CUIDADO COM O VENENO DAQUELA MAÇÃ
Postura curva, um pouco corcunda, denotando fragilidade. Aparência humilde. Hipocrisia
disfarçando a inveja no mais alto grau. Olhos espreitadores. Persuasão a serviço da destruição.
Destruição? Sim! Devia ser destruída. A beleza, a pureza, a bondade. Isso tudo incomodava muito.
Impunha um código moral que restringia a satisfação dos desejos: ser a mais bela, a mais admirada,
a rainha por excelência. E, além disso, o espelho era implacável. O seu enunciado dilacerava o ego.
Apesar dos esforços, a destruição ainda não se consumara. Era preciso um plano melhor. Veneno?
Sim! Veneno. Sob belíssima aparência. E, assim, faria com que comesse aquela maçã. Coma, coma,
coma, Branca de Neve. E, então, reinaria sozinha. Não haveria mais comparação.
Já não há mais pureza, beleza, bondade. Desnecessário uma vida reta, justa, calcada na fé, na
esperança e na caridade. Todos serão mesmo “espíritos de luz” por si próprios. As reencarnações
vão depurando cada indivíduo de suas faltas e imperfeições até que a perfeição espiritual seja
alcançada, não havendo mais necessidade de reencarnar. Para que tantos mandamentos? Para que
tanto rigor? Afinal, não existe inferno. Não existe pecado. Deus quer a felicidade humana. Logo,
deve-se evitar o sofrimento buscando-se as “coisas boas” da vida.
Ao levantar falsamente as bandeiras da humildade, da caridade, da bondade, da paciência com as
agruras da vida (“carmas”), esconde-se o veneno da negação de Jesus Crucificado. Segundo a teoria
espírita, Jesus foi apenas “um espírito de luz”, evoluído em várias reencarnações. Ademais, a igreja
não foi feita por Cristo. Como acreditar numa igreja tão rica, cheia de pompa e pecado? Como
acreditar numa bíblia escrita por homens? Só o espiritismo, pura ciência, pode explicar tudo de
maneira tão lógica, tão agradável quanto aquela belíssima maçã.
Se, comendo a maçã, Branca de Neve deixa o mundo para a Bruxa, o cristão inoculado com esse
veneno travestido de liberdade, já “não morre em vida”, mas, matando Branca de Neve, transforma
na própria bruxa. Assim, não necessita ficar vigilante. Não há tanta pressa em ser tão correto. Está
livre para fazer as escolhas, até a da religião. E, assim, pode ser tudo, até mesmo católico espírita. Se
não consegue evitar a inveja, o ódio, a fornicação, o adultério, a ganância, calma: não há condenação
eterna. Na próxima encarnação pode tentar ser “correto” novamente. Aliás, o termo correto torna-se
bastante amplo, genérico, flexível.
E, dessa forma, abandonada a penitência e a misericórdia de Deus, busca-se a vida, soberbamente, e
morre-se, uma só vez e eternamente, sem Jesus Sacramentado.
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CUIDADO COM O VENENO DAQUELA MAÇÃ Postura curva, um