Maria Antonia Pujol; Nuria Lorenzo; Verónica Violant (Coordinadoras) (2012) Innovación y creatividad: Adversidad y Escuelas creativas. Barcelona: GIAD-UB A DOCÊNCIA SAUDÁVEL: UM DESAFIO PARA A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA? Maria Glória Dittrich1 O texto trata sobre a docência saúdável na educação contemporânea. A beleza do viver saudável na universidade do século XXI, como um lugar, um oikos, de produção de conhecimento, formação humana e prestação de serviços, está no encontro de respeito e de amor entre um eu e um tu, que se abrem para a formar um nós dentro da cultura filosófica, científica com um olhar dirigido para para uma visão de ser humano complexa e integral, na qual o estético e ético encontram vibrações de consciências das mais diversas, que ecoam como uma rede complexa, que se levanta da base material do real da docência, formando uma psicoesfera social e educacional nas relações de ensino aprendizagem. A realidade da docência saudável está ligada à nossa condição de vida natural e espiritual, a qual está mudando rapidamente. Tal percepção nos remete entender que o mundo da docência marcado pela cultura exploratória, mecanicista, descriminatória, positivista, protecionista, consumista, autoritarista e tecnocrática se tornou instável e incompetente. O desafio contemporâneo está em compreender a complexidade dos problemas, que vão surgindo nos professores e alunos, especialmente, diante de duas doenças do espírito, segundo segundo Noica (2012): a Catolite – kathoulou, conjunto de anomalias provocadas no ser humano pela carência do geral, e a Todetite - carência do individual e a busca da perfeição, da exatidão e do ideal. Como diz Lazlo (2008) “a realidade que aflora é radicalmente nova. Experimentamos mudanças e surpresas cada vez mais frenquentes e de maior 1 Maria Glória Dittrich é Filósofa (FEBE), Especialista em Fundamentos da Educação (FURB), Mestre em Educação (FURB), Doutora em Teologia (EST), Artista Plástica e Professora Pesquisadora na UNIVALI - SC e Faculdade São Luiz – SC. Membro integrante da Red de Formación Universitaria Transdisciplinar - REDFUT e da Comunidad Internacional Científica Virtual para el Cambio – CCVC e do Grupo ADESTE. [email protected]. 1 Maria Antonia Pujol; Nuria Lorenzo; Verónica Violant (Coordinadoras) (2012) Innovación y creatividad: Adversidad y Escuelas creativas. Barcelona: GIAD-UB magnitude, que não se devem unicamente a cegueira y a ignorância. A mudança da realidade que experimentamos tem ligação com a maneira como nos relacionamos conosco, com a natureza, com o cosmos e por suposto com Deus. Ainda que isso nos cause perplexidade, na docência é saudável, diante do saber filosófico e científico, sentir o eco de um sentimento amor e encantamento para com a vida e o saber é viver com dignidade profissional. Na educação contemporânea, dentro de um mundo globalizado, tudo acontece com rapidez e a sustentabilidade da vida conclama na ação docente uma atitude de respeito e cuidado à vida, que está no pulsar de todos os corações vivos no Planeta, e diretamente nas pessoas que nos relacionamos na universidade. No entanto, o que se percebe é que o docente, muitas vezes, sente que perdeu o controle do ritmo da realidade em que vive. O conhecimento tornou-se difuso e complexo e isso muitas vezes o fascina, mas também o amedronta, por isso o docente corre o risco de estar vivenciando o delírio da catolite ou da todetite. Isso tem impactos na vida e na ação do docente, perturbando a qualidade da saúde humana nos processo de educação. Perguntamos: Como vivenciar uma docência saudável? O que temos que entender é que vivemos uma época de instabilidade e de mudanças e isto está também ligado a nossa forma de pensar e agir no mundo. A maneira como se desenvolve os processos de vida no mundo tem uma lógica própria, apoiada na estrutura da vida como complexidade que se autogera desde uma força de energias, que ultrapassam o entendimento humano. Com efeito, a resultante desse processo de auto-organização da complexidade da vida, que vai se elevando em níveis de consciência desde uma ameba que se move até a complexidade da inteligência de um ser humano nas suas relações sociais, tem mostrado fenômenos que aceleram, segundo Frankl (2003), a dor do vazio existencial do ser humano para despertar para uma nova consciência docente de valores humanos na educação. A docência focada no fechamento do ser humano no finito racional, controlável, na busca de realização de um comportamento hedonista e individualista, de querer realizar os sonhos na carreira-trabalho-lucro, para gozar a vida radicalmente no prazer e sucesso garantido, não deu muito certo e levou muitas pessoas à depressão. A saúde da docência e a educação estão em crise. Nas relações amplas, a expropriação, a dominação, a objetificação, a corrupção e a massificação cultural 2 Maria Antonia Pujol; Nuria Lorenzo; Verónica Violant (Coordinadoras) (2012) Innovación y creatividad: Adversidad y Escuelas creativas. Barcelona: GIAD-UB levaram o docente a tornar-se violento e inseguro, num mundo educacional criado por ele, mas estranho e cruel a ele mesmo em muitos momentos de suas vivências. Terá sido esta a tão sonhada autonomia docência, da liberdade da razão, tão desejada no antropocentrismo moderno? Parece que o modelo de ser humano, de natureza, de conhecimento e de prática docente fragmentado, mecânico, finito, que se ergueu no pressuposto de que o corpo, res-extensa, é separado da razão, res-cogitans, está superado pela profunda crise de dor e sofrimento que a humanidade passa; seja pelas doenças, pela violência, pelos desastres ecológicos, pela fome, pela exclusão sócio-político-cultural, pela falta de trabalho, pela sede na falta de água etc. O que vemos nos meios de comunicação é que o ser humano está no limite de sua suportabilidade, para agüentar uma tensão de morte por demais presente nas relações de trabalho, de família, etc. Em espaços universitários e de laser, jovens se suicidam ou assassinam pessoas inocentes como foi o caso do assassinato de jovens em uma Escola no Rio de Janeiro. Tal fato estremeceu as estruturas sociais da sociedade brasileira. Segundo Toffler (1980) “se olharmos em volta, encontraremos testemunhos difundidos de colapso psicológico. É como se uma bomba tivesse explodido na nossa ‘psicosfera’ comunal”. A vida está em risco e o planeta inteiro está dando sinais e a docência saudável precisa alertar-se para isso. Uma massa de seres humanos docentes se vê mergulhados numa solidão e numa carência afetiva, que leva à falta de intimidade e de confiança compartilhada socialmente nas relações profissionais e sociais. Para Frankl (2001), as pessoas da sociedade moderna e pós-moderna clamam por intimidade, visando suprir o intenso vazio da carência de afeto e de conhecimentos com significado para um viver transformador. Esta necessidade é tão premente que a intimidade é buscada a qualquer preço, em qualquer nível, ironicamente até em um nível impessoal, a um nível meramente sensual ou profissional. Por isso é tempo de encontrar nas muitas adversidades que causam sofrimento na docência, um sentido novo para viver o ensino-aprendizagem e a produção do conhecimento. É preciso criar uma nova forma de construir o conhecimento e relacionar-se com ele, com as pessoas, a natureza e com o Transcendente. É preciso romper com os vícios de uma racionalidade exacerbada, presente na divisão do ser 3 Maria Antonia Pujol; Nuria Lorenzo; Verónica Violant (Coordinadoras) (2012) Innovación y creatividad: Adversidad y Escuelas creativas. Barcelona: GIAD-UB humano em espírito (logos) e matéria (hyle), infinito e finito, profano e sagrado. É hora de reconstituir a inteireza da docência saudável. Poder tirar o véu da dor e do sofrimento que perpassam os coração do docente, nos dias contemporâneos, é começar a entender o ser humano na sua integralidade - ser eco-espiritual, por isso constituído das dimensões bio-psico-espiritual e socioescológica (Dittrich, 2010). A docência saudável encontra e resgata a espiritualidade, no ensino-aprendizagem, como a força natural da criatividade humana, que expressa legitimamente uma maneira de ser e de conviver no respeito e na amorosidade incondicional à vida. Com efeito, esta é a manifestação legítima da essência de um docente comprometido com a educação, pois ele integra nas suas vivências as suas percepções e os seus saberes desde um princípio ético: o respeito e o amor a si e ao outro que se traduz em solidariedade, co-responsabilidade e co-participação na vida da vida, ou seja, naquilo que Morin (1977) entendeu como o “que articula que liga todos e tudo” e que traz esperança e crescimento para a elevação da saúde, da paz e do bem e do belo entre os povos do mundo. REFERÊNCIAS DITTRICH, Maria Glória. Arte, criatividade, espiritualidade e cura. Blumenau: Nova Letra, 2010. FRANK, Viktor E. A presença ignorada de Deus. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2001. ------. El hombre doliente: fundamentos antropológicos de la psicoterapia. Barcelona: Herder, 2003. LASZLO, Ervin. El cosmos creativo. Hacia una ciência unificada de la matéria, la vida y la mente. Barcelona: Kairós, 1997. MORIN, Edgar. O método I: a natureza da natureza. Tradução de Maria Gabriela de Bragança. 2. ed. Mira-Sintra, Portugal: Publicações Europa América, 1977. NOICA, Constantin. As seis doenças do espírito contemporâneo. São Paulo: Hedra, 2012. TOFFLER, Alvin. A terceira onda. A morte do industrialismo e o nascimento de uma nova civilização. Rio de Janeiro: Editora Record,1980. 4