ANÁLISE DOS EXAMES COLPOCITOLÓGICOS EM GESTANTES DE BAIXO RISCO ANALYSIS OF PAP SMEAR TESTS IN LOW- RISK PREGNANT WOMEN Thais Marques Lima ¹ Suellen Viana Lucena ² Lorenna Galdino de Farias ³ Ana Kelve de Castro Damasceno 4 Ana Karina Bezerra Pinheiro 5 1. Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Endereço: Rua Rufino de Alencar, 239, apt. 302, Centro. Email [email protected] Telefone: (085) 87106818 2. Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Bolsista CNPq 3. Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. 4. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. 5. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Resumo Objetivou-se avaliar as alterações celulares no exame colpocitológico em gestantes de baixo risco. Estudo descritivo, com delineamento transversal e abordagem quantitativa. Foi desenvolvido no Centro de Parto Natural Lígia Barros Costa (CPN), unidade de atenção primária à saúde, presente em Fortaleza, Ceará, durante os meses de Janeiro a Julho de 2011. As mais importantes alterações detectadas foram: Gardnerella/Mobiluncus (28; 26,9%), Candidíase (9; 8,7%), Tricomoníase (2; 1,9%) e Clamídia (1; 1,0%). A maioria das gestantes apresentou algum processo inflamatório no exame citopatológico (67; 64,4), variando entre inflamação leve (20; 19,2%), inflamação moderada (28; 26,9%) e inflamação acentuada (19; 18,3%). Conclui-se que há uma alta prevalência de Infecções Sexualmente Transmissíveis nas gestantes e presença de Inflamação, além de reduzido número de mulheres com acompanhamento ginecológico periódico, evidenciando a vulnerabilidade que as gestantes apresentam para o desenvolvimento dessas infecções e de Lesões neoplásicas. DESCRITORES: Prevenção de Câncer de Colo uterino. Gestantes. Enfermagem Abstract The aim was to evaluate the cellular changes in Pap smear tests in low- risk pregnant women. This is a descriptive study with a transversal delineation and quantitative approach. It was developed in the Center for Natural Childbirth Ligia Barros Costa (CPN), a unit of primary health care, present in Fortaleza, Ceara, during the months of January to July of 2011. The most important changes were detected: Gardnerella/Mobiluncus (28; 26.9%), candidiasis (9; 8.7%), Trichomoniasis (2; 1.9%) and chlamydia (1; 1.0%). Most pregnant women showed some inflammation in the Pap smear tests (67; 64.4), ranging from mild inflammation (20; 19.2%), moderate inflammation (28; 26.9%) and severe inflammation (19; 18,3%). We conclude that there is a high prevalence of sexually transmitted infections in pregnant women and the presence of inflammation, and few women with periodic gynecological exam, showing the vulnerability that pregnant women have of developing these infections and neoplastic lesions. DESCRIPTORS: Cervix neoplasms prevention. Pregnant Women. Nursing INTRODUÇÃO O câncer de colo do útero (CCU) apresenta-se como a segunda neoplasia maligna mais prevalente entre as mulheres no mundo, sendo caracterizado pelo crescimento lento e desordenado de células epiteliais, podendo apresentar um grande período com ausência de sintomatologia clínica(1). Sabe-se hoje que a condição necessária para o desenvolvimento do câncer do colo do útero é a presença de infecção pelo papilomavírus humano (HPV), sendo, portanto, o principal fator de risco(2). Dentre outros fatores de risco encontram-se: o uso prolongado de anticoncepcionais, multiparidade, iniciação sexual precoce, pluralidade de parceiros sexuais e tabagismo(3). A incidência dessa patologia na mulher durante o período gestacional não é rara, ocorrendo 15 casos para 100 mil gestações(4). As gestantes estão mais susceptíveis devido às alterações celulares e em sua imunidade, às modificações no trato genital inferior, como hipertrofia das paredes vaginais, aumento do fluxo sanguíneo e da temperatura podendo ser consideradas comuns ao período gestacional(5). Em geral, nas gestantes com CCU encontram-se formações de condilomas gigantes ou rápida evolução para lesões neoplásicas de grau mais acentuado(6). A consequência mais importante da transmissão materno-infantil pelo HPV é a papilomatose-laringea lesão rara, mas extremamente grave. A transmissão durante o parto também é um fator relevante, observando-se que a transmissão por parto cesárea é menor do que pelo parto vaginal, mas o primeiro é indicado apenas quando há grandes condilomas e obstrução do canal de parto(7). Diante da dificuldade de acesso, em países em desenvolvimento, muitas mulheres só procuram o Serviço de Saúde quando apresentam sintomas da doença ou durante a gravidez para a realização do pré-natal. Portanto, esse período pode ser a única oportunidade de realizar uma colpocitologia com o objetivo de prevenção do câncer do colo uterino(8). O exame Papanicolau foi implementado com o objetivo de identificar alterações inflamatórias e lesões decorrentes de neoplasias. Além disso, tem auxiliado na identificação de modificações na flora vaginal, ainda que não seja o seu alvo principal(9−10). Essa avaliação citológica é essencial ao diagnóstico precoce de uma neoplasia cervical, devendo-se incentivar a gestante para a realização do mesmo, contribuindo para a manutenção da sua saúde e consequentemente na do feto. Diante disso, torna-se relevante a realização de estudos que busquem analisar a prevalência de alterações citológicas e microbiológicas no período gestacional, com intuito de embasar cientificamente a prática clínica no pré-natal. Essa pesquisa é relevante para os Enfermeiros, pois, será mais um suporte de aprimoramento de conhecimento e para as gestantes, que serão sensibilizadas a adesão ao exame Papanicolaou durante o período gestacional. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo avaliar as alterações celulares no exame colpocitológico em gestantes de baixo risco. METODOLOGIA O estudo realizado foi do tipo descritivo, com delineamento transversal e abordagem quantitativa. Foi desenvolvido no Centro de Parto Natural Lígia Barros Costa (CPN), unidade de atenção primária à saúde, presente em Fortaleza, Ceará, durante os meses de Janeiro a Julho de 2011. Quanto à população e amostra, a população foi composta por gestantes que realizavam consulta de pré-natal no CPN. A amostra foi selecionada obedecendo aos seguintes critérios de inclusão: gestantes em consulta pré-natal no CPN, encaminhadas à realização do exame ginecológico, gestantes encaminhadas de outros serviços de saúde para realização do exame ginecológico no local de estudo, gestantes que não haviam tido relação sexual até 24 horas antes do exame e que não estivessem utilizando cremes vaginais. Como critérios de descontinuidade incluíram-se a desistência da participação na pesquisa e as mulheres cujos laudos não foram emitidos pelo laboratório durante o período da pesquisa. Houve a impossibilidade de realizar um cálculo amostral devido à escassez de dados anteriores em relação ao número de gestantes atendidas no CPN em consulta ginecológica, portanto a amostra foi estabelecida a partir de todas as gestantes que realizavam pré-natal no centro e que aceitaram participar da pesquisa, no período da coleta de dados. No total de 140 gestantes que preenchiam os critérios de inclusão e exclusão, 36 gestantes desistiram de participar da pesquisa ao serem informadas de que precisariam realizar o exame especular, revelando medo de realizar o exame no período gestacional. Dessa forma, a amostra do estudo foi composta por 104 gestantes. A coleta de dados ocorreu durante a consulta ginecológica utilizando um formulário constituído pelos dados pessoais e clínicos, história ginecológica, descrição do exame clínico e dos resultados dos exames. A entrevista foi seguida de exames físico e pélvico, durante os quais, amostras cérvico-vaginais foram coletadas com swabs de forma rotineira, para realização do exame citopatológico. Em seguida era realizado o teste de Schiller, onde aplica-se a solução de lugol para observar a coloração do colo uterino, sendo considerado negativo quando o colo uterino cora de forma uniforme e escura e é considerado positivo se o colo não cora(11). Os dados foram compilados e analisados por meio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 19.0 e apresentados por meio de tabelas. A seleção dos testes estatísticos se deu conforme a necessidade da análise das informações, com o intuito de alcançar os objetivos do estudo. Para verificar a significância estatística, adotou-se o valor inferior a 10% (p<0,1). Os aspectos éticos da pesquisa foram respeitados e o projeto foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará e aprovado conforme protocolo nº 298/10. RESULTADOS O perfil das gestantes pesquisadas caracterizou-se por ser majoritariamente adulta jovem, 20 a 29 anos (48; 46,2%), sendo 23,7 anos a média de idade, variando entre 14 e 43 (DP= ± 6,6) anos. Observou-se, entretanto, um considerável número de gestantes adolescentes (menor que 19 anos) nesse estudo (33; 31,7%). A maioria das mulheres era procedente da capital (87; 83,7%), referiu união estável com parceria fixa (78; 75%) e apresentou uma média de 12,3 anos de estudo (DP= ± 2,7). Em relação ao perfil gineco-obstétrico das gestantes, os dados foram dispostos na tabela 1. Tabela 1 – Distribuição das gestantes segundo perfil Gineco-obstétrico, Jan/Jul, Fortaleza-CE, 2011. Variáveis (N=104) Menarca 9-14 anos 15- 19 anos N % 92 9 88,4 8,7 Não souberam responder Idade da Sexarca 12-15 anos 16-19 anos 20-25 anos História Pregressa de IST Sim Não Tipo de IST (N=14) Não lembra HPV Herpes Candidíase Acompanhamento Ginecológico Sim Não Engravidou do primeiro parceiro Sim Não Idade gestacional 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre Número de gestações 1 2 3 ou mais 3 2,9 56 38 10 53,8 36,6 9,6 14 90 13,5 86,5 5 4 2 2 35,7 28,6 14,3 14,3 46 58 44,2 55,8 47 45,2 58 54,8 21 58 25 20,2 55,8 25 46 24 34 44,2 23,1 32,7 Observou-se que a média de idade de ocorrência da menarca foi 12,8 anos (DP= ± 1,4), com a maioria estando na faixa etária entre 9 e 14 anos (92; 88,4%). A sexarca ocorreu em média com 16 anos (DP= ± 2,9), ocorrendo majoritariamente na faixa etária entre 12 e 15 anos (56; 53,8%). A maioria referiu não possuir história pregressa de IST (90; 86,5%), entretanto, menos da metade realizava acompanhamento ginecológico periódico (46; 44,2%), o que torna a informação sobre IST precária. Enfatiza-se que, das mulheres que haviam realizado tratamento prévio para IST, grande parte não sabia especificar o tipo a qual foi acometida (5; 35,7%) e aquelas que detinham a informação relataram terem sido tratadas para HPV (4; 28,5%). Observou-se o predomínio de mulheres que não engravidaram do primeiro parceiro (57; 54,8%), multíparas (58; 55,8%), com relato de até 13 gestações e encontrava-se no 2º trimestre gestacional (58; 55,8%), com uma média de 20,2 semanas gestacionais (DP= ± 7,4). Em seguida, procedeu-se a análise dos resultados dos exames citológicos em relação à microbiologia, apresentados na tabela 2. Tabela 2: Distribuição das gestantes segundo resultado microbiológico do exame citopatológico, Jan/Jul, Fortaleza-CE, 2011. Microbiologia (N=104) Normal Gardnerella/Mobiluncus Candidíase Tricomoníase Clamídia N 64 28 9 2 1 % 61,5 26,9 8,7 1,9 1,0 O resultado microbiológico das gestantes demonstrou que a maioria apresentou resultado sem alterações (64; 61,5%). Entretanto, ressalta-se que importantes alterações foram detectadas, como: Gardnerella/Mobiluncus (28; 26,9%), Candidíase (9; 8,7%), Tricomoníase (2; 1,9%) e Clamídia (1; 1,0%). No que reporta às alterações celulares benignas, a Tabela 3 demonstra os achados de acordo com o resultado dos laudos citopatológicos do colo do útero. Tabela 3: Distribuição das gestantes segundo segundo às alterações celulares benignas, Jan/Jul, Fortaleza-CE, 2011. Alterações celulares (N=104) Dentro da normalidade Inflamação leve Inflamação moderada Inflamação acentuada N 37 20 28 19 % 35,6 19,2 26,9 18,3 Dentre as alterações celulares, encontrou-se que a maioria das gestantes apresentou algum processo inflamatório no laudo do exame (67; 64,4), variando entre inflamação leve (20; 19,2%), inflamação moderada (28; 26,9%) e inflamação acentuada (19; 18,3). Para finalizar o exame, realizou-se o teste de Schiller com intuito de evidenciar alterações na mucosa uterina. O resultado desse teste nas gestantes pode ser na tabela 4. Tabela 4: Resultados do Teste de Schiller, Jan/Jul, Fortaleza-CE, 2011. Teste de Schiller (N=104) Positivo Negativo N 20 84 % 19,2 80,8 Observou-se que na maioria das gestantes o Teste de Schiller foi negativo (84; 80,8), evidenciando que as mesmas obtiveram coloração com lugol do colo uterino, em graus variados. DISCUSSÃO A caracterização sociodemográfica possibilita a investigação sobre o público alvo acerca do estilo de vida incluindo hábitos e crenças favorecendo a obtenção de conhecimentos sobre possíveis comportamentos de risco que podem afetar a saúde(12). Neste estudo, as gestantes encontravam-se na faixa etária adulta jovem, período recomendado para gestar, no entanto, o elevado número de gestantes adolescentes torna-se preocupante devido aos riscos inerentes à gestação nessa faixa etária. A adolescência é um processo que tem como resultado a maturidade reprodutiva, vivenciado pelo individuo e sua família, gerando transformações físicas e emocionais(13). A ocorrência da menarca em meninas com idades cada vez menores pode acarretar em um inicio precoce da atividade sexual, gravidez indesejada e exposição às IST(14). Neste estudo, observou-se a precocidade na ocorrência da menarca e sexarca das mulheres, corroborando com estudo desenvolvido no Rio de Janeiro cujo objetivo era conhecer a idade da sexarca das adolescentes gestantes e a sua relação com a prática do sexo seguro. Neste, foi encontrado que a sexarca ocorreu entre 12 e 16 anos demonstrando que as idades das primeiras relações sexuais e as menarcas estão cada vez mais próximas(15). A grande parcela de gestantes relatou que nunca haviam realizado tratamento para IST e que também não eram submetidas ao acompanhamento ginecológico, corroborando para uma prevalência de IST nessa população. O diagnóstico e tratamento das IST durante o período gestacional devem ser acontecer de forma rápida e precisa, pois as mesmas favorecem o aparecimento de complicações durante o parto, puerpério e para o recém-nascido(16). Quanto às gestantes que haviam realizado tratamento para IST, foi notado um elevado nível de falta de informação, pois a maioria não sabia citar qual seria o tipo de tratamento realizado e para qual IST. Foram encontradas barreiras à adesão ao exame ginecológico durante o período gestacional na população estudada caracterizada pelo conhecimento insuficiente acerca da relevância da realização e o medo do processo de avaliação ginecológica afetar o desenvolvimento da gravidez. As mulheres durante o exame colpocitológico podem vivenciar apreensão e medo fazendo com que estas só procurem a Unidade de Saúde quando há aparecimento de sintomas(17). O fato de não realizar periodicamente o exame ginecológico pode estar relacionado aos fatores descritos em uma pesquisa realizada no Rio Grande do Norte que buscava identificar o conhecimento, atitude e a prática acerca do exame. Foram evidenciadas barreiras para a realização do exame, tais como o descuido, a falta de solicitação do exame pelo médico e a vergonha. O trabalho fora de casa, a frequência com que a mulher vai ao ginecologista, a paridade e a vida sexual ativa, influenciam apenas na prática do exame. O local de moradia e a situação conjugal influenciam conhecimentos e atitudes, enquanto que o uso de métodos contraceptivos exerce influência sobre o conhecimento e a prática do exame(18). Dentre as gestantes que referiram o tipo de IST tratada, observou-se uma prevalência de HPV (3,9%), estando aquém do encontrado na literatura, pois, estima-se que a prevalência da infecção pelo HPV na gravidez varie entre 5,4% e 68,8%, com as mulheres jovens sob risco mais elevado, provavelmente devido ao alto nível de atividade biológica cervical, aos níveis crescentes de estrogênios e à imaturidade cervical(19). Em relação aos antecedentes obstétricos, houve o predomínio de mulheres multíparas e estavam no segundo trimestre gestacional. A multiparidade pode duplicar ou triplicar o risco de lesões precursoras do câncer de colo uterino (LPCCU) e câncer cervical em mulheres infectadas com os tipos de HPV oncogênicos(20). As mulheres que tiveram vários partos possuem maior susceptibilidade para o desencadeamento da neoplasia, comparadas com mulheres nulíparas(21). Os exames citológicos de Microbiologia da IST das pacientes obtidos através do exame ginecológico do Papanicolau indicaram que a maior parte das mulheres apresentava a flora vaginal sem alterações microbiológicas. Em contrapartida, observou-se o grande número de infecção do trato genital do restante das mulheres, relacionados à infecção por Gardnerella vaginalis, Candida spp ou Trichomonas Vaginalis. Corroborando com este achado, estudo realizado durante a consulta prénatal de 703 gestantes africanas com idade média gestacional de 30 semanas, observou uma alta prevalência das principais IST, tendo sido diagnosticado Trichomonas vaginalis e/ ou vaginose bacteriana em 359 (51%) mulheres, Clamídia e/ ou Gonorreia em 67 (10%) e Cândida albicans em 416 (59%)(22). Semelhante achado microbiológico foi encontrado em estudo realizado com 1344 gestantes em Santa Maria, Rio Grande do Sul, no qual buscava identificar a flora vaginal alterada nesse período, a partir dos laudos citopatológicos. Verificou-se que a maioria das mulheres (59,82%) apresentou perfil de flora bacteriana normal, entretanto, observou a prevalência de Gardnerella vaginalis em 38,24% das mulheres, Candida spp. em 33,75% e Trichomonas vaginalis em 5,92%(23). Pode-se relacionar o estabelecimento dessas infecções pelas alterações que ocorrem no período gestacional, que afetam o pH vaginal e da mucosa do colo uterino, alterações dos componentes da flora bacteriana, entre outros fatores que estão associados à predisposição para infecção por esses micro-organismos patogênicos(24). Ao analisar o resultado do exame citológico observou-se que a maioria das gestantes apresentou algum tipo de processo inflamatório, corroborando com pesquisa realizada com 250 gestantes em um hospital universitário no México, onde constatou-se que 85,6% das gestantes apresentaram alterações inflamatórias(25). A avaliação da citologia pelo Papanicolaou tem papel importante no reconhecimento das alterações inflamatórias e infecciosas, permitindo avaliar a intensidade da reação inflamatória e acompanhar a sua evolução(26). Durante o período gestacional, o achado de inflamação, mesmo sem causa conhecida, deve ser acompanhado com cautela, visto que o processo inflamatório nesse período tem sido associado à partos pré-termos, devido à resposta inflamatória prolongada mesma após resolução de um processo infeccioso(27). Em relação ao Teste de Schiller, observou-se que grande parte das mulheres obteve resultado negativo, significando que não havia lesões no colo uterino ou vagina dessas mulheres. O teste de Schiller é um importante exame associado à prevenção e detecção precoce do HPV, tendo em vista que é realizado obrigatoriamente em consultar ginecológicas, sendo possível observar possíveis alterações e assim investigalas, possibilitando o diagnóstico precoce e o tratamento adequado(28). CONCLUSÃO Estudos que analisem o exame citopatológico em mulheres no ciclo gravídico são particularmente úteis, tendo em vista às complicações que alterações diagnósticas podem acarretar no desenvolvimento da gestação. Considerando os resultados encontrados, percebe-se a alta prevalência de Infecções Sexualmente Transmissíveis nas gestantes e presença de Inflamação no laudo do exame citológico, além de reduzido número de mulheres com acompanhamento ginecológico periódico, evidenciando a vulnerabilidade que as gestantes apresentam para o desenvolvimento de IST e de Lesões neoplásicas. É durante a consulta de prevenção ginecológica, que o enfermeiro deve orientar as pacientes quanto ao início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros, presença de infecções genitais, além dos fatores de risco para a contaminação do HPV, ressaltando a importância da realização do exame periodicamente, mesmo sem sintomas e da volta à unidade para buscar o resultado. A principal dificuldade encontrada foi o não comparecimento das mulheres ao serviço em estudo, sendo necessário maior esclarecimento dessa população quanto à importância do procedimento. Para tanto, deve-se priorizar o desenvolvimento de atividades educativas, abordando temas como a sexualidade e a importância da realização da consulta ginecológica durante o pré-natal. Cabe, principalmente, aos enfermeiros da atenção primária, porta de entrada para a promoção da saúde, garantir os direitos sexuais e reprodutivos, direcionada ao enfrentamento dos problemas sociais relacionados às infecções vaginais e à gravidez. REFERÊNCIAS 1- Instituto Nacional do Câncer (Brasil). Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero. Disponível em : http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/9ab3788046aa6903a610ff0d18967bc0/pdf_ pncc_coloutero.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=9ab3788046aa6903a610ff0d18967b c0 Acesso em: 8 de junho de 2012 2- Instituto Nacional do Câncer. Estimativas 2012: incidência de câncer no Brasil. 2012 [Internet]. [citado 05 Jun 2012]. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/. 3- International Collaboration of Epidemiological Studies of Cervical Cancer. 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