. 40 Entende-se pelo fundamento da excelência “aprendizado organizacional”, conforme a FNQ (2005, p. 13), “a busca e alcance de um novo nível de conhecimento por meio de experiência, avaliação, pesquisa, estudo, busca e compartilhamento de melhores práticas, levando à melhoria ou inovação”. O aprendizado deve ser uma intenção estratégica nas organizações e estar internalizado na sua cultura organizacional, tornando-se parte do trabalho diário em quaisquer de suas atividades, em todos os níveis. Uma cultura organizacional que internalizou este conceito busca eliminar a causa de problemas, dissemina suas melhores práticas, pratica o benchmarking interno e externo, compartilha informações e conhecimento, desenvolve soluções e implementa melhorias e/ou inovações de forma sustentada. A organização que avalia periodicamente seu sistema de gestão e implementa melhorias e/ou inovações em suas práticas gerenciais se adapta mais facilmente às mudanças e tem mais condições de atingir e manter a excelência no desempenho. 5.1.4 Critério 8 - Resultados Outro fundamento da excelência que respalda o modelo de gestão do PNQ é “Orientação para Resultados”, que, segundo a FNQ (2005, p. 16), é o “compromisso com a obtenção de resultados que atendam, de forma harmônica e balanceada, as necessidades de todas as partes interessadas na organização”. Para atender as necessidades de todas as partes interessadas e concretizar sua visão de futuro, a organização formula estratégias e estabelece planos de ação e metas que devem ser eficazmente a elas comunicados, pois a obtenção do 41 consentimento e comprometimento de todas com os objetivos da organização contribui para implementar as estratégias. A gestão do desempenho de pessoas e equipes e a análise crítica do desempenho global são instrumentos relevantes que permitem à organização monitorar o cumprimento das estratégias e o grau de alinhamento com os objetivos traçados. A organização que age desta forma enfatiza o acompanhamento dos resultados frente às metas, a comparação destes com referenciais pertinentes e o monitoramento da satisfação de todas as partes interessadas, obtendo sucesso de forma sustentada e adicionando valor para todas elas. Este critério examina a evolução do desempenho da organização em relação a clientes e mercados, situação financeira, pessoas, fornecedores, processos relativos ao produto, sociedade, processos de apoio e processos organizacionais. Examina também os níveis de desempenho em relação às informações comparativas pertinentes. Para tanto, analisa: a) os resultados dos principais indicadores de desempenho relativo aos clientes e aos mercados, incluindo as informações dos concorrentes; b) os resultados dos principais indicadores de desempenho relativos à situação financeira da organização; c) os resultados dos principais indicadores de desempenho relativo às pessoas; d) os resultados dos principais indicadores de desempenho relativo aos fornecedores; 42 e) os resultados dos principais indicadores de desempenho referentes aos produtos e serviços e aos processos relativos ao produto (atividade-fim); f) os resultados dos principais indicadores de desempenho relativos à sociedade; g) os resultados dos principais indicadores de desempenho dos processos de apoio e organizacionais (atividade-meio). O modelo de mensuração do capital intelectual proposto neste trabalho se vale exatamente destas categorias de resultados para a sua determinação e é, por isto, completamente aderente ao modelo de gestão do PNQ. 5.1.5 Tratamento das necessidades das partes interessadas O modelo de gestão do PNQ apresenta itens de avaliação específicos para analisar o tratamento das necessidades de cada parte interessada, bem como os resultados alcançados pelas organizações em suas abordagens, a saber: a) do ponto de vista da parte interessada clientes, o fundamento da excelência “Foco no Clientes e no Mercado”, todo o Critério 3 - Clientes, e, no Critério 8, o item 8.1 - Resultados relativos aos clientes e ao mercado; b) do ponto de vista da parte interessada sócios/acionistas, no Critério 7, o item 7.4 - Gestão econômico-financeira, e, no Critério 8, o item 8.2 Resultados econômico-financeiros; c) do ponto de vista da parte interessada empregados, o fundamento da excelência “Valorização das Pessoas”, todo o Critério 6 - Pessoas, e, no Critério 8, o item 8.3 - Resultados relativos às pessoas; 43 d) do ponto de vista da parte interessada fornecedores, no Critério 7, o item 7.3 – Gestão dos processos relativos aos fornecedores, e, no Critério 8, o item 8.4 – Resultados relativos aos fornecedores; e) do ponto de vista da parte interessada comunidade/sociedade, todo o Critério 4 – Sociedade, e, no Critério 8, o item 8.6 – Resultados relativos à sociedade. 44 5.2 CAPITAL INTELECTUAL Para Lima (2003), no seu sentido lato, o conhecimento organizacional é composto pelos dados contextualizados e informações analisadas que dão suporte aos administradores em sua tomada de decisão. No seu sentido stricto, abrange as competências desenvolvidas por meio de know-how adquirido nas percepções, crenças e valores que se tomam como certos e que se refletem na imagem de como se vê a realidade, moldando a forma como se percebe e se lida com o mundo. Assim, é composto pelos conhecimentos adquiridos por meio de educação formal e pesquisas acadêmicas, mais as conclusões, insights, palpites, intuições e visões de mundo que estão enraizados nas ações e experiências dos empregados e, por conseqüência, das organizações onde trabalham, o que inclui, é claro, ativos intangíveis. Conforme sugerido por Edvinsson e Malone (1998), o conjunto de ativos intangíveis de uma organização é composto por: a) ativos de mercado: é o potencial de realização de negócios que a organização possui relativo a sua marca, carteira de clientes, lealdade e fidelidade dos clientes, negócios recorrentes, negócios em andamento, canais de distribuição, franquias etc; b) ativos humanos: são os benefícios que os empregados podem proporcionar à organização por meio de sua expertise, criatividade, conhecimento e habilidades de resolver problemas; c) ativos de propriedade intelectual: metodologias, copyrights, patentes etc; correspondem às tecnologias, 45 d) ativos de infra-estrutura: são representados pela cultura organizacional, sistemas de informação, métodos gerenciais, bancos de dados etc. Por esta definição vê-se que o capital intelectual é derivado da aplicação do conhecimento pelos indivíduos. Assim, é natural que as organizações dediquem grandes esforços para identificar aquelas pessoas que poderão otimizar essa relação de causa-e-efeito, dedicando-lhes investimentos para o seu desenvolvimento. Também conduzem esforços voltados para a aplicação do conhecimento para a organização. Dentre esses esforços, tanto em termos de ações em nível pessoal como em nível organizacional, estão: colocar a pessoa certa na função certa, considerando suas competências e oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional; pesquisa e desenvolvimento; manuseio de database marketing; tratamento proativo da propriedade intelectual; mensuração do valor da marca; avaliação do retorno de investimento sobre os canais de distribuição; sinergia entre programas de treinamento e os objetivos corporativos; valorização das opiniões dos funcionários; encorajamento à participação e inovação; valorização da cultura empresarial; e a mensuração de seu capital intelectual. 5.2.1 Modelos de mensuração do capital intelectual Segundo Edvinsson e Malone (1998), em 1995, a Skandia, então a maior empresa de seguros e serviços financeiros da Escandinávia, divulgou seu relatório anual de capital intelectual e logo outras empresas importantes do mundo como Dow Chemical, Canadian Imperial Bank of Commerce e Posco seguiram-na, adentrando na Nova Economia. A partir de então tem-se assistido ao surgimento de vários 46 modelos para mensuração do capital intelectual, conforme apresentados na figura a seguir: MODELOS DE MENSURAÇÃO Technology Broker PRINCIPAL(IS) AUTOR(ES) Brooking (1996) CATEGORIA(S) DESCRIÇÃO RESUMIDA DO MODELO DICM O valor do capital intelectual é obtido com base no diagnóstico e análise das respostas de um questionário com 20 questões cobrindo 4 componentes principais do capital intelectual (Ativos de Mercado, Ativos Humanos, Ativos de Propriedade Intelectual e Ativos de Infra-Estrutura) e 178 questões de auditoria do capital intelectual. CitationWeighted Patents Bontis (1998) DICM Um “fator de tecnologia” é calculado com base nas patentes desenvolvidas pela organização. O capital intelectual e seu desempenho é medidos com base nos impactos e esforços de desenvolvimento e pesquisa em uma série de indicadores de desempenho, tais como o número de patentes e o custo das patentes em relação às vendas brutas. Market-to-Book Value Luthy (1998), Stewart (1998) MCM O capital intelectual é considerado como a diferença ou a razão entre o valor de mercado e o valor contábil da organização. DICM Usa hierarquias de pesos e indicadores que são combinados e enfocados em valores relativos e não-absolutos. O Valor Agregado Combinado é igual ao Valor Monetário Adicionado combinado mais o Valor de Intangível Adicionado. DICM Metodologia contábil proposta pela KPMG para calcular o valor do capital intelectual relacionado à core competence da organização. É baseado em 5 tipos de intangíveis: Ativos e Talentos, Habilidades e Conhecimento Tácito, Valores e Normas Coletivas, Tecnologia e Conhecimento Explícito, Processos de Apoio e da Gestão. IVM - Inclusive Valuation Methodology The Value Explorer ™ McPherson e Pike (2001) Andriessen e Tiessen (2000) Figura 3 - Modelos de Mensuração do Capital Intelectual (continua) 47 MODELOS DE MENSURAÇÃO PRINCIPAL(IS) AUTOR(ES) CATEGORIA(S) IAV Intellectual Asset Valuation Sullivan Jr. e Sullivan Sr. (2000) DICM Metodologia para obter o propriedade intelectual, apenas. MCM Similar ao Market-to-Book. O “q” é a relação entre o preço da ação versus o número de ações de uma empresa para a substituição dos custos dos seus ativos. Mudanças em “q” fornecem uma representação para medir a performance efetiva ou não do capital intelectual da empresa. MCM O valor de uma organização é igual ao seu Valor Contábil dividido pela soma de seu Capital Tangível mais Capital Intelectual Realizado mais Erosão de Capital Intelectual mais Vantagens Competitivas Sustentáveis). ROAM Calculado pelo ajuste do lucro líquido de uma organização com os custos relacionados aos intangíveis. As mudanças no EVA fornecem uma indicação sobre se o capital intelectual é ou não-produtivo. DICM Calcula o impacto oculto dos custos relacionados a recursos humanos, que reduzem a lucratividade de uma organização. O capital intelectual é medido pelo cálculo da contribuição dos ativos humanos mantidos pela organização, dividido pelas despesas capitalizadas com salário. ROAM Calcula o retorno adicional sobre os ativos tangíveis e, em seguida, utiliza este valor como uma base determinando a proporção de retorno atribuível aos ativos intangíveis. ROAM Os ganhos com o conhecimento são calculados como a porção de receitas normalizadas sobre as expectativas de receitas atribuíveis aos ativos contábeis. Tobin’s q IAMV - Investor Assigned Market Value™ EVA Economic Value Added™ HRCA (1) Human Resource Costing & Accounting CIV Calculated Intangible Value Knowledge Capital Earnings Tobin (1969) Standfield (2002) Stewart (1998) Johanson (1996) Luthy (1998), Stewart (1998) Lev (2000) DESCRIÇÃO RESUMIDA DO MODELO Figura 3 - Modelos de Mensuração do Capital Intelectual (continua) valor da 48 MODELOS DE MENSURAÇÃO VAIC - Value Added Intellectual Coefficient™ Skandia Navigator™ IC-Index™ Intangible Asset MonitorTM PRINCIPAL(IS) AUTOR(ES) Pulic (2000) Edvinsson e Malone (1998) Roos, Roos, Dragonetti e Edvinsson (1997) Sveiby (1998) Balanced ScorecardTM Kaplan e Norton (1997) HRCA (2) Human Resource Costing & AccountingTM Flamholtz (1985) The Invisible Balance Sheet Sveiby (1989) CATEGORIA(S) DESCRIÇÃO RESUMIDA DO MODELO ROAM Mede quanto e como o capital intelectual e o capital social criam valor eficientemente, baseados no relacionamento entre três componentes principais: Capital Empregado, Capital Humano e Capital Estrutural. SCM O capital intelectual é medido pela análise de até 164 medidas, sendo 91 baseadas no intelectual e 73 nas medidas tradicionais, cobrindo cinco perspectivas: Financeira, dos Clientes, dos Processos, de Renovação e Desenvolvimento e Humano. SCM Consolida todos os indicadores individuais que representam propriedades intelectuais e seus componentes em um único indicador de desempenho pré-determinado. As mudanças neste indicador são relacionadas às mudanças no valor de mercado da organização. SCM A administração seleciona indicadores baseados nos seus objetivos estratégicos, objetivando medir quatro perspectivas: Crescimento, Renovação, Eficiência e Estabilidade. SCM O desempenho de uma empresa é medido pelos indicadores que cobrem quatro perspectivas de foco: Financeira, dos Clientes, dos Processos Internos e de Aprendizado e Crescimento. Os indicadores são baseados nos objetivos estratégicos da empresa. DICM O trabalho pioneiro em contabilidade de recursos humanos. Uma quantidade de métodos para calcular o valor dos recursos humanos. MCM A diferença entre o valor do mercado de ações de uma organização e o valor dos seus ativos é explicada por três categorias de capital inter-relacionadas: capital humano, capital organizacional e capital clientes. Estas categorias tornaram-se realmente um padrão. Figura 3 - Modelos de Mensuração do Capital Intelectual (continua) 49 MODELOS DE MENSURAÇÃO HR Statement AFTF Accounting For The FutureTM Knowledge Audit CycleTM Meritum Guidelines VCS - Value Chain ScoreboardTM TM IC Rating PRINCIPAL(IS) AUTOR(ES) Ahonen (2000) Nash (1998) Marr et al. (2004) Meritum Guidelines (2002) Lev (2002) Edvinsson (2002) CATEGORIA(S) DESCRIÇÃO RESUMIDA DO MODELO DICM Uma aplicação gerencial do HRCA amplamente difundida na Finlândia. Os lucros e prejuízos da contabilidade dos recursos humanos dividem os custos relativos aos funcionários em três classes: custos de renovação, custos de desenvolvimento e custos de exaustão. DICM Um sistema de descontos projetados no fluxo de caixa. A diferença dos valores entre o início e do fim do AFTF do período é o valor acrescentado durante o período ao capital intelectual. SCM Um método para avaliar seis dimensões das capacidades de uma empresa em quatro passos: 1) Definição dos principais ativos de conhecimento; 2) Identificação dos principais processos de conhecimento; 3) Planejamento de ações para os processos de conhecimento e 4) Implementação e monitoração das melhorias, e, após, retornar ao 1º passo. SCM Um projeto de pesquisa financiado pela União Européia que tem produzido um quadro para gerenciamento e divulgação dos ativos intangíveis, com base em 3 passos: 1) Definição dos objetivos estratégicos; 2) Identificação dos recursos intangíveis; 3) Ações para desenvolver recursos intangíveis. Três categorias de intangíveis são consideradas: Recursos Humanos, Capital Estrutural e Capital de Relacionamento. SCM Uma matriz de indicadores não-financeiros organizados em três categorias de acordo com o ciclo de desenvolvimento do conhecimento: descoberta/aprendizado, implementação, comercialização. SCM Uma extensão do Skandia Navigator incorporando idéias de monitoração dos ativos intangíveis, avaliando eficiência, renovação e risco. Figura 3 - Modelos de Mensuração do Capital Intelectual (continua) 50 MODELOS DE MENSURAÇÃO Danish Guidelines Topplinjen/ Business IQTM NICI - National Intellectual Capital Index Magic IC-dVAL Intellectual Capital Dynamic TM Valuation FiMIAM PRINCIPAL(IS) AUTOR(ES) Mouritsen et al. (2005) Sandvik (2004) Bontis (2001) EU Research Project (2000) Bonfour (2003) Rodov e Leliaert (2002) CATEGORIA(S) DESCRIÇÃO RESUMIDA DO MODELO SCM Um projeto de pesquisa financiado pelo governo de como as empresas holandesas devem divulgar seus ativos intangíveis publicamente. A declaração de capital intelectual consiste de : 1) um conhecimento narrativo; 2) um conjunto de desafios empresariais; 3) um número de iniciativas e 4) indicadores relevantes. SCM Uma combinação de 4 indicadores de desempenho: Identidade Corporativa, Capital Humano, Capital do Conhecimento e Reputação. Desenvolvido na Noruega pela empresa de consultoria Humankapital-gruppen. SCM Uma versão adaptada do Skandia Navigator para mensurar o capital intelectual das nações, a partir de sua riqueza financeira e pelo capital intellectual (capital humano mais capital estrutural). SCM Um projeto parcialmente patrocinado pela Comunidade Européia, baseado no Skandia Navigator, calculando o capital intelectual a partir do capital humano, capital estrutural, capital de clientes e capital de inovação. SCM Calculo do capital intelectual a partir de indicadores de desempenho quatro dimensões de competitividade: Recursos e Competências, Processos, Produtos e Ativos Intangíveis e Capital Estrutural e Humano. MCM Calcula o valor monetário dos componentes do capital intelectual, numa combinação dos ativos tangíveis e intangíveis. Busca relacionar o valor do capital intelectual entre o valor contábil e o valor de mercado. Figura 3 - Modelos de Mensuração do Capital Intelectual (continua) 51 MODELOS DE MENSURAÇÃO VCI - Value Creation Index TVC - Total Value TM Creation Holistic Accounts PRINCIPAL(IS) AUTOR(ES) CATEGORIA(S) DESCRIÇÃO RESUMIDA DO MODELO SCM Desenvolvido pela Wharton Business School em parceria com a Cap Gemini Ernst & Young Center for Business Innovation e a Forbes. Utilizam diferentes indicadores de desempenho não-financeiros para calcular o valor de mercado das organizações, adaptando o modelo para cada setor de mercado, priorizando conforme o mercado em vez da visão dos executivos. DICM Um projeto do Instituto Canadense dos Contadores que utiliza fluxos de caixa projetados descontados para avaliar como os eventos contábeis afetam as atividades planejadas. SCM Proposto pelo Ramboll Group, empresa de consultoria holandesa que desde 1995 avalia seu capital intelectual. É baseado no EFQM Business Excelence Model e avalia nove categorias de indicadores de desempenho relativos a: Valores e Gestão, Processos Estratégicos, Recursos Humanos, Processos, Consultoria, Clientes, Empregados, Sociedade e Financeiros. Baum (2000) Andersen e McLean (2000) Ramboll Group (1995) Figura 3 - Modelos de Mensuração do Capital Intelectual (conclusão) Fonte: Adaptada de Sveiby (2005) A figura apresenta os principais modelos de mensuração utilizados pelas organizações, conforme descreve Sveiby (2005), tendo sido adaptada para contemplar também as considerações de Andriessen (2004), Auer (2005), Bontis (1998, 2001), Bontis et al. (1999), Chen et al. (2004), Firer e Williams (2003), Guthrie (2001), Guthrie et al. (2001), Hunter et al. (2005), Kannan e Aulbur (2004), Kaufmann e Schneider (2004), Liebowitz e Suen (2000), Petty e Guthrie (2000), Shaikh (2004), Skyrme (2004), Sullivan Jr. e Sullivan Sr. (2000), Van Den Berg (2005) e Webster (2005), além das contribuições do pesquisador na descrição resumida dos modelos. 52 Pela figura, é possível distinguir 34 modelos classificados em 4 categorias de metodologias de avaliação do capital intelectual, organizadas conforme adaptação do pesquisador à classificação sugerida por Sveiby (2005): - Direct Intellectual Capital Methods (DICM): Estimam o valor monetário dos ativos intangíveis pela identificação dos seus componentes, os quais, quando estimados, podem ser avaliados matematicamente de maneira direta ou como um coeficiente agregado. Correspondem a 29,41% dos modelos identificados. - Market Capitalization Methods (MCM): Calculam a diferença entre o valor de mercado de uma organização e os ativos dos acionistas como sendo o valor de seus ativos intangíveis. Correspondem a 14,71% dos modelos identificados. - Return On Assets Methods (ROAM): A média das receitas antes dos impostos, em um determinado período, é dividida pela média do valor dos ativos tangíveis. O resultado é o ROA (Return On Assets, o retorno sobre os ativos), que é então comparado com a média do segmento de atuação da organização. A diferença é multiplicada pela média dos seus ativos tangíveis para calcular a média anual de receitas dos intangíveis. Dividindo-se a média superior pelo custo médio de capital ou uma taxa de juros convencionada, pode-se obter uma estimativa do valor dos ativos intangíveis. Correspondem a 11,76% dos modelos identificados. - Scorecard Methods (SCM): Os componentes dos ativos intangíveis são identificados e seus indicadores são gerados e relatados nos scorecards. Os métodos tipo SCM são similares aos métodos DICM, mas se espera que nenhuma estimativa seja feita sobre o valor monetário dos ativos intangíveis, e sim que sejam efetivamente mensurados. Correspondem a 44,12% dos modelos identificados, sendo o método mais utilizado. 53 Os métodos apresentados possuem vantagens e desvantagens. Aqueles que contemplam avaliações financeiras, como ROAM e MCM, são bastante úteis em fusões, aquisições e para avaliações de mercado. Podem também ser utilizados para comparações entre organizações de um mesmo segmento, ilustrando o valor financeiro dos ativos intangíveis, um atrativo para muitos investidores. E uma vez que são construídos sobre bases contábeis tradicionais, tornam-se mais facilmente aceitos pelos adeptos da Contabilidade. Sua desvantagem diz respeito ao fato de que traduzir quase tudo em termos financeiros pode ser algo muito superficial. Os métodos ROAM são muito sensíveis às suposições das taxas de juros e têm uso limitado para finalidades da gerência abaixo do nível do Conselho de Administração. Diversos deles são de quase nenhum uso para organizações não-lucrativas, departamentos internos e organizações do setor público, fato particularmente verdadeiro para os métodos MCM. A vantagem dos métodos DICM e SCM é que eles podem criar um retrato mais detalhado da saúde das organizações, mais do que as medidas financeiras, podendo ser facilmente aplicados em todos os níveis de uma organização, pois medem os eventos mais rapidamente, relatando-os de maneira bem mais acurada do que as medidas financeiras puras, as quais não possuem medidores de avaliação estratégica. Justamente por não exigirem medições financeiras, são também muito úteis para organizações não-lucrativas, departamentos e organizações do setor público. Sua desvantagem é que os indicadores são contextuais e precisam ser personalizados para cada organização, o que torna as comparações muito difíceis. Os métodos são igualmente novos e dificilmente aceitos pelos sistemas gerenciais e pelos executivos acostumados a ver quase tudo sob a perspectiva financeira. 54 O pesquisador considera que os modelos de mensuração do capital intelectual identificados evidenciam os esforços de seus idealizadores em materializar as necessidades organizacionais no tocante à mensuração do valor real de uma organização na Sociedade do Conhecimento. Desta forma, procuram estabelecer critérios que avaliem a gestão e mensuração do capital intelectual. Porém, verificam-se certas vantagens, deficiências e limitações. Além disso, notase um elevado grau de subjetividade nos modelos propostos, o que inviabiliza que se convencione um deles para se transformar em padrão para qualquer tipo de organização, e permite somente que sejam utilizados como fonte de pesquisa em busca de um modelo que seja universalmente aceito para mensuração do capital intelectual das organizações. Neste contexto sobressaem-se os seguintes modelos de mensuração do capital intelectual, conforme verificado pelas inúmeras citações nas fontes pesquisadas: Market-to-Book, q de Tobin, Skandia Navigator, Monitor de Ativos Intangíveis, BSC - Balanced Scorecard e EVA - Economic Value Added. O método Market-to-Book utiliza metodologias simplistas que se valem do valor histórico dos ativos tangíveis para comparar com o valor de mercado, sendo, portanto, influenciado pelas variáveis que afetam o mercado, e não considera o custo de reposição destes ativos, o que prejudica seu uso para mensurar o capital intelectual. Neste método e em todos os demais, a expressão “valor de mercado” é quase sempre associada ao valor das ações da empresa. Já o método q de Tobin corrige as deficiências do modelo anterior, uma vez que se vale da razão entre o valor de mercado e o valor de reposição dos ativos físicos, mas também apresenta restrições porque não utiliza indicadores de desempenho não-financeiros que evidenciem a eficiência do uso do conhecimento 55 como recurso estratégico para alavancar resultados. Assim, este método serve muito mais como uma ferramenta complementar à análise do retorno dos investimentos do que propriamente constitui um modelo de mensuração do capital intelectual. Os modelos Monitor de Ativos Intangíveis e Skandia Navigator, embora também considerem o valor de mercado em suas matrizes de mensuração do capital intelectual, utilizam indicadores de desempenho não-financeiros, o que os diferenciam dos métodos destacados e os assemelha até mesmo no grau de subjetividade. Destaca-se o Skandia Navigator por ser o único método que combina indicadores financeiros e não-financeiros na sua concepção, além de ser o único relatado na literatura como gerador de relatório complementar às demonstrações contábeis apresentadas ao mercado. O BSC - Balanced Scorecard visa traduzir as estratégias da organização em objetivos tangíveis, e tem como principal mérito a proposição de indicadores de desempenho não-financeiros que efetuam o balanço das perspectivas interna e externa da organização, mas, em síntese, é muito mais um modelo de follow-up da consecução das estratégias do que uma ferramenta de mensuração do capital intelectual. O EVA - Economic Value Added é uma ferramenta que viabiliza a gestão baseada em valor, mensurando a agregação de riqueza a longo prazo para os acionistas, monitorando a capacidade competitiva da organização e promovendo ajustes necessários às mudanças de mercado para garantia de sua continuidade. É o que alguns autores denominam de “goodwill”. Trata-se de um instrumento de avaliação do desempenho organizacional, e não de um modelo de gestão ou de mensuração do capital intelectual. Como nenhum dos métodos apresentados é útil na apuração do capital intelectual de organizações de países emergentes, conforme critica Shaikh (2004), e 56 tampouco têm aderência ao modelo de gestão do PNQ, este trabalho propõe um método alternativo, na categoria DICM, desenvolvido a partir do Skandia Navigator, que seja capaz de mensurar o valor monetário do capital intelectual, conforme o conceito proposto pela FNQ (2005) e detalhado por Lima (2003), aderente ao modelo de gestão do PNQ, que preconiza a sustentabilidade das organizações pela satisfação das necessidades de todas as partes interessadas. A figura a seguir apresenta uma síntese dos principais modelos de mensuração do capital intelectual estudados, com seu ano de origem, fórmula de cálculo, vantagens, deficiências e limitações, abordagem de cálculo e apresentação dos resultados e perspectivas de análise: 57 Figura 4 - Comparativo dos Principais Modelos de Mensuração do Capital Intelectual Fonte: Elaborada pelo pesquisador 58 A figura a seguir ilustra a classificação dos diversos modelos estudados e suas respectivas categorias de avaliação: Market-toBook Value The Invisible Balance Sheet NO NÍVEL DA ORGANIZAÇÃO Knowledge Capital Earnings VAICTM EVATM IC-IndexTM Business IQTM Holistic Accounts NICI POR COMPONENTES IDENTIFICADOS Tobin’s q IC RatingTM MAGIC Skandia NavigatorTM Balanced ScorecardTM Meritum Guidelines Value Chain ScoreboardTM IC-dVAL Danish Guidelines Intangible Assets MonitorTM Value Creation Index Knowledge Audit CycleTM SEM AVALIAÇÃO FINANCEIRA Calculated Intangible Value IAMVTM FiMIAM CitationCitationWeighted Patents Inclusive Valuation Methodology HRCA1 HRCA2 HR Statement The Value ExplorerTM Intellectual TVCTM Asset Technology Valuation Broker AFTFTM COM AVALIAÇÃO FINANCEIRA Return On Assets Methods Scorecards Methods Market Capitalisation Methods Direct Intellectual Capital Methods Figura 5 - Classificação dos Modelos de Mensuração do Capital Intelectual Fonte: Adaptada de Sveiby (2005) 59 5.2.2 Taxonomia do capital intelectual Com base nos trabalhos de Edvinsson e Malone (1998), Joia (2001), SaintOnge (1998), Stewart (1998) e Sveiby (1998), este trabalho propõe a utilização de uma taxonomia para o capital intelectual, conforme descrita a seguir. Modernamente, admite-se que o valor de mercado de uma organização é equivalente ao somatório do seu valor contábil mais o seu capital intelectual, ou seja: VALOR DE MERCADO = VALOR CONTÁBIL + CAPITAL INTELECTUAL Esta equação mostra que o valor de uma organização tem uma porção tangível (valor contábil) e um componente intangível (capital intelectual). Isto significa que quanto mais conhecimento a organização possuir, maior será o seu valor de mercado. O valor contábil é tradicionalmente calculado pela fórmula: VALOR CONTÁBIL = CAPITAL MONETÁRIO + CAPITAL FÍSICO Ou seja, o valor contábil equivale à soma de seu capital monetário e de seu capital físico. Entretanto, como é demonstrado nos exemplos da tabela abaixo, com valores de novembro de 1966, a Nova Economia considera outros fatores para definir o valor de mercado de uma organização: 60 Tabela 1 - Comparativo do Valor de Mercado entre IBM e Microsoft EMPRESAS VM = VALOR DO MERCADO VC = VALOR CONTÁBIL VM/VC IBM Microsoft US$ 70,7 bilhões US$ 85,5 bilhões US$ 16,6 bilhões US$ 0,93 bilhões 4,26 91,94 Fonte: Adaptada de Joia (2001) Como se pode ver, o mercado percebe na Microsoft um elemento de valor intangível muito maior do que na IBM, devido ao valor do capital intelectual da Microsoft ser bem superior ao da IBM. O capital intelectual, segundo Edvinsson e Malone (1998), pode ser calculado pela fórmula: CAPITAL INTELECTUAL = CAPITAL HUMANO + CAPITAL ESTRUTURAL Note-se que o capital humano não pertence à organização, pois é uma conseqüência direta da soma das competências de seus empregados. O capital estrutural pertence a ela e pode ser negociado, pelo menos em teoria, sendo o ambiente real construído pela organização para administrar e gerar seu conhecimento de forma adequada. É composto por todos os processos internos e externos, pelo capital de relacionamento com os clientes e fornecedores e pelo capital de inovação, uma conseqüência direta da cultura organizacional e de sua capacidade de criar conhecimento novo com base no conhecimento existente para satisfazer as necessidades de todas as suas partes interessadas. A fórmula a seguir resume o que foi exposto acima: 61 CAPITAL DE INOVAÇÃO + CAPITAL ESTRUTURAL = CAPITAL DE PROCESSOS + CAPITAL DE RELACIONAMENTO Finalmente, a fórmula do capital intelectual pode ser apresentada em sua forma completa: CAPITAL INTELECTUAL = CAPITAL HUMANO + CAPITAL DE INOVAÇÃO + CAPITAL DE PROCESSOS + CAPITAL DE RELACIONAMENTO A figura a seguir ilustra todos estes conceitos, mostrando os componentes do capital intelectual: Figura 6 - Taxonomia do Capital Intelectual Fonte: Edvinsson e Malone (1998) 62 O Capital Humano inclui os conhecimentos, a experiência, a escolaridade, a criatividade, o poder de inovação, a capacidade de agir em diversas situações e a habilidade dos empregados na realização eficaz de suas atividades. O Capital Estrutural corresponde aos equipamentos, software, sistemas, nomes de produtos, marcas, imagem, patentes, direitos autorais, filosofia organizacional e outros aspectos estruturais que incrementam as competências dos empregados. Pode ser subdividido em Capital da Inovação (constituindo-se de ativos e talentos intangíveis utilizados para criação e implantação de novos produtos), Capital de Processos (processos, técnicas, métodos e programas voltados para potencializar a eficiência administrativa e operacional) e Capital de Relacionamento (corresponde aos relacionamentos da organização com seus clientes, fornecedores, parceiros, colaboradores em geral, a comunidade, o meio-ambiente, enfim com todos os seus públicos de relacionamento). 5.2.3 Skandia Navigator Para fins de melhor compreensão do modelo de mensuração do capital intelectual proposto, a seguir é descrito em detalhes o Skandia Navigator, que serviu de base para o modelo proposto nesta pesquisa. Antunes (2000) menciona que desde a década de 1990, a Skandia (www.skandia.com), maior empresa sueca do ramo de seguros e serviços financeiros, vem despertando o interesse acadêmico, empresarial e da mídia, por ter sido a primeira empresa do mundo a divulgar um relatório contendo dados sobre o capital intelectual, como um suplemento das demonstrações contábeis de 1994, calculados a 63 partir de um modelo desenvolvido pela própria empresa para demonstrar o valor de seus ativos intangíveis (SKANDIA, 1998). O modelo, denominado Skandia Navigator, contém certos valores de sucesso identificados pela equipe da empresa, que deveriam ser maximizados e incorporados à estratégia organizacional. Edvinsson e Malone (1998) explicam que esses fatores foram agrupados em cinco áreas distintas de foco - financeiro, nos clientes, nos processos, na renovação e desenvolvimento e humano - que são representadas no Skandia Navigator na forma evidenciada na figura a seguir: Figura 7 - Skandia Navigator Fonte: Edvinsson e Malone (1998) Cada foco apresentado no modelo representa as áreas nas quais a empresa concentra sua atenção e de onde provém o valor de seu capital intelectual. 64 Esclarecem, também, que o formato do Skandia Navigator (uma casa) trata de uma metáfora eleita pela própria organização. O triângulo é o sótão, constituído pelo foco financeiro, que representa o passado da empresa, demonstrado por meio de suas demonstrações contábeis. Os focos no cliente e nos processos representam o presente. A base do retângulo é voltada para o futuro, representada pelo foco na renovação e desenvolvimento. Por fim, o foco humano encontra-se no centro da casa, pois constitui o coração, a inteligência e a alma da empresa, ou seja, sua única força ativa. Comentam ainda que a combinação destas áreas de foco apontam para diversos aspectos que dão um caráter dinâmico à empresa. Por isto o relatório foi denominado “navegador” (do inglês navigator). Por fim, para cada um dos cinco focos foram estabelecidos indicadores para medir o seu desempenho. Com o objetivo de criar uma equação que traduzisse em números o valor do capital intelectual, Edvinsson e Malone (1998) estabeleceram os seguintes passos: a) definir um conjunto básico de indicadores de desempenho que possa ser aplicada a toda a organização com um mínimo de adaptações; b) obter a aprovação para este conjunto básico de indicadores de desempenho, reconhecendo que cada organização pode ter um capital intelectual adicional que necessite ser avaliado por outros indicadores de desempenho; c) estabelecer uma variável que capte as imprevisibilidades do futuro em relação aos avanços da tecnologia e às características específicas das organizações e das pessoas que nelas trabalham. Assim, chegaram à seguinte equação: 65 CAPITAL INTELECTUAL (CI) = iC Nesta fórmula, i é o Coeficiente de Eficiência, C corresponde ao Valor Monetário Absoluto do capital intelectual, sendo obtido de uma lista de valores de cada foco, mensurados monetariamente, conforme mostrado na figura a seguir: Receitas resultantes de novos negócios Investimento no desenvolvimento de novos mercados Investimento no desenvolvimento do setor atuação Investimento no desenvolvimento de novos canais de distribuição Investimento em Tecnologia da Informação (TI) aplicada a vendas, serviços e apoio Investimento em TI aplicada à administração Novos equipamentos de TI Investimento no atendimento aos clientes Investimento nos serviços aos clientes Investimento no treinamento de clientes Despesas com clientes não-relacionadas ao produto Investimento no desenvolvimento da competência dos empregados Investimento em suporte e treinamento, relativo a novos produtos, para os empregados Treinamento especialmente direcionado a empregados terceirizados Investimento em treinamento, comunicação e apoio aos empregados Investimento no desenvolvimento de parcerias/joint-ventures Despesas com upgrades nos sistemas Investimento na identificação da marca Investimento em novas patentes e direitos autorais Figura 8 - Valor Monetário Absoluto do Capital Intelectual Fonte: Adaptada de Edvinsson e Malone (1998) Segundo Skyrme (2004), o modelo original do Skandia Navigator utilizava 90 indicadores de desempenho agrupados nas 5 categorias, sendo 20 no foco financeiro, 22 no foco nos clientes, 16 no foco nos processos, 13 no foco humano e 19 no foco de renovação e desenvolvimento. Edvinsson e Malone (1998) mencionam que C enfatiza o compromisso da organização em relação ao futuro, ao passo que i alicerça este compromisso no desempenho atual. Conforme os autores, i é obtido a partir dos indicadores de 66 desempenho mais representativos de cada foco, expressos em porcentagens, conforme mostrado na figura a seguir: Participação no mercado Índice de satisfação dos clientes Índice de liderança Índice de motivação Índice de investimento em pesquisa & desenvolvimento em relação ao investimento total Índice de horas de treinamento Desempenho/meta de qualidade Retenção dos empregados Eficiência administrativa dividida pelas receitas Figura 9 - Coeficiente de Eficiência do Capital Intelectual Fonte: Adaptada de Edvinsson e Malone (1998) Dividindo-se a soma destes indicadores de desempenho por 9 (total de indicadores de desempenho), tem-se a média aritmética deles. Então, multiplicandose esta média por C (valor monetário absoluto do capital intelectual), chega-se à avaliação global do capital intelectual, por meio de um número (valor financeiro). À primeira vista, parece algo bem objetivo, mas, conforme observa Antunes (2000), dada a própria natureza de alguns indicadores de desempenho, há um certo grau de subjetividade. De qualquer forma, este é um método que se destaca entre os demais, tendo em vista a abrangência dos indicadores de desempenho utilizados, organizados sob o foco financeiro, humano, nos clientes, nos processos e na renovação e desenvolvimento. Destes, a Contabilidade contribui fortemente com o foco financeiro, fornecendo os dados constantes nas demonstrações contábeis. Vários dos indicadores de desempenho relativos ao foco humano podem ser obtidos no balanço social, a exemplo dos outros modelos apresentados. Por fim, alguns dos índices relacionados aos demais focos estão igualmente disponíveis nos sistemas contábeis. 67 Em suma, verifica-se que, segundo este modelo, as medições do capital intelectual referem-se a indicadores de desempenho não-financeiros que conduzem a resultados financeiros. Apresenta-se como um modelo dinâmico e contínuo, cuja apenas a identificação de tais parâmetros não é segurança de bons resultados. O aspecto dinâmico conduz à necessidade de constante alimentação dos componentes que integram o capital intelectual, o que deverá ser contemplado no de gestão da organização. A figura a seguir resume o modelo matemático do método Skandia Navigator: Fatores Indicadores de Desempenho Utilizados Metas Resultados % Alcance i (%) Coeficiente de Eficiência C (R$) Valor Monetário Absoluto Capital Intelectual: CI = iC Patrimônio Líquido (Valor Contábil) Valor de Mercado (Valor Contábil + Capital Intelectual) Figura 10 - Modelo Matemático do Método Skandia Navigator Fonte: Elaborada pelo pesquisador Encerrando este capítulo, a figura a seguir apresenta os objetivos específicos da pesquisa, com seu desdobramento relativo às dimensões abordadas e aspectos estudados, bem como os autores referenciados que a embasam: 68 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA PESQUISA DIMENSÕES ABORDADAS Nova Economia a) Identificar e classificar os principais modelos de mensuração do capital intelectual utilizados pelas organizações com suas premissas, abordagens de cálculo, vantagens e deficiências. Gestão do Conhecimento ASPECTOS ESTUDADOS Sociedade do Conhecimento Davenport e Prusak (1998), Drucker (1993), Edvinsson (2003), Göran Roos e Jacobsen (2001), Green e Ryan (2005), Joia (2000), Rezende (2003), Seetharaman et al. (2002), Shulver et al. (2000), Stewart (1998, 2002), Sveiby (1998), Toffler (1985) Capital Intelectual Andriessen (2004), Bukowitz e Willians (2002), Fitz-Enz (2001), Kaufmann e Schneider (2004), Lima (2003), Stewart (1998), Saint-Onge (1998) b) Analisar os modelos identificados quanto a sua aderência em relação ao modelo de gestão do PNQ. c) Avaliar os critérios utilizados pelos modelos identificados frente aos do modelo de gestão do PNQ e estabelecer os critérios para a mensuração do capital intelectual pelo modelo proposto. Capital Intelectual AUTORES REFERENCIADOS Modelos de Mensuração Ahonen (2000), Andersen e Mclean (2000), Andriessen (2004), Andriessen e Tiessen (2000), Antunes (2000), Auer (2005), Baum (2000), Bonfour (2003), Bontis (1998, 2001), Bontis et al. (1999), Brooking (1996), Chen et al. (2004), Edvinsson (2002), Edvinsson e Malone (1998), EU Research Project (2000), Firer e Williams (2003), Flamholtz (1985), FNQ (2005), Gomes (2004), Guthrie (2001), Guthrie et al. (2001), Hunter et al. (2005), Johanson (1996), Joia (2001), Kannan e Aulbur (2004), Kaplan e Norton (1997), Lev (2000, 2002), Liebowitz e Suen (2000), Luthy (1998), Marr et al. (2004), McPherson e Pike (2001), Meritum Guidelines (2002), Mouritsen et al. (2005), Nash (1998), Petty e Guthrie (2000), Pulic (2000), Ramboll Group (1995), Rodov e Leliaert (2002), Roos et al. (1997), Sandvik (2004), Shaikh (2004), Skyrme (2004), Standfield (2002), Stewart (1998), Sullivan Jr. e Sullivan Sr. (2000), Sveiby (1989, 1998, 2001, 2005), Tobin (1969), Van Den Berg (2005), Webster (2005) Figura 11 - Referencial Bibliográfico da Pesquisa (continua) 69 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA PESQUISA d) Testar e analisar a aplicabilidade do modelo proposto às empresas estudadas. DIMENSÕES ABORDADAS ASPECTOS ESTUDADOS Capital Intelectual Modelo de Mensuração: Skandia Navigator PNQ Modelo de Gestão do PNQ Metodologia Científica Métodos de Pesquisa e Modelagem AUTORES REFERENCIADOS Edvinsson e Malone (1998) FNQ (2005) Ansoff e McDonnell (1992), Campomar (1991), Cervo e Bervian (2002), Checkland e Scholes (1999), Earl (1997), Gil (2002), Godoy (1995), Gomes (2004), Halas Jr. (1996), Mattar (2001), Mintzberg (1989), Moraes (2003), Pidd (1998), Wilson (2001), Winter (1998), Yin (2005) Figura 11 - Referencial Bibliográfico da Pesquisa (conclusão) Fonte: Elaborada pelo pesquisador 70 6 MÉTODO O presente capítulo apresenta o método desenvolvido para estruturar o processo de seleção e obtenção de dados, registros e análise, objetivando ao posicionamento da pesquisa em sua contextualização, assim como meio de apresentá-la e instrumentalizá-la. Para Cervo e Bervian (2002), o método científico é um conjunto ordenado de procedimentos utilizados para a pesquisa e a demonstração da verdade, os quais assumem diferentes abordagens e níveis de aprofundamento, conforme o objeto de estudo e seus objetivos. Para a realização deste trabalho, foi utilizada uma abordagem qualitativa, devido a sua adequação e utilidade no estudo das organizações, bem como porque esta abordagem oferece a possibilidade de se compreender melhor um fenômeno no contexto em que ele ocorre, conforme sugerido por Godoy (1995). Para Campomar (1991), o uso de métodos qualitativos tem crescido em importância nas pesquisas acadêmicas em Administração e, entre eles, o estudo de casos merece destaque por sua utilidade. O estudo apresenta caráter exploratório, pois visa aumentar o conhecimento existente sobre como as organizações analisadas utilizam as questões relativas à 71 avaliação de seu capital intelectual de modo aderente ao modelo de gestão do PNQ. Com isto, pretendeu-se explorar o tema e incrementar o conhecimento sobre o assunto, conforme recomenda Gil (2002). Sob esta ótica, o estudo permitiu a análise das empresas de modo aprofundado, tendo em vista o exame detalhado de uma situação em particular, como recomenda Godoy (1995). 6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Cervo e Bervian (2002) argumentam que o estudo exploratório é aconselhado quando existe pouco conhecimento sobre o tema a ser abordado e quando inexistem hipóteses elaboradas a serem testadas. Ainda sobre a pesquisa exploratória Mattar (2001, p. 18) diz: A pesquisa exploratória visa prover o pesquisador de um maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. Por isso, é apropriada para os primeiros estágios da investigação, quando a familiaridade, o conhecimento e a compreensão do fenômeno por parte do pesquisador são, geralmente, insuficientes ou inexistentes. Para Gil (2002), a pesquisa exploratória tem como um de seus principais objetivos propiciar uma familiaridade com o problema de forma a instigar sua compreensão, assumindo, muitas vezes, a forma de um estudo de caso. De acordo com Yin (2005), o estudo de caso é uma investigação empírica que analisa um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos. Nesta pesquisa, as verificações e constatações da aplicação prática do modelo de mensuração do capital intelectual proposto foram fundamentadas em 72 estudo de casos múltiplos baseados e caracterizados pelo método exposto por Yin (2005), que sustenta que um estudo de caso é uma investigação empírica que analisa um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo especialmente recomendado quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas. De forma sintética, Yin (2005) apresenta quatro aplicações para o método de estudo de caso: 1) para explicar ligações causais nas intervenções na vida real que são muito complexas para serem abordadas por surveys ou pelas estratégias experimentais; 2) para descrever o contexto da vida real no qual a intervenção ocorreu; 3) para fazer uma avaliação, ainda que de forma descritiva, da intervenção realizada; 4) para explorar aquelas situações onde intervenções avaliadas não possuam resultados claros e específicos. Neste trabalho, os estudos de casos foram utilizados para descrever uma situação real de aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto com vistas à sustentabilidade das organizações estudadas, de modo aderente ao modelo de gestão do PNQ, explorando e ampliando assim as possibilidades de obtenção de melhores resultados para as organizações que adotam o modelo de gestão do PNQ. 73 6.2 SELEÇÃO DOS CASOS PARA ESTUDO Com o objetivo de combinar interesses, foram considerados os seguintes critérios para a escolha das organizações que constituem os casos para estudo desta pesquisa: a) interesse da organização no desenvolvimento do trabalho em seu próprio sistema de gestão, inclusive com apoio financeiro à pesquisa; b) compatibilidade do sistema de gestão da organização com o modelo de gestão do PNQ, permitindo assim a coleta dos dados necessários ao modelo de mensuração do capital intelectual proposto. Os estudos de casos foram desenvolvidos com a análise de duas organizações selecionadas a partir dos requisitos acima mencionados: Terra e Hospital Moinhos de Vento. Propositadamente, o modelo de gestão do Hospital Moinhos de Vento é baseado no PNQ, e o do Terra Networks Brasil, não. 6.3 MODELAGEM O conceito de modelagem utilizado nesta pesquisa foi baseado em Pidd (1988, p. 25), segundo o qual “um modelo é uma representação externa e explícita de parte da realidade vista pela pessoa que deseja usar o modelo para entender, mudar, gerenciar e controlar parte daquela realidade.” Pidd (1998) recomenda que é importante entender as limitações de qualquer modelo, uma vez que estes sempre serão uma simplificação e uma representação aproximada de algum aspecto da realidade e, portanto, “não precisam ser exatos para serem úteis.” 74 Na Sociedade do Conhecimento, complexa e interconectada, é preciso encontrar maneiras de explorar as possíveis conseqüências das decisões e planos antes de tomar qualquer ação. Neste sentido, “os modelos são simplificações que, se usadas com sensibilidade, fornecem uma maneira de gerenciar o risco e a incerteza, como ‘ferramentas para pensar’” (PIDD, 1998). Mintzberg (1989) comenta sobre a validade da utilização de modelos argumentando que a modelagem deve dar sentido à visão estratégica que emerge à medida que as estratégias são montadas. Assim, “os modelos são reconhecidos como ferramentas para pensar, pois fornecem maneiras pelas quais as pessoas podem refletir no que é proposto e decidir se certas coisas deveriam ou não ser feitas e certos riscos assumidos”, sendo, portanto, muito úteis na formulação de estratégias. Estas idéias são reforçadas por Winter (1998, p. 263), que considera: Um modelo corresponde a um grau de definição de problema que ocupa uma posição intermediária na seqüência entre uma lista longa e indiscriminada de coisas que podem importar, de um lado, e um modelo teórico bastante controlado, do outro. Dentro de um modelo, há espaço para uma ampla gama de formulações mais específicas do problema, mas também existe estrutura suficiente fornecida pelo próprio modelo para guiar e focalizar a discussão. Por outro lado, uma variedade rica de modelos diferentes pode representar abordagens plausíveis para um problema apresentado. Com base nestes pressupostos, o modelo relatado a seguir pretende ser um dentre muitos que podem ser utilizados em um futuro próximo pelas organizações brasileiras e representa um esforço para se superar o efeito de “paralisia por análise” citado por Ansoff e McDonnell (1992), extremamente comum quando se lida com “coisas intangíveis”, levando a discussões intermináveis, sem resultados práticos. Segundo os autores, “um modelo é útil não por causa do excesso de rigor que aplica a si mesmo, medido pelo número de variáveis levadas em consideração, mas pelo 75 fato de modelar e expressar adequadamente a realidade a que se refere. A complexidade não é, necessariamente, sinônimo de bons resultados, e é preciso terse alguma flexibilidade quando se refere a tópicos com os quais seja necessária uma boa dose de senso crítico”. Relativamente ao tema deste trabalho, Earl (1997) sugere que a atribuição de valor ao capital intelectual de uma organização só vale a pena ser mensurada se houver ligação deste com a sua estratégia. Com base na estratégia é possível avaliar a declaração de missão da organização e seus planos de ação abrangentes e específicos, de modo que a estratégia, conforme a FNQ (2005, p. 51), passe a ser: [...] o caminho escolhido para posicionar a organização de forma competitiva e garantir sua continuidade no longo prazo, com a subseqüente definição de atividades e competências inter-relacionadas para entregar valor de maneira diferenciada às partes interessadas. Para calcular a intangibilidade do capital intelectual, deve-se definir e classificar alguns indicadores de desempenho de acordo com a taxonomia sugerida. A partir daí, os estrategistas devem escolher os pesos associados a cada um destes indicadores de desempenho, conforme a importância de sua avaliação para a consecução dos objetivos estratégicos da organização. O capital intelectual pode, então, ser calculado pela combinação dos dados disponíveis para os indicadores de desempenho selecionados e ponderados. A metodologia de modelagem SSM, utilizada neste trabalho, foi escolhida por ser especialmente útil na utilização do conceito de sistema aplicado à Administração, e foi desenvolvida por Checkland e Scholes (1999) e aprimorada por Wilson (2001) para ajudar a resolver problemas pouco estruturados e complexos que não podem ser facilmente explicitados por envolverem vários 76 componentes humanos, apresentando, em razão destas características, diferentes percepções do mesmo problema ou objetivo e as diferentes visões de mundo das diversas partes interessadas envolvidas. Chekland e Scholes (1999) descrevem a metodologia SSM em sete passos, conforme apresentada na figura a seguir, adaptada pelo pesquisador no tocante à terminologia utilizada. Note-se que, conforme realizado nesta pesquisa, os estágios 1, 2, 5, 6 e 7 ocorrem no “mundo real”, enquanto os estágios 3 e 4 se dão no “mundo sistêmico”. No Estágio 1 – Análise da Situação-Problema procura-se observar a situaçãoproblema e coletar o máximo de informações sobre ela com vistas a compor uma “estrutura” a partir das visões de todos os envolvidos no problema. Essas informações são geralmente coletadas com entrevistas, brainstorming, discussões em grupo, observação e coleta de dados. No Estágio 2 – Explicitação da Situação-Problema busca-se definir a situação em que o problema ocorre. Para tanto, recomenda-se que isso seja feito a partir do projeto de um esquema que seja o mais rico possível em detalhes, incluindo informações sobre a estrutura e o processo e sua forma de relacionamento. Deve-se considerar as partes interessadas envolvidas, seus sentimentos, convicções e necessidades particulares, além de potenciais conflitos dentro do sistema, evitando a utilização de conceitos preconcebidos. No Estágio 3 – Formulação das Definições Essenciais do Modelo são discutidas e elaboradas as definições essenciais do modelo em questão, isto é, aquelas relativas às características centrais da situação-problema. É como se buscasse definir uma “missão” da situação sob análise. Para formular as definições 77 essenciais, propõe-se a utilização do mnemônico CATWOE como guia ou chekc-list, onde: C = Clients (clientes internos e externos) A = Actors (executores) T = Transformation (entrada -> processo de transformação -> saída) W = Weltanschauugen (visão de mundo ou a prespectiva sob a qual a situação é percebida pelos envolvidos) O = Owner (proprietário, ou aquele que tem autoridade para decidir sobre o futuro do modelo) E = Environment (ambiente e seus fatores influentes) Este mnemônico ajuda a definir as atividades realizadas na situaçãoproblema em questão, bem como o ambiente em que ela ocorre. Ou seja, um determinado processo de transformação (T) tem lugar um certo contexto (W). Esse processo é realizado para os clientes (C) por atores (A). Tal processo é controlado pelos proprietários (O) do sistema, que se encontram dentro de um ambiente (E). No Estágio 4 – Construção do Modelo Conceitual é elaborado o modelo conceitual ideal, baseado nas definições essenciais identificadas no estágio anterior. Entende-se por modelo conceitual um conjunto estruturado de atividades necessárias para se atingir os objetivos esperados nas definições essenciais, bem como as relações existentes entre essas ações. Como este estágio ocorre no âmbito sistêmico e não no real, eventualmente pode ser que surjam mais de uma proposta de modelo, baseada nas reflexões dos atores envolvidos. O modelo resultante não deve ser baseado na realidade ou num modelo já existente, e deve ser viável. Para tanto, deve ter um número mínimo de ações necessárias que reflitam o processo 78 descrito nas definições essenciais, bem como seu fluxo, a fim de tentar organizar os sunsistemas contidos no modelo. Uma vez elaborado, o modelo deve ser validado para verificação da existência de deficiências, pela comparação com um outro sistema formal de referência. No Estágio 5 – Comparação do Estágio 4 com 2, o modelo elaborado no estágio anterior servirá de base para uma comparação com a realidade expressa no esquema resultante do Estágio 2. É importante que todas as partes interessadas envolvidas no sistema participem, a fim de expressarem suas diferentes opiniões, à luz de suas Weltanschauungen sobre a situaçao. A partir das diferenças percebidas são levantados os pontos para a discussão do problema, bem como soluções e mudanças sugeridas, que são o objetivo principal deste estágio. No Estágio 6 – Mudanças no Modelo Proposto as mudanças propostas no estágio anterior são discutidas, verificando-se se são viáveis e desejáveis. Para tanto, deve-se considerar se as mudanças serão aceitas e incorporadas pela cultura existente, bem como a viabilidade econômico-financeira dessa implementação. Finalmente, no Estágio 7 – Plano de Açao para Melhorar a SituaçãoProblema, discute-se e resolve-se como as ações serão implementadas, buscandose melhorar ou eliminar a situação-problema em questão. 79 6. Mudanças no modelo proposto 1. Análise da situação-problema 7. Plano de ação para melhorar a situação-problema MUNDO REAL 2. Explicitação da situação-problema 5. Comparação de 4 com 2 4. Construção do modelo conceitual 3. Formulação das definições essenciais do modelo 4b. Outras conceituações sistêmicas PENSAMENTO SISTÊMICO E MODELAGEM 4a. Modelos sistêmicos de referência Figura 12 - Metodologia SSM – Soft System Methodology Fonte: Adaptada de Checkland e Scholes (1999) 6.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS A pesquisa se desenvolveu ao longo de cinco etapas distintas: 1) revisão da literatura, 2) modelagem e desenvolvimento do modelo proposto, 3) aplicação do modelo proposto às empresas estudadas e coleta de dados, 4) análise dos dados e 5) apresentação dos resultados obtidos. A revisão bibliográfica esteve presente em todas as fases da pesquisa, inicialmente proporcionando um embasamento teórico para o início do estudo e, posteriormente, fornecendo o referencial necessário para a realização de comparações, auxiliar no entendimento e na apresentação de resultados. Como 80 principais fontes de referência foram utilizados livros e periódicos nacionais e internacionais sobre os temas: Nova Economia, Gestão do Conhecimento, Capital Intelectual e Modelo de Gestão do PNQ. A realização da pesquisa partiu do estudo da literatura sobre o modelo de gestão do PNQ, incluiu a análise da literatura sobre capital intelectual e dos principais modelos de mensuração utilizados pelas organizações, bem como a análise da literatura sobre modelagem empresarial e suas principais metodologias utilizadas. A partir destes estudos, foi modelado e desenvolvido o modelo de mensuração do capital intelectual proposto, tendo por base o Skandia Navigator de Edvinsson e Malone (1998). A modelagem realizada seguiu as recomendações conceituais propostas por Pidd (1998) e a metodologia SSM - Soft System Methodology formulada por Checkland e Scholes (1999) e aprimorada por Wilson (2001). Finalmente, a estrutura do modelo proposto foi acrescida das recomendações de Halas Jr. (1996), acrescentando indicadores derivados do capital intelectual que não estão presentes na estrutura original do Skandia Navigator, mas que são úteis à análise organizacional. Para a coleta dos dados, foram elaborados um questionário para coleta de dados e um roteiro para a realização de entrevistas semi-estruturadas em profundidade, os quais foram validados por dois experts no tema. A seguir, o referencial teórico também foi utilizado para o desenvolvimento do modelo de mensuração do capital intelectual, com suas premissas, variáveis e fórmula de cálculo. A coleta dos dados para aplicação ao modelo proposto e a conseqüente mensuração do capital intelectual das organizações estudadas foi realizada, 81 primeiramente, pela verificação de documentos tais como planos estratégicos, relatórios da gestão, relatórios gerenciais, manuais organizacionais e balanços e demonstrações contábeis e de resultados oriundas de sistemas de informações gerenciais dos três últimos exercícios. Estes documentos foram escolhidos pela abrangência típica das informações que contêm, as quais permitem com mais facilidade a associação de resultados alcançados com o conceito de capital intelectual utilizado. Num segundo momento, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas em profundidade com os principais gestores das organizações estudadas para a obtenção de informações complementares relevantes para a compreensão do modelo de gestão da organização, num primeiro momento, e para a análise do modelo proposto, num segundo momento, após a aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto à organização. Em cada organização estudada, foram 6 realizadas entrevistas: com o CEO e os gestores responsáveis pelas áreas de Recursos Humanos, Marketing, Financeiro, Compras/Suprimentos e Responsabilidade Social, quando pertinente. A escolha destes gestores é devida ao fato de que são eles os responsáveis pelas áreas das quais são necessárias informações sobre os resultados dos indicadores de desempenho que compõem o modelo de mensuração do capital intelectual proposto. O roteiro de entrevista foi concebido a partir de Lima (2003), no tocante às questões 1 a 6 e 18 a 20, e a partir da FNQ (2005, p. 23-42), para as questões 7 a 17, conforme apresentado no APÊNDICE B, tendo sido validado por dois experts no assunto. As entrevistas foram gravadas, quando consentidas pelos gestores, para facilitar o levantamento de dados e informações após a sua realização. 82 Finalmente, foram coletadas informações com a aplicação de questionário padronizado fechado para autopreenchimento, conforme modelo no APÊNDICE A, para a obtenção dos dados dos indicadores de desempenho específicos que comporão o modelo de mensuração do capital intelectual de cada organização. Os dados coletados passaram por triangulação para verificação da sua aderência em relação ao observado nos documentos, às percepções dos executivos entrevistados e ao estado da arte da teoria estudada sobre o assunto, com análise textual, conforme orienta Moraes (2003). A partir da análise dos dados coletados, foi efetuada a aplicação do modelo proposto como estudo de caso real nas organizações selecionadas, analisando-se a correlação entre o valor do seu capital intelectual e o seu valor de mercado. A análise dos resultados do modelo aplicado a cada organização permitiu a detecção de sugestões de melhorias no modelo proposto, assim como de novas pesquisas sobre o tema. Os três primeiros objetivos específicos desta pesquisa, referentes à identificação e classificação dos principais modelos de mensuração do capital intelectual utilizados pelas organizações, com suas premissas, abordagens de cálculo, vantagens e deficiências, à análise dos modelos identificados quanto a sua aderência em relação ao modelo de gestão do PNQ e à análise dos critérios utilizados pelos modelos, foram atingidos por meio da pesquisa bibliográfica realizada, na qual se procurou, em livros e periódicos acionais e internacionais, o que os autores e pesquisadores relatam sobre modelos de mensuração do capital intelectual no período de 1991 a 2005. Após a leitura dos livros e artigos, aqueles que tratavam mais detalhadamente dos temas pertinentes ao estudo foram analisados e incorporados à pesquisa. 83 A partir da consecução dos três primeiros objetivos específicos, e ainda com o apoio da revisão da literatura, o novo modelo de mensuração do capital intelectual proposto, baseado no modelo Skandia Navigator e aderente ao modelo de gestão do PNQ, foi testado nas empresas estudadas, sendo sua aplicabilidade analisada pelos gestores destas empresas, cumprindo assim o quarto objetivo específico e, por conseqüência, o objetivo geral da pesquisa. 6.5 DESENHO DA PESQUISA Segundo Yin (2005, p. 41), [...] cada tipo de pesquisa empírica possui um projeto de pesquisa implícito, que, na verdade, nada mais é do que a seqüência lógica que conecta os dados empíricos às questões de pesquisa iniciais do estudo e, em última análise, às suas conclusões. A figura a seguir apresenta o desenho da pesquisa para ilustrar a lógica seguida no desenvolvimento deste trabalho: Abordagem Estratégia Tipo de Estudo Técnicas de Coleta de Dados Plano de Análise dos Dados Unidades de Análise Estudo exploratório qualitativo Estudos de casos múltiplos (2) Corte transversal Entrevistas semi-estruturadas em profundidade Aplicação do questionário do tipo fechado para coletar dados para o modelo Análise de documentos e registros das empresas estudadas Triangulação: estado da arte, entrevistas e questionários Análise textual Conceito de capital intelectual Modelos de mensuração do capital intelectual Figura 13 - Desenho da Pesquisa Fonte: Elaborada pelo pesquisador 84 A figura a seguir demonstra a cronologia dos eventos para atender à realização da pesquisa: Fase de Pesquisa mensuração do capital • Desenvolvimento do modelo de mensuraç Revisão Fase deda Revisão Literatura Bibliográ Bibliográfica • intelectual proposto, com a definiç definição de suas variá variáveis e fórmula de cá cálculo Elaboraç Elaboração do roteiro de entrevista semisemi-estruturada Validação do roteiro de entrevista com 2 experts • Validaç Elaboração do questioná questionário de coleta dos dados do modelo • Elaboraç proposto • Capital Capital Intelectual: Intelectual modelos de mensuraç Modelos mensuração • Validaç Validação do questioná questionário com 2 experts análise textual de documentos inin-loco • Consulta e aná semi-estruturadas com o CEO e 5 executivos de • Entrevistas semi- • PNQ • Modelo de gestão do para–atender PNQ Prêmio as Nacional necessidades da Qualidade de todas as partes interessadas cada empresa estudada para coleta de dados e validaç validação do modelo proposto Aplicação do questioná questionário inin-loco aos mesmos entrevistados • Aplicaç Triangulação de dados e aná análise textual • Triangulaç Aplicação do modelo desenvolvido às empresas estudadas, • Aplicaç com a mensuraç mensuração de seu capital intelectual • Capital Intelectual: Modelagem Empresarial modelos de mensuraç ção mensura Metodologia de modelagem Fase de Resultados damodelo pesquisa desenvolvido • Resultados Revisão do proposto eeconsideraç ções finaisfinais Análise do modelo considera • Aná Resultados da pesquisa consideraç ções considera Slide 6 Figura 14 - Desenho da Pesquisa Fonte: Elaborada pelo pesquisador 85 7 RESULTADOS DA PESQUISA Este capítulo descreve os resultados da pesquisa, incluindo a modelagem do modelo de mensuração do capital inetelectual proposto e sua aplicação às empresas estudadas. 7.1 MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL PROPOSTO A composição e a mensuração do capital intelectual é ainda um exercício que gera controvérsias. Edvinsson e Malone (1998) propõem que o capital intelectual seja a média aritmética simples de todos os principais componentes em jogo. Por outro lado, o modelo proposto neste trabalho utiliza uma média aritmética ponderada ponderada com pesos atribuídos para os indicadores de desempenho em função da sua importância para a consecução das estratégias organizacionais a eles associadas. Esta ponderação deve ser entendida como uma forma de refinar a formulação, o desdobramento e a operacionalização das estratégias, oferecendo feedback e permitindo que elas cumpram com sua missão de atender as necessidades de todas as partes interessadas. 86 A partir destas premissas, a fim de estabelecer uma equação mais simples que traduza em números o valor do capital intelectual, o modelo proposto utiliza a mesma fórmula do Skandia Navigator, onde: CAPITAL INTELECTUAL (CI) = iC Nesta fórmula, i é o Coeficiente de Eficiência da organização nos processos relacionados à geração do capital intelectual, ou seja, os que contribuem diretamente para a satisfação de todas as partes interessadas. É obtido pela média aritmética ponderada dos indicadores de desempenho críticos associados para avaliar este grau de eficiência. C corresponde ao Valor Monetário Absoluto investido nos processos avaliados exatamente por estes indicadores de desempenho e que não constam no Balanço Patrimonial da organização. Este modelo proposto vincula a mensuração do valor do capital intelectual ao modelo de gestão do PNQ, que incorpora os conceitos da administração holística, na qual a missão de uma organização é alcançar seus objetivos estratégicos pela satisfação das necessidades de todas as partes interessadas. Neste contexto, um processo de gestão estratégica pode ser demonstrado pela figura a seguir: 87 VF VISÃO DE FUTURO M MISSÃO OEi OBJETIVO ESTRATÉGICO I SATISFAÇÃO DOS CLIENTES OBJETIVO ESTRATÉGICO II SATISFAÇÃO DOS ACIONISTAS OBJETIVO ESTRATÉGICO III SATISFAÇÃO DOS EMPREGADOS OBJETIVO ESTRATÉGICO IV SATISFAÇÃO DOS FORNECEDORES OBJETIVO ESTRATÉGICO V SATISFAÇÃO DA COMUNDADE E SOCIEDADE PAEij PLANO DE AÇÃO ESPECÍFICO PLANO DE AÇÃO ESPECÍFICO PLANO DE AÇÃO ESPECÍFICO PLANO DE AÇÃO ESPECÍFICO PLANO DE AÇÃO ESPECÍFICO PEI PE PLANO ESTRATÉGICO Figura 15 - Processo Genérico de Gestão Estratégica Fonte: Adaptada de Joia (2001) Conforme a figura, a realização de cada plano de ação específico (PAEij) requer o estabelecimento de alguns indicadores de desempenho (IDij) para que a organização possa avaliar o atingimento dos respectivos Objetivos Estratégicos (OEi). Para fins de simplificação do raciocínio, considerou-se apenas um único objetivo estratégico abrangente para cada parte interessada. A figura a seguir demonstra, numa visão de contribuição deste trabalho para a academia e a sociedade, como pode ser realizado o alinhamento e a integração do processo de formulação de estratégias em uma organização, vinculando objetivo estratégico parte interessada correspondente planos de ação específicos prioridade (peso) indicadores de desempenho. O entendimento desta lógica é relevante para a compreensão do modelo proposto, pois explicita sua aderência ao modelo de gestão do PNQ. 88 ALINHAMENTO E INTEGRAÇÃO DE ESTRATÉGIAS PLANO ESTRATÉGICO INTEGRADO OBJETIVOS ESTRATÉGICOS PARTES INTERESSADAS PLANOS DE INDICADORES PRIORIDADES DE AÇÃO ESPECÍFICOS DESEMPENHO OE-I CLIENTES PAE1 PI1 IDI11 IDI12 IDI13 OE-II ACIONISTAS/ SÓCIOS PAE2 PII2 IDII21 IDII22 IDII23 OE-III EMPREGADOS PAE3 PIII3 IDIII31 IDIII32 IDIII33 OE-IV FORNECEDORES PAE4 PIV4 IDIV41 IDIV42 IDIV43 OE-V COMUNIDADE/ SOCIEDADE PAE5 PV5 IDV51 IDV52 IDV53 Figura 16 - Alinhamento e Integração de Estratégias Fonte: Adaptada de Joia (2001) A contribuição do pesquisador em relação a Joia (2001) está no estabelecimento da prioridade de cada plano de ação específico, que orienta por sua vez a priorização e o agendamento das ações da organização deve ser estabelecido a partir de informações de necessidades das partes interessadas, constituindo desta forma um rol de indicadores de desempenho ao qual devem ser atribuídos metas e pesos. A figura a seguir ilustra a aderência do modelo proposto com o Skandia Navigator e o modelo de gestão do PNQ, demonstrando a real contribuição deste trabalho para o tema estudado: 89 Modelo Proposto Skandia Navigator Modelo de Gestão do PNQ • Foco dos clientes • Critério 3 - Clientes todo e Critério 8, item 8.1 - Resultados relativos aos clientes e ao mercado • Busca da satisfação da parte interessada sócios/acionistas • Foco financeiro • Critério 7, item 7.4 - Gestão econômico-financeira e Critério 8, item 8.2 - Resultados econômico-financeiros • Busca da satisfação da parte interessada empregados • Foco humano • Critério 6 - Pessoas todo e Critério 8, item 8.3 - Resultados relativos às pessoas • Foco dos processos • Critério 7, item 7.3 - Gestão de processos relativos aos fornecedores e Critério 98, item 8.4 - Resultados relativos aos fornecedores • Foco da renovação e do desenvolvimento • Critério 4 - Sociedade todo e Critério 8, item 8.6 - Resultados relativos à sociedade • Busca da satisfação da parte interessada clientes • Busca da satisfação da parte interessada fornecedores • Busca da satisfação da parte interessada comunidade/sociedade Figura 17 - Aderência do Modelo de Gestão Proposto com o Skandia Navigator e o Modelo de Gestão do PNQ Fonte: Elaborada pelo pesquisador Com base nesta lógica, retoma-se a fórmula de cálculo do capital intelectual proposta: CAPITAL INTELECTUAL (CI) = iC Nela, o valor de C é obtido de uma relação que contém os investimentos da organização para aumentar a satisfação de todas as partes interessadas. Por outro lado, o valor de i é obtido pela média aritmética ponderada dos resultados dos indicadores de desempenho avaliados para identificar a satisfação 90 das necessidades de todas as partes interessadas, expressos em porcentagens indicativas do alcance de suas metas. Naturalmente, alguns desses indicadores de desempenho são expressos em valores com números absolutos ou como quantias em dinheiro. No entanto, sempre há uma maneira de converter esses valores em percentagens, seja pela divisão deles por outros valores, seja pela comparação com benchmarks ou metas. Note-se que o uso de pesos para definir a prioridade estratégica dos indicadores de desempenho permite a utilização de uma média aritmética ponderada em vez de uma média aritmética simples, como no Skandia Navigator, aumentando a correlação estatística do modelo. A ponderação dos pesos de cada indicador de desempenho, numa esca de 1 a 5, é obtida pelo consenso da alta direção da organização em relação a sua contribuição para o atingimento de suas estratégias, sendo que o peso 5 indica prioridade maior para a organização e o peso 1 indica prioridade menor para a organização. Quando a organização não mede a satisfação de alguma parte interessada, neste modelo atribui-se valor nulo ao percentual de alcance do indicador de desempenho correspondente, como forma de penalizar a organização pela ausência dos conceitos da administração holística e para estimular seus gestores a adotar o modelo de gestão baseado nos critérios de excelência do PNQ. É importante observar que, mesmo não explicitada, é bem provável que haja uma relação benéfica gerada pelo valor monetário investido em uma determinada parte interessada para as demais, de modo indireto. Porém, para fins deste trabalho, os valores monetários foram alocados conforme as apropriações contábeis 91 realizadas pelas empresas em seus planos de contas, e por isto considerados integral e exclusivamente dedicados à parte interessada correspondente. O capital intelectual é então calculado pela multiplicação da média aritmética ponderada dos resultados dos indicadores de desempenho pelo total de recursos financeiros investidos para a consecução dos objetivos da organização para satisfazer todas as partes interessadas. Em síntese, o resultado a que se chega expressa quanto dos valores financeiros investidos pela organização para a realização de suas estratégias, que em suma corresponde à busca da satisfação de todas as suas partes interessadas, efetivamente foram úteis para a geração de resultados neste sentido. Assim, o capital intelectual diz respeito ao aproveitamento dos valores investidos que efetivamente contribuíram para o cumprimento da missão da organização, em consonância com a definição de capital intelectual utilizada neste trabalho e de modo aderente ao modelo de gestão do PNQ O valor de mercado expressa o valor da organização no mercado, correspondendo ao somatório do seu patrimônio líquido, mais o seu capital intelectual. VALOR DE MERCADO = PATRIMÔNIO LÍQUIDO + CAPITAL INTELECTUAL Complementarmente, conforme sugere Halas Jr. (1996), o coeficiente de valoração do conhecimento representa o valor do capital intelectual em relação ao patrimônio líquido da organização, e assim expresso: 92 COEFICIENTE DE VALORAÇÃO DO CONHECIMENTO = CAPITAL INTELECTUAL PATRIMÔNIO LÍQUIDO Finalmente, o índice de valor agregado diz respeito à razão do valor de mercado, incluindo o capital intelectual, pelo patrimônio líquido. ÍNDICE DE VALOR AGREGADO = VALOR DE MERCADO PATRIMÔNIO LÍQUIDO As figuras a seguir resumem o modelo de mensuração do capital intelectual proposto nesta pesquisa e demonstram suas semelhanças e diferenças em relação ao Skandia Navigator: Fatores Indicadores de Desempenho Utilizados Pesos Metas Resultados i (%) Coeficiente de Eficiência Investimentos na satisfação da parte interessada clientes Investimentos na satisfação da parte interessada acionistas/sócios C (R$) Investimentos na satisfação da parte interessada empregados Investimentos na satisfação da parte interessada fornecedores Investimentos na satisfação da parte interessada comunidade/sociedade Valor Monetário Absoluto Investido na Busca da Satisfação das Partes Interessadas Capital Intelectual: CI = iC Patrimônio Líquido (Valor Contábil) Coeficiente de Valoração do Conhecimento (Capital Intelectual / Patrimônio Líquido) Valor de Mercado (Valor Contábil + Capital Intelectual) Índice de Valor Agregado (Valor de Mercado / Patrimônio Líquido) Figura 18 - Modelo de Mensuração do Capital Intelectual Proposto Fonte: Elaborada pelo pesquisador % Alcance 93 ASPECTOS DE COMPARAÇÃO SKANDIA NAVIGATOR MODELO PROPOSTO Categoria de Mensuração SCM DICM Indicadores de Desempenho Utilizados Obtidos a partir dos focos do modelo: Financeiro, Clientes, Processo, Humano e Renovação e Desenvolvimento. Obtidos pela seleção de indicadores de desempenho que avaliam a satisfação das partes interessadas. Coeficiente de Eficiência Calculado pela média aritmética simples do percentual de alcance das metas dos indicadores de desempenho utilizados. Calculado pela média aritmética ponderada pelo grau de importância dos indicadores de desempenho utilizados, conforme definido pela alta direção. Valor Monetário Absoluto Obtido a partir dos investimentos nos focos do modelo. Obtido a partir dos investimentos para melhorar a satisfação das partes interessadas. Valor de Mercado Não mede diretamente. Mede conforme fórmula específica. Coeficiente de Valoração do Conhecimento Não mede. Mede conforme fórmula específica. Índice de Valor Agregado Não mede. Mede conforme fórmula específica. Figura 19 - Comparação do Skandia Navigator x Modelo Proposto Fonte: Elaborada pelo pesquisador 94 7.2 APLICAÇÃO DO MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL PROPOSTO Esta seção descreve os resultados da aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto às empresas estudadas. 7.2.1 Terra Networks Brasil Nesta seção são apresentados os resultados da aplicação do modelo proposto ao Terra Networks. 7.2.1.1 Perfil da empresa O Terra Networks Brasil S/A (www.terra.com.br), companhia global de Internet e provedor de acesso à Internet e conteúdos interativos, é líder no mundo de fala hispânica e portuguesa e uma das redes mais populares de Internet nos EUA, na Europa e na Ásia. O objetivo da empresa é ser o destino on-line líder no mundo, com uma plataforma única que combina as vantagens da convergência dos serviços na Internet e as tecnologias de comunicação de última geração com a mais ampla e mais completa variedade de produtos e serviços populares. A empresa fornece aos usuários uma grande rede de marcas Web e proporciona aos seus públicos o acesso a uma grande audiência diversificada. A estratégia da empresa é composta por três elementos: globalização, convergência e rentabilidade, focalizando o cliente em cada aspecto do negócio. 95 A empresa possui a maior área útil de cobertura global dentre os portais de Internet, com mais de 120 sites em 40 países por meio de sua rede de websites, além de parcerias de joint-ventures, que cobrem mercados específicos na Ásia, Canadá, Europa, Japão e Coréia. A empresa visa expandir sua extensa área útil de cobertura global para novos mercados e também para os mercados existentes, mediante o crescimento orgânico, adquirindo companhias que são líderes na Internet e criando novas joint-ventures com companhias locais de mídia e tecnologia. A empresa tem o melhor nível de capitalização em seu mercado de atuação e está preparada para seguir com a rápida expansão da sua presença global. Com parcerias estratégicas com a Bertelsmann, a terceira maior companhia de mídia no mundo, com operações em 54 países, e a Telefônica, o maior grupo de telecomunicações na Espanha e na América Latina, que também é um provedor mundial de serviço sem fio, o Terra, líder de Internet em conteúdos, comunidade e comércio, está numa posição única para a convergência de mídia, comunicações sem fio e conteúdos interativos. Pela joint-venture com a Telefônica Móviles S/A, o Terra é um dos provedores líderes no mundo da Web sem fio, com acesso a aproximadamente 20 milhões de usuários. A empresa desenvolve produtos únicos de conteúdos e e-commerce, desenhados especificamente para a distribuição sem fio, mas também segue comercializando os seus produtos e serviços a usuários de acesso de alta velocidade em todo o mundo. Além disso, os aproximadamente 35 milhões de assinantes de telefonia fixa da Telefônica constituem uma forte base de clientes para receber ofertas agregadas de serviço tais como ADSL, voz, fax sobre IP e vídeo streaming. 96 O Terra fornece acesso à Internet a mais de cinco milhões de clientes em nível mundial, oferecendo serviços pagos e serviços gratuitos, sendo o provedor de serviços líder de Internet na Espanha, Brasil, Chile, Peru e Guatemala. O Terra é uma das grandes empresas de Internet, líder na Espanha e na América Latina nos três principais segmentos em que opera: acesso, portal e serviços de valor agregado. Sua posição de destaque foi conquistada graças à inovação no desenvolvimento de produtos e serviços de valor agregado e ao aproveitamento desses serviços em todos os países onde opera. O Terra é o portal de referência na Espanha, América Latina e no mercado hispânico dos Estados Unidos, além de deter participações na Lycos Europa. A empresa oferece aos usuários de Internet uma gama diversificada de serviços, que inclui acesso à rede, conteúdos interativos e serviços de comunicação de última geração, proporcionando a melhor experiência on-line. Em combinação com a conexão de banda larga para navegar com rapidez e qualidade, oferece uma ampla gama de conteúdos, dentre os quais: atualidades, jogos, esportes, cultura e ciência, cinema, automotor, mulher, entre outros, com cobertura e transmissão multimídia simultânea, em 17 países, de eventos como o Mundial de Futebol ou o Rally Paris-Dacar. Os usuários também dispõem de serviços que facilitam sua comunicação no ambiente pessoal e profissional, como o álbum de fotos virtual ou o disco virtual. O Terra conta ainda com uma plataforma única de portais verticais no mercado, que abrange os setores finanças (www.invertia.com), e-learning (www.educaterra.com) e viagens (www.rumbo.com e www.onetravel.com). Para se adaptar ao mercado competitivo em que opera, o Terra lançou um novo modelo de negócios, concentrado no crescimento por meio de serviços de 97 valor agregado relacionados (ou não) ao acesso e ao reforço da política comercial. Esta visão é implementada por meio de uma oferta em pacotes com os seguintes elementos: a) o melhor acesso; b) uma plataforma de serviços com a melhor tecnologia disponível; c) serviços e conteúdo de valor agregado; d) uma oferta completa para o cliente, amparada em uma grande marca, segurança e facilidade de uso, assim como na qualidade máxima de serviços. Uma visão global liderada por uma equipe de direção de primeira linha realiza um trabalho eficiente de gestão, com aprimoramento contínuo de processos, permitindo uma melhoria constante da eficiência e, conseqüentemente, a redução dos custos operacionais. Tudo isso acompanhado de importante crescimento em segmentos de negócios rentáveis. A gestão voltada ao crescimento e à rentabilidade possibilitou ao Terra atingir um EBITDA (resultado antes de juros, impostos e amortizações) positivo nos últimos anos. Isto foi possível graças à equipe de direção e a um grupo multinacional e multicultural de pessoas, com enfoque dirigido a processos e parâmetros de eficiência, com a aplicação das melhores práticas de empresas tradicionais. O Terra foi pioneiro na evolução rumo à cobrança de serviços e conteúdos de Internet, sempre acreditando na inovação e no desenvolvimento de serviços de valor agregado. Essa estratégia lhe permitiu manter um avanço extraordinário na carteira de clientes de serviços por assinatura que, em junho de 2004, atingiu 5,7 milhões de clientes de acesso pago e serviços de comunicação e portal. 98 Além de Acesso, Portal e SVAs, o Terra também atua nos segmentos de ecommerce, anúncio, publicidade e produtos para clientes empresariais. O Terra oferece às empresas soluções integrais de marketing que lhes permitem acesso a um público altamente diferenciado, obtendo assim a máxima eficácia em Internet como suporte publicitário. Além das tecnologias que possibilitam realizar campanhas avançadas, voltadas às necessidades do cliente, com identificação do perfil do usuário personalização da oferta. O Terra oferece ferramentas de marketing direto que proporcionam aos anunciantes informações mais específicas sobre seus clientes potenciais. A diversificada oferta de serviços do Terra como primeiro suporte publicitário on-line consolida sua relação com anunciantes de primeira linha em escala mundial, tais como Adidas, American Express, AT&T Wireless, Bank of America, BBVA, CNN, Dell, Exxon, Federal Express, General Motors, Google, Heineken, Hewlett Packard, IBM, Johnson & Johnson, KLM, Lanbox, Nike, Pepsi, Philips, Samsung, Sears, Sony, Unilever, Universal Pictures, US Army, VISA, Volkswagen, Volvo e Western Union, Kraft. O Terra recebe 92 milhões de visitantes mensais à rede websites, tem mais de 7 bilhões de páginas visualizadas por mês, mais de 3.000 anunciantes, 5,7 milhões de assinantes de acesso e 61 milhões de usuários registrados. Conta com 2.900 empregados. 7.2.1.2 Modelo de gestão A empresa não adota nenhum modelo de gestão de excelência, como os classificados por Gomes (2004). Seu modelo particular prioriza a gestão do conhecimento como estratégia fundamental para a geração de inovações 99 tecnológicas, o que constitui, segundo os gestores entrevistados, a grande vantagem competitiva da empresa em relação aos seus concorrentes. 7.2.1.3 Gestão do capital intelectual Os gestores entrevistados entendem que “capital intelectual é o que as pessoas conseguem, conforme suas capacidades, desenvolver dentro da empresa no tocante a sua intelectualidade”. Consideram que o capital intelectual, para as organizações, “é o diferencial competitivo dos produtos e serviços que ele representa, em menor ou maior escala, dependendo do tipo de negócio”. O grupo correlaciona o capital intelectual adquirido com a melhoria dos processos, ou seja, como a utilização adequada do capital intelectual se transforma em ação e gera melhoria. Porém, tem dúvida sobre como potencializar o capital intelectual para que ele resulte em ações de melhoria. O grupo também acredita que seja possível e que é válido mensurar financeiramente o valor do capital intelectual de uma organização, mas não tinha conhecimento de nenhum modelo para tal finalidade. Para o grupo entrevistado, “o valor do capital intelectual pode ser mensurado a partir da identificação dos conhecimentos existentes e da verificação de qual o potencial que estes conhecimentos representam no desenvolvimento da organização.” Sobre o modelo proposto, após a análise de sua aplicação à empresa, o grupo considerou que ele é útil, uma vez que, “dadas as características da prestação de serviços, não existe possibilidade de aumentar a satisfação das partes interessadas sem investimentos em aumento de capital intelectual, o que fica evidente com a análise do modelo aplicado ao Terra.” 100 Para o grupo entrevistado, “é visível a necessidade de maiores investimentos nos aspectos avaliados pelos Critérios 4 (Sociedade) e 5 (Pessoas) e no item 7.4 (Gestão dos processos relativos aos fornecedores) do PNQ para aumentar o capital intelectual da empresa e, por conseqüência, seu valor de mercado.” 7.2.1.4 Gestão da parte interessada clientes A gestão dos processos relativos aos clientes é sistematizada conforme suas necessidades por meio de pesquisa de marketing, tratamento de reclamações e solicitações de uso. As necessidades dos mercados são identificadas, analisadas e compreendidas. A empresa é líder do mercado nacional, com 1.700.000 clientes, sendo este desempenho garantido pela contínua inovação. Os canais de relacionamento com os clientes são disponibilizados de forma descentralizada por meio de: a) acesso direto dos usuários por e-mail aos Diretores e ao CEO; b) atendimento virtual no site; c) central de atendimento telefônico; d) central de atendimento on-line (e-mail e chat); e) atendimento presencial. Os critérios de seleção de canais de relacionamento são: reduzir os custos de prover consistentemente os serviços de excelência; aumentar a satisfação dos clientes pela melhoria sustentável do tempo de serviço (velocidade com que se fazem as coisas desde a perspectiva do cliente) e da qualidade. A gestão do relacionamento com os clientes é realizada por meio do escalonamento entre os níveis de atendimento que se organizam em: 101 a) primeiro nível: atendimento generalista para informações básicas, simples e já mapeadas; b) segundo nível: atendimento especialista para questões mais complexas e que exigem maior conhecimento técnico; c) terceiro nível: atendimento específico a questões não-mapeadas pelo Terra BackOffice. O nível de satisfação dos clientes é determinado por meio dos seguintes indicadores de desempenho: a) Insatisfação Voluntária: composto pelo número de reclamações pelo número de contatos realizados pelos clientes e pelo número de reclamações por produto pela base de clientes do mesmo; b) Satisfação dos Clientes. A fidelidade dos clientes é medida pela rotatividade da base de clientes (churn) e pelo tempo médio de permanência dos clientes na base (tvm). Outros indicadores menos importantes utilizados são o faturamento médio, quantidade de utilização dos serviços e pagamento em dia. 7.2.1.5 Gestão da parte interessada acionistas A gestão da parte interessada acionistas confunde-se com a gestão do processo econômico-financeiro, que é sistematizada considerando os seguintes aspectos: a) a sustentabilidade financeira do negócio é gerenciada por meio do orçamento, que é alinhado à estratégia corporativa, elaborado com base nas previsões de base de clientes e receita e acompanhado 102 mensalmente pela comparação da previsão mensal conforme histórico do mês anterior e novas solicitações do mês; b) a capitalização necessária às estratégias de crescimento no médio prazo é gerenciada por meio da aprovação do orçamento anual junto à TISA Telefônica Internacional S/A, com fluxo mensal gerenciado pelo setor financeiro; c) a capitalização necessária às estratégias de crescimento a longo prazo não é gerenciada, mas a empresa tem base de dados suficiente para uma análise consistente para estruturar a sistematização de sua gestão. A empresa tem fluxo financeiro auto-sustentável, mas depende da aprovação da TISA. Os resultados financeiros são determinados conforme as estratégias corporativas e avaliados por diversos indicadores de desempenho. Destacam-se como principais os seguintes indicadores de desempenho, que servem para avaliar a satisfação da parte interessada acionistas: ingressos por custos, custo por cliente e cumprimento do orçamento. 7.2.1.6 Gestão da parte interessada empregados A gestão dos processos relativos às pessoas baseia-se em: a) estrutura de cargos em níveis hierárquicos, conforme o organograma; b) seleção e contratação por gestores capacitados com treinamento para efetuar a seleção de sua equipe com apoio do RH corporativo; 103 c) avaliação de desempenho individual e de equipe realizada com base em metas e indicadores de desempenho estabelecidos anualmente pelos gestores para suas equipes; d) práticas de remuneração com distribuição do orçamento corporativo da folha para cada área da empresa e incentivo financeiro conforme o percentual do atendimento das metas estabelecidas pelos gestores para suas equipes; e) reconhecimento com programa específico que incentiva boas práticas entre os colaboradores pelos seus gestores; f) atendimento das necessidades de capacitação e desenvolvimento, que são identificadas pelos gestores ou pela solicitação de cada colaborador. A avaliação e priorização destas necessidades de capacitação e/ou desenvolvimento tem como critério as necessidades de competência de cada função (lacunas existentes) e seu impacto na estratégia da empresa; g) clima organizacional e o ambiente de trabalho são monitorados pelos gestores de cada equipe conforme as necessidades percebidas. O nível de satisfação dos empregados não é medido. 7.2.1.7 Gestão da parte interessada fornecedores A gestão dos processos relativos aos fornecedores é sistematizada de acordo com os seguintes aspectos: 104 a) seleção, qualificação, avaliação e informação por meio da mesa de compras corporativa do grupo Telefônica que segue critérios préestabelecidos pela matriz; b) relacionamento com localização física próxima aos principais fornecedores para facilitar o controle e relacionamento direto (os canais de relacionamento com os fornecedores são: reuniões com os gestores; comitês de apresentação de resultados e de ajuste de estratégias e metas; e repasse de informações sobre os produtos e serviços da terra por meio do processo de treinamento; c) envolvimento e comprometimento com valores e diretrizes organizacionais, comunicados em reunião anual individual com cada fornecedor para apresentação da visão para próximo período; e reforço para todos os contatos dos valores e estratégias da empresa a cada contato com seus gestores; d) incentivo ao desenvolvimento, com constante avaliação do modelo de negócio aplicado a cada um dos serviços contratados possibilitando melhoria de sua produtividade, conforme as necessidades de cada fornecedor. Adicionalmente, existem bonificações contratuais para incentivo de metas ultrapassadas. Como os fornecedores participam da execução do serviço prestado aos usuários da empresa (Call Center, por exemplo), são integrados a todos os processos. A satisfação dos fornecedores não é medida. 105 7.2.1.8 Gestão da parte interessada comunidade/sociedade No que diz respeito à interação com a parte interessada comunidade/sociedade, não há processos sistematizados para tal finalidade. Existem apenas ações isoladas de voluntariado para prestação de serviços sociais e a contratação de pessoas com deficiência física. A satisfação da comunidade/sociedade não é medida. 7.2.1.9 Aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto A figura a seguir ilustra a aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto ao Terra Networks Brasil, a partir dos dados coletados nas entrevistas e no questionário: 106 Figura 20 - Aplicação do Modelo de Mensuração do Capital Intelectual Proposto ao Terra Networks Brasil Fonte: Terra Networks Brasil Os indicadores de desempenho utilizados foram levantados a partir das informações obtidas nas entrevistas e corroborados, no que diz respeito a sua relevância, pela análise do site e dos documentos Manual de Gestão e Manual Institucional (TERRA, 2005). Os pesos, metas e resultados destes indicadores de desempenho foram obtidos pelo questionário preenchido pela empresa, conforme APÊNDICE A. Os valores monetários investidos na busca da satisfação das partes interessadas também foram obtidos a partir do questionário preenchido pela empresa. 107 Destaca-se o fato de que a empresa, como não segue o modelo de gestão baseado no PNQ, não faz investimentos monetários na busca da satisfação de todas as partes interessadas, haja vista que não há investimentos na comunidade/sociedade, e uma grande concentração de investimentos na parte interessada clientes (R$ 5 milhões) e que também reflete os investimentos na parte interessada acionistas. Os indicadores de desempenho Índice de rotatividade da base de clientes, Tempo médio de permanência dos clientes na base e Índice de satisfação dos clientes são utilizados para avaliar a satisfação da parte interessada clientes. Os indicadores de desempenho Ingressos por custo, Custo por clientes e Cumprimento do orçamento são utilizados para avaliar a satisfação da parte interessada acionistas. A empresa não mede a satisfação das partes interessadas empregados, fornecedores e comunidade/sociedade. Considerando um investimento (C) de R$ 5.600.000,00 efetuado pela empresa na busca de aumentar a satisfação das partes interessadas, e que 81,4% deste valor efetivamente resultou em aumento da satisfação das partes interessadas, pelo coeficiente de eficiência (i) obtido nos indicadores de desempenho, tem-se o valor do capital intelectual do Terra Networks Brasil, que é de R$ 4.556.952. Nota-se um desperdício de 18,6% dos recursos aplicados pela empresa que não reverteram em capital intelectual, sendo desperdiçados R$ 1.043.048 que não se traduziram em melhoria de resultados para as partes interessadas. Com um patrimônio líquido informado de R$ 403.499.586, calcula-se que o capital intelectual da empresa equivale a 1,13% deste valor, sendo este o coeficiente de valoração do conhecimento. 108 O valor de mercado da empresa, em 2004, considerando a soma de seu valor contábil com o valor de seu capital intelectual é R$ 408.056.538, o que equivale a um índice de valor agregado de 1,01. Isto significa que o valor do capital intelectual da empresa contribui com apenas 1% para o aumento de seu valor de mercado. Os gestores entrevistados têm a sensação de que a empresa tem mais capital intelectual do que o calculado, mas admitem que a falta de investimentos nas partes interessadas empregados, fornecedores e comunidade/sociedade realmente diminuem o valor da empresa. Sobre a aplicação do modelo à empresa, consideraram-no válido, “pois chamou a atenção para a necessidade de formulação de estratégias mais abrangentes, aumentando assim o capital intelectual da empresa, em especial no que diz respeito à preocupação com a comunidade/sociedade.” 7.2.2 Hospital Moinhos de Vento Nesta seção são apresentados os resultados da aplicação do modelo proposto ao Hospital Moinhos de Vento. 7.2.2.1 Perfil da empresa Esta seção é baseada em Torrensini (2002) e no site do Hospital Moinhos de Vento (2005). No início do século XX, estimava-se que cerca de 200 mil teuto-brasileiros vivessem no Rio Grande do Sul. Essa comunidade desejava ser atendida em um 109 hospital de profissionais familiarizados com seu idioma e que respeitassem seus valores e crenças religiosas. Uma associação formada por pessoas da comunidade inaugurou, em 2 de outubro de 1927, o "Hospital Alemão", obedecendo aos padrões de qualidade das melhores instituições de saúde da Europa, com 80 leitos e dirigido por doze irmãs religiosas. Em 1942, período do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, a mantenedora optou por alterar o nome da instituição para HMV - Hospital Moinhos de Vento (www.hmv.org.br), mesma denominação do bairro em que estava localizada. Para atender à crescente procura de toda a comunidade gaúcha, o HMV passou por ampliações, modernizou-se e desenvolveu programas de treinamento e qualificação para seus colaboradores. Os avanços tecnológicos e a prática de técnicas médicas inovadoras elevaram a instituição à condição de Centro de Excelência. Em 1979, o Centro Clínico Ramiro foi inaugurado, consolidando a atuação no segmento hospitalar. Na década de 1990, o Hospital adotou modelos de gestão com base nos conceitos da qualidade total, obtendo por mais de uma vez o reconhecimento do PGQP - Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade. Em 1999, o HMV adquiriu o controle acionário da HospitaLar Home Care, empresa de assistência domiciliar. No ano seguinte, mais uma conquista: a instituição assume o Hospital São Rafael, em Novo Hamburgo. Em sincronia com as mudanças do setor de saúde que marcaram o início do século XXI, o HMV está crescendo e expandindo suas atividades. A instituição praticamente dobrou sua área construída, chegando a 80.000m2. A inauguração, em 2004, do Centro Clínico Tiradentes e do EdifícioGaragem (com 685 vagas) possibilita mais conforto aos clientes, associando o que há de melhor em tecnologia com a reconhecida qualidade médico-assistencial, 110 certificada internacionalmente pela Joint Commission International. O novo prédio, em sua primeira etapa, oferecerá à comunidade as modernas instalações dos Centros de Oncologia e Cardiologia, que contam com o suporte de pesados investimentos em capacitação profissional, realizada nos melhores centros de referência do mundo, e com equipamentos de última geração. No mesmo ano, o HMV inaugurou o Espaço de Saúde e Bem-Estar no Shopping Center Iguatemi. Em uma área de 2.310m2, são oferecidas atividades e serviços com foco na prevenção e habilitação para a saúde. O HMV conta hoje com: a) 80.000m² de área construída; b) 33.000m2 de área de terreno; c) maior área verde privada do centro da cidade; d) 1.807 colaboradores próprios; e) 570 colaboradores de serviços terceirizados; f) 76 horas de treinamento por funcionário/ano; g) 3.700 médicos credenciados; h) 266 leitos para internações clínicas, cirúrgicas, obstétricas e pediátricas; i) 54 leitos em Unidades de Tratamento Intensivo; j) 12 salas no Centro Cirúrgico ; k) 4 salas no Centro Obstétrico; l) 28 leitos no Centro de Recuperação Cirúrgica; m) 6 leitos no Centro de Recuperação Obstétrica. Respeito, confiança, conforto e proximidade aos seus colaboradores, médicos, cirurgiões-dentistas e comunidade são os atributos fundamentais do posicionamento estratégico do HMV, que tem as seguintes Diretrizes Institucionais: 111 a) Excelência nos serviços; b) Garantir as melhores práticas médicas e assistenciais nos serviços prestados; c) Satisfação das Partes Interessadas; d) Buscar a satisfação das necessidades de pacientes, familiares, médicos, cirurgiões-dentistas, fontes pagadoras, fornecedores, colaboradores e comunidade; e) Perpetuação da Instituição; f) Manter investimentos crescentes com base na geração de recursos originados da operação. MISSÃO Promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas, praticando a excelência em medicina por meio da Assistência Integral®. VISÃO Ser reconhecida internacionalmente como uma organização de saúde com excelência, especialmente nas áreas de Cardiologia, Oncologia, Neurologia e Neurocirurgia, Ortopedia, Traumatologia e Medicina Materno-Infantil. VALORES a) Respeito ao ser humano b) Assistência Integral® c) Qualidade d) Alianças 112 e) Preservação da história f) Formação e capacitação g) Espiritualidade h) Cidadania i) Auto-sustentabilidade j) Preservação da natureza k) Valorização Profissional l) Disciplina m) Organização e limpeza ASSISTÊNCIA INTEGRAL® Marca registrada do HMV, a Assistência Integral® é um sistema de atendimento que, por meio de ações multiprofissionais, perpassa todo o processo terapêutico do paciente, além de engajá-lo no cuidado com a sua saúde. Com isso, a definição de assistência vai além das tarefas cotidianas, pois tem como foco as pessoas. A prestação de atendimento personalizado e integral por um mesmo profissional, no seu turno de trabalho, desde a internação até a alta no domicílio, favorece a satisfação dos clientes pelo respeito, cordialidade, responsabilidade e ética nos relacionamentos interpessoais. 7.2.2.2 Modelo de gestão O HMV tem sua gestão baseada no modelo do PNQ desde 1994. O modelo de Assistência Integral® foi certificado com a Acreditação Hospitalar Internacional, 113 em 2002, pela Joint Commission International, sendo a única instituição hospitalar da região sul a receber esta certificação. 7.2.2.3 Gestão do capital intelectual Os gestores do HMV preferem a terminologia “gestão do valor intelectual” à “gestão do capital intelectual”, que acreditam ser o principal componente de qualquer segmento da economia, mas que só é validado se for aplicado. Acreditam também que o capital intelectual pode ser medido mais facilmente no setor de serviços e que está diretamente relacionado com a satisfação dos clientes. O HMV tem um modelo próprio de mensuração da qualidade percebida por seus clientes, como parte da Assistência Integral®, que visa avaliar os aspectos do “atender”, relacionado à dimensão intelectual dos empregados e que se manifesta sob a forma do rigoroso cumprimento dos padrões técnicos dos protocolos, rotinas e procedimentos, e do “assistir”, relacionado à dimensão emocional dos empregados e que se manifesta pela sua atitude diante dos clientes. O IEP - Instituto de Educação e Pesquisa do HMV foi inaugurado em 17/12/2003, surgindo como um marco institucional para o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas e da educação na área da saúde. Entre suas intenções estratégicas estão a participação no aperfeiçoamento contínuo da qualidade assistencial no HMV, a promoção da qualidade de vida e saúde da comunidade, e a inserção da Instituição no meio científico e educacional, nacional e internacional. 114 O IEP foi credenciado pelo Ministério da Educação e Cultura para o desenvolvimento de cursos de pós-graduação lato sensu (especialização) estando em andamento, atualmente os cursos de CPG de Enfermagem em Oncologia, CPG de Nutrição em Oncologia e o CPG de Oncomastologia, este para a área médica. O IEP também possui a Residência de Medicina Intensiva credenciada pelo MEC e pela Comissão Nacional de Residência Médica. Vários cursos de extensão já foram realizados pelo IEP, como os de Nutrição em Nefrologia, Noções Básicas de Metodologia Epidemiológica e de Princípios Básicos de Imagem por Ressonância Magnética. O IEP tem convênio de cooperação com a FFFCMPA - Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre para o desenvolvimento de programas de educação e de pesquisa na área das ciências da saúde. Com o Grupo Unificado o IEP implantou, este ano, o curso de preparação ao vestibular específico para a Medicina: o Pré-Med Unificado/IEP. Na área de pesquisa, o IEP tem uma CC - Comissão Científica e um CEP Comitê de Ética em Pesquisa, este credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. O IEP possui a Biblioteca Virtual para pesquisas virtuais em bases de informação eletrônicas na Internet, além de periódicos, bancos de dados e periódicos on-line. Também permite o acesso ao portal de periódicos da CAPES pelo convênio estabelecido com a Biblioteca da FFFCMPA. 115 7.2.2.4 Gestão da parte interessada clientes O HMV identifica a percepção dos clientes quanto à qualidade do atendimento por meio de Pesquisa de Satisfação com o Cliente Internado, Ambulatorial e Emergencial, sistematizada há mais de 20 anos, com mais de 5.000 pesquisas respondidas por ano. Há também uma Pesquisa de Satisfação do Corpo Clínico, realizada anualmente para captar a opinião do corpo clínico quanto ao desempenho da organização. Planos de ação são elaborados para implementar melhorias necessárias identificadas pelas pesquisas. Uma Pesquisa de Busca Ativa é relizada pela equipe de Ouvidoria, com visita aos pacientes, para conhecer e encaminhar integralmente suas percepções, procurando atenuar, de forma próativa, eventuais focos de mal-estar durante a internação. O HMV conta ainda com uma Ouvidoria para capturar e repassar informações dos clientes que desejem retratar algum foco de mal-estar, podendo o contato ser efetuado por telefone, pessoalmente ou por e-mail. A satisfação dos clientes é avaliada pelo indicador de desempenho Índice de satisfação global dos clientes. 7.2.2.5 Gestão da parte interessada sócios A gestão econômico-financeira, que atende a parte interessada sócios, é efetuada, no curto prazo, pela administração do fluxo de caixa e do orçamento operacional e de investimentos; no longo prazo, é efetuada pelo orçamento 116 consolidado que projeta o fluxo de caixa com base nas necessidades levantadas no planejamento estratégico. Quando necessário, para aportar recursos para investimentos de longo prazo, o HMV faz uso de fontes e recursos, bem como, quando possível gerencia seus ativos financeiros investindo-os em aplicações. A satisfação da parte interessada sócios é avaliada pelos indicadores de desempenho: Disponibilidade financeira, Resultado operacional, Liquidez geral e Receita. 7.2.2.6 Gestão da parte interessada empregados O HMV baseia sua gestão de pessoas na Gestão por Competências, que diz respeito a um sistema que conquista novos adeptos a cada dia entre as principais organizações, uma vez que impulsiona o desenvolvimento individual de cada colaborador e, com isso, contribui para melhoria institucional. O diferencial da Gestão por Competências é que se deixa de trabalhar com as tradicionais descrições de cargos, que apenas enumeram as atividades, e a atenção passa a ser dirigida para o perfil de competências, ou seja, o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias a cada função, com visão de futuro. Com a nova orientação, o HMV começou a trabalhar o perfil de cada profissional, considerando o potencial de aquisição de novas responsabilidades no cargo. A discussão sobre competências tem crescido nas empresas, uma vez que o domínio de determinadas aptidões pode fazer com que profissionais e organizações adquiram maior valor no mercado. O Hospital Moinhos de Vento passou do 117 planejamento à ação e se tornou a primeira entidade de seu segmento no RS a implantar este sistema de gestão de pessoas. Sem modelos comparativos no seu setor de atuação, a equipe do HMV optou por visitar empresas como Marcopolo, Termolar e Bunge Alimentos, que já possuíam processos consolidados de Gestão por Competências. Um dos diferenciais do HMV é o fato de ter uma auto-avaliação no processo de prontidão, que serve de subsídio para a análise do perfil do colaborador pelo gestor. A prontidão significa o quanto cada profissional está pronto para o exercício de seu cargo. Três camadas de competências foram definidas para a gestão no HMV. A “camada superior” ou mais abrangente corresponde às competências essenciais, descritas como necessárias a todos os colaboradores do Hospital. Tais competências são: trabalhar em equipe, buscando a eficácia do grupo por meio de uma relação de confiança da criação conjunta, do desenvolvimento e da sinergia; praticar os princípios do assistir; e agir orientado pelos valores e princípios da instituição. As competências essenciais foram traçadas a partir dos valores percebidos pelos clientes e por meio da diferenciação do Hospital em relação aos concorrentes. Em um nível um pouco mais restrito estão as competências funcionais, aplicadas a todos os colaboradores de uma determinada área e grupo funcional. E, chegando à esfera de cada cargo, encontram-se as competências individuais. No HMV, todo colaborador conta com o SESMT - Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho, coordenado por profissionais médicos, enfermeiras, engenheiros e técnicos em segurança do trabalho. Esta equipe trabalha na prevenção de acidentes e na promoção da segurança e saúde dos trabalhadores. 118 Para ajudar na prevenção dos acidentes, foi criada a CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, cuja função principal é divulgar informações e orientações sobre a saúde e segurança no trabalho, atuando de forma próativa para o bem-estar de todos. O HMV avalia a satisfação dos empregados bianualmente por pesquisa de clima organizacional, gerando o indicador de desempenho Clima Organizacional. 7.2.2.7 Gestão da parte interessada fornecedores Os fornecedores são selecionados de acordo com os critérios de cada tipo de produto: medicamentos, materiais médicos hospitalares e órteses/próteses. O HMV possui critérios de seleção dos fornecedores, com preenchimento de ficha cadastral e entrega de documentos legais de órgão competentes onde o fornecedor deve trazer cópia autenticada do registro do produto no Ministério da Saúde, alvará local e nacional da Anvisa, licença de funcionamento e cópia do contrato social. Os fornecedores são avaliados a cada trimestre de acordo com os critérios de avaliação e tem o seu desempenho informado pessoalmente. Os pontos avaliados são: prazo de atendimento (pontualidade), qualidade dos produtos, nãoconformidade das notas fiscais e não-conformidade na entrega dos produtos. Os principais canais de relacionamento com os fornecedores são: atendimento pessoal, intranet, e-mail, telefone, fax e periódicos. Os fornecedores são comprometidos com os valores e diretrizes institucionais por meio de parcerias de fornecimento de médio e longo prazo, 119 participação dos fornecedores em eventos institucionais, congressos, seminários, inauguração de novos serviços e divulgação de novos produtos. A melhoria atual e futura no desempenho dos fornecedores, é estimulada por meio de parceria de médio e longo prazo, melhoria de produtos e desenvolvimento de novos produtos para demandas especificas. O nível de satisfação dos fornecedores é medido por meio de uma pesquisa de satisfação dos fornecedores, realizada trimestralmente, gerando o indicador de desempenho Índice de satisfação dos fornecedores. 7.2.2.8 Gestão da parte interessada comunidade/sociedade O HMV entende sua responsabilidade social como marca de sua criação e existência. Esta responsabilidade se concretiza em atividade de atenção integral ao bem-estar, a fim de construir uma estratégia de promoção da qualidade de vida e saúde como expressão última dos compromissos institucionais, conforme registra em seu Balanço Social. O desenvolvimento humano integral é a meta na busca da universalização dos direitos humanos e sociais, integralidade das respostas às necessidades das pessoas e das coletividades e produção de eqüidade social. O compromisso com este enfoque se materializou em um Projeto de Promoção da Qualidade de Vida organizado em cinco eixos interdependentes no terreno concreto das atividades de Assistência Social do HMV: Educação, Gestão Social, Meio- Ambiente, Proteção Social e Saúde. A avaliação da satisfação da parte interessada comunidade/sociedade é avaliada pelo indicador comunidade/sociedade. de desempenho Índice de satisfação da 120 7.2.2.9 Aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto A figura a seguir ilustra a aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto ao HMV, a partir dos dados coletados nas entrevistas e no questionário: Figura 21 - Aplicação do Modelo de Mensuração do Capital Intelectual Proposto ao HMV Fonte: HMV Os indicadores de desempenho utilizados foram levantados a partir das informações obtidas nas entrevistas e corroborados, no que diz respeito a sua relevância, pela análise do Balanço Patrimonial e do site do Hospital. Os pesos, metas e resultados destes indicadores de desempenho foram obtidos pelo questionário preenchido pela empresa, conforme APÊNDICE A. 121 Os valores monetários investidos na busca da satisfação das partes interessadas também foram obtidos a partir do questionário preenchido pela empresa. Destaca-se o fato de que a empresa, como segue o modelo de gestão do PNQ, faz investimentos financeiros na busca da satisfação de todas as partes interessadas. Excepcionalmente em 2004 não foram efetuados investimentos na parte interessada fornecedores. O indicador de desempenho Índice de satisfação global dos clientes é utilizado para avaliar a satisfação da parte interessada clientes; os indicadores de desempenho Disponibilidade financeira, Resultado operacional, Liquidez geral e Receita são utilizados para avaliar a satisfação da parte interessada sócios; o indicador de desempenho Clima organizacional é utilizado para avaliar a satisfação da parte interessada empregados; o indicador de desempenho Índice de satisfação dos fornecedores é utilizado para avaliação da parte interessada fornecedores; e o indicador de desempenho Índice de satisfação da comunidade/sociedade é utilizada para avaliação da satisfação da parte interessada comunidade/sociedade. Considerando um investimento (C) de R$ 54.860.317 efetuado pela empresa na busca de aumentar a satisfação das partes interessadas, nota-se que 117,7% deste valor efetivamente resultou em aumento da satisfação das partes interessadas, pelo coeficiente de eficiência (i) obtido nos indicadores de desempenho, tem-se o valor do capital intelectual do HMV, que é de R$ 64.563.213. Verifica-se um valor adicional de 17,7% aos recursos aplicados pela empresa que se reverteram em capital intelectual, traduzido pela melhoria de resultados para as partes interessadas. 122 Com um patrimônio líquido informado de R$ 76.904.000, calcula-se que o capital intelectual da empresa equivale a 83,95% deste valor, sendo este o coeficiente de valoração do conhecimento. O valor de mercado da empresa, em 2004, considerando a soma de seu valor contábil com o valor de seu capital intelectual é R$ 141.467.213, o que equivale a um índice de valor agregado de 1,84. Isto significa que o valor do capital intelectual da empresa contribui com 84% para o aumento de seu valor de mercado. Sobre a aplicação do modelo à empresa, os gestores entrevistados consideram-no “útil à formulação de estratégias, pois evidenciou a necessidade de balancear investimentos de modo equilibrado em todas as partes interessadas.” “Também é muito útil para atender ao requisito a1 do item 5.3 do PNQ (FNQ 2005, p. 35), que solicita que a empresa demonstre “como é identificado o capital intelectual da organização, apresente os ativos que o compõem e a descrição de sua medição”, o que até então não sabiam como atender.” 123 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este capítulo apresenta as considerações finais da pesquisa, incluindo as questões relativas as suas limitações, à consecução dos objetivos propostos, à mensuração do capital intelectual, à aplicabilidade do modelo proposto, às sugestões de melhorias no modelo proposto e às sugestões para estudos posteriores. 8.1 SOBRE AS LIMITAÇÕES DA PESQUISA Tendo em vista seu caráter qualitativo e exploratório, e por basear-se em apenas dois estudos de casos, esta pesquisa apresentou algumas limitações, a saber: a) não foi possível fazer generalizações nem deduções acerca do momento mais adequado para a utilização do modelo proposto pelas empresas; b) a despeito dos comentários de alguns dos gestores entrevistados sobre a aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual proposto como subsídio para a formulação de estratégias, não foi possível observar “como” as organizações realmente podem utilizar as informações obtidas 124 para melhorar seu sistema de gestão, como forma de aprendizado organizacional; c) não foi possível melhorar ou adaptar o modelo, a partir de sua aplicação às empresas estudadas, uma vez que os gestores entrevistados desconheciam outros modelos e suas empresas não mensuram o valor de seu capital intelectual. 8.2 SOBRE A CONSECUÇÃO DOS OBJETIVOS DA PESQUISA O primeiro objetivo específico da pesquisa foi alcançado pela revisão da literatura sobre modelos de mensuração do capital intelectual, o que permitiu a identificação dos 34 modelos mais utilizados, com suas premissas, abordagens de cálculo, vantagens e deficiências, conforme resumido na Figura 3. Estes modelos foram classificados em 4 categorias, conforme seus critérios específicos de mensuração do capital intelectual, como resumido na Figura 5. O segundo objetivo específico da pesquisa também foi atingido a partir da revisão da literatura, agora sobre o modelo de gestão do PNQ, o que possibilitou a comparação dos modelos identificados com a premissa básica preconizada pelo PNQ de que as organizações precisam buscar a satisfação de todas as partes interessadas para garantir sua sustentabilidade. Verificou-se que nenhum dos modelos identificados tem esta abordagem. O que mais se aproxima da premissa do PNQ é o Skandia Navigator, conforme evidenciado pela Figura 17. O terceiro objetivo específico da pesquisa foi alcançado com a modelagem e o desenvolvimento do modelo proposto, aderente ao PNQ, como demonstrado pelas Figuras 12, 13, 14 e 18. 125 Finalmente, o quarto objetivo específico da pesquisa foi atingido pela testagem do modelo proposto às empresas estudadas, o que permitiu a análise de sua aplicabilidade, como demonstrado nas Figuras 20 e 21. Com a consecução dos objetivos específicos foi também realizado o objetivo geral da pesquisa. 8.3 SOBRE A MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL Estabelecida e identificada a relevância do conhecimento e demais ativos intangíveis, em especial o capital intelectual, na busca de resultados para as organizações, com benefícios para todas as partes interessadas, foi também possível observar que ainda existe um ceticismo, por parte de muitas organizações, quanto à validade de modelos de mensuração dos ativos intangíveis, principalmente os que se referem ao capital intelectual. A maioria delas ainda tem como parâmetro os meios seculares de avaliação restrita pelo enfoque financeiro baseado na Contabilidade tradicional. Entretanto, a evolução do tema se faz presente, uma vez que o capital intelectual tornou-se informação de grande importância para criar e alavancar os resultados das organizações, com a identificação e gerenciamento de seus elementos, justificando sua real contribuição, em especial quando devidamente alinhado às estratégias. Como toda mudança de paradigma, o reconhecimento do valor monetário dos ativos intangíveis, em especial o do capital intelectual, vai ocorrer ao longo do tempo, à medida que o mundo empresarial compreenda que os atuais modelos contábeis já se tornaram obsoletos e inadequados para a maioria das organizações 126 da Nova Economia. Então novas ferramentas surgirão para ampliar o alcance do modelo de mensuração. Alguns teóricos do tema abordado já começaram a investigar os desafios internos trazidos por uma auditoria do capital intelectual nas organizações, o que sugere que, à medida que os gestores utilizarem mensurações como a proposta neste trabalho, acabarão por criar ou adaptar modelos para modificar sua própria compreensão sobre o capital intelectual de suas organizações. 8.4 SOBRE O MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL PROPOSTO, SUA APLICABILIDADE E SUGESTÕES DE MELHORIAS Em relação à metodologia de modelagem utilizada, constatou-se que a SSM apresentou vários aspectos positivos: a) no decorrer de sua aplicação, utiliza um projeto detalhado do modelo em questão, bem como de seu funcionamento, permitindo a percepção de detalhes significativos e assim ajudando na organização do pensamento; b) sua aplicação requer a participação ativa de todos os envolvidos, o que leva ao compartilhamento formal de um conhecimento que, muitas vezes, antes era individual e tácito, possibilitando o aprendizado organizacional; c) sua aplicação pode ainda levar a mudanças de atitudes, processos e até mesmo da estrutura do modelo em questão, pois gera aprendizado tanto pessoal quanto organizacional pelo fato de permitir que todos os envolvidos expressem seus pontos de vista e, por isso, sintam-se mais comprometidos com o modelo e com as acões decorrentes de sua análise. 127 Porém, do ponto de vista técnico, a SSM também demonstra problemas, conforme detectados pelo pesquisador: a) não apresenta um método efetivo e real de como estabelecer um modelo, o que pode gerar resultados insatisfatórios; b) do ponto de vista gerencial, como o processo da SSM é aberto, sem um fim definido, torna-se difícil saber se os objetivos foram alcançados e o processo foi bem-sucedido; c) do ponto de vista sociológico, a SSM pressupõe que todos os participantes envolvidos têm escolhas equivalentes e irão expor suas opiniões e problemas abertamente, o que na prática nem sempre ocorre, como foi o caso nesta pesquisa; d) a metodologia pressupõe valores de receptividade e coesão da organização modelada, o que, na prática, sem sempre ocorre em ambientes organizacionais conflituosos e em organizações com poder centralizado. Neste trabalho, o modelo proposto para mensuração do capital intelectual inspirou-se no Skandia Navigator, mas efetuou significativas adaptações à realidade brasileira, considerando as necessidades de todas as partes interessadas, demonstrando sua relevância para o atingimento das metas organizacionais em países emergentes como o Brasil. Com a ponderação dos indicadores de desempenho pode-se sedimentar a potencialidade dos elementos que integram o capital intelectual e sua influência no desempenho da organização. 128 A tabela a seguir apresenta os resultados comparativos com a mensuração do capital intelectual das empresas estudadas pelo modelo Skandia Navigator e pelo modelo proposto: Tabela 2 - Comparação de Resultados Skandia Navigator x Modelo Proposto TERRA NETWORKS BRASIL ASPECTO DE COMPARAÇÃO HOSPITAL MOINHOS DE VENTO PELO SKANDIA NAVIGATOR PELO MODELO PROPOSTO % VAR. PELO SKANDIA NAVIGATOR PELO MODELO PROPOSTO COEFICIENTE DE EFICIÊNCIA 94,4% 81,4% -13% 116,6% 117,7% +1,1% CAPITAL INTELECTUAL R$ 5.283.993 R$ 4.556.952 -13,76% R$ 63.940.563 R$ 64.563.213 +0,1% VALOR DE MERCADO R$ 408.783.579 R$ 408.056.538 -0,18% R$ 140.844.563 R$ 141.467.213 +0,004% COEFICIENTE DE VALORAÇÃO DO CONHECIMENTO 1,31% 1,13% -0,18% 83,14% 83,95% +0,81% ÍNDICE DE VALOR AGREGADO 1,01 1,01 - 1,83 1,84 +0,01 % VAR. Fonte: Elaborada pelo pesquisador Em relação à aplicação dos modelos no Terra Networks, nota-se que há um decréscimo de 13% no Coeficiente de Eficiência, de 13,76% no valor do Capital Intelectual e de 0,18% no Valor de Mercado e no Coeficiente de Valoração do Conhecimento do Skandia Navigator para o modelo proposto. Esta variação é decorrente da ponderação dos indicadores de desempenho selecionados e da atribuição de valor nulo ao percentual de alcance do indicador de desempenho que 129 não é utilizado, no caso o que avaliaria a satisfação da partes interessada comunidade/sociedade. Em relação à aplicação dos modelos no HMV, nota-se que há um acréscimo de 1,1% no Coeficiente de Eficiência, de 0,1% no valor do Capital Intelectual, de 0,004% no Valor de Mercado, de 0,81% no Coeficiente de Valoração do Conhecimento e de 0,01% no Índice de Valor Agregado do Skandia Navigator para o modelo proposto. Esta variação é decorrente da ponderação dos indicadores de desempenho selecionados e da atribuição de valor positivo ao percentual de alcance para todos os indicadores de desempenho utilizados. Os executivos entrevistados declaram-se “em busca de capital intelectual traduzido em idéias e pessoas que saibam fazer com que as coisas aconteçam.” No mínimo, ainda que os retornos sobre os ativos registrados estejam aumentando em suas organizações, isto sugere que os antigos métodos para estimar o valor e o retorno dos investimentos precisam ser calibrados. E, assim, similar a um iceberg emergindo, a Contabilidade tradicional revela apenas sua ponta. No caso dos icebergs reais, a parte que se mostra acima da superfície da água corresponde a algo entre 1/5 e 1/7 do volume total. Isto, segundo os executivos entrevistados, ilustra um paradoxo contábil dos dias de hoje: “suas organizações possuem um excelente sistema descritivo do capital físico-financeiro, mas um sistema muito fraco para descrever e mensurar o capital intelectual. A lacuna é evidente e está se ampliando, em especial pelo entendimento limitado do seu significado”. A economia do conhecimento exige o desenvolvimento de novas perspectivas que levem em conta o passado, o presente e o futuro, como mostram o exemplo da Skandia e o modelo proposto neste trabalho. O passado ajuda a compreender o presente, que por sua vez permite uma sensibilidade mais aguçada do que acontece 130 no mundo, na economia e nas organizações, de modo a não cegar os gestores para mudanças e inovações. O caminho do futuro passa por aprender novas perspectivas e sua busca passa pela experimentação de novos modelos, técnicas e ferramentas para a solução dos problemas das organizações modernas. A aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual às organizações pesquisadas propiciou a ampliação dos conhecimentos do pesquisador sobre o tema e também permitiu a agregação de novas propostas, no sentido de melhorar o modelo e destacar a necessidade de pesquisa contínua, estudando formas de aprimorá-lo. Por exemplo, sugere-se a utilização do indicador de desempenho “Valor da Marca” como útil para avaliar a satisfação da parte interessada acionistas/sócios. Também sugere-se definir critérios para apurar o valor da satisfação de alguma(s) parte(s) interessada(s) quando esta não for avaliada formalmente pela organização. 8.5 SOBRE SUGESTÕES PARA ESTUDOS POSTERIORES Devido à complexidade do tema, faz-se necessário dar continuidade às pesquisas no sentido de harmonizar as técnicas para a elaboração de um modelo de mensuração do capital intelectual para satisfazer a necessidade do meio empresarial de evidenciar este importante recurso de ativo intangível e sua influência na formulação de estratégias organizacionais. O pesquisador recomenda a realização de uma pesquisa quali-quantitativa sobre o tema, de modo a mensurar o capital intelectual de uma amostra significativa de organizações, podendo-se assim de avaliar mais detalhadamente as implicações 131 da sua utilização para melhorar seu modelo de gestão, tornando-o mais aderente ao do PNQ, e, com isto, aumentando a sustentabilidade das empresas que o adotarem. Também é necessário aprofundar os estudos sobre a aplicação prática do modelo de mensuração do capital intelectual nas organizações, bem como sobre o desenvolvimento de um modelo específico para as organizações públicas e sem fins lucrativos. Espera-se que os resultados encontrados possibilitem às organizações administrar mais eficazmente seus componentes do capital intelectual, gerando assim novas riquezas e contribuindo para sua sustentabilidade. 132 REFERÊNCIAS AHONEN, Guy. Human resources statement. Helsinque: Kauppakaari, 2000. ANDERSEN, R.; MCLEAN, Rob. 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B - Peso dos indicadores, na opinião da alta direção da organização, pelo seu grau de importância para a consecução das estratégias, sendo 1 = pouca importância, 3 = média importância e 5 = alta importância. C - Meta dos indicadores de desempenho para o ano de 2004. D - Resultado dos indicadores de desempenho no ano de 2004. E - Percentual do resultado obtido pelos indicadores de desempenho em relação à meta proposta em 2004. F - Valor monetário investido em ações e projetos específicos para aumentar a satisfação das partes interessadas. P - Valor do Patrimônio Líquido da organização, conforme apurado no Balanço Patrimonial. 141 APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista OBJETIVO Este roteiro de entrevista visa facilitar a coleta de dados para a aplicação do modelo de mensuração do capital intelectual das organizações estudadas, conforme proposto nesta pesquisa. As questões foram formuladas de modo a contemplar todas as informações recomendadas pela FNQ (2005) para subsidiar o aprendizado organizacional em relação à gestão da satisfação das partes interessadas, sendo exatamente aquelas utilizadas no modelo de gestão do PNQ, com exceção das questões de 1 a 6, formulada para levantamento de opinião dos entrevistados sobre capital intelectual, baseados em Lima (2003). PÚBLICO-ALVO As entrevistas foram realizadas com os gestores das organizações pesquisadas responsáveis pelas áreas de Recursos Humanos, Marketing, Financeiro, Compras/Suprimentos e Responsabilidade Social, ou equivalentes, quando aplicável, e o CEO, nesta ordem. ABORDAGEM SEMI-ESTRUTURADA EM PROFUNDIDADE O quadro a seguir indica as questões que devem ser respondidas por cada gestor. Como as perguntas são, em sua maioria, de caráter aberto, cada gestor pode expor livremente suas observações sobre as questões formuladas. 142 Cargo/Função CEO Gestor Financeiro ou equivalente Gestor de Recursos Humanos ou equivalente Gestor de Marketing ou equivalente Gestor de Compras/Suprimentos ou equivalente Gestor de Responsabilidade Social ou equivalente Questões Pertinentes 1, 2, 3, 4, 5, 6, 18, 19 e 20 1, 2, 3, 4, 5, 6, 16, 17, 18, 19 e 20 1, 2, 3, 4, 5, 6, 14, 15, 18, 19 e 20 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 18, 19 e 20 1, 2, 3, 4, 5, 6, 12, 13, 18, 19 e 20 1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 11, 18, 19 e 20 QUESTÕES DE ENTREVISTA QUESTÕES GERAIS SOBRE CAPITAL INTELECTUAL (LIMA, 2003) 1) No seu entendimento, o que significa “capital intelectual”? 2) Na sua opinião, qual é a importância do capital intelectual para as organizações? 3) Nesta pesquisa, o conceito de capital intelectual utilizado é “toda melhoria de processo, produto ou serviço decorrente de conhecimentos adquiridos e aplicados”. Correlacione este conceito com o seu, conforme respondeu nas questões 1 e 2. 4) Você julga possível mensurar financeiramente o valor do capital intelectual de uma organização? Você conhece algum modelo de mensuração? 5) Se você respondeu positivamente à primeira parte da questão 4, descreva como você pensa que pode ser mensurado o valor financeiro do capital intelectual de uma organização. 6) Nesta pesquisa, adotou-se a premissa básica de que uma organização existe para satisfazer as necessidades e expectativas de todas as suas partes interessadas. Por decorrência, o modelo de mensuração do valor financeiro do capital intelectual proposto sugere que isto possa ser feito pela correlação dos valores financeiros investidos pela organização para aumentar a satisfação de todas as partes interessadas com os resultados obtidos por ela em relação à 143 satisfação efetivamente alcançada, conforme demonstrado na tabela ao final deste roteiro. Como você avalia esta proposição? QUESTÕES RELATIVAS À PARTE INTERESSADA CLIENTES (FNQ, 2005, p. 2930) 7) Descreva como é sistematizada, na sua organização, a gestão dos processos relativos aos clientes, considerando os seguintes aspectos: - como sua organização identifica, analisa e compreende as necessidades dos clientes e dos mercados, atuais e potenciais, de forma a criar e buscar novas oportunidades; - como sua organização seleciona e disponibiliza canais de relacionamento, gerencia as reclamações, sugestões e solicitações de informações. 8) Como sua organização determina o nível de satisfação dos clientes? Há indicadores de desempenho para esta avaliação? Se há, qual (quais) é (são) o(s) mais importante(s)? 9) Como sua organização determina o nível de fidelidade dos clientes? Quais são os critérios utilizados para classificar o nível de fidelidade dos clientes? Há indicadores de desempenho para esta avaliação? Se há, qual (quais) é (são) o(s) mais importante(s)? QUESTÕES RELATIVAS À PARTE INTERESSADA COMUNIDADE/SOCIEDADE (FNQ, 2005, p. 31-32) 10) Descreva como é sistematizada, na sua organização, a gestão dos processos relativos à comunidade, considerando os seguintes aspectos: 144 - como a organização gerencia de maneira equilibrada os impactos de seus processos, produtos e serviços sobre os ecossistemas e a sociedade, a proteção e a sustentabilidade ambiental, e a prevenção da poluição com as necessidades socioeconômicas; - como a organização gerencia seus negócios de maneira ética e transparente, considerando os interesses da comunidade e incorporando-os ao planejamento de suas atividades, de forma a se tornar parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. 11) Como sua organização determina o nível de satisfação da comunidade? Há indicadores de desempenho para esta avaliação? Se há, qual (quais) é (são) o(s) mais importante(s)? QUESTÕES RELATIVAS À PARTE INTERESSADA FORNECEDORES (FNQ, 2005, p. 41) 12) Descreva como é sistematizada, na sua organização, a gestão dos processos relativos aos fornecedores, considerando os seguintes aspectos: - como os fornecedores são selecionados e qualificados; - como os fornecedores são avaliados e informados de seu desempenho; - como a organização se relaciona com seus fornecedores, seus principais canais de relacionamento e informações veiculadas por estes canais; - como a organização envolve e compromete seus fornecedores com os valores e diretrizes organizacionais; - como a organização apóia e incentiva seus fornecedores na busca da melhoria do seu desempenho atual e futuro, e conseqüentemente, no desenvolvimento de relações duradouras. 145 13) Como sua organização determina o nível de satisfação dos e com os fornecedores? Há indicadores de desempenho para esta avaliação? Se há, qual (quais) é (são) o(s) mais importante(s)? QUESTÕES RELATIVAS À PARTE INTERESSADA EMPREGADOS (FNQ, 2005, p. 36-38) 14) Descreva como é sistematizada, na sua organização, a gestão dos processos relativos às pessoas (empregados), considerando os seguintes aspectos: - como são organizadas a estrutura do trabalho e a estrutura de cargos; - como são realizados os métodos de seleção e contratação de pessoas; - como são realizadas as práticas de avaliação de desempenho; - como são realizadas as práticas de remuneração, reconhecimento e incentivo; - como são identificadas as necessidades de capacitação e desenvolvimento para criar competências e contribuir para a melhoria do desempenho das pessoas; - como os fatores relativos ao ambiente de trabalho e ao clima organizacional são identificados e utilizados para assegurar o bem-estar, a satisfação e a motivação das pessoas. 15) Como sua organização determina o nível de satisfação dos empregados? Há indicadores de desempenho para esta avaliação? Se há, qual (quais) é (são) o(s) mais importante(s)? QUESTÕES RELATIVAS À PARTE INTERESSADA ACIONISTAS/SÓCIOS (FNQ, 2005, p. 42) 16) Descreva como é sistematizada, na sua organização, a gestão do processo financeiro, considerando os seguintes aspectos: 146 - como é gerenciada a sustentabilidade financeira do negócio; - como são gerenciados os aspectos relacionados à capitalização necessária às estratégias de crescimento no médio e longo prazos. 17) Como sua organização determina os resultados financeiros? Há indicadores de desempenho para esta avaliação? Se há, qual (quais) é (são) o(s) mais importante(s)? QUESTÕES DE ANÁLISE DO MODELO PROPOSTO EM RELAÇÃO À SUA UTILIDADE PARA A FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS (LIMA, 2003) 18) Analise a proposição de modelo de mensuração do valor financeiro do capital intelectual utilizado nesta pesquisa, conforme a tabela no final deste roteiro. Como você julga que esta análise pode contribuir para subsidiar a formulação de estratégias para sua organização? 19) Analise a proposição de modelo de mensuração do valor financeiro do capital intelectual utilizado nesta pesquisa, conforme a tabela no final deste roteiro. Os dados apresentados são os de sua organização, aplicados ao modelo proposto. Como você julga que esta análise pode contribuir para subsidiar a formulação de estratégias para a sua organização? 20) Que sugestões você recomenda para aprimorar o modelo de mensuração do valor financeiro do capital intelectual das organizações proposto nesta pesquisa, de modo a que ele seja uma ferramenta ainda mais útil para subsidiar a formulação de estratégias? 147 MODELO DE MENSURAÇÃO DO CAPITAL INTELECTUAL BASEADO NO MODELO DE GESTÃO DO PNQ