Universidade Federal da Paraíba – UFPB Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA Departamento de Psicologia Doutorado Integrado em Psicologia Social LILIAN KELLY DE SOUSA GALVÃO Desenvolvimento moral e empatia: Medidas, correlatos e intervenções educacionais João Pessoa 2010 i LILIAN KELLY DE SOUSA GALVÃO Desenvolvimento moral e empatia: Medidas, correlatos e intervenções educacionais Tese apresentada ao Programa de Pósgraduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutora em Psicologia Social. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cleonice Pereira dos Santos Camino João Pessoa 2010 ii FOLHA DE APROVAÇÃO Nome: Galvão, Lilian Kelly de Sousa Título: Desenvolvimento moral e empatia: Medidas, correlatos e intervenções educacionais Tese apresentada à Universidade Federal da Paraíba como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Psicologia Social. Aprovada em: 10 de Setembro de 2010. Banca Examinadora Profa. Dra. Cleonice P. dos S. Camino (Orientadora) Instituição: UFPB Assinatura: _________________________________________________________ Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia Instituição: UFPB Assinatura: _________________________________________________________ Prof. Dr. Leonardo Rodrigues Sampaio Instituição: UNIVASF Assinatura: _________________________________________________________ Profa. Dra. Maria da Graça Bompastor Borges Dias Instituição: UFPE Assinatura: _________________________________________________________ Profa. Dra. Sílvia Helena Koller Instituição: UFRGS Assinatura: _________________________________________________________ 2 iii “Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo... se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra... Ouviste que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” Sr. Jesus Cristo (Mt 5:38-44) 3 iv Ao Sr. Jesus Cristo, inspiração dos meus princípios morais e éticos A minha mainha e ao meu painho, meus grandes tesouros Ao meu mozinho, fonte de meu equilíbrio 4 v AGRADECIMENTOS “Não me canso de dizer, não me canso de falar: Grandes coisas o Senhor tem feito em minha vida!” Considero a elaboração de uma tese um produto coletivo, embora sua redação, responsabilidade e stress sejam, predominantemente, do/a aluno/a de doutorado e de seu/sua orientador/a. Dentro dessa perspectiva, divido a autoria deste trabalho com todas as pessoas que citarei a seguir, como uma forma singela de dizer: muito obrigada! À professora Cleonice Camino, orientadora mui amada, por fazer parte de toda a minha trajetória acadêmica e por ter construído, ao meu lado, esta tese; Ao professor Valdiney Gouveia, por sua amizade e pelas suas valiosas orientações, que só aumentaram a minha admiração pela sua capacidade de fazer pesquisa e formar pesquisadores; Ao professor Leonardo Sampaio, por ter construído, juntamente com a professora Cleonice, o primeiro esboço desta tese e por ter aceitado avaliá-la; Às professoras, Maria da Graça Dias e Sílvia Koller, pela disponibilidade para participar da avaliação deste trabalho e, principalmente, pelas contribuições para o seu aprimoramento; Aos/às professores/as do programa de Pós-graduação em Psicologia Social, que me ofereceram importantes ensinamentos no campo da psicologia e do método de pesquisa; A todos/as os/as professores/as, ex-integrantes e atuais integrantes do Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Moral (NPDSM), por todas as contribuições oferecidas para a construção desta tese e pela amizade construída ao longo dos anos; Aos/às colegas de Doutorado, Nilton, Rildésia, Ionara e Mônica, companheiros/as de caminhada, pelo carinho e ajuda ao longo desta jornada; especialmente a Nilton que contribuiu com a aplicação de questionários e com as análises estatísticas; À professora Luciana K. de Souza, pela sua prontidão em me enviar dilemas morais, construídos ou traduzidos pela ilustríssima professora Ângela Biaggio (in memoriam) e colaboradores; A todos/as os/as colegas de trabalho da UFCG, pela amizade e apoio. Sem a compreensão de vocês esta tese não teria sido concluída; Às minhas monitoras, Regiane, Rutanny, Wigna, Zaíra e ao meu orientando de monografia, Leonardo, por sempre serem meus fiéis colaboradores; Aos/às meus/minhas amados/as alunos/as da UFCG e inesquecíveis ex-alunos/as da UFRN, que sempre torceram pelo meu sucesso; especialmente a aqueles/as que me ajudaram na aplicação dos instrumentos de pesquisa do primeiro estudo; A todos/as os/as participantes desta pesquisa, em especial aos/as alunos/as que fizeram parte do programa de intervenção por darem um brilho todo especial a minha vida e a esta tese; 5 vi À direção, aos/às funcionários/as e aos/às professores/as das escolas onde foram realizados os estudos apresentados nesta tese, pela atenção, disponibilidade e compreensão; E, finalmente, aos sustentáculos da minha vida: - Ao meu Deus, que sempre guia os meus passos e faz infinitamente mais daquilo que penso ou sonho; - Aos meus pais, Marta e Bastos, por acreditarem em mim e por sempre me incentivarem a ir mais longe; - Ao meu mozinho, Iran, pelo amor, companheirismo, dedicação e por trazer à minha vida paz e equilíbrio; - Aos meus avós, Moisés (meu escritor favorito!) e Inaldir (in memoriam), e, Tomaz e Idalice (in memoriam), pelo modelo moral e ético de vida; - Aos meus irmãos, Mércia, Charles e Gabriella, a meus sobrinhos, Halwmerson, Julhinhos e Luan, e a meus cunhados, Julius, Marília e Rômulo, por tudo aquilo que vocês são em minha vida; - Aos meus sogros, Nice e Raimundo (in memoriam), a meus/minhas cunhados/as, Vera, Vilma, Nickson, Val, Iraque e Paulinha, e a meu sobrinho de coração, Nickolas, pelos gestos incansáveis de carinho e amor; - Aos/às meus/minhas amigos/as, Célia, Cida, Deliane, Gina, Kátia, Marina, Mona e Paulinho, pela amizade desprendida, mesmo que, algumas vezes, à kilometros de distância; - Aos/as meus/minhas irmãos/as e amigos/as da Comunidade Cristã Logos pelas orações e pela doce comunhão que me fortalecem a cada momento; Enfim, a todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para a consecução dessa tese e que, porventura, possam não ter sido citadas anteriormente, meus sinceros agradecimentos! 6 vii RESUMO Galvão, L. K de S. (2010). Desenvolvimento moral e empatia: Medidas, correlatos e intervenções educacionais. Tese de Doutorado, Pós-graduação em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB. No campo da Educação Moral, Kohlberg, juntamente com Blatt, delinearam uma prática pedagógica, que utiliza a discussão de dilemas morais, para promover o desenvolvimento moral. Contudo, alguns autores, como M. Hoffman, criticaram essa proposta por considerar que ela negligenciava os aspectos afetivos relacionados à moral. Diante dessa crítica, esta tese tem como objetivo principal verificar se existem diferenças entre os efeitos de uma técnica de intervenção “racional-discursiva” e uma técnica “racional-afetiva”. Para tanto, foram realizados três estudos. O primeiro objetivou elaborar e testar a adequação de instrumentos para medir o raciocínio moral e a empatia. Neste, participaram 200 estudantes, que responderam aos instrumentos Dilemas da Vida Real e Escala de Empatia focada em Grupos18 itens (EEG-18). No que se refere aos Dilemas da Vida Real, os dados indicaram que o instrumento proposto conseguiu diferenciar estágios de desenvolvimento moral. Em relação à EEG-18, os dados indicaram que a escala conseguiu discriminar diferentes graus de empatia e apresentou uma estrutura multifatorial, tendo um Alfa médio de 0,68. O segundo estudo objetivou reformular e validar a Escala de Empatia focada em Grupos, bem como validar o instrumento denominado Dilemas da Vida Real. Neste, participaram 206 estudantes do ensino médio, que responderam aos Dilemas da Vida Real e a EEG-27 (versão reformulada), além de outros dois instrumentos, já validados no Brasil – o Defining Issues Test (DIT) e o Interpersonal Reactivity Index (IRI), tendo em vista a realização de uma validade convergente. No que se refere à EEG-27, os resultados da análise de componentes principais identificaram quatro fatores, com um Alfa médio de 0,73. Uma análise fatorial confirmatória, com uma segunda amostra, revelou indicadores psicométricos aceitáveis para o modelo tetrafatorial. Em relação aos Dilemas da Vida Real, os resultados indicaram o predomínio de respostas típicas dos primeiros estágios de desenvolvimento moral. No que tange à validade convergente, verificaram-se correlações significativas entre os instrumentos criados e os instrumentos já validados no Brasil. Por fim, o terceiro estudo, refere-se a uma pesquisa quase-experimental, cujo objetivo central coincide com o objetivo principal da presente tese. Neste, participaram 36 estudantes, distribuídos em três grupos que foram submetidos, respectivamente, a três condições experimentais: condição 1 (técnica “racional-discursiva”) – os participantes, de diferentes estágios de julgamento moral, discutiram dilemas morais, sob a coordenação de um facilitador; condição 2 (técnica “racional-afetiva”) – os participantes, além de discutirem dilemas morais, foram estimulados a desenvolverem a empatia, mediante o uso de técnicas do psicodrama; e condição 3 (grupo de controle). Como instrumentos de medida (antes e depois da intervenção) foram utilizados os instrumentos: Dilemas da Vida Real, DIT, EEG-27 e o IRI. Os resultados, de um modo geral, revelaram que o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-afetiva” evoluiu mais do que o grupo submetido à intervenção “racional-discursiva”, tanto no estágio de desenvolvimento moral, quanto no grau de empatia; o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-discursiva” evoluiu mais do que o grupo de controle no estágio de desenvolvimento moral; e o grupo de controle não apresentou evolução nos dois tipos de desenvolvimento avaliado (moral e empático). Palavras-chave: desenvolvimento moral, empatia, medidas, intervenção 7 viii ABSTRACT Galvão, L. K. de S. (2010). Moral development and empathy: Measures, correlates and educational interventions. Ph.D. Dissertation, Graduate Program in Social Psychology, Federal University of Paraíba, João Pessoa-PB. Kohlberg and Blatt have outlined a methodological practice in the field of Moral Education concerning the discussion of moral dilemmas enhancing moral development. Nevertheless, authors like M. Hoffman, criticized this proposal because they thought it overlooked affecitive aspects related to morality. In response to this criticism, this thesis aims at studying if there are differences between the effects of a “rational-discursive” intervention techinque and a “rational-affective” one. Three studies were carried out for this effect. The first of these was aimed at devising and testing the adequacy of tools to assess moral reasoning and empathy. 200 students participated in it and they responded to the tools Real Life Dilemmas and Empathy Scale focused on Groups –18 items (EEG-18). As far as Real Life Dilemmas are concerned, results indicated that the tools proposed managed to identify different stages of moral development. As regards EEG-18 results indicated that the scale could discriminate different levels of empathy and presented a multifactorial structure with an average Alfa of 0,68. The second study aimed at remaking and validating the Empathy Scale focused on Groups, as well as validating the Real Life Dilemma tools. 206 high-school students participated in this and responded to the Real Life Dilemma and to EEG-27 (a revised version), as well as two further tools which have been validated in Brazil – the Defining Issues Test (DIT) and the Interpersonal Reactivity Index (IRI), aiming at reaching a converging validity. Regarding EEG-27, the results of the analysis of major components identified four factors, with an average Alfa of ,73. A subsequent factorial analysis with a second sample revealed psychometric indexes acceptable for the tetrafactorial model. Regarding Real Life Dilemmas, the results indicated the predominance of typical answers to the first stages of moral development. Regarding the converging validity, significant correlations between the tools created and those validated in Brazil were found. Last, the third study is concerned with a quasi-experimental research whose central object coincides with the main object of this thesis. 36 students participated in this study and they were divided into three groups which underwent, respectively, three experimental conditions: condition 1 (the “rational-discursive” technique) – the students involved, having different levels of moral judgement, discussed moral dilemmas, under the supervision of a coordinator; condition 2 (the “rational-affective” technique) – the group involved both discussed the moral dilemmas and were stimulated to develop empathy, by using psychodrama techniques; condition 3 (control group). As measuring techniques (before and after the intervention) the following tools were used: Real Life Dilemmas, DIT, EEG-27 and IRI. As a whole, the results revealed that the group to which the “rational affective” intervention was applied evolved faster than those under the “rational-discursive” intervention, both in terms of moral development, and empathy: the group tested by the “rational-discursive” intervention developed more than the control group regarding moral development; and the control group did not develop in the two types of developments tested (moral and empathic). Key words: moral development, empathy, measures, intervention. 8 ix LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Análise dos Componentes Principais da EEG-18 (cinco fatores) ....................133 Tabela 2 – Análise dos Componentes Principais da EEG-18 (três fatores) .......................137 Tabela 3 – Análise dos Componentes Principais da EEG-27..............................................155 Tabela 4 – Comparação dos modelos alternativos da estrutura fatorial da EEG-27 ...........160 Tabela 5 – Coeficientes de correlação de Pearson entre as sub-escalas do Interpersonal Reactivity Index (IRI) ..........................................................................................................166 Tabela 6 – Coeficientes de correlação de Pearson entre as sub-escalas do Interpersonal Reactivity Index (IRI) e os Fatores da Escala de Empatia focada em Grupos (EEG-27)...167 Tabela 7 – Coeficientes de correlação de Pearson entre o DIT e os Dilemas da Vida Real .............................................................................................................................................168 Tabela 8 – Coeficientes de correlação de Pearson entre os instrumentos de desenvolvimento moral (DIT e Dilemas da Vida Real) e os de empatia (IRI e EEG-27)...............................168 Tabela 9 – Lista de sujeitos selecionados, por grupo de intervenção, com os seus respectivos resultados do pré-teste .........................................................................................................179 Tabela 10 – Distribuição dos respondentes por estágios de desenvolvimento moral, obtidos no DIT (pós-teste), em função do grupo de intervenção ..........................................................190 Tabela 11 – Distribuição dos respondentes por estágios de desenvolvimento moral, obtidos no Dilema de Sadam Hussein (pós-teste), em função do grupo de intervenção ......................191 Tabela 12 – Distribuição dos respondentes por estágios de desenvolvimento moral, obtidos no Dilema de João Hélio (pós-teste), em função do grupo de intervenção ..............................192 Tabela 13 – Comparação de médias obtidas, pelos grupos experimentais, no pré e no póstestes em relação aos componentes da EEG........................................................................194 Tabela 14 – Comparação de médias obtidas, pelos grupos experimentais, no pré e no póstestes em relação às sub-escalas do IRI ...............................................................................195 9 x LISTA DE FIGURAS Quadro 1 – Estágios de desenvolvimento moral de Kohlberg ............................................33 Quadro 2 – Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado? Por quê?” ................................................127 Quadro 3 – Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas à questão “Você está de acordo que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido? Por quê?”.......130 Quadro 4 – Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado? Por quê?” ................................................162 Quadro 5 – Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas à questão “Você está de acordo que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido? Por quê?”.......164 Quadro 6 – Idéias subjacentes às condições experimentais: autores, foco, técnica, recursos (meios), questões norteadoras e participantes .....................................................................184 Quadro 7 – Categorias, exemplos e freqüências de respostas à questão “Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança na sua forma de pensar questões morais?” ....................................................................................................197 Quadro 8 – Categorias, exemplos e freqüências de respostas à questão “Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança na sua forma de sentir questões morais?”......................................................................................................198 Quadro 9 – Categorias, exemplos e freqüências de respostas à questão “Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança na sua forma de se comportar?”.........................................................................................................................199 Figura 1 – Porcentagens das categorias de respostas, classificadas por estágio de julgamento moral, à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, em função do grau de escolaridade dos participantes ................................................................................128 Figura 2 – Porcentagens das categorias de respostas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, em função do grau de escolaridade dos participantes .........131 Figura 3 – Pontuação média bruta dos participantes no DIT ..............................................164 Figura 4 – Predominância do estágio de Desenvolvimento Moral, medido pelo DIT ........165 Figura 5 – Hipóteses acerca dos efeitos das técnicas de intervenção moral........................177 10 xi LISTA DE SIGLAS AG Angústia Pessoal AGFI Adjusted Goodness-of-Fit Index AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome ANOVA Analysis of Variance BIREME Biblioteca Regional de Medicina CAIC Consistent Akaike Information Criterion CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CE Consideração Empática CFI Comparative Fit Index CNS Conselho Nacional de Saúde CP Componentes Principais DIT Defining Issues Test DP Desvio Padrão ECVI Expected Cross-Validation Index EECA Escala de Empatia para Crianças e Adolescentes EEG-18 Escala de Empatia focada em Grupos – 18 itens EEG-27 Escala de Empatia focada em Grupos – 27 itens EFS Escala Fatorial de Socialização ERI Ethical Reasoning Inventory EUA Estados Unidos da América fMRI functional Magnetic Resonance Imaging GFI Goodness-of-Fit Index GL Graus de Liberdade HES Hogan Empathy Scale IC Intervalo de Confiança ICM Índices de Comportamento Moral IRI Interpersonal Reactivity Index KMO Kaiser-Meyer-Olkin M Média MANOVA Multivariete Analysis of Variance MEC Ministério da Educação e do Desporto MJI Moral Judgement Interview 11 xii NPDSM Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Sócio-moral ONG Organização Não Governamental PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PTE Programa de Treinamento da Empatia QMEE Questionnaire Measure of Emotional Empathy RMSEA Root-Mean-Square Error of Approximation RS Rio Grande do Sul SciELO Scientific Electronic Library Online SEF Secretaria da Educação Fundamental SP São Paulo SPSS Statistical Package Social Sciences SROM Sociomoral Reflection Objective Measure THI Teste das Histórias Incompletas TP Tomada de Perspectiva TRA Técnica “racional-afetiva” TRD Técnica “racional-discursiva” UNIVASF Universidade Federal do Vale do São Francisco UFCG Universidade Federal de Campina Grande UFPB Universidade Federal da Paraíba UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRG Universidade Federal do Rio Grande do Sul USP Universidade de São Paulo Y.E.S. Your Excellence in School 12 xiii SUMÁRIO EPÍGRAFE ............................................................................................................................ iii DEDICATÓRIA .................................................................................................................... iv AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... v RESUMO................................................................................................................................ vii ABSTRACT ........................................................................................................................... viii LISTA DE TABELAS........................................................................................................... ix LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ x LISTA DE SIGLAS............................................................................................................... xi INTRODUÇÃO ......................................................................................................................17 CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO MORAL.............................................................22 1.1. Breve percurso histórico sobre a noção de moral..........................................................23 1.2. A perspectiva de Piaget .................................................................................................26 1.3. A perspectiva de Kohlberg ............................................................................................29 1.4. Críticas a teoria kohlberguiana ......................................................................................35 1.5. A avaliação no campo da moralidade e estudos empíricos ...........................................40 1.6. Educação moral e estudos empíricos.............................................................................52 1.7. Considerações sobre o capítulo .....................................................................................68 CAPÍTULO II – EMPATIA ..................................................................................................72 2.1. Breve percurso histórico sobre a noção de empatia ......................................................73 2.2. A perspectiva de Hoffman.............................................................................................78 2.3. A avaliação da empatia..................................................................................................83 2.4. Estudos empíricos..........................................................................................................85 2.5. Considerações sobre o capítulo .....................................................................................94 13 CAPÍTULO III – MORAL E EMPATIA ............................................................................98 3.1. Considerações teóricas ..................................................................................................99 3.2. Estudos empíricos........................................................................................................103 3.3. Considerações sobre o capítulo ...................................................................................113 CAPÍTULO IV – ESTUDO 1: CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS .......................116 4.1. Objetivos específicos...................................................................................................117 4.2. Hipóteses .....................................................................................................................117 4.3. Método.........................................................................................................................121 4.3.1. Participantes.........................................................................................................121 4.3.2. Instrumentos .........................................................................................................121 4.3.3. Procedimento........................................................................................................123 4.3.4. Análise dos dados .................................................................................................124 4.4. Resultados....................................................................................................................125 4.4.1. Dilemas da Vida Real ...........................................................................................125 4.4.2. Escala de Empatia focada em Grupos .................................................................132 4.5. Discussão parcial .........................................................................................................138 CAPÍTULO V – ESTUDO 2: REFORMULAÇÃO E VALIDAÇÃO DA ESCALA DE EMPATIA FOCADA EM GRUPOS E VALIDAÇÃO DOS DILEMAS DA VIDA REAL ................................................................................................................................................144 5.1. Objetivos específicos...................................................................................................145 5.2. Hipóteses .....................................................................................................................145 5.3. Método.........................................................................................................................149 5.3.1. Participantes.........................................................................................................149 5.3.2. Instrumento...........................................................................................................149 5.3.3. Procedimento........................................................................................................152 5.3.4. Análise dos dados .................................................................................................153 5.4. Resultados....................................................................................................................154 5.4.1. Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) ......................................................154 5.4.2. Dilemas da Vida Real ...........................................................................................162 5.4.3. Defining Issues Test (DIT) – O prisioneiro foragido ...........................................164 14 5.4.4. Interpersonal Reactivity Index (IRI).....................................................................165 5.4.5. Validade Convergente ..........................................................................................166 5.5. Discussão parcial .........................................................................................................169 CAPÍTULO VI – ESTUDO 3: EDUCAÇÃO MORAL ....................................................175 6.1. Objetivo .......................................................................................................................176 6.2. Hipóteses .....................................................................................................................176 6.3. Método.........................................................................................................................178 6.3.1. Participantes.........................................................................................................178 6.3.2. Delineamento........................................................................................................180 6.3.3. Instrumentos .........................................................................................................184 6.3.4. Procedimento........................................................................................................185 6.3.5. Análise dos dados .................................................................................................187 6.4. Resultados....................................................................................................................188 6.4.1. Desenvolvimento moral ........................................................................................188 6.4.2. Empatia.................................................................................................................192 6.4.3. Desejabilidade social ...........................................................................................195 6.4.4. Efeito da intervenção segundo a opinião dos participantes ................................196 6.4.5. Diário de Campo ..................................................................................................199 6.5. Discussão parcial .........................................................................................................201 CAPÍTULO VII – DISCUSSÃO GERAL E CONSIDERAÇÕES FINAIS....................210 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................218 APÊNDICES .........................................................................................................................237 Apêndice I – Instrumentos utilizados no Estudo 1.............................................................238 Apêndice II – Instrumentos utilizados nos Estudos 2 e 3...................................................241 Apêndice III – Folha de Apuração do DIT.........................................................................247 Apêndice IV – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................................249 Apêndice V – Cronograma de Atividades: Estudo 3..........................................................256 Apêndice VI – Dilemas Selecionados: Estudo 3 ................................................................262 Apêndice VII – Filmes e Vídeos do Youtube selecionados: Estudo 3...............................267 15 Apêndice VIII – Técnicas do Psicodrama selecionadas: Estudo 3.....................................270 Apêndice IX – Diário de Campo: Estudo 3........................................................................272 16 INTRODUÇÃO 17 O estudo da moralidade tem sido alvo de interesse de diversos pesquisadores e teóricos da área da Psicologia, merecendo destaque Lawrence Kohlberg, que é, de acordo com uma pesquisa realizada por Alencar (2003) na base de dados Psyclit, o estudioso que mais tem influenciado, nas últimas três décadas, os trabalhos realizados no âmbito da Psicologia do desenvolvimento moral. Essencialmente, conforme será visto no capítulo a seguir, a tipologia do desenvolvimento moral de Kohlberg é composta por seis estágios seqüenciados agrupados em três níveis: Nível I – pré-convencional, que inclui o estágio 1 (moralidade de evitar o castigo e da obediência) e o estágio 2 (individualismo ou trocas instrumentais); Nível II – convencional, que inclui o estágio 3 (expectativas inter-pessoais mútuas) e estágio 4 (ordem social); e Nível III – pós-convencional, que inclui o estágio 5 (acordo social e consenso) e o estágio 6 (princípios éticos universais). Essa seqüência de estágios, segundo demonstrou Snarey (1985), com base em uma revisão de mais de 40 pesquisas realizadas em 27 culturas, se mantém nas várias culturas, com algumas nuances que, de acordo com a análise de Biaggio (1997), não ameaçam a idéia de universalidade que Kohlberg preconizou. No Brasil, a teoria de Kohlberg tornou-se conhecida por meio dos trabalhos de Biaggio (1976) e difundiu-se, de acordo com Biaggio e Monteiro (1998), a partir de três grandes grupos de pesquisa que desenvolvem, sistematicamente, estudos sobre o assunto: o grupo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o da Universidade de São Paulo (USP). E, pode-se dizer que esses estudos 18 comprovam a presença dos estágios de julgamento moral, semelhante ao que foi descrito por Kohlberg, conforme a revisão realizada por Biaggio e Monteiro (1998) e por Camino e Luna (2005). Outro ponto que merece ser mencionado acerca da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg é o de sua aplicação. No final da década de 60, Kohlberg delineou uma prática pedagógica, que foi consolidada por Blatt e Kohlberg (1975), para desenvolver nas pessoas a capacidade de raciocinar sobre os valores morais, mediante a suposição de que a discussão de questões morais favoreceria o desenvolvimento do raciocínio. Basicamente, essa prática pedagógica consiste na formação de grupos, com pessoas de diferentes estágios de desenvolvimento moral, para discutir dilemas, durante várias sessões, com a colaboração de um coordenador que chama a atenção dos participantes para argumentos típicos do estágio imediatamente superior àquele em que se encontra a discussão, com o objetivo de criar um desequilíbrio cognitivo. Geralmente, a eficácia da técnica é avaliada por meio do planejamento experimental, com grupo de controle e grupo experimental, com pré-teste e pósteste. Essa técnica tem tido êxito em promover o desenvolvimento de um estágio para outro hierarquicamente superior, conforme tem sido constatado em programas de educação moral no âmbito internacional (Berkowitz, 1985; Blatt & Kohlberg, 1975; Gibbs, Arnold, Ahlborn & Chessman, 1984) e nacional (Biaggio, 1985; Dias, 1992; Lins & Camino, 1993; Rique & Camino, 1997; Rodrigues, 1976). Contudo, apesar do considerável sucesso do programa de intervenção de educação moral de Kohlberg, alguns autores (Araújo, 2000; Camino & Luna, 2005; Hoffman, 1994; Kristjánsson, 2004; Lima, 2004; Ruiz & Vallejos, 1999) têm criticado o paradigma kohlberguiano, por considerar que Kohlberg não dá a devida importância aos aspectos afetivos relacionados à moral. E, ademais, os resultados de pesquisas de Gilligan (1982) e 19 Garaigordobil (2004), entre outros, têm apontado para a necessidade de que os programas de educação moral não estimulem apenas aspectos cognitivos (como o de Blatt & Kohlberg, 1975), mas que sejam, concomitantemente, trabalhados aspectos afetivos relacionados à moralidade. Em relação a essas críticas, alguns métodos de intervenção têm combinado atividades voltadas para a promoção de conflitos sócio-cognitivos com a utilização de jogos de dramatização (Bouchard, 2000) e de narrativas (Verducci, 2000a, 2000b; Vitz, 1990). Dentre os autores que criticam o paradigma cognitivista presente nas teorias de Kohlberg, destaca-se Martin L. Hoffman. Hoffman (1990), assim como Kohlberg, parte de uma perspectiva desenvolvimentista e defende a existência de estágios de desenvolvimento cognitivo e afetivo. Segundo Hoffman, a cognição tem um papel muito importante para a construção das noções morais. Contudo, para ele, é a afetividade, por meio da empatia, que mobiliza o indivíduo para atuar moralmente e para se engajar em comportamentos pró-sociais. No Brasil, o campo de pesquisas sobre o desenvolvimento moral é bastante amplo e alguns trabalhos têm demonstrado a relação entre empatia e moralidade (Camino, Camino & Leyens, 1996; Sampaio, Monte, Camino & Roazzi, 2008), mas a transposição desses achados para programas kohlberguianos de intervenção ainda não se efetuou, conforme revisão bibliográfica realizada no presente trabalho. Considerando essa lacuna é que a presente tese encontra sua principal justificativa. Além disso, esta tese dá continuidade às pesquisas que foram desenvolvidos no Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Sócio-Moral (NPDSM/UFPB) (Dias, 1992; Lins & Camino, 1993; Rique & Camino, 1997) e, de maneira mais direta, aos estudos realizados por Camino, Camino e Leyens (1996) e Sampaio, Monte, Camino e Roazzi (2008), que encontraram, conforme já foi pontuado, relação entre empatia e moralidade. 20 Mais precisamente, esta tese tem como objetivo primordial verificar se existem diferenças entre os efeitos de uma técnica de intervenção “racional-discursiva” e uma técnica “racional-afetiva”, na qual, além de serem utilizados os procedimentos elaborados por Blatt e Kohlberg (1975), é estimulado o desenvolvimento da empatia, para a promoção do desenvolvimento moral. Além desse objetivo, foram estabelecidos objetivos intermediários relativos à elaboração e à validação de dois instrumentos: Dilemas da Vida Real e Escala de Empatia focada em Grupos. Tendo em vista a concretização desses objetivos, esta tese está estruturada em sete capítulos. O primeiro será consagrado à discussão teórica da idéia de moral, dando-se ênfase às teorias de Piaget e Kohlberg, e à apresentação de pesquisas realizadas acerca dessa temática. O segundo será destinado ao debate teórico sobre a empatia, dando-se destaque à teoria de Martin Hoffman e à apresentação dos trabalhos empíricos sobre o referido tema. O terceiro capítulo procurará relacionar, teórica e empiricamente, as idéias acerca da moral e da empatia. O quarto descreverá um estudo referente à construção dos instrumentos denominados Dilemas da Vida Real e Escala de Empatia focada em Grupos. O quinto será voltado para validação desses instrumentos. O sexto capítulo será dedicado a prática de intervenção moral. Por sua vez, o último capítulo destina-se a uma discussão geral dos resultados encontrados frente à revisão da literatura apresentada. 21 CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO MORAL 22 Ser “moral” implica pensar nos outros, em qualquer outro, na humanidade... Ser “moral” implica ter vontade: querer e raciocinar além do próprio eu... Ser “moral” implica, às vezes, perder vantagens imediatas para si, em prol de outros que nunca conheceremos... Às vezes, implica até sermos revolucionários, sermos contrários as leis que nos humilham, as leis que nos tornam submissos, sem dignidade... Kant Muitos dos episódios de violência, veiculados pela mídia, que revelam ações desumanas levam o senso comum, assim como a comunidade acadêmica, a refletir acerca da moral humana. Na realidade, a preocupação com a moralidade humana não se restringe à época atual. Este é um debate antigo, que permeia as reflexões de muitos filósofos, psicólogos, sociólogos e pedagogos, entre outros que tentam compreender o ser humano. Dentre os autores que se debruçaram sobre a questão da moralidade, destacar-se-á, neste capítulo, Piaget e Kohlberg. O primeiro por ser considerado aquele que desencadeou uma série de estudos sobre a moralidade dentro do enfoque cognitivista-construtivista, e o segundo por ser considerado o autor que mais influenciou, a partir de 1970, os estudos em Psicologia do desenvolvimento moral. Contudo, antes da apresentação dos referidos autores, considera-se relevante fazer um breve percurso histórico sobre a noção de moralidade. 1.1. Breve percurso histórico sobre a noção de moral A palavra moral tem sua origem no latim mos, moris, que significa "maneira de se comportar regulada" e de moralis, morale, adjetivo que se refere ao que é "relativo aos costumes" (Vázquez, 2002). A moral é definida, no dicionário Aurélio, como um “conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada (...)” (Ferreira, 2005, p. 604). Todavia, como se sabe, a definição do que é moral não é algo fácil. Trata-se de um conceito que, no decorrer 23 da história, sofreu variações em conformidade com o tempo, o local e os autores que o elaboraram. Conforme comentam Aranha e Martins (1993), as primeiras reflexões sobre a moral foram sistematizadas pelos filósofos gregos, que defendiam uma concepção moral reflexiva, estabelecida a partir de convenções humanas, independente de crença religiosa e baseada no pressuposto de que a moral são virtudes passíveis de serem alcançadas quando o homem é ou torna-se sábio. Na Psicologia, o estudo da moralidade começou a se destacar recentemente, se comparado ao de outras áreas de conhecimento. A preocupação com os problemas morais está presente na obra de Freud desde o primeiro momento. Para Freud, a moral é vista, sobretudo, como elaborada durante o desenvolvimento filogenético e o desenvolvimento ontogenético. Nos Três ensaios sobre a sexualidade (Freud, 1905/1976), Freud focaliza a censura moral por meio de mecanismos de inibição, considerados também como barreiras e defesas. Esses mecanismos impediriam a criança de realizar suas pulsões sexuais parciais, quando a satisfação dessas pulsões pudesse vir a causar mais desprazer do que prazer. Com o desenvolvimento de sua teoria, ao retornar a questão moral, Freud (1923/1976) introduz a idéia de superego para explicar a forma como as pessoas passam a controlar as suas pulsões. O superego emerge para resolução do Complexo de Édipo. No final do período fálico, quando frente ao desejo da criança de ter a sua mãe e frente à percepção de que a figura paterna é um obstáculo para a satisfação desse desejo, surgem na criança sentimentos de hostilidade contra o pai, o desejo de suprimi-lo, e de par com este desejo, emergem medos sobre a forma de uma ameaça de castração. É este conjunto de sentimentos que Freud denominou de Complexo de Édipo. O Complexo de Édipo tende a se intensificar, e, diante das impossibilidades de satisfazer os seus desejos e para evitar o sentimento de medo, a solução encontrada pela criança reside na identificação com o pai, na repressão dos sentimentos e na interiorização das normas adotadas pela figura paterna. Após 24 formado, o superego se apropria dos valores religiosos e sublimes e passa orientar o eu sobre o que deve e não deve ser feito, tendo assim uma função avaliativa. Porém, o superego só se solidifica na adolescência, após a passagem pelo período denominado por Freud de latência. A teoria comportamental apresenta, basicamente, duas vertentes de estudo sobre a moralidade que se destacam: a Teoria da Aprendizagem Social (Bandura, 1969/1979, 1999) e a Análise do Comportamento (Skinner, 1974/1982, 1953/1989). Skinner (1974/1982) atribui a aprendizagem de comportamentos morais às contingências ambientais. Em sua análise, os comportamentos morais são frutos do ambiente e são controlados por regras mantidas sob o domínio de antecedentes verbais, sob a forma de instruções, ou por regras mantidas por suas conseqüências diretas. Bandura (1969/1979), por sua vez, se esquiva dos pressupostos da teoria comportamental clássica e descarta a possibilidade de se poder explicar à aquisição de comportamentos morais apenas a partir do processo de reforçamento, punição e do reflexo condicionado. Nos seus trabalhos ele destaca o papel da imitação na aprendizagem de comportamentos pró-sociais (Bandura & Huston, 1961). Note-se que tanto para a teoria comportamental quanto para a teoria psicanalítica, a moral é vista como algo que vem de fora e que é internalizado. No primeiro caso por intermédio da imitação ou de outras contingências ambientais, no segundo, pela ação do outro na construção do superego. É apenas com o construtivismo de Piaget e com o enfoque kohlberguiano que se ressalta o papel do ser humano como um agente do processo moral, que tem a capacidade de julgar algo como certo e errado. Na análise de Camino e Luna (2005), Piaget e Kohlberg divergem das visões comportamentalista e psicanalítica na medida em que, embora considerem em suas teorias acerca da moral que há um processo interveniente representacional que é aprendido, concebem a aprendizagem de comportamentos morais como algo vinculado à formação das estruturas cognitivas e decorrente de um processo dinâmico pelo qual o sujeito reconstrói 25 internamente suas ações no mundo. As teorias de Piaget e Kohlberg serão apresentadas a seguir, nos tópicos 1.2. e 1.3. 1.2. A perspectiva de Piaget O estudo de Piaget (1932/1994) sobre o desenvolvimento moral pode ser particularmente encontrado em sua obra O julgamento moral na criança. Este texto pode ser entendido como a primeira tentativa de Piaget de submeter suas idéias sobre a moral a uma verificação empírica. Neste trabalho, o epistemólogo relata pesquisas realizadas com diferentes crianças e adolescentes acerca de suas concepções sobre três aspectos do desenvolvimento moral: as regras morais, o julgamento moral e a noção de justiça. De um modo geral, em todos os aspectos estudados, Piaget observou a evolução de duas grandes estruturas que ontogeneticamente se sucedem na medida em que a criança se torna mais velha e mostra-se menos egocêntrica: a da moral heterônoma e a da moral autônoma. A moral heterônoma, fruto das limitações intelectuais da criança do período da primeira infância e da coação do adulto, caracteriza-se pela obediência e pelo respeito unilateral. Contrariamente, a moral autônoma, produto dos avanços cognitivos, das relações sociais igualitárias e da argumentação racional, típica do início da adolescência, caracteriza-se pela cooperação e pelo respeito recíproco. No que se refere às regras, Piaget (1932/1994), a partir da observação de como as crianças jogam e de perguntas feitas no curso de jogos espontâneos (como o de bolinhas de gude), dirigiu suas constatações no sentido de explicar de que forma as crianças se ajustam às regras (ou seja, como as praticam) e de que forma adquirem consciência e domínio dessas regras (Piaget, 1932/1994). Em relação à prática das regras, Piaget identificou quatro estágios: 26 (1) no primeiro estágio (0-2 anos), identificado como estágio motor, as crianças não fazem uso das regras e se detêm a uma manipulação motora e individual do objeto da brincadeira; (2) no segundo estágio (2-5 anos), denominado de egocêntrico, as crianças aceitam as regras apresentadas e jogam imitando o exemplo, porém ainda jogam para si, mesmo quando em grupo, e utilizam as regras individualmente; (3) no terceiro estágio (a partir dos 7/8 anos), identificado como o estágio da cooperação nascente, as crianças procuram vencer o outro, o que promove a necessidade de sistematização da regra, mas, ainda prevalece uma diferenciação considerável no que se refere à informação de qual é a regra geral do jogo; (4) no quarto estágio (a partir dos 11/12 anos), compreendido como o estágio da codificação das regras, as regras são definidas e entendidas de forma detalhada por todos os jogadores, pois agora as regras fazem parte da sociedade. Quanto à consciência das regras, Piaget identificou três: (1) no primeiro estágio, a criança ao brincar não manifesta noção de regra ou consciência moral, e depende simplesmente da regularidade motriz, fundamentadas nos gestos de repetição imitativa; (2) no segundo estágio, a regra é considerada como sagrada e imutável, de origem adulta e de essência eterna e, nesse sentido, toda modificação proposta é considerada pela criança como uma transgressão; (3) no terceiro estágio, a regra é considerada como uma lei imposta pelo consentimento mútuo, cujo respeito é obrigatório, mas, nesse caso, existe uma permissividade de mudança da regra, desde que haja consenso. Note-se que, utilizando a lógica das estruturas ontogenéticas de heteronomia e de autonomia, na transição de um estágio para o outro, a criança faz um percurso que a conduz de uma amoralidade, passando por uma heteronomia moral até chegar à desejada autonomia moral. A partir das respostas das crianças a dilemas morais, Piaget teorizou acerca do julgamento moral. Nesse caso, ele apresentou uma série de histórias hipotéticas que descreviam ações em termos de intenções antagônicas (boas ou más), associados às conseqüências menos graves para a intenção má. Ao analisar as respostas das crianças, Piaget 27 distinguiu dois tipos de julgamentos: julgamento pelas conseqüências (responsabilidade objetiva) e julgamento pelas intenções (responsabilidade subjetiva). O primeiro é típico de crianças mais novas que avaliam os atos pelas suas conseqüências, e não por sua intenção. Para essas, quanto maior o “estrago” da ação, maior será a responsabilidade do agente, mesmo que seja de forma não intencional, pois o mais importante é obedecer aos mais velhos, ser agradável e ser aceita por eles. O segundo é fruto da descentração cognitiva, quando a criança começa a perceber a intencionalidade dos atos e dá-se conta das conseqüências distintas que as ações possuem. No julgamento pelas intenções, o que importa não é o tamanho do “estrago” da ação, mas o fato da pessoa ter tido ou não intenção de causar um dano. Note-se que subjacente a esses dois tipos de julgamentos estão, respectivamente, as estruturas ontológicas de heteronomia e de autonomia. No que tange a noção de justiça, Piaget, por meio de dilemas morais que problematizam a questão do que é uma sanção justa e do que é uma distribuição justa, destacou três tipos: a justiça imanente, a justiça retributiva e a justiça distributiva. A primeira, a justiça imanente, baseia-se no princípio de que as regras devem ser acatadas e obedecidas simplesmente por serem regras e, além disso, desobedecê-las pode acarretar acidentes físicos ou problemas desagradáveis, determinados por Deus ou por uma autoridade. A segunda, a justiça retributiva, está relacionada à idéia de sanção, em que o ato deve ser corrigido com uma punição. Na justiça retributiva, há dois tipos de sansões, a expiatória, que está relacionada à coação adulta e a proporcionalidade entre o sofrimento imposto e a gravidade da falta, e a por reciprocidade, que é mais desenvolvida e tem por objetivo fazer com que o indivíduo compreenda o significado da falta. No que se refere à justiça distributiva, os estudos de Piaget revelaram a existência de três períodos evolutivos: no primeiro período, a criança fundamenta seu julgamento distributivo no respeito unilateral e na obediência e, dessa forma, considera justa uma distribuição que esteja de acordo com as determinações estabelecidas 28 pelas figuras de autoridade; no segundo período, a criança se guia pelo princípio do igualitarismo absoluto e considera justa uma distribuição em que todos recebam exatamente o mesmo benefício ou punição; no terceiro período, por sua vez, a criança baseia seu julgamento distributivo no princípio da eqüidade, o que significa dizer que nesse período existe uma ponderação das condições e características individuais das pessoas que se beneficiarão com a distribuição. Complementando as idéias empíricas e teóricas contidas no livro O Julgamento moral na criança, Piaget escreveu, também, Os procedimentos de educação moral (1930/1996), O espírito de solidariedade e a colaboração internacional (1931/1998), É possível uma educação para a paz? (1934a/1998), Observações psicológicas sobre o self-government (1934b/1998), A educação da liberdade (1945/1998), entre outros. Nesses textos ele realiza discussões acerca do papel da cooperação, da reciprocidade e da moral autônoma, relacionando esses conceitos à questão da educação moral. Neste sentido, esses trabalhos serão apresentados no tópico 1.6., que se dedica à explanação do tema educação moral. 1.3. A perspectiva de Kohlberg Lawrence Kohlberg, psicólogo estadunidense, contemporâneo de Piaget, se dedicou a estudar o desenvolvimento moral, retomando e aperfeiçoando, conforme relata o próprio Kohlberg (1969), a idéia de justiça de Sócrates e Platão e as teorias cognitivodesenvolvimentistas de Baldwin (1906, citado por Kohlberg, 1969), Dewey (1930, citado por Kohlberg, 1969), Mead (1934, citado por Kohlberg, 1969), Piaget (1948/1998) e Loenvinger (1966, citado por Kohlberg, 1969). 29 Kohlberg, em sua tese de doutorado, realizou estudos longitudinais nos Estados Unidos, utilizando-se de dilemas morais, nos quais solicitava aos participantes que apontassem soluções para os dilemas e justificassem suas respostas. De um modo geral, os dilemas expunham os entrevistados a situações limites, o que remetia a profundas dúvidas sobre a opção mais correta que se deveria tomar. A título de ilustração, segue-se o dilema do Prisioneiro Foragido, que será utilizado no segundo e terceiro estudos na presente tese de doutorado. É importante registrar que o dilema do Prisioneiro Foragido compõe o Moral Judgment Interview (MJI), instrumento criado por Kohlberg (1964), e foi utilizado por Rest (1975) como um dos seis dilemas constituintes do instrumento denominado Defining Issues Test (DIT). Um homem foi condenado à prisão por dez anos. Depois de um ano, porém, ele fugiu da cadeia, mudou-se para uma região nova do país, e tomou o nome de Simões. Durante oito anos ele trabalhou duro, tanto que conseguiu economizar dinheiro suficiente para ter seu próprio negócio. Ele era muito gentil com seus fregueses, pagava altos salários a seus empregados e dava muito dos seus lucros pessoais para obras de caridade. Um certo dia, dona Cida, uma velha vizinha, reconheceu-o como o homem que tinha fugido da prisão, e a quem a polícia estava procurando. Dona Cida deveria entregar o Sr. Simões à Polícia? Por que? (tradução de Camino & Luna, 1989). Kohlberg, após análise dos dados de suas pesquisas, desdobra as fases preconizadas por Piaget em três níveis de julgamento moral, denominados pré-convencional, convencional e pós-convencional. Esses níveis, por sua vez, foram subdivididos, por ele, em seis estágios, conforme será apresentado a seguir. O nível pré-convencional, onde se situam os estágios 1 e 2, corresponde à perspectiva sócio-moral individual concreta. Para os integrantes deste nível, as regras são externas ao eu. Não existe ainda a percepção convencional das regras. Estariam neste nível moral a maioria das crianças até os nove anos de idade, alguns adolescentes e muitos adolescentes e adultos criminosos (Colby & Kohlberg, 1984). O estágio 1, denominado por Colby e Kohlberg (1987) de moralidade heterônoma, é caracterizado pela obediência às regras e à autoridade – o certo é evitar infringir as regras, 30 obedecer por obedecer e evitar causar danos físicos a pessoas e propriedades. Isto é, o que define se algo está certo ou errado é a autoridade, não a cooperação entre iguais. É neste sentido que Kohlberg (1981), em uma edição anterior, define o estágio 1, como o estágio de orientação à obediência. Há, também, neste estágio, uma perspectiva egocêntrica, pois o sujeito não considera o interesse dos outros ou não reconhece que o ponto de vista deles difere do seu. O estágio 2, por sua vez, denominado de moralidade individualista instrumental ou orientação relativista instrumental (Kohlberg, 1981), caracteriza-se por uma perspectiva individualista concreta, onde o certo é agir para satisfazer os interesses e necessidades próprias e deixar que os outros façam o mesmo, ou ainda, o certo é uma troca igual, uma transação, um acordo. No nível convencional, que abarca os estágios 3 e 4, o justo e o injusto não se confundem mais com o que leva à recompensa ou ao castigo. Este nível se caracteriza pela conformidade às normas sociais e morais vigentes. Neste caso, o eu se identifica com as expectativas dos outros e há consciência e respeito quanto à convencionalidade das regras, já internalizadas, vistas como necessárias e decorrentes das relações de cooperação. Assim, o indivíduo que está no nível de moralidade convencional é aquele que procura viver conforme as regras estabelecidas, com o que é socialmente aceito e compartilhado pela maioria, respeitando a ordem estabelecida. Portanto, há uma tendência a agir de modo a ser bem visto aos olhos dos outros. É o nível da maioria dos adolescentes e adultos da sociedade norteamericana (Colby & Kohlberg, 1984) e de outras sociedades, inclusive a brasileira (Biaggio, 1976). O estágio 3 do nível convencional corresponde à moralidade normativa interpessoal, para a qual as expectativas familiares ou do grupo é que contam. Existe, neste caso, uma preocupação em desempenhar o papel de uma pessoa boa (amável), preocupar-se com os 31 outros e seus sentimentos, ser leal e manter a confiança dos parceiros, estar motivado a seguir as regras e expectativas. Nesse estágio, o indivíduo tem a necessidade de ser bom e correto aos seus olhos e aos olhos dos outros, é o estágio da regra de ouro: aja com os outros como gostaria que eles agissem com você. O estágio 4 é o da moralidade do sistema social, que já foi denominado por Kohlberg (1981) de orientação da manutenção social. O sujeito busca fazer seu dever na sociedade, apoiar a ordem social, manter o bem-estar da sociedade ou do grupo; ademais, valoriza o cumprimento dos deveres com os quais concordou e apóia as leis. Finalmente, no nível pós-convencional, que inclui os estágios 5 e 6, o indivíduo diferencia o eu das regras e expectativas dos outros e define seus valores em função dos princípios que internalizou. Este nível é alcançado, conforme cita Colby e Kohlberg (1984), por uma minoria dos adultos e geralmente só depois dos 20 ou 25 anos de idade. O estágio 5 corresponde à moralidade dos direitos humanos e do bem-estar social, antes denominada orientação do contrato social (Kohlberg, 1981). Neste estágio, o direito, os valores e os contratos sociais básicos de uma sociedade são sustentados, mesmo quando em conflito com regras e leis concretas de um grupo. Há, neste caso, o reconhecimento de que os valores variam de cultura para cultura, mas que existem valores e direitos não relativos como os direitos à vida e à liberdade que devem ser defendidos sempre. Nesta ótica, pode-se dizer que o sujeito valoriza o ponto de vista da lei, mas sempre conta com a possibilidade de mudar a lei em função de considerações racionais ou de utilidade social. Quando não há lei, a obrigação é definida pela livre concordância ou pelo contrato entre as partes. O estágio 6 corresponde à moralidade dos princípios éticos gerais, universalizáveis, reversíveis e prescritivos, antes denominada orientação do princípio ético universal (Kohlberg, 1981). Sua perspectiva é o princípio ético universal de justiça que engloba os seguintes conceitos: dignidade inviolável da humanidade, liberdade, solidariedade e 32 igualdade. Quanto as Leis, elas são válidas se seguirem estes princípios; se os violarem, não se deve obedecê-las, pois o princípio é superior à lei; os princípios têm validade independentemente da autoridade de grupos ou pessoas que os sustentem, bem como da identificação do sujeito com tais pessoas e grupos. Neste caso, o certo é definido por uma decisão de consciência (autônoma, racional, lógica e coerente) e o que conta são princípios éticos abstratos, não regras morais concretas. É importante registrar que Kohlberg, Levine e Hewer (1983) questionaram a existência do estágio 6, quando eles verificaram a ausência de evidências empíricas que comprovassem sua existência; por outro lado, eles justificaram a necessidade de continuar a postulá-lo enquanto construto teórico por percebê-lo como um estágio final. Os estágios morais preconizados por Kohlberg estão resumidos no Quadro 1. Quadro 1. Estágios de desenvolvimento moral de Kohlberg Estágio 1 Moral heterônoma Estágio 2 Propósito instrumental e troca NÍVEL I: PRÉ-CONVENCIONAL Evitar quebrar normas com base na punição e na obediência e evitar danos físicos às pessoas e à propriedade. Seguir normas apenas quando for de interesse imediato de alguém; agir para satisfazer seus próprios interesses e necessidades e deixar que os outros façam o mesmo. NÍVEL II: CONVENCIONAL Estágio 3 Expectativas interpessoais mútuas Pôr em prática o que é esperado pelas pessoas próximas a você ou o que as pessoas geralmente esperam das outras em seus papéis de filho, irmão, amigo etc. “Ser bom” significa manter relações mútuas, tais como confiança, lealdade, respeito e gratidão. Estágio 4 Ordem social Estágio 5 Acordo social e consenso Estágio 6 Princípios éticos universais Cumprir os deveres reais com os quais você pactuou. As leis devem ser mantidas, exceto em casos extremos onde elas entrem em conflito com outros deveres sociais estabelecidos. NIVEL III: PÓS-CONVENCIONAL Manter as normas relativas aos grupos, quando provenientes de um contrato social. Valores não-relativos e corretos, como a vida e a liberdade, entretanto, deveriam ser mantidos em qualquer sociedade indiferentemente da opinião da maioria. Seguir princípios éticos auto-escolhidos. Quando as leis violam estes princípios, a pessoa deste estágio age de acordo com o princípio. Os princípios são universais de justiça: a igualdade dos direitos humanos e o respeito pela dignidade dos seres humanos como pessoas individuais. Nota: Adaptado de Kohlberg (1976, citado por Lickona, 1976) 33 Sobre os estágios morais, Kohlberg ainda afirma que a seqüência dos mesmos aparece em todas as culturas, o que tem sido confirmado em pesquisas realizadas por Colby e Kohlberg (1984) e em uma revisão, realizada por Snarey (1985), de mais de 40 pesquisas referentes a 27 culturas, que dão evidência para a noção de que a seqüência de estágios se mantém nas várias culturas, com algumas nuances, atribuídas a fatores culturais, mas que não ameaçam a idéia de universalidade defendida por Kohlberg. Além da idéia do universalismo dos estágios, Kohlberg (1969), com base nos pressupostos de Piaget (1960, citado por Kohlberg, 1969) acerca do desenvolvimento cognitivo e em suas pesquisas realizadas entre 1958 e 1978, sustenta as seguintes afirmações acerca dos estágios: (1) o desenvolvimento cognitivo (pensamento lógico) é condição necessária, ainda que não suficiente, para o desenvolvimento moral; (2) o desenvolvimento envolve transformações das estruturas cognitivas; (3) as transformações das estruturas são resultados de interações entre o sujeito e o meio ambiente; (4) as estruturas desenvolvem-se mediante um processo de equilibração; (5) a justiça é a essência do desenvolvimento moral; (6) a seqüência dos estágios morais é hierárquica e invariante; (7) pode-se parar em qualquer estágio moral, em qualquer idade, porém o desenvolvimento continua, prossegue a partir do estágio que parou, sem pular ou inverter a ordem dos seguintes; (8) ao atingir o nível mais avançado de organização, o indivíduo prefere agir com base neste nível, o que não significa que o pensamento do estágio anterior desapareceu; (9) as condições sociais, culturais e religiosas não interferem na natureza seqüencial dos estágios, apenas na velocidade com que se evolui e no ponto máximo que se atinge. 34 Note-se que as considerações de Kohlberg pontuadas acima, mais precisamente a idéia de universalidade e de seqüencialidade dos estágios de desenvolvimento moral, ao mesmo tempo em que são um dos pontos mais fundamentais da teoria de Kohlberg, são também as idéias mais criticadas na literatura. No próximo tópico, este debate será retomado com a apresentação de outras perspectivas acerca do desenvolvimento moral. 1.4. Críticas a teoria kohlberguiana Outras perspectivas foram levantadas acerca do desenvolvimento moral, algumas delas pelos próprios orientandos de doutorado de Kohlberg. Esses autores além de acrescentarem e refinarem a teoria kohlberguiana, teceram algumas críticas e contestaram suas idéias. Inicialmente, destacar-se-á Turiel (1983), o primeiro orientando de doutorado de Kohlberg, que discordou da idéia kohlberguiana (1984) de que as pessoas primeiro passam pelo nível pré-convencional (moral heterônoma), para depois atingirem o convencional (internalização das normas sociais), para, só depois, alcançarem o nível pós-convencional (princípios autônomos de consciência). A partir desta crítica Turiel propôs a existência de três domínios, que se desenvolvem paralelamente, desde a infância: o pessoal (aquele em que a escolha não tem implicações sociais nem morais, como o corte de cabelo que uma pessoa adota), o convencional (aquele que se refere às regras sociais arbitrárias, como a maneira de comer com talheres) e o moral (aquele que implica na consideração do bem e do mal da outra pessoa). Na concepção de Turiel (1983), crianças pré-escolares já são capazes de diferenciar meras convenções sociais de princípios morais obrigatórios (semelhante ao que Kohlberg chama de pensamento pós-convencional), conforme este exemplo: derrubar uma criança do 35 balanço é considerado mais grave do que comer com as mãos, mesmo por crianças do maternal. O orientando de Turiel, por sua vez, Larry Nucci, em seus estudos (Nucci, Camino & Sapiro, 1996; Nucci, Turiel & Encarnación-Gawrich, 1983) apoiou as idéias de Turiel e constatou que a distinção entre convenção e moralidade aparece desde cedo nas mais diferentes culturas, segundo resultados encontrados em mais de 50 estudos desenvolvidos desde 1975 (Nucci, 2001). Essas pesquisas indicaram que tanto crianças, como adolescentes e adultos tratam violações da moralidade, tais como causar mal a outra pessoa, como erradas, independente de existir uma norma estabelecida. Note-se que esta distinção entre moralidade e convenção foi obtida no Brasil (Nucci, Camino & Sapiro, 1996), assim como nas Ilhas Virgens (Nucci, Turiel & Encarnación-Gawrich, 1983), Índia, Israel, Coréia, Nigéria, Zâmbia, dentre outros contextos culturais (Nucci, 2001). O antropólogo Richard Shweder, juntamente com seus colaboradores (Shweder, Mahapatra & Miller, 1987), analisando a questão da cultura de uma perspectiva oposta a dos kohlberguianos e neokohlberguianos, ressalta que as diferenças culturais explicam maior variância do que os domínios de Turiel ou os estágios de Kohlberg, argumentando que encontrou evidências que os participantes indianos não distinguem transgressões convencionais das morais: considera-se tão grave uma viúva comer peixe quanto machucar uma criança, empurrando-a do balanço. Apoiando esses resultados, Haidt, Koller e Dias (1993), usando histórias como a de uma família que come o seu cachorro de estimação, depois que o cão foi morto por um carro, constataram que o julgamento moral varia em função da cultura. Contudo, de forma surpreendente, as diferenças culturais entre as classes sociais dentro de cada país foram maiores do que as diferenças entre os países (EUA x Brasil). A respeito da crítica do antropólogo e seus colaboradores, Kohlberg, Levine e Hewer (1983) a rebatem afirmando que apesar das aparentes diferenças culturais, a moral possui uma mesma 36 base racional, revelada em diferentes estudos realizados em várias culturas, nos quais se verificou a ordem invariante e progressiva dos estágios morais. Simpson (1974, citado por Kohlberg, Levine & Hewer, 1983), por sua vez, critica a teoria kohlberguiana nos seguintes aspectos: (1) a falta de evidência empírica para comprovar a seqüência de estágios em várias culturas; (2) a ausência dos estágios 5 e 6 nas culturas orientais; (3) a possibilidade dos estágios 5 e 6 não refletirem uma estrutura do pensamento, mas sim uma sofisticação lingüística; e (4) a possibilidade de ocorrerem falhas de avaliação pelo fato do conteúdo de dilemas morais não serem familiares aos sujeitos testados e não provocarem o conflito esperado. Em relação a essas críticas, Kohlberg et al. (1983) defendemse afirmando que: os estágios 5 e 6 não precisam ser e não são culturalmente universais; o fato de não atingir o pensamento pós-convencional também é observado na cultura ocidental; o estágio 5 também foi encontrado em vários países orientais. Sobre a crítica da linguagem sofisticada atrelada ao pensamento pós-convencional, Kohlberg et al. (1983) comentam que o sistema de avaliação aberto não exclui respostas simples sem sofisticação lingüística, desde que se enquadre no pensamento pós-convencional. Em relação à crítica sobre a nãofamiliaridade do conteúdo de dilemas morais, Kohlberg et al. (1983) rebatem dizendo que em pesquisas transculturais foram realizadas adaptações dos dilemas. Sullivan (1977, citado por Kohlberg, Levine & Hewer, 1983) também aponta uma série de críticas à teoria kohlberguiana, dentre as quais dar-se-á destaque a apenas uma que está mais diretamente relacionada a presente tese: a teoria é insuficiente por não considerar fatores como emoção e imaginação moral. Em relação a esta crítica, Kohlberg et al. (1983), consideram-na construtiva e afirmam concordar com Sullivan sobre o papel dos processos afetivos na construção do julgamento moral, devendo, neste sentido, ser ampliada para estudos que contemplem aspectos afetivos. 37 Também criticando a negligência da teoria de Kohlberg em relação às questões afetivas, Hoffman (1991) chama a atenção para a necessidade de incorporar a motivação e a empatia na análise de questões morais. Embora ele não negue que a reflexão também esteja presente no processo de deliberação moral, em sua perspectiva, é a motivação e a empatia que determinam, em muitos casos, como o indivíduo deve agir em situações da vida real. Apoiando a defesa de Sullivan e Hoffman sobre o papel da afetividade no desenvolvimento moral, Camino (2009) considera oportuno o questionamento sobre a ausência de componentes afetivos na avaliação do raciocínio moral. De acordo com essa autora, mesmo que o interesse maior seja a análise do raciocínio, não se pode esquecer a influência da afetividade sobre o julgamento moral – o que já foi encontrado em estudos empíricos (Camino, Camino & Leyens, 1996; Sampaio, Monte, Camino & Roazzi, 2008). Também fundamentada em pesquisas realizadas sob sua orientação, Camino (2009) critica a idéia do avanço do pensamento moral de um estágio para outro, defendido por Kohlberg (1969). Em estudos realizados por Camino e colaboradores (Lins & Camino, 1993; Rique & Camino, 2007), contrariando a teoria kohlberguiana, os autores observaram, por intermédio da educação moral, que era possível, durante o período de um ano, que adolescentes e jovens adultos avançassem mais de dois estágios de desenvolvimento moral. Gilligan (1982), por sua vez, fazendo uma análise dos estágios morais kohlberguianos em função do gênero, põe em cheque a questão do universalismo da teoria kohlberguiana. Na sua perspectiva, os homens tendem a ver a moralidade como uma questão de justiça, baseada em princípios abstratos e raciocínios que permitem tratar todos os indivíduos justamente, e as mulheres vêem a moralidade em termos da compaixão, das relações humanas e das responsabilidades especiais para com aqueles a quem se estima. Na leitura de Gilligan (1982) não se pode falar em mais ou menos moral, mas em morais diferentes. Ademais, Gilligan destaca críticas metodológicas que levaram a dados empíricos que demonstraram 38 equivocadamente a superioridade do pensamento moral masculino. Sobre as críticas teóricas da autora, Kohlberg, Levine e Hewer (1983) julgam pertinente sua ponderação acerca de uma outra orientação moral voltada para o cuidado, típica das mulheres, contudo, eles rebatem sua crítica metodológica, lembrando que: (1) foram realizados outros estudos em que se incluiu a amostra feminina; e (2) foram realizadas reformulações no sistema de avaliação do MJI, no sentido de priorizar o raciocínio moral e não seu conteúdo. Para finalizar, tem-se James Rest, o autor de um dos instrumentos que será utilizado nesta tese – Defining Issues Test (DIT). Rest (1976) levanta algumas críticas a teoria kohlberguiana da moral, dentre as quais destaca-se aqui a referente ao desenvolvimento moral, defendido por Kohlberg como ocorrendo em uma seqüência invariante de estágios sucessivos, sem mistura de estágios. Em lugar da seqüência hierarquizada de estágios puros, Rest (1976) preconiza uma seqüência formada por um estágio dominante e outros estágios adjacentes. Em relação a essa seqüência, Rest, Navaez e Thoma (1999) apresentam evidências empíricas, a partir de uma amostra de 45.800 participantes, usando o instrumento DIT. Além dessas evidências, as pesquisas com o DIT revelaram que: (1) o pensamento pós-convencional existe; (2) o DIT se estrutura em três fatores, coerentes com a teoria kohlberguiana – interesse pessoal, manutenção das normas e pensamento pós-convencional; (3) estudos transculturais revelam que o pensamento pós-convencional não é uma exclusividade das elites acadêmicas ocidentais; (4) estudos de intervenção comprovam a ontogênese para cima. Até o presente momento, foi apresentado um breve percurso historio sobre a noção de moral, dando destaque as teorias de Piaget e Kohlberg, bem como as sugestões e críticas à teoria kohlberguiana. Nas próximas seções serão apresentados e discutidos tópicos mais relacionados ao plano empírico, dando-se destaque a avaliação no campo da moralidade e a educação moral. 39 1.5. A avaliação no campo da moralidade e estudos empíricos A psicologia moral, graças à preocupação com a verificação empírica dos fenômenos, tem contribuído para a elaboração de uma série de instrumentos de avaliação, o que permite, na análise de Cronbach (1996), que a psicologia moral não seja apenas uma filosofia introspectiva do componente psicológico do fenômeno moral. O primeiro estudo da moralidade foi atribuído a Osborne (1894, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991), que, com o objetivo de descobrir o conhecimento ético de crianças, utilizou um questionário semi-estruturado que pedia aos participantes que indicassem que ações deveriam ter uma criança com a finalidade de ser chamada boa ou má. Os resultados indicaram que as normas eram mais importantes para avaliar o bem e o mal do que qualquer outro critério específico e a obediência e a verdade eram os aspectos mais salientes do sistema ético das crianças. Quatro anos depois, Sharp (1898, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991) publicou um estudo que tinha por finalidade introduzir um método objetivo para estudar os problemas morais. O instrumento proposto por Sharp era composto por dez situações hipotéticas que buscavam avaliar crenças morais, conforme a exemplificada a seguir: Há alguns anos, em um descarrilamento de trem, uma senhora caiu entre os escombros de modo que foi impossível escapar. Seu marido, que podia ter saído com um certo esforço, decidiu deliberadamente permanecer junto a sua esposa e morreu com ela, para ajudá-la e darlhe consolo mediante sua presença nos seus últimos momentos. Ela, como supomos, não era consciente da possibilidade de seu marido poder escapar, de outro modo não teria aceitado a sua presença (Sharp, 1898, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991). Neste instrumento, Sharp (1898, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991) manipulava os determinantes motivacionais da ação, mediante proposições, e pedia que os participantes contestassem os problemas morais implicados e justificassem seus posicionamentos. No caso exemplificado, eram apresentadas proposições do tipo: “Se o 40 marido fosse um cientista, consciente de que estava a ponto de solucionar o problema do telégrafo elétrico”; “Se o marido fosse um artista de talento excepcional”. Após a apresentação desses dois estudos clássicos que antecederam 1900, pode-se organizar, segundo Escrivã, Pérez-Delgado e Brotons (1991), os estudos acerca do fenômeno moral em três grandes períodos, de acordo com o uso predominante de um tipo de instrumento. O primeiro período, que vai de 1900 a 1930, se caracteriza pelo predomínio do uso de instrumentos do tipo lápis e papel, voltados para diferenciar crianças e adolescentes “normais” de crianças e adolescentes com tendências delitivas (Brotemarkle, 1922; Fernald, 1912; Kohs, 1922; Lowe & Shimberg, 1925; Maller, 1944; Pressey & Pressey, 1919). O segundo período, que vai de 1930 a 1950, se caracteriza por um debate mais teórico acerca do tema e, de forma paralela, ressalta uma mudança no tipo de instrumento utilizado nas pesquisas. A publicação do livro O juízo moral da criança (Piaget, 1932/1994) reflete bem este período de teorização acerca das questões morais e de ascensão de novos instrumentos de pesquisa: enquanto os instrumentos do tipo lápis e papel se fixavam no conteúdo dos pensamentos morais, Piaget se focou em como se forma este pensamento e, para tanto, fez uso de entrevistas clínicas. Tem-se também, nesta fase, a introdução do tema moralidade no contexto dos modelos psicanalíticos e neoconductivistas, que não buscavam diferenças, como no período anterior, entre delinqüentes e não delinqüentes, procuravam, na verdade, estudar e avaliar a personalidade dos sujeitos “normais” (Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991). O terceiro período (1950 a 1960) é caracterizado pelo uso de técnicas projetivas, especificamente criadas para medir dimensões morais relevantes para a compreensão do desenvolvimento do superego e da internalização das normas. Para ilustrar esta técnica, temse o estudo de Allinsmith e Greening (1955), no qual se pedia aos participantes que 41 terminassem uma história que incluía a violação de proibições sociais contra a agressão. Outra técnica para medir o superego é o IES (Id, Ego e Superego), que inclui quatro sub-testes semiprojetivos. Nas décadas de 60 e 70 houve, segundo Camino (1979), o predomínio de enfoques teóricos e estudos empíricos vinculados as visões behavioristas e da teoria da aprendizagem, destacando-se aqui Eysenck (1960, citado por Camino, 1979), Aronfreid (1965, 1968, citado por Camino, 1979), Bandura (1969/1979) e Ross (1975, citado por Camino, 1979), que utilizavam para avaliar a moral, sobretudo, observações em situação de laboratório. Apenas a partir da década de 80, com a maior divulgação da teoria kohlberguiana que havia, na verdade, iniciado na década de 50, que começaram a ganhar relevo os instrumentos de medida do desenvolvimento do raciocínio moral. De acordo com um levantamento realizado por Díez-Calatrava (1989, citado por Escrivã, Pérez-Delgado & Brotons, 1991), no período de 1981-1985, destacaram-se o Defining Issues Test (DIT) de Rest (utilizado em 31 dos 103 estudos analisados) e o Moral Judgment Interview (MJI) de Kohlberg (utilizado em 16 dos 103 estudos analisados). Ainda se destacou, nesse período, entre os instrumentos de avaliação do raciocínio moral, o Sociomoral Reflection Objective Measure (SROM) de Gibbs et al. (1984). O MJI é um instrumento criado para avaliar a estrutura do pensamento moral e é apresentado por Colby e Kohlberg (1987) de três formas paralelas: A, B e C. Cada uma dessas formas é constituída por três dilemas hipotéticos que colocam o entrevistado frente à escolha de valores conflitantes. Os dilemas são seguidos por nove a doze questões que procuram obter justificativas morais aos dilemas. No Brasil, esses dilemas foram adaptados por Biaggio (1975, citado por Biaggio, 2002). O DIT, um dos instrumentos que será utilizado na presente tese, é um instrumento objetivo, que operacionaliza os estágios 2, 3, 4, 5 e 6 da tipologia kohlberguiana. Ele é 42 composto por seis dilemas, sendo três retirados do MJI: O dilema de Heinz, o do Médico e o do Prisioneiro Foragido, e três retirados da dissertação de mestrado de Lockwood (1970, citado por Rest 1983): A ocupação pelos estudantes, O proprietários da oficina e O jornalzinho. Para cada dilema, o participante deve: (1) emitir um juízo geral sobre o que deveria ser feito em relação ao dilema avaliado; (2) assinalar a importância que concede a cada uma das 12 proposições que são apresentas para resolução do problema; e (3) eleger as quatro proposições que ele considera mais importante das 12 avaliadas anteriormente. É importante dizer que o DIT não é um instrumento para avaliar a estrutura do pensamento moral, mas sim seu conteúdo – mais precisamente, a preferência das pessoas por determinados pensamentos. Rest (1975) justificou a importância de seu instrumento dizendo que as pessoas, quando estão diante de um dilema moral, procuram a opinião do outro, em lugar de atuarem com base em seus próprios julgamentos. A validade e fidedignidade do DIT foram calculadas com uma amostra de 45856 participantes entre 1986 e 1993, sendo constatado, de acordo com o que pontuaram Rest e cols. (1999): confiabilidade comprovada, mediante a observância dos índices de consistência interna apropriados e dos resultados de teste-reteste e dos resultados no Guttman; diferenciação de grupos em relação a medidas mais altas ou mais baixas de julgamento moral, merecendo destaque as diferenças encontradas em função da variável nível educacional; uma mudança significativa ascendente em estudos longitudinais; sensibilidade em intervenções direcionadas à Educação moral, com pré e pós testes; correlações positivas entre os escores do DIT com outras medidas de julgamento moral; correlações entre os escores do DIT com medidas de comportamento pró-social ou anti-social e com atitudes de escolhas políticas. No Brasil, o DIT foi traduzido e adaptado por Bulzneck (1975) e reformulado por Camino e Luna (1989). Na atualidade já existe uma versão mais atualizada do DIT, denominada DIT-2, de Rest e Navaez (1998), cuja adaptação para o contexto brasileiro foi realizada por Biaggio, 43 Shimizu e Martinez (2001), mas que ainda é pouco utilizada quando comparada a versão original do DIT. O SROM, de John Gibbs, apresenta dois dilemas retirados do MJI, seguidos de perguntas de múltipla escolha, em que cada alternativa corresponde a um estágio de julgamento moral (1-5, pois Gibbs não propôs alternativas relacionadas ao estágio 6, por ser raramente encontrado na população). Este instrumento foi adaptado para o contexto brasileiro por Biaggio (1989, citado por Biaggio, 2002). Biaggio e Barreto (1991), por sua vez, criaram uma versão visual do SROM, tendo em vista atender as necessidades das pessoas mais jovens e com um grau de escolaridade menor. Ao comparar esses três instrumentos (MJI, DIT e SROM), Biaggio (2002) comenta que o DIT é o instrumento que produz os maiores escores, tendo em vista que sua estrutura favorece essa superioridade em relação aos demais: não existem itens de estágio 1, há duas possibilidades de estágio 5 e uma possibilidade de estágio 6 (que inexiste no SROM e é difícil de ser encontrado por meio do MJI). E, o MJI é o instrumento que apresenta menores escores, uma vez que parece ser mais fácil reconhecer um estágio como mais adequado, como se faz no DIT e no SROM, do que produzi-lo por intermédio de uma resposta aberta, como é feito no MJI. Apesar da inegável importância desses três instrumentos (MJI, DIT e SROM) para a avaliação do raciocínio moral, eles são criticados por Yussen (1977) e por Lickona (1978) pelo fato de se centrarem em dilemas hipotéticos ou em situações demasiadamente abstratas. Particularmente Yussen afirma que os dilemas hipotéticos pouco descrevem problemas que as pessoas julgam importantes. Lickona, por sua vez, argumenta que o dilema hipotético é um recurso limitado e superficial, que tem pouca relação com a vida real. Em função dessas e de outras críticas, na presente tese, além de se utilizar o DIT, serão elaborados e utilizados dois dilemas que tratam de temas veiculados pela mídia com personagens reais e conhecidos da 44 população, a saber: o dilema de Sadam Hussein, em que se ressalta a questão da pena de morte e o dilema de João Hélio, em que se problematiza a questão da redução da maioridade penal. A pena de morte foi escolhida por ser um tema moral que tem gerado importantes debates filosóficos (Kant, Hegel e Schopenhauer) e sociopolíticos (Beccaria, 1764/2003; Bobbio, 2004) e por tratar-se de uma medida punitiva cuja aplicabilidade tem sido cogitada pelos poderes legislativos do Brasil. A redução da maioridade penal, apesar de não ter suscitado discussões filosóficas, nem sociopolíticas, é um tema que, no cenário brasileiro, tem despertado a atenção de juristas, políticos e acadêmicos: de um lado, existem aqueles que apóiam a redução da maioridade penal e argumentam, como por exemplo, que é a impunidade que aumenta a criminalidade e, neste sentido, buscam e lutam pela mudança na lei penal brasileira (Campos & Souza, 2007); do outro, existem aqueles que se posicionam contrário à redução e afirmam, por exemplo, que a redução da maioridade penal não diminuirá a violência, pois o problema é social e não jurídico (Monteiro, 2003). Além disso, diante do posicionamento de algumas autoridades brasileiras frente à adoção da pena de morte e da redução da maioridade penal e frente a alguns dados empíricos que mostram uma tendência de parte da população brasileira a se manifestar de forma favorável a adesão dessas medidas (Datafolha, 2006; Galvão, Feitosa, Santos & Camino, 2007; Laranjeiras, 2007; Menin, 2005), julga-se relevante saber como os jovens se posicionam a este respeito. A seguir serão apresentadas pesquisas realizadas com o MJI, com o DIT e com o SROM que procuram demonstrar a validade de alguns dos pressupostos de Kohlberg (1969), como o da universalidade e o da seqüencialidade dos estágios; bem como pesquisas realizadas sobre a pena de morte e redução da maioridade penal; e, finalmente pesquisas que apresentam a relação entre a moral e outras variáveis psicossociais. A maioria dessas pesquisas foi extraída de um levantamento realizado na base de dados do Periódicos Capes, em Junho de 45 2010, tendo como palavra-chave “moral”. Do número significativo de trabalhos encontrados (PsycINFO = 29235, BIREME = 21164 e Scielo Brasil = 523), apenas serão apresentados àqueles que se relacionam de alguma forma com a presente tese; ademais, serão excluídos os estudos que já foram citados ou serão citados em um outro contexto mais pertinente; e, serão incluídos os estudos que se relacionem com este trabalho, mesmo que não estejam indexados na base de dados pesquisada. Kohlberg (1984) realizou uma pesquisa longitudinal, em que os participantes foram testados com 10, 13 e 16 anos, por meio do MJI, entre os anos de 1956 e 1977. Os resultados indicaram que, com exceção de um participante, todos avançaram em seus raciocínios morais, sempre para o estágio adjacente, não havendo pulo de estágios, o que apoiou a idéia de Kohlberg de seqüencialidade. Kohlberg (1967, citado por Kohlberg, 1969) realizou um estudo transversal com jovens do sexo masculino de três faixas etárias, 10, 13 e 16 anos de diferentes culturas (Taiwan, Grã-Bretanha, México, Yucatán, Turquia e Estados Unidos), utilizando como instrumento o MJI. Os resultados indicaram que as freqüências de respostas aos estágios 3 e 4 aumentaram dos 10 aos 16 anos, havendo, entretanto, algumas nuances em função do país: no México e em Taiwan as freqüências do estágio 3 foram mais elevadas; na Turquia e em Yucatán as do estágio 1, e apenas nos EUA, as freqüências do estágio 5 foram mais altas aos 16 anos. Kohlberg, Snarey e Reimer (1984) relataram uma pesquisa longitudinal com 92 participantes, de 12 a 26 anos, tanto do sexo masculino, quanto do sexo feminino, residentes em um kibutz em Israel, utilizando o MJI. Os resultados dessa pesquisa revelaram que, com a idade, houve avanço em 65,6% dos casos, nenhuma mudança em 28,1% dos casos e regressão em apenas 6,3% dos casos; além disso, os autores também mencionaram que constataram consistência nas respostas dos sujeitos: 94% dos participantes raciocinaram em um só estágio 46 ou em dois adjacentes e 6% incluíram em seus raciocínios três estágios adjacentes. Além disso, esses autores compararam os resultados dessa pesquisa com aqueles obtidos em dois outros kibutz (um nos Estados Unidos e outro na Turquia) por Colby e Kohlberg (1978, citado por Kohlberg et al., 1984) e por Nisan e Kohlberg (1982, citado por Kohlberg et al., 1984), utilizando o MJI. Dessa comparação os autores concluíram que: as freqüências de respostas do estágio 1, 1/2 e 2 desapareciam com o avanço da idade; as freqüências de respostas do estágio 2/3 prevaleciam entre os 13 e 18 anos e diminuíam nas idades mais avançadas; as freqüências de respostas do estágio 3/4 predominavam nas idades dos 16 aos 26 anos; as freqüências de respostas ao estágios 4 e 4/5 aumentavam com a idade, porém foram inferiores as do estágio 3/4; não apareciam freqüência aos estágios 5 e 6. Em um estudo longitudinal, utilizando o MJI, Walker, Gustafson e Hennig (2001) investigaram a transição de um estágio para o outro. Os resultados encontrados comprovaram a existência dos estágios propostos por Kohlberg e sua hierarquização, o que já tinha sido apontado por Snarey (1985), quando ele realizou uma meta-análise com 45 estudos que utilizaram a abordagem teórica de Kohlberg. No Brasil, Biaggio (1975, citado por Biaggio, 2002) realizou um estudo em que comparou os escores médios de maturidade moral de estudantes universitários brasileiros e norte-americanos, verificados por intermédio do MJI. Os resultados revelaram que não houve diferença entre as médias dos dois grupos, mas, ao analisar as freqüências de respostas por estágio, a autora verificou diferenças em função da cultura: enquanto os brasileiros concentraram suas respostas nos estágios 2, 3 e 5, os norte-americanos concentraram suas respostas no estágio 4. Em um outro estudo com o MJI, Biaggio (1976) comparou o raciocínio moral de crianças e adolescentes brasileiros de 10, 13 e 18 anos com o de crianças e adolescentes norteamericanos de uma pesquisa realizada por Kohlberg (1969). Os resultados demonstraram que 47 tanto na amostra brasileira quando na norte-americana as respostas de estágios 1 e 2 diminuíram com o avanço da idade e as respostas de estágios 4 e 5 aumentaram com a idade. Porém, na amostra brasileira prevaleceu o estágio 3 nas três faixas etárias e na amostra norteamericana prevaleceu, a partir dos 16 anos, o estágio 5. Rest e outros pesquisadores (McColgan, Rest & Pruitt, 1983), utilizando o DIT e o MJI, compararam o julgamento moral de adolescentes presos por cometerem crimes e o de adolescentes não delinqüentes. Os resultados do DIT revelaram diferenças entre os grupos de adolescentes não revelados pelo MJI. Em um estudo longitudinal que durou 10 anos, Rest (1994), utilizando o DIT como instrumento de medida, constatou que a seqüência dos estágios morais evolui em função da idade, mas principalmente em função do grau de escolaridade. Conforme comentou Rest (1994, p. 15): “ao longo da educação formal, os escores dos sujeitos no DIT aumentam, e, quando os sujeitos interrompem a sua educação formal, os seus escores de julgamento moral também estacionam”. Bzuneck (1975, 1979), no Brasil, utilizando o DIT como instrumento de pesquisa, realizou duas pesquisas de corte transversal, com jovens delinqüentes e não delinqüentes, constatando igualmente que o nível convencional prevalece nesse grupo. Os resultados desses estudos revelaram que os escores médios dos não delinqüentes ao estágio 4 foram significativamente superiores ao dos delinqüentes. Para testar a seqüencialidade dos estágios morais, utilizando o DIT, Camino, Luna, Alves, Silva e Rique (1988), realizaram uma pesquisa com estudantes secundaristas (ou seja, de ensino médio) e universitários. Os resultados revelaram que, com o avanço da escolaridade, houve uma diminuição significativa das médias dos estágios 2, 3 e 4 e o aumento significativo dos estágios 5 e 6. 48 Camino, Rique e Araújo (1993), por sua vez, em um estudo longitudinal, constataram, utilizando o DIT como medida de avaliação, que com o avanço da idade, não houve mudança na freqüência das respostas do estágio 2, mas houve um aumento significativo na média das respostas do estágio 3 e um decréscimo na média do estágio 4. Também para verificar a seqüencialidade dos estágios, Ribeiro (1996), utilizando o DIT, em uma pesquisa com adolescentes entre 11 e 19 anos, constatou uma diminuição significativa dos escores médios dos participantes nos estágios 3 e 4 e aumento significativo dos escores médios dos estágios 5 e 6. Mais recentemente, analisando a adequabilidade do DIT para o contexto brasileiro, Shimizu (2004), a partir de uma amostra de 621 estudantes do ensino fundamental e médio, constatou que, apesar dos índices estatísticos brasileiros serem inferiores a àqueles obtidos nas versões originais americanas do DIT, o teste é válido para o contexto brasileiro. A maior pontuação média dos jovens concentrou-se no Estágio 4, sendo que houve algumas variações em função das variáveis status socioeconômico, nível educacional e região de procedência. No que tange ao uso do SROM, Gibbs, Basinger e Fuller (1992), constataram percentagens significativamente mais elevadas de delinqüentes ou jovens com conduta antisocial nos estágios 1 e 2, quando comparados a outros jovens. No Brasil, utilizando o SROM, destaca-se aqui o estudo de Biaggio e Barreto (1991), com 40 crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, do sexo masculino, que freqüentavam as ruas. Dessas crianças e adolescentes, 20 dormiam em albergue. Os resultados revelaram escores elevados nos estágios 2 e 3 e nenhuma diferença significativa entre os dois grupos. No que se refere às pesquisas realizadas acerca da pena de morte e redução da maioridade penal, constata-se sobretudo uma favorabilidade a essas medidas. Em uma pesquisa realizada pelo Datafolha, em 2006, 84% dos brasileiros demonstraram apoiar a redução da maioridade penal e 51% disseram ser favoráveis à pena de morte. Especialmente 49 em relação à redução da maioridade penal, Menin (2005), em uma pesquisa realizada com adolescentes de escola pública e privada, constatou que 74% dos participantes da escola pública e 54% dos da escola privada mostraram-se favoráveis à redução da idade para punir infrações na lei. No que tange especificamente a pena de morte, Laranjeiras (2007) também encontrou um índice considerável de favorabilidade à pena de morte: 37% dos estudantes entrevistados concordou com a pena de morte e 27% afirmou que dependendo do crime eles eram favoráveis a pena de morte. Laranjeiras ainda verificou que 63% dos participantes se mostraram favoráveis a execução de Sadam Hussein, ao serem indagados particularmente a respeito da sua morte. Por outro lado, contrariando, de certa forma, os estudos apresentados neste parágrafo, Galvão, Feitosa, Santos e Camino (2007) verificaram, em uma pesquisa realizada com adolescentes em ressocialização e com meninos em condição de rua (população diretamente atingida caso ocorra uma mudança na lei), que a favorabilidade em relação à redução da maioridade penal e pena de morte é mínima: 15% dos em ressocialização e 26,3% daqueles em condição de rua mostraram-se favoráveis à redução da maioridade penal e apenas 18,8% dos adolescentes em ressocialização e 23,8% daqueles em condição de rua mostraramse favoráveis à pena de morte. Em todos os estudos supramencionados, com exceção do da Datafolha, os participantes foram solicitados a justificar suas respostas quanto à favorabilidade ou não em relação à pena de morte (Galvão et al., 2007; Laranjeiras, 2007) e a redução da maioridade penal (Galvão et al., 2007; Menin, 2005). Essas justificativas foram, por sua vez, categorizadas. No que tange especificamente a pena de morte, Laranjeiras (2007) organizou as respostas dos participantes em torno das seguintes categorias: Matou, tem que morrer, Solução para o crime, Prisão não resolve, Punição Justa, Segunda Chance, Crimes contra a humanidade, Penas alternativas e Direito à vida; enquanto Galvão et al. (2007) elencaram, a partir das justificativas dos participantes, as seguintes categorias: Punição retaliativa, Servir 50 de Exemplo, Amenizar sofrimento, Pagar na Cadeia, Justiça Divina, Direito à vida, Nova oportunidade e Morte de um inocente. No que concerne especialmente à redução da maioridade penal, Menin (2005) organizou as respostas dos participantes em torno das seguintes idéias: O adolescente sabe o que é certo e errado, Se pode votar, pode ser punido, Cometeu um crime, deve ser punido, Deveria ser punido no lugar dos pais, Para a situação não piorar, O jovem é imaturo e A prisão tem conseqüências nefastas; já Galvão et al. organizaram as respostas em torno das seguintes categorias: Punição justa, Serve de exemplo, Responsabilidade do menor, Má influência do adulto, Pena alternativa, Experiência negativa e Ausência de discernimento. Note-se que alguns estudos têm sido realizados para investigar a opinião e/ou representação que se tem acerca da pena de morte (Galvão et al., 2007; Laranjeiras, 2007) e redução da maioridade penal (Galvão et al., 2007; Menin, 2005), contudo, nenhum desses estudos faz uma análise das respostas em função dos estágios de desenvolvimento moral dos participantes. E, é exatamente este tipo de análise que este estudo se propõe realizar em relação aos temas pena de morte e redução da maioridade penal (ver Capítulo IV). No que se refere à relação entre variáveis e o raciocínio moral, Agerström, Möller e Archer (2006), ao avaliarem o MJI, constataram a influência do gênero (mulheres apresentaram níveis mais elevados de moralidade do cuidado do que os homens) e da personalidade afetiva do participante sobre as resoluções morais dadas a dilemas. Schonert-Reichl (1999) observaram que o raciocínio moral está direta e significativamente relacionado ao número de amigos próximos que o adolescente possui, a comportamentos pró-sociais, assim como a atividades de socialização em meninas. Também preocupados com a relação entre variáveis, Lepre e Martins (2009) investigaram a relação entre o uso abusivo de álcool e o raciocínio moral em estudantes do ensino médio. Os participantes foram selecionados por meio da aplicação do AUDIT (The 51 Alcohol Use Disorder Identification Test), e, posteriormente, responderam ao Moral Judgment Interview (MJI). Os resultados obtidos revelaram níveis e estágios morais aquém dos esperados: dos alunos que fazem uso abusivo de álcool, 56% encontram-se no nível préconvencional (13% no estágio 1 e 87% no estágio 2) e 44% encontram-se no nível convencional (100% no estágio 3). Ferreira (2007), por sua vez, investigou, em sua dissertação de mestrado, a influência das redes sociais de relacionamento na internet e da inteligência no desenvolvimento moral de adolescentes. Participaram da pesquisa 157 alunos do ensino médio de uma instituição pública de Belo Horizonte, com idades entre 14 e 19 anos. Utilizou-se como instrumentos um questionário para mapear o perfil do adolescente usuário das redes sociais na internet, o DIT para avaliar o desenvolvimento moral e o G-36 para medir a inteligência. Os resultados revelaram no que diz respeito ao DIT que 0,6% dos participantes estavam no estágio 1, 1,3% no estágio 2, 15,9% no estágio 3, 45,9% no estágio 4 e 23,5% no estágio P. Não se encontrou correlação entre o nível intelectual e o nível de raciocínio moral, nem se encontrou relação entre esta última variável e o uso das redes sociais de relacionamento da internet. No próximo tópico dar-se-á destaque a questão da educação moral, explicitando três grandes modelos de educação moral, com ênfase no modelo que se enquadra as teorias de Piaget e de Kohlberg. 1.6. Educação moral e estudos empíricos O debate sobre o ensino da moral vem desde a antiguidade. Em um de seus mais importantes diálogos, o Mênon, Platão questiona: A virtude é coisa que se ensina? Ou não é coisa que se ensina, mas que se adquire pelo exercício? Ou nem coisa que se adquire pelo exercício nem coisa que se aprende, mas algo que advém aos homens por natureza ou por alguma outra maneira? 52 Historicamente, na perspectiva de Buxarrais (1997), pode-se distinguir três modelos de educação moral. O primeiro modelo delega à educação moral a tarefa de levar os indivíduos a seguir valores e normas que são considerados, por um poder autoritário, os melhores. Esses valores e normas, por sua vez, são imutáveis e não são passíveis de debate ou questionamento. O segundo modelo, ressalta que não há o que ensinar em termos de moralidade, já que, ao contrário do primeiro modelo, os valores e normas morais são percebidos como relativos e como sendo construídos individualmente. O terceiro e último modelo destacado por Buxarrais (1997), defende a construção racional e autônoma de valores. É nesta perspectiva que se enquadram as teorias acerca da educação moral de Piaget (1932/1994) e de Kohlberg (1992), que fundamentam a presente tese e serão apresentadas a seguir. As idéias de Piaget acerca da educação moral constituem, ainda hoje, a parte menos conhecida de sua obra, e, quantitativamente, menos expressiva. O que não significa dizer que essa parte seja menos relevante que as demais. Um texto pouco citado aqui no Brasil, que debate a questão da educação moral, escrito por Piaget em 1930, chama-se Os procedimentos de educação moral. Neste texto, que foi escrito antes do seu mais famoso livro sobre a moralidade – O julgamento moral na criança –, Piaget se posiciona de forma favorável a necessidade de se educar moralmente, no sentido de promover a construção de personalidades autônomas aptas à cooperação. Em Os procedimentos de educação moral, Piaget explicita a relevância da interação na educação moral, dando ênfase, em seu discurso, as relações de coação e de cooperação. A primeira, a de coação, é caracterizada por um respeito unilateral que implica em uma desigualdade de poderes: é o respeito do pequeno pelo grande, da criança pelo adulto, do caçula pelo irmão mais velho. É a partir desta relação, na análise de Piaget, que a criança conhece seus deveres e regras, e adquire noções sobre o bem e o mal, o certo e o errado. A 53 segunda relação, a de cooperação, é caracterizada pelo respeito mútuo e, neste sentido, os indivíduos que estão em contato se consideram iguais e se respeitam mutuamente. No que se refere aos procedimentos de educação moral, título do texto, Piaget (1930/1996) comenta acerca de duas possibilidades: os procedimentos verbais e os métodos ativos. A primeira possibilidade, os procedimentos verbais ou “lição moral”, é questionada por Piaget (1930/1996). Na sua análise, todos os procedimentos orais têm em comum o fato de serem impostos pelos educadores por meio da coação e do respeito unilateral. Neste sentido, Piaget comenta que a criança, por não viver ou se envolver na situação apregoada no discurso, não compreende o seu significado, mas, mesmo assim, aceita a “lição” como medo da punição ou ainda da perda do afeto. Por outro lado, Piaget (1930/1996) comenta que a “lição de moral” não é totalmente inválida. Ela pode ser válida quando é a criança que pede explicação para determinadas situações que lhe causam desequilíbrio, pois, é apenas em um contexto semelhante a este que o procedimento verbal pode conseguir tocá-la, levando-a a refletir. O que vale, nesta situação, não é a imposição de um decreto, mas a construção de um contrato. A segunda possibilidade, o método ativo de educação moral, é considerada, por Piaget (1930/1996), a mais efetiva. Neste caso, a criança participa de experiências morais, proporcionadas pela escola, por meio de um ambiente de cooperação e respeito mútuo. A educação moral dar-se-ia, na análise de Piaget (1930/1996), paulatinamente em todos os ambientes do sistema escolar; não constituindo, portanto, uma matéria especial de ensino. Na perspectiva do método ativo, Piaget (1930/1996) defende a idéia de que somente uma vida social entre os próprios alunos – o “self government”, com o maior distanciamento possível da autoridade do professor e em paralelo à educação intelectual, pode conduzir a “uma certa forma de consciência intelectual e de consciência moral distanciada da anomia, 54 peculiar ao egocentrismo, e da heteronomia das pressões exteriores porque ele realiza a autonomia adaptando-se à reciprocidade” (Piaget, 1974, p. 60). Para esclarecer, o “self government” consiste na criação das leis por parte dos alunos, pois somente por meio da experiência é que eles compreenderão o que é obediência à regra, adesão ao grupo social e responsabilidade social (Piaget, 1930/1996, p. 22). Confrontando os dois procedimentos de educação moral citados – método verbal e método ativo, Piaget contesta a eficácia do primeiro: Quem será o melhor cidadão ou o espírito racional e moralmente livre? Aquele que tenha ouvido falar, mesmo que com entusiasmo, da pátria e das realidades espirituais, ou aquele que tenha vivido numa república escolar o respeito à solidariedade e a necessidade das leis? (Piaget, 1930/1996, p. 13) Em um outro texto, chamado O espírito de solidariedade e a colaboração internacional (1931/1998), publicado um ano depois de Os procedimentos de educação moral (1930/1996), Piaget retoma a idéia de que os métodos orais não são suficientes para desenvolver o espírito de solidariedade. Segundo Piaget (1931/1998), para que a criança desenvolva a solidariedade é necessária uma vivência pessoal e coletiva, que transcenda o discurso. Já no texto Observações psicológicas sobre o self-government (1934b/1998), Piaget retoma a idéia do self-government e afirma que este é "um procedimento de educação social que tende, como todos os outros, a ensinar os indivíduos a saírem de seu egocentrismo para colaborar entre si e a se submeter às regras comuns" (Piaget, 1934b/1998, p.126). Também neste texto, Piaget afirma ser necessário que as crianças realizem atividades grupais de cooperação, onde aprendam a idéia de respeito mútuo para que possam construir seu autogoverno (autonomia). Em É possível uma educação para a paz? (1934a/1998), Piaget volta a refletir acerca das relações internacionais, comentadas em seu texto O espírito de solidariedade e a colaboração internacional (1931/1998). Nesses dois textos fica claro que Piaget se preocupou 55 com questões morais que vão além do plano individual. Ele fala da dificuldade em se educar para paz em um mundo de guerra, desconfiança, medo e disputa por fronteiras. Na análise de Piaget, para que seja viável uma educação para a paz é necessário que sejam trabalhadas as posições egocêntricas das crianças em relação aos estrangeiros; levando-as a se interessar e compreender o outro. Esta colocação de Piaget, apoiada em outros conceitos de sua teoria (como reciprocidade e descentração), leva a autora dessa tese, juntamente com sua orientadora, a supor que para este autor a educação moral envolve o exercício da empatia. Finalmente, em A educação da liberdade (1945/1998), Piaget retrata a idéia de que somente quando a educação consegue fazer prevalecer a cooperação, em detrimento da coerção, a liberdade individual é alcançada. Lembrando que liberdade para Piaget é sinônimo de autonomia. Dentro desta perspectiva, poder-se-ia resumir que educar moralmente seria, na teoria piagetiana, propiciar à criança situações onde ela possa vivenciar a cooperação, a reciprocidade e o respeito mútuo e assim, construir a sua autonomia. Essa idéia Piagetiana de que a construção de uma verdadeira moral – a moral autônoma – não resulta da mera apropriação de valores, também foi defendida por Kohlberg. Kohlberg, juntamente com seu orientando de doutorado, Blatt, trabalhou diretamente a questão da educação moral. Mais precisamente, esses autores criaram uma técnica de discussão de dilemas morais em grupo, visando a promoção do desenvolvimento moral (Blatt & Kohlberg, 1975). Eles supunham que a prática de resolução de problemas morais, fundamentada na interação entre os estudantes, favoreceria o desenvolvimento do raciocínio, pois, na análise deles, argumentos de estágio moral mais avançado promoveria um conflito cognitivo cuja solução mais adequada decorreria da apropriação dos argumentos morais superiores. É interessante registrar que este conceito de conflito cognitivo é o mesmo adotado na teoria de Piaget quando ele discute a questão do desequilíbrio (Inhelder & Piaget, 1958). 56 Para testar suas suposições, Blatt e Kohlberg (1975) realizaram dois estudos. Em ambos, eles utilizaram o Moral Judgment Interview (MJI) como medida de pré e pós-teste e formaram grupos de discussão de dilemas morais com participantes de diferentes estágios morais. As discussões aconteceram durante seis meses, em encontros semanais. Nessas reuniões, os autores propunham dilemas hipotéticos, ouviam a opinião dos participantes, e, em seguida, chamavam a atenção para a resposta de estágio mais elevado. No final do período de seis meses, constataram que a maioria das crianças tinha avançado moralmente, quando comparadas as crianças do grupo de controle. É relevante comentar que, na época que Blatt e Kohlberg (1975) propuseram esta forma de educação moral, nos EUA os programas baseavam-se numa educação moral com perfil de doutrinação, denominada de educação de caráter, onde a autoridade era centrada no professor e os procedimentos consistiam em transmissão verbal de códigos, valores e normas, assim como prestação de serviço que demonstrasse virtudes. Com a constatação da eficácia da técnica de Blatt e Kohlberg (1975), a nova forma de intervenção ganhou bastante popularidade (Berkowitz, 1985; Gibbs, Arnold, Ahlborn & Chessman, 1984), inclusive no Brasil (Biaggio, 1985; Dias, 1992; Lins & Camino, 1993; Rique & Camino, 1997). Note-se que a técnica de Blatt e Kohlberg além de se mostrar eficaz para acelerar o desenvolvimento do raciocínio moral, permite, diferentemente do simples ensinamento verbal, a manutenção a longo prazo do desenvolvimento moral. A esse respeito, Rest (1986) comenta que o raciocínio moral de um indivíduo, com a intervenção, pode evoluir, aproximadamente, durante quatro ou cinco anos, quando comparado ao de um outro indivíduo da mesma idade que não participou de um projeto de educação moral. Arbuthnot e Faust (1981) sistematizaram o modelo de educação de Blatt e Kohlberg (1975) em seis fases ou passos: (1) formar pequenos grupos baseados no estágio de 57 raciocínio; (2) Preparar dilemas; (3) Criar um apropriado clima psicológico; (4) Iniciar a discussão apresentando os dilemas; (5) Guiar a discussão; (6) Finalizar a discussão. Na primeira fase (formar grupos baseados no estágio de raciocínio moral), Arbuthnot e Faust (1981) sugerem que se deve buscar um número igual de sujeitos por estágio, onde se deve contemplar pelo menos três estágios morais consecutivos dominantes. Arbuthnot e Faust (1981) ainda indicam que os grupos devem ter entre 8 e 12 indivíduos, com idades semelhantes. Na segunda fase (preparar dilemas), Arbuthnot e Faust (1981) propõem que sejam criados dilemas que permitam provocar conflitos cognitivos e que sejam adequados à habilidade intelectual dos estudantes. De antemão, conforme comentam Arbuthnot e Faust (1981), deve-se antecipar as possibilidades de respostas possíveis, construir elaborações que possam ser utilizadas para provocar desacordos entre os indivíduos de diferentes estágios e preparar os contra argumentos para todos os níveis do grupo e para um nível acima do grupo superior. É interessante mencionar, que no caso da criação de Dilemas, Dias (1992) sugere que os temas dos dilemas sejam indicados pelo próprio grupo de intervenção. Na terceira fase (criar um clima psicológico apropriado), Arbuthnot e Faust (1981) comentam que o educador moral deve esclarecer que não existem respostas certas e erradas e que a função do educador moral é apenas a de intermediar as discussões. Deve ainda destacar a importância do respeito mútuo, da liberdade de expressão e de crença. Na quarta fase (iniciar a discussão), Arbuthnot e Faust (1981) recomendam que se facilite o debate entre indivíduos do grupo do nível inferior de raciocínio com os de nível imediatamente superior, no sentido de promover conflito cognitivo. A este respeito, é importante mencionar o estudo realizado por Rest, Turiel e Kohlberg (1969) que revelou que crianças rejeitavam (embora compreendessem) o discurso abaixo de seu pensamento e não compreendiam as mensagens que estavam dois estágios acima, demonstrando que o raciocínio 58 de estágio imediatamente superior é melhor assimilado. Arbuthnot e Faust (1981) também alertam que se deve assegurar a absoluta compreensão do dilema, sugerindo que o facilitador resuma as principais idéias do dilema e se coloque a disposição dos participantes para maiores esclarecimentos. Arbuthnot e Faust (1981) ainda propõem que primeiro se apresente os dilemas ao grande grupo, depois se forme grupos pequenos de discussão que deverão, após debate, expressar suas opiniões. Na quinta fase (guiar as discussões), Arbuthnot e Faust (1981) indicam que se deve oferecer oportunidade de expressão à maior quantidade de indivíduos possíveis, criando o desequilíbrio ou a consciência da inadequação do nível inferior de raciocínio. Deve-se conduzir as discussões fazendo com que os participantes, passo a passo, evoluam até que cheguem ao nível mais alto do grupo. No final, pode-se ainda apresentar um argumento imediatamente superior ao nível mais avançado do grupo, com o objetivo de se criar o desequilíbrio cognitivo. Na sexta e última fase (Finalizar a discussão), Arbuthnot e Faust (1981) sugerem que a discussão deve ser concluída uma vez que o grupo tenha prosseguido passo a passo, ascendendo pelos estágios. Tendo como base a técnica de Arbuthnot e Faust (1981), descrita anteriormente fase a fase, Biaggio (1983, 1985, 1988), Dias (1992), Lins e Camino (1993) e Rique e Camino (1997) realizaram intervenções em escolas brasileiras. Biaggio (1983), em um estudo piloto, com a finalidade de preparar professores e orientadores educacionais para serem facilitadores morais, coordenou grupos de discussão de dilemas morais e, neste primeiro trabalho, a técnica mostrou-se eficaz, com o avanço significativo de estágios de desenvolvimento moral. Duas orientadoras educacionais que participaram do grupo de debate do estudo supramencionado aplicaram a técnica em seus alunos (Biaggio, 1985), uma na turma da 7a 59 série e outra na turma da 8a série. Os resultados encontrados no pós-teste, realizado na turma da 7a série, revelaram um aumento no escore médio de julgamento moral. A este respeito Biaggio (1985) faz uma ressalva interessante acerca desta evolução: apesar das médias do estágio 4 terem aumentado significativamente após oito sessões de discussões de dilemas, “a maioria dos sujeitos apresenta elementos de estágio 3 e de estágio 5, e não necessariamente 4, o que não fica aparente nos escores médios” (p.198). Os resultados do pós-teste dos alunos da 8a série, revelaram que tanto o grupo de discussão, quanto o de controle apresentaram ganhos no nível de julgamento moral, o que foi devido, na análise de Biaggio, provavelmente, a não equivalência no pré-teste (Biaggio, 1988). Nesta pesquisa, Biaggio comenta que os alunos resistiram discutir os dilemas levados pelas coordenadoras, reivindicando dilemas trazidos por eles. Uma terceira experiência foi citada em Biaggio (1985), desta vez a técnica de debates de dilemas morais envolveu universitários. Neste caso, em metade dos 10 encontros foram utilizados dilemas descritos em Blatt, Colby e Speicher (1974) e na outra metade, dilemas brasileiros, elaborados pelo núcleo de pesquisa de Biaggio. Os resultados revelaram ganhos em termos de julgamento moral, com a constatação de que é importante considerar o interesse dos participantes na escolha dos dilemas (Biaggio, 1985). Dias (1992) realizou seu projeto de educação moral com estudantes da 6a série do ensino fundamental (denominado atualmente no Brasil de 7o ano do ensino fundamental), durante 4 meses, que totalizaram 24 sessões de 1 hora/aula de discussão de dilemas morais. Os alunos do grupo experimental e do grupo de controle foram avaliados antes e depois da intervenção por meio do DIT. Os resultados demonstraram que o índice de raciocínio pósconvencional foi significativamente superior ao do grupo de controle (que assistia aulas de Educação moral e cívica ministradas por um professor da escola). 60 Lins e Camino (1993) realizaram sua intervenção com estudantes universitários, em encontros semanais de 50 minutos de duração, que duraram 7 meses. Neste caso, foram formados dois grupos: um de Exposição (onde eram apresentadas as teoria de desenvolvimento moral de Piaget e Kohlberg) e um grupo de debate (onde eram realizadas discussões de dilemas morais). Ambos os grupos foram avaliados antes e depois da intervenção por meio do DIT. Os resultados revelaram que o debate favoreceu o desenvolvimento moral e a simples exposição teórica não. Rique e Camino (1997) realizaram sua proposta de educação moral com estudantes de 14 a 16 anos de idade, da 8a série do ensino fundamental (denominado atualmente no Brasil de 9o ano). Os autores objetivaram, além de investigar o desenvolvimento moral, verificar a influência do nível de consistência do pensamento moral no avanço esperado do raciocínio moral. Tanto o grupo de intervenção quanto o de controle foram avaliados antes e depois da intervenção por meio do DIT. Os resultados indicaram que os alunos do grupo experimental apresentaram as médias mais altas no pós-teste quando comparados aos do grupo de controle; e, os resultados ainda demonstraram que o único grupo que apresentou avanço, quando foram comparadas as médias antes e depois, foi o grupo experimental inconsistente, o que revelou, na análise de Rique e Camino (1997), que o momento mais oportuno para se fazer intervenção é aquele em que o sujeito demonstra inconsistência no seu julgamento moral. Souza (2008), por sua vez, realizou uma intervenção junto a universitários de psicologia, com objetivos didáticos, não se propondo promover, especificamente, o amadurecimento moral. Neste trabalho, a autora estimulou os alunos a elaborarem dilemas morais hipotéticos ou reais sobre o tema que quisessem, assim como a elaborarem dilemas que envolvessem o psicólogo e sua profissão. Com esta proposta, a autora pode propiciar aos seus alunos a aprendizagem de uma importante teoria do desenvolvimento cognitivo, a vivência da técnica de desenvolvimento moral, o exercício da criação de dilemas morais 61 (tanto no âmbito geral como profissional) e a discussão de temas morais e éticos, tanto da esfera universal quanto ético profissional específico da Psicologia. Uma forma de intervenção um pouco mais ambiciosa e, por isso, mais difícil de efetivação, corresponde à proposta kohlberguiana da criação de uma comunidade justa. Mais do que desenvolver individualmente os estudantes, Kohlberg propôs uma mudança na estrutura do ambiente escolar, com a promoção da democratização das decisões e o debate de dilemas morais reais do cotidiano escolar. Em seu trabalho sobre “a comunidade justa”, em um kibbutz em Israel, Kohlberg, Power, Higgins (1989/1997) observaram que o forte senso de comunidade tinha uma influência direta no desenvolvimento moral das crianças do kibbutz. Mais precisamente, a ligação social, o senso de coletivismo, o cuidado com o outro e com o grupo, o papel democrático do professor foram constatações elencadas no kibbutz que serviram de inspiração para Kohlberg desenvolver um método de prática democrática coletivista, que teve como primeiro palco de atuação uma penitenciária feminina. Kohlberg, Hickey e Scharf (1980) criaram a primeira comunidade justa, no presídio feminino de Niantic State Farm, nos EUA. Neste trabalho, eles constataram que a eficácia do programa estava sendo posto à prova pela atmosfera da prisão. Diante disto, os autores tentaram mudanças na estrutura das relações sociais do presídio, com a inclusão do pessoal da segurança nas discussões para a criação de acordos. Após a intervenção, Kohlberg, Hickey e Scharf (1980) encontraram maior coerência entre o pensamento e a prática das detentas. Em 1974, Kohlberg transpôs a sua idéia de comunidade justa, realizada no presídio feminino de Niantic State Farm, para a Escola de Cluster, sendo, portanto, a primeira comunidade justa na escola. Na escola de Cluster, conforme relata Reimer (1989/1997), professores e alunos eram considerados membros iguais, com os mesmos direitos e privilégios, e comungavam do 62 mesmo projeto: construir uma comunidade justa. Neste sentido, a igualdade referia-se a uma mudança de postura tanto dos alunos, quanto dos professores. Os docentes eram convidados a não mais impor regras unilateralmente, assim como, a se submeter à vigilância e à disciplina da comunidade para fatos como atrasos, perda do controle, linguagem rude ou abusiva, etc. No caso da violação das regras, os professores, de forma semelhante aos alunos, eram conduzidos a um Comitê de Disciplina. Sobre a violação das regras por parte dos professores, Reimer (1989/1997) descreve um incidente em que um professor, Norman, foi levado ao Comitê de Disciplina, acusado de pisar e quebrar o gravador de um aluno. No relato está escrito que o professor se defende dizendo que havia dito várias vezes a um aluno que parasse de tocar o gravador alto; sua perda de controle deu-se quando o aluno foi até a frente, por trás do professor, e, de repente, tocou a música em alto volume no seu ouvido. Ao analisar o fato, o Comitê de Disciplina empatizou com Norman, mas, apesar disso, achou que ele tinha reagido exageradamente. Assim sendo, recomendaram que Norman dividisse o custo do conserto do gravador com o aluno. Sobre este caso, é interessante registrar a fala de um dos alunos, que revela que havia uma tentativa de se julgar com justiça, independente do grupo de pertença: "Esta foi a primeira vez que Norman fez esse tipo de coisa, tá ok. E ele admitiu que foi uma coisa fora do comum para um adulto e professor... Mas ele admitiu, e está sentado aqui, como qualquer outro... Ele é humano como nós, e sujeito a emoções também. E ele tem sua vida lá fora, também, e tem uma vida pessoal. E pensem nisso, nessa escola todo mundo é igual, etc., mas vocês esquecem que os professores também..." (Aluno de Cluster). A Escola de Cluster obteve, segundo a avaliação de Power (1979), sucesso, no sentido de criar estágios relativamente altos na atmosfera moral que, inclusive, se refletiram na mudança de comportamento dos alunos e professores em termos de relacionamento interpessoal. Mas, por outro lado, a escola de Cluster vivenciou dificuldades, uma das quais Reimer (1989/1997) destaca é a de falta de consenso sobre a proibição do consumo de drogas. Para a maioria dos alunos a regra parecia justa, porém, para outros, feria o direito de liberdade 63 individual. A grande dificuldade enfrentada foi demonstrar que o consumo de drogas prejudicava a comunidade na medida em que violava o princípio de respeito mútuo e eqüidade. Somente após muita discussão, os alunos concluíram que a liberdade individual não podia ferir o direito moral dos outros. Uma outra experiência de comunidade justa aconteceu na Escola Scarsdale, nos arredores de Nova York (Codding, 1989/1997). De forma semelhante à escola de Cluster, em Scarsdale havia reuniões semanais com alunos e professores para a tomada de decisão. O maior problema enfrentado na Escola de Scarsdale, conforme relata Codding (1989/1997), foi o da homogeneidade de sua população por não haver variedade de pontos de vista para serem confrontados. Na cidade do meio-oeste americano, Power, orientando de doutorado de Kohlberg, desenvolveu a experiência de comunidade justa em um programa intitulado Y.E.S. (“Your Excellence in School”). O público alvo desta experiência eram adolescentes de risco, encaminhados por pais e professores ou que se apresentavam voluntariamente por ter ouvido falar do programa por colegas participantes. É interessante notar que dos 32 estudantes, apenas três eram do sexo feminino. O programa Y.E.S. congregava alunos e professores que seguiam um estatuto, elaborado e votado democraticamente, onde estavam explicitadas as regras de funcionamento da comunidade. O grupo elegia a cada dois meses uma diretoria, composta por presidente(a), vice-presidente(a), secretário(a) e tesoureiro(a). Ainda existiam diversos comitês, como o do jornalzinho, o de relações públicas, e o mais atuante – o comitê de justiça ("fairness committee"). Este último era composto de um professor e cinco alunos, com o objetivo de propor penalidades e recuperações a serem aplicadas aos membros do grupo que desobedeciam as regras acordadas. Essas recomendações eram votadas por todo o grupo, e as 64 penalidades podiam variar desde tarefas, tais como limpeza da sala, até a expulsão do estudante do programa Y.E.S. No Brasil, Biaggio (1997) desenvolveu uma adaptação do modelo de “comunidade justa” em Porto Alegre. Antes de iniciar o programa, Biaggio menciona que os professores, diretores e coordenadores participaram de palestras e discussões sobre a teoria de Kohlberg e sua aplicabilidade. Ademais, menciona que buscou capacitar professores para prepará-los e motivá-los a coordenar discussões de dilemas com conteúdos ecológicos e realizou um estudo piloto com alunos da oitava série (9o ano). No entanto, como lamenta Biaggio, muitas dificuldades foram explicitadas no decorrer do desenvolvimento do programa, tais como: dificuldade em reunir os professores, que, por baixas condições salariais, lecionavam em várias escolas; paralisação parcial dos professores visando melhorias salariais, que atrasou o cronograma do projeto; dificuldades financeiras para realização de mudanças significativas na escola, como por exemplo, a desistência de uma decisão democrática de oferecer lanches mais saudáveis para os alunos (como frutas e queijos) por motivos econômicos. Mais recentemente, no Brasil, Barreto, Oliveira, Andrade e Dias (2009) utilizaram a técnica de educação moral intitulada “comunidade justa” em uma ONG localizada em Niterói (RJ-Brasil), que atende crianças e adolescentes em situação de risco, residentes em periferias, com a finalidade de oferecer reforço escolar e reinserção daqueles que abandonaram a escola. Foram realizadas discussões de dilemas hipotéticos em grupo e foi estimulado o aprendizado cooperativo e o treinamento para resolução de conflitos do cotidiano escolar. Os resultados foram avaliados mediante o SROM, com pré e pós-testes. Não houve diferença significativa entre as medidas antes e depois da intervenção, nem os autores constataram diferença de desenvolvimento moral em função do gênero. Por outro lado, ao realizar uma avaliação do programa, os autores contataram que os avaliadores de forma consensual julgaram o programa 65 de intervenção como sendo eficiente para a redução de conflitos no interior da instituição e para promover mudança de atitudes dos alunos dentro e fora da ONG. Dentro de uma perspectiva diferente das apresentadas até agora, Paone, Packman, Maddux e Rothman (2008) investigaram se intervenções na forma de terapia de grupo facilitavam o desenvolvimento do raciocínio moral de jovens em situação de risco. Os autores constaram, com a comparação dos resultados de pré e pós-testes no DIT, uma diferença significativa entre os grupos experimental e controle, o que os levaram a inferir que a interação social estabelecida na terapia de grupo ajuda no desenvolvimento do raciocínio moral. Por fim, é relevante comentar que à questão da educação moral no Brasil, recebeu uma atenção especial no texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Para esclarecer, os PCNs foi publicado em 1997, pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC), por meio da Secretaria de Educação Fundamental (SEF), numa coleção de dez volumes contendo orientações curriculares para o desenvolvimento do ensino fundamental no país. No que se refere à educação moral, os PCNs propõem que os educadores trabalhem transversalmente, no ensino infantil, fundamental e médio, com temas relacionados à ética, visando o desenvolvimento do exercício da cidadania. Na prática, os PCNs propõem que não se crie uma disciplina específica voltada para a educação moral, mas que esta educação seja incorporada nas áreas já existentes – Português, Matemática, História, Geografia, etc. Neste sentido, os PCNs contrariam a proposta de Blatt e Kohlberg (1975) de se ter um horário especial para se discutir dilemas morais, mas, por outro lado, se assemelha, em certo sentido, a proposta da comunidade justa quando afirma: O ensino da ética não pressupõe espaço de aula reservado aos temas morais; trata-se de democratizar as relações entre os membros da escola, cada um podendo participar da elaboração das regras, das discussões e das tomadas de decisão a respeito de problemas concretamente ocorridos na instituição (PCNs, 1997, p. 66). 66 Sabe-se, contudo, que a proposta supramencionada, que está explicitada nos PCNs, está distante de ser realidade na maioria das escolas brasileiras. É exatamente com o intuito de viabilizar o objetivo dos PCNs de tornar a Escola um espaço para o desenvolvimento do exercício da cidadania, que foram avaliados, nesta tese, modelos de intervenção moral (Capítulo VI). Na realidade, a proposta de educação moral criada e testada nesta tese (ver Capítulo VI) difere, em certo sentido, de tudo o que foi apresentado até agora. Apesar de se considerar incontestável a relevância dos trabalhos de Piaget e Kohlberg, que demonstraram que a moral não pode ser ensinada tal como os conteúdos curriculares tradicionais da escola, concorda-se com Martin L. Hoffman (ver Capítulo III) que defende a idéia que Piaget e Kohlberg desconsideraram, em sua proposta de educação moral, a importância que a vida afetiva tem para o desenvolvimento moral. Neste sentido, é que se propõe uma educação moral que leva em consideração tanto questões afetivas, quanto cognitivas. Por outro lado, é relevante registrar que não se pode esquecer que tanto Piaget quanto Kohlberg não desconsideram a afetividade como aspecto relacionado à moralidade. Na teoria de Piaget (1932/1994; 1954/2001; 1962; 1964/2005), cognição e afetividade apresentam-se como aspectos indissociáveis. Apoiando esta idéia, Kohlberg (1992) defende que os julgamentos morais não são puramente cognitivos, mas possuem componentes afetivos e motivacionais. Porém, nem Piaget, nem Kohlberg verificaram empiricamente qual seria o papel da afetividade em relação à moralidade e como a moralidade, a afetividade e a cognição estariam relacionadas, deixando uma lacuna. Dentro de uma perspectiva que leva em consideração o componente afetivo da moral, Stephan e Finlay (1999) listaram alguns programas de intervenção cujos objetivos eram promover a autonomia moral. Nesses programas, eles estimulavam a capacidade de roletaking e o desenvolvimento de habilidades empáticas, por meio de atividades como discussão 67 sobre dilemas morais, role-plays e debates com a participação de pessoas de diferentes grupos étnico-raciais. A grande diferença entre esses programas e o programa de Blatt e Kohlberg (1975) é que nas atividades com o foco na afetividade, solicitava-se explicitamente que os participantes tentassem se colocar no lugar das outras pessoas e imaginassem o que elas estariam pensando ou sentindo. Como Batson, Klein, Highberger e Shaw (1995) demonstraram, esse tipo de instrução tem o potencial para estimular componentes cognitivos e afetivos da empatia, passíveis de influenciar o comportamento e o julgamento moral das pessoas. Tal achado pode ser de bastante valia para o campo da educação moral, tendo em vista o potencial que esse tipo de técnica pode ter. Defende-se, portanto, na presente tese a idéia de que a educação moral deve ser guiada por parâmetros que não enfatizem apenas as questões cognitivas, como a proposta de Kohlberg, mas que se fundamente em ações que englobem tanto o aspecto cognitivo como o afetivo. 1.7. Considerações sobre o capítulo Neste capítulo, inicialmente, foi realizado um breve percurso histórico sobre a noção de moral, dando destaque as teorias de Piaget e Kohlberg. A este respeito, pode-se dizer que na psicologia permaneceu, durante muito tempo, a idéia de que a moral é algo que vem de fora e que é internalizado, destacando-se nesta perspectiva as teorias da psicanálise e do behaviorismo. Apenas com as teorias de Piaget e Kohlberg é que se começou a pensar a moral dentro de um enfoque sócio-construtivista: em que o desenvolvimento moral é influenciado pelas interações sociais e pelo desenvolvimento afetivo, mais do que pelo desenvolvimento de estruturas biológicas ou pela aprendizagem de simples regras sociais. 68 Dentre as teorias acerca do desenvolvimento moral, deu-se um relevo especial, nesse capítulo, a teoria de Kohlberg (por ser uma das principais teorias que fundamenta esta tese), citando pesquisadores que procuraram investigar a empiricidade de alguns de seus pressupostos. Diante deste confronto, considera-se pertinente realizar, neste momento, uma breve apreciação a este respeito. A maioria das críticas elaboradas à teoria de Kohlberg faz referência à seqüência universal e invariante dos estágios. Percebem-se essas críticas como pertinentes apenas em parte, já que tem se encontrado resultados que, de certa forma, apóiam ambas as posições: se por um lado, existem estudos transculturais em que não se observa o mesmo tipo de evolução moral em todas as culturas, existem, por outro, estudos longitudinais que confirmam o pressuposto de seqüencialidade, tanto em termos de níveis de desenvolvimento, quanto em termos de estágio. Diante deste impasse, acredita-se que, de fato, existe uma seqüência de estágio universal, o que, por outro lado, não nega o papel da cultura como um fator modulador que acentua certos tipos de raciocínio em detrimento de outros, porém sem abolir uma “essência” humana comum. Também julga-se oportuna a crítica de Simpson (1974, citado por Kohlberg, Levine & Hewer, 1983) acerca da dificuldade encontrada por algumas culturas em detrimento da não familiaridade com alguns dilemas. Neste caso, concorda-se com Kohlberg, Levine e Hewer (1983) que devem ser construídos dilemas que tenham significado para os respondentes, o que também se aplica a uma proposta de intervenção. Outra crítica que parece pertinente é sobre a ausência de componentes afetivos na avaliação do julgamento moral, devendo, na avaliação da autora desta tese e de sua orientadora, não serem mais negligenciados. Particularmente na presente tese dar-se-á destaque ao componente afetivo denominado Empatia, que será, inclusive, o tema do próximo capítulo. Em relação à avaliação no campo da moralidade, conforme já foi comentado em um outro momento, tem-se notado o predomínio de instrumentos que utilizam, sobretudo, dilemas 69 hipotéticos ou situações demasiadamente abstratas que se distanciam, em certo sentido, da realidade dos respondentes. Considerando este fato, na presente tese se propôs a criação de dois dilemas que tratam de temas veiculados pela mídia, com personagens reais e conhecidos da população, a saber: O dilema de Sadam Hussein, em que se ressalta a questão da pena de morte e o dilema de João Hélio, em que se problematiza a questão da redução da maioridade penal. Em relação aos estudos empíricos realizados no campo da moralidade, tanto no contexto internacional como no contexto brasileiro, percebe-se o predomínio de uma perspectiva cognitivista, fundamentada, principalmente, em Piaget e/ou Kohlberg. Em relação aos instrumentos empregados, têm prevalecido o uso do DIT e do MJI, em estudos, sobretudo, de corte transversal. Os resultados desses estudos, de uma forma geral, apóiam a tipologia de Kohlberg, porém a seqüencialidade dos estágios aproxima-se mais do modelo preconizado por Rest (1976). Sobre a relação entre variáveis e o raciocínio moral, tem-se constatado que o raciocínio moral: está diretamente relacionado ao número de amigos, a comportamentos prósociais, a atividades de socialização em meninas (Schonert-Reichl, 1999); está inversamente relacionado ao uso abusivo de álcool (Lepre & Martins, 2009); e não possui correlação com o nível intelectual, nem com o uso de redes sociais de relacionamento na internet (Ferreira, 2007). Sobre a seção educação moral, apresentaram-se vários estudos realizados com base na proposta de Kohlberg que defende a idéia de que a discussão de dilemas sócio-morais produz o avanço do raciocínio moral e na proposta do mundo justo. Dentre essas duas propostas, ressaltou-se a primeira como sendo a que fundamentaria, em parte, o estudo de intervenção prevista nesta tese e como sendo uma prática válida para ser incluída tanto no currículo das escolas, quanto no planejamento educacional de outras instituições que visam à promoção da 70 cidadania, como, por exemplo, as ressocializadoras. A seguir, destacou-se que a proposta de Kohlberg era demasiadamente cognitivista e que uma educação moral deveria englobar tanto aspectos cognitivos quando afetivos do desenvolvimento. Tendo em vista que a proposta de intervenção prevista nesta tese envolverá aspectos afetivos, o próximo capítulo irá tratar de como a Psicologia tem abordado teoricamente a empatia no decorrer dos anos, ressaltando a perspectiva teórica de Martin Hoffman, e a forma como esse construto tem sido operacionalizado. 71 CAPÍTULO II – EMPATIA 72 E quando estiveres perto, tomarei teus olhos para colocá-los no lugar dos meus, e tu tomarás meus olhos para colocá-los no lugar dos teus, e eu te verei com os teus olhos, e tu me verás com os meus Jacob Levi Moreno 2.1. Breve percurso histórico sobre a noção de empatia A experiência do “sentir com” (tradução do alemão Einfühlung) já aparecia designada pelos gregos em seu vocábulo empatheia, indicando, conforme lembra Pigman (1995), a possibilidade de entrar no sentimento, estar dentro, estar presente, viver com e como o outro o seu pathos, paixão, sofrimento e doença. Na Psicologia, o primeiro autor a utilizar o termo Empatia (Einfülhlung) foi Titchener, em seu livro Elementary Psychology of the Thought Processes (1909). Para Titchener, a noção de Einfülhlung se refere à capacidade de poder saber sobre a consciência de outra pessoa e de raciocinar de maneira análoga a ela, por meio de um processo de imitação interna (Wispé, 1986). Daí em diante, algumas áreas da psicologia tiveram destaque no estudo da empatia, dentre as quais destacar-se-á, nessa seção, apenas as mais pertinentes para esta tese, a saber: a da psicologia da personalidade/psicoterapia, com as teorias de Sigmund Freud e Carl Rogers; a da aprendizagem social, com Nancy Eisenberg e Daniel Batson; a da psicologia do desenvolvimento sócio-cognitivo, com Jean Piaget e Lawrence Kohlberg; a da perspectiva evolutiva (ou evolucionista), com Plutchik (1992); a da neurociência que corroboram a existência do construto Empatia; e a da perspectiva de Martin L. Hoffman, que terá uma seção especial (2.2), por ser o teórico da Empatia que fundamenta esta tese. Freud fez, em seus textos, um uso significativo do vocábulo empatia (Einfühlung), no início do século XX, embora não tenha tido tanto relevo entre os estudiosos do assunto. Como 73 demonstrou Pigman (1995) em seu artigo “Freud and the history of empathy”: desde o livro sobre os chistes (1905), encontramos no texto freudiano as marcas de sua familiaridade com a Einfühlung; no texto de 1913, “Sobre o início do tratamento”, Freud considera central a experiência da Einfühlung para o trabalho terapêutico, porque possibilita a penetração no psiquismo de alguém que é estranho ao eu daquele que se identifica, porém de forma cautelosa – em carta datada de 4 de janeiro de 1928, Freud apresenta a Ferenczi, criticamente, sua posição quanto à importância da empatia na clínica psicanalítica. Carl Rogers, por sua vez, na década de 1950, estudou a empatia de forma sistemática e profunda, incentivando, ao contrário de Freud, seu uso na clínica. Na concepção de Rogers, ter empatia significa “perceber o marco de referência interior da outra pessoa com precisão e com os componentes emocionais que lhe pertencem, como se fosse essa pessoa, porém sem perder nunca a condição de ‘como se’” (Rogers, 1959, p. 210). Em 1975, Rogers, ao rever o conceito de empatia, acrescentou que ela não deveria mais ser vista como um estado e sim, como um processo, em que o terapeuta deve mergulhar no mundo do outro, deixando de lado o seu próprio ponto de vista, o que significa “viver temporariamente a sua vida” (Rogers, 1975, p. 4). Por fim, é importante acrescentar que na análise de Rogers, a empatia é percebida como um estado passível de treinamento, tanto em termos cognitivos quanto em termos vivenciais. Compartilhando a idéia de que a empatia é passível de aprendizagem, tem-se a perspectiva da aprendizagem social. Neste caso, dar-se-á ênfase as teorias de Eisenberg e de Batson, pelo destaque que esses autores têm tido nesse campo. Nancy Eisenberg estudou a empatia em função de sua preocupação acerca do que motiva as pessoas a cuidar do outro. A maioria das pesquisas de Eisenberg sobre empatia, definida como “uma resposta afetiva que decorre da apreensão ou compreensão da condição ou estado emocional do outro, que é congruente com o que a outra pessoa está sentindo ou 74 seria esperado sentir” (Eisenberg, 2002, p. 135), é orientada para identificar as causas do altruísmo e do comportamento pró-social, sobretudo, em crianças (Eisenberg, 2000; Eisenberg et al., 1996; Eisenberg & Miller, 1987; Eisenberg & Strayer, 1987). Esta autora e seus colegas de trabalho também contribuíram para a análise das diferenças de sexo na empatia (Lennon & Eisenberg, 1987). Uma outra contribuição importante da autora (Eisenberg, 2002), diz respeito a idéia de que a empatia, assim como o altruísmo e outros comportamentos humanitários podem ser aprendidos e modificados, e, além disso, podem favorecer a redução da agressividade e de tendências destrutivas. Assim como Eisenberg, Daniel Batson examinou os motivos que estão subjacentes aos comportamentos pró-sociais das pessoas. Para Batson e seus colegas (Batson et al., 1997) a empatia seria uma possível fonte de motivação altruísta, definida como um emoção vicária que é congruente, mas não necessariamente idêntica à emoção do outro (Batson, 1991). Batson, Fultz e Schoenrade (1990), ao discutir sobre as reações emocionais que surgem diante do sofrimento de alguém, diferenciam dois tipos de sentimentos: uma empatia pelo outro que sofre (simpatia), envolta por sentimentos de ternura, compaixão e preocupação real pelo outro e uma empatia que traduz a necessidade de reduzir o próprio mal-estar e reflete uma preocupação com o alívio de sua própria angústia (angústia pessoal). Na área do desenvolvimento sócio-cognitivo, Jean Piaget pode ser considerado um dos primeiros a se preocupar com a empatia, mesmo que de uma forma menos precisa e sistemática quando comparado a outros autores, como Rogers. Piaget (1932/1994) se referiu, em sua teoria, a diferentes conceitos, como role-taking, simpatia e altruísmo para discutir o processo que se poderia chamar de empático. Em relação ao role-taking, ele o definiu como uma habilidade que possibilita intuir situações, necessidades, interesses do outro, e mais do que isto, compartilhar os sentimentos do outro; no que se refere à simpatia, ele a classificou como uma tendência instintiva que, paulatinamente, na medida em que a criança desenvolve a 75 capacidade de colocar-se no lugar do outro e reconhecer as necessidades do outro, vai se tornando um sistema de valor mais permanente, que, por sua vez, é quem permite o altruísmo, a verdadeira cooperação e o verdadeiro respeito mútuo. Ainda na área da psicologia do desenvolvimento sócio-cognitivo, Kohlberg (1969) relacionou a empatia com o lado emocional do role-taking, definido como “(...) tomar a atitude do outro, tornar-se conhecedor dos pensamentos e sentimentos, colocar a si mesmo em seu lugar” (p. 49). Como este autor não privilegiou em sua teoria da moral o aspecto emocional, conforme comenta Camino (2009), ele não explorou o conceito de empatia em seus textos e deu relevo aos avanços cognitivos voltados para o desenvolvimento moral e social. Dentro de uma perspectiva evolucionista, Plutchik (1992) definiu a empatia como uma habilidade, de base inata, para captar sinais emocionais nos outros, tendo em vista a sobrevivência das espécies. Para ilustrar tal afirmativa, Plutchik (1992) cita pesquisas que revelam que macacos da espécie vervet produzem diferentes sinais sonoros para alertar seus pares sobre a presença de predadores nas proximidades; e, estes sinais são compreendidos até mesmo pelos filhotes desta espécie, inclusive por aqueles que foram criados em cativeiro desde o nascimento, o que sugere, na análise de Plutchik (1992), que os comportamentos empáticos possuem um forte componente genético. Esta idéia de empatia, enquanto algo subjacente ao instinto de sobrevivência, também é aplicada à espécie humana: o choro dos bebês, por exemplo, tem um efeito fundamental para a mobilização afetiva dos adultos, e, esta mobilização afetiva guia e mobiliza o comportamento de ajuda dos pais. No campo motivacional/emocional têm-se Hoffman, que, na verdade, apresenta, de acordo com Camino (2009), uma concepção eclética da empatia, na medida em que reúne idéias do behaviorismo, do cognitivismo e da aprendizagem social; e ainda compartilha da perspectiva evolutiva, mencionada acima, na medida em que concebe a empatia como sendo 76 um tipo de resposta afetiva, com raízes biológicas e função adaptativa, que é modificada ao longo da ontogênese por fatores cognitivos. As idéias de Hoffman serão tratadas de forma mais detalhada, na próxima seção. Neste momento, considera-se pertinente sair um pouco da área da psicologia e comentar rapidamente como a empatia vem sendo concebida na neurociência, já que esta é uma área que tem corroborado a existência do construto Empatia, assim como do seu funcionamento. Goleman (2007) cita um estudo realizado em 1957, em que os pesquisadores verificaram que há uma relação direta entre certas lesões na área direita dos lobos frontais e a incapacidade de entender a mensagem emocional do outro por meio do tom da voz, embora, neste caso, exista a capacidade de entender as palavras. Para ilustrar, as pessoas lesionadas em certas regiões da área direita dos lobos frontais, ao ouvirem “muito obrigado” em diferentes sentidos – sarcástico, agradecido ou furioso –, compreenderam essas expressões de uma mesma forma, isto é, simplesmente como uma gratidão no sentido neutro. Em um outro estudo realizado em 1979, também citado por Goleman (2007), foi observado que pacientes com danos em outras partes do hemisfério direito eram incapazes de expressar suas emoções por meio do tom de voz ou gestos; neste caso, sabiam o que sentiam, mas simplesmente não eram capazes de transmití-lo. Esses estudos serviram como base para Brothers (1989, citado por Goleman, 2007) que indicou, a partir do exame de relatos neurológicos, que as amígdalas corticais e suas ligações com a área de associação com o córtex visual como parte dos circuitos-chave do cérebro é que estão por trás da empatia. Um dos estudos citados por Brothers (1989, citado por Goleman, 2007) para sustentar sua tese, foi realizado com macacos Rhesus. Neste estudo, os macacos foram treinados para terem medo de um determinado som, fazendo-os ouvirem-no ao levarem um choque. Em seguida, esses macacos foram treinados a levantar uma alavanca sempre que ouviam o som. Finalmente, pares desses macacos foram colocados em jaulas separadas, tendo como fonte de comunicação entre si, um circuito 77 fechado de TV, que lhes permitiam ver o rosto um do outro. O que se constatou foi que quando um dos macacos ouvia o som temido, demonstrava uma expressão de pânico, que levava o outro macaco, ao olhar esta fisionomia, a empurrar a alavanca que impedia o choque, um ato altruístico de empatia. Para testar a relação entre o córtex visual e as amígdalas com a empatia, os pesquisadores inseriram delicadamente longos eletrodos pontiagudos no cérebro dos macacos. Os resultados indicaram que quando um macaco via a fisionomia do outro, essa informação levava ao disparo de um neurônio, primeiro, no córtex visual, e depois, nas amígdalas corticais, que se diferenciava do disparo do neurônio ao responder a expressões emocionais específicas – o que levaram os pesquisadores a concluir que a empatia é um dado biológico. Dentro de uma perspectiva crítica a abordagem biológica apresentada no parágrafo anterior, Vignemont e Singer (2006) questionam a suposição de que se compartilha das emoções dos outros a partir de uma automaticidade cerebral e propõem uma abordagem contextual, sugerindo que existem vários fatores moduladores que podem influenciar na resposta empática do cérebro. Na compreensão desses autores, a avaliação contextual acontece antes da sugestão emocional, e é ela que conduz ou não o cérebro a uma resposta empática, já que não empatizamos com tudo o que vemos, e quando empatizamos somos mobilizados em função do estímulo indutor. 2.2. A perspectiva de Hoffman Aceitando o aspecto evolutivo da empatia, mas a estudando de uma perspectiva, sobretudo, psicológica, Hoffman (1989, p. 285) define a empatia como sendo “a capacidade de uma pessoa para colocar-se no lugar do outro (role-taking), inferir seus sentimentos e, a 78 partir do conhecimento gerado por esse processo, dar uma resposta afetiva mais adequada para a situação do outro do que para sua própria situação” e, de forma semelhante ao que Kohlberg faz em relação ao desenvolvimento moral, Hoffman (1990, 2003) elenca estágios de desenvolvimento empático, que evoluem juntamente com o desenvolvimento cognitivo, conforme listado a seguir: Empatia global: em idades muito precoces, quando a criança tem dificuldade de se distinguir do outro, ela está susceptível a vivenciar sentimentos empáticos ao testemunhar a angústia do outro, como se aquela angústia estivesse ocorrendo com ela mesma. Para ilustrar esta fase, Hoffman cita o choro do recém nascido despertado pelo choro de outros bebês, como um precursor rudimentar de angústia empática, em que a criança chora como se ela mesma tivesse sofrendo. Como dado adicional, este choro é percebido por Hoffman (2003) como uma mistura de mímica inata, que ocorre automaticamente, e de condicionamento. Empatia egocêntrica: com o desenvolvimento da consciência sobre a permanência dos objetos (Piaget, 1932/1994), a criança torna-se capaz de distinguir sua experiência da do outro, mas ainda de forma bastante rudimentar, o que a leva a confundir, diante de uma situação adversa, quem está realmente angustiado, se ela ou o outro. Com cerca de um ano e seis meses, a criança torna-se consciente de que não é a outra pessoa, embora ainda considere os estados internos do outro como iguais aos seus (Hoffman, 1990). Para ilustrar, tem-se o exemplo de uma criança que pede para sua mãe confortar outra criança que está chorando, mesmo percebendo que a mãe da outra criança está por perto. Angústia empática quase-egocêntrica: Mais ou menos a partir dos quatro ou cinco anos, com o desenvolvimento da habilidade de role-taking (neste caso, ainda rudimentar), a criança torna-se capaz de não mais confundir a sua angústia com a 79 angústia da outra criança. Porém, como ela ainda não conhece os estados internos do outro, ela procura ajudar o outro com algo que ajuda a ela própria. Ao ver uma criança chorando, por exemplo, a criança pode oferecer seu ursinho para tentar consolar a outra criança. Verdadeira angústia empática – nesse estágio, a criança é capaz de empatizar, com mais exatidão que antes, com os sentimentos e necessidades do outro e, desta forma, pode ajudar o outro com mais eficiência. Isto se dá em função do desenvolvimento da capacidade de role-taking e com a aquisição de conhecimentos metalingüísticos e meta-empáticos. Angústia empática além da situação ou empatia pela condição de vida dos outros: na adolescência, quando se começa a formar conceitos sociais e com o desenvolvimento da concepção de que outras pessoas possuem histórias e identidades particulares, o indivíduo torna-se capaz de empatizar não só com a dor ou desconforto imediato do outro, mas também com a tristeza crônica do outro ou com a sua desagradável condição de vida. Note-se que a evolução de um estágio de empatia para o outro está diretamente relacionada ao desenvolvimento de um senso cognitivo sobre a existência de outras pessoas ou do processo de diferenciação do eu. Conforme Hoffman (1990, 1991), essa diferenciação ocorre em uma seqüência de quatro estágios: 1) o sujeito não é capaz de se diferenciar do outro; 2) o sujeito adquire a consciência de que o outro é fisicamente diferente de si; 3) o sujeito tem consciência de que o outro possui sentimentos e estados internos independentes dos seus; 4) o sujeito obtém consciência de que as outras pessoas possuem histórias e experiências peculiares e que os seus sentimentos continuam a existir além do aqui e agora. É nesta perspectiva que Hoffman (2003) afirma que a evolução dos estágios da empatia está 80 intimamente relacionada ao avanço do role-taking, o que não significa dizer que o surgimento de uma resposta afetiva empática mais evoluída representa o desaparecimento de respostas empáticas mais primitivas; e, além disso, não se pode esquecer que, para Hoffman (1991), a maior parte das respostas afetivas empáticas requer baixos níveis de processamento cognitivo. O avanço cognitivo também está intimamente ligado com dois conceitos centrais da teoria de Hoffman (1990, 1991), o de angústia empática e o de angústia simpática. O primeiro conceito, o de angústia empática, faz referência às sensações afetivas de incômodo, desconforto ou angústia, vivenciadas no self, quando o sujeito percebe que os outros estão passando por algum infortúnio, o que não exige maiores descentrações cognitivas, já que este tipo de angústia está prioritariamente centrada no self. Esta angústia pode levar o indivíduo a procurar se libertar dela. O segundo conceito, o de angústia simpática, descreve um sentimento de compaixão ou pena pela vítima do infortúnio, que pode se transformar em uma vontade de aliviar a angústia do outro, e, desta forma pode contribuir para comportamentos pró-sociais. Note-se que, cognitivamente falando, a transformação da angústia empática na angústia simpática, depende, segundo Hoffman, do desenvolvimento do sentido cognitivo do outro e, conseqüentemente, da transferência de parte dos afetos empaticamente sentidos no self para a imagem do outro. Especificamente em relação à angústia empática, Hoffman (1990) afirma que apesar deste tipo de afeto parecer “egoísta”, ele também tem um papel relevante para os comportamentos pró-sociais, pois, na medida em que uma pessoa procura aliviar a sua própria angústia, ela, necessariamente, está sujeita a aliviar a angústia do outro e, desta forma, a ter um comportamento pró-social. Além dos dois sentimentos supramencionados (angústia empática e angústia simpática), Hoffman (2003) indica outros tipos de sentimentos vicários que revelam diferentes formas de empatia, a saber: 81 Raiva empática: é o sentimento de raiva direcionado a um agressor em defesa da vítima de uma agressão. Esse sentimento pode ocorrer, por exemplo, em uma situação em que se presencia uma criança sendo espancada por um adulto e se sente raiva do agressor em detrimento da compaixão sentida pela criança. Compaixão empática – é o sentimento de pena desencadeado em relação à pessoa que foi agredida, isto é, em relação à vítima. Culpa empática: é o sentimento gerado quando o observador percebe que ele não fez nada para mudar a situação da vítima, sobretudo quando a não ajuda decorre de motivos egoístas, como: evitar o envolvimento com a situação e evitar conseqüências desagradáveis. Neste caso, a culpa empática pode fazer com que o indivíduo, que não socorreu a vítima, passe a ajudar outras vítimas em situações semelhantes. Injustiça empática: é o sentimento que emerge quando o observador vê uma pessoa considerada como boa ser submetida a um sofrimento. O observador sentirá injustiça, ao concluir que o sofrimento infligido a vítima não era merecido. A este respeito, Hoffman comenta que existe uma tendência do observador sentir, primeiramente, tristeza, raiva e talvez culpa, mas, em seguida, ao concluir que o sofrimento da vítima não era merecido, sentir injustiça (indignação). Além destes tipos de sentimentos empáticos, outros podem ser constituídos, conforme lembra Hoffman (2003), a partir da combinação de dois ou mais destes sentimentos, em função do tipo de atribuição causal feita pelo observador, assim como do seu grau de sensibilidade empática. Tendo em vista não tornar a tese repetitiva, outras questões da teoria de Hoffman serão abordadas e aprofundadas no Capítulo III, que trata da relação entre moral e empatia e passarse-á, agora, para o próximo ítem, onde serão apresentadas as principais técnicas de mensuração que têm sido utilizadas para avaliar empatia. 82 2.3. A avaliação da empatia O interesse em estudar a empatia tem crescido nos últimos anos. Dentre os trabalhos empíricos, nota-se que a forma de avaliar a empatia tem variado. Utiliza-se tanto questionários, escalas e histórias ilustradas (por fotos, figuras e gravações), quanto índices somáticos (análise das expressões faciais e dos gestos) e índices fisiológicos (verificação da condutibilidade e temperatura da pele e da freqüência cardíaca, por exemplo). Em relação aos instrumentos que utilizam indicadores somáticos e fisiológicos, esses têm se mostrado muito úteis no sentido de diminuir a desejabilidade social (Eisenberg-Berg & Mussen, 1978). Contudo, as desvantagens em utilizá-los parecem suplantar as vantagens. Em primeiro lugar, esse tipo de técnica exige uma série de aparelhos caros e mostra-se incômoda para os participantes da pesquisa. Ademais, o manuseio dos aparelhos exige do pesquisador um certo grau de especialização para utilizá-lo e interpretar os resultados. Sobre os métodos que mensuram a empatia por meio de indicadores fisiológicos, especificamente Strayer e Eisenberg (1987) comentam que esta forma de mensuração apresenta-se como desvantajosa por estar relacionada com a incitação emocional geral, sem que haja certeza acerca do tipo de emoção vivenciada. No que se refere às medidas somáticas (baseadas na análise sobre a expressividade facial), na avaliação de Strayer e Eisenberg (1987), elas podem ser bem aproveitadas, desde que juízes sejam altamente treinados para diferenciar tipos de emoções a partir das expressões faciais de uma pessoa. Quanto aos instrumentos tipo lápis e papel, de acordo com Pérez-Albéniz, Paúl, Etxeberría, Montes e Torres (2003), destacam-se os seguintes: Hogan Empathy Scale (HES, Hogan, 1969), Questionnaire Measure of Emotional Empathy (QMEE, Mehrabian & Epstein, 1972) e Interpersonal Reactivity Index (IRI, Davis, 1980). 83 É importante esclarecer que o HES é considerada, na análise de Cliffordson (2001), uma medida de empatia cognitiva, o QMEE, como o próprio nome da escala sugere, uma medida de empatia emocional, e o IRI, por outro lado, é uma medida multidimensional, formado, classicamente por 4 sub-escalas, sendo duas Afetivas – personal distress (angústia pessoal) e emphatic concern (consideração empática) – e duas Cognitivas – role-taking (tomada de perspectiva) e fantasy (fantasia). É relevante comentar que o último instrumento mencionado, o IRI, foi um dos instrumentos escolhidos para medir a empatia na presente tese1. A sua escolha justifica-se, em primeiro lugar, pelo IRI apresentar um caráter multidimensional, que é congruente com a compreensão teórica adotada nesta tese a respeito da empatia; e, em segundo lugar, porque ele vem sendo utilizado com eficácia por diversos pesquisadores de todo mundo (Escrivã, Navarro & Garcia, 2004; Pérez-Albéniz et al., 2003; Ribeiro, Koller & Camino, 2002, Sampaio, 2007; Siu & Shek, 2005). Para se ter uma idéia da aceitação do referido instrumento entre os pesquisadores, nos últimos cinco anos, foram encontrados 101 trabalhos empíricos, indexados ao PsycINFO, que relataram o uso do IRI; apenas 8 que relataram o uso do QMEE e 7, o uso do HES; em terceiro lugar, a escolha do IRI é respaldada pelo fato deste instrumento já ter sido validado no Brasil por Ribeiro, Koller e Camino (2002) e utilizado com eficácia por pesquisadores brasileiros (Ribeiro, 1996; Sampaio, 2007). Apoiando a escolha do IRI, menciona-se que Strayer e Eisenberg (1987) consideram, ao avaliar os diferentes instrumentos de mensuração da empatia, os instrumentos multidimensionais os mais aperfeiçoados e acurados para investigar a empatia. Outra questão que merece ser comentada é que, ao se analisar os instrumentos utilizados para medir a empatia, nota-se o predomínio do uso de instrumentos que avaliam a empatia em relação a personagens que sentem diferentes emoções, as quais não, 1 É importante esclarecer que na presente tese foi utilizada a versão traduzida, validada e adaptada por Ribeiro, Koller e Camino (2002). 84 necessariamente, relacionam-se a problemas no nível societal ou no intergrupal – as questões são, na maioria das vezes, formuladas no nível interpessoal, em relação ao que se sente ou pensa sobre pessoas. Para ilustrar, no IRI, os itens são elaborados nos seguintes termos: “quando eu vejo alguém se ferir, eu tendo a permanecer calmo”; “quando eu estou incomodado com alguém, geralmente eu tento me colocar em seu lugar por um momento”. Como a proposta de intervenção da presente tese busca trabalhar questões morais atreladas tanto as relações interpessoais como a problemas sociais, considera-se pertinente a criação de um instrumento para medir a empatia em um nível que ultrapasse as relações interpessoais. É neste sentido que se propõe no novo instrumento a avaliação da empatia em relação a grupos de pessoas vítimas de problemas sociais. Para esclarecer, esses grupos são grupos minoritários (por exemplo, negros sendo menosprezados), trabalhadores (por exemplo, pessoas que são obrigadas a deixar o campo para trabalhar na cidade), “apenados” (por exemplo, presos vivendo em situações desumanas), e animais (por exemplo, animais sendo maltratados) (ver Estudo 1). Na próxima seção, destacar-se-ão os estudos empíricos realizados acerca da empatia, tendo como fonte principal a base de dados dos Periódicos Capes. 2.4. Estudos empíricos Os resultados de uma pesquisa realizada, em Junho de 2010, nas principais bases de dados de artigos científicos dos Periódicos Capes, utilizando “empatia” (empathy) como palavra-chave, demonstraram que existe um número significativo de trabalhos acerca da empatia (PsycINFO = 12919, BIREME = 12011 e Scielo Brasil = 67), contudo, poucos são os estudos que se relacionam com esta tese. Seguindo o mesmo padrão de apresentação dos 85 estudos empíricos acerca do desenvolvimento moral, realizada no Capítulo I, apresentar-se-á nesta seção apenas os artigos que, de uma forma ou de outra, se relacionam com este trabalho, assim como serão excluídos desta seção as pesquisas que já foram citadas anteriormente e serão incluídos estudos que se relacionem ao tema, mesmo que não estejam indexados nas bases de dados supramencionadas. Interessados em investigar a estrutura fatorial do construto empatia nas diferentes culturas, Enz e Zoll (2006) realizaram uma pesquisa com 252 crianças de Portugal (n = 55), Alemanha (n = 96) e Reino Unido (n = 101), do sexo masculino e do sexo feminino, com idades variando entre 8 e 14 anos; e 200 crianças chinesas do sexo masculino e do sexo feminino, com idades variando entre 7 e 13 anos. Para tanto, utilizaram um instrumento baseado na Escala de Bryant (1982) e um instrumento desenvolvido por um pesquisador alemão. De um modo geral, os resultados de análises fatoriais demonstraram a existência de duas dimensões da empatia: uma cognitiva e outra afetiva; contudo, é relevante registrar que, na amostra chinesa, a distinção entre essas duas dimensões foi mais fraca do que nos outros países. Em relação à dimensão afetiva da empatia, os resultados demonstraram que as crianças chinesas são mais empáticas do que as crianças dos outros países e que as crianças germânicas são as menos empáticas; no que se refere à dimensão cognitiva da empatia, as crianças do Reino Unido pontuaram mais alto que as crianças dos outros países nestes itens. Sobre os resultados observados na amostra chinesa, os autores ressaltaram que a diferença encontrada pode ter sido decorrente de valores grupais fortemente arraigados na cultura desse país. Também com o objetivo de estudar a dimensionalidade fatorial da empatia, Siu e Shek (2005) realizaram um estudo com estudantes secundaristas e universitários da China utilizando uma versão traduzida e adaptada da escala Interpersonal Reactivity Index (IRI, Davis, 1980). Os resultados revelaram que, apesar das análises confirmatórias corroborarem o modelo de Davis (1983), análises exploratórias apontaram para a existência de um modelo 86 com três e não quatro fatores: no primeiro fator predominaram os itens da sub-escala personal distress; no segundo os itens da sub-escala fantasy e no terceiro fator houve um agrupamento dos itens da sub-escalas empathic concern e da perspective taking, o que sugere que pode não ter havido distinção para os jovens chineses entre os componentes cognitivos e afetivos da empatia, tal como eles são mensurados no IRI. Batson, Fultz e Schoenrade (1987), igualmente com o objetivo de investigar a estrutura fatorial do construto empatia, realizaram seis estudos em que pesquisaram se existiam diferenças na forma das pessoas reagirem ao testemunhar o sofrimento ou angústia de outra pessoa. Nesses estudos, os participantes avaliaram o tipo de reação afetiva e a intensidade desta reação a partir de uma lista com 14 adjetivos (alarmed, grieved, upset, worried, disturbed, perturbed, distressed, troubled, sympathetic, moved, compassionate, tender, warm e softhearted). Os resultados revelaram, mediante análise fatorial, a existência de dois fatores: distress (angústia), formado pelos sete primeiros adjetivos (alarmed, grieved, upset, worried, disturbed, perturbed e distressed) e empathy (empatia), constituído pelos seis últimos adjetivos (sympathetic, moved, compassionate, tender, warm e softhearted), o que apóia a perspectiva de Hoffman (1990, 1991) de que a consideração empática e a angústia empática (semelhante ao distress) são experiências subjetivas distintas. Ribeiro, Koller e Camino (2001), com o objetivo de adaptar e validar o IRI de Davis (1980) e a Escala de Empatia de Bryant (1982) para o contexto brasileiro, realizaram um estudo com adolescentes entre 14 e 16 anos, estudantes do ensino fundamental e do ensino médio de escolas públicas e privadas. Os escores de consistência interna de ambas as escalas (0,74 e 0,75) foram considerados satisfatórios e as versões traduzidas para o português foram recomendadas pelos pesquisadores. No que se refere à relação entre a empatia e as variáveis sócio-demográficas, Lennon e Eisenberg (1987), fundamentados em uma revisão realizada em pesquisas que consideram a 87 influência do gênero e da idade sobre o construto empatia, sugerem que não existe um consenso entre os pesquisadores acerca de tal influência. Especificamente em relação ao gênero, Lennon e Eisenberg (1987) mencionam que existe a influência dos métodos utilizados para acessar a empatia: em situações nas quais os participantes tinham controle consciente sobre suas respostas e as demandas situacionais eram elevadas, as diferenças tenderam a ser mais acentuadas e, por outro lado, quando as demandas eram mais sutis e os participantes não tinham controle consciente de suas respostas, nenhuma diferença de gênero foi observada. De forma semelhante, Lennon e Eisenberg (1987) apontaram que a questão metodológica também pode ter influenciado as diferenças entre os resultados dos estudos que tratam da variável idade: auto-relatos sobre as emoções sentidas, quando se inferem os afetos de outras pessoas, parecem aumentar com avanços na idade; e, índices que se baseiam em expressões faciais parecem estar inversamente relacionados, ou até mesmo não relacionados ao aumento da idade durante os anos escolares. Diferenças de gênero foram identificadas nos quatro países estudados por Enz e Zoll (2006): os resultados indicaram que as meninas se descreveram como sendo mais empáticas do que os meninos. Sobre o efeito do nível de escolaridade, os pesquisadores constataram que os escores das duas dimensões da empatia diminuíram à medida que as crianças avançavam nas séries escolares. No que se refere ao efeito da idade, apenas na amostra chinesa se constatou o efeito desta variável: o índice de empatia diminuiu à medida que a idade das crianças avançou. Ribeiro, Koller e Camino (2001) também verificaram diferenças de gênero em relação ao sentimento de empatia: as meninas apresentaram escores mais altos do que os meninos na Escala de Empatia de Bryant e na versão brasileira do IRI de Davis. Em relação à escolaridade, os pesquisadores constataram que os estudantes do ensino fundamental apresentaram maiores escores do que os de ensino médio na Escala de Empatia de Bryant. 88 Sampaio et al. (2008), em uma pesquisa realizada com 120 adolescentes, do sexo masculino e do sexo feminino, de escolas públicas e particulares, utilizando a versão brasileira da escala de Davis, adaptada por Ribeiro, Koller e Camino (2001), verificaram diferenças nos níveis geral de empatia, consideração empática e personal distress, relacionadas ao sexo, mas nenhuma influência desta variável sobre a tomada de perspectiva. Além disso, observaram diferenças entre estudantes de escolas públicas e particulares no que se refere aos escores obtidos no nível geral de empatia e de consideração empática. Em um outro estudo, Barnett, King, Howard e Dino (1980) abordaram a questão do gênero analisando os antecedentes da empatia. Neste estudo, constataram que a empatia nas meninas estava significativamente associada com a empatia nas mães, e não nos pais; as mães também revelavam maiores níveis de afeto na interação com seus filhos, ênfase nos sentimentos das outras pessoas, e menos uso de disciplina do que os pais. Cecconello e Koller (2000), partindo do conceito de empatia de Eisenberg e Strayer (1987), investigaram a relação entre competência social e empatia, utilizando o Teste das Histórias Incompletas (THI) de Mondell e Tyler (1981) para avaliar competência social e a Escala de Empatia para Crianças e Adolescentes (EECA) de Bryant (1982) para avaliar a empatia. Participaram do estudo 100 crianças, do sexo feminino e do sexo masculino, com idades entre seis e nove anos em situação de pobreza. Os resultados indicaram que as meninas eram mais competentes socialmente e mais empáticas do que os meninos. Da mesma forma, as crianças mais empáticas tendiam a ser mais competentes socialmente do que as outras. Utilizando a mesma escala administrada por Cecconello e Koller (2000), a EECA de Bryant (1982), Motta, Falcone, Clark e Manhães (2006) investigaram a relação entre práticas educativas e empatia, definida dentro de uma perspectiva evolucionista (Plutchik, 1992). Para tanto, além de aplicarem a EECA a 77 crianças (sendo 37 de abrigos), os autores realizaram entrevistas com base em cenas de vídeo, selecionadas para eliciar raiva, tristeza, alegria e 89 medo. De um modo geral, os resultados indicaram que as crianças do Abrigo de curta permanência apresentaram escores inferiores aos das crianças do Abrigo de longa permanência e do Lar, tanto em termos de empatia quanto de práticas educativas, o que sugere, na análise dos autores, a existência de uma relação entre as práticas educativas adotadas pelos pais ou responsáveis e o desenvolvimento da empatia em crianças. Nunes e Hutz (2007) abordaram a empatia, ou melhor dizendo a falta de empatia, como um traço de personalidade avaliado pela Escala Fatorial de Socialização (EFS). Participaram do estudo realizado por Nunes e Hutz (2007), 1100 pessoas de cinco estados brasileiros, do sexo masculino e do sexo feminino, com nível de escolarização médio ou superior. Análises fatoriais, para a verificação da dimensionalidade da EFS, indicaram três fatores, denominados de Amabilidade, Pró-sociabilidade e Confiança nas pessoas. Em relação à relevância de se estudar empatia, estudos atuais têm revelado que a habilidade de empatia pode estar relacionada com uma série de benefícios, tais como: 1) Uma maior aceitação pelos pares – Um estudo realizado por Warden e Mackinnon (2003), com 131 crianças de 9 a 10 anos de idade, revelou, dentre outros resultados, que crianças consideradas empáticas eram significativamente mais populares do que os outros grupos de crianças avaliadas. 2) Um maior ajustamento social – Uma pesquisa realizada por Crick (1996), que teve como objetivo inicial avaliar a agressão relacional em crianças em idade pré-escolar, demonstrou que crianças não empáticas eram mais susceptíveis a terem um menor ajustamento social. 3) Uma melhor saúde mental – Um estudo realizado por Blair (1997) demonstrou que crianças com alto grau de tendência psicopática apresentavam menores índices de habilidades empáticas (medida pela atribuição de emoções morais para os 90 protagonistas das histórias) do que crianças com um baixo nível de tendência psicopática. 4) Uma maior preocupação com o outro – Uma pesquisa realizada por Hastings, ZahnWaler, Robinson, Usher e Bridges (2000), que tinha como objetivo principal investigar o problema da preocupação com o outro por crianças com problemas de comportamento, revelou que crianças com problemas de comportamento apresentavam uma tendência significativa a não se preocupar com mães, professores e outras crianças, além de apresentarem um baixo grau de sensibilidade empática, quando comparadas com outros grupos de crianças. 5) Maior qualidade nas relações maritais. Um estudo realizado por Davis (1983), com 119 estudantes universitários envolvidos em relacionamentos monogâmicos românticos, apoiou a idéia de que a capacidade empática favorece uma maior qualidade nas relações maritais. Ciente dos benefícios da empatia para o ser humano, uma pesquisadora contemporânea e estudiosa da empatia, Susan Verducci, comenta que um grupo "extraordinariamente diversificado de pensadores educacionais americanos estão chamando para cultivar a empatia nas escolas com o objetivo de educação moral" (2000a, p.63). Ela cita o trabalho dos educadores Thomas Lickons, William Bennett e Maxine Greene, do teórico Nel Noddings, e dos filósofos da moral John Deigh, Deborah Meier e Martha Nussbaum, ressaltando que apesar desses estudiosos partirem de perspectivas diferentes, todos "entendem a empatia como conectada a moralidade" (p. 63). É importante registrar que os autores mencionados por Verducci (2000a) apenas exaltam teoricamente a importância da empatia na escola, porém a seguir serão apresentadas algumas intervenções. Day (2002) investigou os efeitos de uma oficina de teatro destinada a aumentar a empatia de alunos, entre 11 e 15 anos, com pessoas refugiadas e com pessoas desabrigadas, 91 assim como para incentivá-los a tornarem-se agentes morais autônomos. Participaram das oficinas três escolas, localizadas em Londres, etnicamente diversificadas. Os dados foram obtidos por meio de observações descritivas e entrevistas semi-estruturadas com os alunos, antes e imediatamente após a oficina e, novamente, dois meses depois. Os resultados revelaram que as percepções dos alunos sobre os refugiados e pessoas desabrigadas mudaram após a participação nas oficinas. Além disso, foi verificado entre os alunos bastante entusiasmo para a promoção de ações voltadas à inclusão dos refugiados e pessoas desabrigadas no convívio social. Contudo, depois de dois meses, o entusiasmo inicial foi substituído por frustração, gerada em função de não saberem como tomar outras medidas. Apoiando o programa de intervenção voltado para a promoção da empatia por intermédio do teatro, Verducci (2000b) defende a hipótese de que a experiência de atuar favorece a empatia. Também corroborando esta idéia Collum (1976), em um estudo empírico, utilizando a Escala de Empatia de Hogan, revela que os atores são mais empáticos que os não atores. Por outro lado, conforme comenta Arnold (2003), a imaginação é uma característica necessária, mas não suficiente para promover empatia. Para este autor, deve-se incentivar os alunos a também participar de experiências cognitivas, mediante uma dinâmica entre pensamento e sentimento, a fim de promover a aprendizagem da empatia mais eficazmente. Em uma perspectiva semelhante à de Arnold (2003), Upright (2002) sugere o uso de Dilemas Morais para aumentar a Empatia em crianças. Na perspectiva de Upright, a empatia é um processo apreendido que pode ser modelado com sucesso nas aulas a partir do uso de dilemas morais e role-play. Na sua concepção a estratégia deve envolver: (a) a utilização de observações formais e informais, (b) entrevistas informais, (c) a escolha das histórias adequadas, (d) vários métodos de apresentação e (e) grandes discussões em pequenos grupos e (f) técnicas de fechamento, tais como amostras de escrita criativa. 92 Em um estudo realizado no Canadá, por Tsai e Kaufman (2009), foi investigada uma forma de educação empática bastante inusitada. Os pesquisadores estudaram a possibilidade de se utilizar um vídeo game portátil que simula um animal de estimação para melhorar a empatia da criança e as atitudes humanas. Os resultados mostraram que, após o jogo Nintendogs, quando se confrontou os resultados do pré-teste com os do pós-teste, os participantes de ambos os sexos tiveram um aumento significativo no grau de empatia, verificado por meio da Bryant Empathy Index, assim como no nível de atitude humana, verificado por intermédio da Intermediate Attitude Scale. As análises estatísticas também apontaram para uma correlação entre o tempo de brincadeira com o jogo e a melhora no relacionamento com animais. No Brasil, Falcone (1999) desenvolveu um Programa de Treinamento da Empatia (PTE), no qual foi utilizado jogos de papéis para promover a empatia em estudantes universitários, em 11 encontros. Nesse trabalho, no grupo experimental participaram dez estudantes (três do sexo masculino e sete do sexo feminino), selecionados randomicamente, e, no grupo de controle, sete sujeitos (quatro do sexo masculino e três do sexo feminino). Os sujeitos foram filmados em situações de jogos de papéis, antes e depois do treinamento, com follow up de 30 dias. Os conteúdos verbais e não-verbais de seus comportamentos foram avaliados por seis juízes previamente treinados e cegos para ambos os grupos. Os resultados revelaram mudanças significativas entre os grupos na comunicação verbal e em quatro dos 12 aspectos da comunicação não-verbal. Mais recentemente, foi publicado um trabalho de Frare et al. (2005), que tinha como objetivo principal avaliar um programa para o ensino do comportamento empático em crianças brasileiras, em contexto clínico. Dentro de uma perspectiva comportamental, os autores desenvolveram atividades lúdicas para o ensino de nove comportamentos empáticos, sob a contingência de reforços positivos. Desses comportamentos, seis foram aprendidos pela 93 criança durante as sessões. Os resultados possibilitaram, de acordo com os autores, identificar que, quando o ensino é programado, a aprendizagem ocorre de maneira a possibilitar ao terapeuta intervir mais precisamente sobre aqueles comportamentos que estão com mais dificuldades de serem aprendidos, aumentando, dessa forma, a eficiência do atendimento. 2.5. Considerações sobre o capítulo Ao se realizar um breve percurso histórico sobre a noção de empatia, percebe-se que este construto tem sido objeto de interesse, ao longo dos anos, de diversos campos do saber. Especificamente na psicologia, a empatia tem sido estudada, sobretudo, por pesquisadores das áreas clínica, social, behaviorista e do desenvolvimento. Sobre o conceito de empatia, nota-se que as definições apresentadas focalizam aspectos distintos. Alguns autores defendem que a empatia é um fenômeno predominantemente cognitivo; enquanto outros afirmam que a empatia é essencialmente afetiva, com alguns componentes cognitivos; ainda outros vêem a empatia como um construto multidimensional, que abrange não apenas componentes cognitivos e afetivos, mas também comportamentais (Davis, 1980; Ribeiro, Koller & Camino, 2002). Esta última compreensão da empatia é a que tem tido mais sucesso na atualidade entre os estudiosos. Pode-se dizer que Hoffman adota também uma perspectiva multidimensional, na medida em que considera em sua teoria as três dimensões da empatia: a dimensão cognitiva, quando ele exalta, por exemplo, a importância do role-taking para o avanço do desenvolvimento empático, a dimensão afetiva, quando discorre, por exemplo, sobre os primeiros estágios de desenvolvimento da empatia, e a dimensão comportamental, quando comenta, por exemplo, sobre os comportamentos pró-sociais motivados pela empatia. Além 94 do mais, Hoffman pode ser considerado o autor que melhor oferece um detalhamento dos aspectos psicológicos envolvidos em diferentes formas de empatia (raiva empática, compaixão empática, culpa empática, injustiça empática) e em diferentes estágios de empatia (empatia global, empatia egocêntrica, angústia empática quase egocêntrica, verdadeira angústia empática, angústia empática além da situação ou empatia pela condição de vida dos outros). Por outro lado, Hoffman é o único a assumir uma posição eclética, em que reúne idéias do behaviorismo, do cognitivismo e da aprendizagem social (Camino, 2009). Foi nesse sentido que se elegeu Hoffman como o principal teórico da empatia desta tese. Também a sua escolha se deu em função da relação que ele faz entre empatia e desenvolvimento moral, que será apresentada no próximo capítulo, e de sua perspectiva sócio-cognitiva, que se assemelha a de Piaget e Kohlberg (os autores que fundamentam a concepção de desenvolvimento moral adotada nessa tese). Em relação à avaliação da empatia, merece destaque, na análise de Strayer e Eisenberg (1987), as escalas multidimensionais como sendo as mais aperfeiçoadas, já que tem predominado nelas uma operacionalização da empatia como um construto multidimensional. Por outro lado, ao se analisar essas escalas, nota-se o predomínio de testes que medem a empatia apenas em relação a personagens que sentem diferentes emoções, as quais não, necessariamente, relacionam-se a problemas sociais – as questões são, na maioria das vezes, formuladas em relação ao que se sente ou pensa sobre pessoas. É nesse sentido que se propõe no novo instrumento a avaliação da empatia focada em personagens classificados socialmente em categorias que se encontram em situações referentes a diferentes problemáticas sociais. No que se refere aos estudos empíricos, alguns foram encontrados, mas poucos têm relação direta com esta tese. Duan e Hill (1996) consideram tímido o número de trabalhos nessa área nas últimas décadas, o que é corroborado por Camino (2009) quando analisa o estudo da empatia no contexto brasileiro. Os estudos realizados demonstram diferenças em 95 relação ao sentimento empático em função da cultura (Enz & Zoll, 2006); controvérsias em relação à influência do gênero e da idade sobre a empatia (Lennon & Eisenberg, 1987); uma tendência a se perceber a empatia como um construto multifatorial (Batson, Fultz & Schoenrade, 1987; Ribeiro, Koller & Camino, 2001; Siu & Shek, 2005); diferentes benefícios do desenvolvimento da habilidade empática, tais como: uma maior aceitação pelos pares (Warden & Mackinnon, 2003), um maior ajustamento social (Crick, 1996), uma melhor saúde mental (Blair, 1997), uma maior preocupação com o outro (Hastings et al., 2000) e uma maior qualidade nas relações maritais (Davis, 1983). Em termos teóricos, existem muitos contrapontos conceituais, há definições da empatia que ressaltam, sobretudo, o componente comportamental da empatia (Falcone, 1999; Freire et al., 2005); definições que dão ênfase, sobretudo, ao componente afetivo (Cecconello & Koller, 2000); definições que concebem a empatia dentro de uma visão desenvolvimentista, definindo-a a partir de M. L. Hoffman (Sampaio et al., 2008); definições que se referem a empatia como uma habilidade social, constituída de três componentes, o cognitivo, o afetivo e o comportamental (Motta et al., 2006); e, finalmente, definições que abordam a empatia como um traço de personalidade (Nunes & Hutz, 2007). Em termos empíricos, existe uma grande variedade de formas de se estudar a empatia. Mas, nos artigos analisados (Cecconello & Koller, 2000, Motta & cols., 2006, Nunes & Hutz, 2007, Sampaio et al., 2008) prevaleceu o uso do instrumento denominado escala. Para finalizar, é importante comentar que poucos trabalhos foram encontrados com propostas de intervenções voltadas para o desenvolvimento da empatia, apesar dos benefícios indiscutíveis das intervenções realizadas (Verducci, 2000b). Nessas propostas predominam o uso da dramatização e de jogos de papéis, que para se tornarem eficazes deveriam, na análise de Arnold (2003), incluir experiências cognitivas, mediante uma dinâmica entre pensamento e sentimento. É exatamente sobre esta relação entre pensamento e afeto que o próximo capítulo 96 discorrerá; mais precisamente, sobre a relação entre moral e empatia, tanto do ponto de vista teórico, quanto do ponto de vista empírico. 97 CAPÍTULO III – MORAL E EMPATIA 98 3.1. Considerações teóricas Durante muito tempo se difundiu a idéia de que as emoções podem prejudicar o raciocínio moral. Em um tribunal, por exemplo, os jurados são orientados a não permitir que as emoções influenciem suas decisões. Segundo Pizarro (2000), esta concepção que percebe um antagonismo entre julgamento moral e emoção encontra nas teorias acerca da moral pelo menos três argumentos favoráveis. O primeiro, é que as emoções destroem o princípio da imparcialidade do julgamento. Por exemplo, ao avaliar as ações de um indivíduo que roubou um carro, a opinião do indivíduo tende a mudar quando ele descobre que o ladrão é seu irmão. Neste caso, as emoções podem conduzir o avaliador no sentido de favorecer àqueles com quem ele se importa. Um segundo problema com as emoções é que elas surgem freqüentemente devido à presença de fatores arbitrários. Por exemplo, quando o indivíduo fica diante de um estranho necessitado, ele pode ser motivado a não ajudá-lo simplesmente porque ele está vestindo uma camisa que o faz lembrar de um velho inimigo. Os efeitos do humor no comportamento de ajuda também revelam este lado arbitrário das emoções. Por exemplo, o fato da pessoa estar de bom humor pode motivá-la a ajudar os necessitados. Finalmente, o terceiro argumento é que as emoções são involuntárias e, portanto, irracionais. Se isto for verdade, as emoções seriam meros reflexos automáticos da mente. Diante dos argumentos apresentados, parece claro que, em alguns casos, as emoções de fato levam os indivíduos a agir de uma forma que pode comprometer as suas decisões morais. No entanto, conforme argumenta Pizarro (2000), é questionável o posicionamento de 99 alguns teóricos que afirmam que as emoções nunca podem ajudar, e sempre prejudicam os julgamentos morais. Em primeiro lugar, porque, na análise de Pizarro, as pessoas são dotadas de capacidade de regular suas emoções, e em muitas ocasiões são capazes de efetivamente induzir ou suprimir as reações emocionais por meio de uma variedade de táticas, que as permitem recrutar emoções quando necessárias e flexibilizar outras. Em segundo lugar, conforme pontua Pizarro, as emoções não estão vazias, nem desprovidas de influência racional. Ao contrário, as emoções refletem as preocupações pré-existentes, como crenças e princípios morais, o que torna as emoções menos arbitrárias do que pode parecer. Finalmente, Pizarro argumenta que as emoções, ao invés de atrapalhar o processo de raciocínio moral, na verdade, ajudam o raciocínio moral agindo como um agente centralizador, que concentra a atenção e o recurso cognitivo do indivíduo sobre o problema em pauta. A defesa de Pizarro (2000) em relação à relevância das emoções sobre o julgamento moral fica ainda mais contundente quando ele pontua os benefícios da empatia para o julgamento moral, o que, na realidade, já vêm sendo destacado na psicologia do desenvolvimento (Eisenberg, 1986; Hoffman, 1990), na psicologia social (Batson, 1991) e na filosofia (Blum, 1980). O primeiro argumento que demonstra os benefícios da empatia para o julgamento moral refere-se ao fato de que a empatia tem a capacidade de sensibilizar o ser humano para o sofrimento do outro. Quando se está, por exemplo, na presença de uma pessoa angustiada, o sentimento empático fornece pistas do estado do outro, o que possibilita uma ação moral congruente com tal percepção (Eisenberg, 1986; Hoffman, 1990) Um outro argumento que ressalta os benefícios da empatia para o julgamento moral está atrelado a idéia de que o despertar da empatia não apenas conduz a informação do estado do outro, mas também leva o indivíduo a sentir com o outro, o que, por sua vez, pode determina a ação. Porém, é bom lembrar que, na análise de Pizarro (2000), a empatia não 100 determina a ação de forma automática, pois ela também pode ser confrontada com o sistema de crenças de um indivíduo. Por exemplo, se um indivíduo acredita que as injustiças na sociedade são devidas as desigualdades estruturais existentes; se este indivíduo é confrontado com uma pessoa sem-teto, sofrendo frio, mas que aparenta estar bêbado e lhe pede dinheiro; e se ele começa a ter uma resposta empática, neste instante, ele pode questionar se sua resposta empática é justificável. Em outras palavras, para Pizarro, na ausência de inconsistências graves, a ação de ajuda poderia até ser automática, apesar de não deixar a jurisdição das crenças morais; mas, em situações que causam inconsistências maiores entre as crenças morais, a empatia experimentada funcionaria mais como uma informação útil para a decisão a ser tomada. Por outro lado, conforme lembra Pizarro, a empatia também possui o poder de afetar o sistema de crenças morais. Parece, de fato, existir, conforme justificou Pizarro (2000) uma forte relação entre empatia e moral. Apoiando esta idéia, Fabes, Carlo, Kupanoff e Laible (1999) afirmam que, na atualidade, a maioria dos pesquisadores concorda que para desenvolver uma explicação abrangente do desenvolvimento pró-social e moral é necessário considerar a influência das emoções. Um bom representante desses estudiosos é o psicólogo Martin Hoffman. Na verdade, conforme lembra Hoffman (2003), a idéia de que as emoções, mais precisamente a empatia influencia o julgamento moral, não é nova. David Hume (1751/1957, citado por Hoffman, 2003) sugeriu, há dois séculos, que os seres humanos têm uma tendência a apoiar atos que promovem bem-estar no outro e a condenar atos que podem fazer mal. Neste sentido, se uma pessoa empatiza com alguém deve, por conseguinte, apoiar ou condenar, respectivamente, atos que ajudem ou prejudiquem este alguém. Além disso, Hume argumentou que a empatia promove o último critério válido para um julgamento moral correto/ menos injusto (correctness). 101 Particularmente Hoffman (1990) acredita que, durante o desenvolvimento, os afetos empáticos tornam-se parte de muitas estruturas motivacionais e afetivas, antes mesmo que os princípios morais sejam elaborados. E apóia, nesta direção, a idéia de Hume de que a empatia goza de uma anterioridade em relação à moral, e, em certo sentido, a determina. Desta forma, Hoffman difere de Piaget (1932/1994) e Kohlberg (1969, 1976, 1984). A crítica mais contundente que Hoffman (1990) faz à teoria de Kohlberg está relacionada ao pressuposto kohlberguiano de que a justiça é a essência da moralidade e constitui um princípio universal. Também considera falha a teoria de Piaget porque, de forma semelhante à Kohlberg, negligencia em suas investigações a influência de fatores afetivos e motivacionais no julgamento moral. Especificamente no que se refere à relação entre raciocínio moral e empatia, Hoffman (1990) percebe o raciocínio moral como sendo fortemente influenciado pela empatia, que age auxiliando o indivíduo a eleger qual dentre os princípios morais de justiça (necessidade, igualdade e eqüidade) seria mais importante para ser considerado em uma determinada situação. Em outras palavras, na visão de Hoffman (1990, 1991), o ato moral é motivado por uma tendência a buscar o bem-estar das outras pessoas, decorrente de afetos empáticos. Neste caso, seria a empatia que contribuiria para o julgamento moral e não o inverso. Por outro lado, é bom lembrar que, apesar de Piaget e Kohlberg não terem enfatizado o plano afetivo em investigações empíricas, eles não desconsideraram esta dimensão em suas teorias: segundo Kohlberg (1971), “...todos os eventos mentais têm aspectos cognitivos e afetivos, e o desenvolvimento de disposições mentais reflete mudanças reconhecíveis tanto nas perspectivas cognitivas quanto nas afetivas” (pp. 181-189); e, de acordo com Piaget (1977): “vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. E são inseparáveis porque todo o intercâmbio com o meio pressupõe ao mesmo tempo estruturação e valorização... Assim é que não se poderia raciocinar, inclusive em matemática, sem vivenciar 102 certos sentimentos...” (p. 16). De forma semelhante, dizer que Hoffman ressaltou a importância dos afetos sobre o desenvolvimento moral, não significa dizer que ele desconsiderou o aspecto cognitivo em sua teoria. Pelo contrário, na teoria de Hoffman (1990, 2003) o desenvolvimento cognitivo é exaltado na medida em que, para Hoffman, a empatia está inteiramente relacionada ao desenvolvimento de um senso cognitivo sobre a existência de outras pessoas e ao processo de diferenciação do self. Sobre este aparente antagonismo entre Kohlberg e Hoffman, Gibbs (1991) comenta que essas duas teorias são potencialmente integráveis e complementares: “Similarmente, [é razoável supor que] tanto a justiça (prescrições baseadas na igualdade e na reciprocidade) quanto à empatia... contribuam para a motivação do comportamento moral.” (p. 207). Gibbs acrescenta que tanto Kohlberg quanto Hoffman permitem tal integração: Kohlberg quando reconhece que não se dá a devida atenção ao papel desempenhado pelos sentimentos de empatia e compaixão; e Hoffman quando afirma que uma teoria da moralidade completamente compreensível deve, necessariamente, abordar o processo cognitivo da descentração. Em relação a Piaget, Gibbs (1991) afirma que esta visão é a mais completa acerca dos papéis motivacionais desempenhados pela afetividade e pela cognição, na medida em que para Piaget estas duas instâncias são inseparáveis e se influenciam mutuamente. A seguir serão apresentados os estudos empíricos que relacionam empatia e desenvolvimento moral, que, de uma forma ou de outra, confirmam ou refutam o que os autores aqui apresentados teorizaram. 3.2. Estudos empíricos Uma revisão da literatura realizada, em Junho de 2010, nos principais bancos de dados disponíveis no site dos Periódicos Capes, utilizando “moral and empathy” como palavras103 chave, revelou a presença de 615 no PsycINFO, 592 no BIREME e 3 no Scielo Brasil. Contudo, nessa seção, somente serão apresentados os artigos que, de uma forma ou de outra, contribuem para o debate teórico e empírico de interesse para esta tese. Preocupados em investigar como o cérebro infantil processa informações morais e empáticas, Decety, Michalska e Akitsuki (2008) realizaram experimentos com crianças entre sete e 12 anos. Os pesquisadores da Universidade de Chicago utilizaram uma functional Magnetic Resonance Imaging (fMRI) para avaliar a reação de 17 crianças (nove meninas e oito meninos) ao se deparar com fotografias de pessoas experimentando dor provocadas tanto de forma acidental (como quando alguém derruba uma tigela pesada e machuca a mão de uma pessoa), quanto de forma intencional (quando alguém pisa intencionalmente no pé de uma pessoa). As crianças também viram imagens de pessoas sem dor e imagens de pessoas ajudando alguém a aliviar a dor. Os investigadores constataram que as crianças parecem ser naturalmente inclinadas a sentir empatia e a ter um pensamento moral ao se deparar com a dor do outro. Os exames mostraram que as partes do cérebro ativadas quando os adultos vêem a dor também foram acionadas em crianças. Mais precisamente, a percepção das outras pessoas com dor foi associada com o aumento da atividade hemodinâmica nos circuitos neurais envolvidas na transformação da experiência da dor, incluindo a ínsula, córtex somatosensorial, córtex midcigulate anterior, área cinzenta periaquedutal e complementares. No entanto, regiões diferenciadas foram ativadas quando as crianças viram animações em que se prejudicava alguém intencionalmente. Ativou-se, neste caso, as regiões do cérebro relacionadas à interação social e ao raciocínio moral medial (a junção temporo-parietal, o paracigulate, orital córtex frontal e amígdala). Este estudo foi aprovado pela National Science Foundation e forneceu pistas de que crianças possuem, desde cedo, noções de certo e errado e uma capacidade de se colocar no lugar do outro, e de como seus cérebros processam tais 104 informações. Além disso, 13 das 17 crianças, após verem as imagens, confirmaram verbalmente seu sentimento moral de injustiça revelado na ressonância. Também interessados em investigar questões morais e empáticas na infância, NunnerWinkler e Sodian (1988) constataram, por meio do uso de histórias em que o personagem principal deliberadamente roubava, mentia ou atacava outra criança, que os participantes mais velhos (cerca de 8 anos) já conseguiam se colocar no papel do protagonista e inferir seus sentimentos, no sentido de avaliá-lo como estando mal ou triste em função da quebra da regra, enquanto que as mais novas só conseguiam fazer a inferência da felicidade da personagem por ter conseguido o que queriam. Igualmente contribuindo com a compreensão das questões morais e empáticas na infância, Camino, Camino e Leyens (1996) realizaram uma pesquisa com 222 crianças, que foram divididas em dois grupos etários (5 a 7 anos e 8 a 10 anos). Utilizando pequenas histórias, esses pesquisadores manipularam as seguintes variáveis: intencionalidade do personagem principal (sem intenção, intenção altruísta, intenção hostil), as ações desse personagem (agressivas ou de roubo) e a gravidade das conseqüências da ação (mais grave ou menos grave). Os resultados revelaram um aumento na capacidade de atribuir corretamente às emoções dos outros em função da idade; uma relação entre a capacidade de atribuir corretamente às emoções dos outros e o julgamento moral para os dois grupos etários; uma progressão na empatia inferencial e no escore global de empatia em função da idade, no sentido que, quanto mais velhas, mais as crianças se identificavam com o personagem altruísta; e, uma relação entre empatia inferencial e julgamento moral, pois as crianças que sentiram empatia pelo personagem altruísta deram mais respostas certas (ao avaliar quem era o personagem mais vil) do que as que não sentiram empatia por ele. Eisenberg, Shell, Pasternack, Lennon, Beller e Mathy (1987), por sua vez, em um estudo longitudinal, investigaram a mudança no julgamento pró-social durante um período de 105 sete anos. Mais precisamente, eles analisaram as inter-relações entre julgamento moral, empatia e comportamento pró-social e examinaram se existiam diferenças de gênero no desenvolvimento do julgamento moral pró-social. Participaram do estudo dois grupos de crianças, entrevistadas pela primeira vez entre 9-10 ou 11-12 anos. Essas crianças foram acompanhadas durante um período de cinco a sete anos. Os resultados revelaram que: o raciocínio hedonista diminuiu com a idade; o julgamento moral orientado para as necessidades simples aumentou com a idade e depois se estabilizou; a maioria dos outros tipos mais sofisticados de raciocínio aumentou de forma linear com a idade; modos de raciocínio que refletem a empatia aumentaram com a idade para as meninas, mas não para os meninos; a empatia foi positivamente relacionada com os julgamentos orientados para as necessidades e com um maior nível de raciocínio pró-social e foi negativamente relacionada ao raciocínio hedonista (dependendo da idade das crianças); a empatia foi relacionada com a doação entre as crianças mais velhas. Preocupados com a relação entre comportamentos altruísticos, justiça distributiva e empatia, Batson et al. (1995) realizaram dois experimentos com estudantes universitários, com a finalidade de investigar a possibilidade da empatia levar alguém a se comportar de maneira não condizente com seus princípios morais ligados à justiça. No primeiro experimento, Batson et al. (1995) utilizaram um cenário no qual a tarefa dos respondentes deveria ser indicar como dois trabalhadores (A e C) deveriam ser designados para duas situações: uma com conseqüências positivas e outra com conseqüências negativas. A empatia foi manipulada por meio de instruções para que os participantes imaginassem como o trabalhador C se sentiria, quais seriam as repercussões da decisão distributiva sobre sua vida (condição de alta empatia), ou que tomassem suas decisões da maneira mais objetiva possível (condição de baixa empatia). Além disso, havia uma condição na qual os respondentes recebiam uma pequena carta deste trabalhador, falando de sua 106 situação atual, necessidades, aspirações (condição de comunicação) e outra na qual eles não recebiam esta carta (condição de não comunicação). Os resultados indicaram que nas condições de não comunicação e baixa empatia, o trabalhador C foi designado 50% das vezes para situação com conseqüências positivas. Por outro lado, na condição de alta empatia o trabalhador C foi designado para situação com conseqüências positivas 75% das vezes. No segundo experimento, Batson et al. (1995) utilizaram um cenário no qual os participantes foram levados a acreditar que poderiam fazer com que uma criança que tinha uma doença grave melhorasse sua qualidade de vida, por meio de sua realocação na fila de espera de uma associação que prestava assistência a crianças necessitadas, mesmo que isto implicasse em prejudicar outras crianças também seriamente doentes e que estavam em uma posição mais privilegiada. A empatia foi manipulada de maneira semelhante àquela utilizada no primeiro estudo. De uma maneira geral, os resultados revelaram que os indivíduos na condição de alta empatia foram mais susceptíveis a criança em pauta do que os indivíduos na condição de baixa empatia. Batson e Moran (1999), por sua vez, para investigar a relação entre comportamento altruístico, justiça distributiva e empatia utilizaram o clássico dilema do prisioneiro. Participaram deste estudo 60 mulheres universitárias que foram solicitadas a encontrar uma solução para o dilema do prisioneiro. A empatia foi manipulada para um grupo de mulheres. Independentemente do dilema ser enquadrado como uma troca social ou como uma transação comercial, a cooperação foi significativamente maior entre as mulheres que foram levadas a sentir empatia pelo outro do que entre aquelas que não foram levadas a sentir empatia. Esses resultados levaram os pesquisadores a supor que o altruísmo não é simplesmente um tipo de motivação moral, mas é uma forma distinta de motivação que também está relacionada com a empatia. 107 Baseado no modelo de Batson de altruísmo, Berenguer (2010) testou o pressuposto de que o raciocínio moral referente ao meio ambiente (número de razões morais dadas para comportamentos pró-ambientais) pode ser melhorado por meio da manipulação do sentimento de empatia. Testou ainda a idéia de que o argumento do raciocínio moral seria diferente, dependendo do objeto da empatia ser um animal ou um ser humano. O raciocínio moral foi avaliado por meio de quatro diferentes dilemas morais ecológicos, com as respostas codificadas em três categorias. Os resultados do estudo indicaram que os participantes que mostraram um alto nível de empatia deram argumentos morais mais elevados do que aqueles que mostraram baixa empatia. A hipótese de que os argumentos iriam variar em função do objeto de empatia avaliado também foi confirmada. Também interessados com a relação entre empatia, moral e comportamento pró-social, Eisenberg, Zhou e Koller (2001) verificaram, em uma pesquisa com estudantes brasileiros, que a tomada de perspectiva parece ter um efeito indireto sobre os comportamentos morais, na medida em que fortalece a motivação gerada pela empatia. Também constataram que os participantes que pontuavam alto nas medidas de comportamento pró-social também tinham graus elevados de tomada de perspectiva e de empatia, sendo o inverso verdadeiro para aqueles que declaravam baixos índices de comportamento pró-social. Relacionando empatia e comportamento moral, Prust e Gomide (2007) solicitaram a 60 famílias, sendo 30 de risco e 30 de não risco, que respondessem a um questionário de comportamento moral. O teste não paramétrico de Maan-Whitney mostrou diferenças estatisticamente significativas nos indicies de comportamento moral. Um maior nível de comportamento moral entre as famílias de não risco indica que pais que fornecem modelos morais, exercitam a empatia e fazem a reparação do dano diante de atos anti-sociais, têm filhos com melhores índices de comportamento moral (ICM) e que não são usuários de drogas. 108 Relacionando desenvolvimento moral, empatia e práticas parentais de socialização, Eisenberg-Berg e Mussen (1978) realizaram uma pesquisa com adolescentes. Os participantes foram solicitados a responder a um questionário de empatia, dois instrumentos de desenvolvimento moral e dois questionários sobre práticas educativas, sendo um relacionado a práticas educativas maternas e outro relacionado a práticas educativas paternas. Os resultados indicaram que a empatia estava significativamente relacionada com o raciocínio moral para ambos os sexos e ao comportamento de ajuda para o sexo masculino. A variável práticas maternas de educação infantil se relacionou com a variável empatia: mães de meninos muito empáticos eram vistas como não punitivas, não restritivas, igualitárias e incentivavam seus filhos para discutir seus problemas. Tratando do tema empatia, moral e técnicas de socialização, Lopez, Bonenberger e Schneider (2001) realizaram um estudo com estudantes universitários, com o objetivo de investigar a capacidade preditiva da técnica de socialização em relação ao desenvolvimento moral e ao desenvolvimento empático. Mais precisamente, eles examinaram a associação entre os estilos de disciplina parental experimentado durante a infância, os níveis de empatia e raciocínio moral durante a idade adulta de 109 estudantes universitários. Análises de regressão múltipla foram realizadas usando estilos de disciplina como variáveis antecedentes e as medidas globais de desenvolvimento moral e empatia como variáveis critério. Os resultados indicaram que o sexo, o uso de punição corporal e indução foram variáveis preditoras significativas de diferentes níveis de empatia: as mulheres apresentaram níveis mais elevados de empatia emocional que os homens; o uso parental de castigo físico e baixa utilização de orientação foram associados com baixos níveis de empatia. Também se constatou que a menor utilização de punição corporal foi a única variável preditora significativa de raciocínio moral: os jovens adultos que apresentaram altos níveis de punição agressiva durante a infância apresentaram baixos índices de desenvolvimento moral. Sobre 109 este estudo é relevante comentar que os autores não relacionaram empatia e desenvolvimento moral, apenas investigaram quais as técnicas de socialização se mostraram mais benéficas para a promoção da empatia e para um melhor raciocínio moral. Igualmente relacionando empatia, julgamento moral e socialização, Camino et al. (1994), em um estudo sobre valores transmitidos pelos meios de comunicação, observaram que tanto os personagens identificados como muito simpáticos como os pouco simpáticos transmitiam valores de moral heterônoma, porém os muito simpáticos transmitiam mais freqüentemente esses valores, embora transmitissem, também, valores referentes ao bem-estar e à proteção do outro. Em um outro estudo, Camino, Cavalcanti e Rique (1992), estudando adolescentes que se situavam no nível convencional da tipologia kohlberguiana, observaram que: quanto maior o nível de empatia para com os personagens considerados pouco atrativos, maior o nível de adesão aos valores heterônomos transmitidos por esses personagens; e o nível de adesão aos valores morais heterônomos era significativamente mais elevado em relação aos personagens da telenovela do que em relação a personagens fictícios do questionário. Assim, esse estudo mostra que a empatia dos telespectadores por personagens de telenovelas pode diminuir sua capacidade crítica. Relacionando empatia e justiça distributiva, Sampaio et al. (2008) investigaram se a empatia exercia influência significativa sobre os raciocínios distributivos. Participaram do estudo 120 adolescentes, do sexo masculino e do sexo feminino, de escolas públicas e particulares. Como instrumento de investigação utilizaram uma situação-problema na qual os respondentes tinham que decidir a maneira mais justa de distribuir dinheiro entre seis personagens que haviam trabalhado junto e que diferiam no que diz respeito à naturalidade, produtividade e necessidade e o IRI de Davis para avaliar o grau de empatia dos participantes. De um modo geral, os resultados revelaram que as dimensões de tomada de perspectiva e de 110 personal distress, além das variáveis sexo e tipo de escola exerceram influência significativa sobre as quantidades de dinheiro distribuídas entre os personagens. Relacionando personalidade, empatia e desenvolvimento moral, Williams, Orpen, Hutchinson, Walker e Zumbo (2006) realizaram uma pesquisa usando uma bateria de escalas: o “Big Five personality traits”, que inclui os traços de extroversão, socialização, consciência moral, estabilidade emocional e abertura a experiência (John & Srivastava, 1999); a medida “Dark Triad” (Paulhus & Williams, 2002), que investiga três traços de personalidade atrelados a um funcionamento moral patológico (narcisismo, “machiavellianism” e psicopatia); o IRI de Davis (1980), com suas quatro sub-escalas: Fantasia, Tomada de perspectiva, Angústia pessoal e Consideração empática; o “Survery of Agentic and Communal Values” (Trapnell & Paulhus, 2004), para medir valores; a medida de julgamento moral de Rest et al. (1999), denominada de “Defining Issues Test-2”. Participaram do estudo 307 estudantes da University of British Columbia, com uma média de idade de 20,1 anos. Os resultados de um teste de correlação revelaram que um nível elevado de moral está associado positivamente com a sub-escala da empatia denominada de Tomada de Perspectiva; e inversamente com a Angústia Pessoal. Para investigar melhor o papel da Tomada de Perspectiva no contexto do desenvolvimento moral, os pesquisadores testaram um modelo em que a Tomada de Perspectiva funcionava como variável mediadora. Os resultados revelaram que a psicopatia é totalmente mediada por deficiências na Tomada de Perspectiva e que a combinação de baixa Consciência moral e baixa Tomada de Perspectiva é particularmente associada a um baixo desenvolvimento moral. Relacionando empatia e julgamento moral, Ribeiro (1996) investigou as respostas de 396 estudantes, entre 11 e 19 anos, ao DIT e ao IRI (versão brasileira de Ribeiro, Koller & Camino, 2002). Os resultados de uma correlação revelaram correlações significativas e 111 positivas entre o índice pós-convencional obtido no DIT e os escores das sub-escalas Consideração Empática e Tomada de Perspectiva do IRI. Também relacionando empatia e julgamento moral, Batista (1996) investigou se haveria uma possível associação entre empatia e moralidade. Participaram do estudo empírico 400 sujeitos (200 homens e 200 mulheres), com idades de 18 a 30 anos. O instrumento utilizado foi uma historieta sobre um crime cometido por um personagem fictício, onde foi investigado o sentimento de empatia pelos personagens, o estágio de julgamento moral dos participantes, assim como, a disponibilidade para ajudar. Os resultados indicaram que a empatia e a moralidade se relacionaram. A autora verificou também que a diferença de gênero interferiu na empatia (o agressor feminino despertou mais empatia) e no julgamento moral (o agressor masculino despertou mais punição forte). Costa (1996), por sua vez, em um estudo em que não investigava o papel da empatia propriamente dita sobre o desenvolvimento moral, mas o papel da afetividade de um modo geral na resolução de conflitos morais, identificou, em uma pesquisa realizada com adolescentes brasileiros, que, dentre 20 categorias de dilemas apresentados espontaneamente, 12 dilemas possuíam conteúdo relacionados a questões afetivas. Costa (1996) também identificou, ao trabalhar com um grupo de discussão composto por professores adultos brasileiros, uma presença significativa de componentes afetivos na resolução de quatro dilemas do DIT. Estas respostas foram categorizadas em dois tipos: moral “olho por olho” e moral do cuidado e respeito pelo outro. Contudo, diferentemente dos adolescentes, no grupo de adultos houve prevalência de resoluções de conflitos em uma relação menos interpessoal, pois os adultos evocavam o cuidado e respeito com todo e qualquer ser humano. Em relação a intervenções que relacionam questões morais e empáticas, tem-se a pesquisa realizada por Pinheiro, Haase, Del Prette, Amarante, Del Prette (2006), voltada para o treinamento de habilidades sociais, com avaliação pré e pós-intervenção, de 32 mães e dois 112 pais para facilitar a educação dos filhos, dando destaque, dentre outros comportamentos desejáveis, a empatia. A aprendizagem do conceito de empatia era um dentre os nove passos de um programa de treinamento de habilidades sociais para pais. Neste caso, os pais foram treinados para: (a) prestar atenção aos sinais que a criança emite quando está vivenciando algum problema (mudança na fisionomia, postura, fala etc.); (b) ouvir de maneira atentiva o que a criança tem a dizer, colocando-se no lugar da criança; (c) expressar verbalmente compreensão e apoio; (d) reforçar positivamente as manifestações empáticas da criança; (e) oferecer modelo de comportamento empático no ambiente doméstico no relacionamento com o cônjuge. Os resultados indicaram, de um modo geral, a redução significativa na freqüência e severidade de comportamentos importunos e/ou indisciplinados dos filhos, conforme avaliação dos pais. 3.3. Considerações sobre o capítulo Em termos teóricos, tem-se percebido uma convergência de opiniões acerca da relevância da empatia para o desenvolvimento moral (Batson, 1991; Blum, 1980; Camino, 2009; Eisenberg, 1986; Hoffman, 1990; Pizarro, 2000), o que também vem sendo confirmado em estudos empíricos. De uma maneira geral, os resultados das pesquisas apresentadas neste capítulo contrariam a idéia de que as emoções nunca podem ajudar, e sempre prejudicam os julgamentos morais. Mais precisamente, os resultados dos estudos apresentados revelam que: (1) existe uma relação positiva entre empatia e julgamento moral (Batista, 1996; Camino, Camino & Leyens, 1996; Eisenberg-Berg & Mussen, 1978; Ribeiro, 1996; Williams et al., 2006); (2) ocorre uma relação positiva entre empatia e raciocínios distributivos (Sampaio et 113 al., 2008); (3) a empatia é fundamental para o desenvolvimento moral pró-social (Batson & Moran, 1999; Berenguer, 2010; Eisenberg, 2000; Eisenberg et al., 1987; Eisenberg et al., 2001) e para evitar comportamentos anti-sociais ou delinqüentes (Eisenberg, 2000). Por outro lado, a empatia, por si só, não garante que o indivíduo irá pensar ou agir de forma moralmente correta. De acordo com os achados de Camino, Cavalcanti e Rique (1992), a empatia pode diminuir a capacidade crítica, e, segundo os achados de Batson et al. (1995), a compaixão gerada pela empatia pode levar ao favorecimento de uma pessoa em detrimento da coletividade. Talvez, o caminho para um desenvolvimento moral desejável seja exatamente o equilíbrio entre a motivação gerada pelos sentimentos empáticos e o desenvolvimento de um raciocínio moral mais elaborado. É neste sentido que se defende na presente tese que a intervenção mais eficaz de educação moral é aquela que considera tanto a questão do raciocínio moral, quanto à questão de uma afetividade mais generalizada, de uma empatia menos relacionada a amigos, familiares, grupos específicos, etc. Note-se, ademais, que alguns trabalhos já mostraram a relação entre empatia e moralidade, mas a transposição desses achados para programas de intervenção ainda não se efetuou, conforme revisão bibliográfica realizada. Apenas foi encontrada uma intervenção (Pinheiro et al., 2006) voltada para o treinamento de habilidades sociais de pais para facilitar a educação dos filhos, dando destaque, dentre outros comportamentos desejáveis, a empatia. Considerando essa escassez é que a presente tese tem como objetivo final verificar se existem diferenças entre os efeitos de uma técnica de intervenção “racional-discursiva” (técnica de Blatt & Kohlberg, 1975) e uma técnica “racional-afetiva” (ver ítem 6.3.2. do Capítulo VI), na qual, além de serem utilizados os procedimentos elaborados por Blatt e Kohlberg (1975), serão estimulados o desenvolvimento da empatia, para a promoção do desenvolvimento moral. 114 Para alcançar tal objetivo, o presente trabalho de tese envolveu três estudos. O primeiro foi um estudo empírico voltado para elaboração e adaptação de instrumentos para medir o raciocínio moral e a empatia focada em grupos. O segundo estudo constou de uma pesquisa que teve como objetivo principal reformular e validar a Escala de Empatia focada em Grupos e validar o instrumento denominado Dilemas da Vida Real. E, por fim, o terceiro estudo, refere-se a uma pesquisa quase-experimental, cujo objetivo central coincide com o objetivo final da presente tese, citado no parágrafo anterior. Esses estudos serão apresentados nos próximos capítulos. 115 CAPÍTULO IV – ESTUDO 1: CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS 116 O Estudo 1 objetivou elaborar e testar a adequação dos instrumentos Dilemas da Vida Real e Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) para avaliar respectivamente, estágios de desenvolvimento moral e graus de sensibilidade empática. 4.1. Objetivos específicos a) Construir o instrumento Dilemas da Vida Real e verificar se ele discrimina estágios de desenvolvimento moral; b) Construir a Escala de Empatia focada em Grupos e verificar sua estrutura fatorial; c) Analisar a influência de variáveis sócio-demográficas (escolaridade, sexo e idade) sobre os estágios de desenvolvimento moral e sobre os fatores da Escala de Empatia focada em Grupos; 4.2. Hipóteses Em relação ao primeiro objetivo (Construir o instrumento Dilemas da Vida Real e verificar se ele discrimina estágios de desenvolvimento moral), espera-se que: a1) o instrumento consiga discriminar estágios de desenvolvimento moral; a2) os participantes elaborem respostas, sobretudo, dos estágios 1 e 2; A hipótese a2 baseia-se em estudos empíricos que indagaram adolescentes e jovens acerca da pena de morte e redução da maioridade penal e revelaram uma moralidade baseada, sobretudo, na justiça expiatória (Camino, 2005; Camino, 2006; Laranjeiras, 2007; Menin, 117 2005). Sabe-se, além do mais, que os respondentes de um teste com questões abertas (como os Dilemas da Vida Real) têm revelado um pensamento moral dominante em estágios morais inferiores aqueles dos respondentes de um teste com questões de múltipla escolha, indicando que é bem mais fácil reconhecer o raciocínio de um estágio como sendo o mais adequado do que produzí-lo sob forma de resposta aberta. No que se refere ao segundo objetivo (Construir a Escala de Empatia focada em Grupos e explorar sua estrutura fatorial), espera-se que: b1) a EEG apresente uma estrutura multifatorial, distinguindo, pelo menos, três fatores, sendo um relacionado à Empatia com grupos minoritários, outro à Empatia com “apenados” e ainda outro à Empatia com animais; b2) a média do fator relacionado à Empatia com grupos minoritários seja a mais elevada; b3) a média do fator relacionado à Empatia com “apenados” seja a mais baixa; A hipótese b1 fundamenta-se na consideração de que os fatores irão se organizar em função do grupo de pertença de cada personagem (ou seja, grupos minoritários, animais e “apenados”), tendo em vista que a escala foi criada para levar o respondente a empatizar com a desagradável condição de vida de indivíduos pertencentes a diferentes grupos sociais, o que, na teoria de estágios de Hoffman (2003), corresponde ao quarto e último estágio de Empatia. As hipóteses b2 e b3 baseiam-se na idéia de Hoffman (2003) de que as pessoas tendem a sentir uma maior empatia em relação àquilo que lhe é familiar e socialmente reforçado; e a sentir uma menor empatia em relação àquilo que não lhe é familiar e não é socialmente reforçado. No que tange ao terceiro objetivo (Analisar a influência de variáveis sóciodemográficas sobre os estágios de desenvolvimento moral e sobre os fatores da Escala de Empatia focada em Grupo), espera-se que: 118 c1) não haja diferença entre os escores médios dos participantes do sexo feminino e masculino em relação ao desenvolvimento moral; c2) os escores médios dos participantes do sexo feminino sejam maiores do que os do sexo masculino em relação a todas as dimensões da empatia; c3) o avanço da escolaridade favoreça o desenvolvimento moral; c4) o avanço da idade favoreça o desenvolvimento moral; c5) o avanço da escolaridade favoreça o desenvolvimento da sensibilidade empática; c6) o avanço da idade favoreça o desenvolvimento da sensibilidade empática; A hipótese c1 baseia-se nos estudos de Menin (2005) e Laranjeiras (2007), que não encontraram diferenças significativas em relação ao posicionamento das mulheres e dos homens no que se refere, respectivamente, à pena de morte e à redução da maioridade penal; e fundamenta-se em outros estudos realizados utilizando outros instrumentos de desenvolvimento moral em que predominou a não diferenciação entre homens e mulheres. Segundo um levantamento realizado por Rest (1979), de 22 estudos realizados com o Defining Issues Test (DIT), apenas 2 revelaram diferenças de gênero: as mulheres obtiveram escores pós-convencionais superiores aos dos homens. A hipótese c2 se baseia nos estudos de Ittyerah e Mahindra (1990), Santilli e Hudson (1992), Adams, Summers e Christopherson (1993), Ribeiro, Koller e Camino (2001), Enz e Zoll (2006) e Sampaio et al. (2008) que verificaram diferenças entre homens e mulheres quanto à sensibilidade empática: sujeitos do sexo feminino demonstraram ser mais empáticos que os do sexo masculino. Sobre esta hipótese é importante registrar que se generalizou a diferença para todas as dimensões da escala preconizada (Empatia com grupos minoritários, Empatia com “apenados” e Empatia com animais), tendo em vista que não se tem base teórica, nem empírica para se levantar hipóteses específicas para cada dimensão. 119 Ademais, não se pode deixar de considerar que as especulações em torno das diferenças de desenvolvimento moral (Camino, Moraes & Galvão, 2006) e de empatia (Lennon & Eisenberg, 1987) entre homens e mulheres são demasiadamente polêmicas. Alguns estudos têm apresentado resultados diferentes do que foi postulado neste trabalho, tanto em relação ao desenvolvimento moral (Bakken & Ellsworth, 1990; Villegas-Reimers, 1991), quanto em relação à empatia (Gnepp & Chilamkurti, 1988; Selman, 1974). Diante das controvérsias existentes em torno das diferenças entre homens e mulheres em relação ao desenvolvimento moral e em relação ao desenvolvimento da empatia, merece esclarecer o porquê de se optar pela hipótese de que não haverá diferença entre os escores médios dos participantes do sexo feminino e do sexo masculino em relação ao desenvolvimento moral e, ademais, é relevante esclarecer o porquê de se defender a hipótese de que os escores médios dos participantes do sexo feminino serão maiores do que os do sexo masculino em relação à empatia. Esta opção se fundamenta tanto em estudos realizados no Brasil (Koller, Biaggio & Viñas, 1992; Ribeiro, Koller & Camino 1996), quanto em questões culturais: no Brasil, a questão de que “homem não pode chorar” (ou seja, homem não pode sentir) ainda é muito forte. Neste sentido, se espera encontrar mais diferenças significativas em relação a questões afetivas (empatia) do que em relação a questões cognitivas (julgamento moral) na comparação entre homens e mulheres. Por outro lado, se se defende nesta tese que a empatia favorece o desenvolvimento moral (Capítulo VI), não deveriam as mulheres também apresentarem um desenvolvimento moral mais evoluído, já que são elas que apresentam um grau de sensibilidade empática mais elevado? Acredita-se, na verdade, que outros fatores devam estar relacionados à promoção do desenvolvimento moral, além da empatia, como, por exemplo, o desenvolvimento cognitivo, promovido pelo avanço da idade e da escolaridade, a socialização, etc. 120 As hipóteses c3 e c4 se fundamentam em estudos empíricos, como o de Rest (1994), que têm verificado que o estágio de desenvolvimento moral eleva-se com o avanço da escolaridade e da idade. No que se refere às hipóteses c5 e c6, os estudos de Selman (1974), Gnepp e Chilamkurti (1988), Ittyerah e Mahindra (1990), Klemchuk, Bond e Howell (1990), Adams, Summers e Christopherson (1993) têm demonstrado que a empatia é uma variável que pode adequadamente ser analisada sob uma ótica desenvolvimentista, no sentido de ser uma variável que sofre mudanças em função do avanço da idade e da escolaridade. 4.3. Método 4.3.1. Participantes Participaram 200 estudantes da cidade de Cajazeiras-PB, sendo 100 do ensino médio e 100 do ensino superior, predominantemente do sexo feminino (66%), da religião católica (80%), com idades variando de 15 a 36 anos (M = 21,0; DP = 4,0). Esta amostra foi nãoprobabilística, isto é, de conveniência, tendo participado as pessoas que, convidadas, aceitaram colaborar. 4.3.2. Instrumentos Foram utilizados neste estudo, conforme Apêndice I, além de uma lista que solicitava aos participantes a informação de alguns dos seus dados sócio-demográficos (idade, série, sexo, religião e freqüência da prática religiosa), dois instrumentos (Dilemas da Vida Real e Escala de Empatia focada em Grupos) construídos, conjuntamente, pela autora desta tese e sua orientadora. Esses instrumentos serão descritos a seguir. a. Dilemas da Vida Real 121 Para acessar os estágios de julgamento moral, os participantes foram solicitados a avaliar dois Dilemas Morais, que tratam, respectivamente, da questão da pena de morte e da redução da maioridade penal. Esses dilemas foram construídos mediante temas veiculados pela mídia, a saber: a execução de Sadam Hussein e o Caso João Hélio. O caso Sadam Hussein No dia 29 de Dezembro de 2006, Sadam Hussein, o ex-presidente do Iraque, foi executado. O ditador era conhecido por não ter compaixão pelos seus inimigos, chegando, inclusive, a ordenar a morte de 2 genros. Além disso, o ex-presidente iraquiano era acusado de ter liderado o genocídio de mais de 100 pessoas, inclusive crianças, em uma cidade próxima de Bagdad. Este caso foi noticiado na impressa e gerou muitas polêmicas. Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Por que? O caso João Hélio O que seria mais um assalto a carro no subúrbio do Rio se transformou em uma tragédia que chocou o país. Na noite do dia 7 de fevereiro, Rosa Cristina Fernandes voltava para casa com os filhos Aline, de 14 anos, e João Hélio, de 6 anos. Eles pararam no sinal de trânsito na Rua João Vicente, em Oswaldo Cruz, no subúrbio do Rio, quando homens armados mandaram que eles saíssem do carro. As duas saíram rapidamente, mas quando Rosa foi tirar o filho, que estava preso ao cinto de segurança no banco de trás, um dos assaltantes bateu a porta e arrancou com o carro. O menino ficou preso pelo lado de fora do veículo e foi arrastado por sete quilômetros. Entre os assaltantes havia menores de 18 anos. Quando o caso foi noticiado pela impressa, muitas pessoas acharam que a idade dos adolescentes serem presos deveria ser a de 16 anos. Você está de acordo em que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Por que? b. Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) Para avaliar a Empatia focada em Grupos, foram apresentados aos participantes 18 itens, que deveriam ser avaliados em uma escala de cinco pontos, variando de 1 = afeta pouco a 5 = afeta muito. Analise cada questão a seguir e diga o quanto ver ou conhecer cada uma dessas situações afeta (“mexe” com) seus sentimentos. 122 Pouco 1. Crianças passando fome. 2. “Velhos” pedindo esmola. 3. Meninos pequenos (de 5 anos de idade) usando drogas. 1 1 1 Muito 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 Sobre a EEG é relevante comentar que, apesar de se julgar que esta escala mede empatia, não se pode garantir que o respondente esteja vivenciado um processo de Empatia por tomada de perspectiva do outro, tal como Hoffman (1989) define. Pode ser que o participante esteja simplesmente respondendo em termos de empatia por contágio emocional. Mas, primeiramente devido ao fato de que o outro na escala pode ser “apenados” e animais, por quem dificilmente se tem empatia por contágio, salvo, talvez, por animais de estimação; segundo porque a operacionalização da empatia na escala faz referência a indivíduos pertencentes a grupo de excluídos, acredita-se que a EEG é capaz de levar o indivíduo a empatizar não só com a dor ou desconforto imediato do outro, mas também com a sua desagradável condição de vida. Assim, julga-se que os itens da EEG correspondem ao quarto e último estágio da teoria de estágios de Hoffman. Outro esclarecimento importante, é que o que se está buscando medir na EEG são graus de sensibilidade empática em relação a um único estágio de Empatia de Hoffman (o último); diferentemente do que se pretende verificar com os Dilemas da Vida Real, que é o estágio de amadurecimento do julgamento moral na tipologia de Kohlberg. 4.3.3. Procedimento Os participantes responderam individualmente aos instrumentos, em ambiente coletivo de sala de aula. Todos os procedimentos adotados nesta pesquisa seguiram as orientações previstas na Resolução 196/96 do CNS e na Resolução 016/2000 do Conselho Federal de 123 Psicologia. A aplicação durou cerca de 25 minutos e foi realizada por pesquisadores previamente treinados. Os questionários foram apresentados de forma randômica (para evitar o efeito de ordem). 4.3.4. Análise dos dados No que se refere aos Dilemas da Vida Real (Caso Sadam Hussein e Caso João Hélio), as respostas subjetivas foram categorizadas segundo a Análise de Conteúdo Semântico, proposta por Bardin (1977), com a participação de cinco juízes que trabalharam em conjunto, com um consenso de, no mínimo, 80%. Além disso, foram utilizados testes do Qui-quadrado com o objetivo de verificar a associação entre as variáveis sócio-demográficas (sexo, escolaridade e idade) e as freqüências das respostas às categorias. No caso da análise da EEG, os dados foram analisados com o SPSS (versão 15). Realizou-se uma análise dos Componentes Principais (CP), com rotação Varimax, considerando previamente como critérios o KMO igual ou superior a 0,60 e o Teste de Esfericidade de Bartlett (qui-quadrado, χ²) significativo (p < 0,05) (Tabachnick & Fidell, 2001). Para assegurar uma melhor consistência na tomada de decisão na escolha dos fatores, três critérios foram levados em conta: Kaiser (valor próprio igual ou superior a 1), Cattell (distribuição gráfica dos valores próprios, visando distinguir aqueles sobressalentes) e análise paralela (Hayton, Allen & Scarpello, 2004). Também foi realizada uma MANOVA com a finalidade de comparar a média dos fatores em função das variáveis sócio-demográficas (sexo, escolaridade e idade). 124 4.4. Resultados 4.4.1. Dilemas da Vida Real Caso Sadam Hussein Em relação à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, 50% dos participantes não concordaram com a execução de Sadam Hussein, 40% se mostraram favoráveis e 10% afirmaram não saber responder. Essas respostas foram analisadas, por meio do Qui-quadrado, em função das variáveis sócio-demográficas (sexo, escolaridade e idade). Os resultados desta análise indicaram que não houve diferença significativa entre os grupos avaliados. As justificativas dadas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, por sua vez, foram categorizadas segundo dois critérios: por conteúdo e por estágio de julgamento moral. Na primeira análise (por conteúdo), emergiram as categorias: Lei de Talião – agrupou as respostas que afirmaram que Sadam deveria ser punido segundo o princípio da Lei de Talião - “olho por olho, dente por dente”; Justiça divina – congregou as respostas que atribuíram apenas a Deus o poder de sentenciar alguém com a morte; Outra punição – reuniu as respostas que explicitaram que Sadam Husein deveria ser punido de outra forma, como, por exemplo, mediante a prisão perpétua; Direito à vida – agrupou as respostas que se referiam ao Direito à vida como algo hierarquicamente superior a todos os valores; Proteção à sociedade – reuniu as respostas que se referiam a morte de Sadam Hussein como um ato que beneficiou a sociedade, no sentido de protegê-la das atrocidades cometidas pelo ditador; Não pertinentes – agrupou as respostas tautológicas e sem sentido; 125 Na segunda análise das respostas, utilizou-se a tipologia de Kohlberg para o processo de categorização. Para transformar a escala nominal em intervalar, algumas respostas apresentaram o conteúdo de apenas um estágio e o valor atribuído a essa resposta correspondeu ao do estágio. Assim se o estágio era 3, o valor foi 3. Outras respostas apresentaram conteúdos de mais de um estágio. Neste caso, atribuiu-se o valor correspondente a soma dos valores dos estágios, dividido pelo número de estágios considerados. Como por exemplo, as respostas cujos conteúdos foram classificados nos estágios 4/5/1, foi-lhe atribuído o peso 3,3, que corresponde: 4+5+1/3 = 3,3. Os estágios encontrados foram os seguintes: Estágio 1/2 (1,5) – pertencem a este estágio as repostas que afirmaram que Sadam Hussein deveria ser punido segundo o princípio da Lei de Talião – “olho por olho, dente por dente”. Esta articulação com os estágios 1 e 2 de Kohlberg deve-se a primitividade do conteúdo da resposta, que defende a idéia de uma justiça retributiva expiatória. Estágio 4/1 (2,5) – pertencem a este estágio as respostas que atribuíram apenas a Deus o poder de sentenciar alguém com a morte. Este tipo de justificativa ao mesmo tempo em que traz argumentos que ressaltam a importância de se obedecer a uma Lei (a Lei de Deus), característicos do estágio 4 de Kohlberg, revela argumentos infantis, típicos da idéia de justiça imanente. Estágio 3 (3,0) – pertencem a este estágio as respostas que explicitaram que Sadam Hussein deveria ser punido de outra forma, como, por exemplo, mediante a prisão perpétua. Este tipo de argumento parece demonstrar certa preocupação com o outro, no sentido em que os participantes que utilizaram esta justificativa não concordaram com a morte de Sadam Hussein; Estágio 4/5/1 (3,3) – pertencem a este estágio as respostas que explicitaram que Sadam Hussein deveria ser punido com a pena de morte tendo em vista o benefício da sociedade. Esta categoria de resposta apresenta um argumento com características dos estágios 4, 5 e 1: do estágio 4, quando apóia a manutenção da ordem social, valoriza o cumprimento dos deveres 126 com os quais se concordou e apóia a lei; do estágio 5, quando apóia o bem-estar social; e do estágio 1, quando defende a idéia de uma justiça retributiva expiatória. Estágio 5 (5,0) – pertencem a este estágio as respostas que se referiam ao Direito à vida como algo hierarquicamente superior – argumento típico do estágio 5; Note-se, no Quadro 2, que as respostas dos participantes se concentraram, sobretudo, no estágio 1/2 de julgamento moral, que agrupa justificativas que são guiadas pelo princípio da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Quadro 2. Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado? Por quê?” Categorias Estágio Exemplos de Respostas F % Lei de Talião 1/2 “Para sentir na pele o que os outros sentiram” 70 35,0 Justiça divina 4/1 “Só quem pode julgar é Deus” 32 16,0 Outra punição 3 “Deveria ser punido de outra forma (...)” 36 18,0 4/5/1 “A sociedade ficou protegida de suas maldades” 15 7,5 5 “Ninguém tem o direito de tirar a vida de outro” 30 15,0 Proteção à sociedade Direito a vida Não categorizadas ------- Respostas tautológicas e sem sentido. 17 8,5 Total -------- -------------------------------------------------------------- 200 100 Quando se compararam as categorias supramencionadas em função das variáveis sócio-demográficas (sexo, escolaridade e idade), verificou-se que houve diferença significativa (χ² = 11,23; g.l. = 4; p < 0,05) entre os grupos apenas em função do grau de escolaridade dos participantes (Figura 1): os alunos do ensino médio, quando comparados aos universitários, citaram mais respostas referentes ao estágio 1/2 (Lei de Talião), enquanto que os universitários citaram mais respostas referentes ao estágio 5 (Direito à vida). 127 50 45 44,8 40 38,3 Ensino médio 35 30 Universitários 31 Total 25 20 18,8 17,5 16,1 15 21,8 19,7 17,7 10 9,2 8,2 7,3 5 21,8 16,4 11,5 0 Estágio 1/2 Estágio 4/1 Estágio 3 Estágio 4/5/1 Estágio 5 Figura 1. Porcentagens das categorias de respostas, classificadas por nível julgamento moral, à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, em função do grau de escolaridade dos participantes Caso João Hélio Em relação à questão “Você está de acordo que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido?”, 89% dos participantes revelaram ser favoráveis a redução da maioridade penal e apenas 8% desfavoráveis; os demais (3%) afirmaram não saber responder. Quando se compararam essas respostas em função das variáveis sócio-demográficas (sexo, escolaridade e idade), constatou-se diferença significativa (χ² = 7,65; g.l. = 2; p< 0,05) apenas em função do grau de escolaridade: o posicionamento contrário à proposta de redução da maioridade penal prevaleceu entre os universitários. As justificativas dadas à questão “Você está de acordo que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido?”, assim como no Caso Sadam Hussein, foram categorizadas segundo dois critérios: por conteúdo e por estágio de julgamento moral. Na primeira análise (por conteúdo), surgiram as categorias: Tem que pagar – reuniu as respostas que defendiam a idéia que independente da idade, errou tem que pagar; Punição relacionada à consciência – agrupou as respostas que afirmaram que os adolescentes já têm consciência dos seus atos, demonstrado, por exemplo, no direito ao voto; 128 Visão negativa da Lei – congregou as respostas que explicitaram que o crime realizado por adolescentes é motivado pelo excesso de proteção da Lei para esta população; Visão preventiva da punição – reuniu as respostas que revelaram a idéia de que a punição tem a capacidade de prevenir a reincidência de crimes; Visão social do crime – agrupou as respostas que argumentaram que a questão da criminalidade é ampla e de difícil solução, não podendo ser resolvida com a simples redução da idade em que o adolescente é preso; Não categorizadas – reuniu as respostas tautológicas e sem sentido; Na segunda análise, também se realizou transformação da escala nominal em intervalar seguindo o mesmo procedimento descrito no caso Sadam Hussein. Os estágios encontrados, de acordo com a tipologia de Kohlberg, foram: Estágio 1/2 (1,5) – pertencem a este estágio as repostas que defendiam a idéia que independente da idade, errou tem que pagar. Esta articulação com os estágios 1 e 2 de Kohlberg deve-se a primitividade do conteúdo da resposta, que ressalta a vingança e defende a idéia de uma Justiça Retributiva Expiatória. Estágio 3/1 (2,0) – agrupou as respostas que afirmaram que os adolescentes devem ser punidos, pois já têm consciência dos seus atos, demonstrado, por exemplo, no direito ao voto. Neste caso, ao mesmo tempo em que o conteúdo das respostas leva em consideração as intenções e o comportamento social da pessoa envolvida, típico do estágio 3, defende a idéia de uma justiça retributiva do estágio 1. Estágio 4/1 (2,5) – congregou as respostas que explicitaram que o crime realizado por adolescentes é motivado pelo excesso de proteção da Lei para esta população. Este tipo de justificativa ao mesmo tempo em que considera a questão legal, típico do estágio 4 de Kohlberg, defende a idéia de uma Justiça baseada na expiação: “Os adolescentes têm que ser punidos, eles só agem assim porque a Lei é muito boa com eles” (Suj. 27). Estágio 4 (4,0) – reuniu as respostas que revelaram a idéia de que a punição tem a capacidade de prevenir a reincidência de crimes que assolam a sociedade. Esta articulação com o estágio 129 4 de Kohlberg deve-se ao tipo de argumento utilizado que apóia a manutenção da ordem social e do bem-estar da sociedade. Estágio 5 (5,0) – agrupou as respostas que afirmaram que a questão da criminalidade é ampla e de difícil solução, não podendo ser resolvida com a simples redução da idade em que o adolescente é preso. Neste caso, os argumentos apresentados pelos participantes parecem conseguir diferenciar o aspecto legal do moral: “a simples mudança na lei não resolve, existem outras questões que precisam ser solucionadas, como a questão da miséria que assola o país” (Suj. 37). Note-se, no Quadro 3, que as respostas dos participantes se concentraram, sobretudo, no estágio 3/1 (Punição relacionada à consciência) de julgamento moral, que ao mesmo tempo em que leva em consideração as intenções e o comportamento social da pessoa envolvida (Estágio 3), defende a idéia de uma justiça retributiva do estágio 1. Quadro 3. Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas à questão “Você está de acordo que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido? Por quê?” Categorias Estágio Exemplos de Respostas F % Tem que pagar 1/2 “Errou, tem que pagar e ponto final” 20 10,0 Punição relacionada à consciência 3/1 “Já sabe muito bem o que está fazendo, pode até votar” 76 38,0 Visão negativa da lei 4/1 “Ele confia na lei que o protege, por isso faz isso” 25 12,5 Visão preventiva da punição 4 “Deve ser punido para não cometer outro crime” 30 15,0 Visão social do crime 5 “A questão é mais complexa, envolve questões políticas e sociais” 19 9,5 Não categorizadas ----- Respostas tautológicas e sem sentido. 30 15,0 Total ----- ------------------------------------------------------------- 200 100 130 Quando se compararam as categorias supramencionadas em função das variáveis sócio-demográficas (sexo, escolaridade e idade), constatou-se diferença significativa (χ² = 13,28; g.l. = 4; p < 0,01) apenas em função da escolaridade dos participantes (Figura 2): os alunos do ensino médio citaram mais respostas referentes ao estágio 1/2 (Tem que pagar) e 4/1 (Confia na lei que o protege) enquanto que os universitários (estudantes de licenciaturas) citaram mais respostas referentes ao estágio 5 (A questão é mais ampla). 50 45,9 44,7 43,5 45 Ensino médio 40 35 Universitários 30 Total 25 20 15 10 5 18,8 17,6 16,5 17,6 14,7 11,8 16,5 11,8 7,1 18,8 11,2 3,5 0 Estágio 1/2 Estágio 3/1 Estágio 4/1 Estágio 4 Estágio 5 Figura 2. Porcentagens das categorias de respostas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, em função do grau de escolaridade dos participantes Por fim, como dado adicional, acrescenta-se que se encontrou correlação positiva (r=0,31; p < 0,01) entre o escore total das respostas ao Dilema de Sadam Hussein (que debate a questão da pena de morte) e o escore total das respostas ao Dilema de João Hélio (que debate a questão da redução da maioridade penal), o que revela que faz sentido fazer uso desses dilemas, em conjunto, para avaliar o desenvolvimento moral. 131 4.4.2. Escala de Empatia focada em Grupos A viabilidade de realizar uma análise CP foi demonstrada por meio dos resultados obtidos que revelaram a adequação da matriz de correlação: KMO = 0,81 e Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (153) = 939,469, p < 0,001. Após a verificação desta adequação, precedeu-se a análise CP sem fixar número de componentes a extrair ou método de rotação. De acordo com o critério de Kaiser, puderam ser identificados cinco componentes (4,81, 1,84, 1,37, 1,31 e 1,11), que explicaram conjuntamente 58% da variância total; a distribuição gráfica dos valores próprios (critério de Cattell) também permitiu identificar cinco componentes. Alternativamente, realizou-se a análise paralela, assumindo os mesmos parâmetros do banco de dados original, ou seja, 200 participantes e 18 variáveis. Os valores próprios gerados aleatoriamente foram como seguem: 1,56, 1,45, 1,36, 1,29, 1,22 e 1,10. O contraste destes valores próprios com aqueles observados empiricamente indicou a retenção de seis componentes, pois em todos esses casos os valores próprios observados empiricamente mostraram-se superiores aos simulados. Após analisar cada critério, decidiu-se reespecificar a solução fixando a extração de cinco componentes, adotando rotação Varimax. É importante registrar que, com o fim de definir o ítem como pertencente ao componente, assumiu-se que ele deveria apresentar saturação mínima de |0,40|, bem como, excluíram-se os itens que saturavam em mais de um componente. Na Tabela 1, apresentam-se o conteúdo de cada ítem, sua saturação (carga fatorial), bem como os indicadores de consistência interna (Alfa de Cronbach), variância explicada por cada fator e médias. 132 Tabela 1 – Análise dos Componentes Principais da EEG-18 (cinco fatores) Componentes Empatia com grupos minoritários Empatia com pessoas em situação de aflição Empatia com trabalhadores Empatia com “apenados” Empatia com animais Meninos pequenos (de 5 anos de idade) usando drogas ,661 -,019 ,139 ,316 ,013 Crianças sendo levadas a prostituição ,632 -,083 ,383 ,183 -,068 Negros sendo menosprezados ,619 ,335 ,305 ,163 ,066 Menores abusados sexualmente ,618 -,015 ,354 ,061 ,005 Velhos pedindo esmola ,576 ,148 -,108 -,015 ,127 Crianças passando fome ,563 ,172 -,237 -,098 ,292 Índios sendo menosprezados ,535 ,348 ,152 ,259 ,155 Pessoas doentes sem poder se tratar ,078 ,782 ,066 ,092 -,035 Pessoas que são vítimas de catástrofes, como tremor de terra e inundações ,258 ,646 ,034 ,039 ,285 Pessoas vítimas de injustiça -,004 ,490 ,372 ,021 ,075 Pessoas que perdem parentes queridos ,145 ,487 ,086 -,095 ,333 Pessoas trabalhando em serviços pesados mais de 12hs por dia ,090 ,096 ,797 ,022 ,099 Pessoas que são obrigadas a deixar o campo para procurar trabalho ,125 ,189 ,655 ,086 ,221 Presos vivendo em situações desumanas ,096 ,124 ,058 ,812 ,056 Adolescentes presos cometerem crime ,053 -,139 ,102 ,736 ,262 Pessoas condenadas a pena de morte por crimes que cometeram ,345 ,230 -,032 ,626 -,206 Animais sendo levados ao matadouro ,073 ,021 ,058 ,158 ,865 Animais morrendo período de seca ,112 ,154 ,350 ,068 ,662 7 4,81 15,57 0,77 4,33 4 1,84 10,87 0,70 4,31 2 1,37 10,63 0,63 3,35 3 1,31 10,51 0,64 2,70 2 1,11 10,36 0,67 3,65 Itens Número de itens Valor próprio % da Variância Alfa de Cronbach Média do fator por em 133 Os componentes encontrados podem ser descritos como seguem: Componente I. Apresentou valor próprio de 4,81 e explicou 15,57%, da variância total. Reuniu sete itens com saturações variando de 0,66 (Meninos pequenos usando drogas) a 0,54 (Índios sendo menosprezados). Considerando os itens que compunham esse componente, ele foi denominado Empatia com grupos minoritários. Este componente apresentou consistência interna (Alfa de Cronbach, α) de 0,77. Componente II. Este componente obteve um valor próprio de 1,84 e explicou 10,87% da variância total. Neste componente foram concentrados quatro itens, os quais apresentam saturações entre 0,78 (Pessoas doentes sem poder se tratar) e 0,49 (Pessoas vítimas de injustiça). Este componente foi denominado Empatia com pessoas em situação de aflição. O α deste componente foi 0,70. Componente III. Este componente apresentou valor próprio de 1,37, explicou 10,63% da variância total e seu α foi 0,63. Apenas dois itens foram reunidos neste componente, apresentando saturações de 0,80 (Pessoas trabalhando em serviços pesados por mais de 12hs por dia) e 0,66 (Pessoas que são obrigadas a deixar o campo para procurar trabalho). Definiuse este componente como representando Empatia com trabalhadores. Componente IV. O valor próprio deste componente foi de 1,31, ele explicou 10,51% da variância total e seu α foi de 0,64. Foram concentrados três itens neste componente: Presos vivendo em situações desumanas (0,81), Adolescentes presos por cometerem crime (0,74), Pessoas condenadas à pena de morte por crimes que cometeram (0,63). Cabe, desta forma, defini-lo como expressando Empatia com “apenados”. Componente V. Este componente apresentou valor próprio de 1,11, explicou 10,36% da variância total e seu α foi 0,67. Apenas dois itens foram reunidos, apresentando saturações de 0,87 (Animais sendo levados ao matadouro) e 0,66 (Animais morrendo em período de seca). Pode-se definir este componente como representando Empatia com animais. 134 Em relação as médias dos fatores da EEG, constatou-se que houve diferença significativa [Lambda de Wilks = 0,18; F(4,200) = 212,18; p<0,001] entre elas – mais precisamente, conforme revelou o teste Post Hoc de Bonferroni, as médias dos fatores denominados Empatia com grupos minoritários (M=4,32; DP=0,58) e Empatia com pessoas em situação de aflição (M=4,31; DP=0,61) foram as maiores médias e não se diferenciaram entre si, mas diferenciaram-se das médias dos demais fatores [Empatia com animais (M=3,65; DP=0,96); Empatia com trabalhadores (M=3,35; DP=0,92); Empatia com “apenados” (M=2,70; DP=1,0)]; estas, por sua vez, diferenciaram-se entre si. Em síntese, observa-se uma estrutura multifatorial para a medida de Empatia focada em grupos. No geral, os cinco componentes pareceram facilmente interpretáveis, tendo Alfas de Cronbach entre 0,77 (Empatia com grupos minoritários) e 0,63 (Empatia com trabalhadores), e um Alfa médio de 0,68. Porém, como este primeiro estudo foca-se na exploração dos dados da EEG e, ademais, tendo em vista que a organização dos itens nos fatores mostrou-se desequilibrada, no sentido em que o número de itens por fator variou bastante. Por parcimônia, optou-se por reter uma estrutura fatorial com os três componentes. Assim como ocorreu na análise com cinco fatores, assumiu-se que cada ítem deveria apresentar saturação mínima de |0,40|, assim como se excluiu os itens que saturavam em mais de um componente. Considerando os critérios antes assinalados, os componentes encontrados podem ser descritos como seguem (Tabela 2): Componente I. O valor próprio deste componente foi 4,81 e explicou 26,73% da variância total. Reuniu seis itens, com saturações variando de 0,66 [Meninos pequenos (de 5 anos de idade) usando drogas] a 0,54 (Menores abusados sexualmente). Este componente foi denominado Empatia com transgressores e vítimas de transgressão e apresentou consistência interna (Alfa de Cronbach) de 0,71. 135 Componente II. O valor próprio deste componente foi 1,84 e explicou 10,19% da variância total. Foram concentrados quatro itens neste componente, com saturações variando de 0,73 (Animais morrendo em período de seca) a 0,54 (Pessoas trabalhando em serviços pesados mais de 12hs por dia). O componente foi definido como expressando Empatia com animais e trabalhadores. O Alfa deste componente foi 0,66. Componente III. Este componente apresentou valor próprio de 1,37 e explicou 7,59% da variância total. Neste componente foram concentrados quatro itens, os quais apresentaram saturações entre 0,61 (Pessoas que são vítimas de catástrofes, como tremor de terra e inundações) e 0,49 (Velhos pedindo esmolas). Este componente foi denominado Empatia com grupos minoritários. O Alfa deste componente foi 0,51. Em relação as médias dos fatores, constatou-se que houve diferença significativa [Lambda de Wilks = 0,33; F(2,200) = 198,25; p<0,001] entre elas – mais especificamente, conforme revelou o teste Post Hoc de Bonferroni, a média do fator denominado Empatia com grupos minoritários (M=4,4; DP=0,53) foi a maior e as menores médias foram a dos outros dois farores [Empatia com transgressores e vítimas de transgressão (M=3,6; DP=0,72) e Empatia com animais e trabalhadores (M=3,6; DP=0,77)] que, por sua vez, não se diferenciaram entre si. 136 Tabela 2 – Análise dos Componentes Principais da EEG-18 (três fatores) Componentes Itens Empatia com transgressores e vítimas de transgressão Empatia com animais e trabalhadores Empatia com grupos minoritários Meninos pequenos (de 5 anos de idade) usando drogas ,664 ,030 ,278 Pessoas condenadas a pena de morte por crimes que cometeram ,657 -,081 ,147 Crianças sendo levadas a prostituição ,636 ,078 ,227 Presos vivendo em situações desumanas ,632 ,212 -,135 Adolescentes presos por cometerem crime ,562 ,327 -,307 Menores abusados sexualmente ,537 ,173 ,304 Animais morrendo em período de seca ,073 ,729 ,163 Animais sendo levados ao matadouro ,021 ,704 ,064 Pessoas que são obrigadas a deixar o campo para procurar trabalho ,244 ,579 ,121 Pessoas trabalhando em serviços pesados mais de 12hs por dia ,246 ,543 ,032 Pessoas que perdem parentes queridos -,115 ,527 ,488 Pessoas vítimas de injustiça ,031 ,386 ,291 Pessoas que são vítimas de catástrofes, como tremor de terra e inundações ,059 ,349 ,609 Crianças passando fome ,136 ,021 ,553 Pessoas doentes sem poder se tratar ,034 ,193 ,545 Negros sendo menosprezados ,516 ,230 ,532 Velhos pedindo esmola ,269 -,024 ,489 Índios sendo menosprezados ,478 ,239 ,479 6 4 4 Valor próprio 4,81 1,84 1,37 % da Variância 26,73 10,19 7,59 Alfa de Cronbach 0,71 0,66 0,51 Média do fator 3,6 3,6 4,4 Número de itens De um modo geral, a estrutura fatorial apresentada, com a fixação de três fatores, revela componentes razoavelmente interpretáveis, tendo Alfas de Cronbach entre 0,71 (Empatia com transgressões e vítimas de transgressão) e 0,51 (Empatia com grupos minoritários) e um Alfa médio de 0,63. 137 Note-se, porém, que a consistência interna do modelo trifatorial foi inferior ao do modelo pentafatorial. Tendo em vista esses resultados, não foram realizadas análises das variáveis sócio-demográficas em função dos fatores da Escala, como foi anunciado nos objetivos específicos desse Estudo. Decidiu-se, então, reformular a EEG e testar as variáveis sócio-demográficas em um outro estudo (Capítulo V) 4.5. Discussão parcial Neste primeiro Estudo, que trata da criação e exploração inicial dos instrumentos Dilemas da Vida Real e Escala de Empatia focada em Grupos (EEG), os resultados parecem demonstrar que esses instrumentos são adequados para discriminar, respectivamente, estágios de desenvolvimento moral e graus de sensibilidade empática (com algumas ressalvas em relação a este último instrumento). Especificamente em relação ao instrumento denominado Dilemas da Vida Real, este propiciou dados que merecem ser refletidos, tanto em termos metodológicos, quanto em termos sociais, e é o que será feito a seguir. O fim da pena de morte e a luta contra as propostas de redução da maioridade penal constituem uma das bandeiras levantadas pelos defensores dos direitos humanos e pelo Conselho Federal de Psicologia. Contudo, apesar de todo o esforço desprendido por essas organizações, os estudantes que participaram do presente estudo revelaram uma favorabilidade considerável à pena de morte, demonstrada pelo apoio a execução de Sadam Hussein (40%), e um apoio maciço a mudança na lei penal brasileira, no sentido de reduzir a idade do adolescente cumprir medida de privação de liberdade (89%). Resultado análogo a este foi encontrado em diferentes estudos, já apresentados neste trabalho, a saber: em uma pesquisa realizada pelo Datafolha (2006), 51% dos brasileiros disseram ser favoráveis à pena 138 de morte e 84% demonstraram apoiar a redução da maioridade penal; em um estudo realizado por Laranjeiras (2007), 63% dos estudantes entrevistados mostraram-se favoráveis a execução de Sadam Hussein; em um estudo realizado por Menin (2005), 74% dos participantes da escola pública e 54% dos da escola privada mostraram-se favoráveis à redução da idade para se punir infrações na lei. Por outro lado, não se poderia deixar de comentar que Galvão et al. (2007), contrariamente a esses resultados, verificaram que a favorabilidade em relação à redução da maioridade penal e pena de morte foi mínima entre aqueles que seriam diretamente atingidos, caso houvesse uma mudança na lei (15% dos adolescentes em ressocialização) e entre aqueles que poderiam vir a ser atingidos (26,3% dos adolescentes em condição de rua). No caso da pena de morte, verificou-se que apenas 18,8% dos adolescentes em ressocialização e 23,8% daqueles em condição de rua mostraram-se favoráveis à adoção de tal penalidade. No que se refere à análise por conteúdo das justificativas dadas às questões relacionadas aos temas pena de morte e redução da maioridade penal, neste estudo se observou o predomínio de respostas, no caso da pena de morte, que eram guiadas pelo princípio da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”, o que também foi encontrado nos estudos de Laranjeiras (2007); no caso da redução da maioridade penal, se encontrou a prevalência de respostas que fazem uso do slogan “tem consciência, deve ser punido”, o que também foi observado no estudo de Menin (2005). É interessante registrar também que os conteúdos das justificativas dadas às questões relacionadas aos temas pena de morte e redução da maioridade penal são semelhantes aos que vêm sendo utilizados por participantes de outros estudos. Em relação à pena de morte, na pesquisa de Laranjeiras (2007) houve semelhanças entre o conteúdo das seguintes categorias de respostas: Lei de Talião (denominada por Laranjeiras de “Matou, tem que morrer”), Outra punição (denominada por Laranjeiras de “Penas alternativas”), Proteção à sociedade 139 (denominada por Laranjeiras de “Crime contra a humanidade”) e Direito à vida. Da mesma forma, algumas das justificativas utilizadas pelos participantes do presente estudo, em relação à pena de morte, coincidiram com as utilizadas pelos participantes da pesquisa realizada por Galvão et al. (2007): Lei de Talião (denominada pelas autoras de “Punição retaliativa”), Justiça Divina, Direito à vida, Outra punição (denominada pelas autoras de “Pagar na cadeia”). Quanto à redução da maioridade penal, algumas das justificativas utilizadas pelos participantes do presente estudo acerca desta temática assemelham-se as explicitadas pelos participantes da pesquisa realizada por Menin (2005): Punição relacionada à consciência (categoria denominada por Menin de “O adolescente sabe o que é certo e errado”), Tem que pagar (categoria denominada por Menin de “Cometeu um crime, deve ser punido”), Visão preventiva da punição (denominada por Menin de “Para a situação não piorar”). Em Galvão et al. (2007) também se encontrou categorias semelhantes às encontradas no presente estudo, em relação à redução da maioridade penal, a saber: Punição relacionada a consciência (denominada pelas autoras de “Responsabilidade do menor’) e Visão preventiva da punição (denominada pelas autoras de “Serve de exemplo”). No que se refere à análise das justificativas dadas aos dilemas, em função do estágio de julgamento moral, encontrou-se, no presente estudo, argumentos típicos dos estágios hierarquicamente inferiores (pensamento pré-convencional) da tipologia kohlberguiana – resultado abaixo do que vem sendo encontrado entre adolescentes e adultos com dilemas hipotéticos. Diante deste resultado, questiona-se: por que se encontrou um nível de moralidade tão baixo entre os participantes do presente estudo? Na realidade, este resultado já era esperado (hipótese a2), tendo em vista que os estudos realizados com temas relacionados à pena de morte e redução da maioridade penal (Galvão et al., 2007, Laranjeiras, 2007; Menin, 2005), apesar de não fazerem referência a uma análise das respostas considerando os níveis da tipologia kohlberguiana, têm revelado uma 140 moralidade baseada, sobretudo, na justiça expiatória, típica dos estágios hierarquicamente inferiores da tipologia de Kohlberg. Além disso, segundo Rest (1975), os instrumentos que os testandos têm que construir sua própria resposta apresentam raciocínios morais de estágios inferiores a aqueles escolhidos pelos mesmos participantes em questionários em que os raciocínios já estejam elaborados e eles só façam escolhê-los; neste último caso, tendem a escolher raciocínios superiores aos que são capazes de elaborar. Em segundo, o fato dos dilemas, respondidos pelos participantes do presente estudo, fazerem referência a cenas reais e a temas polêmicos pode ter influenciado a adesão a estágios de julgamento moral hierarquicamente inferiores, pois os dilemas que vêm sendo propostos na literatura tratam, sobretudo, de dilemas hipotéticos, com temas não tão polêmicos. De qualquer forma, pode-se dizer que os Dilemas utilizados para medir estágios de julgamento moral, segundo a tipologia de Kohlberg, mediram aquilo que se propôs a medir, conseguindo diferenciar os participantes quanto a seus estágios de julgamento moral, podendo, inclusive, serem utilizados conjuntamente, já que apresentaram correlações positivas, conforme foi mencionado na apresentação dos Resultados. Para finalizar o debate acerca do instrumento Dilemas da Vida Real, é relevante comentar a respeito da influência das variáveis sócio-demográficas sobre o desenvolvimento moral. No caso da variável sexo, já se esperava a não influência desta variável sobre o desenvolvimento moral, tendo como base os estudos de Menin (2005) e Laranjeiras (2007): estes autores trabalharam com temáticas semelhantes a dos Dilemas apresentados neste estudo, ou seja, redução da maioridade penal e pena de morte, e não encontraram diferenças entre o sexo masculino e o feminino. No caso da religião esta não foi analisada tendo em vista a distribuição amostral: 80% disseram ser católicos. No que se refere à idade, esta surpreendentemente não revelou influência sobre os estágios de desenvolvimento moral. Neste caso, apenas se constatou a influência da variável escolaridade: os estágios mais 141 elevados de moralidade foram alcançados, sobretudo, pelos estudantes universitários (alunos de licenciatura em letras, matemática e história), o que é, por um lado, um dado positivo, pois estes estudantes serão futuros professores e deverão ser, de acordo com a proposta dos PCNs, também educadores morais; mas, por outro lado, ainda existe um número alarmante de estudantes universitários que utilizam indiscriminadamente argumentos típicos de estágios hierarquicamente inferiores, que revelam discursos de uma visão moral primária, pautada, por exemplo, na Lei de Talião – neste último caso, o que esperar destes futuros educadores? A propagação das idéias de que: “matou tem que morrer”, “bateu tem que apanhar”, “seres humanos devem ser levados à cadeira elétrica”, “adolescentes merecem cadeia”. No que se refere ao segundo instrumento, EEG, os dados indicaram, assim como foi apontado na hipótese b1, que a escala criada para medir Empatia focada em Grupos conseguiu discriminar diferentes tipos ou dimensões empáticas e diferentes graus de empatia. Note-se que na primeira análise fatorial realizada, com a extração de 5 componentes, a EEG apresentou uma estrutura multifatorial que distinguiu os três fatores citados na hipótese b2 - Empatia com grupos minoritários, Empatia com “apenados” e Empatia com animais. Ainda se observou na Análise Fatorial a configuração de mais dois componentes: Empatia com pessoas em situação de aflição e Empatia com trabalhadores. Quanto as médias dos fatores, elas corresponderam ao esperado na hipótese b3 (espera-se que a média do fator relacionado à Empatia com grupos minoritários seja a maior) e b4 (espera-se que a média do fator relacionado à Empatia com “apenados” seja a menor). A análise realizada com a fixação de três componentes apresentou uma estrutura multifatorial que distinguiu, em parte, os três fatores citados na hipótese b2 – Empatia com grupos minoritários, Empatia com animais (neste caso, o componente extraído na Análise Fatorial incluiu a questão da empatia com trabalhadores e, nesse sentido, foi denominado de Empatia com animais e trabalhadores), Empatia com “apenados” (neste caso, o componente 142 extraído da Análise Fatorial envolveu outras pessoas cometendo transgressões além dos “apenados”, e vítimas de transgressão e foi denominado de Empatia com transgressores e vítimas de transgressão). De forma semelhante ao que aconteceu na análise fatorial com cinco componentes, as médias dos fatores corresponderam ao esperado nas hipóteses b3 (espera-se que a média do fator relacionado à Empatia com grupos minoritários seja a maior) e b4 (espera-se que a média do fator relacionado à Empatia com “apenados” seja a menor média). É relevante lembrar que o que motivou a realização da Análise Fatorial com a fixação de três componentes foi, sobretudo, a organização dos itens na análise com cinco fatores que se mostrou não desejada, no sentido em que o número de itens por fator revelou-se inapropriada. Agora, fazendo uma comparação entre as duas análises fatoriais realizadas, considerase que a primeira análise, com cinco fatores, apresentou uma estrutura fatorial mais clara, revelando componentes altamente compreensíveis, do que a análise com três fatores: Empatia com grupos de minoritários, Empatia com pessoas em situação de aflição, Empatia com trabalhadores, Empatia com “apenados”, Empatia com animais. Por outro lado, a distribuição do número de ítens por fator na segunda análise fatorial (com três fatores) expôs uma estrutura mais harmoniosa que a primeira (com cinco fatores); contudo, a explicação dos fatores tornou-se menos compreensível. Neste sentido, julga-se que o mais apropriado seja reformular a escala e testá-la novamente. 143 CAPÍTULO V – ESTUDO 2: REFORMULAÇÃO E VALIDAÇÃO DA ESCALA DE EMPATIA FOCADA EM GRUPOS E VALIDAÇÃO DOS DILEMAS DA VIDA REAL 144 O segundo estudo é uma pesquisa empírica que tem como objetivos principais reformular e validar a Escala de Empatia focada em Grupos, bem como validar o instrumento denominado Dilemas da Vida Real. 5.1. Objetivos específicos a) reformular a Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) e analisar suas características psicométricas; b) apresentar os resultados descritivos dos instrumentos criados nesta tese (EEG e Dilemas da Vida Real), assim como de outros instrumentos já validados no Brasil [Interpersonal Reactivity Index (IRI) e o Defining Issues Test (DIT)] c) verificar se existem correlações entre os instrumentos criados nesta tese (EEG e Dilemas da Vida Real) e os já validados no contexto brasileiro (IRI e DIT); d) analisar a influência de variáveis sócio-demográficas (sexo, série, idade e religião) sobre os estágios de desenvolvimento moral e sobre o grau de sensibilidade empática; 5.2. Hipóteses No que se refere ao primeiro objetivo (reformular a Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) e analisar suas características psicométricas), espera-se que: 145 a1) a EEG apresente uma estrutura multifatorial, com quatro componentes: Empatia com grupos minoritários, Empatia com trabalhadores, Empatia com “apenados”, Empatia com animais; a2) a média do componente Empatia com grupos minoritários seja a maior; a3) a média do componente Empatia com “apenados” seja a menor; a4) uma análise confirmatória revele indicadores psicométricos aceitáveis para o modelo com quatro fatores (hipótese a1) em comparação com outros modelos alternativos; As hipóteses a1, a2, a3 e a4 fundamentam-se nos resultados de análises fatoriais exploratórias, apresentados no Estudo 1. Em relação ao segundo objetivo (apresentar os resultados descritivos dos instrumentos criados nesta tese (EEG e Dilemas da Vida Real), assim como de outros instrumentos já validados no Brasil (Interpersonal Reactivity Index – IRI – e o Defining Issues Test – DIT), espera-se que: b1) as respostas dos estudantes se concentrem nos estágios 1 e 2, quando o desenvolvimento moral for medido por meio dos Dilemas da Vida Real; b2) as respostas dos adolescentes se concentrem nos estágios 3 e 4, quando o desenvolvimento moral for medido por meio do DIT; b3) a IRI apresente coeficientes de consistência interna semelhantes ao que se têm encontrado em estudos realizados no Brasil; b4) todas as sub-escalas do IRI (Consideração Empática, Tomada de Perspectiva e Angústia Pessoal) apresentem correlações positivas entre si; A hipótese b1 fundamenta-se, conforme já foi exposto no ítem 4.2, em estudos empíricos (Camino, 2005; Camino, 2006; Laranjeiras, 2007; Menin, 2005) que indagaram adolescentes acerca da pena de morte e redução da maioridade penal e revelaram uma 146 moralidade baseada, sobretudo, na justiça expiatória. Além disso, espera-se que os resultados do Estudo 2 corroborem os resultados apresentados no Estudo 1. A hipótese b2 baseia-se nos estudos empíricos (Snarey, 1985), que usam testes convencionais, tais como o DIT, o MJI e o SROM, que têm demonstrado uma prevalência do pensamento convencional (estágios 3 e 4) entre adolescentes e jovens adultos. Ademais, conforme comentam Colby e Kohlberg (1984) e Biaggio (1976), o pensamento pósconvencional tem dominado uma minoria de adultos, geralmente com idades superior a 20 anos (que não é o caso dos participantes da presente pesquisa) e o pré-convencional tem dominado o pensamento infantil e de adolescentes delinqüentes. Para fundamentar as hipóteses b1 e b2, é importante ainda retomar a idéia de que existem diferenças entre instrumentos objetivos e subjetivos no campo da moralidade (Rest, 1975): os escores de um teste com questões abertas (como os Dilemas da Vida Real) têm revelado estágios de desenvolvimento moral menor do que os de questões de múltipla escolha (como o DIT), indicando que é bem mais fácil reconhecer um estágio como sendo o mais adequado do que produzí-lo. A hipótese b3 fundamenta-se em estudos realizados no contexto brasileiro que têm revelado coeficientes de consistência interna satisfatórios (Ribeiro, Koller & Camino, 2002; Sampaio, 2007), porém inferiores aos coeficientes que têm sido encontrados em estudos internacionais (Davis, 1980; Escrivã, Navarro & Garcia, 2004; Pérez-Albéniz et al., 2003; Siu & Shek, 2005). A hipótese b4 também se fundamenta em estudos realizados no Brasil (Ribeiro, Koller & Camino, 2002; Sampaio, 2007) que têm verificado correlações positivas entre todas as sub-escalas do IRI, o que difere, no que se refere à correlação positiva entre a sub-escala denominada Angústia Pessoal e as demais sub-escalas, do previsto teoricamente e do encontrado em pesquisas transculturais (Escrivã, Navarro & Garcia, 2004; Pérez-Albéniz 147 et al., 2003; Siu & Shek, 2005), mas assemelha-se aos achados de Ribeiro, Koller e Camino (2002) e Sampaio (2007), realizados no Brasil. No que tange ao terceiro objetivo [verificar se existem correlações entre os instrumentos criados nesta tese (EEG e Dilemas da Vida Real) e os já validados no contexto brasileiro (IRI e DIT)], espera-se que: c1) haja validade convergente entre os instrumentos criados para medir desenvolvimento moral (Dilemas da Vida Real e DIT); c2) haja validade convergente entre os instrumentos criados para medir graus de sensibilidade empática (EEG e IRI); c3) os escores dos instrumentos de desenvolvimento moral e os graus de sensibilidade empática estejam correlacionados entre si; A hipótese c3 se fundamenta nos trabalhos existentes que relacionam empatia e desenvolvimento moral e têm encontrado uma correlação entre essas duas variáveis (Camino, Camino & Leyens, 1996; Eisenberg-Berg & Mussen, 1978; Hogan & Dickstein, 1972; Ribeiro, 1996; Sampaio, 2007). Quanto ao quarto objetivo (analisar a influência de variáveis sócio-demográficas sobre os estágios de desenvolvimento moral e sobre o grau de sensibilidade empática), esperase que: d1) não haja diferença entre os escores médios dos participantes do sexo feminino e os do masculino em relação ao desenvolvimento moral; d2) os escores médios dos participantes do sexo feminino sejam maiores do que os dos participantes do sexo masculino em relação a todas as dimensões da empatia; d3) o avanço da escolaridade favoreça o desenvolvimento moral; d4) o avanço da idade favoreça o desenvolvimento moral; d5) o avanço da escolaridade favoreça a sensibilidade empática; 148 d6) o avanço da idade favoreça a sensibilidade empática; Os argumentos que fundamentam as hipóteses do quarto objetivo, que tratam da influência de variáveis sócio-demográficas sobre os estágios de desenvolvimento moral e sobre o grau de sensibilidade empática, são os mesmos que foram apresentados em relação às variáveis sócio-demográficas do Estudo 1. 5.3. Método 5.3.1. Participantes Participaram 206 estudantes do ensino médio, da cidade de João Pessoa/PB, Brasil, de uma instituição pública, sendo: 45,6% do sexo masculino e 54,4% do sexo feminino; predominantemente da religião Católica (61,7%); com idades variando de 14 a 19 anos (M = 15,6; DP = 0,9). Esta amostra foi não-probabilística, isto é, de conveniência, tendo participado as pessoas que, convidadas, aceitaram colaborar. 5.3.2. Instrumento Foram aplicados no segundo estudo, conforme Apêndice II, além de uma lista que solicitava aos participantes a informação de alguns dos seus dados sócio-demográficos (idade, série, sexo, religião), quatro instrumentos, sendo dois criados na presente tese (Escala de Empatia focada em Grupos e Dilemas da Vida Real) e dois já validados no Brasil (Interpersonal Reactivity Index e Defining Issues Test): 149 Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) Com a finalidade de melhorar a estrutura fatorial da EEG, nesse segundo estudo, decidiu-se reformular a escala e incluir mais 9 itens, a saber: Pessoas tendo que se levantar de madrugada para ir trabalhar; Pessoas que têm parentes seqüestrados; Animais sendo caçados como diversão das pessoas; Os presos passarem muito tempo esperando o julgamento; Animais em extinção; Animais sendo maltratados; Pessoas que cometeram crimes leves convivendo com pessoas que cometeram crimes muito graves; Pessoas que trabalham em condições desumanas, como nas minas de carvão e nos garimpos; Pessoas que trabalham com produtos tóxicos, sem terem a devida proteção (Apêndice II). Dilemas da Vida Real Este instrumento não sofreu modificações e está descrito no Estudo 1. Defining Issues Test (DIT) O DIT é um teste objetivo de julgamento moral elaborado por Rest (1975), composto por seis dilemas morais hipotéticos, dos quais será utilizado, no presente estudo, apenas um, retirado da versão brasileira de Camino e Luna (1989): o dilema do prisioneiro foragido. Este dilema conta o caso de um senhor condenado pela justiça a dez anos de prisão, que foge da cadeia, adota uma identidade falsa e passa a trabalhar duro e honestamente. Consegue dinheiro suficiente para abrir seu próprio negócio, é gentil com os fregueses, paga bem aos seus funcionários e ainda contribui com uma parte dos seus lucros para obras de caridade. Um dia, uma vizinha, chamada Dona Cida, o reconheceu como sendo aquele fugitivo da prisão e pensa em denunciá-lo à polícia. A pergunta que segue ao dilema é: “Dona Cida deveria entregá-lo à polícia?”. 150 Vale mencionar, conforme Apêndice II, que, após cada uma das perguntas que seguem o dilema supramencionado, os participantes deveriam responder sim, não ou não sei. Ademais, deveriam indicar o grau de importância de cada uma das doze afirmações que acompanhavam o dilema e que foram construídas por Rest (1975), tendo como base a tipologia de estágios de Kohlberg. A este respeito, é importante esclarecer que, entre as afirmações, pelo menos uma delas possui conteúdo, retoricamente bem construído, porém destituído de sentido (intitulado por Rest de M); e, pelo menos, uma das afirmações representa um estágio kohlberguiano intermediário (entre o 4 e 5), denominado de A (antiestabilishment) (Rest & Kohlberg, 1975, citado por Rest, 1975). Finalmente, para concluir a resolução de cada dilema, os participantes deveriam escolher, dentre as doze afirmações, as quatro mais importantes, para ele, de forma hierárquica. Para corrigir o instrumento, inicialmente foi identificado o estágio correspondente às 12 afirmações, seguindo as orientações contidas na Folha de Apuração do DIT (Apêndice III). A seguir, estes itens foram pontuados conferindo peso 4 à primeira escolha, 3 à segunda, 2 à terceira e 1 à quarta, obtendo-se um total de dez pontos distribuídos entre os estágios. Após a obtenção desta pontuação, foram somadas todas as pontuações relativas a cada estágio, obtendo-se desta forma, os escores brutos de cada um dos estágios. Para dizer que um participante era predominantemente de um estágio, se considerou a maior freqüência de respostas no estágio. É relevante citar que quando houve a mesma freqüência (7 casos), se considerou o estágio mais baixo (Turiel, 1977). Interpersonal Reactivity Index (IRI) O IRI é composto, originalmente, por quatro sub-escalas (personal distress, perspective taking, fantasy e emphatic concern) que avaliam determinados tipos de experiências subjetivas vivenciadas pelo respondente ao testemunhar ou imaginar as 151 experiências que uma outra pessoa vivencia ou vivenciará: a de personal distress (angústia pessoal) mensura a tendência a sentir sentimentos de angústia ou aflição, ao observar ou inferir que outras pessoas estão vivenciando sentimentos negativos ou desagradáveis; a de perspective taking (tomada de perspectiva) avalia a capacidade de colocar-se no lugar do outro e ver as coisas a partir de outros pontos de vista; a de fantasy (fantasia) mede a capacidade imaginativa de identificar-se com personagens de filmes ou livros; e a sub-escala de emphatic concern (preocupação empática) mensura a tendência a sentir sentimentos de compaixão, simpatia e preocupação por outras pessoas que passam por experiências negativas, dolorosas ou de sofrimento. Para cada ítem descrito no IRI, o respondente deverá indicar qual o seu grau de concordância com a afirmação, por meio de uma escala de cinco pontos (1 = “Não me descreve bem”; 5 = “Descreve-me muito bem”). É importante registrar que os itens 2, 3, 9, 10, 11 e 13 devem ter sua pontuação invertida, já que foram elaborados na direção oposta dos outros itens da escala. Particularmente, nesta tese, será utilizada a versão traduzida e validada por Ribeiro, Koller e Camino (2002) (Apêndice II), a qual consta apenas de três das quatro sub-escalas originalmente proposta por Davis (1983). Tal escolha justifica-se pelo fato de que a escala de fantasy, conforme comentou Sampaio (2007), tem sido cada vez menos utilizada por pesquisadores de outros países, por se basear em aspectos culturais muito específicos, não passíveis de generalização. 5.3.3. Procedimento Os participantes responderam individualmente aos instrumentos, em ambiente coletivo de sala de aula. Os questionários foram apresentados de forma randômica (para evitar o efeito de ordem). Todos os procedimentos adotados nesta pesquisa seguiram as orientações previstas 152 na Resolução 196/96 do CNS e na Resolução 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia. Os participantes levaram cerca de 50 minutos para responder os instrumentos. 5.3.4. Análise dos dados No caso da análise da EEG, os dados foram analisados seguindo os mesmos procedimentos adotados no Estudo 1. Além desses procedimentos, visando reforçar a adequação da EEG e sua confiabilidade, realizou-se uma análise fatorial confirmatória, utilizando o programa AMOS 7, com uma amostra distinta da que fora usada no estudo exploratório. O instrumento Dilemas da Vida Real (Caso Sadam Hussein e Caso João Hélio) foi analisado seguindo os mesmos procedimentos adotados no Estudo 1. Em relação ao DIT, calculou-se a pontuação média bruta dos participantes segundo os estágios de julgamento moral, assim como a distribuição dos participantes em função da predominância de suas respostas nos estágios. A predominância do estágio moral também foi analisada em função dos dados sócio-demográficos (sexo, idade, escolaridade). Em relação ao IRI, para verificar a consistência interna de suas sub-escalas foi calculado o coeficiente Alpha, proposto por Cronbach (1951); para verificar a convergência entre as sub-escalas, foram calculados os coeficientes de correlação de Pearson; e, para verificar a relação entre as variáveis sócio-demográficas, realizou-se uma MANOVA. Para verificar a Validade Convergente entre os instrumentos criados nesta tese (Dilemas da Vida Real e EEG), foram realizadas correlações de Pearson com instrumentos já validados no Brasil (DIT e IRI). 153 5.4. Resultados 5.4.1. Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) A adequação da matriz de correlação [KMO = 0,84 e Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (351) = 1757,033, p < 0,001] possibilitou a realização de uma análise CP. Inicialmente, esta foi realizada sem fixar número de componentes a extrair e método de rotação. De acordo com o critério de Kaiser, puderam ser identificados sete componentes com valores próprios superiores a um: 6,66, 2,24, 1,99, 1,58, 1,26, 1,20, 1,19, explicando conjuntamente 59,3% da variância total; a distribuição gráfica dos valores próprios (critério de Cattell) permitiu identificar seis componentes. Alternativamente, realizou-se a análise paralela, assumindo os mesmos parâmetros do banco de dados original, ou seja, 206 participantes e 27 variáveis. Os valores próprios gerados aleatoriamente foram: 1,74, 1,62, 1,53, 1,46, 1,34, 1,28, 1,18. O contraste destes valores próprios com os observados empiricamente indicou a retenção de sete componentes. Diante desses resultados e das expectativas geradas em torno da hipótese de trabalho, decidiu-se reespecificar a solução fixando a extração de quatro componentes, adotando rotação Varimax. É importante registrar que, com o fim de definir o ítem como pertencente ao componente, assumiu-se que ele deveria apresentar saturação mínima de |0,40| e excluíram-se aqueles que saturavam em mais de um componente. Com este procedimento, sete dos 27 itens da escala foram descartados, ora por saturarem em mais de um fator (Pessoas que têm parentes seqüestrados, Pessoas que trabalham em condições desumanas, Índios sendo menosprezados, Adolescentes presos por cometerem crimes), ora por apresentarem saturações inferiores a |0,40| (Crianças passando fome, Pessoas que perdem parentes queridos, Pessoas que trabalham com produtos tóxicos, sem terem a devida proteção). Na Tabela 3, apresenta-se o conteúdo de cada ítem, sua saturação (carga fatorial), bem 154 como os indicadores de consistência interna (Alfa de Cronbach) e variância explicada de cada fator e médias. Tabela 3 – Análise dos Componentes Principais da EEG-27 Componentes Itens 22. Menores abusados sexualmente Empatia com grupos minoritários ,676 Empatia com animais Empatia com trabalhadores Empatia com “apenados” ,117 ,036 ,165 17. Negros sendo menosprezados ,659 ,279 -,140 ,104 05. Pessoas doentes sem poder se tratar ,643 ,016 ,129 -,122 19. Crianças sendo levadas à prostituição ,604 ,255 ,146 ,120 06. Pessoas que têm parentes seqüestrados ,573 -,028 ,405 -,017 16. Pessoas que são vítimas de catástrofes, como tremor de terra e inundações ,564 ,101 ,340 -,051 13. Pessoas vítimas de injustiça ,562 -,056 ,077 ,200 04. Meninos pequenos (de 5 anos de idade) usando drogas ,545 ,126 ,231 ,105 24. Pessoas que trabalham em condições desumanas, como nas minas de carvão e nos garimpos ,422 ,424 ,341 ,208 01. Crianças passando fome ,389 ,316 ,343 -,203 23. Animais morrendo em período de seca ,193 ,764 ,236 -,014 18. Animais sendo maltratados ,247 ,721 -,018 -,018 25. Animais sendo levados ao matadouro ,113 ,698 ,083 -,005 15. Animais em extinção ,085 ,661 ,121 ,107 09. Animais sendo caçados como diversão das pessoas -,100 ,591 ,045 ,189 20. Índios sendo menosprezados ,458 ,467 ,014 ,257 08. Pessoas que são obrigadas a deixar o campo para procurar trabalho nas grandes cidades ,021 ,082 ,687 ,277 03. Pessoas tendo que se levantar de madrugada para ir trabalhar ,089 -,034 ,676 ,072 07. Pessoas trabalhando em serviços pesados mais de 12hs por dia ,186 ,167 ,658 ,255 14. Pessoas que perdem parentes queridos ,236 ,087 ,285 -,005 26. Adolescentes presos por cometerem crime -,111 ,051 ,446 ,437 02. Velhos pedindo esmola ,242 ,208 ,442 -,119 27. Pessoas que trabalham com produtos tóxicos, sem terem a devida proteção ,303 ,258 ,332 ,245 21. Pessoas condenadas a pena de morte por crimes que cometeram ,003 ,097 ,095 ,727 11.Os presos passarem muito tempo esperando julgamento ,056 ,036 -,040 ,720 12. Presos vivendo em situações desumanas ,168 -,003 ,154 ,642 10. Pessoas que cometeram crimes leves convivendo com pessoas que cometeram crimes muito graves ,267 ,178 ,158 ,518 7 6,66 24,68 0,80 4,26 5 2,24 8,29 0,77 3,74 4 1,99 7,38 0,67 3,22 4 1,58 5,85 0,68 2,79 Número de itens Valor próprio % da Variância Explicada Alfa de Cronbach Média do fator 155 Os componentes encontrados podem ser descritos como seguem: Componente I. Este componente apresentou valor próprio de 6,66, explicando 24,7% da variância total. Reuniu sete itens com saturações variando de 0,68 (Menores abusados sexualmente) a 0,55 [Meninos pequenos (de cinco anos de idade) usando drogas] e apresentou consistência interna (Alfa de Cronbach, α) de 0,80. Considerando os itens que compunham o componente I, ele foi denominado de Empatia com grupos minoritários. Componente II. Este componente apresentou valor próprio de 2,24, explicou 8,3% da variância total e obteve um α de 0,77. Neste componente, concentraram-se cinco itens, que apresentaram saturações entre 0,76 (Animais morrendo em período de seca) e 0,59 (Animais sendo caçados como diversão das pessoas). O componente II foi denominado de Empatia com animais. Componente III. Este componente apresentou valor próprio de 1,99, explicou 7,4% da variância total e seu α foi 0,67. Quatro itens foram reunidos neste componente, apresentando saturações entre 0,69 (Pessoas que são obrigadas a deixar o campo para procurar trabalho) e 0,44 (Velhos pedindo esmolas). O componente III foi denominado de Empatia com trabalhadores. Componente IV. O valor próprio deste componente foi 1,58, ele explicou 5,9% da variância total e seu α foi de 0,68. Concentram-se quatro itens neste componente, com saturações variando de 0,73 (Pessoas condenadas à pena de morte por crimes que cometeram) a 0,52 (Pessoas que cometeram crimes leves convivendo com pessoas que cometeram crimes muito graves). Assim, este componente foi denominado de Empatia com “apenados”. Em relação as médias dos fatores da EEG, constatou-se que houve diferença significativa [Lambda de Wilks = 0,25; F(3,206) = 198,90; p<0,001] entre elas – mais precisamente, conforme revelou o teste Post Hoc de Bonferroni, todas os fatores diferenciaram-se entre si, sendo a maior média atribuída ao fator denonimado de Empatia com 156 grupos minoritários (M=4,26; DP=0,63) e a menor média ao fator denominado de Empatia com “apenados” (M=2,79; DP=0,92). Com a finalidade de comparar os cinco fatores da EEG em função das variáveis sóciodemográficas (sexo, idade e escolaridade), realizou-se uma MANOVA. Os resultados revelaram: - efeito principal do sexo do participante em relação a dois dos quatro fatores [Lambda de Wilks = 0,93, F(4,206) = 3,63, p < 0,05], nas quais as mulheres apresentaram médias superiores às dos homens em relação ao fator denominado Empatia com grupos minoritários (Mulheres: M=4,41, DP=0,58; Homens: M=4,09, DP=0,65) e ao fator denominado Empatia com trabalhadores (Mulheres: M=3,33, DP=0,79; Homens: M=3,10, DP=0,78); - efeito principal da idade do participante em relação ao fator denominado Empatia com “apenados” [Lambda de Wilks = 0,96, F(4,206) = 2,99, p < 0,05], em que os participantes mais velhos apresentaram médias superiores (M=2,85, DP=0,93) às dos mais novos (M=2,42, DP=0,79); - efeito principal da série do participante em relação ao fator denominado Empatia com grupos minoritários [Lambda de Wilks = 0,92, F(4,206) = 2,81, p < 0,05]: os estudantes do 2º ano se mostraram mais empáticos (M=4,38; DP=0,49) que os do 1º ano do ensino médio (M=4,17; DP=0,71); - efeito de interação [Lambda de Wilks = 0,95, F(4,206) = 2,61, p < 0,05] da idade e do grau de escolaridade, em que os estudantes mais velhos do segundo ano obtiveram médias mais altas do que os estudantes mais novos do primeiro ano em relação ao fator denominado Empatia com grupos minoritários; enquanto os mais velhos do primeiro ano obtiveram médias semelhantes aos mais novos do primeiro e do segundo ano. 157 Por fim, considerando a análise exploratória apresentada na Tabela 3 e visando testar a adequação da escala, realizou-se uma análise fatorial confirmatória, hipotetizando-se uma estrutura tetrafatorial; porém, a fim de comparar a adequabilidade da estrutura encontrada no estudo exploratório, considerou-se tanto a fatoralização conhecida, com quatro fatores, quanto a de modelos alternativos (unifatorial e bifatorial). Mais precisamente, foram testados os seguintes modelos: (a) Modelo 1: unifatorial, em que todos os itens da EEG apresentam saturação em um único fator, tendo em vista que alguns autores defendem que a Empatia é um construto unidimensional; (b) Modelo 2: bifatorial, no qual se uniu o Fator 1 (Empatia com grupos minoritários) com o Fator 3 (Empatia com trabalhadores); e o Fator 2 (Empatia com animais) com o Fator 4 (Empatia com “apenados”), considerando que o Fator 1 e o Fator 3 fazem referência a grupos de pessoas que estão sofrendo de forma injustificada; e o Fator 2 e o Fator 4 fazem referência a um sofrimento que pode parecer mais justificável; (c) Modelo 3: uma estrutura multifatorial, composta por quatro fatores, de acordo com o que se espera teoricamente e com o que foi descrito na hipótese b1. Para a realização da análise fatorial confirmatória, participaram 210 estudantes do ensino médio da cidade de Campina Grande-PB, Brasil, de uma instituição privada de ensino, sendo: 39% do sexo masculino e 61% do sexo feminino; predominantemente da religião Católica (61,7%); com idades variando de 13 a 17 anos. Esta amostra foi não-probabilística, isto é, de conveniência, tendo participado as pessoas que, convidadas, aceitaram colaborar. A tabulação e a análise dos dados foram efetuadas por meio do pacote estatístico SPSS – versão 15.0. Porém, para a análise fatorial confirmatória, utilizou-se o programa AMOS 7. Este tipo de análise permite testar hipóteses específicas sobre a estrutura latente do modelo, apresentando os respectivos indicadores do “goodness”, os quais permitem avaliar a qualidade de ajuste do modelo a que se propõe (Hair, Tatham, Anderson & Black, 2005; Tabachnick & Fidell, 2001; Van de Vijver & Leung, 1997), como por exemplo: 158 - O χ² (qui-quadrado) testa a probabilidade do modelo teórico se ajustar aos dados; quanto maior este valor pior o ajustamento. Este tem sido pouco empregado na literatura, sendo mais comum considerar sua razão em relação aos graus de liberdade (χ²/g.l.). Neste caso, valores até 3 indicam um ajustamento adequado. - O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) são análogos ao R² em regressão múltipla e, portanto, indicam a proporção de variânciacovariância nos dados, explicadas pelo modelo. Estes variam de 0 a 1, com valores na casa dos 0,90, indicando um ajustamento satisfatório. - A Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%), é considerado um indicador de “maldade” de ajuste, isto é, valores altos indicam um modelo não ajustado. Assume-se como ideal que o RMSEA se situe entre 0,05 e 0,08, ou menos. - O Comparative Fit Index (CFI) compara, de forma geral, o modelo estimado e o modelo nulo, considerando valores mais próximos de um como indicadores de ajustamento satisfatório (Hair, Tatham, Anderson & Black, 2005). - O Expected Cross-Validation Index (ECVI) e o Consistent Akaike Information Criterion (CAIC) são indicadores geralmente empregados para avaliar a adequação de um modelo em relação a outro. Valores baixos do ECVI e CAIC expressam o modelo com melhor ajuste. De acordo com a Tabela 4, é possível destacar que o melhor modelo para a EEG em adolescentes foi o Modelo 3 – multifatorial (com quatro fatores), destacando os seguintes indicadores de qualidade de ajuste: χ2/gl (184,61/163) = 1,13, GFI = 0,96, AGFI = 0,94, CFI = 0,99, RMSEA (90%IC) = 0,02 (0,01-0,03), CAIC = 657,96 e ECVI = 0,82. 159 Tabela 4 – Comparação dos modelos alternativos da estrutura fatorial da EEG-27 Modelos χ² gl χ²/gl GFI AGFI CFI RMSEA CAIC ECVI Unifatorial* 558,15 176 3,17 0,86 0,82 0,81 0,08 941,00 1,72 (0,07-0,08) Bifatorial** 599,42 188 3,19 0,86 0,83 0,80 0,07 (1,55-1,92) 898,75 (0,06-0,08) Tetrafatorial 184,61 163 1,13 0,96 0,94 0,99 0,02 (0,01-0,03) 1,77 (1,59-1,97) 657,96 0,82 (0,77-0,97) Nota: * unifatorial = F1/F2/F3/F4; ** bifatorial = F1/F3 e F2/F4 Os resultados da estrutura tetrafatorial estão sumarizados na Figura 4. Ademais, todas as saturações (Lambdas, λ) ou pesos de regressão são estatisticamente diferentes de zero (0; t>1,96; p<0,05), sugerindo a pertinência do conjunto de itens considerados. 160 1 2 0,32 EEG22 0,49 EEG17 3 0,21 4 0,40 5 6 7 8 0,57 0,70 EEG05 EEG19 0,45 0,63 Empatia com grupos minoritários 0,64 0,41 EEG16 0,49 0,24 EEG13 0,60 0,36 EEG04 0,57 0,69 EEG23 0,75 9 0,57 10 0,45 11 0,44 12 0,26 EEG18 EEG25 0,76 0,67 0,76 Empatia com animais 0,66 EEG15 0,51 0,50 EEG09 0,62 13 0,48 EEG08 0,69 14 0,19 15 0,33 16 0,23 17 0,26 18 0,37 19 0,24 EEG03 0,44 EEG07 0,57 Empatia com trabalhadores 0,37 0,48 EEG02 0,62 EEG21 0,47 20 0,35 EEG11 0,55 EEG12 0,56 EEG10 Empatia com “apenados” 0,42 Figura 4. Estrutura Tetrafatorial da EEG Considerando mais um indicador de confiabilidade do instrumento, calculou-se o Alfa de Cronbach e obteve-se os seguintes resultados: Empatia focada em Grupos (somatório de todos os itens) – α de 0,86; Empatia com grupos minoritários (Fator 1) – α de 0,80; Empatia com animais (Fator 2) – α de 0,77; Empatia com trabalhadores (Fator 3) – α de 0,60; e Empatia com “apenados” (Fator 4) – α de 0,63. 161 5.4.2. Dilemas da Vida Real Caso Sadam Hussein No que se refere à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, 53% dos participantes concordaram com a morte de Sadam Hussein, 43% se mostraram desfavoráveis e 4% afirmaram não saber responder. Essas respostas, ao serem analisadas em função das variáveis sócio-demográficas (sexo, escolaridade, idade e religião), não diferiram em função dos grupos avaliados. As justificativas dadas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?”, assim como aconteceu no Estudo 1, foram avaliadas segundo dois critérios: por conteúdo e por estágio de julgamento moral. Nessas análises emergiram as mesmas categorias elencadas no Estudo 1. Observe no Quadro 4 que as respostas dos participantes se concentraram, sobretudo, no estágio 1/2 de julgamento moral, que faz referência as justificativas que são guiadas pelo princípio da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Quadro 4. Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado? Por quê?” Categorias Estágio Exemplos de Respostas F % Lei de Talião 1/2 “Ele deveria ser morto, justamente como ele fez com outras vítimas” 94 45,6 Justiça divina 4/1 “Porque só quem tem o direito de tirar a vida é quem a deu” 17 8,3 Outra punição 3 “Ele deveria ser punido de outra forma, como prisão perpétua” 38 18,4 4/5/1 “Só assim a sociedade não sofrerá mais com as suas maldades” 17 8,3 “Todos tem o direito a vida. É algo incontestável” 19 9,2 Proteção à sociedade Direito a vida 5 Não categorizada ----- Respostas tautológicas e sem sentido. 21 10,2 Total ---- -------------------------------------------------------------- 206 100 162 Ao se avaliar as justificativas de repostas (organizadas em categorias semânticas e estágios) à questão “Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado?” em função das variáveis sócio-demográficas, verificou-se que não houve diferença significativa entre os grupos em função de nenhuma variável sócio-demográfica. Caso João Hélio Quanto ao segundo caso avaliado, Caso João Hélio, 82% dos participantes revelaram ser favoráveis a redução da maioridade penal, 15% desfavoráveis e os demais (3%) afirmaram não saber responder. Quando se comparou essas respostas em função das variáveis sóciodemográficas (sexo, escolaridade e idade), constatou-se diferença significativa (χ² = 15,03; g.l. = 2; p<0,005) apenas em função do grau de escolaridade: o posicionamento contrário em relação à proposta de redução da maioridade penal prevaleceu entre os estudantes do 2º ano do ensino médio. As justificativas à questão “Você está de acordo que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido?”, assim como no Caso Sadam Hussein, foram avaliadas segundo dois critérios: por conteúdo e por estágio de julgamento moral. Nessas análises emergiram também as mesmas categorias elencadas no Estudo 1. Note-se, no Quadro 5, que as respostas dos participantes se concentraram, sobretudo, no estágio 3/1 de julgamento moral – esse estágio revela um pensamento que ao mesmo tempo em que leva em consideração as intenções e o comportamento social da pessoa envolvida, típico do estágio 3, defende a idéia de uma justiça retributiva do estágio 1. 163 Quadro 5. Categorias, estágios, exemplos e percentuais de respostas a questão “Você está de acordo que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido? Por que?” Categorias Exemplos de Respostas Estágio F % Tem que pagar 1/2 “Fez algo errado, tem que ser punido” 22 10,7 Punição relacionada à consciência 3/1 “É adolescente, mas sabe o que faz muito bem. Deve ser preso. Ele pode votar e já quer ser dono do próprio nariz” 90 43,7 Visão negativa da lei 4/1 “Ele faz isto, porque ele confia na lei. É o protegido da lei” 45 21,8 Visão preventiva da punição 4 “Deve ser punido para que não faça de novo outro crime” 21 10,2 Visão social do crime 5 A coisa não é tão simples assim. Não é simplesmente punir. Tem muitas questões políticas e sociais em jogo. 8 3,9 Não categorizada ------ Respostas tautológicas e sem sentido. 20 10,7 Total ------ ----------------------------------------------------------- 206 100 Quando se avaliou as categorias e estágios em função das variáveis sóciodemográficas, verificou-se que não houve diferença significativa entre os grupos em função de nenhuma variável sócio-demográfica. 5.4.3. Defining Issues Test (DIT) – O prisioneiro foragido No gráfico a seguir tem-se a distribuição média da pontuação bruta nos estágios de raciocínio de julgamento moral no DIT dos participantes. A Figura 3 demonstra que a maior pontuação média dos participantes foi no estágio 4. 6 4,92 4 2 2,77 Des. Moral 1,58 0 Estágio 3 Estágio 4 Estágio 5/6 Figura 3. Pontuação média bruta dos participantes no DIT 164 Em uma segunda análise das respostas, os participantes foram classificados em função da predominância de suas respostas nos estágios. Conforme pode ser observado na Figura 4, os resultados obtidos com o DIT apontam para um desenvolvimento moral predominantemente do estágio 4. 70 60 50 40 30 20 10 0 60,8 24,9 14,4 Estágio 3 Estágio 3 Estágio 4 Estágio 5/6 Estágio 4 Estágio 5/6 Figura 4. Predominância do estágio de Desenvolvimento Moral, medido pelo DIT A predominância do estágio moral também foi analisada em função dos dados sóciodemográficas (sexo, idade, escolaridade). Neste caso, não houve diferença significativa entre os grupos. 5.4.4. Interpersonal Reactivity Index (IRI) Para verificar a consistência interna do IRI e das sub-escalas de Consideração Empática (CE), Tomada de Perspectiva (TP) e Angústia Pessoal (AP) foi calculado o coeficiente Alpha. Os resultados demonstraram que o IRI apresentou um alpha de 0,75, a subscala CE de 0,67, a sub-escala TP de 0,60 e a sub-escala de AP um alpha de 0,53. Para verificar a convergência entre as sub-escalas, foram calculados os coeficientes de correlação de Pearson. Conforme pode ser visto na Tabela 5, todas as sub-escalas apresentaram correlações positivas entre si. 165 Tabela 5 – Coeficientes de correlação de Pearson entre as sub-escalas do Interpersonal Reactivity Index (IRI) Consideração Empática Tomada de Perspectiva Consideração Empática 1 Tomada de Perspectiva 0,43** 1 Angústia Pessoal 0,39** ,19** Angústia Pessoal 1 ** A correlação é significativa a um nível de 0,01 (unilateral). No que se refere à relação entre as variáveis sócio-demográficas (sexo, idade e escolaridade) e as três sub-escalas do IRI, os resultados de uma MANOVA revelaram o efeito principal do sexo do participante em relação as três sub-escalas do IRI [Lambda de Wilks = 0,84, F(3,206) = 12,48, p < 0,001], isto é, as mulheres obtiveram médias maiores que os homens em relação as sub-escalas Consideração Empática (Mulheres: M=3,85, DP=0,70; Homens: M=3,33, DP=0,61), Tomada de Perspectiva (Mulheres: M=3,43, DP=0,67; Homens: M=3,28, DP=0,63) e Angústia Pessoal (Mulheres: M=3,35, DP=0,59; Homens: M=3,01, DP=0,58). Não houve efeito de interação entre as variáveis sócio-demográficas e as subescalas do IRI. 5.4.5. Validade Convergente No que diz respeito à relação entre os instrumentos de medida de Empatia (Escala de Empatia focada em Grupos e Interpersonal Reactivity Index), conforme pode ser observado na Tabela 6, verificou-se correlações significativas entre as sub-escalas do IRI e os fatores da EEG; assim como correlações significativas entre as sub-escalas do IRI (já apresentada na Tabela 6) e correlações significativas entre os fatores da EEG. Note-se, também, na Tabela 6, que: (1) a sub-escala Consideração Empática apresenta correlações acima de ,30 com dois dos quatro fatores, a saber Empatia com grupos minoritários (0,43) e 166 Empatia com o trabalhador (0,39); no caso dos fatores Empatia com animais e Empatia com “apenados” a correlação é fraca; (2) a sub-escala Tomada de Perspectiva só apresenta correlação acima de ,30 em relação ao fator Empatia com grupos minoritários (0,33); (3) a sub-escala Angústia Pessoal não apresenta correlação acima de ,30 em relação a nenhum dos fatores da EEG; Tabela 6 – Coeficientes de correlação de Pearson entre as sub-escalas do Interpersonal Reactivity Index (IR) e os Fatores da Escala de Empatia focada em Grupos (EEG) Consid. Empática Tomada de Perspec. Angústia Pessoal Emp c/ grup. min. Emp c/ animais Empatia c/ trabalh. Consideração Empática 1 Tomada de Perspectiva 0,43** 1 Angústia Pessoal 0,39** 0,19** 1 Empatia c/ grupos min. 0,43** 0,33** 0,29** 1 Empatia com animais 0,23** 0,15* 0,17** 0,35** 1 Empatia com trabalhadores 0,34** 0,25** 0,23** 0,38** 0,27** 1 Empatia com apenados 0,24** 0,16* 0,16* 0,27** 0,22** 0,39** Emp c/ apenados 1 ** A correlação é significativa a um nível de 0,01 (unilateral) * A correlação é significativa a um nível de 0,05 (unilateral) Quanto à relação entre os instrumentos de medida de julgamento moral (Dilemas da Vida Real e Defining Issues Test), conforme pode ser observado na Tabela 7, verificaram-se correlações positivas entre o DIT e o Dilema de Sadam Hussein (neste caso, a correlação revelou-se fraca: 0,16); e entre o Dilema de Sadam Hussein e o Dilema de João Hélio. 167 Tabela 7 – Coeficientes de correlação de Pearson entre o DIT e os Dilemas da Vida Real DIT Dilema S. Hussein DIT 1 Dilema S. Hussein 0,16* 1 Dilema João Hélio 0,13 0,31** Dilema João Hélio 1 ** A correlação é significativa a um nível de 0,01 (unilateral) * A correlação é significativa a um nível de 0,05 (unilateral) No que se refere às correlações entre os instrumentos de desenvolvimento moral e os de empatia, se encontrou correlações em relação ao DIT e as sub-escalas CE e TP. Conforme pode ser observado na Tabela 8, também se constatou que as respostas dos participantes ao Dilema de Sadam Hussein se correlacionaram com o fator Empatia com “apenados” da EEG; de forma semelhante, as respostas dos participantes ao Dilema de João Hélio se correlacionaram com o fator Empatia com “apenados”. Note-se, que os valores dessas correlações são menores que 0,30. Tabela 8 – Coeficientes de correlação de Pearson entre os instrumentos de desenvolvimento moral (DIT e Dilemas da Vida Real) e os de empatia (IRI e EEG-27) DIT Caso S. Hussein Caso João Hélio Consideração Empática 0,13* 0,09 -0,02 Tomada de Perspectiva 0,13* 0,01 0,06 Angústia Pessoal -0,01 0,04 -0,13 Empatia c/ g. minoritários -0,03 0,01 0,01 Empatia com animais 0,05 0,05 0,08 Empatia c/ trabalhadores 0,06 0,02 -0,06 Empatia com “apenados” 0,07 0,10* 0,12* * A correlação é significativa a um nível de 0,05 (bilateral) 168 5.5. Discussão parcial Sobre os resultados da EEG (27 itens), a escala apresentou uma estrutura multifatorial, com quatro componentes: Empatia com grupos minoritários, Empatia com trabalhadores, Empatia com “apenados”, Empatia com animais, conforme esperado (hipótese a1). Estrutura esta que se mostrou psicometricamente adequada, segundo o que foi constatado nos resultados de uma análise fatorial confirmatória realizada com uma outra amostra de estudantes adolescentes. Ainda é relevante comentar que, em consonância com o que foi hipotetizado em b2, a maior média atribuída pelos participantes foi ao fator relacionado à Empatia com grupos minoritários; e, em conformidade com o que foi hipotetizado em b3, a menor média foi atribuída ao fator Empatia com “apenados” (ex: pessoas condenadas a pena de morte por crime que cometeram). No que se refere às características psicométricas da EEG, de um modo geral, pode-se dizer que a EEG, elaborada com vistas à mensuração da Empatia relacionada a problemas sociais (último estágio de desenvolvimento empático da teoria de Hoffman), apresentou parâmetros psicométricos adequados na amostra de adolescentes, podendo ser considerada um instrumento válido para identificar quatro componentes claramente discerníveis em relação aos grupos aos quais se destina o sentimento empático: grupos minoritários, trabalhadores, animais e “apenados”. Sobre a retirada de sete dos 27 itens da escala (Pessoas que têm parentes seqüestrados, Pessoas que trabalham em condições desumanas, Índios sendo menosprezados, Adolescentes presos por cometerem crimes, Crianças passando fome, Pessoas que perdem parentes queridos, Pessoas que trabalham com produtos tóxicos, sem terem a devida proteção), consideram-se os itens retirados adequadamente associados aos fatores da escala, o que leva a autora dessa tese e sua orientadora a sugerirem que em trabalhos futuros seja verificado se, 169 com amostras de outras faixas etárias, tal exclusão se comprova. Por outro lado, com a eliminação dos sete itens supramencionados, apresenta-se, neste estudo, um instrumento mais parcimonioso e breve (com vinte itens apenas), com as mesmas dimensões que a versão inicial (com vinte e sete itens). A versão nova favorece o seu uso em pesquisas, sobretudo quando se consideram múltiplas medidas ou se procura realizar um levantamento rápido da Empatia. Sobre a consistência interna da EEG, considerando os critérios de Nunnally (1991) que indicam como satisfatório um índice de precisão maior ou igual a 0,70, pode-se afirmar que a EEG apresenta alguns coeficientes de precisão abaixo do esperado, mas que, dada à natureza polimorfa do construto, não devem ser descartados (Clark & Watson, 1995; Mueller, 1986); por outro lado, considerando os parâmetros de Cronbach (1996) e Churchil Jr. (1999), que afirmam que valores entre 0,60 e 0,80 são considerados bons para uma pesquisa exploratória, pode-se afirmar que os índices encontrados são satisfatórios, sobretudo quando se considera a interpretação teórica e empírica dos itens nos fatores da EEG. Adicionalmente, foi computado, no primeiro estudo, um alfa médio de 0,73, e no segundo um alfa médio de 0,70, que podem ser considerados índices de precisão aceitáveis (Tabachnick & Fidell, 2001). Ainda deve-se comentar que os dois fatores que apresentaram alfas menores que 0,70 possuem um número reduzido de itens (4 itens cada), o que pode ser uma explicação a respeito, já que o alfa de Cronbach é fortemente influenciado pelo número de itens que compõem um componente, aumentando segundo este seja aumentado (Nunnally, 1991). Quanto à análise fatorial confirmatória da EEG, os resultados apóiam a coerência do modelo teórico que pressupõe uma multidimensionalidade do construto empatia, mostrandose, neste caso, como sendo mais adequado um modelo tretrafatorial; e os índices de ajuste observados atendem ao que tem sido considerado apropriado na literatura (Byrne, 2001; Tabachnick & Fidell, 2001; Van de Vijver & Leung, 1997). 170 De uma maneira geral, considera-se que a construção e a validação da EEG trazem contribuições práticas significativas para a compreensão acerca da dimensionalidade do construto da Empatia. Contudo, é bom lembrar que os dados aqui apresentados foram colhidos a partir de uma amostra de conveniência, que talvez não represente adequadamente a população brasileira, devendo, neste sentido, ser ampliado para amostras que incluam outros contextos, no sentido de considerar as dimensões locais, específicas ou exclusivas (emics) da orientação de cada cultura, bem como, e não menos importante, as dimensões universais (etics) da cultura, com o objetivo de comparar os construtos estudados aqui para outro espaço geo-político e social (Muenjohn & Armstrong, 2007; Triandis et al., 1993; Van de Vijver & Leung, 1997). Além disso, considera-se pertinente conhecer a validade preditiva da EEG, considerando grupos-controle, definidos como pessoas com tendência a ter ausência de empatia (como por exemplo, os Psicopatas) e pessoas com empatia, ou mesmo comprovar sua estabilidade temporal por meio de teste-reteste. Em relação aos estágios de desenvolvimento moral dos participantes adolescentes, os resultados, verificados mediante a aplicação dos Dilemas da Vida Real, revelaram o predomínio dos participantes nos estágios 1 e 2, o que correspondeu ao esperado (hipótese b1) e corroboram os resultados encontrados no Estudo 1. Já os resultados, verificados mediante a aplicação do DIT, revelaram o predomínio do estágio 4 (60,8%), o que diverge, em certo sentido, da hipótese b2 que, em consonância com diferentes estudos empíricos (Snarey, 1985), previa que os adolescentes teriam respostas predominantemente dos estágios 3 e 4, quando verificadas mediante o DIT. Acredita-se que o predomínio do estágio 4 deva-se a história do DIT escolhida para este estudo – O prisioneiro foragido –, que tem como conflito central a questão da lei (obedecer a lei ou burlá-la em função da mudança de atitude do prisioneiro), tema característico do estágio 4. Esta diferença de estágios de desenvolvimento moral em função do instrumento utilizado já foi comentada na Discussão do Capítulo IV. 171 Também sobre questões atreladas ao desenvolvimento moral dos participantes, observou-se, assim como no Estudo 1, uma favorabilidade considerável a pena morte e um apoio maciço a mudança na lei penal brasileira, no sentido de reduzir a idade do adolescente cumprir medida de privação de liberdade. Resultado análogo a este foi encontrado em diferentes estudos já citados nesta tese (Datafolha, 2006; Galvão et al., 2007; Laranjeiras, 2007; Menin, 2005). No que tange aos argumentos utilizados a favor ou contra a pena de morte e redução da maioridade penal, eles foram agrupadas nas mesmas categorias elencadas no Estudo 1, tendo também o predomínio de respostas que foram guiadas pelo princípio da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente” (no caso Sadam Hussein) e de respostas que fizeram uso do slogan “tem consciência, deve ser punido” (no caso João Hélio). Quanto à influência das variáveis sócio-demográficas sobre o desenvolvimento moral, apenas se constatou a influência da variável escolaridade em relação à proposta de redução da maioridade penal: o posicionamento contrário a tal idéia prevaleceu entre os estudantes do 2º ano do ensino médio quando comparados aos do 1 º ano, o que é teoricamente adequado, já que se esperava que o avanço da escolaridade favorecesse o desenvolvimento moral (hipótese d3). Sobre o fato da idade não ter diferenciado os participantes em relação ao desenvolvimento moral (o que contrariou a hipótese d4), acredita-se, como Rest (1976), que a idade não é um bom indicador do desenvolvimento moral, na medida em que este desenvolvimento depende do desenvolvimento cognitivo, que nem sempre caminha junto com o avanço da idade. Em relação ao IRI, tem-se que a escala apresentou coeficientes de consistência interna satisfatórios (IRI – α de 0,75; CE – α de 0,67; TP – α de 0,60; AP – α de 0,53), quando comparados aos encontrados em estudos brasileiros (Ribeiro, Koller & Camino, 2002; Sampaio, 2007), porém baixos quando comparados ao trabalho original de Davis (1980) e quando se considera o que diz a psicometria (Nunnally, 1991). É relevante acrescentar que, 172 apesar de apresentar uma consistência interna abaixo do desejado, as sub-escalas mostraramse correlacionadas entre si, com coeficiente de correlação positivo entre CE e TP (r=0,43; p<0,001) compatíveis com o previsto por Davis e com o encontrado por Ribeiro, Koller e Camino (2002) e por Sampaio (2007); e com coeficiente de correlação positivo entre a subescala Angústia Pessoal e as outras duas sub-escalas, o que difere do previsto teoricamente e do encontrado em pesquisas transculturais (Escrivã, Navarro & Garcia, 2004; Pérez-Albéniz et al., 2003; Siu & Shek, 2005), mas assemelha-se aos achados de Ribeiro, Koller e Camino (2002) e Sampaio (2007) e é consonante com a hipótese b4. Diante desses dados, questiona-se se as divergências nos resultados encontrados em outros países e no Brasil são decorrentes de diferenças sócio-culturais e, em caso positivo, qual seria o significado teórico destas diferenças para a compreensão da empatia. Quanto a influência das variáveis sócio-demográficas sobre o grau de sensibilidade empática, os resultados são congruentes com o que era esperado (hipóteses d2, d5 e d6) e com o que vem sendo observado em alguns estudos empíricos acerca da influência da variável sexo (Adams, Summers & Christopherson, 1993; Ittyerah & Mahindra, 1990; Santilli & Hudson, 1992) e acerca da influência das variáveis idade e escolaridade (Adams, Summers & Christopherson, 1993; Gnepp & Chilamkurti, 1988; Ittyerah & Mahindra, 1990; Klemchuk, Bond & Howell, 1990; Selman, 1974). Mas, de qualquer forma, não se pode falar que as hipóteses d2, d5 e d6 foram confirmadas, porque se esperava a influência dessas variáveis sócio-demográficas não apenas em relação a uma ou outra dimensão das escalas utilizadas, mas em relação a todas as dimensões da escala. Quanto a relação encontrada entre desenvolvimento moral e empatia, julga-se congruente com o que foi encontrado na literatura pertinente (Camino, Camino & Leyens, 1996; Eisenberg-Berg & Mussen, 1978; Hogan & Dickstein, 1972; Sampaio, 2007) e ao que foi hipotetizado (c3). Contudo, é importante registrar que os valores das correlações são 173 baixos (menores que 0,30) e, neste sentido, passíveis de críticas; mas, por outro lado, conforme comenta Hemphill (2003), correlações acima de 0,30 na psicologia parecem ser mais uma exceção do que uma regra. 174 CAPÍTULO VI – ESTUDO 3: EDUCAÇÃO MORAL 175 6.1. Objetivo O objetivo deste terceiro estudo coincide com o objetivo principal da presente tese, que é verificar se existem diferenças entre os efeitos das técnicas de intervenção “racionaldiscursiva” (Blatt & Kohlberg, 1975) e “racional-afetiva”. 6.2. Hipóteses 1) o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-afetiva” evoluirá mais do que o grupo submetido à intervenção “racional-discursiva” nos estágios de desenvolvimento moral; 2) o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-afetiva” evoluirá mais do que o grupo submetido à intervenção “racional-discursiva” no grau de sensibilidade empática; 3) o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-discursiva” evoluirá mais do que o grupo de controle nos estágios de desenvolvimento moral; 4) o grupo de controle não apresentará evolução significativa nos estágios de desenvolvimento moral; 5) o grupo de controle não apresentará evolução significativa no grau de sensibilidade empática; 176 Para ilustrar e sintetizar as cinco hipóteses que foram elencadas tem-se a Figura 5. Figura 5: Hipóteses acerca dos efeitos das técnicas de intervenção moral As hipóteses 1 (o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-afetiva” evoluirá mais do que o grupo submetido à intervenção “racional-discursiva” nos estágios de desenvolvimento moral) e 2 (o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-afetiva” evoluirá mais do que o grupo submetido à intervenção “racional-discursiva” no grau de sensibilidade empática) baseiam-se na suposição de que a técnica de intervenção que mobiliza os aspectos afetivos relacionados à empatia e ao role-taking tem um potencial maior para promover avanços nos estágios de julgamento moral e no grau de empatia, do que uma técnica que segue apenas o modelo elaborado por Blatt e Kohlberg (1975). Isto porque, julgase, como Hoffman (2003), que a empatia funciona como um estimulador da elaboração e manifestação de princípios morais. As hipóteses 3 (o grupo submetido à técnica de intervenção “racional-discursiva” evoluirá mais do que o grupo de controle nos estágios de desenvolvimento moral) e 4 (o grupo de controle não apresentará evolução significativa nos estágios de desenvolvimento moral) fundamentam-se no que tem sido constatado em programas de educação moral no âmbito internacional (Berkowitz, 1985; Blatt & Kohlberg, 1975; Gibbs, Arnold, Ahlborn & 177 Chessman, 1984) e nacional (Biaggio, 1985; Dias, 1992; Lins & Camino, 1993; Rique & Camino, 1997; Rodrigues, 1976). A hipótese 5 (o grupo de controle não apresentará evolução significativa no grau de sensibilidade empática) baseia-se nas intervenções, voltadas para a promoção do desenvolvimento empático, realizadas por Day (2002), Tsai e Kaufman (2009), Falcone (1999) e Frare et al. (2005). 6.3. Método 6.3.1. Participantes Participaram 36 estudantes, selecionados da amostra de 206 estudantes pessoenses do Estudo 2. Estes foram distribuídos em três grupos, composto, cada um, por 12 participantes do segundo ano do ensino médio, com idades semelhantes e número igual de sujeitos por sexo e estágio de desenvolvimento moral (Tabela 9). É relevante registrar que para selecionar os estudantes e distribuí-los nos grupos foram consideradas as indicações de Arbuthnot e Faust (1981): 12 participantes por grupo, sendo o perfil de cada grupo semelhante no que tange ao número de sujeitos por estágio de moralidade; a inclusão de, pelo menos, três estágios morais em cada grupo; idades semelhantes e o mesmo número de sujeitos do sexo masculino e do sexo feminino. Também se considerou a média de desenvolvimento moral obtida em cada um dos Dilemas da Vida Real, a média de desenvolvimento moral obtida no DIT, bem como a média geral da EEG, a média geral do IRI e os índices obtidos em cada uma das sub-escalas do IRI e em cada componente da EEG. 178 Tabela 9 – Lista de sujeitos selecionados, por grupo de intervenção, com os seus G2 – “RACIONAL-AFETIVA” ET G3 – CONTROLE ET ET DESENVOLVIMENTO MORAL (Estágio/escore) SEXO IDADE EMPATIA (Média) SUJEITO G1 – “RACIONAL-DISCURSIVA” GRUPO respectivos resultados do pré-teste DIT Sadam J.Hélio EEG C1 C2 C3 C4 IRI CE TP AP 193 146 206 202 M M F F 16 14 15 15 3 (3,0) 3 (3,0) 3 (3,0) 3 (3,0) 1/2 (1,5) 1/2 (1,5) 1/2 (1,5) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 1/2 (1,5) 3,07 3,11 3,32 3,53 4,00 4,00 4,20 4,10 3,52 3,54 3,71 3,82 3,00 2,90 3,10 3,20 1,75 2,00 2,25 3,00 3,26 3,21 3,32 3,48 3,50 3,33 3,55 3,80 3,28 3,20 3,40 3,43 3,00 3,10 3,00 3,20 190 M 15 4 (4,0) 3 (3,0) 3/1 (2,0) 3,36 4,00 3,70 3,10 2,65 3,20 3,30 3,30 3,00 181 M 15 4 (4,0) 4/5/1 (3,3) 4 (4,0) 3,50 4,10 3,77 3,20 2,90 3,28 3,35 3,28 3,20 189 F 15 4 (4,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 3,55 4,40 3,81 3,30 2,70 3,55 3,85 3,45 3,35 204 F 15 4 (4,0) 4/1 (2,5) 4/1 (2,5) 3,80 3,30 2,90 3,61 4,00 3,43 3,40 M 15 P (5,5) 4/5/1 (3,3) 4 (4,0) 3,61 3,71 4,42 197 4,29 3,80 3,75 3,00 3,13 4,00 2,71 3,43 201 M 15 P (5,5) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 3,92 4,57 3,60 2,75 4,75 4,13 3,86 4,00 3,71 194 F 15 P (5,5) 5 (5,0) 5 (5,0) 3,89 4,43 4,40 3,00 3,75 3,80 3,86 3,71 4,14 196 F 15 P (5,5) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 3,72 4,57 4,80 2,25 3,25 3,87 4,43 4,00 3,43 --- -- -- 50,0 30,6 31,5 42,3 51,1 46,3 36,9 34,9 41,8 44,8 41,2 40,0 177 M 16 3 (3,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 3,28 4,10 3,50 3,00 2,50 3,40 3,45 3,25 3,50 172 M 15 3 (3,0) 1/2 (1,5) 1/2 (1,5) 3,10 4,00 3,50 2,90 2,00 3,20 3,30 3,20 3,10 183 F 14 3 (3,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 3,31 4,15 3,73 3,10 2,25 3,30 3,50 3,40 3,00 166 F 15 3 (3,0) 1/2 (1,5) 1/2 (1,5) 3,51 4,10 3,72 3,20 3,00 3,43 3,70 3,40 3,20 155 M 15 4 (4,0) 4/5/1 (3,3) 4 (4,0) 3,33 4,00 3,60 3,00 2,70 3,17 3,20 3,30 3,00 157 M 15 4 (4,0) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 3,53 4,20 3,80 3,20 2,90 3,30 3,45 3,28 3,20 176 F 15 4 (4,0) 4/1 (2,5) 3/1 (2,0) 3,53 4,30 3,80 3,30 2,70 3,50 3,85 3,40 3,35 174 F 15 4 (4,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 3,80 3,30 2,90 3,60 4,00 3,40 3,40 M 15 P (5,5) 4/5/1 (3,3) 4 (4,0) 3,63 3,65 4,52 171 4,86 3,00 3,00 3,75 3,07 2,86 3,86 2,57 161 M 15 P (5,5) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 3,12 4,43 3,80 3,00 3,25 3,26 3,71 2,57 3,50 160 F 15 P (5,5) 5 (5,0) 5 (5,0) 3,97 4,71 3,40 4,50 3,25 3,73 4,14 4,14 2,86 165 F 15 P (5,5) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 4,19 4,86 4,40 4,25 3,25 4,00 4,29 4,57 3,29 --- -- -- 50,0 30,6 31,5 42,2 52,2 44,1 39,8 34,5 40,3 43,5 41,8 38,0 136 M 16 3 (3,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 3,13 4,00 3,50 3,00 2,00 3,28 3,50 3,30 3,05 173 M 15 3 (3,0) 1/2 (1,5) 1/2 (1,5) 3,08 4,00 3,50 2,80 2,00 3,20 3,30 3,20 3,10 200 F 14 3 (3,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 3,28 4,00 3,50 3,10 2,50 3,30 3,50 3,40 3,00 206 F 15 3 (3,0) 1/2 (1,5) 1/2 (1,5) 3,63 4,50 3,80 3,20 3,00 3,44 3,70 3,43 3,20 145 M 15 4 (4,0) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 3,36 4,00 3,70 3,10 2,65 3,23 3,40 3,30 3,00 119 M 15 4 (4,0) 4/5/1 (3,3) 4 (4,0) 3,50 4,10 3,77 3,20 2,90 3,28 3,35 3,30 3,20 147 F 15 4 (4,0) 1/2 (1,5) 3/1 (2,0) 3,55 4,40 3,81 3,30 2,70 3,53 3,85 3,40 3,35 143 F 15 4 (4,0) 4/1 (2,5) 3/1 (2,0) 4,42 3,80 3,30 2,90 3,53 3,80 3,40 3,40 137 M 15 P (5,5) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 3,61 3,29 4,71 3,20 2,00 3,25 3,53 3,57 4,29 3,00 121 M 15 P (5,5) 4/5/1 (3,3) 4 (4,0) 3,83 4,71 3,60 4,00 3,00 3,60 3,14 3,57 3,57 117 F 15 P (5,5) 5 (5,0) 5 (5,0) 4,11 5,00 4,20 4,75 2,50 4,00 3,29 4,29 4,43 123 F 15 P (5,5) 3 (3,0) 4/1 (2,5) 3,63 4,00 5,00 3,25 2,25 4,60 5,00 4,14 4,57 --- -- -- 50,0 30,6 31,5 42,0 51,8 45,4 39,0 31,7 42,5 43,4 43,0 40,9 Nota: DIT = Defining Issues Test; Sadam = Dilema de Sadam Hussein; J. Hélio = Dilema de João Hélio; EEG = Escala de Empatia focada em Grupos; C1 = Componente 1 da EEG – Empatia com grupos minoritários; C2 = Componente 2 da EEG – Empatia com animais; C3 = Componente 3 da EEG – Empatia com trabalhadores; C4 = Componente 4 da EEG – Empatia com “apenados”. IRI = Interpersonal Reactivity Index; CE = Sub-escala do IRI - Consideração Empática; TP = Sub-escala do IRI - Tomada de Perspectiva; AP = Sub-escala do IRI – Angústia Pessoal; ET= Escore Total (somatório dos (as) escores/médias dos participantes, em cada instrumento, por grupo). 179 6.3.2. Delineamento Utilizou-se um delineamento quase-experimental com três grupos, sendo dois experimentais e um de controle, submetidos à pré e pós-testes. Esses grupos foram expostos, durante um semestre letivo, com sessões semanais, a condições experimentais diferenciadas, a saber: Condição 1 – Técnica “racional-discursiva” (Blatt & Kohlberg, 1975) A técnica proposta por Moshe Blatt, sob a orientação de L. Kohlberg, consiste, basicamente, em formar grupos de discussão com indivíduos em diferentes estágios de julgamento moral (medidos previamente por um instrumento de avaliação do julgamento moral) e apresentar nos grupos dilemas morais hipotéticos para que os mesmos sejam debatidos, sob a coordenação de um educador (facilitador). Blatt preconizou que a discussão de dilemas entre indivíduos de estágios de raciocínio moral distintos provocaria conflito cognitivo, o qual impulsionaria a passagem de um estágio para outro mais amadurecido. De forma sistemática, a técnica de Blatt e Kohlberg (1975) consiste, de acordo com Arbuthnot e Faust (1981), na realização das seguintes etapas: 1. Formação dos grupos – o objetivo desta primeira etapa é formar grupos com um tamanho adequado para a discussão, ou seja, entre 8 e 12 indivíduos, com idades semelhantes e com representantes dos três níveis consecutivos de raciocínio moral. 2. Seleção e preparação dos dilemas – a finalidade desta etapa é selecionar dilemas que permitam conflitos, estimulem a discussão e possibilitem ao educador apresentar contra argumentos de distintos estágios. 3. Criação do Set apropriado – o objetivo desta fase é preparar um bom clima para a discussão dos dilemas morais. Para tanto, Arbuthnot e Faust (1981) aconselham que, antes de começar a intervenção, se explique aos participantes o que será realizado, o papel da educação moral e o do coordenador, e as diretrizes para participação com ênfase na liberdade de opinião. 180 4. Início da discussão – esta etapa busca facilitar o início do debate entre os indivíduos de estágio de raciocínio moral inferior com os de estágio imediatamente superior. Para isto, deve-se apresentar o dilema ao grupo e se assegurar de sua absoluta compreensão. Neste caso, pode ser necessário resumir as idéias principais, fomentar as perguntas e oferecer qualquer esclarecimento ou informação adicional caso o grupo solicite. Nesta fase, é sempre importante ressaltar aos estudantes que não há respostas corretas para o dilema e que todas as opiniões, ainda que divergentes, são importantes e merecem atenção e espaço na discussão; além disso, é importante salientar que todos devem opinar sobre o dilema. Depois de dados todos os informes e de assegurada a compreensão do dilema por todo o grupo, deve-se solicitar que os estudantes se dirijam a pequenos grupos e expressem sua posição inicial, justificando-a. Para que os estudantes não se percam nas discussões e mantenham o foco na tarefa, deve-se solicitar a entrega de material por escrito sobre a discussão realizada no grupo. Conforme lista Souza (2008), existem várias possibilidades para se obter o material discutido: um dos pedidos possíveis é a redação da solução acordada pelo grupo para o dilema; outra possibilidade é solicitar aos alunos que respondam as questões que seguem ao dilema assumindo novos papéis ou sendo analisados sob outra perspectiva; ainda se pode requisitar que elaborem uma resposta a favor ou contra a decisão do protagonista do dilema, justificando ambas as decisões; finalmente, no caso de dilemas que não oferecem uma decisão tomada pelo personagem principal, pode-se pedir aos alunos que elaborem essas duas possibilidades. Uma vez que cada grupo apresentou suas conclusões, deve-se estruturar o debate inicial, começando pelas opiniões de estágio mais baixo de maturidade moral em confronto com o estágio imediatamente superior. 5. Guiando a discussão – a finalidade desta fase é dar a oportunidade à maior quantidade de indivíduos possível para vivenciar o processo de desequilíbrio, fazendo-os perceber a inadequação do seu tipo de raciocínio em detrimento de um imediatamente superior. Para 181 tanto, a discussão deve começar pelas respostas guiadas pelo raciocínio dos estágios mais baixos do grupo, e os integrantes dos estágios mais maduros deverão ser encorajados a opinar e a debater as diferenças de opinião; se os sujeitos de estágio +1 conseguirem criar o desequilíbrio nos de estágio inferior, não será necessário que o facilitador ofereça sua ajuda; caso os argumentos não sejam convincentes, o facilitador deve clarificá-los e animar a apresentação de argumentos mais efetivos e, se preciso, criar contra argumentos dentro do mesmo estágio. Desta forma, deve-se proceder passo a passo, fazendo os participantes ascenderem por meio dos estágios até chegar no mais alto do grupo. 6. Finalizando a discussão – a discussão deve ser concluída uma vez que o grupo tenha passo a passo ascendido por meio dos estágios de raciocínio moral. É relevante mencionar que, nessa condição experimental, os dilemas morais são apresentados tanto na forma escrita (modo convencional) como por meio de cenas de filmes e vídeos do youtube (Apêndice VII). Condição 2: Técnica “racional-afetiva” (com ênfase na Empatia) Na Condição 2, além de ser utilizada a técnica de Blatt e Kohlberg (1975), explicitada acima, empregam-se algumas técnicas do psicodrama (Apêndice VIII), com pequenas adaptações que visam a estimulação do desenvolvimento da empatia e da tomada de perspectiva dos participantes. Nessa condição experimental os participantes, além de buscarem soluções racionais para os dilemas morais, interpretam os personagens das estorietas, realizam exercícios imaginativos, por meio dos quais pensam e tentam sentir o que eles acham que cada personagem sente e pensa, assim como, tentam lembrar de situações de suas próprias vidas nas quais eles tenham tido sentimentos semelhantes aos que eles imaginam que os personagens tenham vivenciado; no final desses exercícios imaginativos é promovido um debate no qual eles podem falar sobre suas experiências durante a atividade. É 182 relevante mencionar que esses exercícios são organizados de maneira que todos os participantes dos grupos interpretem papéis em algum momento do programa. De forma semelhante ao que acontece na Condição experimental 1 (“racionaldiscursiva”), na Condição experimental 2 (“racional-afetiva”) os dilemas morais criados são apresentados tanto na forma escrita (modo convencional) como por meio de cenas de filmes e vídeos do youtube. A diferença entre a discussão de uma condição experimental e de outra reside nas questões norteadoras que sucedem os dilemas: enquanto na Condição 1 as questões estão voltadas exclusivamente para o raciocínio utilizado na resolução dos dilemas (Como resolver este dilema? Por que?), na Condição 2 as questões estão direcionadas tanto para a solução dos dilemas (Como resolver este dilema? Por que?) como para o exercício imaginativo de se colocar no lugar do outro (como foi se colocar no lugar de...? O que você sentiu?). Condição 3 – Grupo de controle O grupo de controle é formado por 12 participantes, que não participam de nenhum dos dois programas de intervenção propostos. Este grupo de alunos serve apenas como parâmetro de comparação e, neste sentido, é avaliado, em relação a moral e a empatia, da mesma forma que os outros dois grupos. Para sintetizar as propostas de intervenção, têm-se no Quadro 6 as idéias subjacentes a cada condição experimental. 183 Quadro 6. Idéias subjacentes às condições experimentais: autores, foco, técnica, recursos (meios), questões norteadoras e participantes TÉCNICA “RACIONALDISCURSIVA” AUTORES FOCO - Kohlberg; - Cognição: raciocínio moral; - Cognição: raciocínio moral - Afeto: empatia TÉCNICA QUESTÕES NORTEADORAS - Kohlberg - Hoffman - Discussão de dilemas morais; RECURSOS (MEIOS) TÉCNICA “RACIONALAFETIVA” CONTROLE -------------- -------------- - Discussão de dilemas morais; - Role-playing e Dinâmica de Grupo (psicodrama); - Dilemas morais (hipotéticos e reais) apresentados de forma escrita e por meio de recursos audiovisuais (vídeos do youtube e cenas de filmes); - Dilemas morais (hipotéticos e reais) apresentados de forma escrita e por meio de recursos audiovisuais (vídeos do youtube e cenas de filmes); - Como resolver este dilema? Por que? - Como resolver este dilema? Por que? - Como foi se colocar no lugar de...? O que você sentiu? -------------- -------------- -------------- 6.3.3. Instrumentos Para investigar em que estágio de desenvolvimento do raciocínio moral os participantes (antes e depois da intervenção) se encontravam, foram utilizados o DIT e os Dilemas da Vida Real. E, para investigar o grau de sensibilidade empática dos participantes (antes e depois da intervenção), foram utilizadas a Interpersonal Reactivity Index e a Escala de Empatia focada em Grupos. Além desses instrumentos, os participantes dos grupos experimentais se submeteram a uma entrevista sobre o efeito da intervenção segundo suas opiniões, composta pelas seguintes questões: 1) Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança: a) na sua forma de pensar questões morais? Se sim, que mudanças foram essas? b) na sua forma de sentir? Se sim, que mudanças foram essas? c) na sua forma de se comportar? Se sim, que mudanças foram essas? 184 É importante registrar, também, que no pós-teste os participantes responderam a versão com 20 itens da Escala de Desejabilidade Social de Marlowe-Crowne (Gouveia, Guerra, Sousa, Santos & Costa, 2009), tendo em vista mensurar atos que possam indicar a necessidade de aprovação por parte dos participantes. Esta escala é originalmente formada por 33 itens, porém, neste estudo, foi utilizada a versão brasileira abreviada, composta por 20 itens unifatoriais. Para responder ao questionário o participante deveria marcar V (verdadeiro) ou F (falso) em cada ítem, de acordo com seu comportamento. Quanto maior a pontuação obtida, maior a tendência à desejabilidade social. 6.3.4. Procedimento O pré-teste, o pós-teste e a coordenação das discussões morais, nos dois grupos experimentais, ficaram sob a responsabilidade da autora desta tese, com o auxílio de um monitor (que tinha, nos grupos de discussão, a tarefa de registrar tudo o que acontecia). As discussões ocorreram em encontros semanais de 50 minutos, ao longo de um semestre letivo (Apêndice V). Após a seleção dos alunos, foi realizado um encontro com os 24 que iriam participar dos grupos experimentais. Neste encontro, os alunos foram motivados a participar do projeto e foi esclarecido que o objetivo das reuniões seria discutir questões morais. Neste primeiro contato também se expôs a quantidade de encontros a serem realizados (20), o tempo de duração das “aulas” (50 minutos) e os dias que deveriam acontecer as aulas (sextas-feiras); assim como, discutiu-se a respeito da importância de não faltar as reuniões, da liberdade de opinião, do respeito a opinião do outro, do papel do coordenador e do papel dos participantes. Também, neste primeiro contato, realizou-se uma dinâmica de apresentação. Os alunos, após serem divididos em dois grandes grupos de 12 (que corresponde as duas condições experimentais que eles iriam ser submetidos), foram convidados a formarem pares 185 para conversar durante 5 minutos. Para facilitar o diálogo (e para servir como dado adicional para pesquisadora), após 5 minutos de conversa informal, foi dado um roteiro de “entrevista” para os participantes, que foram convidados a “entrevistarem” seus pares. Neste roteiro, estavam explicitadas as seguintes questões: nome, mora com quem, como é na escola (bom ou mau aluno), o que mais gosta de fazer (hobby) e o que mais gosta de assistir na TV. Em seguida, com os dados colhidos, mediante conversa informal e a partir do roteiro de entrevista, cada participante foi convidado a apresentar o (a) colega ao restante do grupo. Ademais, neste primeiro encontro foram escolhidos os temas que iriam ser debatidos na intervenção. A escolha dos temas se deu a partir de uma lista que continha 28 temas. É importante esclarecer que essa lista continha temas que foram sugeridos tanto pela coordenadora do grupo quanto pelos próprios alunos. Com a lista em mãos, os alunos foram solicitados a ler todos os temas, e, em seguida, a escolher oito deles que gostariam de discutir, tendo a informação de que seriam escolhidos apenas os temas mais votados. Os temas selecionados foram: brigas, delinqüência, roubo, drogas, aborto, ecologia, violência e adolescência. A este respeito, é relevante mencionar que: (1) os dilemas atrelados a esses temas encontram-se no Apêndice VI; (2) os dilemas foram apresentados aos participantes, tanto por meio de textos (Apêndice VI) como por intermédio de filmes e vídeos do Youtube (Apêndice VII). Lembrando que a condução dos debates deu-se de acordo com a proposta de intervenção: na Condição 1 (Técnica “racional-discursiva”), os debates dos dilemas centraram-se no aspecto cognitivo e seguiram a técnica de Blatt e Kohlberg (1975), já descrita no tópico denominado “delineamento”; e na Condição 2 (Técnica “racional-afetiva”), a discussão dos dilemas pautou-se pela proposta já apresentada no tópico denominado “delineamento”, em que se acrescenta à técnica de Blatt e Kohlberg (1975) exercícios imaginativos fundamentados em técnicas de psicodrama (Apêndice VIII). Para um melhor 186 detalhamento dos procedimentos adotados nas duas propostas de intervenção, deve-se consultar o Diário de Campo da autora desta tese, que se encontra no Apêndice IX. Em relação ao pós-teste, foram realizados os mesmos procedimentos adotados na aplicação do pré-teste, ou seja, os participantes responderam individualmente aos instrumentos, em ambiente coletivo de sala de aula. A aplicação durou cerca de 55 minutos e foi realizada por pesquisadores previamente treinados. Os questionários foram apresentados de forma randômica (para evitar o efeito de ordem). Por fim, é importante ressaltar que todos os procedimentos adotados neste estudo seguiram as orientações previstas na Resolução 196/96 do CNS e na Resolução 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia. 6.3.5. Análise dos dados Para comparar as médias de desenvolvimento moral e as médias de desenvolvimento empático dos participantes em função da técnica de intervenção utilizada e da variável sexo realizou-se uma Profile Analysis (análise multivariada para medidas repetidas). Note-se que mesmo não fazendo parte do objetivo desse capítulo analisar o desenvolvimento moral e o desenvolvimento empático em função das variáveis sócio-demográficas, incluiu-se na Profile Analysis a variável sexo, tendo em vista a possível influência dessa variável sobre o desenvolvimento empático, observada nos Estudos 1 e 2 desta tese. Quanto às variáveis idade, escolaridade e religião, não foram consideradas em função da homogeneidade delas na amostra. Para a comparação das médias antes e depois relativas ao desenvolvimento moral e ao desenvolvimento empático, utilizou-se um Teste t para amostras emparelhadas. Também foram calculadas outras estatísticas descritivas (médias, dispersão, freqüências, porcentagens). 187 Para testar a existência de correlação entre a desejabilidade social e o desenvolvimento moral e entre a desejabilidade social e o desenvolvimento empático, foram calculadas correlações de Pearson. Em relação à Escala de Desejabilidade Social de MarlowCrowne (20 ítens), é importante lembrar que alguns itens tiveram suas pontuações invertidas. Para analisar as entrevistas realizadas após a intervenção foram efetuadas análises de conteúdo semântico (Bardin, 1977), com a participação de quatro juízes, que trabalharam em conjunto, com um consenso de, no mínimo, 75%. 6.4. Resultados 6.4.1. Desenvolvimento moral Considerando os 36 participantes dos três grupos constituintes do estudo quaseexperimental, realizou-se uma Profile Analysis para verificar se as médias dos participantes diferiam em relação às medidas de desenvolvimento moral e se a técnica de intervenção e o sexo influenciavam esse desenvolvimento. Nessa análise, considerou-se um fator intra-sujeito de medidas repetidas, formado pelos escores dos participantes aos dois instrumentos de desenvolvimento moral (DIT e Dilemas da Vida Real), e duas variáveis independentes (técnica de intervenção e sexo). Os resultados indicaram que os participantes diferiram em relação as suas pontuações nas medidas de desenvolvimento moral [Lambda de Wilks=0,34, F(2,36) = 27,68; p < 0,05] – o teste Post Hoc de Bonferroni revelou diferença significativa (p<0,01) em relação à média do DIT (M=4,54) e as médias dos dois Dilemas da Vida Real [Sadam Hussein (M=3,35) e João Hélio (M=3,56)], que, por sua vez, não se diferenciaram entre si. Constatou-se ainda que a técnica de intervenção influenciou o desenvolvimento moral [Lambda de Wilks=0,84, F(4,36)=28,32, p < 0,05] – especificamente, de acordo com o 188 teste Post Hoc de Bonferroni, verificou-se que: (1) em relação ao DIT, a média do grupo submetido à técnica “racional-afetiva” (M=5,17; DP=0,81) se diferenciou significativamente da média do grupo de controle (M=4,00; DP=0,83); e, a média do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” (M=4,46; DP=0,99) não se diferenciou da média do grupo submetido à técnica “racional-afetiva”, nem da média do grupo de controle; (2) em relação aos Dilemas da Vida Real, o grupo de controle obteve a menor média de desenvolvimento moral [tanto no Caso Sadam Hussein (M=2,55; DP=1,10), quanto no Caso João Hélio (M=2,63; DP=0,96)] e se diferenciou dos dois grupos experimentais, os quais não se diferenciaram entre si [tanto no Caso Sadam Hussein (técnica “racional-afetiva”: M=3,88; DP=0,99; técnica “racionaldiscursiva”: M=3,63; DP= 0,84), quanto no Caso João Hélio (técnica “racional-afetiva”: M=4,33; DP=0,96; técnica “racional-discursiva”: M=3,71; DP=1,08)]. Por fim, os resultados indicaram que não houve efeitos significativos do sexo ou de sua interação com a técnica de intervenção em relação ao desenvolvimento moral. Como um dos principais interesses desta tese foi comparar a eficácia das técnicas de intervenção em relação ao avanço do desenvolvimento moral, considera-se pertinente fazer uma análise mais minuciosa dessa variável. Em relação ao DIT, com o objetivo de verificar se os grupos, de forma isolada, avançaram em relação aos resultados do pré-teste, realizou-se, para cada condição experimental, Teste t para amostras emparelhadas. Os resultados demonstraram que, apenas em relação ao grupo submetido à técnica “racional-afetiva”, houve uma diferença significativa [t(11) = -3,13; p<0,01] entre a média do pré-teste (M=4,17; DP=1,07) e a do pós-teste (M=5,17; DP=0,81). Com o objetivo de compreender melhor como os participantes se distribuíram entre os estágios, considerando cada técnica de intervenção, tem-se, na Tabela 10, as freqüências e as porcentagens das respostas ao DIT em função do grupo de intervenção. Note-se que os 189 participantes do grupo submetido à técnica “racional-afetiva” deram respostas sobretudo do Estágio P; os participantes do grupo submetido a técnica “racional-discursiva” deram respostas sobretudo dos estágios 4 e P; e os participantes do grupo de controle deram respostas sobretudo dos estágio 3 e 4. Tabela 10 – Distribuição dos respondentes por estágios de desenvolvimento moral, obtidos no DIT (pós-teste), em função do grupo de intervenção ESTÁGIOS GRUPOS 3 4 P F % F % F % “Racional-afetiva” 1 8,3 1 8,3 10 83,3 “Racional-discursiva” 2 16,7 5 41,7 5 41,7 Controle 3 25,0 7 58,3 2 16,7 Em relação ao Dilema de Sadam Hussein, os resultados de Teste t para amostras emparelhadas, considerando cada condição experimental, revelaram diferenças significativas apenas em relação aos dois grupos experimentais: no grupo submetido à técnica “racionalafetiva”, a média do pós-teste (M=3,88; DP=0,97) foi significativamente [t(11) = -5,40; p < 0,001] superior a do pré-teste (M=2,55, DP=1,32), o que também aconteceu no grupo submetido à técnica “racional-discursiva” [t(11) = -3,76; p < 0,005; Pós-teste: M=3,63, DP=0,86, Pré-teste: M=2,55, DP=1,32]. De forma semelhante, também se constatou no Caso João Hélio diferenças significativas [t(11) = -6,29; p < 0,001] entre a média do pré-teste (M=2,63; DP=1,02) e a do pós-teste (M=4,33; DP=0,80) no grupo submetido à técnica “racional-afetiva” e diferenças significativas [t(11) = -3,76; p < 0,005] entre a média do préteste (M=2,63; DP=1,02) e a do pós-teste (M=3,71; DP=0,86) no grupo submetido à técnica de intervenção “racional-discursiva”. 190 Para uma constatação, em uma instância descritiva, da distribuição dos participantes entre os estágios obtidos nos Dilemas da Vida Real, na Tabela 11 encontram-se as freqüências e as porcentagens de adesão as categorias de respostas elencadas no referido dilema, considerando os grupos de intervenção: note-se que os participantes do grupo submetido à técnica “racional-afetiva” deram respostas sobretudo dos Estágio 3 (Outra punição) e 5 (Direito a vida); os participantes do grupo submetido à técnica “racionaldiscursiva” deram respostas sobretudo dos estágios 3 (Outra punição) e 4/5/1 (Proteção à sociedade); e os participantes do grupo de controle deram respostas sobretudo dos estágios 1/2 (Lei de Talião) e 3 (Outra punição). E, na Tabela 12 encontram-se os resultados da adesão dos participantes às diferentes categorias de respostas elencadas no Dilema de João Hélio, em função do grupo de intervenção: note-se que os participantes do grupo submetido à técnica “racional-afetiva” deram respostas sobretudo do estágio 5 (Visão social do crime); os participantes do grupo submetido a técnica “racional-discursiva” deram respostas sobretudo do estágio 4 (Visão preventiva da punição); e os participantes do grupo de controle deram respostas sobretudo do estágio 4/1 (Visão negativa da lei). Tabela 11 – Distribuição dos respondentes por estágios de desenvolvimento moral, obtidos no Dilema de Sadam Hussein (pós-teste), em função do grupo de intervenção CATEGORIAS GRUPOS Lei de Talião Justiça Outra Proteção a Divina Punição sociedade (4/1) (3) (4/5/1) (1/2) Direito a Vida (5) F % F % F % F % F % “Racional-afetiva” 0 0,0 0 0,0 5 41,7 2 16,7 5 41,7 “Racional-discursiva” 0 0,0 0 0,0 4 33,3 5 41,7 3 25,0 Controle 5 41,7 1 8,3 3 25,0 2 16,7 1 8,3 191 Tabela 12 – Distribuição dos respondentes por estágios de desenvolvimento moral, obtidos no Dilema de João Hélio (pós-teste), em função do grupo de intervenção CATEGORIAS GRUPOS Tem que pagar (1/2) Visão Punição relac. Visão negativa preventiva da da lei a consciência punição (3/1) (4/1) (4) Visão social do crime (5) “Racional-afetiva” F 0 % 0,0 F 0 % 0,0 F 2 % 16,7 F 3 % 25,0 F 7 % 58,3 “Racional-discursiva” 0 0,0 1 8,3 3 25,0 5 41,7 3 25,0 Controle 1 8,3 3 25,0 6 50,0 1 8,3 1 8,3 6.4.2. Empatia Para investigar se as médias dos respondentes diferiam em relação às medidas de desenvolvimento empático e se o tipo de intervenção e o sexo afetavam esse desenvolvimento realizou-se uma Profile Analysis, com um fator intra-sujeito de medidas repetidas (formado pelos escores dos participantes aos dois instrumentos de desenvolvimento empático – EEG e IRI) e com duas variáveis independentes (técnica de intervenção e sexo). Foi observado que os participantes diferiram em termos das pontuações nas sub-escalas [Lambda de Wilks=0,05, F(6,36) = 73,36; p<0,001].Constatou-se ainda que a técnica de intervenção influenciou o desenvolvimento empático [Lambda de Wilks=0,24, F(12,36) = 4,41, p<0,001]. Especificamente, a partir do Post Hoc de Bonferroni, observou-se que: (1) em relação ao componente Empatia com grupos minoritários, o grupo submetido à técnica “racionalafetiva” obteve a maior média (M=4,68; DP=0,24) e se diferenciou tanto do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” (M=4,32; DP=0,32), quanto do grupo de controle (M=4,29; DP=0,36), porém esses últimos não se diferenciaram entre si; (2) no que se refere, de forma mais específica, ao componente Empatia com animais, o grupo submetido à técnica “racionalafetiva” (M=4,23; DP=0,39) se diferenciou do grupo de controle (M=3,78; DP=0,31), mas não se diferenciou do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” (M=4,02; DP=0,31), o 192 qual não se diferenciou do grupo de controle; (3) no que tange ao componente Empatia com trabalhadores, o grupo submetido à técnica “racional-afetiva” obteve a maior média (M=4,20; DP=0,31), diferenciando-se significativamente do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” (M=3,70; DP=0,29), que, por sua vez, obteve média mais alta do que o grupo de controle (M=3,23; DP=0,64); (4) em relação ao componente Empatia com “apenados”, o grupo submetido à técnica “racional-afetiva” (M=3,77; DP=0,46) obteve uma média mais alta do que a do grupo de controle (M=2,59; DP=0,50), mas não se diferenciou da média do grupo submetido a técnica “racional-discursiva” (M=3,22; DP=0,50), o qual não se diferenciou do grupo de controle; (5) em relação a sub-escala Consideração Empática, o grupo submetido a técnica “racional-afetiva” obteve a maior média (M=4,32; DP=0,33) e se diferenciou tanto do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” (M=3,91; DP=0,34) quanto do grupo de controle (M=3,58; DP=0,48), esses últimos não se diferenciaram entre si; (6) no que se refere a sub-escala Tomada de Perspectiva, o grupo submetido a técnica “racional-afetiva” (M=4,15; DP=0,47) se diferenciou do grupo de controle (M=3,63; DP=0,49), mas não se diferenciou do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” (M=3,94; DP=0,47), o qual não se diferenciou do grupo de controle; (7) em relação a subescala Angústia pessoal não se observou diferenças entre os grupos de intervenção [“racionalafetiva” (M=3,31;DP=0,27); “racional-discursiva” (M=3,40; DP=0,32); controle (M=3,42; DP=0,47)]. Ademais, não foram verificados efeitos significativos do sexo ou de sua interação com a técnica de intervenção em relação ao desenvolvimento empático. Com o objetivo de comparar as respostas dos participantes em relação à EEG no pré e no pós-testes foram realizados Testes t para amostras emparelhadas para cada condição experimental. Os resultados demonstraram que houve diferenças significativas entre as médias do pré-teste e do pós-teste no grupo submetido à técnica “racional-afetiva” e no grupo submetido à técnica “racional-discursiva”, mas não houve diferenças significativas no grupo 193 de controle. Note-se, na Tabela 13, que apenas em relação ao componente Empatia com grupos minoritários no que se refere ao grupo submetido à técnica “racional-discursiva” não houve diferença significativa. Tabela 13 – Comparação de médias obtidas, pelos grupos experimentais, no pré e no TÉCNICA “RACIONALAFETIVA” pós-testes em relação aos componentes da EEG COMPONENTE TESTES N Média Correlação Estatística P Grupos Pré-teste 12 4,35 0,71 t = -5,09 0,000 minoritários Pós-teste 12 4,68 Pré-teste 12 3,67 Pós-teste 12 4,23 Pré-teste 12 3,24 Pós-teste 12 4,20 Pré-teste 12 2,87 Pós-teste 12 3,77 Pré-teste 12 4,26 Pós-teste 12 4,32 Pré-teste 12 3,85 Pós-teste 12 4,02 Pré-teste 12 3,08 Pós-teste 12 3,70 Pré-teste 12 2,93 Pós-teste 12 3,22 Animais Trabalhador Apenados Grupos TÉCNICA “RACIONALDISCURSIVA” Minoritários Animais Trabalhador Apenados gl = 11 0,63 t = -6,08 0,000 gl = 11 0,83 t = -8,03 0,000 gl = 11 0,84 t = -11,64 0,000 gl = 11 0,93 t = -1,47 n.s. gl = 11 0,89 t = -3,25 0,008 gl = 11 0,00 t = -4,62 0,001 gl = 11 0,98 t = -7,34 0,000 gl = 11 Também se realizou Testes t para amostras emparelhadas para cada condição experimental, com o objetivo de comparar as respostas dos participantes ao IRI no pré e no pós-testes. Os resultados indicaram que houve diferenças significativas entre as médias do pré-teste e do pós-teste, tanto no grupo submetido à técnica “racional-afetiva” quanto no 194 grupo submetido à técnica “racional-discursiva”, mas não houve diferenças significativas no grupo de controle. Note-se, na Tabela 14, que na comparação das medidas antes e depois não houve diferença significativa apenas em relação à sub-escala Angústia Pessoal no que se refere ao grupo submetido à técnica “racional-discursiva”. Tabela 14 – Comparação de médias obtidas, pelos grupos experimentais, no pré e no TÉCNICA “RACIONALDISCURSIVA” TÉCNICA “RACIONALAFETIVA” pós-testes em relação às sub-escalas do IRI COMPONENTES TESTES N Média Correlação Estatística P Consideração Pré-teste 12 3,62 0,80 t = -9,87 0,000 Empática Pós-teste 12 4,32 Tomada de Pré-teste 12 3,48 Perspectiva Pós-teste 12 4,15 Pré-teste 12 3,16 Pós-teste 12 3,31 Consideração Pré-teste 12 3,74 Empática Pós-teste 12 3,91 Tomada de Pré-teste 12 3,43 Perspectiva Pós-teste 12 3,94 Pré-teste 12 3,33 Pós-teste 12 3,40 Angústia Pessoal Angústia Pessoal gl = 11 0,92 t = -12,15 0,000 gl = 11 0,83 t = -3,20 0,008 gl = 11 0,93 t = -15,01 0,000 gl = 11 0,77 t = -5,87 0,000 gl = 11 0,89 t = -1,56 n.s. gl = 11 6.4.3. Desejabilidade social Para testar a existência de correlação entre a desejabilidade social e o desenvolvimento moral e entre a desejabilidade social e o desenvolvimento empático, utilizou-se a correlação de Pearson. Os resultados indicaram que do conjunto de instrumentos testados, apenas houve correlação significativa (negativa) entre o construto desejabilidade social e o instrumento denominado Dilemas da Vida Real [Caso Sadam Hussein (r=-0,45; p<0,01); Caso João (r=195 0,35; p<0,05)] e entre o construto desejabilidade social e componente Tomada de perspectiva do outro (r=-0,40; p<0,05) do IRI. Isto significa dizer que os adolescentes que apresentaram maior pontuação em desejabilidade social, isto é, aqueles que procuram ser mais agradáveis, politicamente corretos ou socialmente aceitos, apresentaram menores estágios de desenvolvimento moral (verificados por intermédio dos Dilemas da Vida Real) e menores médias de tomada de perspectiva do outro. É relevante acrescentar que resultados de uma ANOVA revelaram que não houve diferença significativa entre as médias obtidas na Escala de Desejabilidade Social de MarlowCrowne, considerando a técnica de intervenção utilizada (F(2, 33) = 0,23; n.s.): controle (M=11,00; DP=1,81), técnica “racional-discursiva” (M=11,33; DP =1,72) e técnica “racionalafetiva” (M =11,50; DP =1,97). 6.4.4. Efeito da intervenção segundo a opinião dos participantes A seguir serão apresentados os resultados das entrevistas realizadas com os participantes dos dois grupos experimentais acerca das suas opiniões em relação ao efeito da intervenção em suas vidas. Esses resultados foram organizados em três eixos que versavam respectivamente sobre o pensar, o sentir e o se comportar em relação a questões morais. a) Pensar questões morais Todos os participantes do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” (TRD) afirmaram ter percebido mudanças na sua forma de pensar questões morais, o que também aconteceu no grupo submetido à técnica “racional-afetiva” (TRA), e, quando questionados sobre que mudanças seriam essas, as respostas dos participantes, submetidos tanto a TRD, quanto a TRA, se distribuíram de forma semelhante entre as diferentes categorias, com 196 exceção da última categoria, denominada “Penso como o outro”, que não apareceu em relação a TRD (Quadro 7). Quadro 7. Categorias, exemplos e freqüências de respostas a questão “Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança na sua forma de pensar questões morais?” Categorias Exemplos de Respostas TRD TRA 5 5 4 3 3 2 Eu agora tenho uma frase comigo: “E se fosse eu no lugar dele” (TRA) 0 2 ----------------------------------------------------------- 12 12 Eu penso diferente sobre vários assuntos. Tipo sobre aborto. (TRD) Mudei de opinião Eu mudei muitas opiniões que eu tinha, tá ligado? Os presos... eu tenho é pena de alguns deles, antes eu tinha é ódio de todos. (TRA) Agora, tudo o que escuto é um dilema para mim. (TRD) Tudo é um dilema Vejo um dilema em tudo. (TRA) Debato os Dilemas Penso outro Total como o Agora tenho argumentos para discutir com os meus amigos. Pareço mais um advogado. Me desenvolvi bastante aqui. (TRD) Quando passa alguma coisa na TV, já levanta a discussão em casa. Mas, o povo lá de casa é cego como eu era. (TRA) Eu agora fico pensando como o outro pensa. (TRA) b) Sentir questões morais A questão “Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança na sua forma de sentir questões morais? (...)” parece que, da forma que foi elaborada, não foi muito bem compreendida pelos participantes, sobretudo por aqueles do grupo submetido à TRD: 6 participantes do grupo submetido à TRD e 2 do grupo submetido à TRA “fugiram da pergunta” (o que foi interpretado como sendo fruto da incompreensão da pergunta). Note-se também que a categoria denominada “Sinto como o outro” representou apenas as respostas dos participantes do grupo submetido à TRA (Quadro 8). 197 Quadro 8. Categorias, exemplos e freqüências de respostas à questão “Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança na sua forma de sentir questões morais?” Categorias Exemplos de Respostas TRD TRA 5 6 6 2 0 4 11 12 Eu estou mais sensível as coisas que vejo na TV, os problemas dos outros, os filmes que vejo, sempre analiso o conflito do personagem. (TRD) Mais sensível Fugiu da pergunta Talvez eu esteja mais sensível. Vejo as pessoas sofrendo e isto me toca. Até um menino pedindo esmola, mas fico no conflito se ajudo ou não. Tudo agora é conflito. É que tem o lado bom e o ruim de ajudar. (TRA) Eu agora penso diferente. Vivo em conflito, como eu já disse na outra questão. (TRD) Eu sei que mudei. Até nas aulas estou mais quieto. To agindo diferente. (TRA) Agora eu tento sentir o que o outro está sentindo. (TRA) Sinto como o outro Total Num tem aquela frase que sempre diz depois das dinâmicas: “como foi se colocar no lugar de...” Aí é assim... to brigando com minha mãe... aí vem a voz e eu paro, porque eu sinto o que ela sente. Não sei explicar. (TRA) -------------------------- c) Comportamentos morais Na questão relacionada à mudança de comportamento, quatro participantes do grupo submetido à TRD e três do grupo submetido à TRA afirmaram não ter mudado seus comportamentos. Aqueles que disseram que mudaram, tiveram suas respostas distribuídas em duas categorias: “Mais comportado” e “Mais altruísta” (Quadro 9). 198 Quadro 9. Categorias, exemplos e freqüências de respostas à questão “Depois que você entrou no projeto de intervenção, você consegue perceber alguma mudança na sua forma de se comportar?” Categorias Mais comportado Mais altruísta Total Exemplos de Respostas Eu estou mais comportado na escola, em casa também. (TRD) Eu estou mais quieto. O legal daqui é que eu posso falar. (TRA) Estou mais preocupado com os problemas dos outros e tento fazer alguma coisa pelas pessoas mais pobres. (TRD) Estou tentando ajudar mais as pessoas. Dei a idéia ao Pastor para arrecadarmos alimentos. (TRA) ----------------------------------------------------------- TRD TRA 3 3 5 6 8 9 6.4.5. Diário de Campo Nesta seção serão realizados alguns comentários acerca do Diário de Campo da autora desta tese, que se encontra no Apêndice IX. Inicialmente, é importante esclarecer que as anotações do Diário foram realizadas no mesmo dia dos encontros, tendo como ferramenta um documento do Word de um note-book, que foi utilizado como um lugar de registro dos principais acontecimentos, percepções e sentimentos da pesquisadora em relação a cada dia de intervenção. Infelizmente, em função da não gravação dos encontros (por pedido de alguns participantes), não existe o registro detalhado das falas dos alunos, o que impossibilita uma análise desses discursos. Neste sentido, o foco desta análise se limitará as considerações diárias da autora desta tese, que devem ser percebidas apenas como suposições e sentimentos oriundos de uma experiência isolada, que, neste sentido, não possuem nenhuma pretensão conclusiva. Após esses esclarecimentos, serão listados alguns comentários que deverão ser testados em pesquisas futuras: - De acordo com relatos do diário de campo, os alunos que disseram em seus discursos que eram estudiosos são exatamente aqueles que revelaram um maior desenvolvimento moral no 199 pré-teste e os que disseram não gostar de estudar foram os que apresentaram um menor estágio de desenvolvimento moral. Qual o significado disso? - Foi constatado, que a aplicação da lei da retaliação parece ser contextual. Quando o dilema relacionado ao tema “briga” envolveu pares (colegas), eles demonstraram ser mais agressivos. Mas, quando o dilema envolveu um casal adulto, alguns deles mudaram de opinião dizendo que o caminho não era aquele. - A partir da experiência desta intervenção, considera-se pertinente que, em outras intervenções, a ordem dos temas seja melhor planejada. Temas com dilemas morais mais consensuais devem vir antes dos que possuem dilemas morais mais polêmicos. - O vídeo é uma ferramenta interessante para mobilizar sentimentos humanos. Por outro lado, eles precisam ser utilizados com muita cautela, pois eles podem até atrapalhar a promoção do desenvolvimento moral quando não conduzidos da forma correta. O vídeo pode trazer sentimentos como revolta, raiva e ódio, que podem conduzir as pessoas a terem pensamentos morais bastante primitivos. - Uma ferramenta interessante para outras intervenções é o uso de documentários. O fato de ouvir pessoas reais em situações reais tem um peso emocional diferente dos filmes que apresentam histórias fictícias. - A literatura pertinente aponta que para que se crie conflito nas estruturas de raciocínio moral é necessário que o facilitador consiga identificar, em cada momento, qual é o estágio que aparece na discussão para poder expor o participante a um estágio superior. Mas, nem sempre é possível conseguir esta façanha, sobretudo quando se lida com falas que traduzem o raciocínio moral de vários estágios; - Uma das maiores dificuldades para lidar com o grupo submetido à intervenção “racionalafetiva” foi a questão do tempo. Ter que aplicar duas técnicas em 50 minutos não foi fácil. Mas, por outro lado, a técnica de psicodrama não suplantou o debate; pelo contrário, o tornou até mais estimulante para alguns alunos. - Em relação às questões atreladas a justiça retributiva, é curioso notar que os participantes do estágio 3 demonstraram maior disponibilidade para evoluir moralmente do que os do estágio 200 4; de forma semelhante, os participantes do grupo submetido a técnica “racional-afetiva” foram mais susceptíveis a mudança de pensamento do que o grupo submetido a técnica “racional-discursiva”. Esses dados parecem revelar que os afetos são benéficos para promoção de desenvolvimento moral atrelado a questões retributivas. 6.5. Discussão parcial A principal hipótese de trabalho defendida nesta tese foi a de que uma intervenção moral pautada em aspectos afetivos e cognitivos (“racional-afetiva”) seria mais eficaz que uma intervenção voltada para o desenvolvimento moral dentro de uma perspectiva puramente cognitivista (“racional-discursiva”), pois, julgava-se, assim como Hoffman (2003), que a empatia funciona como um estimulador da elaboração e manifestação de princípios morais. De acordo com o conjunto de análises realizadas a partir do instrumento denominado DIT esta hipótese foi confirmada. Na análise dos resultados relativos ao DIT, alguns dados chamam a atenção. É interessante constatar, por exemplo, que não houve diferença significativa entre as médias antes e depois do grupo submetido à intervenção “racional-discursiva”. Este resultado vem sendo encontrado em outros estudos (Correia, 2007; Nepomuceno, 2000; Wanderley, 1987) e tem sido atribuído ao curto espaço de tempo destinado as intervenções. Por outro lado, como explicar a eficácia da técnica “racional-afetiva” que foi desenvolvida no mesmo período de tempo da “racional-discursiva”? Os afetos empáticos teriam o poder de acelerar o desenvolvimento do raciocínio moral? Considerando as ponderações de Pizarro (2000) e de Hoffman (1990), a resposta para essa última questão seria sim. Na perspectiva desses autores as emoções beneficiariam o desenvolvimento do raciocínio moral na medida em que atuariam como um agente catalisador, levando o indivíduo a concentrar sua atenção no problema e no princípio moral a ser utilizado. Também chama a atenção nos resultados, o fato de cerca de 201 83% dos participantes do grupo submetido à técnica “racional-afetiva” encontrarem-se, após a intervenção, no estágio P. Esta evolução é considerada por Biaggio (1983) um fato socialmente relevante, na medida em que, levar jovens a raciocinar de forma pósconvencional significa promover o raciocínio crítico, capacitar o questionamento do status quo e, conseqüentemente, provocar mudanças sociais. Também acerca dessa evolução para o estágio P, verificou-se, contrariamente a Kohlberg (1969), e conforme Camino (2009), a partir de pesquisas realizadas sob sua orientação (Lins & Camino, 1993; Rique & Camino, 2007), acerca da transição de um estágio para outro, que é possível os participantes avançarem mais de dois estágios de desenvolvimento moral em um período relativamente curto. Contudo, esses resultados devem ser vistos com uma certa reserva, pois resultados referentes a avaliação feita com o instrumento Dilemas da Vida Real não revelaram uma diferenciação entre a média do grupo submetido à técnica “racional-discursiva” e a média do grupo submetido à técnica “racional-afetiva”. Por outro lado, os resultados descritivos, relacionados aos Dilemas da Vida Real, conduzem a suposição de que, se a amostra fosse maior, com esse instrumento se verificaria uma diferença significativa entre os tipos de intervenção, e, mais do que isto, existiria uma superioridade da intervenção “racional-afetiva” em detrimento da “racional-discursiva”. Sobre as análises descritivas, é interessante observar que tanto no caso do dilema sobre Sadam Hussein, quanto no caso do dilema sobre João Hélio, os participantes do grupo submetido à técnica “racional-afetiva” tenderam a supervalorizar o Estágio 3 e o Estágio 5, enquanto os participantes do grupo submetido a técnica “racional-discursiva” a supervalorizar o 4, o que faz sentido, pois os afetos empáticos devem beneficiar mais um raciocínio do estágio 3 (relacionado a afetividade) e um raciocínio do estágio 5 (que pode ressaltar o cuidado com o outro, só que nesse caso, dentro de uma perspectiva mais coletivista), do que um raciocínio do estágio 4 (que supervaloriza a lei), que, por sua vez, deve ser mais 202 favorecido por uma discussão racional. Também as análises descritivas demonstram um certo relativismo do julgamento moral, o que contraria pressupostos kohlberguianos. No que se refere ao desenvolvimento empático, de um modo geral, constatou-se que o grupo submetido à técnica “racional-afetiva” foi mais eficaz na promoção de afetos empáticos do que o grupo submetido à técnica “racional-discursiva” e do que o grupo de controle. A eficácia do desenvolvimento empático favorecida por uma técnica voltada para a promoção de afetos empáticos já foi comprovada por outros autores (Day, 2002; Falcone, 1999; Frare et al., 2005; Tsai & Kaufman, 2009). Mas, o que dizer da eficácia do desenvolvimento empático promovida por uma técnica pautada no desenvolvimento do raciocínio moral (“racionaldiscursiva”)? Piaget (1977) diria que afetividade e cognição são aspectos inseparáveis que se influenciam mutuamente, e, Kohlberg (1971) afirmaria que o desenvolvimento de disposições mentais reflete mudanças tanto nas perspectivas cognitivas quanto nas afetivas. Note-se, por outro lado, que a eficácia da técnica “racional-discursiva” não foi comprovada em relação a todos os componentes: na comparação entre as médias do pré-teste e do pós-teste não houve diferença significativa em relação ao componente da EEG denominado Empatia com grupos minoritários e em relação ao componente do IRI denominado Angústia pessoal. Em relação a não promoção do aumento da Empatia com grupos minoritários pela intervenção “racional-discursiva”, poder-se-ia julgar que isso ocorreu devido ao fato dos escores médios de empatia a essa dimensão no pré-teste terem sido elevados; contudo, isso não impediu que o grupo submetido à intervenção “racional-afetiva” obtivesse escores significativamente diferentes entre o pré-teste e o pós-teste. Sobre a Angústia pessoal, alguns autores (Davis, 1980; Escrivã, Navarro & Garcia, 2004; Pérez-Albéniz et al., 2003) explicariam o não aumento da média dessa sub-escala, obtidos nesta tese, em relação ao pré-teste e pós-teste, como algo positivo, tendo em vista que este sentimento, para eles, revelaria uma experiência egocêntrica do pesquisado. Apoiando a 203 visão desses autores, Williams et al. (2006) observaram uma correlação negativa entre os escores dos estágios mais elevados do desenvolvimento moral, verificado por intermédio do DIT-2, e a Angústia pessoal, verificada pelo IRI. Porém, em estudos brasileiros com o IRI, Ribeiro, Koller e Camino (2002) e Sampaio (2007) têm encontrado correlações positivas entre Angústia pessoal e as outras sub-escalas de Davis, o que parece indicar que no Brasil esse sentimento tem um significado teórico diferente daquele previsto por Davis (1980) e por Hoffman (1990, 1991), que deve ser analisado mais pormenorizadamente por meio de outras pesquisas. Sobre o desempenho do grupo de intervenção “racional-afetiva”, em relação ao desenvolvimento empático, percebem-se avanços em relação a todos os componentes das duas escalas utilizadas quando se compara as medidas antes e depois, o que inclui a Angústia pessoal. Este é um fato que merece ser comprovado por meio de outras pesquisas. Ainda se considera relevante comentar acerca dos resultados obtidos pelo grupo de controle. Note-se que este grupo não demonstrou avanços significativos nem em relação ao desenvolvimento moral, nem em relação ao desenvolvimento empático, o que revela que a forma que a escola pesquisada tem trabalhado o desenvolvimento moral não tem tido eficácia. Existindo, inclusive, resultados de regressões de um estágio para outro, o que contraria a idéia kohlberguiana acerca da transição dos estágios. Note-se que a interpretação de todos os dados empíricos feita até agora poderia ser invalidada caso houvesse uma distorção das respostas por parte dos participantes em função da sua desejabilidade social. A este respeito, Schwartz, Verkasalo, Antonovsky e Sagiv (1997) alertam que esta variável deve ser verificada, sobretudo em pesquisas que usam instrumentos que avaliam valores humanos por intermédio de auto-relato, considerando que pessoas com grande quantidade de respostas positivas a itens socialmente aceitáveis podem dissimular sua resposta real com relação a esses valores. Entretanto, os resultados obtidos, 204 nesta tese, referente à correlação de Pearson, realizada entre o questionário de desejabilidade social e os valores morais, indicaram que os adolescentes que apresentaram maior pontuação em desejabilidade social apresentaram maiores escores nos estágios baixos de desenvolvimento moral (verificados por intermédio dos Dilemas da Vida Real) e menores escores na tomada de perspectiva do outro. Outro fator que motivou a investigação da influência da desejabilidade social sobre as respostas dos respondentes aos instrumentos utilizados foi o convívio, no decorrer de um semestre, entre a autora desta tese e os grupos experimentais. Porém, os resultados de uma ANOVA revelaram que não houve diferença significativa entre as médias de desejabilidade social entre os diferentes grupos, o que significa dizer que os resultados da desejabilidade social não foram influenciados pela convivência com a pesquisadora. Em relação à entrevista realizada com os participantes sobre suas opiniões em relação ao efeito da intervenção em suas vidas, foi quase consensual o comentário de que a intervenção promoveu mudanças, que se refletiram na sua forma de pensar, sentir e se comportar em relação a temas morais. Sobre as mudanças na forma de pensar, alguns relatos indicaram mudanças de raciocínio acerca de determinados temas, como aborto e sistema prisional. A este respeito é importante comentar que o objetivo da intervenção moral não foi doutrinar os alunos impondo-lhes valores, mas ajudá-los a pensar de forma ampla e autônoma, tendo como base critérios de juízo mais generalizáveis. Outros relatos, acerca das mudanças na forma de pensar questões morais, indicaram que a intervenção propiciou a alguns participantes a capacidade de debater dilemas morais com outras pessoas, como amigos e familiares, conforme pode ser constatado na fala de um dos alunos: “Quando passa alguma coisa na TV, já levanta a discussão em casa. Mas, o povo lá de casa é cego como eu era”. A este respeito, observa-se que Alexander (1980), ao 205 proporcionar a um grupo de adolescentes a oportunidade de dirigir discussões morais com estudantes mais jovens, supervisionados por um professor especializado no tema, percebeu essa técnica como sumamente importante para o desenvolvimento de todos os participantes. Sobre o fato de alguns adolescentes mencionarem que depois da intervenção tudo passou a ser um dilema, foi realizado um encontro extra para propiciar-lhes um espaço para falar sobre seus sentimentos em relação a esses conflitos. Note-se que uma intervenção moral, pode ser, conforme lembra García-Ros, Collado e Pérez-Delgado (1991), palco de diferentes sentimentos que precisam ser observados pelo facilitador do grupo. Em relação à mudança na forma de sentir questões morais, alguns relatos indicaram um aumento da sensibilidade e outros relatos (exclusivos dos alunos submetidos à técnica “racional-afetiva”) um aumento da capacidade de role-taking. Com relação ao aumento da sensibilidade moral, La Taille (2006) a considera como sendo necessária a ação moral e acrescenta que a falta de sensibilidade moral poderia levar a ações imorais ou, no mínimo, inadequadas. Com respeito ao aumento da capacidade de role-taking, acredita-se, conforme as constatações de Serrano (2002), que as incorporações de papéis vivenciadas pelos alunos do grupo submetido à técnica “racional-afetiva” tenham facilitado o aumento do role-taking. No que se refere à mudança na forma de se comportar, a maioria dos participantes se percebeu como mais altruístas. Acredita-se, assim como Díaz-Aguado e Medrano (1999), que existe uma relação entre juízo moral e conduta altruísta: na medida em que o pensamento dos sujeitos se aproxima do nível pós-convencional aumenta a consistência entre juízo moral e conduta moral. Quanto à relação entre desenvolvimento moral e desenvolvimento acadêmico, mencionada no Diário de Campo, verificou-se que os alunos apontados pelos colegas e por eles próprios como estudiosos foram os que apresentaram melhor desenvolvimento moral. Esta relação pode ser, talvez, explicada pela inteligência (Camino, 1979). Entretanto, é 206 possível que outras variáveis, como escolarização, conhecimento e responsabilidade, expliquem essa relação. No que se refere à observação registrada no Diário de Campo de que o julgamento moral é situacional, ou seja, sujeito a um processo de avaliação que depende dos personagens envolvidos, tem-se o estudo de Distéfano et al. (2005) que apóia essa idéia. As autoras constataram que estudantes entre 8 e 18 anos eram mais favoráveis, independente da idade, a ajudar um jovem que havia cometido um crime a ser defendido em um tribunal, quando esse era brasileiro, do que quando era estrangeiro. Existem também outros estudos, como o de Haidt, Koller e Dias (1993) e o de Turiel (1983), que apontam para a relatividade no julgamento moral e corroboram essa observação. Outros registros do Diário de Campo relacionaram-se ao próprio processo de intervenção. Em relação ao planejamento dos temas da intervenção, considera-se pertinente que seja obedecido na discussão dos dilemas um certo grau de complexidade em relação aos conflitos dos dilemas: sugere-se que os dilemas mais consensuais, que despertem menos preconceito, venham antes dos dilemas mais polêmicos, que despertam mais preconceito. Para investigar essa idéia, recomenda-se que sejam realizadas pesquisas que esclareçam que dilemas podem favorecer e/ou dificultar o raciocínio moral do grupo e pesquisas que testem a ordem de apresentação desses dilemas. Quanto ao uso do vídeo, julga-se que de fato, como indicado por Serrano (2002), este recurso é uma ferramenta interessante para a promoção do desenvolvimento moral. Contudo, conforme problematiza Alves (2001), “não é o filme na escola que provoca mudanças, mas o uso que se faz dele, como é encarado, demonstrado através da postura do professor frente à escolha, análise e relacionamento com seus alunos e com a instituição escolar como um todo” (p. 135). 207 Sobre os documentários com personagens reais terem provocado, segundo registros do Diário de Campo, maior mobilização emocional comparados aos filmes com personagens fictícios, acredita-se que uma explicação plausível esteja na mesma direção do debate, já realizado nesta tese, em torno dos efeitos emocionais de um dilema da vida real e de um dilema fictício. Mas, a preocupação de Alves (2001) descrita acima também se aplica neste contexto – não é o documentário, por si só, que provoca mudanças, mas a forma com que ele é utilizado. Pois, da mesma maneira que um documentário tem o poder de conduzir os participantes a reflexões morais mais amplas, ele também pode se tornar um empecilho para o avanço moral, dependendo do conteúdo das histórias trazidas e da forma como elas são trabalhadas. A dificuldade, mencionada no Diário de Campo, para reconhecer o estágio de desenvolvimento moral do participante no momento em que ele fala, também foi verificada por Fraenkel (1978, citado por Díaz-Aguado & Medrano, 1999) e por Napier (1978, citado por Díaz-Aguado & Medrano, 1999). Sobre a dificuldade, comentada no Diário de Campo, em lidar com o tempo de aplicação da técnica “racional-afetiva”, que envolve dois tipos de intervenção em uma única sessão (uma voltada para a discussão de dilemas morais e outra para a sensibilização empática), sabe-se que a ampliação do horário da sessão é algo desejável, porém inviável em função das outras necessidades da escola. Uma solução possível seria realizar a intervenção moral durante todo o ano letivo, conforme orienta os PCNs, ao invés de realizá-la em um semestre apenas. Isto também seria aconselhável para o uso da técnica “racional-discursiva”, pois, os participantes dos estudos de Rique e Camino (1997), Lins e Camino (1993) e Dias (1992) apresentaram avanços em seus julgamentos, com o uso dessa técnica, em um período de dois semestres letivos. 208 Sobre a constatação, mencionada no Diário de Campo, de que houve resistência dos participantes do estágio 4 para avançar para o estágio 5 e a avaliação pouco aprofundada de que alguns participantes do estágio 3 avançaram direto para o estágio 5, deve-se ter em conta a afirmação de Eckensberger (1984) de que existem elementos em comum entre o estágios 3 (bom garoto) e 5 (contrato democrático), e entre os estágios 1 (punição e autoridade) e 4 (lei e ordem). Apoiando a idéia de avanço para estágios não imediatamente superiores, Dias (1999) e Lins e Camino (1993) observaram avanços, promovidos por intervenções morais segundo a técnica de Blatt e Kohlberg (1975), do estágio 3 para o estágio 5 no período de um ano. 209 CAPÍTULO VII – DISCUSSÃO GERAL E CONSIDERAÇÕES FINAIS 210 Inicialmente, considera-se relevante tecer alguns comentários acerca dos dois instrumentos criados e validados. Em linhas gerais, julga-se que os referidos instrumentos trazem contribuições significativas para a área de estudos sobre o desenvolvimento moral e sobre a empatia. Especialmente em relação ao instrumento denominado Dilemas da Vida Real, julga-se que, devido aos sentimentos negativos provocados nos telespectadores pela mídia diante das notícias sobre Sadam Hussein e sobre o responsável pela morte de João Hélio, os participantes elaboraram estágios demasiadamente primitivos ao avaliarem as questões de justiça e da maioridade penal referentes aos dilemas envolvendo esses personagens. Porém, mesmo achando que o impacto da mídia sobre os participantes pode ter influenciado seus julgamentos, considera-se que este deve ser o tipo de julgamento das pessoas frente às violências vistas como graves no Brasil. Por outro lado, talvez, só um instrumento que pudesse averiguar pensamentos morais mais primitivos pudesse, de fato, ajudar a compreender melhor o raciocínio moral dos participantes, a propor discussões mais compatíveis com suas formas de ver a justiça e a fazer uma avaliação mais realista dos benefícios da intervenção. Outro ponto crítico do instrumento Dilemas da Vida Real é que os casos narrados podem perder, com o passar do tempo, toda a característica de ser um dilema da vida real, pois, em um futuro não tão distante, quem se lembrará do menino João Hélio? Quem se importará com Sadam Hussein? Apesar da utilidade desse instrumento para a intervenção utilizada, julga-se que talvez o seu uso seja limitado pelo fato de se tratar de um dilema da vida real e por isso mesmo mais 211 sujeito a influência do tempo e do contexto. Outro aspecto que limita o alcance do uso do referido instrumento é o fato dele possuir questões subjetivas que necessitam de análises mais demoradas, sobretudo, em pesquisas com amostras maiores. No que se refere ao instrumento denominado Escala de Empatia focada em Grupos (EEG), elaborado com vistas à mensuração da Empatia relacionada a problemas sociais (último estágio de desenvolvimento empático da teoria de Hoffman), pode-se dizer que ele é um instrumento que apresentou parâmetros psicométricos adequados nas amostras de adolescentes, podendo ser considerado um instrumento válido para identificar quatro componentes claramente discerníveis em relação aos grupos aos quais se destina o sentimento empático: grupos minoritários, trabalhadores, animais e “apenados”, mas que precisa ser testado em outras amostras, considerando, por exemplo, diferentes faixas etárias, diferentes contextos, diferentes culturas e tipos de personalidade (como os das pessoas que apresentam diagnóstico de psicopatias). Ainda em relação à EEG, julga-se que a realização de outros estudos é importante para esclarecer qual a melhor versão da escala: a que foi indicada por intermédio da análise fatorial, com 20 ítens, ou a versão com 27 ítens. Nesta escolha é relevante que se considere que a EEG possui dois fatores com coeficientes de precisão abaixo de 0,70, tendo cada componente quatro ítens, o que pode ser melhorado caso haja um aumento do número de itens (Nunnally, 1991). Um outro ponto que parece interessante considerar é a adaptação desta escala para crianças. Se se julga que os ítens da escala correspondem ao último estágio de desenvolvimento de Hoffman, que exige um maior nível de abstração, pergunta-se: em que momento as crianças estariam aptas para responder a essa escala? Independente dos ajustes que deverão ser feitos em outros estudos, pode-se dizer que a EEG apresenta alguns méritos que precisam ser destacados, como o de mensurar a empatia em um nível que ultrapassa as 212 relações interpessoais, diferindo da maioria dos instrumentos de empatia; e o de fornecer subsídios para análise de questões morais atreladas a problemas sociais relevantes. Outro mérito da EEG é que ela, por intermédio do componente Empatia com os “apenados”, possibilitou testar, de forma mais significativa, a evolução da empatia nos programas de intervenção, pois sem um instrumento dessa natureza corre-se o risco de fazer a avaliação de uma empatia facilmente provocada. Ainda um outro mérito da EEG é que ela verifica a empatia por animais, algo negligenciado nos estudos acerca da empatia. Em relação a este último aspecto, lembra-se aqui o que disse M. Gandhi, um dos maiores modelos de moral e compaixão: “a grandeza de uma nação e seu progresso moral pode ser julgado pela forma que seus animais são tratados”. Também sobre a empatia por animais merece ser citado o estudo de Paul (2000), que verificou, a partir de uma amostra de 514 adultos, correlação significativa (porém, modesta) entre o Questionnaire Measure of Emotional Empathy (Mehrabian & Epstein, 1972) e a Animal Empathy Scale (criada para o estudo). Por fim, é relevante comentar que a EEG trouxe para a discussão o fato de que, contrariamente ao que se imaginava, a capacidade afetiva, denominada empatia, não é estranha à dimensão racional. Conforme exemplifica La Taille (2006), é provável que as pessoas sintam empatia por uma criança que chora porque lhe roubaram o sorvete, sentindo-se afetadas por sua dor; mas, também é provável que as pessoas achem algo ilegítimo e incompreensível que um adulto chore pela mesma razão. Em relação às propostas de intervenção investigadas, de um modo geral, considera-se que os resultados encontrados, deram muito mais do que uma contribuição empírica para o campo que investiga a relação entre moral e afetividade, trouxeram também contribuições teóricas, na medida em que este estudo revelou não apenas que uma técnica “racional-afetiva” é mais eficaz que uma técnica “racional-discursiva” para promover desenvolvimento moral, 213 mas que Hoffman (1990) tinha razão quando afirmou que o raciocínio moral é favorecido pelo desenvolvimento da empatia; e, na medida em que corroboraram a idéia de Piaget (1977) e de Kohlberg (1971) de que a afetividade e a cognição são aspectos inseparáveis que se influenciam mutuamente, o que foi constatado pelo fato da empatia ter favorecido o desenvolvimento moral. Entretanto, esta última afirmação pode ser questionada. Pode-se perguntar se o desenvolvimento empático encontrado no grupo submetido à técnica “racional-discursiva” não foi influenciado pelos vídeos utilizados, que classicamente não fazem parte desse tipo de estratégia de intervenção, no sentido de ter gerado impactado na afetividade dos participantes. Para responder a essa questão será necessária uma nova investigação. Uma outra questão que se pode fazer é se uma intervenção voltada apenas para a promoção da empatia promoveria o avanço da moralidade. Já foi constatado, neste estudo, que uma técnica “racional-afetiva” é mais eficaz para a promoção do desenvolvimento moral que uma técnica “racionaldiscursiva”, mas, seria ela também mais eficaz que uma técnica “afetiva”, em que se estimularia apenas a empatia? Esta também é uma questão para ser respondida por uma outra pesquisa, pois de acordo com os estudos de Camino, Cavalcanti e Rique (1992) e de Batson et al. (1995), a empatia, por si só, não garante que o indivíduo pense ou aja de forma moralmente correta. O tipo de estratégia de educação moral denominada “racional-afetiva” apesar de ter se mostrado bastante eficiente, suplantando inclusive, em alguns aspectos, a clássica técnica de Blatt e Kohlberg (1975), apresenta algumas limitações, que também dizem respeito à técnica “racional-discursiva”, quanto à sua viabilidade em situações naturais, que merecem ser refletidas. A primeira limitação refere-se à formação dos grupos, que, segundo Arbuthnot e Faust (1981) e Blatt e Kohlberg (1975), devem conter um pequeno número de participantes a fim de tornar possível à discussão de dilemas morais. Essa composição não condiz com a 214 realidade da maioria das salas de aulas brasileiras que, cada vez mais, encontram-se superlotadas. Seria necessário, neste caso, subdividir a turma em vários grupos de intervenção. Mas, isto seria viável nas escolas que quase não possuem tempo disponível ou que não possuem tempo algum para atividades extra-classe? Particularmente, nesta tese, tevese muita dificuldade para encontrar uma escola que permitisse a realização do programa de intervenção. Os diretores argumentavam que não havia nenhum horário disponível para o trabalho ou ainda que seus alunos não podiam “perder tempo” com outras atividades que não os ajudassem a passar no vestibular. Esses argumentos só ratificavam a idéia de que muitas escolas só estão preocupadas com o ensino intelectual. Outra limitação para a reprodução da intervenção em um contexto não experimental é a de que, com o uso da técnica “racional-discursiva”, segundo Arbuthnot e Faust (1981), se faz necessário que o grupo tenha um número igual de sujeitos por estágio de raciocínio moral para que haja a provocação de conflitos cognitivos. Será que em uma sala de aula, em uma situação não experimental, é possível ter este controle? E, se não houver este controle, será que a intervenção terá sucesso? Existe, atualmente, um certo consenso em aceitar que a eficácia da educação moral depende dos conflitos gerados nas estruturas de raciocínio construídas, facilitados pela heterogeneidade dos participantes (Berkowitz, 1985; Blatt & Kohlberg, 1975; Díaz-Aguado, 1982; Maqsud, 1977), o que indica que pelo menos alguma diferença em termos de desenvolvimento moral é necessária. Em síntese, como efetivar uma proposta de intervenção em situações naturais considerando as restrições e exigências referentes à formação dos grupos? Apenas outros estudos poderão responder com maior clareza a esta e outras questões. Outro aspecto a ser refletido diz respeito ao alcance que o trabalho de intervenção teve na vida dos participantes. As verbalizações dos estudantes e os resultados do pós-teste indicaram que os participantes, sobretudo os que se submeteram a técnica “racional-afetiva”, 215 mudaram em termos de desenvolvimento moral e desenvolvimento empático. Mas, com o término do trabalho, eles estão tendo acesso a programas policiais que estimulam a violência, a comunidades que possuem suas próprias leis (como a de fazer justiça com as próprias mãos), a um mundo que, cada vez mais, tem naturalizado a violência, a corrupção e a desonestidade. Diante deste cenário, questiona-se: será que um trabalho ocasional tem forças suficientes para promover um desenvolvimento moral permanente? Segundo Kohlberg se, de fato, houve uma construção de princípios morais mais elevados, o meio não teria forças para mudar o pensamento desses indivíduos e os efeitos desse programa permaneceriam a longo prazo. Mas será que é mesmo assim? Neste sentido, valeria a pena, após um certo tempo, realizar avaliações posteriores (follow up). Note-se, ademais, que este trabalho apenas problematizou o papel da afetividade, mais precisamente da empatia, na construção da moralidade. Sabe-se, no entanto, que existem outros fatores, como os históricos, culturais, econômicos, políticos e ideológicos, relacionados à construção da moralidade, que precisam ser considerados em estudos futuros; além de outras questões afetivas que não foram exploradas como se deveria, como a raiva, a culpa, a compaixão, a indignação, etc. Depois de tantas ponderações em relação ao uso dos instrumentos construídos e da intervenção proposta, a sensação que se tem é a de que, após o término desta tese, existem mais questões do que respostas, mais dúvidas do que certezas, mais desconstruções do que construções, o que pode de início parecer algo ruim, porém, como diz uma vinheta do Canal Futura, incorporando uma das reflexões da epistemologia do conhecimento, “não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”. De qualquer maneira, consideram-se auspiciosos os resultados obtidos com a estratégia de educação moral investigada nesta tese e julga-se recomendável que ela oriente projetos de educação moral nas escolas, com o planejamento de estratégias para o exercício da 216 educação moral, uma vez que a forma que vem sendo realizado este tipo de educação, pelo menos dentro dos espaços educacionais pesquisados, não parece estar surtindo os efeitos desejáveis. O que se verifica é a ausência de planejamento prévio e, conforme alerta DíazAguado e Medeano (1999), a transversalidade, por estar presente em todas as matérias, fica susceptível a não estar presente em matéria nenhuma. Compartilhando a compreensão dessas duas autoras espanholas, defende-se que a educação moral seja tratada de forma específica, com a reserva de um espaço para centralizar discussões morais, mediante um planejamento prévio dentro do projeto político-pedagógico da escola, o que não anula o fato dos professores serem os principais agentes desse processo, desde que eles estejam preparados para isto e que haja um responsável para coordenar os debates. Em relação à intervenção propriamente dita, acredita-se, com base nas reflexões sobre a intervenção relatada nesta tese, que um programa de educação moral deve incluir a discussão de dilemas hipotéticos, dilemas reais do universo acadêmico (normas da escola, a transgressão de regras por alunos, etc.), dilemas reais do universo não acadêmico (reportagens que passaram na TV, vivências pessoais dos alunos, etc.) e os próprios conteúdos curriculares (escravidão, inquisição, desigualdades sociais, etc.). Também, com base no experimento realizado nesta tese, sugere-se que se utilize a técnica “racional-afetiva” que concilia estratégias cognitivas e afetivas de discussão de dilemas morais, em que o aluno não apenas discute os dilemas morais, mas também é convidado a se envolver afetivamente, colocando-se na perspectiva e na “pele” do outro. 217 REFERÊNCIAS Adams, G. R., Summers, M., & Christopherson, V. A. (1993). Age and gender differences in preschool children´s identification of the emotions of others: a brief report. Canadian Journal of Behavioral Science, 25(1), 97-101. Agerström, J., Möller, K., & Archer, T. (2006). Moral reasoning: the influence of affective personality, dilemma content and gender. Social Behavior and Personality, 34, 1259-1276. Alencar, H. M. (2003). Parcialidade e imparcialidade no juízo moral: a Gênese da participação em situações de humilhação pública. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. Alexander, R. (1980). 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PARTE 1- DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS Idade __________________ Religião __________________ Série __________________ freqüência: 1 2 3 4 5 6 7 Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino PARTE 2- Dilemas da vida real O caso Sadam Hussein No dia 29 de Dezembro de 2006, Sadam Hussein, o ex-presidente do Iraque, foi executado. O ditador era conhecido por não ter compaixão pelos seus inimigos, chegando, inclusive, a ordenar a morte de 2 genros. Além disso, o ex-presidente iraquiano era acusado de ter liderado o genocídio de mais de 100 pessoas, inclusive crianças, em uma cidade próxima de Bagdad. Este caso foi noticiado na impressa e gerou muitas polêmicas. Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Por que? (se precisar, utilize o verso da folha) __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ O caso João Hélio O que seria mais um assalto a carro no subúrbio do Rio se transformou em uma tragédia que chocou o país. Na noite do dia 7 de fevereiro, Rosa Cristina Fernandes voltava para casa com os filhos Aline, de 14 anos, e João Hélio, de 6 anos. Eles pararam no sinal de trânsito na Rua João Vicente, em Oswaldo Cruz, no subúrbio do Rio, quando homens armados mandaram que eles saíssem do carro. As duas saíram rapidamente, mas quando Rosa foi tirar o filho, que estava preso ao cinto de segurança no banco de trás, um dos assaltantes bateu a porta e arrancou com o carro. O menino ficou preso pelo lado de fora do veículo e foi arrastado por sete quilômetros. Entre os assaltantes havia menores de 18 anos. Quando o caso foi noticiado pela impressa, muitas pessoas acharam que a idade dos adolescentes serem presos deveria ser a de 16 anos. Você está de acordo em que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Por que? (se precisar, utilize o verso da folha) __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 239 PARTE 3 – Escala de Empatia focada em Grupos Análise cada questão a seguir e diga o quanto “mexe” com seus sentimentos ver cada uma dessas situações. 1. Crianças passando fome. 2. “Velhos” pedindo esmola. 3. Meninos pequenos (de 5 anos de idade) usando drogas. 4. Pessoas doentes sem poder se tratar. 5. Pessoas trabalhando em serviços pesados mais de 12hs por dia. 6.Pessoas que são obrigadas a deixar o campo para procurar trabalho nas grandes cidades. 7.Pessoas condenadas a pena de morte por crime que cometeram. 8.Presos vivendo em situações desumanas. 9.Pessoas vítimas de injustiça. 10.Pessoas que perderam parentes queridos. 11. Pessoas que são vítimas de catástrofes, como tremor de terra e inundações. 12.Negros sendo menosprezados. 13.Crianças sendo levadas a prostituição 14.Índios sendo menosprezados. 15. Menores abusados sexualmente. 16.Os animais morrendo em período de seca. 17.Os animais sendo levados ao matadouro. 18.Adolescentes presos por cometerem crime. Pouco 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 3 3 3 3 3 Muito 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 1 2 3 4 5 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 240 Apêndice II – Instrumentos utilizados nos Estudos 2 e 3 241 Nome _______________________________ Data ___/___/____. Duração ___:___ as ___:___ QUESTIONÁRIO O objetivo deste questionário é compreender como as pessoas pensam determinadas questões sociais. Aqui não existem respostas “certas” e “erradas”. Nós apenas gostaríamos de saber a sua opinião acerca da resolução de alguns dilemas e sobre algumas questões que serão propostas. DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS Idade __________________ Religião __________________ Série __________________ freqüência: 1 2 3 4 5 6 7 Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino O Prisioneiro Foragido Um homem foi condenado à prisão por dez anos. Depois de um ano, porém, ele fugiu da cadeia, mudou-se para uma região nova do país, e tomou o nome de Simões. Durante oito anos ele trabalhou duro, tanto que conseguiu economizar dinheiro suficiente para ter seu próprio negócio. Ele era muito gentil com seus fregueses, pagava altos salários a seus empregados e dava muito dos seus lucros pessoais para obras de caridade. Um certo dia, dona Cida, uma velha vizinha, reconheceu-o como o homem que tinha fugido da prisão, e a quem a polícia estava procurando. Dona Cida deveria entregar o Sr. Simões à Polícia? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO SEI Nas colunas a seguir, assinale com um “x” qual o grau de importância que tem, para você, o fator ou a consideração proposta. GRAU DE IMPORTÂNCIA Máxima Grande Média Pequena 1. Oito anos não são suficientes para provar que o Sr. Simões é uma boa pessoa. 2. O não cumprimento de uma lei estimula a desobediência de outras. 3. Melhor seria uma sociedade sem leis. 4. O Sr. Simões deve cumprir o que determina a lei. 5. As ações devem ser julgadas a partir de princípios universais de justiça. 6. Não é vantagem fazer prisões isoladas quando se trata de um homem caridoso. 7. Só uma pessoa cruel e sem coração denunciaria o Sr. Simões. 8. O correto seria que Dona Cida se comportasse com base no que dita a lei. 9. Dona Cida deve pensar na sua amizade como Sr. Simões. 10. Um cidadão tem obrigação de entregar um criminoso foragido, não importando as circunstâncias. 11. Decisões deste tipo devem ser tomadas considerando-se o bem comum. 12. O cumprimento de uma lei deve estar subordinado aos interesses e necessidades sociais. Da lista das 12 questões, escolha as 4 (quatro) mais importantes: - A 1ª questão mais importante: _____________________________________ - A 2ª questão mais importante: _____________________________________ - A 3ª questão mais importante: _____________________________________ - A 4ª questão mais importante: _____________________________________ 242 Nenhuma Dilemas da Vida Real O caso Sadam Hussein No dia 29 de Dezembro de 2006, Sadam Hussein, o ex-presidente do Iraque, foi executado. O ditador era conhecido por não ter compaixão pelos seus inimigos, chegando, inclusive, a ordenar a morte de 2 genros. Além disso, o ex-presidente iraquiano era acusado de ter liderado o genocídio de mais de 100 pessoas, inclusive crianças, em uma cidade próxima de Bagdad. Este caso foi noticiado na impressa e gerou muitas polêmicas. Você acha que Sadam Hussein deveria ter sido executado? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Por que? (se precisar, utilize o verso da folha) __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ O caso João Hélio O que seria mais um assalto a carro no subúrbio do Rio se transformou em uma tragédia que chocou o país. Na noite do dia 7 de fevereiro, Rosa Cristina Fernandes voltava para casa com os filhos Aline, de 14 anos, e João Hélio, de 6 anos. Eles pararam no sinal de trânsito na Rua João Vicente, em Oswaldo Cruz, no subúrbio do Rio, quando homens armados mandaram que eles saíssem do carro. As duas saíram rapidamente, mas quando Rosa foi tirar o filho, que estava preso ao cinto de segurança no banco de trás, um dos assaltantes bateu a porta e arrancou com o carro. O menino ficou preso pelo lado de fora do veículo e foi arrastado por sete quilômetros. Entre os assaltantes havia menores de 18 anos. Quando o caso foi noticiado pela impressa, muitas pessoas acharam que a idade dos adolescentes serem presos deveria ser a de 16 anos. Você está de acordo em que haja uma redução na idade em que o adolescente seja punido? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Por que? (se precisar, utilize o verso da folha) __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ 243 Escala de Empatia focada em Grupos – 27 itens Analise cada questão a seguir e diga o quanto afeta (“mexe” com) seus sentimentos ver ou conhecer cada uma dessas situações. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. Crianças passando fome. “Velhos” pedindo esmola. Pessoas tendo que se levantar de madrugada para ir trabalhar. Meninos pequenos (de 5 anos de idade) usando drogas. Pessoas doentes sem poder se tratar. Pessoas que têm parentes seqüestrados. Pessoas trabalhando em serviços pesados mais de 12hs por dia. Pessoas que são obrigadas a deixar o campo para procurar trabalho nas grandes cidades. Animais sendo caçados como diversão das pessoas. Pessoas condenadas a pena de morte por crime que cometeram. Presos vivendo em situações desumanas. Os presos passarem muito tempo esperando o julgamento. Pessoas vítimas de injustiça. Pessoas que perderam parentes queridos. Animais em extinção. Pessoas que são vítimas de catástrofes, como tremor de terra e inundações. Negros sendo menosprezados. Animais sendo maltratados. Crianças sendo levadas a prostituição. Índios sendo menosprezados. Pessoas que cometeram crimes leves convivendo com pessoas que cometeram crimes muito graves. Menores abusados sexualmente. Animais morrendo em período de seca. Pessoas que trabalham em condições desumanas, como nas minas de carvão e nos garimpos. Animais sendo levados ao matadouro. Adolescentes presos por cometerem crime. Pessoas que trabalham com produtos tóxicos, sem terem a devida proteção. Pouco 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 Muito 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 1 2 3 4 5 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 1 2 3 4 5 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 1 2 3 4 5 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 244 Interpersonal Reactivity Index As seguintes afirmações questionam seus sentimentos e pensamentos em uma variedade de situações. Para cada ítem, indique quanto seu pensamento ou sentimento é descrito pela afirmação escolhendo sua posição na escala abaixo (“não me descreve bem”/ “descreve-me muito bem”). Quando você tiver decidido sua resposta circule o número apropriado ao lado da afirmação. Leia cada ítem com muito cuidado antes de responder. Responda o mais honesto possível. Não me descreve bem 1. Eu freqüentemente tenho sentimentos de ternura e preocupação por pessoas menos felizes do que eu. 2. Às vezes, eu tenho dificuldade de ver as coisas como os outros vêm. 3. Às vezes, eu não lamento muito por outras pessoas que estão tendo problemas. 4. Em situações de dificuldades, eu me sinto ansioso e desconfortável. 5. Eu tento considerar os argumentos de todas as pessoas em uma discussão antes de tomar uma decisão. 6. Quando eu vejo alguém sendo enganado eu sinto vontade de protegê-lo. 7. Às vezes, eu me sinto desconfortável quando estou no meio de uma situação muito emotiva. 8. Às vezes eu tento entender melhor meus amigos, imaginando como as coisas são vistas por eles. 9. Quando eu vejo alguém se ferir eu tendo a permanecer calmo. 10. As desgraças e os problemas dos outros em geral não me perturbam muito. 11. Se eu tenho certeza de que estou correto sobre alguma coisa, eu não perco muito tempo ouvindo os argumentos das outras pessoas. 12. Estar em uma situação em que eu me sinto muito tenso assusta-me. 13. Quando eu vejo alguém sendo injustiçado, eu às vezes não sinto muita pena dele. 14. Geralmente eu sou muito efetivo para lidar com dificuldades. 15. Freqüentemente eu fico emocionado com coisas que eu vejo acontecer. 16. Eu acredito que existem dois lados para cada questão e tento olhar para ambos. 17. Eu descreveria a mim mesmo como uma pessoa de coração mole. 18. Eu tendo a perder o controle durante dificuldades. 19. Quando eu estou incomodado com alguém, geralmente eu tento me colocar em seu lugar por um momento. 20. Quando eu vejo alguém que tem grande necessidade de ajuda em uma dificuldade, eu fico desesperado. 21. Antes de criticar alguém, eu tento imaginar como eu me sentiria, se eu estivesse em seu lugar. Descreve-me muito bem 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 245 Versão brasileira da Escala de Desejabilidade Social de Marlowe-Crowne Abaixo são apresentadas frases ou afirmações que uma pessoa poderia usar para descrever a si mesma. Leia cada afirmação e decida se ela descreve ou não você. Se você concordar com uma afirmação ou achar que ela descreve você, faça uma linha em volta da letra “V” (“Verdadeiro”), na frente da frase. Se você discordar da afirmação ou achar que ela não descreve você, faça uma linha em volta da letra “F” (“Falso”) na frente da frase. Responda cada afirmação com “V” ou “F”, mesmo que você não tenha certeza de sua resposta. 1. É difícil fazer meu trabalho se não sou encorajado (a). 2. Nunca antipatizei com alguém intensamente. 3. Já duvidei sobre a minha habilidade para ter sucesso na vida. 4. Sinto-me chateado (a) quando falo algo e não me compreendem. 5. Meus modos à mesa são os mesmo em casa ou em um restaurante. 6. Entraria em um cinema sem pagar, se soubesse que não seria visto. 7. Gosto de fazer fofoca. 8. Já senti vontade de me rebelar contra pessoas com autoridade. 9. Já fingi estar doente para fugir de alguma responsabilidade. 10. Já tirei vantagem de alguém. 11. Estou sempre disposto (a) a admitir quando cometo um erro. 12. Tento acertar as contas, em lugar de perdoar e esquecer. 13. Sou sempre educado (a), mesmo com pessoas desagradáveis. 14. Já insisti em ter as coisas feitas do meu modo. 15. Já senti vontade de quebrar coisas. 16. Nunca me chateei quando alguém me pediu para retribuir um favor. 17. Não me aborreço com pessoas que têm idéias diferentes das minhas. 18. Já senti inveja da boa sorte de outras pessoas. 19. Fico irritado (a) com pessoas que me pedem favores. 20. Nunca disse algo que magoasse alguém de propósito. V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V F F F F F F F F F F F F F F F F F F F F 246 Apêndice III – Folha de Apuração do DIT 247 FOLHA DE APURAÇÃO DO DIT Prisioneiro Foragido Nome: ____________________________________________ Idade: _______________ Grau de escolaridade: ________________________________ Sexo: ________________ ITENS ESTÓRIAS PROBLEMAS Prisioneiro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 3 4 A 4 6 M 3 4 3 4 5A 5A ITENS ESTÓRIAS PROBLEMAS 2 3 4 5 5A 5B 6 A M P Prisioneiro 248 Apêndice IV – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 249 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES Lilian Galvão Fone: (83) 8826-8177 [email protected] www.ufpb.br TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pesquisa: Desenvolvimento Moral e Empatia: intervenção educativa ESTUDO 1 – Termo para participantes Adolescentes 1. Natureza da pesquisa Esta pesquisa tem como finalidade investigar o nível de desenvolvimento moral e o nível de empatia de adolescentes e jovens. 2. Participantes da pesquisa Participarão deste estudo 200 estudantes, sendo 100 do ensino médio e 100 do ensino superior, do sexo masculino e do sexo feminino, de instituições públicas de ensino da Cidade de Cajazeiras-PB. 3. Envolvimento na pesquisa Ao assinar este termo de consentimento livre, você estará permitindo que o/a seu/sua filho/a responda a um questionário, de forma individual, em ambiente coletivo de sala de aula, por um período aproximado de 30 minutos. Você tem a liberdade de não autorizar a participação de seu/sua filho/a na pesquisa, sem qualquer prejuízo para você ou para ele/a. Se você achar necessário poderá pedir quaisquer informações à coordenadora da pesquisa, por meio do telefone (83) 8826-8177 ou do e-mail [email protected]. 4. Sobre o questionário Os questionários serão aplicados na escola do/a seu/sua filho/a, em local e horário designados pelo/a coordenador/a daquela instituição. Será solicitado que seu/sua filho/a resolva dois dilemas morais proposto pela pesquisadora e que responda a algumas questões sobre empatia. 5. Riscos e desconforto A participação nesta pesquisa não traz qualquer tipo de risco ou complicação, talvez, apenas, um pequeno sentimento de timidez que algumas pessoas sentem quando têm que expor sua opinião. Os procedimentos utilizados nesta pesquisa seguem as normas estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI Nº 8.069, de 13/07/1990) e não oferecem riscos à integridade física, psíquica ou moral, e nem à dignidade do/a seu/sua filho/a. 250 6. Confidencialidade Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais, de maneira que apenas os membros do grupo de pesquisa terão acesso aos dados dos participantes. Se você der a sua autorização por escrito, assinando a permissão para utilização dos dados dos questionários, os resultados da pesquisa poderão ser utilizados para fins de ensino e durante encontros e debates científicos, assegurando-se sempre que a identidade dos participantes seja preservada. 7. Benefícios Ao participar desta pesquisa seu/sua filho/a não deverá ter nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que esta pesquisa nos dê informações importantes sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento moral e afetivo durante a adolescência. No futuro, essas informações poderão ser utilizadas no desenvolvimento de mais programas de intervenção, que podem vir a beneficiar outras crianças e adolescentes. 8. Pagamentos Você não terá nenhum tipo de despesa com a participação do/a seu/sua filho/a. Por outro lado, nada lhe será pago caso você autorize a participação de seu/sua filho/a nesta pesquisa. Autorização Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, autorizo a participação de meu/minha filho/a __________________________________________ nesta pesquisa. _______________________________________ _______________________, ____ de _________________ de 20___. 251 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES Lilian Galvão Fone: (83) 8826-8177 [email protected] www.ufpb.br TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pesquisa: Desenvolvimento Moral e Empatia: intervenção educativa ESTUDO 1 – Termo para participantes Universitários 1. Natureza da pesquisa Esta pesquisa tem como finalidade investigar o nível de desenvolvimento moral e o nível de empatia de adolescentes e jovens. 2. Participantes da pesquisa Participarão deste estudo 200 estudantes, sendo 100 do ensino médio e 100 do ensino superior, do sexo masculino e do sexo feminino, de instituições públicas de ensino da Cidade de Cajazeiras-PB. 3. Envolvimento na pesquisa Ao assinar este termo de consentimento livre, você estará se disponibilizando a responder a um questionário, durante cerca de 30 minutos. Você tem a liberdade de não querer colaborar com esta pesquisa, sem qualquer prejuízo para você. 4. Sobre o questionário No questionário você terá que resolver dilemas morais e deverá responder algumas questões sobre empatia. 5. Riscos e desconforto A participação nesta pesquisa não traz qualquer tipo de risco ou complicação. 6. Confidencialidade. Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais, de maneira que apenas os membros do grupo de pesquisa terão acesso aos dados dos participantes. Se você der a sua autorização por escrito, assinando a permissão para utilização dos dados dos questionários, os resultados da pesquisa poderão ser utilizados para fins de ensino e durante encontros e debates científicos, assegurando-se sempre que a identidade dos participantes seja preservada. 7. Benefícios Ao participar desta pesquisa seu/sua filho/a não deverá ter nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que esta pesquisa nos dê informações importantes sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento moral e afetivo durante a adolescência. No futuro, essas informações poderão ser utilizadas no desenvolvimento de mais programas de intervenção, que podem vir a beneficiar outras crianças e adolescentes. 252 8. Pagamentos Você não terá nenhum tipo de despesa com a participação do/a seu/sua filho/a. Por outro lado, nada lhe será pago caso você autorize a participação de seu/sua filho/a nesta pesquisa. Autorização Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, me disponibilizo a participar desta pesquisa. _________________________________________ _______________________, ____ de _________________ de 20___. 253 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES Lilian Galvão Fone: (83) 8826-8177 [email protected] www.ufpb.br TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pesquisa: Desenvolvimento Moral e Empatia: intervenção educativa Estudo 2 e Estudo 3 1. Natureza da pesquisa Esta pesquisa tem como finalidade selecionar um grupo de 36 alunos para participar de um projeto de intervenção voltado para educação moral de adolescentes. 2. Participantes da pesquisa Participarão deste estudo 210 estudantes do ensino médio, do sexo masculino e do sexo feminino, de instituições públicas de ensino da Cidade de João Pessoa - PB. 3. Envolvimento na pesquisa Ao assinar este termo de consentimento livre, você estará permitindo que o/a seu/sua filho/a responda a um questionário, de forma individual, em ambiente coletivo de sala de aula, por um período aproximado de 30 minutos, assim como estará permitindo que seu filho participe, caso ele seja selecionado, de um projeto de educação moral, que terá duração de um semestre e acontecerá em um horário que não prejudicará suas atividades na escola. Você tem a liberdade de não autorizar a participação de seu/sua filho/a na pesquisa e/ou no projeto, sem qualquer prejuízo para você ou para ele/a. Se você achar necessário poderá pedir quaisquer informações à coordenadora da pesquisa, por meio do telefone (83) 8826-8177 ou do e-mail [email protected]. 4. Sobre o questionário O questionário será aplicado na escola do/a seu/sua filho/a, em local e horário designados pelo/a coordenador/a daquela instituição. Será solicitado que seu/sua filho/a resolva dilemas morais e que responda a algumas questões sobre empatia. 5. Sobre o projeto de educação moral O projeto de educação moral tem como objetivo principal desenvolver no/a seu/sua filho/a o senso de cidadania. Para tanto, caso ele/a seja selecionado/a, seu/sua filho/a terá que participar de encontros semanais com a coordenadora do projeto, na escola e no turno em que estuda, em um horário diferente de suas aulas para discutir dilemas morais. 6. Riscos e desconforto A participação nesta pesquisa não traz qualquer tipo de risco ou complicação, talvez, apenas, um pequeno sentimento de timidez que algumas pessoas sentem quando têm que expor sua opinião. Os procedimentos utilizados nesta pesquisa seguem as normas estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI Nº 8.069, de 13/07/1990) e não oferecem riscos à integridade física, psíquica ou moral, e nem à dignidade do/a seu/sua filho/a. 254 7. Confidencialidade Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais, de maneira que apenas os membros do grupo de pesquisa terão acesso aos dados dos participantes. Se você der a sua autorização por escrito, assinando a permissão para utilização dos dados dos questionários, os resultados da pesquisa poderão ser utilizados para fins de ensino e durante encontros e debates científicos, assegurando-se sempre que a identidade dos participantes seja preservada. 8. Benefícios Ao participar desta pesquisa seu/sua filho/a não deverá ter nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que esta pesquisa nos dê informações importantes sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento moral e afetivo durante a adolescência. No futuro, essas informações poderão ser utilizadas no desenvolvimento de mais programas de intervenção, que podem vir a beneficiar outras crianças e adolescentes. 9. Pagamentos Você não terá nenhum tipo de despesa com a participação do/a seu/sua filho/a. Por outro lado, nada lhe será pago caso você autorize a participação de seu/sua filho/a nesta pesquisa. Autorização Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, autorizo a participação de meu/minha filho/a __________________________________________ nesta pesquisa. _______________________________________ _______________________, ____ de _________________ de 20___. 255 Apêndice V – Cronograma de Atividades: Estudo 3 256 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES DATAS GRUPO 1: “racional-discursiva” Apresentação; 06/08 Escolha das temáticas; Tema: Brigas Recursos: - Dilema escrito: “Provocações” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; 07/08 (1) Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? 14/08 (2) Tema: Brigas Recursos: - Vídeo do Youtube: “Olho por olho, dente por dente” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? 21/08 (3) 28/08 (4) 04/09 (5) Tema: Brigas Recursos: - Dilema escrito: “Maiores x Menores” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Drogas Recursos: - Filme: Bicho de Sete Cabeças Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Drogas Recursos: - Vídeos do Youtube – “Notícias de uma guerra GRUPO 2: “racional-afetiva” Apresentação; Escolha das temáticas; Tema: Brigas Recursos: - Dilema escrito: “Provocações” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-playing e Inversão de papéis (role reversal); Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Brigas Recursos: - Vídeo do Youtube: “Olho por olho, dente por dente” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-taking; Inversão de papéis (role reversal); Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Brigas Recursos: - Dilema escrito: “Maiores x Menores” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-taking; Inversão de papéis (role reversal); Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Drogas Recursos: - Filme: Bicho de Sete Cabeças Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Carta Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Drogas Recursos: - Vídeos do Youtube – “Notícias de uma 257 particular” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? 11/09 (6) 18/09 (7) 25/09 (8) 02/10 (9) 09/10 (10) Tema: Delinqüência Recursos: - Dilema escrito: “Traficante de drogas” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Delinqüência Recursos: - Filme: Última parada: 174 Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Delinqüência Recursos: - Vídeo do Youtube: “Campanha contra a pena de morte” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Delinqüência Recursos: - Filme: Redução não é solução (documentário) - Vídeo do Youtube: “Maioridade penal” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Roubo Recursos: guerra particular” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Bonecos/Máscaras Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Delinqüência Recursos: - Dilema escrito: “Traficante de drogas” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Câmara lenta Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Delinqüência Recursos: - Filme: Última parada: 174 Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Cena de Julgamento Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Delinqüência Recursos: - Vídeo do Youtube: “Campanha contra a pena de morte” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Carta Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Delinqüência Recursos: - Filme: Redução não é solução (documentário) - Vídeo do Youtube: “Maioridade penal” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Cena de Julgamento Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Roubo Recursos: 258 - Dilema escrito: O supermercado Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? 16/10 (11) 23/10 (12) 30/10 (13) 06/11 (14) 13/11 (15) Tema: Aborto Recursos: - Dilema escrito: “Aborto” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Aborto Recursos: - Filme: O aborto dos outros Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Aborto Recursos: - Vídeo do Youtube: Aborto x vida Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Ecologia Recursos: - Dilema escrito: Dilema da Capivara Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Ecologia Recursos: -Vídeo do Youtube: Maltrato de animais - Dilema escrito: O supermercado Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Fantasia Dirigida Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Aborto Recursos: - Dilema escrito: “Aborto” Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-taking e Inversão de papéis (role reversal); Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Aborto Recursos: - Filme: O aborto dos outros Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Fantasia Dirigida Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Aborto Recursos: - Vídeo do Youtube: Aborto x vida Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Carta Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Ecologia Recursos: - Dilema escrito: Dilema da Capivara Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Personificação; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Ecologia Recursos: - Vídeo do Youtube: Maltrato de animais 259 Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? 20/11 (16) 27/11 (17) 04/12 (18) 11/12 (19) Tema: Violência Recursos: - Vídeo do Youtube: Violência contra o idoso Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Realização de Entrevistas – Efeito da intervenção Tema: Violência Recursos: - Vídeo do Youtube: Violência contra criança - Vídeo do Youtube: Violência, fome, guerra, preconceito Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Adolescência Recursos: - Vídeo do Youtube: Pro dia nascer feliz; Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Adolescência Recursos: - Criação de Dilema escrito: Meu Dilema Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Personificação; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Violência Recursos: - Vídeo do Youtube: Violência contra o idoso Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-playing Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Realização de Entrevistas – Efeito da intervenção Tema: Violência Recursos: - Vídeo do Youtube: Violência contra criança - Vídeo do Youtube: Violência, fome, guerra, preconceito Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Carta; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Adolescência Recursos: - Vídeo do Youtube: Pro dia nascer feliz Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-playing Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? Tema: Adolescência Recursos: - Criação de Dilema escrito: Meu Dilema Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-playing Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? 260 18/12 (20) Tema: Adolescência Recursos: - Debate dos Dilemas criados pelos alunos; Técnica: - Discussão de Dilema Moral; Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? Tema: Adolescência Recursos: - Debate dos Dilemas criados pelos alunos; Técnica: - Discussão de Dilema Moral; - Técnica do Psicodrama: Role-playing Questão norteadora: - Como resolver este dilema? Por que (...)? - Como foi se colocar no lugar de ____? O que você sentiu? 261 Apêndice VI – Dilemas Selecionados: Estudo 3 262 DILEMAS SELECIONADOS Tema: Brigas Provocações Nas escolas, nós sofremos muito tipos de provocações dos nossos colegas. Algumas vezes são apenas brincadeiras bobas que não dão em nada e nós deixamos passar. Mas algumas vezes a provocação nos atinge de tal maneira que não temos como não responder e aí as coisas podem complicar. 1) Como você reage quando é provocado? (Você é um provocador? Gosta disso?) 2) O que você pensa das pessoas que provocam (e até ameaçam)? 3) Como, ou o que, você faria para que uma pessoa parasse de provocar você? _____________________ Fonte: Nepomuceno (2000) Maiores x Menores Nas escolas em todo o mundo existem alunos de idades diferentes. Uns são mais velhos e por isso já estão nas séries mais avançadas. Outros são mais novos e enfrentam alguns problemas: além de serem mais novos na idade, às vezes acabaram de chegar na escola e têm que fazer o que os mais velhos mandam. Às vezes os mais velhos mandam fazer os deveres, às vezes tomam seu lanche, às vezes batem neles. 1) Você acha que a questão da idade tem a ver com os mais velhos quererem tirar tanto proveito dos mais novos (seja na idade ou no tempo que o mais velho já está na escola)? 2) Você acha que a posição deles (serem mais velhos) dá o direito deles agirem desta forma? 3) Você acha isso justo? Por que sim ou porque não? 4) Que alternativas você daria para que não acontecessem abusos (como bater, tomar objetos, etc.) como estes? 5) Como você acha que seria a melhor forma de reverter essa situação? (como seria a forma de começar no ano que vem?, poderia ser da mesma forma ou se faz acordos pra que as coisas comecem diferentes?) _____________________ Fonte: Nepomuceno (2000) Tema: Delinqüência “Traficante de drogas” O problema das drogas neste país alcançou muitos lugares. Muitas pessoas morrem todos os meses e muitas vidas ficam arruinadas por causa das drogas. Todas essas drogas são ilegais. As drogas são trazidas e distribuídas por um grupo do crime organizado. Esses grupos são difíceis de se eliminar. As pessoas que trabalham para esses grupos não falam quando são apanhadas e até agora o governo não foi capaz de encontrar evidências para colocá-las na cadeia. 263 Um traficante tinha sido apanhado na escola. Ele foi interrogado pela polícia sobre a fonte de seu fornecimento, mas se recusou a cooperar. Algumas pessoas dizem que nós deveríamos obter informações a qualquer custo: se eles não falam voluntariamente (por sua livre vontade) eles deveriam ser obrigados a falar de alguma outra forma. Essas pessoas acham que se fizéssemos isso poderíamos eliminar esses criminosos e salvar muitas vidas. 1) Você aprovaria ou daria à polícia o direito de manter pessoa na cadeia até que elas concordassem (ou decidam) em falar ou questioná-los (perguntar a elas) a fim de descobrir informações que ajudariam a controlar o tráfico organizado de drogas? Você aprovaria a idéia de torturá-los de alguma forma? Por quê? 2) É moralmente justificável controlar um mal utilizando meios maus? Por que sim ou por que não? 3) Suponha que 50 traficantes sejam apanhados em uma semana. A polícia não sabe quanta informação cada um desses traficantes possui. Eles deveriam torturar a todos, arriscando-se a torturar um indivíduo que não tem nenhuma informação que ajudasse a quebrar o círculo de traficantes? Por que sim ou por que não? __________________________ Fonte: Nepomuceno (2000) Tema: Roubo O supermercado Gilberto é fiscal em um supermercado próximo à sua casa, no Sarandi. Seu Jacinto, um senhor aposentado por invalidez, 52 anos, vizinho e muito amigo de sua família, sempre faz compras neste supermercado. Um dia Gilberto vê o seu Jacinto colocando um pacote de manteiga no bolso do casaco. Ele sabe que seu Jacinto recebe pouco como aposentado e que, além disso, tem quatro filhos em idade escolar e uma mulher para alimentar. 1) Se você fosse Gilberto, o que você faria? 2) Para tomar sua decisão, você acha que seria mais importante (coloque em ordem decrescente de importância); ( ) o dever de Gilberto como fiscal ( ) a amizade entre a família e seu Jacinto ( ) a situação financeira de seu Jacinto ( ) o prejuízo do supermercado Justifique: __________________________ Fonte: Nepomuceno (2000) 264 Tema: Aborto “Aborto” Ângela é uma secretária de uma loja de confecções. Faz cursinho à noite e tem intenções de cursar uma faculdade. Aos fins de semana costuma ir à missa, pois é muito religiosa. Um certo dia, quando volta da aula, foi abordada por um estranho que pediu-lhe informações sobre um certo endereço. Ao responder, foi empurrada para o carro e posteriormente violentada sexualmente. Passou-se um mês e Ângela descobriu que estava grávida. Ficou desesperada e só, sem ter a quem recorrer. Pensou muito e não sabia o que fazer: Ter um filho de alguém que a estuprara e nem sabia quem era, ou abortar um inocente. 1) O que ela deveria fazer neste caso? 2) A pessoa tem o direito de determinar a vida ou a morte de um ser indefeso? 3) Em que medida a experiência traumatizante pela qual a mãe passou não vai refletir no relacionamento com o futuro filho e até em sua rejeição? 4) Como a Igreja encara o aborto nestas condições? 5) A lei prevê o direito ao aborto em estupro. Como provar isso (por processo) a tempo de realizar um aborto sem grandes riscos para a mãe? 6) Qual o tipo de assistência que deveria ser dada a uma pessoa violentada sexualmente e grávida decorrente disso? _________________________ Fonte: Blatt, Colby e Speicher (1974), adaptado por Biaggio, Vargas, Monteiro, Souza e Tesche (1999) Tema: Ecologia "O dilema da capivara" Um homem chamado Otávio trabalha muito durante a semana, e gosta de ir caçar no fim-de-semana para relaxar. Numa noite, depois da refeição de carne de capivara - um animal que ele tinha caçado durante a temporada de caça do ano passado, ele comentou sobre o quanto ele estava ansioso pela próxima estação de caça. Um amigo que estava visitando sua casa perguntou se ele achava certo atirar em animais só por esporte ou para comer a carne só por prazer. Esse amigo afirmou, por exemplo, que era possível manter-se em boa saúde sem comer carne. Otávio começou a pensar sobre essas questões. Otávio tem um problema. Ele gosta de ir caçar para relaxar e de comer carne de capivara, mas o fato dele continuar caçando vai fazer os animais sofrerem e morrerem. 1) Otávio tem que tomar uma decisão. O que você acha que ele deveria fazer? Por quê? (Explique suas razões em detalhes). 2) Animais morrerão por causa da caça. Qual seria a importância desse fato para se tomar uma decisão? 265 (muito importante/importante/não é importante) Otávio vai relaxar quando caçar. Qual seria a importância desse fato para se tornar uma decisão? (muito importante/importante/não é importante). 3) Otávio vai relaxar quando caçar. Qual seria a importância desse fato para tornar uma decisão?(muito importante/importante/não é importante). 4) Em geral, está certo tirar a vida de um animal para que uma pessoa possa relaxar? Por quê? __________________________ Fonte: Biaggio, Vargas, Monteiro, Souza e Tesche (1999) 266 Apêndice VII – Filmes e Vídeos do Youtube selecionados: Estudo 3 267 FILMES/VÍDEOS DO YOUTUBE SELECIONADOS Tema: Brigas Vídeo do Youtube “Olho por olho, dente por dente” Retrata o princípio da Lei de Talião, a partir de uma cena em que uma pessoa agride a outra e é agredida da mesma forma. Tema: Drogas Bicho de Sete Cabeças Os pais de um jovem descobrem um cigarro de maconha em seu casaco e são aconselhados a internar o filho numa instituição psiquiátrica. Notícias de uma guerra particular Documentário sobre o mundo das drogas: entrevistas e imagens. Tema: Delinqüência Última Parada: 174 Baseado em uma história real, este filme conta a história de dois jovens. O primeiro, Alessandro, ainda quando bebê, é retirado de sua mãe pelo chefe do tráfico local, devido à uma dívida não paga. O Segundo, Sandro, vê sua mãe ser morta por dois ladrões e, a partir daí passa a conviver com um grupo de garotos que dorme na igreja da Candelária. Na convivência com estes meninos, Sandro testemunha a chacina da Candelária, onde 8 meninos de rua foram mortos pela polícia. Este triste evento aproxima Sandro e Alessandro, que passam a ter um forte convívio, separado definitivamente pelo envolvimento de Sandro no famoso seqüestro do ônibus 174. Vídeo do Youtube: Campanha contra a pena de morte Traz imagens do filme Última parada: 174, no sentido de refletir acerca da história de vida de algumas pessoas que se envolvem em crimes. Redução não é a solução Trata-se de um documentário que explicita, a partir de vários depoimentos, os motivos que levam o Fórum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente a ser contra a redução da maioridade penal. Vídeo do Youtube: Maioridade penal Trata-se de uma palestra que problematiza a questão da maioridade penal. 268 Tema: Aborto O aborto dos Outros O Aborto dos outros é um filme sobre a maternidade em seu ponto limite. A narrativa percorre situações de aborto dentro de hospitais públicos que atendem mulheres vítimas de estupro, interrupções de gestações em casos de má-formação fetal sem possibilidade de sobrevida após o nascimento e abortos clandestinos. Vídeo do Youtue: Aborto x Vida Problematiza a questão do aborto, mostrando os prós e os contras de sua legalização. Tema: Ecologia Vídeo do Youtube: Maltrato de animais Traz imagens de animais que sofreram maus tratos. Tema: Violência Vídeo do Youtube: Violência contra o idoso Problematiza o problema de violência contra o idosos, com imagens reais de agressão ao idoso. Vídeo do Youtube: Violência contra criança Problematiza a questão da violência contra as crianças. Vídeo do Youtube: Violência, fome, guerra, preconceito Mostra imagens de crianças em vários contextos de sofrimento. Tema: Adolescência Vídeo do Youtube: Pro dia nascer feliz Pontua os problemas existenciais típicos da adolescência. 269 Apêndice VIII – Técnicas do Psicodrama selecionadas: Estudo 3 270 TÉCNICAS DO PSICODRAMA UTILIZADAS Bonecos/Máscaras: trabalha-se com máscaras ou marionetes para promover um maior distanciamento no papel desempenhado pelos participantes; Câmara lenta: solicita-se que os participantes se movimentem como que em câmara lenta no processo de dramatização de uma cena com o objetivo de fazer com que ações sejam amplificadas, congeladas ou tornadas mais disponíveis para serem trabalhadas; Carta – solicita-se que os participantes escrevam ou leiam uma carta imaginária de uma pessoa significativa do Dilema; Cena de Julgamento – realiza-se o debate de um conflito moral como em uma cena de tribunal, com a presença de réu, advogado de defesa, promotor, juiz, jurados; Espelho – o protagonista é solicitado a recuar e observar, enquanto o papel que ele representou é repetido por um auxiliar; Fantasia dirigida – é um método catalisado por sugestões verbais do diretor; Inversão de papéis (role reversal) – os participantes principais de uma interação trocam de papéis; Personificação – os participantes desempenham papéis de objetos inanimados e animais; Role-taking (assumir o papel) – deve-se se colocar no lugar do outro e buscar compreender suas expectativas, seus pensamentos e sentimentos (Hoffman); Role-playing (desempenho de papéis) – refere-se ao ato de examinar estratégias alternativas para lidar com um problema, mediante o desempenho de papéis; 271 Apêndice IX – Diário de Campo: Estudo 3 272 DIÁRIO DE CAMPO 06/08 – Reunião com todos os participantes da condição experimental Após a seleção dos alunos, obtidas mediante a aplicação do pré-teste, foi realizado um encontro com os 24 alunos que iriam participar dos grupos experimentais. Utilizamos uma aula e meia para este encontro. Inicialmente, me apresentei, apresentei meu monitor e falei um pouco sobre a proposta de intervenção, no sentido de motivá-los para participar do projeto. Expus a quantidade de encontros a serem realizados (20), o tempo de duração das “aulas” (50 minutos) e os dias que deveriam acontecer às reuniões (sextas-feiras); discutimos a respeito da liberdade de opinião, do respeito à opinião do outro, do papel do coordenador, do papel dos participantes e da importância deles não faltarem a nenhuma reunião. Também, neste primeiro contato, realizei uma dinâmica de apresentação. Os alunos, após serem divididos em dois grandes grupos de 12 (que corresponde as duas condições experimentais que eles iriam ser submetidos), que chamamos azul e vermelho e os identificamos com uma fita em seus braços, foram convidados a formarem pares para conversar durante 5 minutos. Para facilitar o diálogo (e para servir como dado adicional para pesquisadora), após 5 minutos de conversa informal, foi dado um roteiro de “entrevista” para os participantes, que foram convidados a o utilizarem. Neste roteiro, estavam explicitadas as seguintes questões: nome, mora com quem, como é na escola (bom ou mau aluno), o que mais gosta de fazer (hobby), o que mais gosta de assistir na TV. Em seguida, com os dados colhidos, mediante conversa informal e a partir do roteiro de entrevista, cada participante foi convidado para apresentar o (a) colega ao restante do grupo. A seguir, serão reproduzidas textualmente as falas dos alunos na hora da apresentação, segundo as anotações do meu monitor. É importante registrar que eu, juntamente com meu monitor, tendo em vista resguardar a identidade dos participantes, coloquei nomes fictícios nos alunos: 1) ) Equipe Azul (Moral) Dupla 1: Einsten e Newton - Einsten: “Este é Newton (Participante 193). Um cara estudioso que gosta de ler. Já leu Heri Poter, o mundo de Sofia. Não é muito de ter amigos e detesta Tv. Só gosta de filmes. Mora com o pai e os avós”. - Newton: “Este é Einsten (Participante 146). Gosta de ir para a igreja e toca na banda nos cultos. Toca guitarra. Gosta de ouvir louvores e participar de grupo jovem. Gosta de estudar. Mora com os pais”. Dupla 2: Pedro e João - Pedro: João (Participante 190) não gosta muito de estudar, mas estuda um pouquinho. Se acha burro. Ele gosta de jogar vídeo game e só. 273 - João: Pedro (Participante 197) gosta de sentar na última cadeira, não conversa com ninguém na hora da aula. Se acha um cara tímido. Tem uma namorada. Gosta de ir para a sua casa. Mora com a mãe. Dupla 3: Rute e Valéria Rute: Valéria (Participante 206) disse que tem uma inteligência normal. Tira notas boas. Mas, não excelentes. Gosta de ficar em casa. Mas, detesta lavar louça. Gosta de ouvir músicas internacionais e adora inglês. Mora com a mãe e os irmãos. Valéria: Rute (Participante 202) é estudiosa. Gostamos de estudar juntas para as provas. Tira notas parecidas com as minhas. Eu sou melhor em umas matérias e ela em outras. Aí a gente se ajuda. Ela mora com os pais. Não sabe dizer o que gosta de fazer. Dupla 4: Erick e David Erick: David (Participante 181) é um cara que só gosta de ficar... sei lá, de ficar com uma e com outra, tá ligado? É tipo galã de malhação, ta ligado? As meninas do colégio, inclusive dessa sala suspira por ele. Já eu, sou feio pra caramba (kkkk). Mas ainda pego umas, de vez em quando. Ele mora com a mãe e umas irmãs bem gatinhas. David: Erick (Participante 201) passa o dia no computador. O dia inteiro mesmo. Só sai para vim para o colégio. Ele mora com a mãe dele, que só vive aqui no colégio para saber se ele tá estudando. É claro que não adianta nada! Dupla 5: Mayara e Sara Mayara: Sara (Participante 194) e eu formamos uma dupla. Dupla de bagunceiras. Será que vocês vão agüentar a gente? (sorriu). Não gostamos de estudar não. O assunto não entra. Ela mora com a chata da mãe dela e um monte de irmão vagabundo. Sara: Mayara (Participante 196) já disse tudo. Somos uma dupla de bagunceiras. Ela não gosta de estudar não, só de bagunçar. Ela mora com a mãe dela e um pai bêbado e tarado. Ele só falta comer a pessoa com os olhos. Sara não gosta dele também não. Queria que ele morresse. Dupla 6: Camila e Daniela Camila: Daniela (Participante 204) só passa se arrastando. Só quer saber de ouvir forró e ir para show. Mora com os pais. O que mais? Sim, ela gosta de pânico da TV e de assistir tudo. Daniela: Camila (Participante 189) estuda mais ou menos. Mora com os pais e irmãos. Gosta de internet. Sei mais não. 2) Equipe Vermelha (Moral + Empatia) Dupla 1: Bob e Patrick - Patrick: Este é Bob (Participante 161). Nem precisa apresentar, que todo mundo já conhece. O CDF da sala. O que ele gosta de fazer? Gosta de conversar com os amigos e ler. Só tira 10,0 (risos). Sim, ele mora com os pais e com duas irmãs. - Bob: Este é Patrick (Participante 171). Ele é um cara que tira nota boa. Mora com a mãe e uma irmã. Assim como eu, gosta de ficar na pracinha conversando com os amigos. Assiste pouca TV, só gosta mesmo de assistir esporte espetacular. Dupla 2: Charles e Luan 274 Charles: Este é Luan (Participante 157), ele tira nota baixa em Matemática, mas nas outras matérias se sai bem. Gosta de assistir malhação e conversar com os amigos. Só isso. Sim, ele mora com a mãe dele na casa da avó dele. Luan: Este é Charles (Participante 155), gosta de ir para Lan House. Ele mora com sua mãe e uma irmã. Se considera um aluno mais ou menos, tira notas mais ou menos. Gosta de assistir malhação, jogos de futebol e pânico na TV. Dupla 3: Mércia e Gabi - Mércia: Para quem não conhece, esta é Gabi (Participante 160). Ela é inteligente na escola, disse que era mais ou menos, mas todo mundo que a conhece sabe que é conversa dela. Ela mora com os pais e um irmão de outro casamento do pai. Gosta de ler romance e assistir filmes. Na TV, gosta de CIE (um programa que tem peritos que descobre crimes), também gosta de ídolos (um programa que passa na Record, todo mundo conhece!). - Gabi: Esta é Mércia (Participante 165), ela é minha amigona, por isso escolhi ficar com ela. Ela também é inteligente na escola. Sempre tira nota boa. Ela gosta de esportes. E na TV sempre busca assistir programas de esporte e jogos, inclusive de futebol. Dupla 4: Regiane e Rutany Regiane: Esta é Rutany (Participante 183). Ela gosta de se arrumar, como toda a adolescente e sair com os amigos para show. A mãe dela sempre pega no pé dela por causa disto e ela vive brigando com os pais (não me belisca, foi mal, eu pensei que podia falar isso!). Sim... (cochichou com a amiga). Ela também não me deixa contar nada! Ela gosta de assistir malhação e ir para a Lan House. Mora com a mãe e um monte de irmão. Pronto! Rutany: Esta é Regiane (Participante 166), uma figura da bagaceira mesmo (a amiga a beliscou). Não estuda, vem para o colégio apenas zoar mesmo. Mora com a mãe e três irmãos. Gosta de ir para show e assisti tudo na TV. Dupla 5: Paulinho e Iran Paulinho: Este é Iran (Participante 177). Ele gosta de jogar bola no meio da rua e ficar de bobeira com os amigos. Não gosta de estudar. Estuda porque é o jeito. Gosta mesmo é de namorar. Mora com a mãe e quatro irmãos. Iran: Este é Paulinho (Participante 172), o cara mais bagunceiro da sala. Melhor, o segundo mais bagunceiro da sala, porque o primeiro sou eu (sorriu). Ele não gosta de estudar. Mas, ainda consegue tirar notas mais ou menos, o cara deve ser inteligente. Gosta de jogar bola e quase não assisti TV. Dupla 6: Wigna e Zaíra Wigna: Esta é Zaíra (Participante 176). Ela é mais ou menos na escola. Em umas disciplinas se sai bem, em outras não. Gosta de ir para Lan House e de ficar no Orkut, MSN, Twister. Assisti tudo na Tv. Mora com a mãe e a avó. Zaíra: Esta é Wigna (Participante 174). Ela é uma garota tímida, fala pouco. Gosta de ficar só e assisti muita TV. Mora com o avô, a avó e uma tia. Ela disse que... posso falar? (a menina balançou a cabeça) É que seus pais morreram em um acidente de ônibus. Ela não lembra deles. Ela era pequena. Só tem fotos. 275 Além dessa dinâmica de apresentação, neste primeiro encontro foram escolhidos os temas que iriam ser debatidos na intervenção. A escolha dos temas se deu a partir de uma lista que continha 28 temas. É importante esclarecer, que essa lista continha temas que foram sugestionados tanto pela coordenadora do grupo, quanto pelos próprios alunos. Com a lista em mãos, os alunos foram solicitados a ler todos os temas, e, em seguida, a escolher 8 temas que eles gostariam de discutir, tendo ciência que seriam escolhidos apenas os temas mais votados. Os temas selecionados foram: brigas, drogas, delinqüência, aborto, roubo, ecologia, violência e adolescência. Terminada a reunião, lembrei os horários que nos encontraríamos novamente. E ressaltei que o grupo azul (Condição 1 - Moral) seria em um horário diferente do grupo vermelho (Condição 2 – Moral + Empatia). Neste dia, também foi acordado que não seria utilizado o gravador nas reuniões. Alguns alunos disseram que ficariam mais envergonhados e outros argumentaram que não poderiam falar mal de ninguém, com ar de brincadeira. Considerações pessoais Neste primeiro encontro, os alunos se mostraram um pouco tímidos, o que parece natural para um primeiro encontro. Mas, o objetivo principal foi alcançado, que foi motivá-los para participar e conhecer um pouco de suas vidas. É interessante notar que uma simples brincadeira de apresentação trouxe questões acerca dos arranjos e desarranjos familiares: “Ela mora com a mãe dela e um pai bêbado e tarado. Ele só falta comer a pessoa com os olhos. Sara não gosta dele também não. Queria que ele morresse”; “Mora com o avô, a avó e uma tia. Ela disse que... posso falar? (a menina balançou a cabeça) É que seus pais morreram em um acidente de ônibus. Ela não lembra deles. Ela era pequena. Só tem fotos”; “Ela mora com a chata da mãe dela e um monte de irmão vagabundo”. Um outro dado que merece ser refletido é que os alunos que disseram em seus discursos que eram estudiosos são exatamente aqueles que revelaram um maior desenvolvimento moral no pré-teste (Tabela 9) e os que disseram não gostar de estudar foram os que apresentaram um menor estágio de desenvolvimento moral (Tabela 9). Outro dado interessante, é que a forma de agrupamento obedeceu, de um modo geral, o estágio de desenvolvimento moral e o gênero. As meninas ficaram com as meninas e os meninos com os meninos e os mais desenvolvidos moralmente, segundo o pré-teste, e que disseram ser mais estudiosos se uniram em duplas e os menos desenvolvidos moralmente, segundo o pré-teste, e os que disseram ser menos estudiosos (e bagunceiros) também se uniram em duplas. O desafio será mesclar essas duplas e quebrar a união por gênero nas próximas intervenções. Os temas escolhidos também se revelaram interessantes. Agora é correr contra o tempo, para escolher os dilemas, os filmes e vídeos do youtube que sejam congruentes com os temas. 276 07/08 – Reunião 01 Nessa reunião apresentei o cronograma de atividades, juntamente com os temas mais votados; e disse que começaríamos o debate naquele dia e o tema seria Briga. Distribui o dilema entre os participantes, pedi que eles o lessem em trio e, depois, respondessem as perguntas. Dessa vez, eu mesma me encarreguei de distribuir os participantes nos grupo, um de cada estágio de desenvolvimento moral. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Brigas Recurso: Dilema escrito: Provocações Técnica: Discussão de dilema moral Os participantes, após tentarem entrar em um consenso para responder as perguntas, foram convidados a apresentar a solução do Dilema ao grande grupo. Como existiam pessoas de diferentes níveis de desenvolvimento moral nos grupos, houve muita discordância e, em alguns grupos, não houve consenso, o que eles fizeram foi expor a opinião da maioria, já que o grupo era formado por três pessoas. Notou-se nas falas da maioria dos participantes um discurso repleto de agressividade: “O que nós decidimos foi que para que uma pessoa parasse de provocar, deveríamos nos reunir e meter a porrada. Duvido que ele viria novamente provocar. ___ não concordou muito com isso, mas como eu e ___ pensa assim, ela teve que aceitar (risos)”. Ao apresentarem esse tipo de argumento, foi perguntado ao grupão quem concordava. Poucos alunos discordaram. Os que discordaram foram convidados a exporem as suas opiniões. Isto gerou muito debate. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Brigas Recurso: Dilema escrito: Provocações Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-playing/Inversão de papéis (role reversal) De forma semelhante ao que aconteceu no outro grupo experimental, a presença de pessoas de diferentes níveis de desenvolvimento moral no pequeno grupo gerou muitas discordâncias e a idéia que dei foi que votassem e assumissem um posicionamento. A agressividade também estava presente no discurso dos participantes: “Acho divertido a provocação... o que seria do mundo sem brigas? (risos), mas o pessoal do meu grupo não acha...uma das meninas disse que ela soube que um tio dela, que mora no Rio, morreu em um briga porque foi revidar a provocação”. De forma semelhante ao que fiz no outro tipo de intervenção, pedi para que aqueles que eles expusessem os argumentos favoráveis e desfavoráveis ao ato de revidar as provocações, o que gerou muito debate. Nesse grupo, tive que cortar o debate e propus que o mais “afoitinho” em seu debate favorável a retaliação interpretasse uma cena de briga. O outro personagem (o que mata) foi interpretado por um aluno que estava discordando da retaliação. Sugeri o caso do tio da menina, após a autorização da garota. Ela contou como foi e eles reviveram a cena. Após a 277 interpretação em que o “afoitinho” representou o tio da menina e “morreu”, foi perguntado: como foi se colocar no lugar do tio dela? “Rapaz, não é muito bom morrer não, acho que minha mãe iria ficar muito triste”. Também perguntei ao que mata, como foi se colocar no lugar do matador e ele disse: se eu já não concordava com briga, agora que não concordo mesmo, fiquei pensando se isto fosse de verdade, eu poderia ser preso, perderia toda a minha vida, por uma bobagem... e o cara que morreu? Acho que não dormiria direito nunca mais, lembrando da cena. Deus me livre!” Considerações pessoais Neste primeiro dia de intervenção já ficou muito claro para mim a importância dessa proposta de intervenção. Os adolescentes parecem cultuar o ato de violência e a Lei de Talião. O que será da humanidade, se isto vira uma regra? Penso que a técnica de intervenção conseguiu mexer com alguns deles. Agora, o tempo no grupo que se submete a técnica “racional-afetiva” me pareceu muito curto. Tive que cortar o debate, o que achei uma lástima. Mas, por outro lado, a técnica de psicodrama parece que substituiu, com louvor, a continuação do debate. Na verdade, eles continuaram debatendo, só que desta vez, com a ajuda de uma situação mais concreta, além de poderem também exercitar a idéia de se colocar no lugar do outro. 14/08 – Reunião 02 Neste encontro informei que continuaríamos debatendo acerca do tema Brigas, só que dessa vez iríamos usar um vídeo para suscitar o debate. Perguntei o que eles acharam do encontro passado. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Brigas Recurso: Vídeo do Youtube: “Olho por olho, dente por dente” Técnica: Discussão de dilema moral Os participantes disseram que gostaram muito do encontro passado e que continuaram no intervalo das aulas conversando sobre o assunto. Após assistirem o vídeo do Youtube, os participantes foram convidados a debaterem acerca do que viram. Pedi que eles se reunissem com o mesmo grupo da aula anterior para debater. Depois pedi que a sala se dividisse em dois grandes grupos: os que concordavam com a lei “olho por olho, dente por dente” e os que não concordavam. Percebi que alguns deles 278 mudaram de “time”: alguns que estavam bastante agressivos na aula passada, disseram que mudaram, em certo sentido, de opinião: “Eu acho que a pessoa tem que revidar, algumas vezes, mas nem sempre é necessário. Aí mesmo nesse filme, não precisava disso tudo, por isso vim para esse grupo”. O debate foi posto e os grupos foram convidados para listarem seus argumentos no papel e depois exporem ao grande grupo. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Brigas Recurso: Vídeo do Youtube: “Olho por olho, dente por dente” Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-playing/Inversão de papéis (role reversal) Os participantes afirmaram estarem gostando do encontro e um deles disse que tinha sonhado com uma briga e que ele dizia ao que estava provocando que não era assim que se resolviam as coisas. Depois de assistirem o vídeo do Youtube, os mesmos procedimentos utilizados no grupo anterior foram utilizados, ou seja, reunião com os mesmos trios e depois divisão da turma em dois grandes grupos. De forma semelhante ao que aconteceu no outro grupo de intervenção, alguns tinham mudado de idéia quanto a lei da retaliação, um desses afirmou: “é que quando é na vida real, a coisa é diferente... dois boys, o pau rola. Mas, no caso do vídeo que é um casal. Não precisava descontar desse jeito. Além disso, eles já são grande”. Mais uma vez, interrompi o debate para fazer uma dinâmica. Pedi para eles reproduzirem a cena vista e, em seguida, solicitei que eles trocassem de papel. Desta vez, participaram dois alunos (um casal) que não havia participado na aula anterior. Depois das duas cenas, eles disseram como era fazer um personagem e depois como era fazer o outro. Mais uma vez eles relataram o desconforto que é sofrer a agressão. Considerações pessoais Neste encontro, a mudança de opinião de alguns alunos me chamou atenção, no sentido de que a aplicação da lei da retaliação parece ser contextual e influenciada pela familiaridade do evento. Quando a briga envolvia pares (debate elencado na Reunião 1), eles demonstraram ser mais agressivos. Mas, quando a confusão envolveu um casal adulto, alguns deles mudaram de opinião dizendo que o caminho não era aquele. Outro ponto que me chamou atenção foi o fato de um dos alunos ter relatado que sonhou, o que faz supor que os encontros têm mexido de fato com eles. 279 21/08 – Reunião 03 Nesta reunião pedi que eles se organizassem em duplas. Dessa vez, tentei organizá-los de modo que sempre um de estágio mais avançado ficasse com outro de estágio menos avançado. Pedi para eles ler os dilemas e responder as questões buscando chegar a uma única resposta. Lembrei que dessa vez, um teria que convencer o outro, pois não havia mais o processo de votação. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Brigas Recurso: Dilema escrito: Maiores x Menores Técnica: Discussão de dilema moral A confusão foi maior do que nunca em alguns grupos, pois ninguém queria ceder e escrever a opinião do outro. Uma dupla chegou com o papel em branco porque nenhum dos dois cedeu. Existiam os que defendiam a questão da hierarquia. Um deles relatou o caso de sua comunidade em que quem manda é o traficante grande e os pequenos têm que obedecer mesmo. O debate suscitou naturalmente. Tive que intervir com mais seriedade porque estava virando era um briga de verdade. Os levei a refletir sobre como é difícil fazer acordos e sobre a questão da hierarquia, que pode acontecer sem precisar apelar para a violência por intermédio do respeito (este discurso foi de uma das alunas que eu reforcei). Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Brigas Recurso: Dilema escrito: Maiores x Menores Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-playing/Inversão de papéis (role reversal) Do mesmo jeito que aconteceu no grupo anterior, houve resistência por parte de alguns alunos em ter que ceder a opinião do outro. Pedi que outros dois voluntários representassem uma cena e depois invertessem os papéis, problematizando a questão dos mais velhos x os mais novos. Dessa vez, perguntei se algum deles já tinha vivenciado algo parecido, ou como autor da agressão ou como vítima. Uma aluna disse que já foi vítima disso quando era pequena e que não quis mais ir para uma escola por causa disso. Debatemos sobre seus sentimentos em relação a isto (ela se emocionou). Outro aluno, disse que já fez muito pirralho sofrer, como seu irmão. E que acha que fez aquilo por causa da influência dos amigos. Considerações pessoais Achei muito rica a discussão, dessa vez amarrei, de forma mais explícita, a discussão em argumentos morais mais avançados, reforçado a opinião daqueles que demonstraram um raciocínio mais avançado, já que esta era nossa última reunião sobre o tema Brigas. 280 Sobre a técnica de psicodrama utilizada no grupo 2, o debate conseguiu suscitar questões pessoais e emocionar alguns com o depoimento da colega e levou um dos alunos a refletir sobre a sua própria ação enquanto agressor. 28/08 – Reunião 04 O tema mudou para drogas e, dessa vez, com o uso de um filme muito forte chamado “Bicho de sete cabeças”. Após assistirmos trechos do filme, abri a discussão no grupão e pedi a opinião deles acerca do uso de drogas. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Drogas Recurso: Filme: Bicho de sete cabeças Técnica: Discussão de dilema moral Como eu já esperava, existia um grupo que fazia apologia a liberação do uso de maconha, o que gerou muita discussão. A questão principal foi: liberdade individual x liberdade coletiva. As pessoas têm o direito de fumar sua maconha desde que não atinjam as outras pessoas? Mas, será que isto é possível? Se uma pessoa compra maconha para fumar na tranqüilidade em sua casa, ela não estará ajudando a manter o tráfico? Outro ponto de debate foi à questão do vício: vicia ou não? E se vicia, a pessoa vai para um hospital psiquiátrico? Ainda se questionou: A maconha é o caminho para as outras drogas? Houve nessa seção mais questionamentos do que respostas. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Brigas Recurso: Filme: Bicho de sete cabeças Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Carta As questões suscitadas no filme foram muito semelhantes a do grupo 1. Houve também mais questionamentos por parte dos alunos do que respostas. No segundo momento da reunião, pedi que eles escrevessem uma carta, caso eles tivessem no lugar do ator Rodrigo Santoro e, depois, a lesse para o grupo (quem quisesse). O teor da carta era o mesmo da discussão: até que ponto pode chegar a liberdade de uma pessoa? A minoria deles defendia a liberdade individual e a maioria deles diziam estar arrependidos de terem usado drogas e lamentavam a sua situação naquele terrível manicômio. Uma das cartas me chamou atenção, porque parecia que era do próprio aluno. Ele fugiu completamente do contexto do filme e relatou o que parecia está vivendo: “às vezes, acho muito legal ficar doidão, é uma fuga muito massa; mas, as vezes, faço as pessoas sofrerem com isso, como 281 minha mãe, quando eu pego as coisas. Ela tem que trancar os móveis com cadeado. Ela não merece este sofrimento, nem eu”. Considerações pessoais Desconfio que alguns usam drogas. E que, de fato, mexi com um conflito pessoal. Me senti muito desgastada emocionalmente no final desse encontro. Existe sempre uma preocupação em reforçar os argumentos mais elevados e, quando o aluno está falando, já fico pensando: que estágio é este? É um esforço mental demasiadamente grande. Além disso, se aproximar desses adolescentes e saber que a droga é uma realidade e não apenas um filme em suas vidas, me deixou um pouco angustiada, sem saber o que fazer, sem saber qual é o meu papel ali. 04/09 – Reunião 05 Comecei a reunião perguntando como eles estavam e disse que iria mostrar outro vídeo. Este vídeo mostra cenas muito fortes. Uma inclusive aparece os meninos pelados em uma instituição de re-socialização. Mostra as diferentes facetas da droga e revela como o usuário sustenta o crime, como acontece a guerra do tráfico. A discussão foi aberta para o grupão. Mais uma vez muitos questionamentos. Dessa vez, os defensores das drogas ficaram mais tímidos porque estavam lutando contra um documentário, que mostra vidas reais e pessoas reais se destruindo. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Drogas Recurso: Vídeo do Youtube: Notícias de uma guerra Técnica: Discussão de dilema moral Como já foi dito na introdução, emergiram muitos questionamentos e os defensores das drogas ficaram mais calados. Uma das alunas até brincou com o silêncio dos “defensores” e disse: “Estão calados... é porque contra fatos não existe argumentos!” Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Drogas Recurso: Vídeo do Youtube: Notícias de uma guerra Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Bonecos/Máscara De forma semelhante ao que aconteceu no grupo anterior, o documentário silenciou aqueles que faziam apologia as drogas. 282 Desta vez, trouxe duas opções para os alunos: fantoches e máscaras, e pedi que eles escolhessem um tipo de estratégia para trabalhar. Eles preferiram os fantoches. Pedi que eles escolhessem uma cena do documentário pra reproduzir com os fantoches. Eles acabaram inventando uma. Quando eles acabaram a cena que tinha o depoimento de um usuário de drogas, perguntei como era ser aquela pessoa ao “ator”, enquanto ele estava ainda atrás dos panos do teatro de fantoche. Ele disse: “É triste, é um vazio danado. Sem futuro. O futuro de drogado só é dois: cadeia ou morte”. Uma menina disse que o irmão dela usava droga e estava no CEA porque roubou uma carteira de um policial (ele não sabia que ele era policial, tava muito doidão). “Ele lá, é feito de mulherzinha. Ele só usava drogas e lá tem menino bandido de verdade. Meu irmão é um coitado, acabou com a vida. Mas, ele é tão viciado que ainda me pede para arrumar dinheiro para ele conseguir droga. Não aprende não”. Considerações pessoais Considero o filme um bom suscitador de conflitos morais. É uma boa estratégia, principalmente quando ele traz fatos da realidade. Mais uma vez, a técnica de psicodrama mostrou sua riqueza, sensibilizando as pessoas a sentirem a dor do outro e, até mesmo, a sua própria dor, como foi o caso da menina que deu o relato do seu irmão. Nesta reunião, eu me coloquei a disposição deles se eles quisessem conversar depois pessoalmente. Disse que eu era psicóloga e podia ouvi-los de forma sigilosa, caso eles quisessem “desabafar”; também falei que sabia que aquelas reuniões poderiam mexer com seus sentimentos, mas, a idéia das reuniões não era trazer sofrimento, mas sim crescimento na forma de vê o mundo. 11/09 – Reunião 06 Nesta reunião foi apresentado um dilema escrito e os participantes foram solicitados a se organizarem em duplas e, em seguida, a debaterem suas respostas. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Delinqüência Recurso: Dilema escrito: Traficante de drogas Técnica: Discussão de dilema moral A questão principal do dilema foi o problema da tortura. Mais uma vez, alguns defenderam a tortura, alguns com argumentos mais elaborados (“Para o bem geral da sociedade, pode ser até aceitável”), outros com argumentos menos evoluídos (“Deve-se bater em bandido mesmo”). Uma aluna levantou a idéia de que pode-se negociar de outras formas, como o afrouxamento da pena. Perguntei o que eles achavam dessa solução. Sobre a terceira questão do dilema, aqueles que afirmaram que deveriam torturar os 50, mesmo sabendo que poderia ter inocentes, a mesma aluna levantou a questão: e se você fosse um traficante inocente, você queria? Ele disse que sim. 283 Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Delinqüência Recurso: Dilema escrito: Traficante de drogas Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Câmara lenta De forma semelhante ao grupo anterior, houve argumentos mais elaborados e outros menos elaborados que sempre estavam sendo problematizados por mim. A dinâmica do psicodrama utilizada foi a da câmara lenta. Os alunos foram convidados a contracenarem e, cada um, recebeu um papel com um símbolo que significava inocente ou culpado. Existia um torturador e todos eram traficantes. A cena foi elaborada em tempo real, depois foi pedido que eles repetissem a cena em câmara lenta. No final, foi revelado quem era inocente e quem era culpado. Depois eles foram convidados a dizerem o que sentiram se colocando no lugar dos personagens. Alguns que representavam os inocentes, disseram que se sentiram muito injustiçados. Outros que representavam os culpados, disseram que a tortura é muito ruim até para quem é culpado. Teve um aluno que disse que ficou sem ar, lembrando de um filme em que a pessoa era torturada com um saco. Considerações pessoais Achei interessante a fala de uma aluna do grupo 1, que mesmo não tendo a empatia sendo trabalhada em seu grupo, fez uma colocação que demonstra um bom desenvolvimento desta: “e se você fosse inocente?” Mas, por outro lado, o rapaz que foi questionado, não abstraiu como ela queria e disse: deveria ser torturado. Será que em um processo de sensibilização, em que ele sentisse “na pela” a tortura, ele não mudaria de idéia? No grupo 2, o exercício que começou com ar de brincadeira, parece que os sensibilizou de alguma forma. Um dos alunos relatou até que ficou sem ar, durante a cena. 18/09 – Reunião 07 Hoje passei cenas do filme “Última parada: 174”, o que gerou muita polêmica, pois existe um número significativo de aluno que são bastante severos com “bandidos”. A discussão do filme foi realizada no grupão. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Delinqüência Recurso: Filme: Última parada: 174 Técnica: Discussão de dilema moral 284 O filme, conforme eu imaginava, gerou muita polêmica, principalmente porque foi baseado em um caso real, que chocou a população. Alguns disseram que foi bom vê o filme porque conheceu o outro lado da vida do seqüestrador do ônibus, que a TV não mostrou. Utilizei os procedimentos normais da técnica de Kohlberg, problematizando a discussão e reforçando o discurso mais avançado. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Delinqüência Recurso: Filme: Última parada: 174 Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Cena de Julgamento O debate também gerou muitas polêmicas, mas tenho percebido que a ênfase em um discurso punitivo não é tão grande neste grupo quanto no outro. Utilizamos a técnica da Cena Julgamento do Psicodrama, em que os participantes formaram um Juri popular para julgar o caso, convidei um aluno que tem um excelente poder de persuasão para ser o advogado (Estágio 5), um aluno que sempre defende a punição para ser o réu (o seqüestrador) e uma aluna se candidatou para ser a promotora e outra para ser a juíza. Foi muito interessante vê-los atuando. Todos se envolveram com a técnica. Os jurados faziam anotações e os advogados utilizaram cenas do filme para defender seu cliente. Neste caso, fizemos uma adaptação da história, imaginamos que o seqüestrado tivesse sobrevivido. O veredito final foi: condenado a 10 anos de prisão, com 5 anos de serviços prestados a comunidade, tendo que voltar a estudar e fazer aulas de música para desenvolver sua habilidade no Rap. Quando o personagem que fez o réu foi perguntado sobre como foi se colocar no lugar do rapaz, ele disse: “Fica mais fácil de entender ele agora. Pensar sobre o que ele viveu é diferente de sentir, de ser ele por alguns minutos. Mas, de qualquer forma, ele tem que pagar pelo o que fez, mas esta pena deveria ajudá-lo a construir uma nova vida. Algumas pessoas só precisam de uma oportunidade. Outras não, são ruins mesmo e parece que não têm jeito (risos)” Considerações Pessoais Uma questão que tenho percebido é que os participantes mais punitivos são os do estágio 4, eles são muito legalistas e radicais: é assim e acabou-se. Tenho observado discursos mais evoluídos entre os participantes do estágio 3 do que os do estágio 4, quando o tema é “presos” e “punições”. Outro ponto é que tenho notado um discurso mais punitivo entre os participantes do grupo 1, do que entre os participantes do grupo 2. Será que as técnicas de psicodrama têm conseguido sensibilizar esses alunos? Sobre o Julgamento, achei muito legal vê-los, dessa vez, mais civilizados para entrar em um acordo. Adorei a idéia de fazer o réu estudar e ser colocado para estudar Rap. A discussão foi mais profunda do que eu pensava. Eles refletiram sobre o sistema carcerário e deram uma segunda chance para o réu recomeçar a vida. Muito interessante também foi vê o que o rapaz que interpretou o réu, defendendo o réu. Ele que é tão punitivo, fez colocações na defesa do réu e sensibilizou os jurados. Ele foi até mais significativo na escolha pela condenação do que o próprio advogado de defesa. E sua colocação sobre o fato de se colocar 285 no lugar do outro, me fez refletir como a dramatização é um técnica interessante para desenvolver a empatia: “pensar sobre o que ele viveu, é diferente de sentir” 25/09 – Reunião 08 Neste encontro, apresentei um vídeo do youtube que questiona a eficácia da pena de morte. A partir desse vídeo, levantou-se a discussão sobre o tema. Pedi que a sala se dividisse em dois grupos, os favoráveis e os desfavoráveis e que cada um lançasse seus argumentos. Ainda foi lançada a proposta de um terceiro grupo “favorável, em certas situações”. Esta proposta foi lançada no grupo 1 e eu já cheguei com a sugestão no grupo 2 da formação de três grupos. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Delinqüência Recurso: Vídeo do Youtube: campanha contra a pena de morte Técnica: Discussão de dilema moral Neste grupo, 7 participantes foram contrários a pena de morte, 1 favorável em qualquer situação e 4 favoráveis em crimes graves. Mas, após o debate, 1 participante tornouse contrário a pena máxima. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Delinqüência Recurso: Vídeo do Youtube: campanha contra a pena de morte Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Carta Neste grupo, inicialmente, 8 participantes foram contrários a pena de morte e 4 favoráveis em crimes graves. No final da sessão, apenas 1 mostrou-se favorável a pena de morte em situação de crime grave. Quanto a técnica de psicodrama, foi pedido para que os participantes se imaginassem como um condenado. Foram sorteadas as seguintes situações para que eles se colocassem no lugar de um condenado que cometeu crimes graves e escrevessem uma carta: 1) condenado inocente; 2) condenado com problemas psiquiátricos; 3) condenado por matar dezenas de pessoas (foram crimes encomendados por um ricaço não identificado); 4) condenado culpado. Infelizmente, não deu tempo de todos os participantes lerem as cartas. Considerações pessoais Achei muito interessante a mudança de lado de alguns participantes após a intervenção. Mas, o mais interessante foi a mudança de discurso de alguns deles acerca da pena de morte. Note-se que, em termos numérico, a mudança mais significativa foi no Grupo 2. 286 02/10 – Reunião 09 Neste encontro, ainda tendo como grande tema a questão da delinqüência, teve-se como sub-tema o problema da redução da maioridade penal. Após ser mostrado o vídeo, abriu-se a discussão. Desta vez, eu perguntei quem era a favor e quem era contra e organizei o grupo no sentido inverso, ou seja, aqueles que eram favoráveis deveriam, mesmo sem concordar, elaborar argumentos para a não redução da maioridade penal em conjunto, depois expor para o grande grupo; e, aqueles que eram desfavoráveis deveriam defender a redução. Foi apenas uma tentativa de fazê-los pensar o outro lado. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Delinqüência Recurso: Filme: Redução não é a solução Técnica: Discussão de dilema moral Os adolescentes são muito empolgados... tão empolgados que acabaram defendendo com tanto gosto a opinião contrária a sua que até parecia que eles acreditavam naquilo. No final, fiz uma síntese dos argumentos no quadro e os problematizei com a ajuda de todos. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Delinqüência Recurso: Filme: Redução não é a solução Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Cena de Julgamento Para debater a questão da redução utilizou-se a mesma estratégia utilizada no grupo 1. Mas, após o debate, foi realizado mais um julgamento. Desta vez, o réu era um adolescente. Em seguida, foi perguntado se ele deveria ir para uma instituição de medida socioeducativa ou para um presídio comum. Também foi pedido para os adolescentes que eles se imaginassem indo para um presídio por ter cometido um crime. Como seria? Uma das alunas retomou a história do seu irmão que está no CEA em detrimento a drogas, ela disse que se já é ruim uma instituição de medida sócio-educativa, imagina um presídio de verdade, onde tem todo o tipo de pessoas? Considerações pessoais Penso que tenha tido mudança entre os participantes. Mas, já me sinto cansada dessa rotina de ter que preparar material semanalmente. Por outro lado, o cansaço vai embora quando os vejo crescendo e fazendo comentários dos quais eles mesmo se impressionam. Desde a primeira vez que tive contato com a leitura de Kohlberg, me senti instigada a realizar uma intervenção. E, só agora no doutorado estou podendo realizá-la. Eu pensava que dava trabalho. Mas, o trabalho é infinitamente maior do que eu imaginava. Principalmente na hora da intervenção em que se mapeiam os estágios e há um esforço mental para tentar fazê-los entrar em conflito. Que pergunta utilizar? Antes era pior, pois eram todos contra um. Ou 287 melhor, contra eu e uns três alunos que pensavam de forma mais evoluída... quem sempre dá mais trabalho são os mais legalistas (estágio 4), que até possuem argumentos interessantes, mas não se permitem enxergar o outro lado. 09/10 – Reunião 10 Voltamos a utilizar um dilema escrito. Pedi para eles se organizarem em trios. Um de cada estágio. Se bem, que eu acho que alguns já mudaram de estágio. Depois fizemos uma discussão geral. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Roubo Recurso: Dilema escrito: O supermercado Técnica: Discussão de dilema moral Neste encontro, logo de início, os argumentos do estágio 4 e 3 entraram em conflito. O que vale mais, uma amizade ou a lei? Mas, depois de muito “bate-boca” essas idéias se uniram em uma única idéia: “Por meio da amizade, ele conversa com seu Jacinto e diz que ele não pode fazer aquilo e pede que ele devolva o produto. Faz uma campanha para ajudá-lo com os seus colegas de trabalho. Caso seu patrão fosse compreensível, ele informaria ao patrão e pediria que ele fizesse um “bico” no final de semana, como forma de se desculpar pelo roubo”. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Roubo Recurso: Dilema escrito: O supermercado Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Fantasia dirigida O debate neste grupo também caminhou para uma solução apaziguadora, em que não se deixou o ladrão impune, sendo chamado para conversar. Mas, também propuseram o ajudar com uma quantia em dinheiro, que seria paga com o trabalho de seu Jacinto no supermercado (algo leve, como empacotador, já que ele é aposentado). A dinâmica foi realizada com a reprodução da cena em que se propunham vários finais. E, o mais votado foi o explicitado no parágrafo anterior. 288 Considerações pessoais Os alunos, no caso do dilema do roubo, parecem ter chegado em um mesmo nível de elaboração moral. Será que não há diferença entre as técnicas? Por outro lado, quando os temas são mais polêmicos, como pena de morte e redução da maioridade penal, o esforço de se colocar no lugar do outro (sempre realizado pelos integrantes do Grupo 2, que já dizem um para o outro – se coloca no lugar dele!) parece fazer a diferença na tomada de decisão. Além disso, tenho a impressão que os alunos do grupo 2, chegaram muito mais rápido a solução final do que os do grupo 1. 16/10 – Reunião 11 O dilema escrito foi apresentado aos estudantes e foi debatido em quartetos. Depois foi colocado para o grupão as opiniões. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Aborto Recurso: Dilema escrito: Aborto Técnica: Discussão de dilema moral O debate foi muito diversificado de opiniões. Desta vez o discurso religioso apareceu com veemência. A questão do valor da vida também foi colocado em cheque. Muita desinformação foi mostrada. Eles não conhecem o que a lei brasileira diz sobre o aborto e tem informações distorcidas sobre a posição da igreja quanto a isto. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Aborto Recurso: Dilema escrito: Aborto Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-taking e Inversão de papéis (role reversal) A questão da desinformação também apareceu neste grupo, o debate religioso foi acirrado e a questão do direito a vida também foi problematizada. Quanto à técnica de inversão de papéis, dois participantes que diziam não ter opinião formada sobre o assunto foram solicitados a realizar uma cena em que trocavam de papéis (mãe- bebê). No primeiro momento, a mãe estava decidida a fazer o aborto e o bebê tinha que convencê-la do contrário. No segundo, a mãe tinha que convencer o bebê que o aborto era o melhor para ele. Nos dois casos, pedi aos participantes que estavam na platéia que gritassem as falas dos personagens segundo o que eles acreditavam (como se eles fossem as vozes na mente), como exemplo: “Bebê diz a mãe que se ela fizer isso você não terá a oportunidade de 289 amá-la”; “Mãe, diz ao bebê que se você não abortar, ela terá que conviver com um rosto parecido com o da pessoa que a violentou”’. Foram cenas muito fortes, em que percebi que alguns estavam emocionados. Considerações pessoais Acho que hoje eu não fui muito eficaz nas minhas intervenções na parte da discussão do dilema e eu sei exatamente o motivo. É que eu não tenho uma idéia muito bem definida sobre o tema aborto. Ele ainda é muito confuso em minha cabeça. Neste sentido, meu papel foi mais de dizer: “e você o que acha do que fulaninha falou?”; “você concorda com ela?”; “e se o caso fosse de um estupro?”. Ou seja, de simplesmente problematizar ao invés de reforçar argumentos. No que se refere ao psicodrama, acho que ele foi muito rico. Mas, por outro lado, não acho que ele foi muito esclarecedor. Na verdade, bagunçou mais a minha cabeça do que a organizou. Talvez os alunos tenham tido a mesma sensação. 23/10 – Reunião 12 O filme apresentado problematiza a questão da legalização do aborto e mostra a realidade, em forma de documentário, das maternidades públicas que atendem mulheres vítimas de estupro e que interrompem a gravidez de forma clandestina. Após a apresentação do filme, foi aberto o debate no grupão. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Aborto Recurso: Filme: O aborto dos outros Técnica: Discussão de dilema moral A questão da legalização do aborto dividiu opiniões. Na verdade, penso que a questão não está muito bem amadurecida na cabeça de ninguém. A diferença de desenvolvimento moral só apareceu quando alguns disseram que a gravidez iria fazer a menina perder a vida dela, iria perder as festas (de forma bem hedonista), por isso deveria legalizar. Tentei trabalhar este tipo de argumento, fazendo-os refletir que a falta de diversão não justifica a legalização de um aborto. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Aborto Recurso: Filme: O aborto dos outros Técnicas: Discussão de dilema moral 290 Técnica do Psicodrama: Fantasia dirigida Argumentos hedonistas também apareceram neste grupo, o que é altamente compreensível em um grupo de adolescentes. Sobre a técnica do psicodrama, criou-se duas cenas: uma situação em que uma adolescente engravida porque não tomaram as devidas precauções...e, o final é dirigido em dois sentidos: abortar e não abortar; e uma cena em que a garota é estuprada...com também dois finais. Após o término da cena, pedi que os participantes relatassem como foi ser aqueles personagens e o que eles sentiram. Considerações pessoais Acho que fui mais útil neste encontro acerca do aborto do que no anterior. Desta vez, encontrei um ponto para ser trabalhado: o hedonismo! E, tentei descentrá-los do seu próprio eu. 30/10 – Reunião 13 Nesta reunião foi apresentado um vídeo do youtube que problematiza a questão do aborto; mais precisamente, a questão do valor da vida. Na verdade, uma tentativa de reflexões voltadas para o estágio 5. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Aborto Recurso: Vídeo do Youtube: Aborto x Vida Técnica: Discussão de dilema moral A discussão voltou-se para o Direito a vida. Foi um debate muito filosófico, em que se questionou muito acerca de quando começa a vida. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Aborto Recurso: Vídeo do Youtube: Aborto x Vida Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Carta A discussão também gerou em torno do direito a vida e das questões filosóficas existentes. Houve também a técnica da carta em que se pedia que os participantes escrevessem uma carta, como se fosse o bebê e outra como a mãe do bebê. 291 Considerações pessoais A discussão de hoje parece que não foi alcançada por todos. Foi demasiadamente filosófica e em um nível de abstração que nem todos parecem alcançar. 06/11 – Reunião 14 Finalmente, mudou-se o tema. Desta vez, um tema mais leve: Ecologia. Foi apresentado aos alunos o divulgado dilema da Capivara de Ângela Biaggio e colaboradores. Eles foram convidados a se reunir em quartetos, depois a se unirem em um grande grupo. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Ecologia Recurso: Dilema escrito: dilema da capivara Técnica: Discussão de dilema moral O debate, desta vez, foi mais consensual. Houve uma concordância, quase unânime de que se caçar para comer é aceitável, mas caçar para se divertir não. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Ecologia Recurso: Dilema escrito: dilema da capivara Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Personificação De forma semelhante ao que aconteceu no grupo anterior. O debate foi mais consensual e houve uma concordância em defesa dos animais. A técnica de psicodrama foi demasiadamente descontraída. A proposta era que um fizesse o papel da capivara e outro do caçador. Mesmo em meio a risadas, tentei fazê-los se colocar no lugar do animal que morria. O que fez o papel da capivara, comentou que animal também é uma vida e a sensação de está sendo perseguido para morrer não é nada bom. Ele comparou a sensação a um filme em que se existe perseguição e a pessoa fica sem fôlego e a um sonho em que a pessoa sonha que está sendo seguida e acorda aperreada. Considerações pessoais A reunião de hoje foi mais tranqüila que as demais em termos de debates. Houve um maior consenso entre as respostas acerca do tema ecologia. Em função disso, fiquei pensando 292 se este tema não deveria ter vindo antes, já que é um tema mais “light”. Fica, então, esta questão para ser considerada no planejamento da próxima intervenção! 13/11 – Reunião 15 A reunião agora contou com um recurso visual e que deixou as pessoas inquietas em suas carteiras. O debate foi realizado no grande grupo. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Ecologia Recurso: Vídeo do Youtube: Maltrato de animais Técnica: Discussão de dilema moral A questão levantada foi sobre o fato das pessoas (racionais) maltratarem os animais irracionais. Problematizei a questão de alguns deles não aceitarem a morte de um animal, mas aceitarem a pena de morte, redução da maioridade penal e aborto. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Ecologia Recurso: Vídeo do Youtube: Maltrato de animais Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Personificação A discussão foi conduzida na mesma direção do grupo anterior. Sobre a técnica de psicodrama, as brincadeiras continuaram, o que é natural em um grupo de adolescentes. Pedi para que também interpretassem a caça de um ser humano criminoso. Neste caso, o caçador disse que não sentia pena. A justificativa dada foi que ele é racional e o animal não. Um aluno perguntou ao caçador: “qual é a diferença do criminoso que mata e do caçador que mata o que matou? Todos não são assassinos? Justifica matar alguém por vingança? Resolve o problema? Que racionalidade há quando você diz que não tem pena da morte de um bandido? Você é melhor que ele, em que? São todos assassinos, na minha opinião.” Considerações pessoais Como havia uma certa concordância nas respostas em relação aos animais, tentei puxar a discussão acerca das pessoas que cometem crimes. A colocação do participante do Grupo 2, após intervenção deixou todos em estado de reflexão, parados e calados, sobretudo 293 porque este era um aluno que não se colocava muito no debate, o que demonstra que o fato de está calado, não significa que não haja reflexão. No final do encontro, meu monitor realizou uma entrevista com os participantes, sobre o efeito da intervenção segundo a opinião dos alunos. Outros dias da semana foram utilizados para o término das entrevistas. Ao olhar as entrevistas, percebi que cometi um erro em não têlas realizado pessoalmente, já que as respostas deram-se em frases curtas e poderiam ter sido melhor exploradas se realizadas por uma pessoa mais experiente no uso dessa técnica. 20/11 – Reunião 16 O dilema foi apresentado por intermédio de um vídeo do Youtube, que tratava da questão da violência contra o idoso, que não teve, na verdade, grandes dilemas. Daí eu trouxe, mais uma vez, a questão do agressor do idoso. Aí sim, a polêmica foi lançada. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Violência Recurso: Vídeo do Youtube: Violência contra o idoso Técnica: Discussão de dilema moral O dilema sobre a violência contra o idoso, tornou-se um dilema não em função do idoso agredido, mas em função do agressor do idoso. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Violência Recurso: Vídeo do Youtube: Violência contra o idoso Técnicas: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-playing A discussão tomou a mesma direção do grupo 1. Mas, neste grupo, os participantes tiveram a oportunidade de refletir acerca do agressor (o que motiva uma pessoa a cometer tamanha violência?). E, mais do que isto, a tentar sentir o que o agressor estava sentindo naquela hora, não justificando o que ele fez, mas fazendo-os refletir que errar é humano. Perguntei se eles algum dia já tinham perdido o controle com um irmão mais jovem ou com um amigo chegando a bater nele descontroladamente. Perguntei se eles já tinham gritado com alguém e depois se arrependido. Muitos deles confessaram que sim. Após esta tentativa de fazê-los se colocar no lugar do outro, um exercício não muito fácil, já que este outro fez algo humanamente imperdoável; eles foram convidados a refletirem que do mesmo jeito que o 294 agressor perdeu o controle, eles não podem perder o controle e querer sair batendo em todos aqueles que agridem alguém. Considerações pessoais No final deste encontro, fiquei pensando acerca dos vídeos que vem sendo mostrados. Mesmo que eles sejam utilizados de forma diferente nos Grupos, penso que ele deve mobilizar, por si só, sentimentos empáticos. Só que no grupo 1, se mobiliza sentimentos empáticos de forma não intencional, e, no grupo 2, de forma intencional. Por outro lado, quando não trabalho a empatia intencionalmente no grupo 1, os participantes acabam ficando livres para sentir empatia por quem quiser e, pelo o que eles disseram, eles sentiram uma forte empatia pela pessoa idosa, o que ocasional um ódio mortal pelo o agressor, o que foi muito difícil mudar apenas no nível do discurso. Considero, neste caso, uma boa estratégia o que fiz no grupo 2, que é mobilizar um sentimento empática pelo agressor (tentar entendê-lo, mesmo que nada justifique tamanha brutalidade). Talvez, esta seja a única forma de diminuição do ódio gerado pelas imagens. 27/11 – Reunião 17 Esta reunião tomou uma direção semelhante a da anterior: o foco foi o agressor. Desta vez, se trabalhou a questão da agressão contra a criança em um nível interpessoal (adultos que batem em crianças) e em um nível mais amplo, em que se considerou o descaso político pela miséria da população. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Violência Recurso: Vídeo do Youtube: Violência contra criança Vídeo do Yotube: Violência, fome, guerra, preconceito Técnica: Discussão de dilema moral A justiça com as próprias mãos mais uma vez foi colocada em cheque. Chego até a compreender a revolta dos adolescentes, é que as imagens são tão fortes que a vontade de fazer justiça com as próprias mãos flui quase que naturalmente. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Violência Recurso: Vídeo do Youtube: Violência contra criança Vídeo do Yotube: Violência, fome, guerra, preconceito Técnica: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Carta 295 Neste grupo, após o debate, foi pedido que os adolescentes escrevessem uma carta para um político, falando acerca do que eles viram. Depois comentei que existem formas inteligentes de se lutar contra as injustiças, e que a violência não seria uma delas. Pedi que eles listassem algumas. Aqui estão algumas das sugestões dos alunos: se juntar em grupo e fazer campanhas para ajudar os necessitados; se juntar e ir em instituições fazer visitas, como os abrigos; juntar brinquedos; fazer abaixo assinados; votar certo; ir até os políticos exigir mudanças; fazer protestos e passeatas... Considerações pessoais Mais uma vez percebi o perigo de certos vídeos enquanto mobilizador de revolta. No grupo 2, esta raiva foi contornada com a reflexão de que existe outras forma de se reivindicar direitos, que não a violência. Esta reflexão só foi construída, inspirada na carta construída pelos adolescentes no grupo afetivo. Além do mais, uma intervenção que trabalha os sentimentos, ajuda na canalização destes. A carta foi uma ótima forma de fazê-los colocar para fora toda a raiva e, mais do que isto, de fazê-los pensar em soluções também. 04/12 – Reunião 18 O debate suscitou a partir de um vídeo chamado “Pro dia nascer feliz” que retrata os problemas existenciais típicos da adolescência, como gravidez na adolescência, namoro, iniciação sexual, etc. A discussão aconteceu nos pequenos grupos (trios) e, em seguida, o debate aconteceu entre todos. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Adolescência Recurso: Vídeo do Youtube: Pro dia nascer feliz Técnica: Discussão de dilema moral Este foi um dos temas que eu mais percebi vergonha entre os participantes. Parece que quando o tema tem relação com as nossas próprias vidas, afeta de forma mais direta, principalmente quando o tema é sexualidade. A virgindade foi um tema que trouxe muito debate, e vergonha entre alguns. O discurso religioso ainda é forte entre alguns adolescentes e a questão do tratamento diferenciado entre o gênero feminino e masculino é notória. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Adolescência 296 Recurso: Vídeo do Youtube: Pro dia nascer feliz Técnica: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-playing Além do debate que caminhou de forma semelhante com o grupo 1, pediu-se que os adolescentes se colocassem no lugar dos personagens que eles mesmo criaram em uma estória que se baseava no vídeo e falava sobre a primeira vez de uma menina e de um menino. Eu pedi que a platéia fizesse a “voz do pensamento” dos personagens em conflito (“Deus castiga!”; “Mas, a vontade está maior que tudo”; “Você vai se sentir culpada”; “Culpada, mas feliz!”; “E se você engravidar?”...). Considerações pessoais Foi muito interessante esta reunião, pois ela tomou uma dimensão em um nível muito pessoal e revelou o peso que a cultura tem sobre o desenvolvimento moral dos adolescentes, como a religião e a questão de gênero (o homem pode e a mulher não pode). No grupo 2, tudo foi mais intenso, porque não foi apenas falar sobre, mas representar e compartilhar sentimentos com os personagens da história. 11/12 – Reunião 19 Neste encontro, eu pedi que os participantes escrevessem um dilema que ele já viveu ou está vivendo e registrassem seu desejo ou não de compartilhá-lo com todos (sem se identificar). Além disso, pedi que eles escrevessem a solução que deram (se fariam diferente hoje) ou que registrassem, caso o dilema seja atual, que decisão estão mais propensos a tomar. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Adolescência Recurso: Criação de Dilema escrito: Meu dilema Técnica: Discussão de dilema moral Os participantes gastaram muito tempo construindo o Dilema e apenas um aceitou compartilhá-lo com o grupão. Os dois dilemas já tinham acontecido. Um era sobre traição, em que a pessoa decidiu trair... era um primo (a), que sempre gostou muito, era um amor mal resolvido, que foi resolvido naquele dia. A pessoa disse que o primo (a) era muito grudento em seus carinhos e que foi bom ter acontecido isto porque ele (a) percebeu que era algo só fantasioso e, que, na verdade, gostava mesmo era do namorado (a). Esta traição não foi dita para ninguém e, desta forma, a pessoa disse que não magoou o namorado (a) e que, neste sentido, foi muito bom ter acontecido aquilo porque a pessoa percebeu o quanto amava o namorado (a) e o quanto o amor em relação ao primo (a) era fantasioso. A pessoa disse que 297 este foi um caso a parte e que é totalmente contrária a traição. E que se tivesse gostado de ficar com o (a) primo (a) teria acabado o namoro. Não deu tempo debater o dilema. Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Adolescência Recurso: Criação de Dilema escrito: Meu dilema Técnica: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-playing Os participantes gastaram muito tempo construindo o Dilema. Apenas um aceitou compartilhar o dilema. Era sobre contar a traição do pai ou não em relação a sua mãe. Ele disse que seu pai era muito calmo e nunca imaginou que ele fizesse aquilo. Então, ele não teve coragem de contar. Aquilo sempre fica martelando em sua cabeça. E, desta forma, continua sendo um conflito. Decidimos representar vários finais para ajudar a pessoa que estava com conflito e elegermos um. Não deu tempo de fazermos a dramatização, nem o debate. Considerações pessoais Coincidentemente os dilemas foram sobre traição, um tema não trabalhado, mas que revela que os adolescentes já entendem exatamente o que é um dilema. Os demais adolescentes não quiseram nem me entregar o dilema, porque disseram que eu conhecia a letra. O fato é que eles refletiram sobre seus dilemas. O tempo foi curto para concluirmos, mas, temos ainda mais um encontro. 18/12 – Reunião 20 Esta foi nossa última reunião. E, tinha todo um clima de despedida. Disse que tínhamos que concluir a atividade que ficou pendente sobre o dilema da traição, e depois faríamos uma despedida. Condição 1: Técnica “racional-discursiva” Tema: Adolescência Recurso: Debate dos dilemas criados pelos alunos Técnica: Discussão de dilema moral O dilema criado neste grupo não despertou muita discordância, porque a forma que a pessoa conduziu a sua justificativa convenceu alguns, pois ela se preocupou em não magoar o namorado (a) e disse que era contrária a traição. Mas, de qualquer maneira, houve uma polêmica em o fato de que não se pode trair nunca e se pode trair em circunstâncias extremas. 298 Condição 2: Técnica “racional-afetiva” Tema: Adolescência Recurso: Debate dos dilemas criados pelos alunos Técnica: Discussão de dilema moral Técnica do Psicodrama: Role-playing Na dinâmica em que envolvia o dilema de contar ou não para a mãe que o pai estava traindo, dentre os finais elaborados, o final escolhido foi a do filho procurar o pai para conversar, e, caso ele não conseguisse, a estratégia sugerida era que ele escrevesse uma carta dizendo tudo o que estava sentindo e que queria que o pai tomasse uma decisão entre a pessoa ou a mãe, porque ele estava com vontade de contar a mãe. Pediu que o pai refletisse sobre o que era mais importante para ele: a família ou uma mulher qualquer. E que se ele visse novamente a mulher com ele, ele não teria uma outra chance. Ele disse que a mãe dele é muito honesta para ter que está vivendo aquilo. Levantei a questão de que se fosse o contrário, ou seja, se a mãe tivesse traído o pai, ele deveria ter a mesma atitude, com a intenção de problematizar a questão do gênero. Considerações pessoais Este foi o nosso o último encontro. Os debates foram tranqüilos e rápidos. Trouxe uma torta e uns salgados como um gesto de agradecimento pela participação deles naqueles encontros em que nenhum faltou, atendendo ao que solicitei. Disse que os encontros deixariam saudades. Pedi que eles dissessem o que eles levariam daqueles encontros. No grupo 1 foi dito: “É preciso debater”; “Temos que aprender a ouvir, para depois falar”; “Não devemos falar todos de uma vez”; “Temos que tentar entrar em um acordo”. E, no grupo 2 foi dito: “se coloque no lugar dele! O que você sentiu? (risos)”; “tentar ver as coisas em diferentes ângulos”; “ a lei é maleável, quando se tem um bem maior, como a vida”. Achei muito interessante essas colocações, que demonstram que a intervenção se focou em questões diferentes. Uma mais focada no debate, a do Grupo 1; e outra na capacidade de se colocar no lugar do outro. Outro ponto que acho que devo registrar, que pode até ter sido coincidência: os participantes do grupo 2 vieram se despedir de mim e de meu monitor com um abraço ou aperto de mão. Talvez seja porque neste grupo as reuniões eram mais descontraídas e eles se sentiram mais livres para tal atitude. Ou trabalharam mais a questão da timidez e dos sentimentos nas peças do que no grupo 1. O grupo 1 apenas deu um até logo de longe ou vieram agradecer pelo trabalho, mas sem contato físico. 299