O USO DE AGROTÒXICOS EM SÃO JOÃO DO TRIUNFO,
uma abordagem histórica.
1
- Msc Marco Aurélio Monteiro Pereira
² - Osni Cachuk
RESUMO
O Artigo; “O Uso de Agrotóxicos em São João do Triunfo, uma
abordagem histórica, é uma construção da história do uso de venenos na agricultura
em São João do Triunfo. Ele apresenta como se construiu a idéia de que sem
venenos não se consegue produzir. Para tanto há uma descrição de como se fazia o
cultivo da terra no início do século XX, como era a agricultura desse período e vem
fazendo o percurso das práticas até a introdução do uso de agrotóxicos a partir do
período da chamada “Revolução Verde”. Para entender este processo o artigo
apresenta a análise de documentos de órgãos de estado que tratam da temática do
uso dos agrotóxico.O modo discursivo como era apresentado os venenos e sua
aplicabilidade à agricultura bem como os efeitos desta prática.Após este estudo se
faz a apresentação da teoria da trofobiose , segundo a qual os parasitas não atacam
as plantas onde os sistemas nutricionais estejam equilibrados.Então o artigo propõe
que uma agricultura sem o uso de venenos só é possível se trabalhar na perspectiva
do equilíbrio dos sistemas nutricionais.
PALAVRAS-CHAVE: História. Agricultura. Agrotóxico
ABSTRACT
The Article “the uses of pesticides in São João do Triunfo, a historical
approach” is constructions of the use of poisons in agriculture’s history in São João
do Triunfo. It features how was born the Idea that without poisons you can’t produce.
Wherefore there is a description how they made the cultivation of land at the
beginning of XX century, how was the agriculture of that period and has taken the
way of the route of practice until the introduction of the use of pesticides from the
time the so-called "Green Revolution". For understand this process the article
presents the analysis of documents from governmental agencies that deal with the
issue of the use of pesticides. The way that the discursive way by which the poisons
were presented and their applicability to agriculture and the effects of this practice.
After this is the presentation of the theory of trofobiose according to which the
parasites do not attack the plants where the systems are balanced nutrition. Then the
article proposes that an agriculture without the use of poisons is only possible when
working towards the balance of nutritional systems
1 Professor Orientador: Msc Marco Aurélio Monteiro Pereira
2 Professor PDE -2008 : Osni Cachuk- Licenciado em Filosofia , Esp. em Metodologia do Ensino.
2
O USO DE AGROTÒXICOS EM SÃO JOÃO DO TRIUNFO,
uma abordagem histórica.
2
- Msc Marco Aurélio Monteiro Pereira
² - Osni Cachuk
Notas introdutórias
A sociedade contemporânea valoriza o ter mais e mais, buscando
sempre aumentar a produção. Neste sentido o artigo busca construir a concepção
de agricultura no passar do tempo, pois não há uma realidade estática, mas
dinâmica onde o modo de se produzir no passado não dá conta da demanda para o
presente e o modo de produzir do presente nos aponta para questionamentos na
perspectiva se conseguiremos produzir no futuro.
São João do Triunfo é um município que tem sua base econômica
na agricultura e agricultura familiar. Mas com o passar dos anos sofreu mudanças no
modo de pensá-la e no modo de praticá-la. Atualmente realiza-se uma agricultura
seguindo os ditames do mercado. Está vinculada a regras determinadas pelo
mercado: de produtividade, de competitividade e lucratividade, ou seja, eficiência e
eficácia, porém sistema este que vem se construindo ao longo do tempo.
O processo de construção do estudo sobre o uso de agrotóxicos em
São João do Triunfo na perspectiva histórica se dá na retomada do modo de se
produzir no início do século XX, onde se entendia como fundamental ter na
propriedade o máximo do necessário para produção.
A construção dessa história apresentou limitações no que tange ao
acesso às informações sobre o período de início do século XX, pois não há
disponibilidade de referencial teórico no campo da historiografia. O que foi possível
encontrar foi um material de caráter instrutivo e técnico destinado à população rural
a fim de propiciar o: “melhoramento moral e material de si mesmo, do bem estar da
família, do progresso dos lugares onde vive, cultivando ou não a terra, de onde vem
2 Professor Orientador: Msc Marco Aurélio Monteiro Pereira
2 Professor PDE -2008 : Osni Cachuk- Licenciado em Filosofia , Esp. em Metodologia do Ensino.
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as colheitas e os rebanhos produzidos pela natureza e inteligência do agricultor”. (p.
11- ABC do Agricultor)
A iniciativa em construir a história do Uso de Agrotóxicos em São
João do Triunfo é resultante da reflexão no âmbito escolar sobre a necessidade de
construir a história de nossa comunidade e de produzir material didático para
atender às demandas do campo, já que o conteúdo escolar tradicionalmente
elencado nas propostas curriculares tem orientação na perspectiva urbana. Também
atender a demanda do próprio campo na perspectiva de pensar os discursos
utilizados para convencer os agricultores sobre a importância e necessidade de uso
de agrotóxicos nas lavouras em São João do Triunfo e descobrir quem foram os
agentes propagadores dessa ideia: “uso de agrotóxicos”.
O uso de agrotóxicos é apresentado como a única forma viável de
prática na agricultura e isto acaba resultando em resistência a outras formas de
cultivo, como também na descrença em outras práticas possíveis. A dependência do
uso fez com que os agricultores se tornassem acríticos à própria história de como
iniciaram sua utilização e mesmo aos efeitos nocivos à saúde. Pensa-se na
possibilidade de outros agentes causadores de doenças, menos no uso de venenos.
O cotidiano no campo apresenta alguns desafios a serem superados:
como produzir alimentos sem venenos e como desmistificar essa ideia de que sem o
uso de venenos na atualidade não se consegue produzir. Porém, para tal
“empreitada” apresenta-se o discurso utilizado para agendar na malha intelectiva
essa ideia sobre a necessidade de agrotóxicos na agricultura e quais as
possibilidades de mudança que hoje já existem, mas que ainda são pouco
difundidas.
Construir a história do uso de agrotóxicos em São João do Triunfo é
uma caminhada que perpassou pela busca do referencial bibliográfico, pela
construção do projeto, pela visita a documentos sobre agrotóxicos que datavam o
período compreendido entre 1960 a 1985, onde
se
explicitam os discursos
utilizados para o convencimento dos agricultores. É desafiador a busca de dados
atuais sobre os efeitos do uso de agrotóxicos, pois as pesquisas são realizadas
pelas empresas que desenvolvem os produtos e como na sociedade atual o
determinante é o mercado, então nem sempre a sociedade tem acesso a todos os
resultados, pois obviamente divulga-se o que não afeta o mercado. Também
4
desafiadora é a construção da ação posterior junto à comunidade na perspectiva da
superação dessa prática e construção de práticas alternativas.
Este artigo foi construído a partir de fontes, respostas a
questionários, tabulação de dados, análise de dados, entrevistas e a materialização
no Túnel do Tempo, um trabalho que consiste numa prática metodológica
participativa que envolve toda a comunidade escolar, para de uma forma criativa
trabalhar a transdisciplinaridade. A intencionalidade do projeto é direcionar
atividades pedagógicas para a rede Pública Estadual e Municipal de São João do
Triunfo, estabelecendo assim um trabalho conjunto de todos que participam do
processo educativo em nosso município. Seu objetivo é contribuir para a construção
da história do município de São João do Triunfo, uma vez que nos seus 118 anos de
emancipação política, tem pouco registro escrito da sua história.
A comunidade escolar do Colégio Estadual Francisco Neves Filho,
busca a construção da história a partir da memória viva, tentando chegar-se ao
mais real possível do que foi a história dos seus antepassados até nossos dias. Esta
prática pedagógica de construir a história por meio de mutirão acontece a partir de
2002 e no ano de 2009 teve por tema: “O uso de agrotóxicos em São João do
Triunfo, uma abordagem histórica” .
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DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
Para pensarmos as contradições de qualquer sistema é fundamental
conhecermos seu processo histórico. Para esta atividade o historiador deve ser
conforme afirma Bloch, (2002, p. 53) “(...) um andarilho fiel a seu dever de
exploração e de aventura (...)”, sendo que sua busca é a história, mas entendida não
como o passado, mas tendo por objeto de pesquisa conforme afirma o próprio Bloch,
(2002, p. 53) “(...) os homens no tempo”.
Como o objeto de pesquisa da história é o homem, ou melhor são
os homens; estudar o seu agir, o seu comportamento, o seu trabalho; buscar
compreender conforme Bloch, (2002, p. 53) “(...) a obra de uma sociedade que
remodela suas necessidades, o solo em que vive é; todos intuem isso, um fato
'histórico'”. Nesta perspectiva podemos pensar o caráter histórico do uso dos
agrotóxicos em São João do Triunfo no Paraná.
A construção histórica se fundamenta na História Social, pois as
representações dos usuários dos agroquímicos sobre estes são uma construção
social e histórica. Também estão alicerçadas na perspectiva da História Cultural
enquanto reportam-se às mentalidades e à História Oral na preocupação com a
memória.
No entender de Goff, (1990, p. 14) “(...) o interesse do passado está
em esclarecer o presente; o passado é atingido a partir do presente (método
regressivo de Bloch)”. Assim a compreensão de inferências do tipo: “sem veneno
não dá para produzir na agricultura”, “sem o uso de venenos não é possível produzir
em grande quantidade e com qualidade como o mercado exige”; acontece com o
estudo da historicidade do processo de implantação do uso de agrotóxicos, pois o
presente e passado articulam-se dialeticamente. A construção histórica deve
esclarecer a memória e corrigir os eventuais erros constantes na mesma, pois
segundo o próprio Goff, (1990, p. 50) “(...) a memória é um dos objetos da história e
um nível elementar de elaboração histórica”.
A construção da história do uso de agrotóxicos em São João do
Triunfo fundamenta-se no conceito defendido por Goff, (1990, p. 423) de “(...)
memória,
como
propriedade
de
conservar
certas
informações
(...)”;
para
compreendermos as representações sobre o modo de produzir na agricultura, as
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relações de produção decorrentes da agricultura agroquímica e o modo como está
organizada a produção em nossos dias. Há uma preocupação com elementos e
informações não presentes na memória, mas estes como o próprio Goff, (1990, p.
427) alerta: “Esquecimentos e silêncios da História são reveladores desses
mecanismos de manipulação da memória coletiva (...)” e podem se constituir em
novos temas para futuros trabalhos de pesquisa.
Há uma preocupação com a construção de propostas de práticas
alternativas que foram apresentadas de maneira materializada na intervenção do
Túnel do Tempo em 2009. Proposição esta que se fundamenta em Goff, (1990, p.
477) quando diz: “Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a
Libertação e não para a servidão dos homens”.
A busca do passado decorre da realidade do presente, pois o
problema abordado faz parte do cotidiano da comunidade de São João do Triunfo e
esta realidade deve ser compreendida na perspectiva do constante devir, ou vir a
ser. Então se fez uso da concepção de Bloch, (2002, p.75) que afirma: “O
conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se
transforma e aperfeiçoa (...)” e o objetivo da análise histórica segundo o próprio
Bloch, (2002, p.30) é “(...) compreender e não julgar”. Pensando nesta perspectiva
construiu-se o caminho percorrido para a implementação dos agroquímicos em São
João do Triunfo desde o início da chamada Revolução Verde até nossos dias, bem
como, as permanências do modelo anterior e as mudanças advindas com este
modelo, o surgimento de outras práticas simultaneamente que buscam o cultivo sem
o uso de agroquímicos.
Conforme Bloch, (2002, p.53) “(...) a obra de uma sociedade que
remodela segundo suas necessidades, o solo em que vive é, todos intuem isso, um
fato eminentemente 'histórico'”; assim também o uso dos agrotóxicos tem seu
caráter histórico, pois está vinculado à ação humana na relação com o solo e
especificamente o objeto da história são os homens.
O
presente estudo pretende levar a comunidade triunfense a
pensar um jeito de produzir dispensando o uso de agroquímicos. Assim, torna-se
necessária a construção da história do uso destes que aconteceu seguindo a
concepção da nova história que segundo Ferreira, (1998, p. 02):
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“(...) esta nova história sustentava que as estruturas duráveis são
mais reais e determinantes que os acidentes de conjuntura. Seus
pressupostos eram que os fenômenos inscritos em uma longa
duração são mais significativos do que os movimentos de fraca
amplitude, e que os comportamentos coletivos têm mais importância
sobre o curso da história do que as iniciativas individuais. As
realidades do trabalho e da produção, e não mais os regimes políticos
e os eventos, deveriam ser objeto de atenção dos historiadores. O
fundamental era o estudo das estruturas, em que assumia primazia
não mais o que é manifesto, o que se vê, mas o que está por traz do
manifesto. O que importava era identificar as relações que
independente das percepções e das intenções dos indivíduos,
comandam os mecanismos econômicos, organizam as relações
sociais, engendram as formas do discurso.
“
Para tomar conhecimento do histórico do uso dos agrotóxicos em
São João do Triunfo precisa-se considerar como método os recursos da história oral,
procurar dar voz aos excluídos, procurar recuperar trajetórias de grupos dominados,
e como no entendimento de Ferreira, (1998, p.04): “A história oral se afirmava,
assim, como instrumento de construção de identidade de grupos e de transformação
social - uma história oral militante”. Na medida em que mobilizar a comunidade
escolar para a construção da história do uso de agrotóxicos busca-se construir
também a história de São João do Triunfo e desenvolver a consciência da
necessidade de compromisso com a coletividade para a transformação do meio em
que vivemos.
O uso de depoimentos orais passa pela valorização do sujeito, no
caso o agricultor que expressa a sua decisão de uso ou não, que na maioria das
vezes foi tomada a partir de comunicações orais, feitas por técnicos agrícolas,
engenheiros agrônomos de empresas estatais ou privadas, vendedores de
agroquímicos. Também a apropriação deste universo é facilitada pela leitura de
depoimentos orais para suprir as lacunas dos documentos escritos, o que facilita a
construção da história do uso de agrotóxicos em São João do Triunfo.
Também o uso de fontes orais se constitui de grande utilidade em
virtude da especificidade e particularidade do tema que implica na escassez de
fontes documentais escritas. Os depoimentos nos permitem análises sobre os
discursos dos divulgadores dos agroquímicos, bem como os processos de tomada
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de decisão por parte dos agricultores pelo uso ou não. Ainda podemos através da
análise dos depoimentos perceber as permanências de práticas agrícolas anteriores
e transformações no modo de produzir, bem como as representações sobre o uso
dos agrotóxicos.
O passado é construído segundo as necessidades do presente
conforme percebe-se em Ferreira, (1998, p. 08) quando afirma: ”A memória é
também uma construção do passado, mas pautada em emoções e vivências; ela é
flexível, e os eventos são lembrados à luz da experiência subsequente e das
necessidades do presente”.
Segundo Ferreira, (1998, p.08) é necessário que:
“(...) as entrevistas orais sejam vistas como memórias que espelham
determinadas representações. Assim, as possíveis distorções dos
depoimentos e a falta de veracidade a eles imputada podem ser
encaradas de uma nova maneira, não como uma desqualificação,
mas como uma fonte adicional para pesquisa.”
Ao estudar a realidade acontece a proposição de uma práxis
transformadora onde os depoimentos orais dos agricultores possam a constituir-se
em instrumentos de identidade e de transformação social, bem como em elementos
que servem à crítica para que a comunidade escolar construa novas representações
quanto à relação do homem com a terra, do homem com a natureza.
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DESENVOLVIMENTO DO TEMA
A agricultura em São João do Triunfo constitui-se como primeira
atividade econômica da região. Porém inicialmente era realizada seguindo as
práticas dos povos nativos, ou seja, a técnica da coivara, que nada mais é do que a
derrubada da mata deixa-se secar e em seguida vem à queimada para limpar o solo
e realização do plantio. Esta prática perdurou por um longo período de tempo.
Mesmo com a utilização do arado ainda se realizava tal prática pois muitos
agricultores acreditavam que seria também uma forma de adubação em decorrência
da cinza que permanecia no solo.
No início do século XX há já uma preocupação em instrumentalizar o
agricultor com conhecimentos que no dizer de Dr Dias Martins seria para suprimento
de: “melhoramento moral e material de si mesmo, do bem estar da família, do
progresso dos lugares onde vive, cultivando ou não a terra, de onde vêm as
colheitas e os rebanhos, produzidos pela natureza e inteligência do agricultor.
(Martins,Dr Dias, ABC do Agricultor, 2ª edição-Rio de Janeiro, Ministério da
Agricultura-1912).
Para pensar este período tomamos o livro; ABC do Agricultor . Livro
este que é um conjunto de aplicações práticas de geologia, física, química e
zoologia, de agricultura em geral e economia rural, de zootecnia, parasitologia
agrícola e higiene rural. Também neste livro o autor Dr Dias Martins afirma que em
agricultura o que se deve fazer primeiro é ; “valorizar a inteligência humana,
educando principalmente a criança, para entender rudimentarmente o solo e a
planta, o campo e o rebanho, o lucro e o prejuízo” (P 4 do prefácio do livro ABC do
Agricultor- (Martins,Dr Dias, ABC do Agricultor, 2ª edição-Rio de Janeiro, Ministério
da Agricultura-1912).
Então, pensar como era a agricultura no início do século XX implica
em seguir a perspectiva que nos aponta Dr Martins onde deve-se considerar como
as terras sobre as quais trabalhamos foram feitas, como a terra é por dentro, como a
planta é feita, o esterco, a semente, os instrumentos de trabalho, a escolha do sítio
ou melhor da terra se é ruim ou boa, sobre a criação e parasitas, doenças e
remédios.
Ao ler o que nos aponta Dr Martins vemos que a concepção de
formação da terra sobre as quais plantamos é de que durante milhares de anos fruto
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da ação dos ventos, sol e chuva foram se transformando as pedras em pedras
menores ,areia e por fim com o surgimento das plantas e animais foi se constituindo
o solo onde em decorrência desse processo há a permeabilidade do solo e nele
penetra a água que se constituirá em lagos e rios e sucessivamente a queda da
folhas e o apodrecimento das mesmas farão a reposição dos nutrientes retirados
pelas plantas durante o processo de crescimento, mantendo a fertilidade do solo.
Então a terra segundo seguindo esta compreensão é formada de “ 50 a 70 partes de
sílica (areia), 20 a 30 partes de argila (barro), 5 a 10 partes de calcário (pedra que
tem cal) 5 a 10 partes de húmus (terra escura)” p 7 do ABC do Agricultor)
Para pensar a agricultura neste período devemos também pensar
que eles entendiam que cada retirada de plantas do solo levava consigo nutrientes
do mesmo e para manter essa fertilidade era necessário a reposição dos mesmos e
que era feita por meio do esterco. Então se identificava a qualidade dos alimentos
que se produzia na propriedade a partir da verificação da qualidade da esterqueira.
Quanto melhor o esterco, melhor se tornaria o solo e melhor a
qualidade dos
alimentos. Por esse motivo que se orientava que o animal doente deveria ficar
separado dos demais animais para não ocorrer a contaminação do esterco, que por
conseguinte contaminaria a planta que seria utilizada como alimento.
Neste contexto, onde é na propriedade que acontece todo o
processo agrícola outro aspecto que merece destaque é a questão das sementes,
pois é com ela que se constrói a produção. Então o agricultor deve se preocupar
com a seleção da área a ser plantada bem como com as sementes que serão
utilizadas no cultivo que tem por objetivo produzir sementes, bem como o manejo
para garantir sementes de boa qualidade. Manejo este que vai desde a escolha do
solo, o sistema de plantio, a desinfecção das sementes, o evitar a ação dos
predadores e a diversificação de plantas , cuidando para se plantar todo tipo de
alimentos, ter um pomar e uma horta na propriedade, pois no entendimento das
pessoas desta época não existir estas coisas na propriedade significa que será
morada da necessidade, da miséria , acusando o dono de pior dos agricultores.
Também na compreensão do fazer na agricultura do início do século
XX é importante entender ao que se refere ao uso dos instrumentos agrícolas
conforme afirma DR Dias Martins:
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“(...) para que serve o trabalho dos arados, das grades,dos rolos, dos
semeadores, e segadores, ensino que todo agricultor deve aprender,
porque assim entenderá melhor a razão deste ou daquele serviço e
saberá o que está fazendo e conhecerá a razão do que mandou
fazer(...). Não há condição mais triste para um agricultor, do que
levar toda a vida sem saber porque, e como se preparam as terras,
se escolhem as sementes e se fazem as colheitas, pagando a um
estranho para dirigir todos esses serviços, e que as vezes sabe
menos do que o dono das terras, que guiado por tal piloto, há de
perder o sítio, mais cedo ou mais tarde.” (ABC do agricultor, p. 04)
Outro aspecto de destaque se refere a realidade das criações no
meio rural pois havia um preocupação constante que em toda propriedade rural se
tivesse pelo menos o que fosse possível criar como:galinhas, patos , porcos e
cabras pois segundo o que se pensava isto era o indispensável em todo mundo e
sem isto não era possível garantir alimento. Também era tratada a realidade das
criações como produtores de esterco que servia para reposição dos nutrientes do
solo. Para tanto a sanidade dos animais era fundamental, pois dela dependia a
qualidade do adubo que seria utilizado na agricultura.
Com relação aos parasitas dos animais e doenças nas lavouras no
início do século XX o combate era efetuado com produtos da propriedade, embora
o plantio era realizado em épocas certas, onde segundo o Dr Dias Martins os ciclos
da natureza o que resultava em plantas saudáveis e portanto resistentes pragas e
doenças. A preocupação era mais com a prevenção do que com combate às pragas
e doenças.
O preparo do solo no início do século passado em São João do
Triunfo consistia em duas formas basicamente : o uso da técnica da coivara, que
consistia na derrubada da mata e logo que o mato estivesse seco se efetivava a
queima dos galhos para posteriormente realizar o plantio. Onde as terras estavam
limpas que possibilitava o uso de instrumentos como o arado, se fazia o trabalho de
aração, gradeação com a grade ou também chamada de cultivadores e em seguida
passava-se o rolo para aplainar melhor o terreno, igualando-o, diminuindo-lhe a
superfície para o plantio onde podia fazer o uso de semeadores que prestavam o
serviço de ao mesmo tempo que abrem os sulcos já lançam as sementes.
A manutenção do serviço de limpeza das lavouras no início do
século se dava pela utilização de ferramentas como a enxada e os cultivadores,
porém normalmente se fazia uso do recurso da capina. Este trabalho era
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considerado fundamental para garantia de boa colheita, pois conforme afirma Dr.
Dias Martins, (1912, p.106):
“As terras bem carpidas, cujas plantações andam sempre bem
limpas, bem cuidadas, conservam-se muito frescas, guardando a
umidade conveniente; ao passo que as terras que andam mal
carpidas, mal cuidadas, ficam secas, com perda de tanta umidade, o
mato fazendo-as perder muita água pelas folhas. Por isso ter um
cafezal, um milharal, um feijoal, um pomar, no sujo, é trabalhar para
secar as terras, roubando-lhes água, sem poder esperar colheita que
preste”.
A agricultura do início do século XX se caracterizava pela
diversidade, pelo controle de todo o processo produtivo pelo agricultor pois ele era
quem realizava o preparo do solo, o plantio , a capina e a colheita. Mas também
detinha na propriedade as sementes ou conseguia a base de troca com a
vizinhança, bem como fazia a reposição dos nutrientes do solo utilizando o esterco
recolhido na propriedade que também era chamado de estrume e adubo, pois são
palavras que querem dizer: folhas, capins, restos de animais e de plantas,sujeiras de
toda sorte,passando por diversas mudanças no solo, ou na estrumeira. Em até
ficarem, transformados em alimentos dos vegetais.
O esterco resultante da ação de diversos componentes entre os
quais destacamos os micróbios que se encarregam em realizar o processo de
transformação da matéria morta em adubo. Também as minhocas tem um papel
decisivo neste processo de melhoramento do solo, pois ela é responsável pela
transformação da matéria morta em húmus. Quanto mais vida na superfície da terra
mais transformação de matéria morta em húmus e melhoria da fertilidade do solo.
Este modo de se fazer agricultura vai ser predominante até o
advento da chamada Revolução Verde que traz consigo a utilização de novas
formas de cultivo, onde se apresentam os agrotóxicos. Estes fazem parte do
cotidiano de milhares de agricultores em São João do Triunfo, a partir da
implantação do modelo tecnológico extensivo na década de 1960.
Com a modernização da economia ocorreu a industrialização da
agricultura, onde esta passou a ter um caráter empresarial, se transformando em
mercado de máquinas e produtos como: adubos, inseticidas, fungicidas, herbicidas
que são produzidos pela indústria.
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Este modelo extensivo é marcado pela mecanização da lavoura com
máquinas e equipamentos e viabilizado através de subsídio do Estado dado à
indústria; pelo uso de sementes melhoradas, que transformam a agricultura
diversificada em monocultura agro exportadora, pelo uso de produtos químicos
artificiais (agrotóxicos e adubos sintéticos). Em São João do Triunfo temos como
exemplo a introdução das lavouras de fumo no sistema de integração com empresas
fumageiras, destacando-se inicialmente a empresa Souza Cruz.
O modelo implantado provocou imediatamente conseqüências
como: - redução no aproveitamento da mão-de-obra nas atividades agrícolas,
aumento do consumo de herbicidas, integração do produtor camponês com a
agroindústria, produção para exportação, expansão da indústria de equipamentos
agrícolas, dependência da agricultura ao sistema bancário, criação de órgãos de
assistência técnica, construção de uma argumentação que fizesse o agricultor
pensar na impossibilidade de produzir sem o uso de agrotóxicos.
Acontece em São João do Triunfo transformações no processo de
produção onde a relação do agricultor se ampliará com o mercado financeiro e com
o governo, pois para financiar a lavoura é necessária a orientação técnica. Para
tanto o governo a partir da criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR)
coloca a disposição dos agricultores a Instituição ACARPA (Associação de Crédito e
Assistência Rural do Paraná), que através de seus técnicos levariam tecnologias
agrícola e gerencial a pequenos e médios produtores do Estado, visando contribuir
com o desenvolvimento da nossa agricultura e o bem estar do homem do campo,
através do aumento da produtividade
e da conservação dos recursos naturais.
Buscava-s incorporar ao campo o esforço em modernizar, assim como acontecia
nos demais setores da economia nacional.
São João do Triunfo integrará rapidamente na agricultura estas
práticas, mudando significativamente sua forma de produzir, seus produtos, o uso da
terra, as relações dos homens com o trabalho, enfim a forma de ser do homem no
campo.
O professor Sebastião Pinheiro apresenta didaticamente na “Cartilha
dos Agrotóxicos” a trajetória do domínio do homem sobre a natureza, onde o homem
passou a combater as pragas, não mais evitá-las, inicialmente com o uso do enxofre
na Sicília, depois a descoberta na França de um fungicida, que passou a chamar-se
de Calda Bordalesa e apresenta esta trajetória até nossos dias, onde os agrotóxicos
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são
produtos
controlados
por
transnacionais.
Elas
já
possuem
produtos
biotecnológicos para a agricultura ecológica prontos para serem lançados no
mercado. Mas eles custam bem mais caros que os agrotóxicos, pois são mais
modernos. Sebastião Pinheiro apresenta que os venenos foram utilizados
inicialmente como armas de guerra e depois foram introduzidos na agricultura.
Quando a indústria de Agrotóxicos não estava a serviço militar ele sobreviveria
produzindo venenos para a agricultura e gerando lucros. Também ele destaca que
com a substituição do esterco de gado e plantio de adubação verde pelo fertilizante
químico comprado aumentou as pragas e doenças, e obrigou o uso de mais
agrotóxicos.
Porém convém destacar que esta cultura do uso de agrotóxicos
aonde se chega a pensar que sem a aplicação dos mesmos não é possível se fazer
a agricultura vai se construindo ao longo do tempo. Há várias formas discursivas que
vão utilizando-se com diversos agentes sociais, mas chama atenção o papel que o
estado exerce no sentido de propagar o uso dos agroquímicos. Isto se percebe em
publicações feitas por órgãos de estado como também na orientação dada aos
técnicos que atuavam junto aos agricultores.
Na publicação da Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná de
l979 o Professor Roberto Bassi Lindemberg utiliza o termo defensivo para os
agrotóxicos. É interessante destacar que em seu texto ele apresenta os defensivos
como ferramentas e encaminha sua estruturação do raciocínio em seu discurso na
perspectiva de que na agricultura utiliza-se várias ferramentas, porém algumas
pessoas se machucam mais que a outras, usando um mesmo tipo de ferramenta e
isto varia de indivíduo para indivíduo e a maneira como se utiliza, pois temos que ter
o cuidado para que nosso trabalho seja:
−
“DE MELHOR QUALIDADE
−
DE MAIOR RENDIMENTO
−
DE MENOR PERIGO PARA NOSSA VIDA
−
PRECISAMOS USAR CORRETAMENTE UMA FERRAMENTA".
15
A
apresentação
acima
demonstra
a
forma
discursiva
propagandística em favor do uso dos agrotóxicos, pois ai eles eram apresentados de
modo a não oferecer risco à vida. Caso apresentasse perigo o responsável era o
usuário, que não cumpriu as
prescrições técnicas, descaracterizando qualquer
culpa ao veneno ou a quem o formulou. Interessante que esta publicação era de um
órgão de Estado e visava difundir uma nova prática na agricultura. Junto com o uso
destas novas ferramentas estava inclusa uma nova relação de trabalho, uma nova
forma de organizar a propriedade, novos papéis do trabalhador no processo
produtivo para suprir as demandas do mercado.
Esta publicação nos ajuda a compreender como aconteceu a
construção do discurso em defesa do uso de agrotóxicos em detrimento do uso do
conhecimento já apropriado e aplicado pelos agricultores nas suas atividades
agrícolas. A partir desta época o agricultor deveria aderir à tecnologia.
Estes produtos que são os venenos terão uma denominação
específica onde os agrotóxicos são chamados de defensivos e que conforme a
finalidade recebem ainda uma denominação relacionada a sua ação conforme
podemos ver na publicação da Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná de
l979 o Professor Roberto Bassi Lindemberg onde temos:
“Para defendermos as lavouras dos insetos usamos INSETICIDA;
Para defendermos s lavouras dos ácaros usamos ACARICIDAS; Para
defendermos as lavouras das DOENÇAS usamos FUNGICIDA; Para
defendermos as lavouras das ERVAS DANINHAS usamos
HERBICIDA.” ( SOUZA, A. C. at all p. 35)
A estruturação do raciocínio na propagação do uso dos agrotóxicos
é articulada de tal forma que os agricultores assumam como natural a necessidade
do uso,pois sem eles não haveria possibilidades de prosperar na agricultura.
Também o raciocínio está apontando para a atribuição de responsabilidades ao
agricultor, como fosse ele o culpado por quaisquer problemas que viesse causar a si
ou ao outro ,ou à natureza. Pela forma que se articulam as palavras leva-se a
pensar que todo e qualquer mal resultante do uso dos venenos o culpado é o
agricultor que não teria seguido as recomendações e nunca o veneno. As
responsabilidades são imputadas ao agricultor e não ao produto e muito menos ao
fornecedor e ou fabricante.
16
A pesquisa realizada junto a duzentos e quinze agricultores de São
João do Triunfo apresenta que a maioria, ou seja 92% dos agricultores cultivam uma
área menor de dez alqueires, porém apenas 57% se caracterizam como agricultores
familiares. Também o universo dos que cultivam mais de trinta alqueires é de
apenas 2%. Porém nenhum dos entrevistados se caracterizou como empresário
rural.
A seguir segue a representação gráfica do universo dos agricultores
onde se caracteriza como os mesmos se denominam:
VOCÊ É CARACTERIZADO COMO:
43%
123
92
0
- Agricultor familiar
- Produtor rural
- Empresário rural
57%
Os dados representados graficamente definem como os agricultores
se auto-intitulam, onde a maioria situa-se no conjunto dos agricultores familiares.
A ÁREA QUE VOCÊ UTILIZA PARA AGRICULTURA É DE:
4% 2% 2%
157
19%
41
8
4
5
73%
- menos de 05
alqueires
- de 05 a 10
alqueires
- de 10 a 20
alqueires
- de 20 a 30
alqueires
- mais de 30
alqueires
17
O uso da terra é caracterizado pela pequena unidade, onde 73%
praticam a agricultura em uma área menor de cinco alqueires e outro grupo também
significativo; 19% fazem uso de menos de dez alqueires. Ou seja, 92% trabalham
em regime de economia familiar em uma pequena propriedade.
DESDE QUANDO VOCÊ TRABALHOU OU TRABALHA
NA AGRICULTURA?
2%
26%
55 - antes de 1960
19 - entre 1960 e 1970
40%
9%
25 - entre 1970 e 1980
24 - antes de 1960 até hoje
88 - de 1970 até hoje
4 - não responderam
11%
12%
A construção da história do uso dos agrotóxicos em São João do
Triunfo considera importante o período de ação na agricultura dos entrevistados pois
estes vivenciaram os dois momentos. O gráfico apresenta o universo dos
entrevistados onde 41% vivem a experiência do uso de agrotóxicos, enquanto que
aqueles que vivenciaram os dois momentos foram 11% e os que praticavam a
agricultura antes do uso de agrotóxicos compôs o número de 26%. Esta
diversificação de público nos possibilita acessar a informações de como eram as
práticas anteriores e como foi acontecendo o discurso para a introdução do uso de
agrotóxicos.
18
VOCÊ SABE SE ANTESDE 1960 OSAGRICULTORES
UTILIZAVAM AGROTÓXICOSNASLAVOURAS?
0%
11%
24 - sim
190 - não
1 - não usavam
89%
O gráfico acima apresenta o conhecimento dos agricultores com relação
ao uso de agrotóxicos antes de 1960, data considerada como início da “Revolução
Verde” no Brasil e pode-se perceber que 88% desconheciam do uso e 11% já
tinham conhecimento do uso de venenos na agricultura.
VOCÊ SABE COMO OSAGROTÓXICOSERAM
CHAMADOSANTIGAMENTE? 21 - Remédios
7%
4%
2%
22 - Defensivos
10%
20 - Ferramentas
10%
9%
123 - Veneno
15 - Outra Denominação
(rendape, ervas tóxicas)
9 - Não havia
58%
5 - Não responderam
Os
agrotóxicos
recebiam
denominações
variadas
junto
aos
agricultores como podemos ver que 57% conheciam como venenos. Como remédios
19
e defensivos foram identificados por 10% cada e com outra denominação
declararam-se 9% dos entrevistados. Os demais afirmaram que não havia uso e ou
não responderam. Então há uma diversidade de conceituação.
ANTIGAMENTE A LIMPEZA DASLAVOURASERA
FEITA ATRAVÉSDE:
0%
1%
155 - Capina com enxada
116 - Usa de carpideira de
tração animal
42%
3 - Usa venenos
57%
1 - inseticida
Quando inquiridos sobre a forma de como era feita a limpeza das
lavouras antigamente os entrevistados responderam o questionário apresentando
que era comum o uso da capina como meio de limpar a lavoura, sendo que foi
apontado este meio por 56%dos entrevistados e 46% indicaram ser o uso da
carpideira de tração animal o recurso utilizado. Porém os dados mostram que na
maioria das vezes foram utilizadas as duas ferramentas. Um outro dado é que 2% já
declaram a existência de venenos e inseticidas.
20
O USO DE AGROTÓXICOSNA AGRICULTURA EM
SUA PROPRIEDADE COMEÇOU NA LAVOURA DE:
0%
2%
9%
63 - Milho
21%
3%
66 - Feijão
44 - Batata
81 - Fumo
9 - Arroz
28%
22%
15%
5 - Soja
1 - Eucalipto
28 - Nunca usou agrotóxicos
Na construção da história do uso de agrotóxicos pensamos na
perspectiva da descoberta de qual cultivo que vai começar a propagação do uso dos
agrotóxicos e constatamos que o uso não começou em uma determinada lavoura,
mas teve uma abrangência de vários tipos de culturas embora as declarações
apontam para algumas de destaque como vemos que: 27% afirmou que o uso de
agrotóxicos na sua propriedade começou com o cultivo do fumo,22% com o cultivo
do feijão e 21% no cultivo do milho. Outra lavoura que também aparece é a de
batata com declaração de 15% dos entrevistados. Porém ao se perguntar em que
lavoura iniciou, obteve-se a declaração de 9% dos entrevistados que afirmaram
nunca terem utilizado agrotóxicos em sua propriedade. E os demais 6% se
distribuíram em afirmações de que começaram a usar os venenos nas culturas de
arroz, soja, eucalipto e outras que não foram especificadas.
21
JÁ HOUVE CONTAMINAÇÃO COM AGROTÓXICOS
EM SUA FAMÍLIA?
1%
14%
30 - sim
183 - não
2 - não respondeu
85%
Dentro dessa história do uso de agrotóxicos há um elemento que
aparece na atualidade que é o problema das contaminações por agrotóxicos, onde
85% dos entrevistados declaram que em sua família já ocorreu caso de intoxicação,
14 % apenas declaram não ter ocorrido e 1% não responde quando inquirido pelo
entrevistador que foi um aluno do Colégio Estadual Francisco Neves Filho
QUEM INDICOU PELA PRIMEIRA VEZ A UTILIZAÇÃO DOS
AGROTÓXICOSNA SUA PROPRIEDADE?
41 - Sugestão do vizinho
31 - Exigência do banco para
fazer financiamento agrícola
1%
0%
11%
0 - Sugestão de Padre, Pastor ou
Representante da Igreja
19%
1%
88 - Orientação do técnico de
órgão de governo, como ACARPA
ou mais tarde EMATER
13%
28 - Empresas Fumageiras
14%
2 - Engenheiro Agrônomo
41%
23 - Nunca utilizam agrotóxicos
2 - Não responderam
.
22
O uso de agrotóxicos tornou-se algo comum e perguntados sobre
quem teria sido o propagador da ideia, o responsável pela disseminação do uso dos
venenos apresenta-se uma diversidade de posicionamentos e afirmações, sendo
que segundo as declarações o único segmento dos indicados no questionário que
ficou imune de qualquer participação foi o segmento religioso onde dos 215
entrevistados nenhum dos mesmos apontou ser o padre ou o pastor quem teria
indicado pela primeira vez o uso de agrotóxicos. Mas aparece com 41% de
indicação a ação do estado via orientação do técnico de órgão de governo, como
ACARPA ou mais tarde EMATER. Em seguida aparece com 19% a indicação do
vizinho e com 14% a exigência do banco para fazer financiamento e com 13% a
indicação das empresas fumageiras , 1% dos entrevistados apontou o engenheiro
agrônomo como quem difundiu a ideia e 1% não respondeu.
Há uma questão que merece destaque é o resultado dos
entrevistados que responderam que nunca utilizaram agrotóxicos na propriedade,
pois difere do dado fornecido pelos mesmos entrevistados quando perguntados
sobre o tipo de lavoura que teria iniciado o uso de agrotóxicos e aí apareceu o
indicativo de 9% enquanto que na pergunta de quem teria indicado aparecem 11%
dos entrevistados declarando-se como nunca terem utilizado agrotóxicos na
propriedade.
ATUALMENTE SE UTILIZA AGROTÓXICOSEM SUA
PROPRIEDADE?
2%
20%
166 - sim
44 - não
5 - não responderam
78%
23
A realidade sobre o uso de agrotóxicos é muito dinâmica pois
muitas propriedades usaram e ou utilizam agrotóxicos nas atividades agrícolas, mas
há 20% das propriedades que na atualidade não utilizam agrotóxicos na atividade
agrícola. Porém ainda são 78% dos que afirmam fazer uso de agrotóxicos e 2% não
responderam.
VOCÊ ACHA POSSÍVELPRODUZIR SEM
AGROTÓXICOS?
1%
41%
124 - sim
89 - não
2 - não responderam
58%
Se há um grande número de agricultores que fazem uso de
agrotóxicos nas propriedades também há um número significativo de agricultores
que responderam no questionário que acham possível produzir sem o uso de
agrotóxicos, compondo o número de 58% destes, 41% dos entrevistados não acham
possível e 1% não respondeu. Há uma diferença aí em relação ao número de
agricultores que fazem o uso onde apareceu o dado de 77% que utilizam e apenas
20% que não fazem uso.
24
VOCÊ POSSUI ALGUM INSTRUMENTO UTILIZADO
PARA APLICAR AGROTÓXICOSNASLAVOURAS?
10%
6%
17%
14 - Polvilhadeira costal
147 - Pulverizador costal
18 - Pulverizador - tração animal
42 - Pulverizador - tração trator
25 - Não possui
7%
60%
Um
aspecto
interessante
que
se
relaciona
aos
outros
já
mencionados se refere ao possuir os equipamentos utilizados na aplicação e se
obtém os seguintes números: 60% possuem o pulverizador costal, 17% possuem
pulverizador com tração trator,10% declaram não possuir nenhum equipamento para
aplicação de agrotóxicos,7% possuem pulverizador com tração animal e 6%
possuem polvilhadeira que foi muito utilizada no passado quando grande quantidade
dos agrotóxicos eram comercializados e aplicados em forma de pó.
A partir dos dados coletados constata-se que há uma ação
deliberada na propagação do uso e que há um discurso contraditório a respeito do
uso ou não uso, pois temos respostas de não uso que variam conforme a pergunta e
que se compararmos com o possuir equipamentos necessários para a aplicação
então teremos um número maior, onde na totalidade de equipamentos temos o
número de 90% que possuem. Então não há como afirmar absolutamente o
percentual de propriedades que não fazem uso de agrotóxicos.
Tem-se um elenco de dados que nos demonstram um processo
histórico iniciado na década de 1960 em São João do Triunfo, onde de lá para cá
ocorreu o aumento do uso de agrotóxicos, um abandono de práticas que
dispensavam o uso , convém pensarmos o que todo este arsenal de venenos pode
25
causar de danos a saúde. Constatamos que há um número significativo de casos de
intoxicação conforme declarações dos entrevistados. Também convém pensar nas
consequências apontadas já em pesquisas no Paraná.
A pesquisadora Gerusa Gibson realizou estudos em mais de
trezentos municípios paranaenses, mas priorizou 10 cidades onde constatou a
redução de nascimentos do sexo masculino, tendo valores muito abaixo daqueles
descritos pela literatura. Para a pesquisadora esta tendência sugere que este
fenômeno possa ser decorrente da alta exposição aos agrotóxicos, nestas
localidades. Também alerta que se o uso de agrotóxicos já afetou a razão de sexo,
deve ter ocorrido também a incidência de casos de câncer e infertilidade.
A biomédica Gerusa Gibson da Escola Nacional de Saúde Pública
(ENSP) estudou a proporção de nascimentos masculinos para o estado do Paraná
no período entre 1994 e 2004, onde constatou uma tendência de declínio
estatisticamente significativa e sugere que o fenômeno possa ser decorrente da alta
exposição ambiental aos agrotóxicos conforme artigo publicado na revista
Panamericana de Salud Pública:
"A tendência de declínio estatisticamente significativo na proporção de
nascimentos masculinos em alguns municípios paranaenses sugere
que o fenômeno possa ser decorrente da alta exposição ambiental
aos agrotóxicos nessas localidades. Sendo assim, recomendam-se
estudos futuros que visem a esclarecer e a dimensionar a força do
impacto da contaminação ambiental por agrotóxicos na saúde
reprodutiva, representada aqui pela razão de sexos ao nascimento".
Para apresentar os dados aconteceu o Túnel do tempo que é uma
prática pedagógica existente no Colégio Estadual Francisco Neves Filho a nove
anos e que vai na perspectiva de construir a história , sendo que aí tomamos a
história do uso de agrotóxicos. A construção tomou por temporalidade o início do
seculoXX : as práticas anteriores até a prática do uso, mas diante do quadro de
intoxicações apresentado e das pesquisas pensamos a construção de uma
alternativa através da agricultura agroecológica,sendo que destacamos a teoria da
Trofobiose, proposta por Francis Chaboussou.
26
A teoria de Chaboussou demonstra que os parasitas não atacam as
plantas cujos sistemas nutricionais estejam equilibrados; em contrapartida os
agrotóxicos e fertilizantes solúveis provocam a inibição de síntese de proteínas,
causando a absorção em demasia de nitrogênio e aminoácidos na seiva da planta e
que se constituem em alimentos para as pragas, sejam insetos e ou fungos. Então,
considerando o exposto nesta teoria percebemos que se o processo for conduzido
dialeticamente a partir da participação do animal na desintoxicação do solo e na
manutenção e melhoria da fertilidade, poder-se-á dispensar o uso de produtos
químicos.
27
CONSIDERAÇOES FINAIS
Seguir a legalidade é fácil, mas responder aos apelos da
consciência não.. Esta premissa vem afirmar que construir a história do uso de
agrotóxicos em São João do Triunfo é uma tarefa que não se limita a percorrer
caminhos antes traçados, também porque que não existe a disposição elementos de
partida. Então, construir a história
constituiu-se em construir o caminho
caminhando. A proposta sai do campo do determinado para o indeterminado, onde o
foco da produção didática vai para o campo e aparecem incontáveis necessidades e
desafios.
Pensar a educação para a formação do ser humano sujeito onde
este se torne apto a construir efetivamente seu viver no espaço onde está, sabendo
usufruir racionalmente do que o meio o dispõe. Podemos lembrar aí a notícia
veiculada pela TV daquela mãe que par alimentar seus filhos fazia sopa de papelão
e que comoveu toda a sociedade, mas não se refletia e se apresentava que ao seu
redor, onde morava havia uma diversidade de plantas ricas em nutrientes e que
poderiam ser aproveitadas para a alimentação. Daí que esta mãe como tantas
pessoas não dominam este saber que é fundamental à vida.
A construção do projeto e do artigo apontam a importância e
necessidade da pesquisa e construção de materiais didático,no fornecimentos de
propostas de práticas diferenciadas para pensar a educação do campo e
assemelhadas, pois a cultura do campo não está situado espacialmente no campo
assim como o uso de agrotóxicos não se constitui em problema do campo, mas
envolve os seres vivos pois quem de nós daria veneno a um filho nosso ou a um
animal de estimação. Mas como podemos envenenar a comida para os seres
humanos?
A construção da história do uso de agrotóxicos assume uma
perspectiva não simplesmente de responder uma demanda local, mas de servir ao
conjunto de todos os seres humanos que pensam na vida, que pensam na
28
compreensão do seu viver, na compreensão das relações que estabelecem entre si
e com o meio e buscam construir propostas e práticas para o devir.
A história do uso de agrotóxicos nos aponta que este modo de
produzir está solidamente implantado, mas que assim foi o modelo anterior e que há
contradições que nos desafiam a buscar novos caminhos. Basta pensar que grande
quantidade de plantas que se multiplicam graças ao trabalho de polinização das
abelhas para se multiplicar e usando veneno nas plantações para combate de
insetos acabamos por matar a abelha . Então ficar sem a abelha é inviabilizarmos a
produção mesmo que o ser humano vá buscar a construção de mecanismos
mecânicos e artificiais o tornamos com um altíssimo custo de produção o que
inviabiliza também.
Para tanto o proposto durante a intervenção junto aos alunos e a
comunidade através do Túnel do Tempo foi a construção de práticas que respeitem
o ciclo da natureza a fim de manter o meio em harmonia, sendo que para tal foi
apresentada a Teoria de Francis Chaboussou – Teoria da Trofobiose que consta no
livro ; “Plantas doentes pelo uso de Agrotóxicos”.
O pensar o fazer pedagógico passa necessariamente neste pensar
o Brasil como um país rural, pois o especificamente urbano, da cidade muito menor
do que o universo do meio rural, embora se tem feito esta inversão. Os valores
rurais são abnegados pela sociedade que busca consolidar-se como urbana e ainda
mais na perspectiva cartesiana podemos inferir que o que ocorre e a transformação
dos seres humanos em
objetos e não sujeitos, pois são pensados na ótica de
mercado e tudo vira mercadoria, inclusive o ser humano. Por isso não é o veneno
que faz mal, mas e o ser humano que aplica é o culpado e quem faz e distribui não
tem nada a ver com isso, importa a relação de mercado, comprar e vender.
Então compete a escola também construir esse referencial que
possa dar sustentação às práticas de estudo, de pesquisa e de ação pedagógica e
social na perspectiva desse devir que é e não é, esta e não está, podendo até se
afirmar que caminha numa perspectiva escatológica.
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UEL, 1996.
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BLOCH, Marc. Apologia da História ou Ofício de Historiador. Rio de Janeiro.
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FERREIRA, Maria de Morais (coord.), Entre-vistas: abordagens e usos da
história oral. Rio de Janeiro. Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.
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MARTINS, Dr. Dias, ABC do Agricultor ,2ª edição – Rio de Janeiro, Ministério da
Agricultura – 1912
MUZILLI, Osmar (coord.). Uso de Fertilizantes na Agricultura Paranaense.
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Pinheiro, Sebastião; Cartilha dos Agrotóxicos; 1ª Edição, Canoas- Rio Grande do
Sul, E.P. La Salle-gráfica- Editora – 1999.
30
PLEKANOV, G. Valentinovitch. O Papel do indivíduo na história. Tradução
Geraldo Martins de Azevedo Filho. São Paulo. 2. Ed. Editora Expressão Popular,
2003.
SOUZA, Antonio Carlos (colab). Defensivos agrícolas; contribuição ao uso
adequado e prevenção nas intoxicações. Curitiba. PR, Secretaria de Estado da
Agricultura, Departamento de Fiscalização, 1979.
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O USO DE AGROTÒXICOS EM SÃO JOÃO DO TRIUNFO, uma