Aula 5: Coesão e Coerência O texto não é simplesmente um conjunto de palavras; pois se o fosse, bastaria agrupá-las de qualquer forma e teríamos um: "O ontem lanche menino comeu" Veja que neste caso não há um texto, há somente um grupo de palavras dispostas em uma ordem qualquer. Mesmo que colocássemos estas palavras em uma ordem gramatical correta: sujeito-verbo-complemento, precisaríamos ainda organizar o nível semântico do texto, deixando-o inteligível. "O lanche comeu o menino ontem" O nível sintático está perfeito: sujeito = o lanche verbo = comeu complementos = o menino ontem Mas o nível semântico apresenta problemas, pois não é possível que o lanche coma o menino, pelo menos neste contexto. Caso a frase estivesse empregada num sentido figurado e em outro contexto, isto seria possível. Pedrinho saiu da lanchonete todo lambuzado de maionese, mostarda e catchup, o lanche era enorme, parecia que "o lanche tinha comido o menino". A coesão e a coerência garantem ao texto uma unidade de significados encadeados. Quando falamos, precisamos ser claros para que nosso ouvinte entenda o que queremos comunicar. Quando escrevemos, a situação não é diferente: nosso texto deve fazer sentido para quem o lê. Se um texto faz sentido, dizemos que é COERENTE. Eram cinco horas, porém não vou ler agora esse documento e já fomos dispensados do trabalho. Ele é incoerente, pois não produz sentido. As três orações que compõem, ainda que próprias da língua, não apresentam uma relação clara de sentido entre si, estão desarticuladas. Se as mesmas orações aparecessem assim articuladas, haveria produção de sentido: São cinco horas. Não vou ler agora esse documento, pois já fomos dispensados do trabalho. Denominamos coerência o encadeamento de ideias, de modo que não haja contradição entre as partes do texto. É preciso que os segmentos textuais façam referência a termos e expressões anteriormente empregados. Nos textos argumentativos, apresentamos dados, opiniões e exemplos a fim de defender um determinado ponto de vista. Nesse caso, a coerência se dá pela ligação da ideia que será defendida com os argumentos que sustentam essa ideia e com a conclusão apresentada. Tudo isso através de uma sequência lógica e de um diálogo interno entre as partes. Se o tema da redação apresenta o descontrole orçamentário como causa da inflação e este é o problema mais grave do país, será contraditório concluir que o governo deve aumentar os gastos públicos para aquecer a economia. Podemos dizer que um texto deve possuir coerência em três níveis: do texto em si, ou seja, uma coerência interna; do texto com a realidade, ou seja, uma coerência externa; do texto com a proposta de redação. O trecho que segue foi extraído de um livro que relata episódios da vida do grande folclorista brasileiro, Luís da Câmara Cascudo. Exame oral. O estudante é Sílvio Piza Pedroza, que depois seria governador do Rio Grande do Norte. Cascudo pergunta: Como o rei de Portugal teve notícias do descobrimento da Ilha de Vera Cruz? Pedro Álvares Cabral passou um telegrama. Observe os três enunciados: I- O aluno cometeu, no caso, uma incoerência externa. II- Por desconhecer um dado de datação histórica, o aluno fez uma afirmação incompatível com o conhecimento que temos do mundo. III- A incoerência do texto é interna, já que se contradizem dados contidos no interior do próprio texto. É (são) correto(s): a) apenas I e II b) apenas II e III c) apenas I e III d) apenas I e) apenas II Para resumir, quando fala-se em coerência, refere-se à significação do texto, e não à estrutura dos elementos que o compõe. A coesão é a conexão, ligação, harmonia entre os elementos de um parágrafo. Percebemos isso quando lemos um texto e verificamos que as palavras, frases e parágrafos estão entrelaçados, um dando continuidade ao outro. São palavras ou expressões cuja função é estabelecer relações lógicas entre os segmentos do texto – conectivos – ou fazer referência a outros elementos presentes na estrutura textual – pronomes, advérbios, sinônimos. Há, na língua, muitos recursos que garantem o mecanismo de coesão. São eles: Os pronomes, advérbios e os artigos são os elementos de coesão que proporcionam a unidade do texto. Ex: "O Presidente foi a Portugal em visita. Em Portugal o presidente recebeu várias homenagens." Esse texto repetitivo torna-se desagradável e sem coesão. Observe a atuação do advérbio e do pronome no processo de e elaboração do texto. "O Presidente foi a Portugal. Lá, ele foi homenageado." Veja que o texto ganhou agilidade e estilo. Os termos “Lá” e “ele” referem-se a Portugal e Presidente, foram usados a fim de tornar o texto coeso. O trabalho que eu fiz mereceu destaque. (pronome relativo, retomando o termo “trabalho” e ligando as orações) Tenho dois objetivos: o primeiro é passar no vestibular; o segundo, arrumar um bom emprego. (numerais que substituem os respectivos “objetivos”) Moramos no Brasil. Aqui, as leis não são respeitadas como deveriam. (advérbio retomando o substantivo próprio “Brasil”) É aquela que se refere a um elemento fora do texto. Exemplo: “A gente era pequena naquele tempo. E aquele era um tempo em que ainda se apregoava nas ruas. Não em todas as ruas, mas naquela onde vivíamos. Naquela rua, que tinha por nome a data de um santo, o tempo passava mais lentamente do que no resto da cidade de Porto Alegre.” (Trecho inicial de uma crônica, postada no site http://revistagloborural.globo.com, por Letícia Wierzchowski) Notem que as expressões em destaque se referem a informações externas ao texto. É aquela que faz referência a algo dentro do texto. SE LIGA! A referência endofórica pode ser feita a algo mencionado anteriormente no texto – anáfora – ou a algo mencionado posteriormente – catáfora. I- Não consegui passar o recado para seu pai, pois, quando eu voltei, ele já havia ido embora. (“ele” -> termo anafórico) II- Lá estava ela, ali parada, minha amiga! (“ela” -> termo catafórico) Saibam utilizar corretamente os pronomes demonstrativos na redação: Lembremse: ISSO, ESSA, ESSE (e demais contrações) -> ANAFÓRICOS ISTO, ESTA, ESTE (e demais contrações) -> CATAFÓRICOS Observem: I) A violência cresce a cada dia no Brasil. Esse problema deve ser combatido por meio de medidas mais eficazes. II) No Brasil, o problema é este: a violência. Notem como, na frase II, a referência foi feita anteriormente, portanto o pronome “esse” possui função anafórica. Já na frase II, o referente “violência” está localizado posteriormente, logo o pronome “este” desempenha função catafórica. • POR ELIPSE: Quando se omite um termo a fim de evitar sua repetição. "O Presidente foi a Portugal. Lá, foi homenageado." Veja que neste caso omitiu-se a palavra “Presidente”, pois é subentendida no contexto. Repetição lexical: ecologia, ecologista / ambiente, ambientalismo, ambientalista. Sinonímia: espaçonave, nave espacial, aeronave, veículo espacial. Acabamos de receber trinta termômetros clínicos. Os termômetros clínicos deverão ser encaminhados ao departamento de pediatria. Para evitar este inconveniente, podemos utilizar sinônimos ou outras palavras que substituam, sem fugir aos significados dos termos anteriores. a) Acabamos de receber trinta termômetros clínicos. Os mesmos deverão ser encaminhados ao departamento de pediatria. b) Acabamos de receber trinta termômetros clínicos. Esses instrumentos deverão ser encaminhados ao departamento de pediatria. Os conectivos – conjunções e preposições – são responsáveis pela linguagem de elementos linguísticos (palavras, frases, orações, períodos), podendo carregar ou não significado para as relações que fazem. A artista plástica Sylvia Martins sempre quis viver em um barco. Contudo, enquanto o sonho não se realiza, a gaúcha de 48 anos vive debruçada sobre o azul do Arpoador. "O presidente viajou para Portugal nesta semana e o ministro dos Esportes o fez também." A expressão “o fez também” retoma a sentença “viajou para Portugal”. * POR OPOSIÇÃO: Empregam-se alguns termos com valor de oposição (mas, contudo, todavia, porém, entretanto, contudo) para tornar o texto compreensível. "Estávamos todos aqui no momento do crime, porém não vimos o assassino.“ * POR CONCESSÃO OU CONTRADIÇÃO: Referem-se a um fato que, embora contrário ao fato mencionado na oração principal, permite que este ocorra. São eles: embora, ainda que, se bem que, apesar de, conquanto, mesmo que. "Embora estivéssemos aqui no momento do crime, não vimos o assassino.“ * POR CAUSA: São eles: porque, pois, como, já que, visto que, uma vez que. "Estávamos todos aqui no momento do crime e não vimos o assassino uma vez que nossa visão fora encoberta por uma névoa muito forte." * POR CONDIÇÃO (hípótese): São eles: caso, se, a menos que, contanto que. "Caso estivéssemos aqui no momento do crime, provavelmente teríamos visto o assassino." * POR FINALIDADE (objetivo): São eles: para que, para, a fim de, com o objetivo de, com a finalidade de, com intenção de. "Estamos aqui a fim de assistir ao concerto da orquestra municipal." Coesão Sentido de cada uma das frases dentro de um parágrafo. Coerência Entrelaçamento lógico entre as partes do texto. Há textos que se organizam por justaposição ou com elipses e, mesmo assim, podem ser considerados textos por seus leitores/ouvintes, pois constituem uma unidade de sentido. Como exemplo de que pode haver coerência sem coesão, veja o texto seguinte: Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa abotoaduras, calças, meias, sapatos, gravata, paletó. [...] Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis. [...] Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, [...] Apesar de aparentemente desconexos, os fragmentos transcritos anteriormente têm sentido: eles falam da rotina de um homem de negócios. A sequência das palavras ou frases justapostas retrata um mundo moderno que bem conhecemos. Assim, apesar da estranheza que provoca em uma primeira leitura, o texto é coerente, ou seja, faz sentido. “Estava assistindo ao debate na televisão dos candidatos ao governo de São Paulo, eles mais se acusavam moralmente do que mostravam suas propostas de governo, em um certo momento do debate dois candidatos quase partem para a agressão física. Dessa forma, isso nos leva a concluir que o homem não consegue conciliar ideias opostas é por isso que o mundo vive em guerras frequentemente.” Note que a conclusão apresentada não tem ligação nenhuma com o exemplo argumentado. Finalizando: Tanto os mecanismos de coesão como os de coerência devem ser empregados com cuidado, pois a unidade do texto depende praticamente da aplicação correta desses mecanismos A) Utilizando os recursos de coesão, substitua os elementos repetidos quando necessários. O Brasil vive uma guerra civil diária e sem trégua. No Brasil, que se orgulha da índole pacífica e hospitaleira de seu povo, a sociedade organizada ou não para esse fim promove a matança impiedosa e fria de crianças e adolescentes. Pelo menos sete milhões de crianças e adolescentes, segundo estudos do fundo das nações Unidas para a Infância (Unicef), vivem nas ruas das cidades do Brasil. Os textos abaixo necessitam de conectores para sua coesão. a) Nem sempre é fácil identificar a violência. Uma cirurgia não constitui violência, visa o bem do paciente, é feita com o consentimento do doente. Será violência a operação for realizada sem necessidade ou o paciente for usado como cobaia de experimento científico sem a devida autorização. (mas certamente, se, se, primeiro porque, depois porque, por exemplo) Páris, filho do rei de Troia, raptou Helena, mulher de um rei grego. Isso provocou um sangrento conflito de dez anos, entre os séculos XIII e XII A.C. Foi o primeiro choque entre o ocidente e o oriente. Mas os gregos conseguiram enganar os troianos. Deixaram à porta de seus muros fortificados um imenso cavalo de madeira. Os troianos, felizes com o presente, puseram-no para dentro. À noite, os soldados gregos, que estavam escondidos no cavalo, saíram e abriram as portas da fortaleza para a invasão. Daí surgiu a expressão "presente de grego". 01. Em "puseram-no", a forma pronominal "no" refere-se: A) ao termo "rei grego". B) ao antecedente "gregos". C) ao antecedente distante "choque". D) à expressão "muros fortificados". E) aos termos "presente" e "cavalo de madeira". a) b) c) “Eu não ganhei nenhum presente, só ganhei uma folha em branco, meu retrato de pôster e um disco dos Beatles”. “Pela manhã recebi uma carta repleta de conselhos. Era uma carta em branco e não liguei para os conselhos já que os conselhos não interessam para mim pois ser cuidar da minha vida”. “Pela tarde chegou uma carta a mim endereçada, abri-a correndo sem nem tomar fôlego. O envelope não tinha nada dentro, estava vazio. Dentro só tinha uma folha, em branco”.