As igrejas
dizem
“NÃO”
à Violência
I
contraa Mulher
F e d e r a ç ã o L u teran a M undial
D e p a rta m e n to d e M issão e D e s e n v o lv im e n to
M u lher na Igreja e na S o c ie d a d e
Plano de ação para as igrejas
Autora
Priscilla Singh
Coordenação editorial
James Bond-Nash
Secretaria para o Serviço de Comunicação
Tradução e revisão
Paul Tomquist
Brunilde Arend Tomquis
Criação
Stéphane Gallay
Secretaria para o Serviço de Comunicação
Capa, fotografia e arte
Bárbara Robra
Secretaria para o Serviço de Comunicação
Diagramação
Marie Amaud Snakkers
Publicação da
© Federação Luterana Mundial, 2002
150 Route de Femey
P. O. Box 2100
CH-1211 Genebra 2
Suíça
ISBN 3-906706-92-3
Publicado no Brasil por
Editora Sinodal
Caixa Postal 11
93001-970 São Leopoldo (RS)
Fone/Fax: (51) 590.2366
E-mail: [email protected]
Site: www.editorasinodal.com.br
Janeiro de 2005
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
Rua Senhor dos Passos, 202 - 4o andar
Caixa Postal 2876
Fone: (51)3221-3433
Site: www.ieclb.org.br
Ín d ic e
PREFÁCIO....................................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO.............................................................................
9
1. CHAMAR O PECADO PELO NOME.....................................................................................13
2. ANÁLISE DAS DIFERENTES FORMAS DE VIOLÊNCIA PESSOAL............................. 17
3. TRANSFORMAÇÃO DA IGREJA E DA SOCIEDADE....................................................... 25
3.1 VIOLÊNCIA ESTRU TU RA L.................................................................................................... 26
3.2 VIOLÊNCIA CU LTU R A L............................................................................................
30
3.3 EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA E DA M ODERNIZAÇÃO.................. 34
3.4 PREMISSAS E PRÁTICAS DA IG R EJA ..................................................................................39
CONCLUSÃO................................................................................................................................. 49
ANEXOS......................................................................................................................................... 51
I. Ajuda às v ítim as.................................................................................................................................. 52
II. Ajuda às pessoas que assistem as vítimas da v iolência................................................................53
III. Redes de solidariedade m asculina.................................................
56
IV. Acompanhamento esp iritu al............................................................................................................58
V. Resoluções do Conselho da F L M .................................................................................................. 60
NOTAS............................................................................................................................................. 64
APÊNDICE
66
PREFÁCIO
O documento “As Igrejas Dizem ‘NÃO’ à Violência contra a M ulher” é resultado do trabalho conjunto
das igrejas-membro da Federação Luterana Mundial (FLM) entre os anos 1990-2001. Teve início como
resposta à “Década Ecumênica: As Igrejas em Solidariedade com as M ulheres - 1988-1998” e foi
preparado pela Secretaria da M ulher na Igreja e na Sociedade do D epartam ento de M issão e
Desenvolvimento da FLM. Diversos grupos de mulheres e homens foram convidados a continuar a
reflexão sobre a questão da violência, a propor planos de ação para reduzi-la e a contribuir para o
enriquecimento do texto.
Em resposta, algumas igrejas inform aram que já haviam abordado o tema. Algumas delegaram a
responsabilidade de reação a grupos de mulheres ou estabeleceram grupos para avaliar se o texto falava
de seus contextos específicos. Outras fizeram correções, aumentaram o texto e acrescentaram colocações
para que o texto pudesse ser utilizado de forma universal.
Algumas igrejas traduziram o anteprojeto para seus próprios idiomas para que tivesse maior divulgação.
Em reuniões regionais e nacionais, líderes das igrejas afirmaram o docurhento, reconhecendo q existência
da violência e a necessidade de maior discussão do tema. Outras igrejas planejaram projetos educativos
e a organização de centros de atendimento às vítimas.
A FLM considera todas essas respostas necessáriás e bem-vindas ao acompanhar as igrejas na identificação
das diversas manifestações da violência, tanto as formas abertas como aquelas encobertas. O documento
propõe maneiras como mulheres, homens e as comunidades de fé podem juntos superar o pecado da
violência contra a mulher, violência esta que atinge indivíduos, comunidades e a própria imagem da
igreja. Para curar precisamos primeiro nos curar.
Propositalmente conciso, este documento de trabalho convida indivíduos e comunidades a usarem-no
como ponto inicial de discussão. A FLM coloca o texto à disposição como uma contribuição para a
“Década para Superar a Violência: As Igrejas Procurando a Reconciliação e a Paz - 2001-2010”, assim
como para a campanha das Nações Unidas “Década Internacional para uma Cultura de Paz e NãoViolência para as Crianças do Mundo - 2001-2010”.
Sempre que pessoas vitimizadas sofrem, Deus também sofre. Trabalhemos juntos para superar todas as
formas de violência, ofensas contra Deus e a humanidade.
Ishmael Noko
Secretário Geral
Federação Luterana M undial
Genebra, dezembro de 2001
1
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao grande número de pessoas corajosas, homens e mulheres, que continua a lutar pela
erradicação da violência contra a mulher e a criança. Toda iniciativa tomada para criar impacto por meio
de Cristo em qualquer área da vida da igreja que afirma a mulher é digna de louvor.
Agradecemos às muitas igrejas, grupos de mulheres e outros grupos que aceitaram nosso convite para
contribuir para o enriquecimento desta publicação, em especial à Igreja Evangélica Luterana da América
(ELCA) e à Igreja Evangélica da Alemanha. Também queremos agradecer àqueles que pretendem utilizar
o documento como ponto inicial de discussão e aos que o traduzirem, tomando seu conteúdo acessível
a um maior número de pessoas.
Queremos expressar de maneira especial nossa compaixão por todas as mulheres, e seus filhos, em seus
esforços para superar a opressão. Desejamos que possam beneficiar-se, direta ou indiretamente, deste
documento.
%
Somos gratos pelas contribuições de todos os pesquisadores e ativistas cujos escritos forneceram tafnanha
riqueza de informação sobre a violência, especialmente Pamela Cooper-White, Elizabeth A. Johnson e
Hisako Kinukawa.
Também somos gratos aos membros do Comitê Especial nomeado pelo Conselho da FLM, o qual aprovou
o documento para publicação, assim como à equipe do Departamento de M issão e Desenvolvimento da
FLM.
In tr o d u ç ã o
A violência contra a mulher não é um assunto novo,
nem de fácil abordagem. A conscientização mundial
ajudou-nos a dar nome às muitas dimensões maléficas
da violência contra a mulher e às maneiras como essas
dimensões afetam a qualidade de vida de todos. A
Federação Luterana Mundial (FLM), em várias reuniões
recentes de seu Conselho, levantou a questão para que
suas igrejas-membro tomem medidas a respeito
(Apêndice V). Algumas igrejas tomaram a dianteira de
forma admirável em termos de processos de educação e
de formulação de políticas. A Plataforma de Ação e a
Declaração de Beijing, promulgadas em 1995, por
ocasião da IV Conferência Mundial da Mulher, das
Nações Unidas, identificaram a violência contra a
mulher como uma prioridade da comunidade
internacional, uma preocupação que clama por uma
resposta urgente.
todos os líderes das igrejas, lideranças entre as mulheres,
seminários e organizações ecumênicas com o propósito
de
•
encorajar as igrejas em suas realidades
específicas a abrirem caminhos para revelar
como a violência contra a mulher permeia
nossa vida diária, não somente de maneira
aberta, mas freqüentemente de forma velada,
insidiosa, talvez nem reconhecida ou vista
como violência;
•
usar este documento como ponto inicial de
discussão _nas comunidades, em grupos de
interesse específico e em* Seminários e
instituições educacionais das igrejas;
•
analisar, reconhecer e compreender as
manifestações locais da violência;
•
descobrir recursos dentro de si mesmo, dentro
da igreja, das comunidades e das redes de apoio
para encontrar formas de reduzir a violência e
possibilidades de oferecer auxílio às pessoas
afetadas pela violência;
•
registrar e compartilhar com a comunidade as
ações afirmativas tomadas nesse processo que
possam servir de diretrizes para outras pessoas
que procuram semelhantes medidas;
•
servir de roteiro abrangente para as paróquias,
de modo que possam tomar-se comunidades
de homens e mulheres transform ados e
transformadores;
•
apresentar este documento como uma
contribuição da FLM para a “Década para
Superar a Violência: As Igrejas Buscando a
Reconciliação e a Paz - 2001-2010” ,
convocada pelo Conselho Mundial das Igrejas,
assim como para a “Década Internacional para
uma Cultura de Paz e Não-violência para as
Crianças do Mundo - 2001-2010”.
A “Década Ecumênica: as Igrejas em Solidariedade com
a Mulher - 1988-1998” enfatizou de forma inequívoca:
a eliminação da violência em todas as suas formas
(sexual, religiosa, psicológica, estrutural, física,
espiritual, militar) e da cultura da violência,
especialmente na maneira em que elas afetam a
vida e a dignidade da mulher. Declaramos nossa
firme intenção de confrontar toda tentativa de
contemporizar, acobertar ou justificar a violência.
Declaramos que [...] a presença da violência na
igreja é uma ofensa contra Deus, contra a
humanidade e contra a terra.1
Como resposta a este desafio às igrejas, o Conselho da
FLM, em sua reunião de 1999, tomou a decisão de:
•
encorajar todas as igrejas-m em bro a
enfrentarem a dolorosa questão da violência
contra a mulher em todas as manifestações
específicas ao seu respectivo contexto, e
•
solicitar à Secretaria da Mulher na Igreja e na
Sociedade que sugira maneiras de acompanhar
as igrejas em seus esforços para abordar a
questão.2
Costuma afirmar-se que a violência contra a mulher é
uma questão familiar particular e que por isso deveria
ser abordada neste nível. O debate mundial esclareceu
Um esboço de documento foi preparado pela Secretaria
da Mulher na Igreja e na Sociedade e encaminhado a
9
In t r o d u ç ã o
específicos; as interpretações bíblicas devem ir além,
transcendendo essas realidades de modo a alcançar a
mensagem essencial do evangelho, que assegura vida
para todos. Esta tarefa é muito difícil e poderia ser mal
interpretada como perturbação da fé. Se a igreja quer
transcender o círculo vicioso da violência e preparar
uma comunidade transformada e transformadora de
homens e mulheres, ela precisa correr esse risco.
que a violência não é mais uma questão particular de
indivíduos, mas uma questão global que afeta grande
número de mulheres em todo o mundo - sejam elas do
norte, sul, leste ou oeste, ricas ou pobres, de alto nível
educacional ou analfabetas, quer ocupem altos cargos
ou trabalhem como diaristas, pertençam à fina sociedade
ou vivam em pobres casebres. A violência atravessa
todas as barreiras e paira sobre as mulheres de todas as
idades, fazendo com que clamem por fortes medidas
afirmativas. Seu clamor não deve mais ser silenciado
ou mantido dentro das quatro paredes do lar em nome
da honra e do orgulho da família, da segurança e da
estabilidade das crianças e assim por diante, pois a
violência contra a mulher é um pecado.
Não há dúvida de que a violência contra a mulher é uma
triste realidade à qual muitas mulheres são expostas
diariamente. Devemos reconhecer que há reações
profundamente sensibilizadas com a violência contra a
mulher entre alguns homens, pois o assunto suscita neles
sentimentos de vergonha, raiva, frustração e culpa,'pôr
sentirem-se acusados coletivamente. Outros negam a
própria existência da violência em suas vidas ou afirmam
não ter nada a ver com ela. Em alguns poucos casos,
podem até mesmo defendê-la como seu direito de pai,
marido, irmão. Finalmente, há casos de homens vítimas
de violência por parte de mulheres.
Outros afirmam que essa questão é “coisa de mulher” e
deveria, portanto, ser resolvida por elas mesmas. E,
sem dúvida, algumas mulheres estão fazendo justamente
isto: lutando por justiça através da conscientização,
exigindo mudanças nas estruturas e nas políticas
públicas, prestando auxílio às vítimas, acompanhandoas enquanto passam de vítimas a sobreviventes. No
entanto, isso não impede a perpetuação da violência.
Muitas Organizações Não-govemamentais (ONGs) e
instâncias das Nações Unidas insistem que a violência
contra a mulher é uma questão de direitos humanos e
deve ser tratada como tal. Esta conceitualização traz
consigo a promessa de maior ajuda às vítimas mediante
regulamentos e leis que imputem responsabilidade aos
governos. Mas se trata de um processo lento, pois as
leis são pouco mais do que boas intenções, no melhor
dos casos, e estão sujeitas à interpretação das
autoridades, como o judiciário, a polícia. Estas
autoridades, por sua vez, precisam primeiro ser
sensibilizadas antes que cumpram efetivamente a lei.
As mulheres não podem responsabilizar única e
exclusivamente os homens pela violência. Elas foram
obrigadas a esconder ou negar a violência em suas vidas
por uma questão de vergonha ou humilhação. Algumas
adotaram uma atitude fatalista e aprenderam a tratar a
questão como um fato inevitável da vida por medo de
mais violência e pela impossibilidade de sair de casa.
Às vezes, as mulheres usam a violência contra outras
mulheres e homens. Costumamos dizer: “As mulheres
são suas piores inimigas”. Todos fazemos parte de um
sistema que nos molda e nos condiciona e exige certos
papéis e comportamentos que são prescritos como
normas pela religião, cultura, tradição e patriarcado. Se
quisermos acabar com a violência contra a mulher,
homens e mulheres terão que trabalhar em conjunto com
essa finalidade. Eles precisam perguntar-se: “O que isso
significa para mim e como devo pensar, comportar-me
e reagir para que a violência seja reduzida?”. “Assim
como o movimento das mulheres clama por um novo
papel para a mulher - como protagonista dotada de poder
e não como vítima -, novos modelos de masculinidade
estão se tomando necessários, papéis que não incluam
ou dependam da dominação sobre a mulher.”4Da mesma
forma, é preciso explorar novas posturas para as
mulheres, para que elas não mais sofram em silêncio,
mas que ergam a voz contra a opressão. Uma análise
A religião, muitas vezes, é usada para oprimir a mulher.
Uma das tarefas das pessoas de fé é afirmar o potencial
libertador da religião nos termos da Plataforma de Ação
e a Declaração de Beijing: “A religião, o pensamento,
a consciência e a fé podem contribuir para a satisfação
das necessidades espirituais, éticas, morais de homens
e mulheres, para que alcancem todo o seu potencial na
sociedade”3. Temos que vivenciar essa afirmação e tomar
medidas para corrigir as teologias, políticas e práticas
que impliquem o contrário. Uma maneira de começar é
deixar claro aos leitores da Bíblia que as Escrituras
refletem e são produto de contextos, culturas e épocas
10
In t r o d u ç ã o
sistemática de gênero nos ajudaria a compreender como
as atitudes, os papéis e comportamentos de homens e
mulheres são condicionados pela religião, cultura e
patriarcado, e como podem ser modificados.
Como comunidade chamada a libertar todos aqueles que
são oprimidos, é imperativo que a igreja se envolva na
libertação de homens e mulheres de uma cultura de
violência para a plenitude da vida e da comunhão. Para
desempenhar um papel profético, a igreja deve perturbar
quem está em posição confortável e confortar quem está
perturbado.
Ao invés de se olharem com desconfiança, hostilidade,
temor, dúvida e insegurança recíprocos, ao discutir essa
questão uns com os outros, homens e mulheres poderiam
forjar uma aliança e verdadeira parceria para erradicar
esse pecado.
Isso requer enorme determinação, disciplina e iniciativas
conjuntas de conscientização, orientação de valores,
oferta de atendimento e de alternativas às vítimas. A
igreja não pode mais lidar com questões relacionadas
com mulheres como um assunto distante, “lá fora”, ou
como um assunto sem relevância para a igreja. Como
comunidade de fé, nós, a igreja, precisamos unir-nosaos esforços seculares para analisar o que motiva um
homem a ser violento, por que as mulheres são incapazes
de abandonar o ciclo da violência e de que maneira a
igreja, como instrumento de Deus, poderia pôr fim à
perpetuação da violência. Enquanto comunidade
influente, a igreja precisa equipar tanto homens como
mulheres para que valorizem não apenas a si mesmos,
mas a imagem de Deus uns nos outros.
O movimento feminista demonstrou que “as mulheres
não foram eficientes em atrair a solidariedade masculina
para sua causa, ao passo que os reacionários o foram”5,
o que fez surgir algumas represálias contra mulheres,
agravando o problema ainda mais.
A necessidade de reunir homens e mulheres para juntos
trabalharem na construção de comunidades de “shalom”,
curadas e curadoras, faz da violência contra a mulher
não apenas uma questão de vida, mas de fé. Como
comunidade de fé, a igreja inicia a tarefa com a
afirmação da imagem de Deus nas mulheres e nos
homens, e na responsabilidade e privilégio que têm em
conjunto como mordomos de toda a criação. A igreja vê
em Jesus e sua solidariedade com as mulheres um
modelo a ser seguido por todos. Ela vê o derramamento
do Espírito Santo sobre mulheres, homens e crianças
como sinal do dom de Deus da reciprocidade e
igualdade. Este dom é recebido pela fé no Batismo e
por seu intermédio. Nossa justificação pela fé proclama
que nenhuma pessoa deve ser excluída ou diminuída
por causa do patriarcado e da hierarquia. Portanto, a
igreja considera a violência contra a mulher um pecado
contra a vida, o qual deve ser nomeado e condenado,
pois desconsidera a imagem de Deus na pessoa afetada,
seja ela mulher, homem, menina ou menino.
A igreja, instrumento de Deus para compartilhar
esperança e oferecer cuidado, precisa apresentar
esperanças e alternativas para uma nova vida às vítimas,
assim como dar oportunidade para o arrependimento
dos agressores, para que possam corrigir seus atos e
mudar seu caminho. A igreja também deve assegurar
que futuras gerações sejam criadas como verdadeira
comunhão, não somente de ouvintes, mas de praticantes
do evangelho. E muito provável que a comunidade
luterana mundial irá desempenhar um papel dinâmico e
de vanguarda na abordagem dessa questão.
Ao mesmo tempo, a igreja deve abrir-se para uma análise
de suas estruturas, políticas, teologias e práticas, para
que o compromisso de tornar-se uma comunidade
testemunhadora transformada e verdadeiramente
transformadora possa ser plenamente realizado.
A violência não atinge apenas a integridade
psicológica, emocional ou física da vítima, mas
também a humanidade daquele que perpetua a
violência. [A igreja acredita que] cada ato de
violência contra a mulher dentro da igreja fere
o corpo de Cristo, um impedimento
fundam ental para que esse seja uma
comunidade de mulheres e homens.6
O PROBLEMA EM RÁPIDOS TRAÇOS
A violência afeta mulheres em todo o mundo, de muitas
formas diferentes e ao longo de todas as suas vidas.
Mesmo um breve resumo de várias partes do mundo
apresenta uma imagem alarmante e deprimente.
11
In t r o d u ç ã o
Na infância, as meninas podem ser obrigadas a contrair
matrimônio, submetidas a abuso sexual e mutilação
genital. Durante sua infância, adolescência e vida adulta,
as mulheres podem ter negado o acesso à educação, aos
cuidados com a saúde e mesmo à alimentação; podem
sofrer restrições de movimentação e na escolha de
formações, empregos e parceiros. Durante toda a sua
vida, as mulheres podem ser submetidas à gravidez
forçada, sofrer abuso emocional, físico ou sexual por
parte de familiares, companheiros, maridos ou pessoas
alheias à sua fam ília, ou ainda ser vítimas de
constrangimento sexual, tráfico sexual ou estupro.
arbitrária da liberdade, quer seja no âmbito da
vida pública ou privada.8
A violência contra a mulher não é um processo
linear que piora gradativamente; tampouco
trata-se de um ciclo que vem e vai, e volta
novamente para assom brar a vítima.
Assemelha-se mais a um ciclone, aumentando
de velocidade conforme concentra seu poder
de destruição até tragar para o interior de seu
vórtex e arremessar para longe a pessoa e
aqueles a sua volta, deixando-as machucadas,
desorientadas, necessitadas e, às vezes,
irremediavelmente perdidas para a vida. Não é
sequer um ciclo único, que possa ser estudado;
compreendido, o qual uma pessoa pode se
preparar a enfrentar, mas consiste de vários
ciclos, vindos de vários lados, os quais
envolvem sistemas e estruturas que governam
nossas vidas.9
A violência doméstica, isto é, a violência que ocorre
dentro dos lares, é a forma mais disseminada de violência
contra a mulher. Estudos em 35 países sugerem que entre
25% e 50%, ou até mais, das mulheres já sofreram algum
abuso físico por seu companheiro atual ou anterior. Ela
é a principal causa de lesões em mulheres, ocorrendo,
às vezes, quase diariamente e levando, em alguns casos,
à morte.
Este documento procura nomear e expor as formas
abertas e dissimuladas de violência contra a mulher. Ele
informa acerca do acompanhamento necessário pelas
vítimas para que possam passar da posição de
vitimização, para a sobrevivência e a humanidade plena.
Além disso, o documento oferece algumas medidas
positivas que podem ser tomadas para reduzir a
violência. Não se trata de um receituário, mas de convites
abertos para explorar o processo de dar nome ao pecado,
afirmar a plenitude da vida para as vítimas da violência
e de abrir oportunidades para educação. Os anexos
fornecem recursos e informações adicionais para aquelas
que estão sofrendo e para aquelas pessoas que as queiram
ajudar.
Adolescentes e mulheres jovens são proporcionalmente
mais vitimadas pela violência. 40 a 58% dos abusos
sexuais são cometidos contra meninas de 15 anos ou
menos, geralmente por membros da família ou por
alguém que a vítima conhece.
A violência pode trazer inúmeras conseqüências
negativas não somente para o bem estar psicológico,
mas também para a saúde sexual e reprodutiva da
mulher, tais como uma gravidez indesejada, aborto
espontâneo, doenças inflamatórias da pélvis, dor pélvica
crônica, doença sexualmente transmitida, HIV/AIDS e
infertilidade. O temor diante da violência doméstica
muita vezes impede a mulher de fazer uso de
contraceptivos ou de pedir a seus parceiros que os
utilizem.7
Comecemos o processo com a pergunta:
“Existe violência dentro da igreja?”
C o m o d e f in ir
MULHER?
a v io l ê n c ia c o n t r a a
|p^tL 9>l
O termo violência contra a mulher significa
Qualquer ato de violência de gênero que resulta
ou possa resultar em dano ou sofrimento físico,
sexual ou psicológico, incluindo também
ameaças de tais atos, coação ou privação
Priscilla Singh
Secretaria da Mulher na Igreja e na Sociedade
Departamento de Missão e Desenvolvimento
Federação Luterana Mundial
12
13
C a p ít u l o
i
- Chamar
O pecado é um estado de servidão que subjuga e distorce
a vida humana. É um afastamento de Deus, que leva a
ações pecaminosas de controle, abuso e violência contra
outras pessoas. Tais atos são geralmente justificados pelo
pressuposto segundo o qual alguns foram feitos para
dominar sobre os outros. Por exemplo, Gênesis 3.16b:
“ [...] você terá desejo de estar com o seu marido, e ele
a dominará”, é freqüentemente utilizado para justificar
o controle do homem sobre a mulher. Mas essa passagem
descreve o resultado do pecado entrando no mundo e é
uma descrição de uma humanidade caída, e não uma
prescrição das intenções de Deus. E uma queda no
pecado da qual Jesus Cristo já nos salvou. A persistência
no pecado é devido à nossa relutância em aceitar a
justificação pela graça de Deus mediante a fé, recebida
por meio de Cristo. O ato de reconciliação de Deus não
apenas nos liberta como pessoas do jugo do pecado,
como também nos ajuda a ser um em Cristo (Gálatas
3.28).
A igreja precisa esclarecer os dois relatos divergentes
da criação, pois as interpretações populares de passagens
isoladas, como Gênesis 3.16, têm sido utilizadas para
subjugar a mulher. Efésios 5.22-24, 1 Coríntios 11.216, 1 Timóteo 2.9-15, Colossenses 3.18 são utilizadas
da mesma forma. Por esse motivo, a igreja deve começar
com a confissão que a violência contra a mulher não é
um pecado “lá fora” no mundo, mas que os próprios
membros da igreja cometeram, por vezes, tais atos
pecaminosos, e que pecamos tanto em nossas ações
como em nossas omissões.
Como comunidade curadora, a igreja empreendeu muitas
tentativas para enfrentar a questão da violência contra a
mulher, por mais esporádicas, insignificantes ou
inadequadas que possam ter parecido tais tentativas.
Algumas comunidades dispõem de casas de acolhimento
por curtos períodos para vítimas de violência, oferecem
o peca d o pelo n o m e
aconselhamento pastoral ou pelo menos lidam com a
questão em particular como um problema familiar.
Praticamente todas essas atividades curadoras e
afirmativas são iniciadas por mulheres e, geralmente,
organizadas como voluntariado. São sinais de esperança
para todas as mulheres que, por muito tempo, ficaram
caladas pelo temor.
O que ainda não foi suficientemente divulgado dos
púlpitos e das instâncias educacionais da igreja é uma
denúncia aberta da violência contra a mulher e uma
confissão da igreja de sua incapacidade de limitar a
violência, quer devido ao pouco caso que dela fez, quer
por algumas de suas práticas. Por demasiadas vezes, a
igreja lidou com a violência contra^V m ulher
“minimizando a questão, trivializando-a, ocultando-a ou
considerando-na algo externo”.10De modo que a igreja
precisa analisar se “ela pode ter pregado o evangelho,
por séculos, de maneira a contribuir para a propensão
masculina à violência, à impotência de mulheres e
meninas e à tolerância da sociedade para com a violência
dentro do seio da família.”11
A igreja poderia começar explicando a pluralidade de
contextos nas Escrituras e a necessidade de
transcendermos essas lim itações e elevarmos a
centralidade da mensagem do evangelho em todas as
situações, de modo que haja cura e liberdade em Cristo,
não apenas para indivíduos, mas também para famílias
e comunidades.
Acima de tudo, é preciso confessar que a violência existe
também dentro da igreja devido a algumas práticas e
políticas que impedem o acesso de mulheres a posições
de liderança. Também existe a realidade do abuso do
clero, da má conduta sexual, do controle exercido sobre
as obreiras e da omissão em lidar com estas questões de
forma sensível e justa.
C a p ít u l o
M e d id a s
i
- Chamar
o peca d o pelo n o m e
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
•
Manifestar em declarações públicas que todas as formas de violência são um pecado, pois
desrespeitam a imagem de Deus, tanto no agressor como em sua vítima, e que isto nunca pode ser
tolerado ou justificado.
•
Informar as comunidades sobre a realidade das várias formas de violência contra a mulher
existentes nos contextos específicos de sua igreja e sociedade.
•
Desenvolver práticas e políticas para responsabilizar os agressores perante a igreja e a sociedade.
•
Estabelecer uma data anual com foco específico na questão, por exemplo, um “Domingo de
Solidariedade com a Mulher”.
•
Indicar dentro da igreja um responsável por enfocar, monitorar e corrigir a violência contra a
mulher, por exemplo, criar um órgão de tempo integral, dotado dos fundos necessários.
•
Estabelecer grupos de vigilância nas comunidades para investigar relatos de violência.
•
Incluir a questão da violência contra a mulher em sermões, instrução catequética e currículos
teológicos.
•
Discutir a questão nas instituições de ensino da igreja.
•
Tomar as igrejas locais seguros onde as vítimas da violência podem encontrar refúgio, apoio e
cura.
•
Oferecer oportunidades de amparo para a vítima e para o autor da violência.
•
Trabalhar em conjunto com instâncias governamentais locais.
R ecu rso s
a d ic io n a is
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E AIMPUNI
DADE: uma questão política. União de mulheres de
São Paulo. Rua Coração da Europa, 1395 - Bela
Vista, São Paulo
Ivone GEBARA. A mobilidade na Senzala Feminina.
São Paulo : Paulinas, 2000.
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES. Conver­
sando a gente se entende. Cartilhas - católicas pelo
direito de decidir. São Paulo, 2002.
15
C a p ít u l o
i
- Chamar
A n otações
16
o peca d o pelo n o m e
A n á l is e d a s d if e r e n t e s f o r m a s
DE VIOLÊNCIA PESSOAL
17
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s fo rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
Antes de vir ao auxílio de mulheres vitimadas pela
violência, é importante compreender suas diversas
dimensões. A violência pessoal costuma ser tratada
como questão particular. A realidade, no entanto, prova
que ela deve ser abordada de outra forma. Além de afetar
a mulher física e psicologicamente, a violência também
afeta sua espiritualidade. Quando a mulher que sofreu
abuso procura alternativas, aconselham ento ou
solidariedade junto a lideranças e instituições religiosas,
um atendimento inadequado e ineficaz faz com que ela
se sinta desamparada, traída e revoltada. Pergunta-se:
“Onde está Deus em minha dor, e para que serve a
igreja?”.
O abuso sexual é caracterizado mesmo quando não há
contato físico, como no caso de telefonemas obscenos,
olhares sugestivos, cantadas e comentários grosseiros,
exposição forçada da mulher a material pornográfico,
fazer da mulher objeto de pornografia, expor-lhe os
genitais ou perseguir uma mulher.
3. Abuso emocional ou psicológico
Os seres humanos necessitam de relacionamentos para
sua identidade, para sentir-se parte de um grupo e para
dar-lhes uma vida gratificante. A necessidade de tais
relacionamentos, de mutualidade e de responsabilidade
com partilhada levam as pessoas a procurarem ,
sustentarem e investirem em relacionamentos .-No
entanto, se a mulher é transformada em objeto e
manipulada para uma situação de dependência e falta
de poder, então essa necessidade foi explorada e
abusada. Tal abuso pode tomar as seguintes formas:
A violência pessoal afeta tanto a vítima como as pessoas
ao seu redor. A mulher, muitas vezes, desempenha a
tripla função de sustentar, administrar e alimentar o lar.
Para atender as expectativas ligadas a esses papéis, a
mulher precisa trabalhar por mais horas, privando-se
de quantidades adequadas de alimentação, sono ou
cuidados com sua saúde, até ficar completamente
exausta. Se, além disso, esta mulher ainda é “saco de
pancada” de seu marido, podemos imaginar como é sua
vida. As formas mais óbvias de violência pessoal são o
abuso físico e sexual. Mas o abuso emocional ou
psicológico podem, muitas vezes, ser tão ou mais
prejudiciais, com seqüelas mais duradouras.
T ip o s
Exclusão: fingir que a mulher não existe - o que
geralmente se expressa por meio da linguagem corporal
(por exemplo, em reuniões, as sugestões e propostas
vindas de mulheres são ignoradas).
Rejeição: expressar o desejo de que a mulher não
existisse, por exemplo: “Eu queria que você não fosse
minha esposa.”
d e v io l ê n c ia
Isolamento: impedir que as vítimas da violência
recebam apoio de outras pessoas ou tenham contato com
elas. Em alguns casamentos, jovens mulheres são
afastadas do apoio de suas próprias famílias e levadas a
viver com sogros e sogras que não lhes dão suporte,
negam-lhes contato com suas famílias, mantém-nas
trancadas ou restritas a áreas limitadas.
1. Abuso físico
Qualquer agressão que deixe marcas de contusão no
corpo, golpes com a mão ou com outros objetos, marcas
de cigarro, chutes, esterilização e aborto forçados,
mutilação genital feminina, danos a propriedade.
2. Abuso sexual
Crítica: censurar constantemente, constranger, chamar
nomes, ridicularizar, culpar a mulher por tudo, humilhar
a mulher na frente de outros ou a sós.
Toda ação que use uma pessoa para satisfação sexual
de outra, com ou sem seu livre consentimento,
caracteriza abuso sexual. Pode tratar-se de uma pessoa
sob a supervisão de alguém. Pode ocorrer por contato
físico, tal como estupro, incesto, atentado ao pudor,
constrangimento de colegas ou subordinadas mediante
toques lascivos, beijos, carícias, penetração vaginal, anal
ou oral, ou qualquer atividade que degrada mulheres e
crianças a estimular sexualmente o autor da violência.
Ameaças: ameaçar machucar ou abandonar a mulher,
ou ferir alguém que ela ama: crianças, outros membros
de sua família, até mesmo animais de estimação.
Corrupção: usar a mulher para fazer algo ilícito prostituição, tráfico de drogas.
18
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s fo rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
Antes de vir ao auxílio de mulheres vitimadas pela
violência, é importante compreender suas diversas
dimensões. A violência pessoal costuma ser tratada
como questão particular. A realidade, no entanto, prova
que ela deve ser abordada de outra forma. Além de afetar
a mulher física e psicologicamente, a violência também
afeta sua espiritualidade. Quando a mulher que sofreu
abuso procura alternativas, aconselham ento ou
solidariedade junto a lideranças e instituições religiosas,
um atendimento inadequado e ineficaz faz com que ela
se sinta desamparada, traída e revoltada. Pergunta-se:
“Onde está Deus em minha dor, e para que serve a
igreja?”.
O abuso sexual é caracterizado mesmo quando não há
contato físico, como no caso de telefonemas obscenos,
olhares sugestivos, cantadas e comentários grosseiros,
exposição forçada da mulher a material pornográfico,
fazer da mulher objeto de pornografia, expor-lhe os
genitais ou perseguir uma mulher.
3. Abuso emocional ou psicológico
Os seres humanos necessitam de relacionamentos para
sua identidade, para sentir-se parte de um grupo e para
dar-lhes uma vida gratificante. A necessidade de tais
relacionamentos, de mutualidade e de responsabilidade
com partilhada levam as pessoas a procurarem ,
sustentarem e investirem em relacionamentos .-No
entanto, se a mulher é transformada em objeto e
manipulada para uma situação de dependência e falta
de poder, então essa necessidade foi explorada e
abusada. Tal abuso pode tomar as seguintes formas:
A violência pessoal afeta tanto a vítima como as pessoas
ao seu redor. A mulher, muitas vezes, desempenha a
tripla função de sustentar, administrar e alimentar o lar.
Para atender as expectativas ligadas a esses papéis, a
mulher precisa trabalhar por mais horas, privando-se
de quantidades adequadas de alimentação, sono ou
cuidados com sua saúde, até ficar completamente
exausta. Se, além disso, esta mulher ainda é “saco de
pancada” de seu marido, podemos imaginar como é sua
vida. As formas mais óbvias de violência pessoal são o
abuso físico e sexual. Mas o abuso emocional ou
psicológico podem, muitas vezes, ser tão ou mais
prejudiciais, com seqüelas mais duradouras.
Exclusão: fingir que a mulher não existe - o que
geralmente se expressa por meio da linguagem corporal
(por exemplo, em reuniões, as sugestões e propostas
vindas de mulheres são ignoradas).
Rejeição: expressar o desejo de que a mulher não
existisse, por exemplo: “Eu queria que você não fosse
minha esposa.”
TlPOS DE VIOLÊNCIA
Isolamento: impedir que as vítimas da violência
recebam apoio de outras pessoas ou tenham contato com
elas. Em alguns casamentos, jovens mulheres são
afastadas do apoio de suas próprias famílias e levadas a
viver com sogros e sogras que não lhes dão suporte,
negam-lhes contato com suas famílias, mantém-nas
trancadas ou restritas a áreas limitadas.
1. Abuso físico
Qualquer agressão que deixe marcas de contusão no
corpo, golpes com a mão ou com outros objetos, marcas
de cigarro, chutes, esterilização e aborto forçados,
mutilação genital feminina, danos a propriedade.
2. Abuso sexual
Crítica: censurar constantemente, constranger, chamar
nomes, ridicularizar, culpar a mulher por tudo, humilhar
a mulher na frente de outros ou a sós.
Toda ação que use uma pessoa para satisfação sexual
de outra, com ou sem seu livre consentimento,
caracteriza abuso sexual. Pode tratar-se de uma pessoa
sob a supervisão de alguém. Pode ocorrer por contato
físico, tal como estupro, incesto, atentado ao pudor,
constrangimento de colegas ou subordinadas mediante
toques lascivos, beijos, carícias, penetração vaginal, anal
ou oral, ou qualquer atividade que degrada mulheres e
crianças a estimular sexualmente o autor da violência.
Ameaças: ameaçar machucar ou abandonar a mulher,
ou ferir alguém que ela ama: crianças, outros membros
de sua família, até mesmo animais de estimação.
Corrupção: usar a mulher para fazer algo ilícito prostituição, tráfico de drogas.
18
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s fo rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
' á OLÊNCXá
“ C írc u lo d o C o n tr o le e d o P o d e r ”
—
r e p r o d u z id o com
perm issã o d o P rojeto de In tervenção na Violência D om éstica
Duluth, M innesota, E U A 12"
19
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s fo rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
Ciclo da Violência 12b
Reproduzido com permissão
20
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s f o rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
inconstante de trégua e calmaria, quando o
agressor se mostra arrependido e carinhoso.
Esta fase, às vezes, recebe o nome de “lua-demel”, mas para a mulher espancada certamente
não se trata de nada disso. No melhor dos casos,
esta fase é uma pausa temporária dentro de uma
realidade de coação, ameaças, poucas opções
e lesões físicas. O ciclo repete-se numa espiral
de violência, com um gradual alongamento da
fase de acúmulo de tensão, um aumento da
gravidade do episódio violento e um
encurtamento, ou até o desaparecimento, da
fase de calmaria.13
Revitimização: culpar a mulher pela dor que sente,
por exemplo, responsabilizar uma viúva pela morte do
marido por falta de oração, por não ter cuidado bem
dele, por ser o “mau presságio’’ que causou sua morte.
Isto também inclui responsabilizar a vítima do estupro
alegando que foi sua culpa, que ela estava “pedindo por
isso” pela maneira como se vestia, por estar no lugar
errado ou por não ter se defendido de forma enérgica.
Também pode tomar a forma de ostracismo ou no
casamento forçado com o estuprador. Algumas mulheres
podem até mesmo procurar passar pela experiência
violenta novamente, em cumplicidade com seu
companheiro, numa inconsciente busca por mais
vitimização.
O ciclo também é conhecido como o ciclo “amor,
esperança, medo”. Conforme o ciclo evolui, muda a
reação da mulher. Durante a fase violenta ela pode se
abrir, quebrar seu silêncio e procurar auxílio de outra
pessoa. Mas ao passar pela fase de calmaria ela dirá
que a situação está resolvida e que não há mais nada
com que se preocupar. O agressor confessa seu erro e
pede perdão. Este comportam ento, perdoar e
contemporizar, junto com o comportamento arrependido
do agressor, fazem parte do ciclo de violência. Essas
rápidas mudanças de reações por parte da vítima e do
agressor devem ser motivos de preocupação e não de
alívio. Há uma grande diferença entre esse “pseudoarrependimento” pouco convincente e o arrependimento
verdadeiro e duradouro, que exige esforço,
comprometimento e determinação em transformar sua
vida e seu comportamento completamente.14
4. Poder e controle
O relacionamento entre homem e mulher, quando
baseado em respeito mútuo e amor compartilhado, pode
ser gratificante para os dois. Isto, no entanto, não é
sempre o caso. Alguns homens foram condicionados a
assumir o controle sempre e tendem a lançar mão de
intimidação, isolamento e abuso verbal. Se não ocorrer
uma intervenção no início desse processo, a situação
pode acabar em abuso físico. O abuso verbal já por si
só pode ser muito prejudicial, causando uma erosão da
auto-estima e suscitando dúvidas sobre sua própria
capacidade de lidar com a situação. Críticas contínuas
desmoralizam a pessoa exposta a elas e cria uma
dependência artificial entre vítima e agressor. Alguns
dos métodos utilizados para manter a mulher subjugada
são descritas na “Círculo do Poder e do Controle”, na
página 17.
Se uma mulher deve sair de um relacionamento abusivo,
a fase de calmaria (lua-de-mel) seria o melhor momento.
Paradoxalmente, as chances da mulher tomar tal decisão
durante esta fase são mínimas. Qualquer tentativa de
partir poderia desencadear outro episódio violento. Seu
parceiro pode apelar para a chantagem emocional,
dizendo que não pode viver sem ela, ou pode ameaçar
vingar-se caso a mulher saia de casa. Por considerar a
mulher uma posse sob seu controle, ele interpretará seu
abandono do lar como um insulto pessoal. Durante a
fase de calmaria, a mulher acredita que seu amor pode
mudar o comportamento do companheiro, se ela ficar
ao seu lado, confiando nele e sendo carinhosa. Assim
ela decide ficar. A mulher que já investiu tempo e energia
numa relação sente-se apreensiva frente à perspectiva
de começar tudo de novo, especialmente se tiver filhos
5. O ciclo da violência doméstica
Lenore Walker, uma psicóloga pioneira e defensora de
mulheres espancadas, propõe que uma relação de
espancamento passa tipicamente por vários estágios:
Uma fase de acúmulo de tensão, na qual a
mulher sente a necessidade de “caminhar sobre
ovos” e faz uso de várias estratégias para evitar
ou postergar um episódio violento. A fase
aguda, na qual o agressor causa danos severos
durante um período que costuma se estender
de 2 a 24 horas (mas em alguns casos chegando
a uma semana ou mais). Finalmente, uma fase
21
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s fo rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
para criar e se for levada a crer que ela própria tem
pouco valor. Ela tende a enxergar apenas o homem que
escolheu como parceiro e a separar mentalmente essa
identidade “bondosa” daquela do homem que a espanca.
Para ela, a violência de seu parceiro é uma doença, para
a qual ela pode ser a cura. Se for cristã, podem dizerlhe que deve “dar a outra face” e acreditar no perdão
dos pecados.
espancamento como parte da vida da mulher. Elas podem
vir a identificar o amor com a dor e a violência e tendem
a envolver-se com homens violentos. Isto leva à
perpetuação de uma cultura de violência.
Os filhos de mães espancadas têm seis vezes
maior probabilidade de cometer suicídio e
cinqüenta por cento maior chance de tomar-se
dependentes de drogas e álcool. Mais da metade
das mães espancadas batem nos próprios filhos.
Cinqüenta por cento de todas as mulheres e
crianças de rua fugiram da violência
doméstica.16
A teologia da cruz reforça a idéia do sofrimento
sacrifical. O modelo de líder como servo também
age como reforço. Por isso é extremamente difícil
romper o ciclo da violência dentro de um lar.15
6. O impacto da violência doméstica nos filhos
Pesquisas perturbadoras nos Estados Unidos móstraYn
que cem por cento dos assassinos em série foram vítimas
de abuso físico ou presenciaram-na. Um histórico de
violência na família é um dos principais indicadores de
delinqüência juvenil no futuro de uma criança. Tudo
isso prova como os ciclos de violência podem se
autoperpetuar, passar pelos filhos, multiplicar-se e
escalar a violência ainda mais.
Os filhos que presenciam a violência em casa são tão
afetados por ela quanto a mulher. Eles podem até vir a
aceitar a situação como algo normal. Os meninos
aprendem a imitar um pai violento e usam a violência
como uma maneira de resolver conflitos e conseguir o
que querem. As meninas tendem a aceitar o
22
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s f o rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
M e d id a s
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Fundar e manter, em colaboração com comunidades e ONGs especializadas, abrigos temporários
para mulheres vítimas de violência.
• Tomar a iniciativa de oferecer treinamento especial para membros do judiciário, corpo médico e
polícia para que as vítimas não sejam tratadas como uma chaga social, mas tenham assegurado o
direito de buscar justiça e oportunidades de reabilitação.
• Criar um serviço “disque-violência ” para agilizar a resposta a relatos de violência.
*■Estabelecer regras e políticas para servirem de diretrizes ao clero e aos leigos ao tomarem ação
disciplinar contra o agressor.
-«
í-
i
• Planejar e prever recursos para treinamento de aconselhamento, tanto para obreiros da igreja
t omo para leigos.
• Alertar as mulheres sobre:
- os processos psicológicos pelos quais elas podem passar - encontrar desculpas para o
agressor, retirada da queixa ou retornar ao ambiente de violência.
- as soluções alternativas disponíveis nas redes de solidariedade.
- as maneiras mais eficientes de comunicar sua situação em processos legais.
R ecu rso s
a d ic io n a is
Ken BUTIGAN; Patrícia BRUNO. Da violência à
integridade. Um programa sobre a espiritualidade e a
prática da não-violência ativa. São Leopoldo : Sinodal,
2003.
O que fazer para proteger-se a si mesma. Anexo I A.
Medidas a serem tomadas quando uma mulher relata a
você sua experiência de vitimização. Anexo II D.
23
C a p ítu lo 2 - A n á lis e d a s d if e r e n te s fo rm a s d e v io lê n c ia p e s s o a l
ANOTAÇÕES
24
25
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
3.1 v i o l ê n c i a e s t r u t u r a l
costumam ser condenados mesmo tendo criado essas
situações ou contribuído para sua existência.
Estruturas como a família, a comunidade e instituições
religiosas criam um senso de identidade e de pertença
entre seus membros, mas podem tomar-se instrumentos
de violência. Apesar disso, espera-se da mulher que seja
a guardiã dessas mesmas estruturas e desempenhe vários
papéis nelas. O homem também sente-se limitado pelos
papéis que esperam que ele desempenhe. A violência
estrutural, muitas vezes, não é percebida, mas é mantida
e validada coletivamente em nome da ordem e da
estabilidade. A violência estrutural tem as seguintes
características:
•
•
d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
O sexismo perpetua a crença segundo a qual algumas
pessoas são superiores ou inferiores a outras em termos
biológicos.
Historicamente, o sexismo afirma que as
pessoas do sexo masculino são intrinsecamente
superiores às pessoas de sexo feminino por
natureza, ou seja, pela própria ordem das
coisas, e vem atuando de forma discriminatória
para fazer cumprir essa ordem. De forma
análoga ao racismo, esse preconceito classifica
um grupo de seres humanos como deficiéntè,
prescreve papéis subordinados a essas pessoas
e nega-lhes certos direitos com base tãosomente em características físicas e/ou
psicológicas pessoais. Assim como o racismo
atribui uma dignidade inferior a pessoas com
base na cor de sua pele ou etnia, assim também,
baseado na biologia do sexo e suas funções
decorrentes, o sexismo confere à mulher
essencialmente menos valor do que ao homem
e trabalha arduamente para mantê-las no “lugar
apropriado”. Tanto no racismo quanto no
sexismo, características físicas representam a
essência completa do ser humano, de modo que
a dignidade fundam ental da pessoa é
violentada.20
As vítimas podem ser indivíduos ou grupos
dentro da coletividade.
As autoridades podem mudar, mas as estruturas
seguem as mesmas.
“A violência contra a mulher é profundamente enraizada
nas relações de poder entre mulheres e homens.”17Aos
homens é dado poder social sobre as mulheres, mas esse
poder toma-se abusivo se utilizado para o controle e a
opressão. Muitas mulheres
são socializadas para acreditar que não têm
poder, nem direito de “possuir” poder, pois isto
tem uma conotação de autoridade e nós
(mulheres) não gostamos de ser vistas como
pessoas autoritárias.18
As mulheres aprendem e, muitas vezes,
acreditam que a violência pode ser merecida.
Além disso, muitas sociedades fazem pouco
para impedir ou reduzir a violência e punir os
agressores, mesmo quando há leis claras contra
a violência doméstica. O problema costuma ser
negligenciado ou banalizado pela polícia e
pelos tribunais.19
O sexismo é um fator multidimensional que estabelece
papéis estereotipados fixos para homens e mulheres. Em
muitas sociedades, as expectativas de papéis específicos
impedem que meninas e mulheres estudem ou escolham
livremente o que estudar ou onde trabalhar, restringindoas a um número lim itado de empregos, papéis
específicos ou uma pequena área geográfica. Tanto
homens e como mulheres são socializados desde a
infância a aceitar como normal e necessário manter a
ordem e a estabilidade na família e na sociedade. A
divisão de trabalho por gênero pressupõe que os homens
devem exercer controle sobre recursos e tomar decisões,
o que deixa as mulheres sem poder para negociar. O
sexismo pode ser de vários tipos:
E ainda mais penoso quando as mulheres como agentes
de socialização perpetuam essa tendência nociva. Em
muitas partes do mundo a igreja tende a rechaçar a
mulher separada, divorciada ou mãe solteira. O grau de
condenação é mais intenso ainda se a mulher for
prostituta ou vítima de estupro, sem que qualquer esforço
seja feito para compreender o sistema que contribui para
essas situações. Por outro lado, os homens não
26
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
1. Androcentrismo
d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
3. Dois pesos, duas medidas: incoerência relacionada
ao gênero
Observar o mundo unicamente a partir de uma
perspectiva masculina pode resultar numa visão da
mulher como objeto, ao invés de sujeito. Isto pode
resultar em:
Em muitas sociedades e países, o homem é legalmente
o chefe de família, mesmo que esteja desempregado ou
improdutivo e a mulher ganhe mais do que ele. O homem
é chamado de “fonte de renda principal”, ao passo que
a mulher, muitas vezes, é considerada “fonte de renda
suplementar”. Em muitos países, as mulheres são
punidas pelos seus erros, mas os homens permanecem
impunes pelos mesmos atos. Um exemplo bíblico dessa
incoerência é o episódio da mulher adúltera (João 8). A
mulher foi levada a Jesus para que fosse julgada, mas o
homem ficou livre.
Ginopia, ou invisibilidade feminina. Um
exemplo disso é a ausência das histórias das
mulheres nas Escrituras: os evangelhos citam
Maria Madalena como a única ou como uma
das mulheres que viram o Jesus resuscitado.
Mas quando o apóstolo Paulo menciona o
evento em 1 Coríntiosl5.5-6 ele diz que Jesus
“[...] apareceu a Pedro e depois aos doze
apóstolos. Depois apareceu, de uma só vez, a
mais de quinhentos seguidores”. A primeira
aparição para as mulheres foi completamente
apagada.
>«
■«
»
4. Papéis preestabelecidos
As pessoas que não se conformam com os papéis
preestabelecidos para cada gênero são vistas como
problemáticas, desviadas. Se uma mulher trabalha,
costuma ouvir: “Como as crianças vão se virar se você
trabalhar?” . Esta pergunta nunca é feita ao pai.
Pressupõe-se que cuidar das crianças é responsabilidade
materna, não algo compartilhado pelos pais.
Misoginia: O ódio às mulheres é justificado,
atribuindo-lhes a origem do pecado: “A mulher
é a porta de entrada do m al” . Atitudes
semelhantes tendem, então, a continuar.
5. Familismo
O androcentrismo revela-se na forma de linguagem nãoinclusiva, por exemplo, no uso do termo “homem” ao
invés de “ser humano”. Ele também estabelece regras
que excluem a mulher de posições de liderança. Assim,
pelo fato de todos os apóstolos serem homens, afirmase que apenas homens podem ser ordenados pastores.
Significa dar prim azia unicamente aos papéis
tradicionais da mulher dentro da família. Pressupõe-se
que a família é a menor unidade nuclear, ao invés de um
grupo maior de membros de família, e que a família é a
responsabilidade principal e única da mulher. Elas
precisam se ajustar para dar atenção máxima à família.
2. Generalização indevida
6. Dicotomia sexual
Ocorre quando, por exemplo, um estudo analisa apenas
homens ou apenas mulheres, mas apresenta as
conclusões como se valessem para todos. Em francês,
mesmo se dez milhões de mulheres estivessem reunidas,
e um único menino estivesse presente, todas as mulheres
seriam saudadas na forma masculina, e não na feminina.
No mesmo idioma, o termo “direitos humanos” ainda é
conhecido como “droits de Thomme”, isto é, os direitos
do homem. Em outros idiomas, o milagre da
multiplicação dos pães é chamado de “a alimentação
dos cinco mil”, mas o texto diz: “os que comeram foram
cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças”
(Mateus 14.21).
Significa tratar os sexos como grupos distintos, com
diferentes atributos humanos. Por exemplo, há uma idéia
generalizada de que o homem é “racional” e a mulher é
“emotiva”; o homem, “forte”, a mulher, “fraca”.
7. Igualdade simbólica
Às vezes, em nome das aparências ou da
representatividade de gênero, faz-se um gesto simbólico,
“politicamente correto”. Por exemplo, uma mulher é
ordenada na igreja ou eleita para um órgão eclesiástico.
Na maioria das vezes, devido à falta de presença ou
27
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
apoio de outras mulheres, a mulher em questão tende a
ser retraída, tende a ser extremamente cuidadosa ao invés
de desafiadora, freqüentemente adaptando-se ao sistema
M e d id a s
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
masculino, até mesmo comportando-se como homem
para ser aceita por eles.
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Iniciar debates em instituições eclesiásticas usando o gênero como uma ferramenta analítica
para compreender questões como estereotipação de papéis, estabelecimento da hierarquia e
patriarcado, a subvalorização da mulher e a questão do poder em relações de gênero.
• Organizar discussões sobre o conceito de poder e autoridade como veículo para mudança e
renovação, não para controlar outras pessoas. O modelo de compartilhar poder e conceder
poder de Jesus, o seu abrir mão do poder e autoridade para fins de salvação na cruz é um
modelo de poder em prol da comunidade e no seu interior. Compreender isto traria poder as
mulheres e geraria sabedoria compartilhada e tomada de ação.
• Formar mulheres para que sejam libertadas de conceitos como auto-sacrifício, para que aceitem
“ter” poder e o usem de forma responsável.
• Colocar questões de gênero em todas as pautas de planejamento e atividades, revisar constituições,
leis, regulamentos e diretrizes para que sejam justas em termos de gênero.
• Tomar resoluções políticas para possibilitar que as mulheres estudem teologia nas mesmas
condições oferecidas aos homens, em termos de bolsas e oportunidades de especialização.
• Promover oportunidades educacionais para mulheres e distribuir cargos iguais aos dos homens,
com remuneração igual.
• Fornecer oportunidades justas e iguais de promoção para posições de liderança nas instituições
eclesiásticas.
• Revisar a estrutura de voluntariado para evitar a hierarquização por gênero.
• Disponibilizar sessões de treinamento em questões de gênero para grupos de jovens, para trabalhar
questões de violência, refletir e reavaliar normas sociais tradicionais.
• Criar redes de apoio de homens para discutir novos modelos de imagens masculinas:
- desfazer a imagem de “machão ” e enfatizar a necessidade de aceitar a expressão de emoções
como amor, dor e lágrimas;
- promover o orgulho em compartilhar tarefas de criação com a mulher;
- desfazer a imagem “feminina ”, abandonando o modelo maternal, obediente, servil, sem amor
próprio, e aceitando o modelo da mulher que procura sua identidade, dignidade, realização e
sabe o que pensa;
-facilitar os processos de aprender a lidar com a raiva masculina por meio de maneiras nãoviolentas.
28
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
• Criar grupos de discussão em seminários teológicos para:
- analisar e preparar-se para os desafios das novas experiências da vida e da fé;
- refletir deforma crítica sobre culturas, tradições, pressupostos e comportamentos;
- reforçar o conceito da família como um coletivo de indivíduos que pertencem uns aos outros por meio
de relações mutuamente responsáveis de afeto.
Recu rsos
a d ic io n a is
Como os homens poderiam ajudar a erradicar a
violência masculina contra a mulher. Anexo III A.
Exemplo de um jovem advogado que luta contra o
tráfico de meninas. Anexo IIIB.
Heleieth I. B. SAFFTOTI. Contribuiçõesfeministas para
o estudo da violência de gênero. Cadernos Pagu No. 16
(2001), p. 115-136.
Alice LIBARDONI. (org.) Direitos humanos das
mulheres... em outras palavras: subsídios para
capacitação legal de mulheres e organizações.
Brasília, AGENDE, 2002
Campanha do Laço Branco. Anexo III C.
29
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
As culturas têm muitas camadas
sig n ific ad o s p ro b lem ático s, usados para im p ed ir
mecanismos de direitos humanos.
3.2 VIOLÊNCIA CULTURAL
O obstáculo mais freqüentemente citado para
No contexto da igreja, o Código Deuteronômico reforça
alcançar a igualdade de gênero é a persistência
culturas locais prejudiciais à mulher, como a pureza,
de n o rm a s so c ia is e c u ltu ra is , c re n ç a s
contaminação e impureza da mulher devido ao sangue
tra d ic io n a is e e s te re ó tip o s n e g a tiv o s de
gênero.21
m enstruai (L evítico 15.19-31). A lém disso, textos
bíblicos continuam sendo usados por alguns para
justificar as ideologias do racismo, sexismo e classismo.
Cultura é a soma de valores, atitudes, crenças, relações
1. Abuso ritual
de gênero, práticas de educação dos filhos, normas de
governo. É a organização espiritual, social, política e
econôm ica da existência humana. Algum as culturas
Qualquer abuso realizado como prática tradicional, tais
evoluíram vivendo em determinado contexto por muitos
com o prostituição em tem plos, sacrifício infantil,
anos, outras através da m igração, do com ércio, da
colonização e, m ais recentem ente, da globalização.
considerado abuso ritual. Em algumas regiões do mundo,
cren ç as o c u lta s ou a d o ra ç ã o sa tâ n ic a , p o d e ser
Diferentes formas de tratamento de meninos e meninas
viúvas são obrigadas a seguir rituais, preceitos, códigos
vão se fortalecendo. M otivos ou sistem as culturais
de conduta e de vestimenta pelo resto da vida. N a índia,
p odem ca u sa r v io lê n c ia , tais com o o fe tic íd io e
por exem plo, as viúvas devem parar de usar sinais
infanticídio feminino, a negligência consciente da saúde
e x te rio res de boa so rte com o sin d h o o rs (m arcas
e da educação de meninas e a mutilação genital feminina.
vermelhas em seu cabelo), bindis (marcas de beleza) na
Além disso, a colonização que ocorreu em 85 por cento
sua testa, cremes e flores, e os colares que usam desde a
do mundo trouxe consigo o cristianism o ocidental e
c e rim ô n ia de ca sa m e n to . E la s são e x c lu íd a s de
erradicou muitas culturas locais saudáveis. Surgiram
atividades sociais em cerim ônias de bons auspícios,
novas formas de mulher-objeto, por exemplo, a mulata
mesmo em suas próprias famílias. São impedidas de
brasileira, valorizada como mulher “sexy” no carnaval.
h e rd a r a p ro p rie d a d e , os b en s ou os b e n e fíc io s
F in a lm e n te , a c u ltu ra a tu a lm e n te é im b u íd a de
trabalhistas de seu marido. Em algumas culturas, a viúva
30
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
é considerada parte da propriedade do seu marido e,
como tal, pode ser dada como herança aos irmãos do
marido, ficando dependentes deles pelo resto da vida,
sem liberdade ou autodeterminação alguma.
parcial do aparelho genital. A dor aguda e o traumatismo
ao manter relações podem resultar em incapacidade
sexual. Partos excessivamente prolongados podem
resultar em nascimento de crianças natimortas.
2. Mutilação genital feminina
Pesquisas sobre os efeitos psicológicos e sociológicos
da MGF na mulher e nos recém-nascidos não são
suficientes. A maioria das mulheres é levada a crer que
a mutilação é uma obrigação religiosa, embora as
Escrituras não a mencione. A pressão cultural sobre os
pais para mandarem circuncidar seus filhos é tão grande,
que até mulheres mais esclarecidas e informadas
sujeitam suas filhas a esse sofrimento desnecessário,
tradicionalmente visto como um rito de passagem e
cerimônia de iniciação na vida ddtfltà de mulher.
Também se afirma erroneamente que a mutilação
aumenta a fertilidade e protege o útero. A MGF é uma
fonte de renda im portante para circuncisores
profissionais e, além disso, aumenta o valor do dote da
menina. Todos esses fatores atrapalham sua abolição.
Supõe-se que a excisão do órgão sexual feminino
preserve a castidade da mulher e a protegerá de desejos
sexuais que podem levar a tentações e eventual desgraça.
“Dois milhões de meninas são mutiladas por ano através
da mutilação genital feminina (MGF). Países como
Egito, Etiópia, Quênia, Nigéria, Somália e Sudão
representam 75 por cento de todos os casos.”22Além do
choque e da dor causados pela MGF, suas conseqüências
são ainda maiores. Hemorragias graves, envenenamento
do sangue e tétano podem ser seqüelas imediatas, mas
também podem ocorrer inflamação do trato urinário e
dos rins, inabilidade para controlar a urina e acúmulo
interno de sangue menstruai, resultando em obstrução
M e d id a s
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Reconhecer a enormidade da tarefa, analisar as anomalias que existem em culturas locais,
culturas impostas e culturas bíblicas, assim como a interpretação dessas culturas, que são
um enigma para aqueles que desejam permanecer fiéis às Escrituras e obedecê-las.
• Organizar discussões de estudos bíblicos com interpretações feministas sobre 2 Reis 4.1-7,
Números 27.1-11, 1 Coríntios 14.33-36, 1 Timóteo 2.2-12.
Recu rsos
a d ic io n a is
Claudia FONSECA. Família, fofoca e honra: etnografia
de relações de gênero e violência em grupos populares.
Porto Alegre, Editora da Universidade/UFRGS, 2000.
DÉCADA PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA. Campa
nha. www.conic.org.br
31
C a p ítu lo 3 - T r a n s f o r m a ç ã o d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
3. Morte por desonra
submissas, passivas, tímidas, dependentes e dóceis,
atitudes pelas quais elas são honradas. Hisako Kinukawa
dá a isso o nome de “cultura da vergonha”, ao invés de
“cultura da honra”, pois a honra é alcançada ao evitar a
conduta vergonhosa. As mulheres são punidas caso se
afastar das expectativas de seu papel ou das normas da
sociedade. São torturadas ou mortas para lavar a honra
da família, do clã, da casta ou comunidade. São punidas
para servir de exemplo, para que outras não ultrapassem
os limites impostos por sua sociedade. Quando o Talibã
assumiu o poder no Afeganistão em 1996, as mulheres
foram forçadas a vestir a burka (vestimenta que cobre o
corpo inteiro exceto os olhos) e foram espancadas e
apedrejadas em público por estar vestidas de forma
imprópria, mesmo se isso significasse apenas não usar
o véu na frente de seus olhos. Não lhes foi permitido
trabalhar ou mostrar-se em público sem um parente
homem.
A honra é o valor de uma pessoa aos seus próprios olhos
e aos olhos de seu grupo social. “A honra somente se
toma honra quando há coincidência entre a exigência
intema e a reputação externa.”23
A finalidade da honra é servir como uma forma
de classificação social, a qual dá direito à
pessoa de interagir de maneiras específicas com
seus semelhantes, superiores e subordinados,
de acordo com os preceitos culturais de uma
sociedade.24
A honra coletiva de uma comunidade tem valor mais
alto do que a honra individual. A honra masculina baseiase na exclusividade sexual e na pureza das mulheres
relacionadas com ele (mãe, esposa, filhas e irmãs) e não
em sua própria pureza. Assim, as mulheres devem ser
M e d id a s
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Organizar estudos bíblicos sobre a história de Tamar (2 Samuel 13).
• Proibir o mau uso de argumentos religiosos para perpetuar a MGF, a morte por desonra e o
abuso ritual.
• Estar preparado para falar contra interpretações errôneas da religião e para ensinar a aplicação
de princípios cristãos verdadeiros em relação à MGF, morte por desonra e abuso ritual.
• Estabelecer um grupo de mediadores na comunidade, formado por homens e mulheres, para
resolver disputas de famílias.
• Revisar o direito da família à luz de princípios cristãos e direitos humanos.
• Iniciar diálogos entre lideranças religiosas e profissionais médicos sobre pontos de vista
religiosos e médicos relacionados com a MGF e o abuso ritual e formular estratégias.
• Encorajar líderes-e intelectuais religiosos a enfatizarem que essas práticas não são estipuladas
pelas Escrituras.
• Trocar experiências e relatórios entre organizações da mulher, monitorar ocorrências de MGF,
morte por desonra e abuso ritual, considerar este monitoramento uma tarefa permanente da
igreja.
• Formular razões específicas relacionadas com gênero para conceder asilo para mulheres.
32
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
4. Sexualidade e casamento
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
desaprovação da sociedade e a punições graves. Em
algumas culturas, a mulher perde a guarda dos filhos
caso se divorciar. Em culturas polígamas, a igreja muitas
vezes permanece calada. Às vezes, mulheres estéreis
são banidas da família.
O casamento é visto como instituição sagrada, ordenada
por Deus. Esta opinião é válida se os dois membros do
casal a compartilham. Porém, muitos homens ainda
defendem a liderança do homem e o patriarcado no
casamento ao invés da mutualidade. Os votos de
casamento e os sermões pregados durante as cerimônias
costumam ser reflexos dessa realidade, o que
fundamenta uma relação desigual. O ponto de vista de
que seu corpo serve para o prazer do homem, que sua
responsabilidade principal é a procriação, educação dos
filhos e planejamento familiar constitui um pesado fardo
para a mulher. O problema fica maior ainda quando
existe um tabu contra a discussão da sexualidade e
quando a mulher é analfabeta, com pouco conhecimento
do seu corpo. Implicações éticas não esclarecidas a
respeito de gravidez indesejada, aborto, infanticídio
feminino e métodos de planejamento familiar sujeitam
a mulher a sentimentos de culpa, vergonha, à
Existe uma crescente necessidade de compreender
diferentes orientações de vida, mas a igreja tende a se
furtar da discussão franca, de tomar posições fortes
nesses temas devido ao seu potencial de dividir a igreja.
A pèrsistência de práticas como o fato de que mulheres
podem ser dadas como herança a seus cunhados não
lhes dá nenhuma possibilidade de conseguir dos homens
um comportamento sexual responsável■©,tertdo em vista
que a pandemia do HIV/AIDS continua causando
estragos em países e comunidades, expõe as mulheres a
riscos maiores. A igreja tem relutado a questionar tais
práticas ou a oferecer diretrizes éticas.
MEDIDAS POSITIVAS QUE PODEM SER TOMADAS
• Desenvolver uma abordagem teológica para os conceitos de casamento, família e sexualidade, levando
em consideração a realidade das mudanças das situações na vida de cada um.
• Organizar retiros em todas as comunidades da comunhão luterana para expandir o diálogo sobre
mutualidade e respeito pela dignidade das pesssoas.
• Capacitar pastores e pastoras a discutir os conceitos de casamento, família, sexualidade, relações,
relacionamentos pré-maritais e extraconjugais em contextos contemporâneos.
• Estudos bíblicos sobre Gênesis 2.24, Mateus 19.5-6, Marcos 10.7-8, Efésios 5.30-31,1 Coríntios 7.1-4.
33
C a p ítu lo 3 - T r a n s f o r m a ç ã o d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
em especial além daquela imediatamente envolvida na
p ro d u ção em m assa de p a rte s, um tra b a lh o sem
criatividade. As mulheres passam horas em “fábricas
de fu n d o de q u in ta l” . A te rc e iriz a ç ã o lev a à
desregulamentação das relações de trabalho, criando
empregos que não oferecem incentivo ou renda fixa.
Ao mesmo tempo que lutam junto com suas famílias
contra tais desvantagens, essas m ulheres tam bém
precisam lidar com a pobreza extrema. Tornam-se, desse
m odo, um a co m u n id ad e v u ln eráv el à exp lo ração
adicional.
A mudança do sistema econômico ampliou o conjunto
de papéis desem penhados p ela m ulher; ela agora
também sustenta o lar economicamente. A migração de
homens para as cidades em busca de sustento fez com
que as mulheres tivessem que defender não apenas a si,
mas famílias inteiras, enquanto que, ao mesmo tempo,
se espera que ela continue a trabalhar como voluntária
na esfera pública e comunitária. Mulheres mal-treinadas,
sem poder de barganha são enganadas por ilusões de
melhores perspectivas a trabalhar como migrantes, por
não ter outra alternativa.
N essa situação vulnerável, elas são constrangidas,
sofrem abusos sexuais e são mantidas em cativeiro nos
países para onde migram, sem acesso ao mundo externo
A globalização da economia promove e é cúmplice da
e sem remuneração adequada. Por não conhecerem os
exploração da mulher
procedimentos legais ou não terem apoio externo, assim
como pelo controle exercido sobre elas por parte de seus
empregadores, são submetidas a grande sofrimento e
3.3 EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA
medo. Freqüentem ente são forçadas a trabalhar por
E DA MODERNIZAÇÃO
muitas horas, não recebem dias livres nem alimentação
adequada. Incapazes de compreender o idiom a local,
A g lo b alização eco n ô m ica está in ten sifican d o as
não são registradas com as autoridades de imigração.
Vivendo ilegalmente no país, vivem em constante medo
disparidades do mundo. Os interesses do setor privado
estão reduzindo o papel dos governos, das instituições
internacionais e da esfera social. Isso está tendo um
de ser presas, pagar multas e ser deportadas.
impacto direto nas mulheres e crianças. A transferência
A transformação de áreas rurais em distritos industriais
de recursos financeiros e naturais e do conhecimento é
tira o su sten to da p o p u la ção lo cal, fo rm a d a por
cada vez maior. A transferência do poder e das instâncias
trabalhadores agrícolas e indígenas. O reassentamento
decisórias das nações-estado para as multinacionais está
maciço de pessoas, às vezes sem indenização alguma
criando m ais perdedores do que ganhadores num a
ou, m esm o com in d e n iz a ç ã o , sem a s s e s s o ria e
v elo cid ad e ja m a is v ista antes. A g lo b alização da
conhecimento de como investir o dinheiro para levar
produção aumentou a presença de mulheres em setores
um a vida auto-sustentável, resulta em acúm ulo de
da p ro d u ção com o p ro c e ssa m e n to de alim en to s,
responsabilidades familiares para a mulher. A entrada
confecção têxtil e linhas de montagem. Tais empregos
não capacitam a mulher a desenvolver nenhuma técnica
transformou os pequenos proprietários de agricultores
de multinacionais em empreendimentos de agronegócios
34
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
de subsistência em mão-de-obra barata, sem opção de
preço, uso ou distribuição de sua colheita. A
superprodução de certas colheitas altamente rentáveis,
os métodos de produção artificiais e o uso de pesticidas
causam estragos nos produtos do campo, na saúde das
pessoas, na biodiversidade e na sustentabilidade do
M e d id a s
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
planeta. O conhecimento local é patenteado e depois
cobrado dos usuários. O acesso reduzido a recursos
tradicionais e naturais e a falta de treinamento em
tecnologia apropriada contribuem para marginalizar a
mulher na busca por novas oportunidades de trabalho.
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Encorajar comunidades a analisarem como a globalização econômica afeta as comunidades locais e
a se envolverem em campanhas exigindo o perdão da dívida externa.
• Intensificar o treinamento de mulheres em tecnologias apropriadas para o contexto local.
W
^
t
*
• Manter estruturas de apoio para mães solteiras, mulheres divorciadas ou separadas e viúvas, para
ajudá-las a encontrar emprego.
abuso. O tráfico ocorre de forma clandestina ou com
documentos legítimos, vistos de turista legais ou através
de casamentos falsos.
1. Tráfico de mulheres e crianças
O tráfico de mulheres e crianças é a terceira maior fonte
de renda no mundo, logo atrás do comércio ilegal de
armas e o tráfico de drogas. O tráfico pode ocorrer por
seqüestro da vítima ou com o conhecimento de
intermediários, da família ou mesmo da própria vítima,
compelida a procurar melhores oportunidades
econômicas. Quando descobertas pela polícia,
costumam ser tratadas como delinqüentes, acusadas de
entrar ilegalmente no país ou detidas sem motivo algum.
Se não podem pagar as multas que recebem, são presas
ou encaminhadas para um centro de detenção por um
período indeterminado de tempo, sem direito à audiência
ou acesso a advogado. Outra alternativa é serem levadas
até a fronteira de um país, sem condições de retomar
para casa de forma segura. Isso acaba levando para nova
detenção e, possivelmente, tortura. O tráfico de mulheres
para fins de casamento com estrangeiros pode ter reações
adversas.
2. Túrismo sexual
O turismo sexual tornou-se um negócio de enormes
proporções.
Em 1999, 8,5 milhões de turistas visitaram a
Tailândia. Costuma estimar-se que 70 por cento
dos turistas são homens viajando sós, 49 por
cento vêm especificamente para fazer sexo com
crianças. Se for esse o caso, podemos afirmar
que 49 por cento dos turistas vêm à Tailândia à
procura de sexo.25
Os turistas vêm principalmente do leste asiático, dos
EUA e da Europa. Algumas agências de viagem
trabalhando juntas oferecem esse tipo de passeio sem
alto custo. A situação de carência dos países que
empobreceram ao passar por distúrbios étnicos ou
crises financeiras não deixa outras opções às mulheres
do que vender seus corpos e os de sua família para
sobreviver. Mas isso fará com que elas sejam ainda
mais estigmatizadas pelas próprias famílias e pela
sociedade.
As estatísticas mostram que cada vez mais crianças estão
se envolvendo com essa indústria insidiosa, com ares
de “máfia”, muitas vezes agindo em conluio com a
polícia local. Qualquer pessoa que tentar intervir coloca
sua vida em perigo. Dez milhões de crianças são afetadas
mundialmente. Dois milhões passam por fronteiras
anualmente. Cada dia, somente na Ásia, um milhão sofre
35
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
humilhar a mulher, que é vista como propriedade do
homem, e também para macular a pureza da raça ao
produzir descendentes.
3. O estupro como arma
O estupro é a penetração forçada nas partes
mais íntimas, mais vulneráveis e pode-se dizer
mais sagradas do corpo humano. Como tal,
trata-se de um crime espiritual além de um
crime físico.26
Não devemos confundir o estupro com um ato impulsivo
de paixão. O estupro é freqüentemente premeditado e
planejado detalhadamente. Ele não é expressão de uma
urgência sexual incontrolável, mas uma agressão
motivada pela necessidade de afirmar o poder, a
autoridade, o ódio à mulher e o desejo de humilhá-la e
vingar-se dela.
“O estupro é todo o ódio, desprezo e opressão para com
a mulher nessa sociedade concentrados em um só ato.”27
O estupro coletivo é uma forma especialmente brutal
de abuso sexual. Não é um evento isolado e, muitas
vezes, a vitimização se repete.
Há uma ameaça de morte contida no estupro, mesmo se
não há espancamento. A mensagem aterradora é que a
mulher é objeto a ser controlado por aqueles que têm a
força bruta, a posição, o status social ou que são
considerados como raça ou classe superior.
- O álcool e o uso de drogas não podem ser
considerados como causas de estupro, mas
diminuem a inibição.
»•
- Não apenas mulheres jovens e belas são
estupradas, mas também bebês, crianças e
senhoras idosas. Um homem pode estuprar
qualquer pessoa vulnerável, acessível e ao seu
alcance.
O estupro foi utilizado como uma arma durante a
colonização e está sendo usada cada vez mais como uma
arma de guerra e em áreas de conflito como um
instrumento de repressão e tortura de prisioneiros.
Também é utilizado como gratificação e para exercer
poder e domínio. É considerado uma forma eficaz de
E preciso deixar claro que as mulhers não querem ser
estupradas. Um terço dos estupros ocorrem em casa.
Um terço durante o dia. Mais da metade dos estupros
são cometidos por pessoas que a vítima conhece. Hoje
em dia, em alguns países, o estupro marital é considerado
agressão punível na forma da lei.
36
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
M e d id a s
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Igrejas, ONGs, governos e agentes de viagem poderiam trabalhar em conjunto para enfrentar a questão.
• Levantar a questão em jornais locais para criar uma rede de “resistência”.
• Declarar que não há nenhuma desculpa para o estupro, seja o abuso do álcool, de drogas, a tentação
oferecida pela vítima ou perda de controle temporária.
• Acompanhar episódios de estupro para assegurar que a justiça seja feita e que a vítima receba apoio
adequado para superar o trauma.
R e c u r s o a d ic io n a l
Compreender a vítima de estupro. Anexo II C.
4. Tecnologias invasivas
a eficácia de novos métodos e medicamentos. Dessa
forma, as mulheres são submetidas ao controle de seus
parceiros, famílias, governos, preceitos religiosos e a
profissão médica, muito embora sejam elas mesmas que
passam pela gravidez indesejada, o aborto, as terapias
de fertilidade, e convivem com a dor, culpa e o resultado
pelo resto de suas vidas.
Devido à preferência por filhos-homem em algumas
sociedades, usa-se a pré-seleção do sexo dos filhos por
manipulação genética e nesse processo, às vezes, fetos
de meninas são eliminados. Pílulas anticoncepcionais
prejudiciais são distribuídas. Métodos de controle de
natalidade são testados em mulheres desinformadas e
ingênuas em países pobres, com ou sem seu
conhecimento, para controlar a população ou para testar
M e d id a s
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Educar as mulheres a buscarem informações para fazer escolhas sobre questões de gravidez,
controle de natalidade e o número de crianças que elas podem ter condições de criar.
• Discutir a sexualidade em todas as suas dimensões de maneira aberta, sem prejulgamento.
• Organizar seminários sobre vida conjugal e em família.
37
C a p ítu lo 3 - T r a n s f o r m a ç ã o d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
5. Os meios de comunicação
O uso da internet para tráfico de mulheres e para vender
pornografia agravou a exploração da mulher. A falta de
mecanismos para regular o uso da internet piorou a
situação. Mesmo sendo verdade que a pornografia e a
exploração da mulher sempre existiram, agora tomouse mais difícil monitorar e coibir essas atividades. O
abuso das mulheres e das meninas na pornografia, no
turismo sexual e no comércio sexual foi exacerbado pela
comunicação eletrônica. O comércio sexual agora tem
acesso aos sites da Web para apresentar suas mulheres,
atingindo um número muito maior de pessoas. Cresce o
número de sites incitando o ódio à mulher na internet.
Isto, junto com as agressões verbais e psicológicas nos
chats tendem a dissuadir as mulheres ao redor do mundo
de usar a internet.28
*
,
Imagens negativas e representações estereotipadas da
mulher estão ficando cada vez mais freqüentes. Falta
um esforço coordenado para melhorar e modificar o
status da mulher nos meios de comunicação. Concursos
de beleza e top models estabelecem o padrão para a
imagem do corpo da mulher, colocando pressão sobre
as outras mulheres. Isto poderia levar a uma obsessão
com a aparência, resultando em distúrbios da
alimentação autodestrutivos como bulimia e anorexia.
Exposição demasiada à violência na mídia não somente
dessensibilizou a humanidade para o horror que
representa como também criou uma cultura da violência.
As crianças das sociedades ricas absorvem essa cultura
por meio da televisão. Elas são incitadas a cometer
centenas de atos de violência por hora ao jogar com
videogame e, às vezes, tomam-se violentas na vida real.
De 3,5 milhões de web sites pesquisados até agora, já
foram detectados 23 mil que se dedicam a incentivar
sexo com crianças.
MEDIDAS POSITIVAS QUE PODEM SER TOMADAS
• Monitorar páginas da Web periodicamente como uma iniciativa conjunta de comunidades.
• Desenvolver uma abordagem crítica para a representação da mulher na mídia e levantar esta
questão em debates com grupos de mulheres, homens e jovens.
RECURSOS ADICIONAIS
Wanda, DEIFELT; André, MUSSKPF; Marga Janete,
STRÓHER. À flor da pele. Ensaios sobre
corporeidade. São Leopoldo : Sinodal/CEBI, 2004
Denise CARREIRA; Valéria PANDJIARJIAN. Vem
pra Roda! Vem pra Rede!: Guia de poio à construção
de redes de serviços para o enfrentamento da
violência contra a mulher. São Paulo : Rede Mulher
de Educação, 2003.
38
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a . ig r e j a e d a s o c ie d a d e
Saindo do abismo
D evido a essa ideologia, existe a p o ssib ilid ad e e
3.4 PREMISSAS E PRÁTICAS DA IGREJA
re a lid a d e que até m esm o m u lh e re s p o d e m ser
1. Características patriarcais da igreja
dominantes e não apoiadoras da causa das mulheres.
As ig re ja s em sua m aio ria seg u em o m o d elo de
mecanismo para evitar mal-entendidos recíprocos.
H om ens e m u lh eres p re c isa m co m p ree n d e r esse
hierarquia e patriarcado. Isto deixa menos espaço para
2. A linguagem utilizada para falar de Deus
que todos os filhos de D eus sejam reconhecidos,
igualmente amados, participando na criação de Deus e
compartilhando a plenitude de vida oferecida por Cristo.
Esta linguagem forma o pensamento e a orientação de
O patriarcado é um termo controverso e um sistema
vida para a corporação da com unidade de fé e seus
complexo sustentado pela religião, pelo poder político
membros individuais.
e econômico e pela sociedade. O patriarcado facilita
Como enfoque de confiança absoluta, o santo
a supremacia masculina, que sustenta o domínio
mistério de Deus serve de base e implicitamente
masculino em cada unidade da sociedade e gera
d irecio n a todas as ativ id ad es, p rin cíp io s,
u m a e s tru tu ra de p o d e r h ie rá rq u ic a e a
escolhas, sistemas de valor e relacionamentos
supremacia de “elites” masculinas. Isso implica
daquele que crê [...]. Embora oficialmente se
a subordinação dos hom ens que não fazem
afirme que Deus é espírito, e dessa forma está
parte da elite também, mas esses são superiores
além da identificação masculina ou feminina,
à “não-elite” feminina e a subjuga. Também é
mesmo assim a linguagem da pregação diária,
v e rd a d e que m u lh e re s da “e lite ” p o dem
da celebração do culto, da catequese e da
subordinar homens “não-elite”, mas essas, se é
instrução transmite uma mensagem diferente.30
que existam , ja m a is po d em ser igu ais ou
As imagens de Deus usadas pela igreja são quase todas
superiores aos homens “elite”.29
masculinas: pai, rei, senhor e assim por diante. Uma
d ific u ld a d e c ria d a p o r e sse fa to é que, em b o ra
39
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
\
compreendemos a “masculinidade” de Deus como algo
metafórico, a metáfora pode atribuir divindade ao
homem, dando-lhe supremasia sobre a mulher “nãodivina”.
questão do gênero, e chegar ao divino mistério
de Deus.31
3. Jesus como homen e sua preferência por discípulos
homens
Por isso, toda e qualquer palavra sobre Deus
deve ser analisada para ver se fala de Deus e
não daquele que fala e interpreta Deus; se a
palavra fala dos atributos de Deus e da divina
misericórdia de Deus ou do poder daquele que
usa a linguagem. É preciso fazer esforços, por
mais difícil que possam ser, para ir além da
O fato de que os discípulos de Jesus eram todos homens
foi utilizado como um modelo para o ministério
masculino, para a sucessão apostólica e para a liderança
da igreja. Isto precisa ser revisto à luz do Novo
Testamento e do testemunho da igreja primitiva.
------------------------------------------------------------------------------------------------------- s-----------------------------1 -.*•
M e d id a s
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Salientar como Jesus deu poder às mulheres para falar e testemunhar em público, rompendo assim
normas e limites.
• Discutir as muitas maneiras nas quais as mulheres o apoiaram: com recursos financeiros, como
hospedeiras, por meio da solidariedade em sua agonia, através de sua fidelidade e devoção.
a vítima ao seu papel de vítima!”33 É importante fazer
uma distinção entre o sacrifício de uma vítima e o ato
de vontade própria, a aceitação consciente do sacrifício
para o bem de outros, como foi o caso de nosso Salvador.
4. O conceito de Jesus como vítima/sacrifício
Este conceito representa um fardo para as mulheres. O
fardo
O fato de que Deus deseja a vida para o crucificado e
faz com que isso seja possível poderia transmitir a
mensagem para as mulheres que sofrem com a violência
que Deus também deseja que elas tenham vida, uma boa
vida. A compreensão bíblica da vida não é restrita à mera
sobrevivência, mas à vida em toda a sua plenitude, uma
vida boa, junto às outras criaturas de Deus, em liberdade,
paz, alegria, amor e justiça.34
toma-se ainda mais pesado em vista de uma
tradição de discipulado centrada no autosacrifício, na negação de si mesmo, na
disposição de sofrer, na humildade e no serviço
ao outro. Algumas mulheres criadas no
cristianismo e vítimas de violência identificamse com Jesus como a vítima sacrificada. Em
seu próprio sofrimento elas podem aproximarse de Jesus, renunciando à possibilidade de
resistir ativamente ao seu sofrimento [...]. Ao
seguir instruções sem questioná-las, o que leva
à negação de si própria, ao ser servil e
submeter-se a um homem, a mulher encoraja o
agressor a continuar fazendo uso de violência
e reforça as estruturas que continuam criando
novas vítimas.32
A crucificação de Jesus não santifica o sofrimento. Ela
permanece um testemunho do horror da violência
infligida ao outro... Não é um modelo de como
deveríamos suportar o sofrimento, mas um testemunho
para o desejo de Deus de que ninguém deveria ter que
sofrer tal violência novamente. A ressurreição, a
compreensão que Cristo esteve presente com os
discípulos e está presente conosco transformaram, mas
jamais justificaram o sofrimento e a experiência da
morte.35
Por esse motivo, “[...] pensar em Jesus como vítima/
sacrifício pode reforçar estruturas de violência e prender
40
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
MEDIDAS POSITIVAS QUE PODEM SER TOMADAS
• Oferecer base teológica sobre Jesus não apenas como vítima/sacrifício, mas também como aquele
que triunfou sobre a morte, contribuindo para superar a violência.
• Incluir a questão da violência na instrução batismal e catequética para preparar homens e mulheres
para situações da vida real.
'
5. A primazia das epístolas sobre o evangelho
utilizado do que a exortação de Jesus à Maria Madalena
após sua ressurreição: “Vá e diga aos meus irmãos”
(João 20.17). Afêm disso, outrosl^q?tp.s têm sido
utilizados fora de contexto ou sem referência a quem
eram dirigidos, seja para encaixar o texto a um conceito
ou devido a uma leitura literal das Escrituras.
Trechos específicos costumam ser usados para definir
os papéis e para estabelecer o código de conduta da
mulher. A censura do apóstolo Paulo para que “as
mulheres se calem” é usada como a norma, ao invés da
possibilidade que Jesus deu à mulher com hemorragia
para que falasse em público. O texto de Paulo é mais
M e d id a
p o s it iv a q u e p o d e s e r t o m a d a
• Salientar o elogio de Paulo às mulheres como colaboradoras e Gálatas 3.28, que sublinha o fim
das diferenças e nossa unidade em Cristo.
7. Conceitos teológicos que afetam as vítimas da
violência
6. Leitura bíblica literal
A maioria dos cristãos adota a leitura literal da Bíblia
como a única maneira de manter-se fiéis ao chamado de
Deus.
Mulheres e crianças sexualmente violentadas têm
dificuldade em aceitar o conceito de Deus como
onipotente, onipresente e onisciente. Elas sentem culpa,
pois Deus viu tudo. Elas sentem raiva, porque Deus
Todo-poderoso não veio ao seu auxílio. Assim, elas
tendem a denunciar Deus e a se sentir traídas. Alguns
aspectos da teologia tradicional condicionam a mulher
a uma vida de sofrimento, sacrifício e servidão. Isto
levou a uma compreensão do sofrimento como uma
bênção enviada por Deus para a edificação pessoal e
expiação dos pecados de outros.
Isso toma difícil explicar os “textos de terror”
na Bíblia como o de Tamar, as traduções
androcêntricas, a composição androcêntrica
dos textos, a formação patriarcal dos textos
canônicos e tradicionais, a história patriarcal
dos efeitos e a atenuação teológica dos efeitos
misóginos.36
Os ensinamentos da igreja precisam analisar como
enfrentar as “incônsistências teológicas e o
engessamento da teologia que impedem criar espaço
para os contextos em transformação, as perspectivas,
culturas, valores e expectativas específicas dos
necessitados.
A interpretação errônea do fato de que Deus enviou seu
único Filho para sofrer é utilizada para justificar um
sofrimento injusto. Tal teologia silenciou muitas vítimas,
forçando-as a suportar a dor. O sofrimento na cruz deve
ser interpretado como uma expressão do amor de Deus
para superar o mal. O sacrifício voluntário de Jesus foi
para a reconciliação eterna, tomando desnecessário que
41
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
alguém mais sofresse injustamente. O fato de que a
ressurreição de Jesus foi uma vitória sobre sua
vitimização poderia libertar as mulheres de uma
identificação unilateral com o sofrimento de Cristo.
Podem, ao invés disso, identificar-se com Cristo
vitorioso. Isto pode lhes encorajar a quebrar o círculo
vicioso da violência, medo, pensamentos e hábitos de
seu papel como vítimas.
d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
5.1). Deus identificou a si mesmo com Jesus Cristo,
como vítima e sacrifício para as pessoas vitimadas e
oprimidas.
A cruz deveria ser projetada não como um
chamado ao sofrim ento, mas como um
compromisso para uma Páscoa de um novo
começo gerador de vida, uma Páscoa de
dignidade e força, uma afirmação da vida e um
legado de união e comunidade.37
De acordo com Paulo, Cristo libertou os seres humanos
para que fossem livres, não para que sofressem (Gálatas
M e d id a s
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Incluir as perspectivas da mulher na teologia, salientando sua liderança nos tempos bíblicos e
oferecendo interpretações alternativas de textos bíblicos.
• Resgatar a imagem de Deus de Deus-Pai-Juiz patriarcal para renomeá-lo e usar imagens diferentes
de Deus (como pai gentil e severo, como juiz justo e misericordioso, imagensfemininas e masculinas
nas Escrituras, de diversas culturas e de nossa própria experiência, por exemplo, imagens de Deus
como mãe: Números 11.12-13,Deuteronômio 32.18, Salmo 131.2, Isaías 42.14; 46.3-4; 49.15; 66.9.
Como parteira: Salmo 22.9-10. Como amante, amigo, mulher que cozinha: Mateus 13.33, Lucas
13.20-21. Como mãe-urso: Oséias 13.8. Como alguém que abriga a humanidade sob sua asa: Mateus
23.47, Lucas 13.34, Rute 2.12, Salmo 17.8-9; 36.7; 57.1; 61.4; 91.4.
• Explorar as possibilidades de usar palavras de gênero neutro como termos de referência a Deus,
como YHWH e as frases “Eu sou” de Jesus . Ler exemplos de mulheres e homens envolvidos no
ministério: Atos 18.1-28. 1 Coríntios 16.19, Romanos 16.3-5.
Recu rsos
a d ic io n a is
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER. Guia de defesa das mulheres contra a violência.
Brasília: CNDM.
Elizabeth A. JOHNSON, Aquela que é: o mistério de
Deus no trabalho teológico feminino, Petrópolis, RJ,
Vozes, 1995.
42
C a p ítu lo 3 - T r a n s f o r m a ç ã o d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
Congelamento teológico precisa ser derretido
liderança da mulher, algo que em si já foi minimizado
8. Modelo de liderança servil
nas narrativas bíblicas. Isto poderia levar, indiretamente,
a uma marginalização da mulher.
D e n tro d a ig re ja te m o s b o a s lid e ra n ç a s , que
compreendem o poder e o usam de form a eficaz. No
entanto, há outros que
Para chegar a um sentido mais claro do futuro
como igreja, precisamos de todas as histórias
que puderm os reunir, tanto as dolorosas e
- são autoritários e abusam de seu poder;
difíceis, como as belas e inspiradoras. Apenas
quando tivermos todas as histórias nós, a igreja,
- apenas querem servir aos outros, ou
poderemos começar a nos ver como um povo
inteiro.38
- são “pseudo-servos”, que se negam a afirmar
seu próprio poder.
Isso ajudaria mulheres, homens, jovens e crianças a
As mulheres tendem a cair nas últimas categorias. A
vivenciarem e testemunharem em meio aos contextos
ig re ja d ev e e s fo rç a r-s e p a ra ser um m o d elo de
servilidade como enunciado em Lucas 22.25-27, onde
desafiadores do mundo.
a pessoa / (o) líder mais importante torna-se o servo de
Os princípios interpretativos que norteiam as
todos. A igreja deveria manter todas essas coisas em
e sc o lh a s do le c io n á rio d e v em le v a r em
mente antes de acompanhar as vítimas da violência.
consideração, fundam entalm ente, os textos
bíblicos sobre mulheres que estão incluídos e
9. Lecionários
aqueles que estão excluídos, onde eles se
Os lecionários das igrejas enfocam os personagens e
convergência dos três textos parece dar a
entender.39
encontram no calendário eclesiástico e o que a
temas bíblicos centrais que não dão atenção devida à
43
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
Muitas vezes, referências diretas a mulheres nos textos
bíblicos descrevem-nas como um problema para a
humanidade (Eva, a mulher samaritana) ou então como
mulheres exemplares, como Maria, mãe de Jesus.
indivíduos e como igreja. Todos nós, homens
e mulheres, podemos começar a acreditar que
as mulheres sempre estiveram caladas e à
margem da história do relacionamento de Deus
com as pessoas, e que o presente e o futuro
pode preservar esse modelo do passado ou
romper com ele de forma dramática e radical.40
Sem acesso às histórias, por mais ambíguas que
sejam, a igreja empobrece. Não temos todas as
histórias de que precisamos para viver, como
M e d id a s
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Dar destaque ao primeiro relato da criação (Gênesis 1.27-28), que não somente supõe a igualdade
na criação, mas a responsabilidade e o privilégio compartilhados de ser mordomos de toda a
criação, ao invés do segundo relato, em que se considera a mulher unicamente como “auxiliarw
do homem —o que é interpretado muitas vezes como uma posição de subordinação e também
como causa do pecado e do sofrimento.
• Incluir exemplos de líderes como Míriam, Débora, Ester e Abigail para enfatizar a necessidade e
a relevância da liderança feminina.
• Redescobrir afigura de Maria, mãe de Jesus, não somente como uma jovem mulher devota, obediente
e submissa, mas também como uma pessoa que aceitou o chamado de Deus para desempenhar um
papel-chave na ação salvífica de Deus sem pedir permissão ao seu prometido nem à sua família.
Pode-se descrevê-la como alguém capaz de entender e analisar o contexto sócio-político, que
pode cantar uma canção revolucionária radical e que quer participar no plano salvífico de Deus.
• Usar Efésios 5.28 para enfatizar uma relação de respeito e de amor entre parceiros baseada na
cristologia.
44
'
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
Restauração do deserto
U m a m an eira de ressa lta r a co n trib u ição das
10. Liturgias
mulheres seria recordar nas celebrações da paixão
É necessário que as liturgias dêem espaço ao
de Jesus o ato litúrgico da discípula que lhe deu a
unção m essiânica com um perfum e muito caro
compartilhar de experiências de vida, muitas vezes,
consideradas emotivas e, por conseguinte, de menor
(Mateus 26.6-13, Marcos 14.3-9).
importância. As mulheres, que são consideradas
A pesar dos protestos dos discípulos, Jesus
seres “emotivos”, não podem contribuir com suas
aprecia o ato da mulher e promete-lhe que, em
ricas e variadas expressões de liturgia nos cultos
qualquer lugar que seja pregado o evangelho,
p rin c ip a is. Suas c o n trib u iç õ e s ficam , en tão,
tam bém será contado o que ela fez, para
co n fin ad as a seus p ró p rio s grupos. Se lhes é
memória dela. Contudo, quando os evangelhos
conferida a devida atenção, não há dúvida de que
foram escritos, o nome desta mulher já havia
esse rico recurso intensificará a experiência de culto
de todos.
sido esquecido. Cabe assinalar que o contexto
e o conteúdo do relato são com pletam ente
litú rg ic o s - ela re a liz a um ato litú rg ic o
A s m u lh e re s fo ra m e c o n tin u a m sen d o
sig n ific a tiv o e re c o n h e c ív e l: a unção. A
fortalecidas pela liberdade, pela igualdade
promessa de Jesus, por sua vez, é uma promessa
encarnada na liturgia e pela esperança do
litú rg ic a que en v o lv e a p ro c lam aç ão e a
recordação.42
triunfo da vida sobre a morte proclamadas no
evangelho. Ao m esm o tem po, as m ulheres
sabem que na liturgia da igreja promete-se mais
É importante não confundir essa mulher com Maria
do que se cum pre. U m a vez que afirm a a
de Betânia nem com M aria Madalena.
unidade batism al e a igualdade de todos os
cristãos, m uitas vezes, a liturgia reconhece
Ao lado da natureza da estrutura da igreja, das
unicamente os dons de liderança dos homens.41
interpretações e dos ensinamentos teológicos que
45
C a p ítu lo 3 - T r a n s f o r m a ç ã o d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
criam e validam a supremacia masculina, muitas
vezes a igreja silenciou a respeito da questão da
violência contra a mulher, ou tratou disto em
círculos privados. Algumas igrejas, sem intenção,
são cúmplices de sua perpetuação quando:
•
•
permitem que persistam interpretações e
ensinam entos que, em muitos casos,
transformam a mulher em causa do pecado,
legitimando, assim, seu papel secundário;
•
adotam um modelo patriarcal e hierárquico
centralizado no homem em detrimento ao pleno
uso do potencial que Deus outorgou às
mulheres de serem parceiras de igual para igual
na missão e nos ministérios da igreja;
•
prescrevem a maneira de como a mulher deve
vestir-se e comportar-se, assim como os papéis
que lhe correspondem, confinando-as em uma
posição específica e limitada;
•
não demonstram nenhum apreço pelos dons
com os quais as mulheres, a mais numerosa
comunidade de adoração, contribuem na igreja:
tempo, talentos e dízimos.
M e d id a s
negam às mulheres a igualdade de
oportunidades no que diz respeito a ocupar
cargos de direção, a participar nas instâncias
decisórias e no ministério ordenado, enquanto
que outras igrejas que participam na comunhão
promovem a liderança feminina.
A solidariedade de Jesus com as mulheres em toda
a sua trajetória e, especialmente, sua preocupação
pelas marginalizadas, seus esforços deliberados em
afirmar as mulheres, transcendendo tradições e
normas, é um mandado para nós. O fato de as
mulheres terem sijjo solidárias com Jesus, não
somente durante sua vida e seu mirtfetérM,' mas
também em seu sofrimento, morte e, inclusive, na
ressurreição, enfatiza essa fidelidade das mulheres,
que é necessário afirmar e elogiar. O fato de Jesus
ressuscitado ter aparecido pela primeira vez a uma
mulher prova que ele queria que elas participassem
na proclamação da boa-nova. O fato de Pedro
elogiar a contribuição das mulheres, chamando-as
de “colaboradoras”, desafia-nos a encorajar as
mulheres a participarem nos diversos ministérios
da igreja.
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• Incorporar em nossas celebrações litúrgicas da paixão de Jesus o ato da discípula que lhe deu a
unção com um perfume muito caro.
• Incluir imagens femininas e outras imagens de Deus na liturgia, nos hinos e em demais publicações
da igreja.
• Usar linguagem apropriada a partir da perspectiva de gênero e dar igual importância às liturgias
criativas de mulheres e crianças.
• Permitir que as liturgias reflitam a riqueza e a diversidade dos contextos culturais locais.
• Desenvolver uma forma básica de culto cristão que seja flexível para dar espaço ao partilhar de
experiências de uma espiritualidade viva, envolvendo corpo, mente e alma.
46
C a p ítu lo 3 - T r a n s f o r m a ç ã o d a ig r e ja e d a s o c ie d a d e
Armadilha em potencial
11. Ressurgimento do extremismo religioso
tratam de ocultar o problem a porque é um mau
testemunho e temem o pastor ou as críticas das
O crescimento dos movimentos fundamentalistas
acentua de muitas maneiras a violência suportada
outras pessoas.
pelas mulheres. É difícil para muitas delas admitir
Sua teo lo g ia cria sen tim en to s de vergonha e
que so frem v io lê n c ia d o m éstica, p o rq u e tais
inibição, enquanto elas sofrem. Trata-se de uma
movimentos fazem-nas sentir que tom ar público o
espiritualidade de sofrimento, fundam entada em
maltrato físico eqüivale a negar a presença de Deus
uma teologia de resignação; a idéia consiste em que
em su as v id a s. M u ita s m u lh e re s de g ru p o s
a vida da mulher é uma expiação de seus pecados.
carismáticos chegam inclusive a tolerar a violência
Entre os sentimentos de culpa, a tentação demoníaca
fam iliar porque dizem sentir que “o diabo está
e o sacrifício, a violência doméstica encontra uma
tentando seu m arido” . Insiste-se que ela deve
cum plicidade no sofrim ento em m ulheres que
perdoar o marido porque ele é violento unicamente
tem em a c o n d e n a ç ã o da c o n g re g a ç ão ou da
sociedade.
sob a influência de um espírito violento. Então,
47
C a p ít u l o 3 - T r a n s f o r m a ç ã o
M e d id a s
d a ig r e j a e d a s o c ie d a d e
p o s it iv a s q u e p o d e m s e r t o m a d a s
• A igreja pode tomar a iniciativa e oferecer diálogos e debates inter-religiosos sobre:
- a relação entre violência e religião;
- o papel da instituição-igreja na redução da violência;
- nossa compreensão da não-violência em nossa realidade violenta;
- direitos humanos e liberdade religiosa;
- salvaguardar a religião do fanatismo;
- a situação de matar em nome da religião;
- extremismo religioso como expressão de crentes fervorosos e pensadores em vez de “satânicos”.
• Utilização de recursos de outras áreas, como a psicologia, para entender o fanatismo, sua
identificação, suas manifestações e meios de contê-lo.
• Promover discussões sobre quem tem direito a interpretar e falar em nome das religiões.
• Revisar o conceito de secularização como modelo ideal a ser adotado pelos países, do individualismo* *. »
e do egoísmo na orientação comunitária e nossa relação com Deus; tradições eclesiásticas, outras
tradições e suas conseqüências nos contextos atuais.
• Examinar o comportamento agressivo do “eu ” incapaz de compartilhar e de respeitar a personalidade
de outras pessoas.
R ecu rso s
a d ic io n a is
H. MEYER-WILMES . Práticas de violência em nome
da religião: sobre os amplos limites permitidos à
violência contra a mulher. Concilium Vol./No. 272
(1997), p. 75-85.
Berlindes Astrid KUECHEMANN e Moema L.
VIEZZER, (Orgs.) Superando obstáculos nas
estratégias de prevenção e combate à violência contra
a mulher. São Paulo, Rede Mulher de Educação, 1998.
Wanda DEIFELT. A prática da teologia em perspectiva
feminista: o caso da violência doméstica. In. ZWETCH,
Roberto e BOBSIN, Oneide (orgs.) Prática Cristã:
novos rumos. São Leopoldo : IEPG Sinodal, 1999.
Marlise Vinagre SILVA. Violência contra a mulher:
quem mete a colher? São Paulo : Cortez, 1992
RIBLA. Violência sexista. Vol./No. 41 (2002). São
Paulo.
Elizabeth SCHÜSSLER FIORENZA; Mary COLLINS.
A mulher invisível na teologia e na Igreja. Revista
Concilium 202. Petrópolis, RJ, Vozes 1985.
/
Oração para quem sofre devido a estupro e agressão.
Anexo IV B.
Jesus, cura-nos. Anexo IV C.
C o n clusão
Este docum ento é um convite às igrejas para que
tom em medidas positivas a fim de trazer vida em
toda a sua plenitude às mulheres e aproveitar os
diversos dons que Deus lhes deu para enriquecer a
vida e fortálecer o testemunho da igreja. As
m ulheres sem pre foram fiéis. E a igreja como
instituição foi so lid ária, com elas, assim domo
Jesus foi durante sua vida e seu m inistério? A
igreja foi pioneira em m uitas ações libertadoras. A
eliminação da violência contra a m ulher poderia
ser mais uma.
49
A notações
A nexos
de colocá-las, em segurança, junto com seu
relato por escrito do ocorrido. Esta informação
facilitará o procedimento quando decidir entrar
com uma ação legal no futuro para conseguir
um a ordem de restrição, imputar penas ou, se
for o caso, obter a custódia dos filhos.
4.
Combinar com pessoas da vizinhança um sinal
para que elas saibam quando você necessita
de ajuda (por exemplo, acender a luz da entrada
em plena luz do dia ou fechar a cortina de uma
determinada janela).
5.
Guardar algum dinheiro em um lugar secreto
para dispor dele em caso de emergência ou "sé
decidir partir; não esquecer de um cartão
telefônico para o caso de ter que telefonar de
um telefone público. Também pode separar
um a m uda de roupa, m aterial de h igiene
p e sso a l,
o u tro s
ó c u lo s,
d o c u m e n to s
importantes etc., para si mesma e paia os filhos,
e pedir a um vizinho ou a um amigo que os
guarde junto com um jogo de chaves em caso
de ter que partir rapidamente.
6.
Um refúgio seguro
Se decidir partir, levar consigo os documentos
im p o rta n te s (c e rtid ã o de n a sc im e n to ,
p a ssa p o rte , se g u ro de saú d e, fo to s de
identidade e carteira de motorista, certificado
de vacinação, cheques, m edicam entos etc.),
I. AJIJDA ÀS VÍTIMAS
seus e de seus filhos e filhas.
A. O que fazer para proteger-se a si mesma43
B, Textos bíblicos que podem servir de consolo
1.
2.
Falar do que está acontecendo com um a amiga,
amigo ou parente de confiança e que pode ser
Salmo 7.1-4,6,8-11,10,12,13; 16.7-9,11,17,20,23; 25.1-
um a boa fonte de apoio.
5; 27.1-3,7-9; 30.1-5; 31.14-16; 35.22-28; 38.6-10; 43;
Fazer contato com o program a local de luta
46.1-7; 55.1-8; 62.2-7, 70; 77.1-4,6-9,11-14; 103.68,11,12; 116.3,4,8-11,15,16; 121; 139.1-24; 143.4-8;
contra a violência doméstica para informar-se
145.13-21
sobre as leis e os recursos disponíveis na
Isaías 40; 41.10-13; 4 3 .l - 3 a ; 49.15
co m u n id a d e (a b rig o s , a c o n s e lh a m e n to ,
Jó 21.7,9,14-16
assistência jurídica), antes de necessitar deles.
M ateus 11.28-30
Isto pode ajudar a se manter em segurança.
Lucas 11.5-13
Romanos 8.18-25, 29a
3.
João 14.27; 16.21-24
Pedir ao agente de saúde ou a um amigo que
tire fotografias de suas lesões (hem atom as,
arranhões, olhos roxos etc.) e assegurar-se de
que sejam anexadas ao seu histórico clínico e
52
A nexos
ii.
A ju d a à s p e s s o a s q u e a s s is t e m a s
VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA
A. Identificação da mulher m altratada
Apesar de que cada mulher corre potencialmente o risco
de ser maltratada, nem todas são capazes de revelar ou
expor a violência sofrida por causa do estigma social e
a vergonha associada a ele. Ela também pode ocultá-la
para evitar uma vitimização posterior. Contudo, um olho
treinado pode detectar as seguintes características da
mulher maltratada: baixa auto-estima; insegurança e o
desejo de querer sem pre agradar; incapacidade de
p la n e ja r o fu tu ro ; d e p re ssã o ; te n d ê n c ia su icid a;
m udanças de hum or; nervosism o; irritab ilid ad e e
incapacidade de se concentrar.
Também pode apresentar tendências autodestrutivas,
como consumo de bebidas alcoólicas e drogas, direção
perigosa, pode machucar a si mesma ou desenvolver
transtornos alim entares. Pode ter sérios ataques de
dependência e independência, culpando os outros ou a
si mesma. Uma hora pode querer se vingar, porém logo
procura desculpas para o agressor. Também se fará
perguntas, tais como: De qualquer maneira, qual é o
sentido de tudo isso? É este o meu destino? Quem se
importa de verdade? etc.
B. Identificação do agressor
Encontrar uma subida
Em geral, existem duas categorias:
p ro v a s
•
O
a g re s so r
a u to c o n tro le
a n tis s o c ia l,
com
que
fa c ilid a d e
p e rd e
o
do
“m au
c o m p o rta m e n to ” ,
fa z e r-lh e
interrogatórios ou telefonar-lhe m uitas vezes para
controlá-la.
e q ue é
extremamente irritadiço e violento em muitas
•
ocasiões;
Os agressores, muitas vezes, têm idéias tradicionais e
O agressor clássico, que é violento somente
com sua companheira e seus filhos.
muito conservadoras acerca da mulher e de seus papéis.
Estão sempre querendo demonstrar sua superioridade,
mesmo que seja agredindo suas companheiras. Em geral,
Os homens da segunda categoria têm temperamentos
dependem muito delas e não sabem como atender suas
explosivos, mas se limitam à esfera privada. Em público,
próprias necessidades. Não fazem amizades facilmente
parecem bem educados e cordiais. Porém, sofrem de
ta m p o u c o e x p re ssa m seu s se n tim e n to s, nem se
baixa auto-estima e precisam controlar as pessoas e os
com unicam livrem ente. Pode ser que tenham sido
objetos. Têm medo de ser perdedores e, portanto, são
testemunhas das surras que seus pais davam em suas
muito possessivos. Podem im aginar que sua esposa é
mães ou que tenham sido vítimas de violência quando
infiel, acusá-la e agredi-la apenas por ter falado com
eram crianças. Não assumem a responsabilidade por sua
outros homens. Podem ser muito desconfiados e xeretar
conduta negativa, m inim izam ou negam seus atos
violentos.
os pertences pessoais de sua parceira para encontrar
53
A nexos
Ajudar a vítima a curar e o agressor a arrepender-se e a
mudar constituem o âmago da reconciliação. Porém
deve-se ter o cuidado de compreender que a
reconciliação do ponto de vista da vítima é totalmente
diferente da reconciliação do ponto de vista de quem
comete o ato de violência.
2.
É importante acreditar. Muitas vítimas são
ameaçadas com vexações piores se contarem
sua história. Em alguns casos, o agressor pode
ser alguém que você conhece e em que você
confia, por isso as vítimas podem temer que
você não acreditará nelas. Felicite-as pela
coragem e estimule-as a falar. Falar exige
coragem e força, e talvez seja importante falar
isto para as vítimas.
3.
Valorizar os sentimentos. As vítimas estão
assustadas, muitas vezes envergonhadas e, às
vezes, temem ficar loucas se continuar tendo
pesadelos ou súbitas lembranças do acontecido.
H
Estes sentimentos são normais em alguém que
atravessa tal crise.
4.
Enfatizar a segurança. Muitas vezes, as
vítimas minimizam ou negam a dor que sentem
e que ameaça seu bem-estar. Se você usar a
palavra “segurança” quando falar com elas,
ajudará com que elas próprias dêem prioridade
à sua segurança.
5.
Afirmar que NÃO culpam a vítima. Em muitas
culturas, diz-se às vítimas que a violência é
culpa delas. As vezes, os próprios agressores
dizem-no às vítimas. E oportuno que você lhes
diga com firmeza: “Você não merecia ser
agredida” ou “Não creio que seja culpa sua”.
6.
Respeito, apoio e recursos. Você pode ter
idéias muito claras a respeito do que a vítima
deveria fazer. Você pode querer, por exemplo,
que a mulher maltratada abandone seu marido;
porém, se lhe der ordens ou dizer o que deve
fazer, em certa medida você estará fazendo o
mesmo que o agressor. Ao contrário, você deve
informá-la sobre os recursos e as possibilidades
disponíveis em sua comunidade. Ela talvez não
saiba que existem organismos que podem
ajudá-la. Apoie as decisões que ela tomar,
inclusive aquelas que não agradam a você ou
das quais você discorda. Seu apoio agora pode
ajudá-la a tomar decisões diferentes mais tarde.
Ajude-a a ampliar suas perspectivas, mesmo
que minimamente. Juntos poderão imaginar
algumas possibilidades criativas que talvez ela
C. Entender a vítima de estupro
A recuperação da vítima engloba várias etapas,
começando com a intervenção, seguida de vários anos
de apoio.
• A primeira etapa denomina-se “síndrome do
trauma do estupro”, em que a vítima passa por
desorientação e interrupção dos mecanismos
de defesa habituais, choque, medo (incluindo
o medo de represálias), ansiedade; retraimento,
pranto, ataques imprevisíveis de raiva; autoacusação; lembranças dos atos de estupro que
surgem repentinamente, e outros sintomas póstraum áticos habituais, como pesadelos,
transtornos do sono, sobressaltos e hipervigilância, e sintomas físicos como náuseas e
dores de cabeça.44
• A segunda etapa é de “recuo ou pseudoajustamento”45. Esta etapa pode durar vários
meses ou anos, quando parece que a vítima
superou a situação e que pode assumir
atividades normais. Nesta etapa, a vítima
necessita sentir-se segura de que não aborrece
o conselheiro com sua preocupação com o
crime.
• A terceira etapa é de “integração”, mas
qualquer lembrança do ato passado pode
evocar o horror de sua experiência.
D. Medidas a serem tomadas quando uma mulher
relata a você sua experiência de vitimização46
1.
Criar um clima de segurança e acolhimento
em que as vítimas sobreviventes podem falar.
As vítimas sabem muito bem quando sua
presença não é bem-vinda. Se você colocar
cartazes e anúncios com informação sobre a
violência experimentada pelas mulheres, elas
começarão a se aproximar de você.
54
A nexos
sozinha não teria conseguido descobrir. Se a
mulher maltratada decide ficar lá onde poderá
voltar a ser maltratada, pode temer que você a
abandone e, por isso, é apropriado dizer-lhe
alguma frase, assim como: “Se ficar com ele,
preocupo-me com sua segurança, mas estarei
aqui se necessitar”. Também pode ajudá-la a
pensar em novas maneiras de se manter a salvo
em seu lar e trabalhar em seus outros recursos
para que, mais cedo ou mais tarde, decida
partir.
7.
8.
Lembrar os outros membros da família e os
amigos. Quando alguém é vítima de abusos,
há outras vítimas além daquela que fica
machucada diretamente. Por exemplo, filhos
que testemunham a violência familiar também
são prejudicados. Pessoas quem amam as
vítimas da violência também sofrem com elas.
Numa família em que haja evidências de
incesto, esta distorção da dinâmica familiar é
nociva para todos os seus membros. Muitas
vezes, quando as mulheres são ajudadas a
entender que a violência que sofrem
diretamente também prejudica seus filhos e
suas filhas, isto ajuda para que optem por outras
alternativas.
As vítimas podem ter crises espirituais por
causa da violência sofrida. A teologia pode ser
um poderoso instrumento de empoderamento
social e econômico. Escutar as conexões com a
fé que as vítimas fazem pode ser um aprendizado
importante para você. Dê boas informações
sobre os fortes modelos de papéis que aparecem
na Bíblia e sobre as influências do sexismo na
tradição. Ofereça algumas opções novas, de um
Deus que ama ao contrário de um Deus que
julga. Podem surgir perguntas cujas respostas
exigem uma boa preparação, como por
exemplo: »“Por que Deus permitiu que me
acontecesse isso?” “Onde ^eslava Deus
enquanto eu sofria”. Tenha consciência de que
a graça está presente na cura e no apoio da
comunidade para aquela pessoa que sofre
violência. Deus chama-nos para “anunciar a
libertação aos escravos e a liberdade para os
que estão na prisão” (Isaías 61.1).
Sobretudo, a vítima deve poder confiar em que será
mantido confidencial tudo o que ela relatar. Se for
necessário, deve-se chegar a um breve e claro acordo
sobre que partes da conversa podem ser compartilhadas
e com quem.
55
A nexos
a desigualdade por questões de gênero; os
papéis estereotipados;
o conceito de poder e de relações de poder;
as raízes da violência;
a conexão entre estruturas, sistemas e forças
sociais que criam conflitos entre homens e
mulheres.
2.
Analisar os próprios atos e atitudes que podem
perpetuar o sexismo e a violência e esforçarse para mudá-los.
3.
Condenar publicamente os comentários e as
piadas sexistas que denigrem a mulher.
4.
Não comprar revistas, livros, vídeos, cartazes,
discos ou qualquer outro objeto de arte que
reduz a mulher a um objeto sexual ou objeto
de violência. M onitorar a internet e advertir
sobre qualquer site pornográfico.
5.
Apoiar os candidatos a cargos diretivos que
estejam a favor da plena igualdade social,
econôm ica e p o lítica da m ulher. O por-se
ativamente àqueles candidatos de quem se sabe
Apoio e solidariedade
que abusam da mulher.
Defender um investimento maior em abrigos
p ara m ulheres m altratadas e centros para
pessoas que atravessam a crise pós-estupro.
O fe re cer-se v o lu n ta ria m e n te q u ando são
necessários homens para defender a causa, falar
III. REDES DE SOLIDARIEDADE MASCULINA
em instituições educativas, em centros para
jovens e em reuniões político-partidárias.
A. Como os homens poderiam ajudar a erradicar a
violência masculina contra a mulher
7.
Organizar grupos de homens, ou unir-se a um
deles, na igreja e na sociedade para trabalhar
1.
Ler, refletir e compreender
c o n tra o sex ism o e a v io lê n c ia . A p o ia r
•
o processo e o efeito das relações sociais na
erradicar a violência contra a mulher. Elogiar
família, sociedade e igreja;
os homens que estabelecem novos modelos de
movimentos de mulheres que trabalham para
solidariedade e de ação afirmativa em relação
•
a respeito da masculinidade e feminilidade;
às mulheres.
56
A nexos
problema.
B. Exemplo de um jovem advogado que luta contra
o tráfico de meninas 47
3.
Aprender por que alguns homens são violentos.
Um exemplo simples é o do sr. Joshi, jovem advogado
4.
Participar da campanha usando um laço branco.
5.
Desaprovar publicamente os termos sexistas e
as piadas que degradam as mulheres.
6.
Aprender a reconhecer e combater o assédio
de Nepal que combate o tráfico de meninas. Certa vez,
estava visitando um povoado e viu um homem que estava
agredindo sua esposa. Pediu-lhe para parar de bater nela.
O homem respondeu que podia agredi-la sempre que
lhe desse vontade porque sua esposa era sua propriedade.
“Você é mais forte?”, perguntou o advogado. “Sim”,
respondeu o homem. “Então, que tipo de homem é você
sexual e a violência no local de trabalho, na
escola e na família.
que agride alguém mais fraco?”, perguntou-lhe o sr.
Joshi. O homem disse: “Está certo, já sei aonde quer
7.
chegar”, e parou de bater na mulher. O sr. Joshi havia
A p o ia r p ro g ra m a s lo c a is d e stin a d o s às
mulheres.
questionado o modelo de masculinidade no povoado,
conseguindo com que o homem pensasse a respeito de
8.
uma outra perspectiva.
Refletir sobre seu próprio comportamento para
saber se está contribuindo para o problema.
C. A Campanha do Laço Branco48
9.
Outro modelo é a Campanha do Laço Branco, em que
10. P a rtic ip a r nos e sfo rç o s e d u c a tiv o s da
se enumeram dez coisas que cada homem pode fazer
para ajudar a erradicar a violência dos homens contra a
mulher:
1.
Escutar as mulheres, aprender delas.
2.
Tentar compreender a natureza e o alcance do
Trabalhar por soluções a longo prazo.
Campanha do Laço Branco.
A nexos
B. Oração para quem sofre por causa de estupro
e agressão 49
Deus de amor, escuta minha oração. Venho a ti,
machucada e exausta, com raiva e triste. Acolheme em teus braços e enxuga m inhas lágrim as.
Ajuda-me a entender que essa loucura não foi obra
m inha. C am in h a com igo pelo lo ngo vale da
escuridão. Fica comigo quando me sinto sozinha.
Consola meu coração porque neste momento o dom
da vida que me deste está além dos meus próprios
se n tim e n to s e in c lu s iv e
conhecimento.
do m eu
p ró p rio
v« * . ! » •
Mostra-me como aceitar o cuidado de quem me ama
e ora por mim, sobretudo quando eu mesma não
consigo encontrar palavras para orar. Derrama sobre
mim o espírito de cura, carinhoso Deus, para que
meu espírito respire de novo e então reviva e volte
a sentir esperança e amor. Peço-te por isto e por
tudo o que tu vês que necessito. Amém. (Autoria
anônima)
C. Jesus, cura-nos50
Líder: Jesus, que ama a humanidade, tu curaste a filha
da mulher siro-fenícia, uma estrangeira que veio
a ti, um mestre judeu. Com teu dom da vida,
mostraste-nos que somos um só povo e que todos
merecemos ser amados. Agora viemos a ti, mães
em espírito, orando pela cura do mundo, dizendo:
Fé e esperança
Todos: Jesus, cura-nos.
Por este país que sofre com as feridas autoin flig id a s pelo racism o , p e la co b iç a, pelo
iv. A c o m p a n h a m e n t o
genocídio de seu povo indígena e pela opressão
do pobre, ensina-nos que a grandeza só pode
e s p ir it u a l
A. As E scrituras como guia útil p ara quem
atravessa uma crise
re s id ir na ju s tiç a , na g e n e ro sid a d e e na
Recitar passagens que asseguram a presença de
Jesus, cura-nos.
compaixão. Pedimos-te:
D eus em n o sso s tem o res, p ro v as, d ú v id as e
situ a ç õ e s
a te rro riz a d o ra s
é um
Pela paz entre os povos, que os ossos secos
p o d e ro so
acompanhamento.
encontrados nos campos de batalha e nas covas
Aconselhamos ler: Salmo 22.1-2, 14-15; 23; 27;
comuns cavadas pelos tiranos elevem-se como
uma hum anidade ressuscitada, com prom etida
55.1-8; Isaías 52.2, 7-10 e Romanos 8.31-39.
com a paz e o b e m -e sta r de to d a a Terra.
Pedimos-te:
58
A nexos
Jesus, cura-nos.
Por tua igreja dividida, que comete erros graves
e, muitas vezes, é intolerante, nós esfregamos
nossos olhos com a esperança de abrir nossa
visão e focá-la sempre em ti. Porém, perdemonos em meio à desilusão, ao temor e à dúvida.
Envia-nos a luz orientadora de teu sábio Espírito,
a cura do teu amor. Pedimos-te:
Liberta-nos hoje
da necessidade de nos ocultar a todo custo, da
necessidade de esconder-nos atrás da segurança
da igreja.
Liberta-nos
da tentação de comprometer convicções em
nome da diplomacia e de mentir em benefício
próprio.
Jesus, cura-nos.
Por todos aqueles que nominamos nesta reunião
e que necessitam de cura e de nossas orações
(citam-se os nomes...).
E assim hoje, quando celebramos a festa da
redenção, elevamos diante de tua misericórdia
todos os seres vivos e te damos graças pela vida
de todos os nossos entes queridos que agora
celebram tua glória no paraíso.
Liberta-nos.
V « •«*.
i '• *
Cremos que além de nossa dor
deve haver cura.
Mais além do quebrantamento
deve haver integridade.
(Irene St. Onge, São F rancisco, C alifórnia, EUA)
Mais além da ofensa
D. Litania para a cura de assédio sexual51
deve haver perdão.
Líder: Em nome de Deus, a cuja imagem foram criados
os homens e as mulheres.
Que mais além do silêncio, deve haver
compreensão.
E que na compreensão há amor.
Todos: Amém.
Confessamos que por nosso pensamento, palavra
e obra não temos honrado tua imagem uns nos
outros; que o temos limitado, rebaixando-nos uns
aos outros; que nos temos afastado da fonte da
sabedoria, confiando em nossa própria tolice.
( C ulto na capela d o C entro Ecum ênico, 3 d e novem bro de
1994, em G enebra, Suíça)
59
*
A nexos
V. RESOLUÇÕES DO CONSELHO DA FLM
SOBRE A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA
A MULHER
•
•
capacitando as vítimas da violência a
encontrarem refúgio e a buscarem soluções
permanentes;
•
formando comitês para denunciar a violência
existente nos meios de comunicação e
estabelecer métodos para realizar ações de
protesto;
•
reivindicandp transform ações nas leis,
tradições e procedimentos que dNcfirúinam a
mulher, convertendo-se em um fator de
mudança.”
Reunião do Conselho da FLM (Madrás),
Chennal, índia, 1992
Após identificar a violação dos direitos da mulher por parte
dos homens (e também das mulheres) como um programa
prioritário da Secretaria da Mulher na Igreja e na Sociedade,
do Departamento de Missão e Desenvolvimento (DMDMNIS), recomendaram-se as seguintes estratégias que
foram apresentadas na publicação do DMD-MNIS: Um
plano de ação claro, 1992, pp. 19-20.
“Expor a violação dos direitos da mulher por parte
dos homens, das estruturas sociais, políticas e
econômicas e das próprias mulheres.”
Reunião do Conselho da FLM,
Kristiansand, Noruega, 1993
“A igreja pode desempenhar um papel-chave, trazendo
cura e integridade à mulher maltratada e à sociedade
em seu todo:
•
•
•
•
•
destas e tomar medidas para erradicá-las;
criando um espaço seguro onde as mulheres
possam falar livremente de suas experiências;
Baseado nos pontos levantados no Informe do Diretor
a respeito da violência contra a mulher como um
problema mundial, e
acabando com a conspiração do silêncio em
tomo da violência e da sexualidade;
“porque a violência permeia toda a sociedade, incluindo
as igrejas, o Conselho recomendou às igrejas-membro a:
iniciando estudos minuciosos sobre as formas
específicas de violência, com o objetivo de
compreender melhor como são planejadas e
executadas e quais os fatores que contribuem
para que se perpetuem;
•
iniciarem um estudo e darem acesso à educação
acerca da violência contra a mulher, tal como
propôs a VII Assembléia da FLM, envolvendo
principalmente pessoas leigas em programas
educativos focados em todas as manifestações
de violência contra a mulher (sexual,
doméstica, racial, reprodutiva, psicológica e
institucional);
•
reavaliarem e revisarem seu conceito de
educação, em particular da educação cristã,
tanto de crianças como de adultos;
•
oferecerem apoio social e assistência prática a
vítimas e sobreviventes, assim como àqueles
que trabalham com elas e com quem comete
esses atos;
•
iniciarem um trabalho de defesa da mulher,
defendendo políticas sociais e uma legislação
reconhecendo que a violência contra a mulher é
uma realidade e não um mito e que
freqüentemente não se acredita nas mulheres
quando elas relatam suas dolorosas experiências;
dando sermões e promovendo atividades
didáticas para refletir sobre o tema (desde os
programas da escola dominical, passando pelos
grupos de preparação para Batismo e
confirmação e todos os demais cursos de
educação cristã);
organizando oficinas para homens e mulheres,
destinadas a identificar coletivamente todas as
manifestações da violência, analisar as raízes
60
A nexos
•
que a proteja;
desenvolverem políticas e procedimentos
aplicáveis aos casos de abuso e assédio sexuais
no âmbito da igreja e criarem um fórum onde
se possa falar abertamente do abuso sexual;
•
apoiarem as m últiplas organizações de
mulheres que se ocupam ativamente com a
violência contra a mulher, e além disso,
•
solicitarem aos departamentos pertinentes da
FLM que elaborem um plano de ação
coordenado para transmitir as decisões do
Conselho das igrejas-membro e indicar-lhes
material de referência para que abordem a
questão da violência, levando em consideração
as recomendações da Consulta Internacional
de Mulheres Luteranas (México, julho de 1989)
e ações semelhantes das igrejas, das Nações
Unidas e demais organizações que tratam do
tema.
•
(LWF Documentation, n. 35: An Agenda for
Communion, Genebra: LWF Publications, 1994,
p. 95)
Reunião do Conselho da FLM,
Bratislava, Eslovênia, 1999
“Direitos humanos da mulher
“A IX Assembléia da Federação Luterana Mundial
disse: “Os direitos da mulher são direitos humanos.
As mulheres são desproporcionalmente afetadas pela
repartição desigual dos recursos e são as mais
vulneráveis em grupos marginalizados, tais como os
refugiados, os povos indígenas e a população
carcerária. Em muitas partes, elas são privadas de seus
direitos de propriedade e de herança e têm menos
possibilidades de receber instrução e capacitação. A
violência contra a mulher é um fenômeno generalizado
na sociedade e ocorre também nas igrejas e em lares
cristãos. A violência é silenciada, ignorada, aceita
indiretamente e, às vezes, defendida mediante
interpretações bíblicas. Devemos confessar e
reconhecer o pecado da igreja em tolerar a violência
contra a mulher, especialmente o abuso na igreja.
(LWF Documentation, n. 33:
People of God - People ofNations, Genebra:
LWF Publications, 1993, p. 120)
Reunião do Conselho da FLM,
Genebra, Suíça, 1994
“O Conselho decidiu:
•
opor-se a todos os atos e formas de violência
contra a mulher, independentem ente de
qualquer costume, tradição ou consideração
religiosa que possa ser invocada para sancionar
tal violência e, em particular, a mutilação
genital feminina;
•
exortar as igrejas-membro a tomarem medidas
concretas para erradicar todas as formas de
violência e exploração contra a mulher em suas
sociedades e igrejas;
•
apoiar os objetivos da Declaração sobre a
Eliminação da Violência contra a Mulher das
Nações Unidas, de 1993, incluindo a afirmação
de que o tráfico de mulheres é uma forma de
violência;
sublinhar a importância da IV Conferência
Mundial sobre a Mulher (Beijing, 1995),
convocada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas, em cuja agenda estavam incluídas estas
e outras questões relativas à problemática da
mulher, e acolher a participação das igrejasmembro da Federação Luterana Mundial nesta
conferência.”
“A Secretaria da Mulher na Igreja e na Sociedade,
do Departmento de Missão e Desenvolvimento,
aborda todas as formas de violência contra a mulher
e trabalha por uma comunidade solidária em que
reine o respeito a todos os seres humanos, homens
e mulheres por igual.
“O Conselho decidiu:
•
61
encorajar as igrejas-membro a abordarem a
dolorosa questão da violência contra a mulher
em todas as manifestações específicas em seu
respectivo contexto, e
A nexos
•
Reunião do Conselho da FLM,
Genebra, Suíça, 2001
pedir à Secretaria da Mulher na Igreja e na
Sociedade que proponha meios de acompanhar
as igrejas em seus esforços para abordar esta
questão.”
“13.1 As igrejas dizem NÃO à violência contra a mulher
“O presidente lembrou que, na reunião de junho de 2000,
o Conselho solicitara que o projeto de documento ‘As
igrejas dizem NÃO à violência contra a mulher’ fosse
compartilhado com as igrejas-membro para seu uso
imediato e reação. O Comitê do Programa recebeu um
relatório do processo, das reações e sugestões recebidas
e expressou seu apreço pelo apoio positivo mostrado
ao documento. Durante a reunião, também foram
recebidas reações de outros Comitês do Programa e
Comitês Permanentes.
(LWF Documentation, n. 44: The Gospel
Transforming Cultures. Genebra:
LWF Publications, 1999, p. 158)
Reunião do Conselho da FLM,
Turku, Finlândia, 2000
“Recordou-se que, no ano anterior, foi solicitado à
Secretaria da Mulher na Igreja e na Sociedade que
propusesse formas de acompanhamento às igrejas em
seus esforços para tratar do tema da violência contra a
mulher. Inicialmente, foi apresentado o projeto do
documento “As igrejas dizem NÃO à violência contra a
mulher”, como uma dessas maneiras, com o objetivo de
receber suas reações e comentários antes de o trabalho
continuar e o documento ser finalizado para a aprovação
do Conselho no ano seguinte. Porém, em vista da
urgência do tema, o comitê solicitou que, uma vez que
os comentários tivessem sido incorporados, o
documento deveria ser compartilhado com as igrejasmembro para ser usado em seus vários contextos e para
receber suas contribuições, ao invés de se esperar outro
ano mais até que o documento pudesse ser aprovado
pelo Conselho.
“ O Conselho discutiu e aprovou uma moção de emenda
à recomendação inicial de incluir um/uma representante
do Comitê de Programas de Serviço Mundial no comitê
especial que seria designado para finalizar o documento.
Respondendo a uma preocupação acerca do período de
tempo de dois anos mencionado no último ponto da
recomendação original, o Conselho aprovou uma
emenda e
“DECIDIU
“Sugeriu-se que o documento poderia ser reforçado com
uma resolução do Conselho. Contudo, depois de certa
discussão, concordou-se em incorporar os comentários
do comitê e compartilhar a proposta de documento com
as igrejas-membro para imediato uso e reação das
mesmas. Uma carta do secretário-geral acompanharia o
documento explicando o processo, solicitando que as
igrejas-membro lhe dessem atenção e se identificaram
outras formas de tratar do tema da violência contra a
mulher. Enquanto isso, o projeto compartilhado com o
comitê também foi compartilhado com membros do
Conselho para sua informação.”
(Cf. Atas da reunião do Conselho da FLM, em Turku,
Finlândia, junho de 2000, parágrafos 163, 164)
62
•
receber o documento com a condição de que
a resposta e os com entários adicionais
recebidos do Comitê do Programa, do Comitê
Pemanente e das igrejas-membro da FLM
sejam incorporados na medida do possível;
•
nomear um comitê especial composto por cinco
membros do Conselho (dois de Missão e
Desenvolvim ento, um de Assuntos
Internacionais e Direitos Humanos, um de
Teologia e Estudos e um de Serviço Mundial)
para revisar as mudanças e aprovar o
documento para sua publicação;
•
estender o prazo para receber mais respostas
ao documento;
•
terminar a proposta em dezembro de 2001 para
sua publicação e tradução e publicação em
A nexos
•
alemão, espanhol e francês, e
acompanhar as igrejas-membro que queiram
traduzir o documento para idiomas locais e
facilitar a distribuição, de forma urgente, a
todos os dirigentes das igrejas, líderes leigos,
pastores e pastoras nas congregações de todas
as igrejas-membro, seminários e mulheres
dirigentes.
“DECIDIU:
“Nomear um Comitê Especial até o final de dezembro
de 2001 com os seguintes membros:
Reverenda Dra. Kajsa AHLSTRAND
Teologia e Estudos
“A nomeação dos membros neste comitê especial foi
remetido ao Comitê de Nomeações. A ação do Conselho
está registrada sob o Ponto 6.5.”
Reverendo Thorbjõm ARNASON
Assuntos Internacionais e Direitos Humanos
Bispo Joseph Paul BVUMBWE
Missão e Desenvolvimento
(Cf Atas da Reunião do Conselho da FLM, em
Genebra, Suíça, junho de 2001, parágrafos 176-186)
Reverenda Dra. Prasanna KUMARI
Serviço Mundial
“6.5 Nomeação dos membros do Comitê Especial
“De acordo com a sua ação de estabelecer um comitê
especial de cinco membros do Conselho (ver Ponto
13.3), o Conselho, por recomendação do Comitê de
Nomeações,
Reverenda Ágnes PÁNGYÁNSZKY
Missão e Desenvolvimento
“com a tarefa de revisar as mudanças e aprovar o
documento “As igrejas dizem NÃO à violência contra a
mulher” para sua publicação.”
(Cf Atas da Reunião do Conselho da FLM, Genebra,
Suíça, junho de 2001, p. 4)
63
N otas
1 KESSLER, Diane (Ed.). Together on the Way. Relatório
oficial da VIII Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas.
Genebra: WCC Publications, 1999, p. 198.
16 SCHÜSSLER FIORENZA, Elisabeth. Ties that Bind:
Dom estic Violence against Women. In: M ANANZAN,
Mary John; ODUYOYE, Mercy Amba; TÁMEZ. Elsa;
CLARKSON, J. Shannon; GREY, Mary C. e RUSSEL,
Letty. Women R esisting Violence: Spirituality for Life. Nova
Iorque: Orbis, 1996, p. 39.
2LWF DOCUMENTATION N. 44. The Gospel Transforming
Cultures. Genebra: LWF Publications, 1999, p. 158.
3 Relatório da IV Conferência Mundial sobre a Mulher,
Beijing, 4 a 15 de setembro de 1995, par. 113-115, p.25.
17 G ewalt gegen Frauen ais Thema der Kirche (Teil I).
Vorgelegt im Auftrag des Rates der EKD. Ein Bericht in
zwei Teilen. Theologische Reflexion. Hanover, 1997, p.
14.
4 HAYW ARD, Ruth Finney. N e e d e d : A N e w M o d e l o f
M ascu lin ity to Stop Violence a g a in st G irls a n d Women.
Centro das N ações Unidas para a Infância (UNICEF),
Katmandú, 1997.
18WICKRAMARATNE-REBERA, Ranjini. Recognising and
Naming Power. In: Jou rn al o f A sian W om en’s R esource
C en ter f o r C ulture a n d T heology, v. 17, n. 1: In God’s
Image, Kuala Lumpur, 1998.
5 Ibid.
6 www.ekd.de/EKD-Texte/2110_1866.html. Gewalt gegen
Frauen ais Thema der Kirche (Teil II). Vorgelegt im Auftrag
des Rates der EKD. Ein Bericht in zwei Teilen. Denkschrift
der EKD 145, Vorwort, 2000.
19 FAMILY CARE INTERNATIONAL. Fichas informativas
sobre saúde sexual e reprodutiva, Nova Iorque, 2000:“ *'
20 JOHNSON, Elizabeth A. She Who is. The Mystery o f God
in Feminist T heological D iscourse. N ova Iorque: The
Crossroad, 1998, p. 23.
7 FAMILY CARE INTERNATIONAL. Fichas informativas
sobre saúde sexual e reprodutiva, Nova Iorque, 2000.
21 NAÇÕES UNIDAS. Relatório do Secretário-geral acerca
da Aplicação da Plataforma de Ação de Beijing, Documento
E/CN.6/2000/PC/2, Nova Iorque, 2000, p. 13.
8 Relatório da IV Conferência Mundial sobre a Mulher,
Beijing, 4 a 15 de setembro de 1995, par. 113-115, p. 7374.
22 The Progress o f Nations, p. 7. Fonte: TOUBIA, Nahid.
FGM, 1996. Atualização de seu estudo F em ale G en ital
M u tilation: A Call for Global Action. Edição revisada, Nova
Iorque: Women Ink (United Nations Population Division,
World Population Prospects: The 1994 Revision, 1997).
9 SINGH, Priscilla. Cicles o f Violence. In: LWF WOMEN
MAGAZINE, n. 54: Resist and Reduce Violence Against
Women, Genebra: LWF Publications, 2001, p. 9.
10 SCOTT, Corine. The Context for Feminist Theologizing:
Violence Against Women/Women Against Violence. In:
KUMARI, Prasanna. F em inist Theology: P ersp ectives and
P raxis. Chennai: Gurukul Theological College, 1998, p.
349.
23 KINUKAWA, Hisako. W omen a n d J e su s in M a rk : A
Japanese Feminist Perspective. Maryknoll, Nova Iorque:
Orbis, 1994, p. 11.
24 Ibid.
11 www.ekd.de/EKD-Texte/2110_1866.html. Gewalt gegen
Frauen ais Thema der Kirche (Teil II). Vorgelegt im Auftrag
des R ates der E K D . Ein B erich t in z w e i T eilen .
Theologische Reflexion. Hanover, 1999, p. 5.
25 Newsletter de RAHAB MINISTRIES, Bangkok, março de
2002 .
26 COOPER-WHITE, Pamela. The C ry o f Tamar. Violence
Against Women and the Church’s Response. Minneapolis:
Fortress, 1995, p. 82.
I2a D U L U T H D O M ESTIC A B U S E IN T ER V E N TIO N
PROJECT, 206 West Fourth St., Duluth, Minnesota 55806,
EUA.
27 MEDEA, Andra e THOMPSON, Kathleen. A g a in st Rape.
Nova Iorque: Noonday, 1974, p. 11.
I2bDiagrama 5.4, extraído de COOPER-WHITE, Pamela. The
C ry o f Tamar. Violence Against Women and the Church’s
Response. Minneapolis: Fortress, 1995, p. 107.
28 www.womenaction.org/csw44/oltrepspa.htm. Contribuição
alternativa sobre a mulher e m eios de com unicação.
Baseado na revisão das ONGs da Plataforma de Ação de
Beijing, coordenado por Isis Intemational-Manila, em nome
de Women Action, 2000, pp. 38-39.
13 Ibid., p. 106.
14 FORTUNE, Mary. K e e p in g th e F aith . Q uestions and
Answers for the Abused Woman. San Francisco: Harper &
Row, 1987.
29 KINUKAWA, Hisako. W om en a n d J e su s in M a rk : A
Japanese Feminist Perspective. Maryknoll, Nova Iorque:
Orbis, 1994, p. 10.
15 SINGH, Priscilla. Cicles o f Violence. In: LWF WOMEN
MAGAZINE, n. 54: Resist and Reduce Violence Against
Women, Genebra: LWF Publications, 2001, p. 14.
30 JOHNSON, Elizabeth A. She Who is. The Mystery o f God
in Feminist T heological D iscourse. N ova Iorque: The
Crossroad, 1998, pp. 4-5.
64
N otas
31 Ibid.
32 G ew alt gegen F rauen ais T hem a der K irche (Teil II).
Vorgelegt im Auftrag des Rates der EKD. Ein B ericht in
zwei Teilen. Theologische Reflexion. Hanover, 1999, p.
C entro das N ações U nidas para a Infância (U N ICEF),
Katmandú, 1997.
48 Folheto da “Cam panha do Laço B ranco” , 1600-365 Bloor
St. East, Toronto, Ontario, Canadá, www.lacobranco.org
20 .
33 Ibid., p. 21.
34 Ibid., p. 26.
35 C A R LSO N BRO W N , Joanne e BOHN, Carole R. The
Transformation of Suffering. A blblical and Theological
Perspective. In: CARLSON BROW N, Joanne e BOHN,
Carole R. Christianity, Patriarchy and Abuse. Nova Iorque:
Pilgrim, 1989, p. 145.
36 SCHOTTROFF, Luise; SCHROER, Silvia e WACKER,
M arie-T h eres. F e m in ist In terp reta tio n : T h e B ib le in
W omen's Perspective. M inneapolis: Augsburg, 1998, pp.
153-160.
37 Ibid.
38 PROCTER-SM ITH, Marjorie. Foreword. Telling Stories.
In: HENDERSON, J. Frank. Remem bering the Women. Ed.
c o m p ila d a e a n o ta d a . C h ic a g o : L itu rg y T ra in in g
Publications, 1999, p. viii.
39 SCHÜSSLER FIORENZA, Elizabeth e COLLINS, Mary.
Women Invisible in Church and Theology. In: Concilium,
n. 182 (6/1985). Feminist Theology. Edinburgh: T&T Clark,
1985, p. 52.
40 PROCTER-SM ITH, Marjorie. Foreword. Telling Stories.
In: HENDERSON, J. Frank. Remem bering the Women. Ed.
c o m p ila d a e a n o ta d a . C h ic a g o : L itu rg y T ra in in g
Publications, 1999, p. viii.
41 SCHÜSSLER FIORENZA, Elizabeth e COLLINS, Mary.
Women Invisible in Church and Theology. In: Concilium,
n. 182 (6/1985). Feminist Theology. Edinburgh: T&T Clark,
1985, pp. 51-52.
42 P R O C T E R -S M IT H , M a rjo rie . In H e r O w n R ite :
C onstructing F em inist L itu rg ical T radition. N ashville:
Abingdon, 1990.
43 THE FAMILY VIOLENCE PREVENTION FUND, If You
Are Being Abuse at Home... You Are Not Alone, EUA.
44 COOPER-W HITE, Pamela. The Cry o f Tamar. Violence
A gainst Women and the C hurch’s Response. Minneapolis:
Fortress, 1995, p. 82.
45 WOLBERT BURGESS, Ann e HOLSTROM , Linda. Rape
Victims in Crisis. M aryland: Robert J. Brady Co., 1979.
46 Women and Development: Crisis and A ltem ative Visions.
Seminário do Instituto Ecum ênico em Bossey, Genebra, 414 de junho de 1992.
47 HAYW ARD, R uth Finney. N eeded: A N ew M o d el o f
M asculinity to Stop Violence against Girls and Women.
49 MARTENSEN, Jean. Sing Out Our Visions. Prayers, Poems
and R eflections by W omen. R ecom pilação ecum ênica
produzida em colaboração com o grupo de trabalho Justiça
para a Mulher, do Conselho N acional de Igrejas de Cristo
nos Estados Unidos. M inneapolis: Ausgburg, 1998, p. 53.
50 Ibid., p. 64.
51 Ibid., p. 65.
APÊNDICE
A p ê n d ic e
Endereços para contatos, articulação e assessorias de mulheres na IECLB
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A p ê n d ic e
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www.justica.gov.br/sedm/cndm
http://www.abrapia.org.br/
http://www.lacobranco.org/
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www.themis.org .br/
www.soscorpo.org.br
www.redemulher.org.br
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As igrejas dizem “NÃO” à Violência I contra a Mulher