A-PDF Merger DEMO : Purchase from www.A-PDF.com to remove the watermark PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Roberta Lyrio Santos Neves Avaliação da contaminação de óleo no ambiente estuarino da Baía de Guanabara (RJ) pela determinação fluorimétrica de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) na bílis de peixes Mugil liza Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Química da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Química Analítica. Orientadores: Prof. Roberta Lourenço Ziolli Prof. Terezinha Ferreira de Oliveira Rio de Janeiro fevereiro de 2006 Roberta Lyrio Santos Neves PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Avaliação da contaminação de óleo no ambiente estuarino da Baía de Guanabara (RJ) pela determinação fluorimétrica de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) na bílis de peixes Mugil liza Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Química da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. Profa. Roberta Lourenço Ziolli Orientadora Departamento de Química – PUC-Rio Dra. Zuleica Carmem Castilhos Centro de Tecnologia Mineral – UFRJ Prof. Ricardo Queiroz Aucélio Departamento de Química – PUC-Rio Prof. José Eugenio Leal Coordenador Setorial do Centro Técnico Científico – PUC-Rio Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2006 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador. Roberta Lyrio Santos Neves PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Graduou-se em Engenharia Química na PUC-Rio em 1996. Trabalhou na L’Oréal de 1996 a 2003, na área de regulamentação de cosméticos. Participou de diversos congressos na área ambiental. Ficha Catalográfica Neves, Roberta Lyrio Santos Neves, Roberta Lyrio Santos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) na da contaminação de óleo no ambiente bílis do Avaliação peixe Mugil liza como biomarcadores para o monitoramento ambiental da contaminação de óleo/ estatutário da Baía de Guanabara (RJ) pela determinação Roberta Lyrio Santos Neves; orientadora: Roberta fluorimétrica de– hidrocabornetos policíclicos aromáticos Lourenço Ziolli. Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Química, 2006. (HPAs) na bílis de peixes Mugil Liza / Roberta Lyrio Santos Neves ; orientadores: Roberta Lourenço Ziolli, Terezinha Oliveira. – Rio de Janeiro : PUC, v., 101 Ferreira f.: il.; 29,7decm Departamento de Química, 2006. 1. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade 120 f. : il. ; 30 cm Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Química. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Inclui referências Universidade Católicabibliográficas. do Rio de Janeiro, Departamento de Química. CDD: 540 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Aos meus pais, Lúcia e José Eduardo, e a minha irmã, Renata, por serem uma família incrível. Agradecimentos À minha orientadora, Roberta Lourenço Ziolli, pela confiança em mim depositada e pelo apoio neste trabalho. À minha orientadora, Terezinha Ferreira de Oliveira, pela amizade e pelo incentivo ao longo deste trabalho. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Ao professor Ricardo Queiroz Aucélio pelo empréstimo do equipamento e pela ótima acolhida no seu laboratório. Aos amigos, Pedro Cavalcanti e Nédio Araújo, por toda a amizade dentro e fora do laboratório. Aos amigos, Ana Paula, Bruno, Camila, Carol, Diego, José Victor e Letícia, por toda a ajuda nas coletas e pela ótima convivência no laboratório. À Yaneth pela amizade e por todas as noites insones, fundamentais para esse trabalho. À Lívia e Bernardo, companheiros nesse desafio. Aos amigos do LEEA, Wagner, Carlos, Ilfran, Alessandra, Flávia e João, pela apoio e amizade ao longo deste trabalho. À professora Angela Rebelo Wagener por todo o material emprestado. À equipe do LABMAM, em especial ao Ricardo, Cláudia, Adriana e Francine por toda a ajuda fornecida. Ao CNPq e a PUC pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado. À prof. Isabel Moreira por todo material emprestado. Ao Anselmo pela ajuda com o espectrofotômetro. Ao Jorge, Charles e Carlão pelo empréstimo de equipamentos. À todos da secretária do departamento pela ajuda, em especial a Fátima. Ao Sr. Irani e ao Nico pelas coletas na Baía de Guanabara e em Itaipu. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA À Ana Paula Rodrigues pela ajuda com os peixes e pela companhia sempre divertida. Ao Alexandre Azevedo pelo apoio e carinho nestes últimos meses. e a todos os meus amigos e familiares que sempre me incentivaram e souberam entender minha ausência neste período. Resumo Neves, Roberta Lyrio Santos. Avaliação da contaminação de óleo no ambiente estuarino da Baía de Guanabara (RJ) pela determinação fluorimétrica de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) na bílis de peixes Mugil liza. Rio de Janeiro, 2006. 120p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Química, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) são poluentes ubíquos na natureza sendo os derrames de óleo uma das principais fontes destes compostos para os ambientes aquáticos costeiros. Este trabalho avalia a possibilidade de uso dos metabólitos de HPAs na bílis do peixe Mugil liza (tainha) como biomarcadores no monitoramento ambiental de ecossistemas aquáticos. Para esta avaliação realizou-se um monitoramento sazonal na Baía de Guanabara, RJ, área cronica- PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA mente contaminada por óleo, e em Itaipu, Niterói, RJ, como área controle. Nos locais de coleta foram medidos parâmetros físico-químicos tais como, pH, oxigênio dissolvido, entre outros e selecionados os peixes variando entre 35 e 51 cm para maior homogeneidade das amostras. Em laboratório foram feitas medidas morfométricas dos indivíduos e retirado o seu líquido biliar. O método analítico foi otimizado e seus parâmetros de desempenho analítico foram determinados. As amostras de líquido biliar foram diluídas em etanol 48% (1:2000 v/v) e analisadas por fluorescência nos comprimentos de onda de excitação e emissão, respectivamente, 332 nm e 383 nm. A média das concentrações de HPAs totais na bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara foi significativamente diferente da área controle, Itaipu. Na Baía de Guanabara, valores de 7,0 ± 3,4 (n=19) e 10,4 ± 6,4 (n=12) mg de equivalentes (eqv.) de pireno L-1 foram obtidos, respectivamente, no inverno e no verão. Em Itaipu, a concentração de HPAs foi de 1,8 ± 0,7 (n=11) mg de eqv. de pireno L-1. Estes resultados indicam que o método é capaz de diferenciar áreas recentemente contaminadas por óleo de áreas não contaminadas, sendo o peixe Mugil liza um possível biomonitor para esta área. Este método analítico apresenta vantagens em relação a outros métodos, tais como tempo e custo de análise reduzidos, podendo ser usado em levantamento de dados preliminares nos programas de monitoramento ambiental. Palavras-chave HPAs, biomarcador, Mugil liza, bílis, Baía de Guanabara Abstract Neves, Roberta Lyrio Santos. Evaluation of the oil contamination of the estuarine environment of the Guanabara Bay (RJ) by the fluorometric determination of Polycyclic Aromatic Hydrocarbons (PAHs) in the Mugil liza fish bile. Rio de Janeiro, 2006. 120p. MSc. Dissertation – Departamento de Química, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs) are ubiquitous in the environment. The main source of contamination is antropogenic, and oil spills are one of the main PAHs sources for the aquatic environment. This work evaluates the usage of PAH metabolites in fish bile (Mugil liza) as biomarkers in the aquatic environment. For this evaluation two distinct areas were monitores: Guanabara Bay, RJ, known for its chronic oil contamination, and Itaipu, Niterói, RJ, the PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA control area. Physico-chemical measurements: pH, dissolved oxygen, conductivity and transparency were made in situ and fish varying from 35 to 50 cm were selected for sampling homogeneity and sexual maturity. In the laboratory, morphometric measures were taken and the fish bile was extracted. After optimizing the analytical method the samples were analysed by diluting each bile sample in ethanol 48% (1:2000 v/v) and fluorimetric measurements were made in excitation/emission wavelengths of 332 nm/383 nm. The mean total PAHs concentrations in the bile samples collected in the Guanabara Bay were significantly different from the control area, Itaipu. In the Guanabara Bay the means were 7,0 ± 3,4 (n=19) and 10,4 ± 6,4 (n=12) mg L-1 pyrene equivalents, in winter and summer, respectively. In Itaipu, the mean HPA concentration was 1,8 ± 0,7 (n=11) mg L-1 pyrene equivalents. These results indicate that this method can differentiate contaminated areas from non contaminated ones, making the fish Mugil liza one possible biomonitor in the Guanabara Bay, RJ. Additionally, this analytical method has advantages compared to other methods because it is less time consuming and is inexpensive and therefore could be used as a preliminary monitoring tool. Keywords PAHs, biomarker, Mugil liza, bile, Guanabara Bay PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Sumário 1. Introdução 17 1.1. Objetivo geral 19 1.2. Objetivos específicos 19 2. Petróleo no meio ambiente aquático 21 2.1. Fontes de contaminação por óleo 21 2.2. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos 23 2.2.1. Fontes de contaminação por HPAs 24 2.2.2. Propriedades físico-químicas dos HPAs 26 2.3. Distribuição dos HPAs no ambiente aquático 27 3. Toxicidade dos HPAs 32 3.1. Considerações Gerais 32 3.2. Metabolismo dos HPAs em peixes 33 3.2.1. O metabolismo do pireno 37 3.3. A bílis e a formação de biliverdina 38 3.3.1. A bílis 38 3.3.2. A formação de biliverdina 39 4. Monitoramento ambiental 41 4.1. Biomarcadores 42 5. Ecologia e biologia do peixe Mugil liza (tainha) 46 5.1. Mugil liza (tainha) 46 5.2. Análise biométrica 48 5.2.1. Estimativa do Peso Total (W T) e Comprimento Padrão (LP) 49 5.2.2. Fator de condição (K) 49 5.3. Órgãos reprodutores 50 5.3.1. Estágios de maturação sexual 51 6. Determinação de HPAs em peixes 53 6.1. Técnicas de extração e clean-up 53 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 6.2. Determinação de HPAs em bílis de peixe 55 6.3. Fluorescência molecular 57 7. Áreas de estudo 60 7.1. Baía de Guanabara, RJ 60 7.1.1. Poluição por petróleo e derivados na Baía de Guanabara 63 7.1.2. Estudos de HPAs na Baía de Guanabara 65 7.1.3. Praia de Ipiranga, Magé 67 7.2. Itaipu, Niterói 68 8. Parte experimental 71 8.1. Coleta dos peixes e medição dos parâmetros físico-químicos 71 8.2. Amostragem dos peixes 72 8.3. Análise da bílis 74 8.3.1. Escolha do sistema solvente 74 8.3.2. Determinação dos comprimentos de onda de excitação e emissão 75 8.3.3. Curva analítica 75 8.3.4. Absorção molecular 75 8.3.5. Estudo do efeito de matriz 76 8.3.6. Determinação de HPAs total por fluorescência na bílis de peixe 76 8.3.7. Limpeza do material 77 8.4. Análise de HPAs totais em água 77 8.4.1. Determinação dos comprimentos de onda de excitação e emissão 77 8.4.2. Curva analítica 77 8.4.3. Coleta de água 78 8.4.4. Extração de HPAs totais 78 8.4.5. Determinação de HPAs total por fluorescência em água 79 8.4.6. Limpeza do material 79 8.5. Análise estatística dos dados 79 9. Resultados e discussões 81 9.1. Otimização da análise de HPAs em bílis de peixe 81 9.1.1. Escolha do sistema solvente 81 9.1.2. Determinação dos comprimentos de onda de excitação e emissão 83 9.1.3. Parâmetros de desempenho analítico 84 9.1.4. Efeito de matriz 87 9.1.5. Adição de analito 89 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 9.2. Comparação entre Baía de Guanabara e Itaipu 92 9.2.1. Parâmetros físico-químicos 92 9.2.2. Análise morfométrica dos peixes 93 9.2.3. Análise da bílis 98 9.2.4. Análise por fluorescência - método sincronizado 102 9.2.5. Correlação entre as variáveis 104 9.2.6. Determinação de HPAs totais em água 106 10. Conclusões e Considerações finais 109 11. Referências bibliográficas 114 Lista de figuras Figura 1. Representação estrutural de alguns HPAs. 24 Figura 2. Representação da distribuição dos hidrocarbonetos no meio aquático. 29 Figura 3. Esquema de biotransformação de xenobióticos. 35 Figura 4. Mecanismo de ativação dos HPAs. 36 Figura 5. Representação esquemática simplificada do metabolismo do benzo[a]pireno. 37 Figura 6. Estrutura do pireno. 38 Figura 7. Canalículo bilífero. 39 Figura 8. Oxidação do anel heme até a formação de biliverdina. 40 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Figura 9. Representação esquemática da ordem sequencial de respostas ao estresse causado por poluentes em um sistema biológico. 43 Figura 10. Mugil liza. 47 Figura 11. Diagrama do corpo do peixe e as medidas utilizadas. 48 Figura 12. Métodos de determinação de HPAs em bílis de peixe. 56 Figura 13. Diagrama parcial de energia de um sistema fotoluminescente. 58 Figura 14. Mapa do estado do Rio de Janeiro, destacando em vermelho a região metropolitana e em azul a Baía de Guanabara. Figura 15. Curral próximo a praia de Ipiranga, Magé. 60 67 Figura 16. trecho da Carta náutica 1501 indicando a região dos currais próximos a praia de Ipiranga, Magé. 68 Figura 17. Mapa do Estado do Rio de Janeiro, com destaque para a cidade de Niterói. 69 Figura 18. Abertura do indivíduo. 72 Figura 19. Identificação do sexo do peixe pela análise visual das gônadas. 73 Figura 20. Localização da vesícula biliar. 73 Figura 21. Retirada do líquido biliar. 73 Figura 22. Espectro de excitação (λem = 383 nm) e emissão (λex = 332 nm) do pireno em etanol 48%. 84 Figura 23. Curva analítica da solução de pireno em etanol 48% (n=4) em condições otimizadas. 85 Figura 24. Coloração do líquido biliar das amostras utilizadas no teste do efeito de matriz. 88 Figura 25. Gráfico do aumento do efeito de matriz com a diminuição das diluições das amostras. 88 Figura 26. Gráfico de adição de analito usando a bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara. 90 Figura 27. Gráfico de adição de analito usando a bílis dos peixes coletados em Itaipu. 91 Figura 28. Distribuição de frequência do comprimento total dos indivíduos coletados 94 Figura 29. Gráfico de Boxplot do comprimento total, classificado por coleta. 94 Figura 30. Proporção sexual dos indivíduos capturados. 95 em todas as coletas da Baía de Guanabara e Itaipu. 95 Figura 31. Gráfico de Boxplot do peso, classificado por sexo. 96 Figura 32. Gráfico de Boxplot do comprimento total, classificado por sexo. 96 Figura 33. Espectros de emissão fluorescente das bílis diluídas da Baía de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Guanabara e Itaipu. 98 Figura 34. Gráfico de Boxplot da concentração de HPAs na bílis dos peixes, por coleta. 100 Figura 35. Espectro de fluorescência sincronizada (∆λ=51 nm) para bílis de peixes coletados na Baía de Guanabara. 103 Figura 36. Dendograma de similaridade dos valores absolutos das correlações absolutas das distâncias pelo método de Ward. Figura 37. Curva analítica de soluções de pireno em diclorometano (n=3). 105 106 Lista de tabelas Tabela 1. Concentração de alguns HPAs em diferentes derivados de petróleo. 25 Tabela 2. Valores máximos permitidos para alguns HPAs (µg L-1). 26 Tabela 3. Parâmetros físico-químicos de alguns HPAs. 28 Tabela 4. Concentrações de HPAs encontrados na água, sedimento e biota da Baía de Guanabara. 66 Tabela 5. Valores de referência para o HPAs totais para estimar o nível de contaminação em tecido de peixes (peso úmido). Tabela 6. Análise de variância do experimento. 66 82 Tabela 7. Estimativas dos efeitos e coeficientes com os respectivos intervalos de confiança de 95%. 82 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Tabela 8. Valores de Ŷ para a equação de regressão obtida do experimento fatorial 23. 83 Tabela 9. Análise de variância da curva de regressão. 85 Tabela 10. Parâmetros físico-químicos. 93 Tabela 11. Número de machos e fêmeas capturados. 95 Tabela 12. Estimativa da média do peso (kg) dos peixes coletados*. 95 Tabela 13. Estimativa da média do comprimento total (cm) dos peixes coletados*. Tabela 14. Análise de variância do fator de condição em relação as coletas. 96 97 Tabela 15. Análise de variância da média das concentrações de HPAs por sexo, coleta da Baía de Guanabara, agosto/2005. 99 Tabela 16. Análise de variância da média das concentrações de HPAs por sexo, coleta de Itaipu, agosto/2005. 99 Tabela 17. Análise de variância da média das concentrações de HPAs por sexo, coleta de Itaipu, setembro/2005. 99 Tabela 18. Análise de variância das concentrações de HPAs por coleta. 100 Tabela 19. Matriz de correlação das variáveis. 104 Tabela 20. Análise de variância da curva de regressão. 107 Tabela 21. Concentração de HPAs medidos em amostras de água*. 108 Lista de quadros Quadro 1. Carcinogenicidade, genotoxicidade e mutagenicidade de alguns HPAs. 33 Quadro 2. Fatores e níveis do experimento. 81 Quadro 3. Parâmetros de desempenho analítico. 86 Quadro 4. Cor e valores de absorvância à 380 nm das amostras utilizadas no teste do efeito de matriz. 87 Quadro 5. Cor e valor de absorvância das amostras utilizadas no teste de adição de analito. 89 Quadro 6. Equações das regressões lineares das adições de analito e seu coeficiente de correlação (R2). 90 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Quadro 7. Data e coordenadas da coletas. 92 Quadro 8. Estimativa das médias dos valores do fator de condição (K)*. 97 -1 Quadro 9. Média da concentração de HPAs em mg L de equivalentes de pireno na bílis dos peixes (Mugil liza) capturados, separados por sexo*. 99 Quadro 10. Estimativa das médias das concentrações de HPAs (µg de equivalentes de pireno mL-1 de bile) por coleta*. 100 Quadro 11. Concentrações de HPAs em bílis de peixe em locais contaminados. 102 Quadro 12. Codificação das variáveis categóricas. 104 Quadro 13. Concentrações de HPAs na água da Baía de Guanabara. 108 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Antes tarde do que muito tarde. Wagner Pacheco, num final de tarde chuvoso. 1 Introdução A crescente demanda pelo uso do petróleo para obtenção de energia, faz com que aumente a extração de petróleo e as atividades a ela associadas, contribuindo para o crescente número de derrames de óleo crônicos ou agudos, afetando o meio ambiente. Em geral, essas atividades se concentram nas zonas costeiras, sendo essas as mais impactadas por este tipo de atividade. O petróleo é uma mistura complexa de hidrocarbonetos. Na sua composição destacam-se os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), compostos potencialmente tóxicos pelo seu potencial carcinogênico. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Os HPAs podem atingir o meio ambiente por fontes naturais, como percolação de óleo do fundo oceânico e incêndios naturais em florestas, ou fontes antropogênicas, tais como a queima incompleta de matéria orgânica, incluindo as emissões veiculares e o uso de combustíveis fósseis, e derrames de petróleo e derivados. Atualmente, as fontes antropogênicas são as que mais contribuem para a contaminação do meio ambiente por HPAs, sendo as regiões costeiras uma das regiões mais afetadas já que a produção de petróleo se concentra principalmente nestas áreas. O principal exemplo de região costeira potencialmente impactada pela atividade petrolífera no Rio de Janeiro é a Baía de Guanabara, que é ameaçado por várias formas de poluição, onde efluentes domésticos e industriais afetam seu ecossistema. Existem no entorno da Baía duas refinarias de petróleo, 16 terminais de óleo, 6000 indústrias e dois portos comerciais sendo liberadas, diariamente, sete toneladas de óleo na Baía, entre outros (CEDAE, 199-). Há portanto a necessidade de se estabelecer parâmetros indicadores da contaminação por hidrocarbonetos de petróleo que possam ser utilizados na implementação de um programa de avaliação ambiental no monitoramento da qualidade desses ecossistemas aquáticos. Entre as várias formas de monitoramento que podem ser empregados para monitorar ou predizer os efeitos destes poluentes no ambiente, o biomonitoramento tem sido utilizado como ferramenta promissora nos programas de avaliação ambiental. Introdução 18 Entre os organismos que vêm sendo propostos para o uso no biomonitoramento, os peixes destacam-se por possuírem um papel fundamental na cadeia alimentar e representarem uma importante fonte de alimentação para a população. A presença dos produtos da metabolização dos HPAs na bílis de peixes pode ser um bom indicador de contaminação crônica uma vez que a metabolização destes compostos é eficiente, sendo a bílis o principal meio de excreção destes compostos. Embora o uso de metabólitos como marcadores seja promissor na avaliação ambiental de rotina ou em casos de derrames, estudos de validação da técnica e de seleção dos organismos mais adequados necessitam ser conduzidos antes de sua aplicação. Assim, este estudo busca avaliar a viabilidade do monitoramento ambiental preliminar da contaminação por óleo na Baía de Guanabara, utilizando a análise de metabólitos de HPAs na bílis de peixe como biomarcadores. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Esta técnica permite avaliar a contaminação de petróleo e derivados em ambientes aquáticos, neste caso avaliando o uso da espécie Mugil liza (tainha) como biomonitor. Por ser uma prática rápida e de baixo custo permite a análise de grande número de amostras em curto espaço de tempo e sendo a primeira vez em que esta técnica é utilizada para avaliação do pescado da região da Baía de Guanabara, RJ. Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a utilização da análise de metabólitos de HPAs na bílis de peixes como biomarcador de HPAs no ambiente aquático e sobre as metodologias analíticas disponíveis. A metodologia selecionada para a análise dos metabólitos dos HPAs na bílis de peixes por fluorescência foi otimizada e seus parâmetros analíticos de desempenho foram determinados. Estudos adicionais como a influência da matriz, bílis, na análise química, foram também realizados. Paralelamente foram feitos levantamentos de campo, incluindo entrevista com os pescadores locais, a fim de conhecer as espécies de peixes possíveis de serem utilizadas como biomonitores no presente estudo, investigando seus hábitos alimentares, abundância, forma de captura, entre outros parâmetros, e estabelecer as regiões escolhidas para a captura dos indivíduos. A proposta inicial era utilizar peixes das espécies Micropogonias furnieri (corvina) e Mugil liza (tainha), encontradas em abundância na Baía e consumidas pela população local, principalmente, do entorno da Baía de Guanabara, RJ. Entretanto, em laboratório, alguns exemplares dessas e de outras espécies foram dissecados na tentativa de identificação da vesícula biliar Introdução 19 para extração da bílis par análise, mas nem sempre com sucesso. Após várias tentativas, a espécie escolhida para utilização neste estudo foi a Mugil liza (tainha) por apresentar-se em abundância na região, ser consumida pela população local, ser de fácil captura e fácil identificação da vesícula biliar. A parte experimental deste estudo contempla os trabalhos em campo e laboratório. Os trabalhos de campo consistiam da captura e seleção dos exemplares, caracterização físico-química do ambiente onde os peixes foram coletados, coleta de água para análises e registros rotineiros de campo (coordenadas, tábuas de marés, etc.). Em laboratório foram feitas as análises morfométricas dos indivíduos, a análise química da bílis e as análises de água. A concentração de HPAs na água coletada nas regiões de onde os peixes foram capturados também foi determinada. Os resultados obtidos foram então tratados estatisticamente, respaldando as discussões e conclusões apresentadas neste PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA trabalho. 1.1. Objetivo geral O objetivo deste trabalho é estudar a viabilidade do uso da determinação de metabólitos de HPAs em bílis de peixe, por fluorescência, em programas de monitoramento ambiental. 1.2. Objetivos específicos Em sintonia com seu objetivo geral, essa dissertação possui os seguintes objetivos específicos: • otimização da metodologia para a determinação de metabólitos de HPAs na bílis de peixe, avaliando sistema solvente mais adequado para as diluições empregadas; • avaliação da influência da matriz (bílis) no composto de referência; • avaliação do uso do peixe Mugil liza (tainha) como biomonitor ; • determinação semi-quantitativa dos HPAs totais e seus metabólitos na bílis do peixe Mugil liza; Introdução • 20 avaliação das possíveis relações entre tamanho e peso dos peixes coletados, volume de bílis retirada e absorvância das amostras diluídas, com a concentração dos compostos estudados; • avaliação das possíveis variações sazonais das concentrações de HPAs obtidas e demais parâmetros; • avaliação da ocorrência ou não de fontes de poluição crônica por óleo na região estudada da Baía de Guanabara; PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA • obtenção de dados pretéritos para as regiões estudadas. 2 Petróleo no meio ambiente aquático 2.1. Fontes de contaminação por óleo As fontes de contaminação do oceano por óleo são variadas e podem ser separadas em quatro grandes grupos: percolação natural no fundo oceânico, extração de petróleo, transporte de óleo e consumo de petróleo. A quantidade de óleo que atinge os mares anualmente pode variar muito, dependendo da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA ocorrência de acidentes ou guerras. Estimativas do Comitê de Estudo de Óleo no Mar do National Research Council (2003) indicam que o volume total de óleo que atinge os oceanos anualmente é de cerca de 1.400.000 m3. A percolação natural ocorre quando o óleo cru, a fração pesada do petróleo, atravessa o extrato geológico do fundo marinho até a coluna d’água. Este fenômeno natural é responsável por quase metade de todo óleo que é lançado anualmente (680.000 m3) no ambiente marinho, mas sua taxa de liberação é suficientemente baixa para que o ecossistema circunjacente possa se adaptar. A extração de petróleo pode resultar no vazamento de óleo cru e produtos refinados. A natureza e tamanho destes derrames variam e se restringem às áreas de exploração de óleo e gás natural, sendo um risco potencial para os ambientes costeiros. Estima-se que sejam liberados 41.000 m3 de óleo no mar anualmente, correspondendo a 5% de todo óleo que atinge o ambiente marinho. No transporte de óleo podem ocorrer enormes vazamentos como acidentes com navios tanque, tal como o vazamento de 13.000 m3 de óleo do navio Exxon Valdez, ocorrido no Alasca em 1989. A contribuição dos vazamentos decorrentes do transporte anual de óleo para o mar é estimada em 165.000 m3, 12% do total mundial. Já o consumo de óleo corresponde a maior contribuição antrópica de vazamento de óleo para o mar. Este tipo de fonte difusa libera nos oceanos Petróleo no meio ambiente aquático 22 530.000 m3 de óleo anualmente, de forma lenta e crônica (National Research Council, 2003). A fim de melhor avaliar o impacto dos derrames de óleo no meio ambiente é necessário conhecer algumas de suas características. Em geral, os óleos são classificados como persistentes e não-persistentes. Os óleos nãopersistentes, mais leves, tendem a desaparecer rapidamente quando lançados na superfície do mar (gasolina, nafta e querosene), enquanto os óleos persistentes, mais pesados, dissipam mais vagarosamente (óleos crus e resíduos de refino). A persistência de um óleo depende de algumas propriedades tais como: solubilidade, volatilidade, gravidade específica, viscosidade, tensão superficial, entre outras. Essas propriedades influenciam como o petróleo vai se comportar no ambiente aquático e determinar seus efeitos sobre a biota. Os efeitos do óleo sobre os organismos marinhos podem ser divididos em PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA efeitos físicos, resultantes do recobrimento dos organismos por óleo e, efeitos químicos, associados à toxicidade dos compostos presentes. Estes efeitos não são excludentes, podendo ocorrer simultaneamente. Nos óleos de alta densidade, o efeito físico de recobrimento é predominante, enquanto nos óleos de baixa densidade o efeito químico é mais representativo (CETESB, 2005). Assim, após um derrame, dados devem ser coletados a fim de conhecer a natureza do óleo, o tamanho da mancha de óleo e resultados de análises químicas para água, sedimentos e biota. Quando ocorre um derrame de óleo algumas decisões urgentes devem ser tomadas, tais como, restringir ou suspender a pesca, avaliar a segurança do consumo de frutos do mar e pescado e comunicar os riscos à saúde para população (Yender et al., 2002). Alguns exemplos de derrames que levaram a suspensão da pesca foram: o acidente com o navio Exxon Valdez no Alasca, e o vazamento de 1.300 m3 de óleo na Baía de Guanabara, RJ, em janeiro de 2000, onde a pesca foi suspensa por um mês, com grandes prejuízos para a comunidade pesqueira da região. Como os derrames são dinâmicos, as condições devem ser monitoradas e os riscos para o pescado reavaliados até serem reduzidos. A determinação da contaminação de alimentos pode ser bastante longa sendo, portanto, é necessário o desenvolvimento de métodos de monitoramento que possam fornecer uma resposta rápida ao fator de risco. Em uma tentativa de prevenir os derrames de óleo foram feitas várias convenções internacionais. A mais importante delas foi a MARPOL 73/78. Ela é Petróleo no meio ambiente aquático 23 resultante da Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios, realizada em 1973, que não chegou a entrar em vigor, sendo absorvida pelo protocolo da Conferência sobre Segurança de Petroleiros realizada em 1978 (International Maritime Organisation (IMO), 2006). A MARPOL 73/78 foi aprovada com reservas pelo Brasil em 1987. Ainda segundo a IMO, em 1990 foi realizada em Londres a Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por Óleo (OPRC), que estabelece medidas para lidar com incidentes de poluição por óleo, seja nacional ou em cooperação com outros países. Esta convenção também foi aprovada pelo Brasil pelo decreto legislativo no 43, de 29 de maio de 1998 e pelo decreto no 2.870, de 10 de dezembro de 1998. Além das convenções internacionais, está em vigor atualmente no Brasil a lei federal no 9.966, de 28 de abril de 2000, conhecida como “a lei do óleo”, que dispões sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA lançamento de óleo e outras substâncias (Brasil, 2005; da Costa, 2003). Existe ainda uma série de outras regulamentações federais e estaduais relacionadas à poluição por óleo e à conservação do meio ambiente brasileiro. 2.2. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos O petróleo é composto basicamente por hidrocarbonetos (97%), e elementos como nitrogênio, enxofre e oxigênio (Yender et al., 2002; National Research Council, 1985 apud National Research Council, 2003). Os hidrocarbonetos podem ser classificados em dois grandes grupos: alifáticos e aromáticos. Os hidrocarbonetos aromáticos são formados por pelo menos um anel aromático e podem ser separados em dois grupos: os compostos monoaromáticos e os poliaromáticos também chamados de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) (Figura 1). Embora os HPAs correspondam à menor fração presente no petróleo, destacam-se por serem estáveis, persistentes no meio ambiente e podem apresentar efeitos tóxicos nos organismos aquáticos. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Petróleo no meio ambiente aquático 24 Figura 1. Representação estrutural de alguns HPAs. 2.2.1. Fontes de contaminação por HPAs Os HPAs podem ser formados a altas ou baixas temperaturas. A combustão incompleta de matéria orgânica produz HPAs em ambientes com temperatura entre 500 e 800 oC. A diagênese1 de material orgânico sedimentar em temperaturas baixas ou moderadas, em longos períodos de tempo, também leva à formação de HPAs no carvão ou depósitos de óleo. Os HPAs também podem ser formados por plantas clorofiladas, fungos e bactérias (Hoffman, 2003). 1 diagênese: processos físicos, químicos e biológicos sofridos por um sedimento após a sua deposição. Petróleo no meio ambiente aquático 25 Nos processos a baixas temperaturas a distribuição de HPAs é governada por propriedades termodinâmicas e nos processos a altas temperaturas a distribuição é governada por características cinéticas. Assim, misturas de HPAs formadas durante a combustão de combustíveis fósseis são geralmente caracterizadas pela predominância de HPAs de alta massa molecular. Segundo Silva (2004) para diferenciar HPAs originados em combustão daqueles de origem petrogênica, podem ser usados índices baseados na razão da concentração de HPAs selecionados. Assim, pode-se usar a razão entre HPAs de baixa massa molecular e HPAs de alta massa molecular, onde valores menores que 1 sugerem fonte de contaminação por combustão. Pode-se usar também as razões entre componentes homólogos como Fenantreno e Antraceno, Benzo(a)antraceno e criseno (Lima, 2001). Apesar de existirem fontes naturais de HPAs para o meio ambiente tais como, incêndios naturais em florestas, a percolação natural de óleo, erupções PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA vulcânicas e bactérias, as fontes antropogênicas são as mais importantes (Bjørseth, 1983). Segundo Hoffman (2003), as fontes antropogênicas são: extração, transporte e consumo de óleo, incineração de lixo, motores de combustão, principalmente os movidos a óleo diesel, entre outros, sendo a contaminação das regiões costeiras causada por derramamentos de óleo, esgoto urbano e industrial, escoamento urbano (runoff) e deposição atmosférica. A concentração de HPAs presentes nos derivados de petróleo pode variar bastante conforme mostrado na Tabela 1. Um óleo cru típico pode conter de 0,2% a 7% de HPAs e sua abundância geralmente diminui com o aumento da massa molecular do HPA. Tabela 1. Concentração de alguns HPAs em diferentes derivados de petróleo. Meio Unidade 8 óleos crus de diferentes origens mg kg Gasolina mg L -1 -1 Pireno Benzo(e)pireno Benzo(a)pireno 1,6 – 10,7 1,2 – 28,9 0,1 – 3,6 0,03 – 4,8 0,031 – 0,95 mg kg -1 5,10 – 99,0 0,70 – 37,3 0,79 – 34,8 mg kg -1 86 - 791 37 – 334 31 – 100 Sedimento contaminado com óleo mg kg -1 1410 270 440 óleo lubrificante óleo para motor, usado de piche (matéria seca) Fonte: Kornmüller & Wiesmann, 2003. Petróleo no meio ambiente aquático 26 Em relação a contaminação por HPAs está em vigor a resolução no 357 do CONAMA, de 17 de março de 2005 que classifica as águas em doces, salobras e salinas, definindo qual a destinação de cada uma delas e os padrões de qualidade de água que devem ser periodicamente monitorados pelo Poder Público. Dentre os vários parâmetros de qualidade de água estabelecidos, foram estipulados limites individuais para alguns HPAs de acordo com a destinação do corpo d’água (Tabela 2). Tabela 2. Valores máximos permitidos para alguns HPAs (µg L-1). Tipo de corpo d’água Classe 1 e 2 HPA PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA benzo(a)antraceno Água destinada para Pesca ou Água doce 0,05 1 Cultivo de organismos para fins de consumo intensivo 0,018 2 Água doce Classe 3 3 - benzo(a)pireno 0,05 0,018 0,7 benzo(b)fluoranteno 0,05 0,018 - benzo(k)fluoranteno 0,05 0,018 - criseno 0,05 0,018 - dibenzo(a,h)antraceno 0,05 0,018 - indeno(1,2,3,-cd)pireno 0,05 0,018 - Fonte: CONAMA,2005. 1 Água doce classe 1: podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano após tratamento adequado; à proteção das comunidades aquáticas; recreação de contato primário; irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e frutas que se desenvolvem rente ao chão e serão consumidas cruas e sem remoção de película; Água doce classe 2: podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; recreação de contato primário; irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e frutas que se desenvolvem rente ao chão e serão consumidas cruas e sem remoção de película, aqüicultura e atividade de pesca; 2 3 Valores para água doce, água salgada e água salobra; Água doce classe 3: podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano após tratamento adequado; irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; pesca amadora; recreação de contato secundário; dessedentação de animais. 2.2.2. Propriedades físico-químicas dos HPAs Os HPAs são formados por dois ou mais anéis aromáticos fundidos em sua estrutura, incluindo os compostos alquilados. Estes compostos variam de dois anéis (naftaleno) até sete anéis (coroneno), como representado na Figura 1. Petróleo no meio ambiente aquático 27 Suas propriedades físicas e químicas estão relacionadas com a massa molecular, sendo divididos em HPAs de baixo peso molecular (2 a 3 anéis benzênicos) e alto peso molecular (4 a 7 anéis benzênicos). Os HPAs de baixo peso molecular apresentam toxicidade aguda significativa para os organismos aquáticos enquanto os de alto peso molecular podem ser carcinogênicos e estão amplamente distribuídos no meio ambiente (Newman & Unger, 2003). Pela grande variedade de tamanho e massa molecular as propriedades físicas dos HPAs variam muito, dependendo do composto de interesse. A Tabela 3 apresenta algumas características gerais dos HPAs: são sólidos à temperatura ambiente, têm alto ponto de fusão e ebulição e baixa solubilidade em água. Com o aumento da massa molecular a solubilidade diminui, os pontos de fusão e ebulição aumentam e a pressão de vapor diminui. Consequentemente, estes compostos variam bastante de comportamento, tanto em relação à sua distribuição no ambiente aquático quanto em seus efeitos nos sistemas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA biológicos (Lima, 2001). O coeficiente de partição octanol-água (Kow) descreve a tendência de partição de um composto entre uma fase orgânica e uma fase aquosa. Este parâmetro tem sido correlacionado com fatores de bioconcentração em organismos aquáticos, já que simula a partição da substância entre água e o tecido adiposo. Pode-se observar na Tabela 3 que moléculas maiores têm maior valor de Kow. 2.3. Distribuição dos HPAs no ambiente aquático Contaminantes orgânicos como os HPAs estão presentes em todo o meio ambiente aquático. Sua distribuição é controlada por diversos processos físicos, químicos e biológicos. Deve-se considerar a interação ar-água, água-sedimento, água-biota, água-matéria orgânica dissolvida para entender os processos a que eles estão sujeitos (Figura 2) (Lima, 1996). A maioria dos HPAs que entra nos sistemas aquáticos permanece relativamente próxima às suas fontes, decrescendo aproximadamente de forma logarítmica, com a distância da origem. Assim, a grande maioria dos HPAs encontrados está localizada em rios, estuários e águas costeiras (Lima, 2001). Petróleo no meio ambiente aquático PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Tabela 3. Parâmetros físico-químicos de alguns HPAs. 28 Petróleo no meio ambiente aquático 29 Uma das fontes de HPAs para os oceanos é a deposição atmosférica. Os HPAs liberados na atmosfera têm grande afinidade por partículas orgânicas presentes no ar, sendo depositadas no mar tanto por deposição seca quanto úmida (Hoffman, 2003). Pode haver também solubilização de compostos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA gasosos através da interface atmosfera-água. Figura 2. Representação da distribuição dos hidrocarbonetos no meio aquático (Fonte: Lima, 1996). Nos casos de derrame de óleo a volatilização é um fator importante na remoção dos hidrocarbonetos já que os compostos com maior pressão de vapor vão evaporar mais facilmente. A quantidade evaporada pode variar de 10% para óleos crus até 75% para os óleos leves (Ferreira, 1995). Entretanto, a volatilização não provoca uma redução significativa dos hidrocarbonetos com mais de quatro anéis benzênicos (Azevedo, 1998). A solubilidade é de grande importância no comportamento de compostos orgânicos no ambiente aquático. Apesar de, como um grupo, serem considerados hidrofóbicos, os HPAs apresentam uma grande faixa de solubilidade em água. Segundo Varanasi (1989), Whitehouse, em 1984, demonstrou que existe uma relação inversamente proporcional entre salinidade e solubilidade dos HPAs, como previsto pela teoria de salting out, onde a adição de eletrólitos na fase aquosa diminui a solubilidade dos HPAs. A solubilidade pode variar por um fator de até dois na faixa de salinidade de 0 a 36 o/oo. Já a variação da solubilidade dos HPAs com a temperatura pode chegar a um fator de cinco. Petróleo no meio ambiente aquático 30 Como compostos com baixa solubilidade em água tendem a se ligar com o material particulado presente, o comportamento de partição dos HPAs entre água, sedimento e biota é principalmente determinado pelo conteúdo lipídico e de carbono orgânico presentes. Um importante parâmetro é o coeficiente de partição octanol-água (Kow). Este descreve a tendência de partição de um composto entre a fase orgânica e uma fase aquosa e é relacionado à solubilidade (S) pela Equação: log Kow = a – b (log S) (1) onde a e b são constantes e S é a solubilidade do compostos em água. Este coeficiente pode ser relacionado ao coeficiente de partição de carbono orgânico (Koc), pela Equação (2). Esta equação descreve a tendência de um composto orgânico ser adsorvido no solo ou sedimento quando em contato PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA com água, quando o conteúdo de carbono orgânico do sorvente (foc) é conhecido: Koc = foc x Kow (2) Vários mecanismos como a troca iônica, ponte de hidrogênio, transferência de carga, ligação covalente e adsorção hidrofóbica, controlam a interação da matéria orgânica dissolvida (DOM) com compostos orgânicos, aumentando a solubilidade dos HPAs na água, reduzindo sua volatilização e aumentando as taxas de fotólise (Haitzer et al., 1998). Segundo os autores op citem, apesar de aumentar a solubilidade dos HPAs em água a DOM nem sempre aumenta sua biodisponibilidade, uma vez que nem sempre há tempo suficiente para o xenobiótico se dissociar do complexo DOM/substância química e se difundir pelas membranas das guelras dos peixes, por exemplo. Além da volatilização e solubilização, os HPAs podem sofrer transformações fotoquímicas e metabólicas no ambiente aquático. Os HPAs expostos à luz do sol podem ser convertidos à compostos polares por fotooxidação ou fotólise, durante a permanência desses na zona eufótica1, onde há 1 zona eufótica: camada de mar ou lago penetrada pela luz solar com intensidade suficiente para permitir a fotossíntese. Petróleo no meio ambiente aquático 31 luz para que estes processos ocorram. Já os HPAs que permanecem pouco tempo na coluna d’água são mais resistentes à foto-oxidação (Sauer et al., 1993 apud Ke et al., 2002). Na transformação metabólica os HPAs são degradados através de reações de alguns organismos aquáticos, envolvendo a participação de enzimas específicas. De 40 a 80% do óleo cru pode ser degradado por ação microbiana (Hoffman, 2003). Em relação a biota, os HPAs podem ser bioacumulados. Para que haja a bioacumulação de um xenobiótico, a taxa de assimilação deve exceder a taxa de eliminação deste. Muitos compostos lipofílicos como os HPAs, podem se acumular quase que indefinidamente, se o organismo não for capaz de transformá-los em metabólitos hidrofílicos, que são mais facilmente excretados. Os peixes são capazes de metabolizar hidrocarbonetos e só o acumulam em áreas muito poluídas. Já os organismos invertebrados têm metabolismo mais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA lento acumulando maiores quantidades de HPAs (Meador et al., 1995). 3 Toxicidade dos HPAs 3.1. Considerações Gerais O primeiro relato de câncer como efeito da exposição ao piche, ao alcatrão e à fuligem foi feita pelo cirurgião Sir Percival Pott, em 1775, quando reportou a alta incidência de câncer no órgão reprodutor masculino entre limpadores de chaminés na Grã-Bretanha (Pereira Netto et al., 2000; Bjørseth & Ramdahl, 1985 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA apud Lima, 2001), embora, somente em 1931, o benzo(a)pireno do carvão tenha sido isolado e sintetizado (Costa, 2001). Atualmente, pesquisas da Agência Internacional de Estudo do Câncer (IARC) classificam alguns HPAs como carcinogênicos e/ou mutagênicos e/ou genotóxicos (Quadro 1). Compostos carcinogênicos são aqueles capazes de induzir um carcinoma, tumor maligno com tendência a produzir metástase. Evidências sobre a carcinogenicidade dos HPAs são indicadas principalmente por estudos de exposição ocupacional a misturas de HPAs resultantes de processos como a produção de coque, refinamento do petróleo, entre outros (EPA, 2000). Já compostos mutagênicos são capazes de induzir ou aumentar a frequência de mutação no cromossomo de um organismo e compostos genotóxicos são aqueles com capacidade de induzir alterações no material genético de organismos a eles expostos. Uma substância genotóxica é tóxica para o DNA. Ela pode se unir diretamente a ele ou atuar indiretamente afetando as enzimas ligadas a sua replicação, levando a mutações que podem levar ao aparecimento de um câncer. No entanto, vale ressaltar que substâncias genotóxicas não são necessariamente cancerígenas. Estudos in vitro mostram que o benzo[a]pireno induz danos em células procarióticas, eucarióticas e células de mamíferos produzindo efeitos genotóxicos variados, incluindo mutações genéticas em células somáticas, formação de adutos de DNA, síntese de DNA não programada, entre outros Toxicidade dos HPAs 33 (EPA, 2000). É importante ressaltar que muitos desses compostos, ao serem metabolizados, podem dar origem a compostos mais tóxicos do que o original. Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental americana (US EPA) prioriza o monitoramento de 16 HPAs baseado em suas características tóxicas, mutagênicas e carcinogênicas: naftaleno, antraceno, pireno, criseno, fenantreno, benzo(a)pireno, benzo[g,h,i]perileno, dibenzo[a,h]antraceno, acenafteno, acenaftileno, benzo[a]antraceno, fluoreno, fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, benzo[b]fluoranteno, indeno[1,2,3-cd]pireno. A exposição humana (e de outros animais) aos HPAs ocorre por diferentes vias. As mais importantes são a inalação de ar poluído e a ingestão de alimentos ou água contaminada. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Quadro 1. Carcinogenicidade, genotoxicidade e mutagenicidade de alguns HPAs. 1 Genotoxicidade 2 3 HPA Carcinogenicidade Mutagenicidade Fluoreno I L Fenantreno I L + Antraceno N N - Fluoranteno N L + Pireno N L + Benzo(a)antraceno S S + Criseno L L + Benzo(e)pireno I L + Benzo(a)pireno S S + Perileno I I + Indeno(1,2,3-cd)pireno S I + Benzo(g,h,i)perileno I I + Dibenzo(a,h)antraceno S S + Coroneno I I + Fonte: Costa, 2001 S = suficientes; I = insuficientes; L = limitados; N = não carcinogênico. Genotoxicidade foi avaliada através dos testes de deterioração do DNA; aberração cromossômica e mutagenicidade. Mutagenicidade (teste de Ames): + (positivo), - (negativo). 3.2. Metabolismo dos HPAs em peixes Para assegurar sua sobrevivência, os organismos desenvolveram mecanismos de defesa para a proteção de suas células na presença de Toxicidade dos HPAs 34 xenobióticos. Estes envolvem: a absorção, a distribuição, a biotransformação e a excreção das substâncias estranhas. A absorção em peixes ocorre por várias rotas, incluindo a alimentação e o transporte direto através das membranas externas, sendo então distribuídos para as diversas partes do corpo. A biotransformação (metabolização) geralmente leva a formação de compostos mais polares, portanto, mais hidrofílicos, consequentemente mais facilmente excretados do que seu composto original. O órgão mais comumente envolvido neste processo é o fígado. O fígado atua na emulsão de gorduras através da produção da bílis, na metabolização de substâncias presentes na corrente sanguínea e produção de vários compostos, como por exemplo, proteínas. Esta atuação é devida a sua posição estratégica e por suas células (hepatócitos) estarem entre as células mais ricamente perfundidas do organismo (Livingstone, 1998; van der Oost, 2003). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA A biotransformação geralmente envolve dois estágios distintos, referidos como reações da Fase I e da Fase II (Figura 3). Na Fase I, a biotransformação de xenobióticos ocorre através de reações de redução, hidrólise e/ou oxidação, sendo responsáveis por introduzir grupos funcionais no xenobiótico (Livingstone, 1998). A principal reação é a oxidação, catalisada principalmente pelo citocromo P-450 monooxigenase, pelas monoamino oxidases (MAO) e pelas flavinas monooxigenase (FMO) (Bastos, 2001). As monooxigenases do citocromo P-450 são hemeproteínas associadas a membranas principalmente do retículo endoplasmático. O nome P-450 vem de P para pigmento e 450 para o comprimento de onda 450 nm, onde a absorção de luz é máxima quando ligados a uma carbonila (CO) (Newman & Unger, 2003). Na membrana, as isoenzimas estão associadas ao NADPH citocromo P-450 redutase que transfere elétrons ao conjunto de isoenzimas. Estas substâncias e a membrana fosfolipídica formam a unidade responsável pela maior parte das oxidações da Fase I através da reação (Newman & Unger, 2003): RH + NADPH + O2 + H+ → ROH +NADP+ +H2O (3) onde: RH é um composto orgânico a ser hidroxilado e NADPH é nicotina-adeninadinucleotídeo fosfato. Toxicidade dos HPAs 35 FASE I FASE II Glicuronidação, Xenobiótico Oxidação, Sulfoconjugação, Redução, Hidrólise Conjugação com GSH Monooxigenases do Cit. P-450 Produtos Primários GST, UGT, Produtos Secundários ST Monoaminooxidades (MAO) Flavinas Monooxigenases Excreção PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Lipofílico Hidrofílico GST: Glutation S-transferases UGT: Uridina Difosfoglicuronosil transferases ST: Sulfotransferases Figura 3. Esquema de biotransformação de xenobióticos (adaptado de Bastos, 2001). Segundo Newman & Unger (2003) as monooxigenases do citocromo P-450 estão envolvidas no metabolismo de uma grande variedade de xenobióticos e também no metabolismo de ácidos graxos, colesterol e hormônios esteróides. Mudanças bioquímicas associadas a indução do citocromo P-450 foram usadas por vários pesquisadores como biomarcadores na presença de contaminantes orgânicos tais como os HPAs (Eggens et al., 1996; Camus et al., 1998; Barra et al., 2001; Jewett et al., 2002). As reações de hidrólise são catalisadas principalmente pelas epóxido hidrolases como também pelas peptidases e pelas A-estearases. As reduções são catalisadas por várias enzimas, dentre elas as carbonil redutases e as glutation redutases, como também por processos não enzimáticos através de agentes redutores (Bastos, 2001). A Fase II freqüentemente envolve reações de conjugação na tentativa de neutralizar o xenobiótico. Estas reações de conjugação são catalisadas pelas glutation S-transferases (GST), uridina difosfoglicuronosil transferases (UGT) e sulfotransferases (ST). Toxicidade dos HPAs 36 Além disso, em múltiplas reações metabólicas de transferência de elétrons em células aeróbicas são formadas espécies reativas de oxigênio (ERO). Estas espécies reativas também podem resultar do metabolismo de certos xenobióticos e causam peroxidação de lipídios, alterações em proteínas e em ácidos nucléicos, produzindo danos às células. A proteção contra estas ERO é feita pelas enzimas superóxido dismutase, catalase, GST, glutation peroxidase selênio-dependente, aldo-ceto redutase e enzimas de reparo do DNA. Em geral, o aumento da polaridade da molécula leva à perda do potencial tóxico do composto sendo biotransformado, levando a desintoxicação. Porém, em alguns casos, pode ocorrer a ativação metabólica da molécula e o xenobiótico pode ser convertido em um produto com maior potencial tóxico (bioativação). Atualmente, o mecanismo mais aceito para a ativação dos HPAs é a oxidação enzimática seguida de hidrólise com a formação de diolepóxidos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA (Figura 4). A ligação entre os diolepóxidos, resultantes da ativação metabólica destas substâncias, e o DNA é favorecida quando diolepóxidos vicinais são formados, principalmente nas moléculas não lineares, que contenham regiões de baía, como o benzo(a)pireno (Figura 5) (Pereira Netto et al., 2000; Bastos, 2001; Hosnedl et al., 2003). Figura 4. Mecanismo de ativação dos HPAs. (Adaptado de Pereira Netto et al., 2000) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Toxicidade dos HPAs 37 Figura 5. Representação esquemática simplificada do metabolismo do benzo[a]pireno. 3.2.1. O metabolismo do pireno Como nesta dissertação o composto usado como referência é o pireno é importante conhecermos os metabólitos que são gerados na sua biotransformação. Apesar de não ser considerado tóxico, o pireno é muito usado como referência pela relativa simplicidade da sua biotransformação e por sua abundância no meio ambiente aquático. O principal metabólito gerado na Fase I é o 1-hidroxipireno já que, por ser simétrica, a hidroxilação na molécula de pireno se dá preferencialmente nos átomos de carbono C-1, C-3, C-6 e C-8 (Figura 6) sendo o metabólito obtido em todos os casos chamado de 1-hidroxipireno (Luthe et al., 2002). Na Fase II é formado principalmente o metabólito pireno-1-glucoronídeo (Bains & Kennedy, 2004) e em menor quantidade o pireno-1-sulfato que são então excretados na bílis dos peixes. Toxicidade dos HPAs 38 Figura 6. Estrutura do pireno. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 3.3. A bílis e a formação de biliverdina 3.3.1. A bílis Uma das funções do fígado é a formação de bílis. A bílis desempenha papel importante na digestão e absorção de gorduras, ajudando a emulsificar as grandes moléculas de gordura transformando-as em moléculas menores. Além disso, a bílis serve como meio de excreção de xenobióticos, entre outras substâncias (Guyton & Hall, 2002; Kierszenbaum, 2004). A eliminação biliar de xenobióticos foi pouco estudada durante a primeira metade do século XX. A partir de 1950, com o aparecimento de uma grande variedade de substâncias químicas sintéticas, foi reconhecida a importância da bílis como via de excreção destes compostos (Klaassen & Watkins, 1984). A bílis é secretada pelos hepatócitos, células funcionais metabólicas do fígado. Esta secreção é formada por ácidos biliares, colesterol e outros constituintes orgânicos. Em seguida, a bílis flui pelos canalículos biliares (Figura 7) até atingir o ducto hepático e o colédoco, podendo ser liberada diretamente no duodeno e principalmente desviada para a vesícula biliar (Guyton & Hall, 2002). Segundo os autores op citem, a bílis inicial recebe uma segunda secreção aquosa de íons sódio e bicarbonato a fim de neutralizar o ácido proveniente do estômago que deságua no duodeno. Em condições normais esta se encontra concentrada na vesícula biliar por cerca de cinco vezes, podendo chegar a um máximo de 20 vezes. Toxicidade dos HPAs 39 Figura 7. canalículo bilífero (Kierszenbaum, 2004). A bílis é formada basicamente de água (~97%) e sais biliares (1-2%), quando secretada pelo fígado. Na vesícula biliar o conteúdo de água diminuiu para 87% como resultado de sua concentração. São encontradas outras PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA substâncias tais como os pigmentos biliares, biliverdina e bilirrubina, substâncias derivadas da degradação da hemoglobina, além de metabólitos de xenobióticos. Quando o peixe se alimenta, o início da digestão na porção superior do trato gastrintestinal leva ao esvaziamento da vesícula biliar, sobretudo quando alimentos gordurosos chegam ao duodeno. Acredita-se que ao esvaziar a mesma se encha rapidamente de água, diminuindo a concentração de xenobióticos presentes (Richardson et al., 2004). Dessa forma, um peixe que passe maior período de tempo sem se alimentar terá maior quantidade de metabólitos de HPAs sulfatados e glicuronidados na vesícula biliar (Beyer et al., 1997; Richardson et al., 2004) e, consequentemente, maior concentração de HPAs na bílis, quando comparado a outro recém alimentado. As quantidades de biliverdina e de proteína biliar, indicativos de densidade da bílis, podem ser utilizadas como indicadores da situação (status) alimentar do peixe. 3.3.2. A formação de biliverdina A principal função dos eritrócitos (hemácias) consiste em transportar hemoglobina, esta é responsável pelo transporte de oxigênio para os tecidos. Toxicidade dos HPAs 40 Quando a membrana eritrocitária dos eritrócitos se torna frágil, as células se rompem durante sua passagem por algum ponto estreito da circulação, liberando a hemoglobina que é quase imediatamente fagocitada por macrófagos do sistema reticuloendotelial. Isto ocorre em muitas partes do organismo porém, particularmente pelas células de Kupffer do fígado e por macrófagos no baço e na medula óssea, liberando globina e heme (Guyton & Hall, 2002). O anel heme é oxidado a α-meso-hidroxiheme, que no estado desprotonado tem características de radical livre, reagindo com oxigênio para produzir verdoheme e carbonila (Figura 8). A verdoheme é então, convertida a biliverdina e ferro livre em uma reação que requer um NADPH-citocromo P-450redutase e O2. A liberação da biliverdina é uma etapa lenta, mas que pode ser acelerada na presença de biliverdina redutase, enzima que converte a biliverdina em bilirrubina (Montellano, 2000), sendo então, gradualmente liberada no plasma pelos macrófagos (Guyton & Hall, 2002). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA A biliverdina é responsável pela pigmentação característica de alguns peixes, anfíbios, répteis e insetos e pela coloração da casta do ovo de alguns pássaros (Colleran & Heirwegh, 1979). Em mamíferos os pigmentos biliares não parecem ter nenhum papel funcional claro. Eles aparentemente servem como produtos finais do catabolismo da heme da hemoglobina, destinados à rápida excreção. Figura 8. Oxidação do anel heme até a formação de biliverdina. 4 Monitoramento ambiental O monitoramento ambiental é uma importante ferramenta para a administração dos recursos naturais. Este oferece conhecimento e informações básicas para avaliar a presença de contaminantes, para compreender os sistemas ambientais e para dar suporte as políticas ambientais. O monitoramento consiste em observações repetidas de uma substância química químico ou mudança biológica, com um propósito definido de acordo com um planejamento prévio ao longo do tempo e espaço, utilizando métodos comparáveis e padronizados. Segundo van der Oost e colaboradores (2003), os PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA cinco métodos de monitoramento ambiental que devem ser seguidos para avaliar o risco de contaminantes para os organismos e classificar a qualidade ambiental dos ecossistemas são: - monitoramento químico – avalia a exposição medindo os níveis de contaminantes bem conhecidos nos compartimentos ambientais; - monitoramento da bioacumulação – avalia a exposição medindo os níveis de contaminantes na biota ou determinando a dose crítica no local de interesse (bioacumulação); - monitoramento do efeito biológico – avalia a exposição e o efeito determinando as primeiras alterações adversas que são parcial ou totalmente reversíveis (biomarcadores); - monitoramento da saúde – avalia o efeito através do exame da ocorrência de doenças irreversíveis ou danos no tecido dos organismos; - monitoramento dos ecossistemas – avalia a integridade de um ecossistema através de um inventário de composição, densidade e diversidade das espécies, entre outros. Monitoramento ambiental 42 Quando organismos vivos são usados no monitoramento ambiental para avaliar mudanças no meio ambiente ou na qualidade da água o monitoramento é chamado de monitoramento biológico ou biomonitoramento. Para que um biomonitoramento seja bem sucedido é importante a escolha do biomonitor que atenda as seguintes características (Figueira, 2006): capacidade de acumulação mensurável da substância química de • interesse; • distribuição generalizada na área de estudo; • ausência de variações sazonais na quantidade disponível para amostragem; capacidade de acumulação diferenciada do poluente, relacionando a • intensidade de exposição ao fator ambiental. Esta relação deve poder ser PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA descrita de uma forma quantitativa ou semi-quantitativa; • ausência de variações sazonais na capacidade de acumulação; • acumulação da substância química apenas pela via que se quer avaliar; • identificação taxonômica fácil; • que tenha sua fisiologia, ecologia e morfologia suficientemente estudada. Assim, durante o biomonitoramento são utilizados biomarcadores (celulares, tecido, fluidos corporais, mudanças bioquímicas, entre outros) para indicar a presença de poluentes ou como sistema de aviso de efeitos iminentes. 4.1. Biomarcadores O biomarcador é uma característica que pode ser: bioquímica, fisiológica, morfológica ou histológica, utilizada para indicar a exposição ou o(s) efeito(s) de uma substância sobre o organismo de um ser vivo. A qualidade de um biomarcador está relacionada a capacidade de uma mudança ser medida antes que alguma consequência adversa significativa ocorra no organismo de interesse. Um biomarcador ideal deve ser específico para um composto ou classe de compostos, podendo ser utilizado em diferentes espécies (IPCS, 1993). Monitoramento ambiental 43 Convém salientar que é necessário que o sistema envolvido seja bem conhecido para que se possa interpretar a influência que o meio ambiente exerce sobre ele. A ordem seqüencial de resposta ao estresse causado por um poluente em um sistema biológico é visualizado na Figura 9. O efeito em nível hierárquico superior é sempre precedido por mudanças no processo biológico. Desta forma, o biomarcador é utilizado como um sinal prévio refletindo a resposta biológica causada por uma toxina. primeiros sinais (biomarcadores) molecular PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA subcelular (organelas) celular Exposição a um tecido poluente sistêmico (órgãos) organismo efeitos tardios Figura 9. Representação esquemática da ordem sequencial de respostas ao estresse causado por poluentes em um sistema biológico (adaptado de van der Oost et al., 2003). Biomarcadores podem ser divididos em três classes (National Research Council, 2003; IPCS, 1993): - biomarcadores de exposição: são aqueles que detectam e mensuram a quantidade de uma substância exógena, seus metabólitos ou o produto da interação entre o xenobiótico e a molécula ou célula alvo em um compartimento do organismo; - biomarcadores de efeito: são aqueles que incluem alterações bioquímicas, fisiológicas ou outra alteração nos tecidos ou fluidos Monitoramento ambiental 44 corporais de um organismo que podem ser reconhecidos e associados com uma doença ou possível prejuízo a saúde; - biomarcadores de suscetibilidade: são aqueles que indicam a habilidade adquirida ou inerente de um organismo a responder a exposição a um xenobiótico específico, incluindo fatores genéticos e mudanças nos receptores que alteram a suscetibilidade de um organismo a uma dada exposição. Os biomarcadores de exposição podem ser usados para confirmar ou estimar a exposição de indivíduos ou de uma população a uma determinada substância ou grupo de substâncias fornecendo uma relação entre a exposição externa e a dose interna. De acordo com a definição, a bioacumulação de certos contaminantes persistentes em tecido de animais pode ser considerada com um PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA biomarcador de exposição. Os biomarcadores de efeito podem ser usados para documentar alterações pré-clínicas ou efeitos adversos a saúde devido a exposição externa e absorção de determinada substância. Os biomarcadores de suscetibilidade ajudam a elucidar a variação no grau de resposta da exposição a substâncias tóxicas observadas em diferentes indivíduos. O uso de biomarcadores de peixes no estudo da resposta biológica e bioquímica a contaminantes tem atraído grande interesse já que podem ser encontrados praticamente em todos os ambientes aquáticos e desempenham importante papel na cadeia alimentar, já que têm a função de transportar energia de níveis tróficos inferiores para níveis superiores (Beyer et al., 1996). No entanto, as variações na fisiologia de diferentes espécies de peixes podem repercutir de forma diferenciada nas respostas de um biomarcador. Apesar disso e de sua alta mobilidade, peixes são considerados bons organismos para o monitoramento da poluição em ambientes aquáticos. Baseados nos critérios formulados por Stegeman e colaboradores (1992), van der Oost e colaboradores (2003) propõem seis critérios que devem ser observados para avaliar um biomarcador em peixes: (1) Confiabilidade na quantificação do biomarcador (com controle de qualidade) resultante de ensaios simples e de baixo custo; Monitoramento ambiental 45 (2) Sensibilidade da resposta do biomarcador a exposição ou a efeitos de poluentes utilizados como parâmetros de aviso; (3) Definição clara dos dados de base de modo a permitir a distinção entre a variabilidade natural (ruído) e o estresse induzido pelo contaminante (sinal); (4) Conhecimento dos fatores que possam dificultar a interpretação da resposta do biomarcador à exposição ao poluente; (5) Estabelecimento do mecanismo de relação entre a resposta do biomarcador e a exposição ao poluente (dosagem e tempo); (6) Estabelecimento do valor toxicológico do biomarcador, tal como a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA relação entre sua resposta e o impacto ao organismo. 5 Ecologia e biologia do peixe Mugil liza (tainha) 5.1. Mugil liza (tainha) Nesta dissertação serão feitos estudos para a medição de metabólitos de HPAs na bílis de tainhas, sendo este um dos peixes mais comuns na região da Baía de Guanabara, de fácil captura e cuja vesícula biliar é de fácil localização. Para evitar variações no metabolismo entre indivíduos de diferentes espécies da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA mesma família, a espécie escolhida para estudo foi Mugil liza Valenciennes, 1836 que tem a seguinte taxonomia: Classe OSTEICHTHYES Subclasse ACTINOPTERYGII Subdivisão TELEOSTEI Série PERCOMORPHA Ordem Perciformes Família Mugilidae Gênero Mugil Espécie liza A classe Osteichthyes corresponde a classe dos peixes ósseos, onde a subclasse Actinopterygii corresponde aos peixes com nadadeira de raios e aberturas branquiais protegidas por um opérculo ósseo. Os teleósteos constituem o último grupo dos peixes de nadadeira raiada e são atualmente os peixes dominantes. Sua nadadeira caudal é simétrica, embora o eixo ainda se curve para cima. As nadadeiras pares são pequenas; as peitorais podem atuar como freio e as nadadeiras pélvicas estão freqüentemente localizadas bem à frente. Os teleósteos são os mais numerosos dos vertebrados, devendo-se em parte, a uma eficiente organização corporal e reprodução. Devido à sua abundância, constituem uma importante fonte de alimento para o homem. Ecologia e biologia do peixe Mugil liza 47 Os peixes da família Mugilidae têm ampla distribuição, ocorrendo em águas tropicais e subtropicais de todo o mundo, principalmente nas regiões costeiras estuarinas (Fishbase, 2005). São peixes detritívoros que se alimentam de material orgânico derivado de corpos de organismos mortos ou fragmentos destes e excreções deixadas por organismos vivos. Além disso, uma grande variedade de invertebrados pode ocorrer no detrito (Oliveira, 1997). No sudeste do Brasil ocorre apenas o gênero Mugil, representado por sete espécies (Menezes, 1983). Na identificação das espécies a contagem de escamas ao longo das séries laterais do corpo é feita a partir da escama que fica imediatamente acima da base da nadadeira peitoral e atrás da margem membranosa superior do opérculo até a base caudal, sem incluir as pequenas escamas que recobrem a base dos raios medianos da nadadeira caudal. A espécie Mugil liza foi primeiro descrita por Valenciennes em 1836. Esta espécie possui corpo alongado, fusiforme, com estrias escuras longitudinais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA alternadas com estrias claras e a ausência quase total de escamas nas nadadeiras anal e segunda dorsal (Figura 10). Sua maturidade sexual é atingida quando seu tamanho chega a aproximadamente 40 cm (Menezes, 1983). Figura 10. Mugil liza. A espécie é pelágica, vivendo na coluna d’água ou na superfície, os jovens permanecem no estuário, ambientes calmos, abrigados e ricos em alimentos, até que suas gônadas iniciem a maturação. Sua desova ocorre em alto mar, porém uma fase estuarial é obrigatória para os juvenis, à qual se segue o período de migração reprodutiva para o mar (Bizerril & Costa, 2001). A Mugil liza forma grandes cardumes, principalmente durante a migração reprodutiva, quando entram nos estuários, que são áreas onde a boca do rio entra no mar, havendo mistura de água doce e salgada. Ecologia e biologia do peixe Mugil liza 48 5.2. Análise biométrica A Análise Biométrica ou Biometria é dividida em análises merísticas, que analisa tudo que pode ser contado, e análise morfométrica, que analisa tudo que pode ser medido. Como informação básica que permitisse garantir a homogeneidade dos indivíduos da espécie estudada (unidades amostrais) foi feita a análise morfométrica a partir das seguintes grandezas (Figura 11): a) Comprimento total (LT): obtido com o exemplar colocado com o flanco direito sobre o ictiômetro, com o focinho encostado ao braço vertical do mesmo. Considera-se a medição horizontal da ponta do focinho à maior extremidade da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA nadadeira caudal; b) Comprimento padrão (LP): distância da ponta do focinho à porção distal do pedúnculo caudal (base dos raios da nadadeira caudal); c) Comprimento da cabeça (LC): distância da ponta do focinho à margem posterior do opérculo; d) Altura do corpo (AC): distância vertical, em ângulo reto com o eixo longitudinal do peixe, entre os contornos dorsal e ventral do corpo, na altura da inscrição da nadadeira peitoral, obtida a partir de um paquímetro; Figura 11. Diagrama do corpo do peixe e as medidas utilizadas. Além destas variáveis, obteve-se também o peso total do exemplar (W T), antes de qualquer manipulação. Ecologia e biologia do peixe Mugil liza 49 5.2.1. Estimativa do Peso Total (WT) e Comprimento Padrão (LP) Segundo Vazzoler (1982) é de fundamental importância para o estudo do ciclo de vida de uma população conhecer seu crescimento e peso. Populações distintas de uma mesma espécie apresentam taxas diferentes de crescimento e peso. Para estimar o peso total do peixe (W T) a partir do seu comprimento padrão (LP) utiliza-se a seguinte equação: WT = α ⋅ LPβ (4) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA com α e β obtidos após a transformação logarítmica da equação acima: log (WT) = log (α) + β log (LP) (5) Inicialmente, os valores de peso e comprimento padrão são obtidos para sexos em separado. Esta separação é necessária devido à uma ocorrência mais generalizada de dimorfismo relacionado com a estratégia de reprodução, visto que a fecundidade aumenta com o comprimento dos indivíduos (Okumus & Bascinar, 1997; Lowe-McConnell, 1999). Ajusta-se aos dados a equação (2) e aplicando o teste t-student aos valores de α e β relativos à regressão entre sexos para constar diferença entre ambos. Quando não há diferença significativa os dados podem ser agrupados e calcula-se a expressão para a espécie. 5.2.2. Fator de condição (K) O estado fisiológico de um peixe é condicionado pela interação de fatores bióticos e abióticos, sendo a variação nesse estado expressa através do Fator de Condição (K). Este fator indica condições alimentares recentes e varia durante o ciclo de maturidade sexual de um peixe. Ecologia e biologia do peixe Mugil liza 50 Admite-se que o peixe cresce isometricamente em todas as dimensões, sendo os valores do fator de condição comparáveis somente quando os mesmos são sexualmente maduros. O Fator de Condição aqui considerado é o alométrico, que é expresso pela relação: K= WT LβP (6) onde W T é o peso total (g) e LP é o comprimento padrão do peixe (cm). Outros índices usados com o mesmo fim são os índices gonadal (IG) e o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA de maturidade (IM), dados por: IG = WG L3T (7) IM = WG LC (8) onde W G é o peso das gônadas e W C = W T – W G. 5.3. Órgãos reprodutores Para a identificação dos órgãos reprodutores deve-se realizar uma incisão cuidadosa para não atingir e danificar os órgãos internos. Na cavidade abdominal localizam-se: Testículos: em geral apresentam forma alongada, sendo na fase inicial de desenvolvimento tubulares; nas fases seguintes apresentam lobulares. A coloração é esbranquiçada; Ecologia e biologia do peixe Mugil liza 51 Ovários: apresentam forma alongada-tubular; nas fases iniciais são translúcidos e nas seguintes sua coloração varia de amarelo, amarelo-rosado e avermelhado. Após as fases iniciais de desenvolvimento, os ovócitos tornam-se visíveis. 5.3.1. Estágios de maturação sexual Os estágios de maturidade das gônadas são classificados utilizando um estereomicroscópio, com a escala proposta por Vazzoler (1982) como: a) Imaturos: os ovários são filiformes, translúcidos, de tamanho reduzido, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA juntos a coluna vertebral; a olho nu não se observam os ovócitos. Os testículos também são reduzidos, filiformes, com posição semelhante a dos ovócitos; b) Em maturação: os ovários ocupam cerca de 1/3 a 2/3 da cavidade abdominal, com intensa rede capilar; a olho nu observam-se grânulos opacos de tamanho variado, os ovócitos. Os testículos, do mesmo modo que os ovários, apresentam-se desenvolvidos, com forma lobulada, sendo que, com uma certa pressão, sua membrana rompe-se eliminando esperma leitoso, viscoso; c) Maduro: os ovários aparecem túrgidos, ocupam quase que totalmente a cavidade abdominal; a olho nu observam-se ovócitos maduros que se apresentam como grânulos esféricos e opacos e/ou translúcidos e grandes, cuja freqüência varia com o progresso da maturação. Os testículos também aparecem túrgidos, ocupam quase que totalmente a cavidade abdominal; com uma fraca pressão, sua membrana rompe-se eliminando esperma menos viscoso que o estado anterior; d) Esvaziado: os ovários apresentam-se com aspecto hemorrágico, completamente flácidos, ocupando menos 1/3 da cavidade abdominal, observando-se poucos ovócitos, em estado de reabsorção. Os testículos também apresentam-se flácidos, com aspecto hemorrágico; a membrana não se rompe sob fraca pressão; Ecologia e biologia do peixe Mugil liza 52 e) Em repouso: tem caracterização macroscópica bastante difícil, por apresentarem aspectos semelhantes ao aspecto B, contudo suas membranas são mais espessas ocorrendo em exemplares acima de 200 mm em épocas bem definidas do ano. Os ovários no estágio D ocorrem em baixíssima freqüência, provavelmente, devido a curta duração desta fase. A proporção entre jovens e adultos entre as diferentes épocas e locais de coleta pode indicar períodos e áreas de recrutamento, assim pode-se considerar peixes jovens como aqueles tiveram o estágio de maturidade gonodal PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA classificado como imaturo (A) e adultos aqueles nos demais estágios. 6 Determinação de HPAs em peixes Várias técnicas analíticas têm sido usadas para determinar os níveis de HPAs e seus metabólitos em peixes. As técnicas mais comumente usadas incluem a cromatografia gasosa com detector de ionização de chama (CG/FID), cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG/EM), cromatografia em fase líquida de alta eficiência com detector de ultravioleta ou de fluorescência (CLAE/UV, CLAE/F), cromatografia de camada fina com detector de fluorescência. Além destas técnicas quantitativas podem ser usadas técnicas semi-quantitativas de fluorescência, técnicas de imunoensaio, entre PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA outras. Como matrizes podemos ter o tecido de diversos órgãos, e fluidos biológicos como sangue e bílis. Por ser uma matriz complexa, a análise do tecido exige uma etapa de extração dos HPAs da matriz e “clean up” antes da análise propriamente dita, sendo um procedimento caro e demorado. Já a análise da bílis do peixe é uma técnica mais simples pois não são necessárias etapas de extração. 6.1. Técnicas de extração e clean-up O objetivo da extração é separar o HPA da matriz, com mínima coextração de outros compostos e mínima degradação do HPA extraído. As amostras devem ser extraídas o mais rápido possível após sua coleta, para minimizar a degradação, sublimação e outras rotas de perda dos HPAs. Como exemplo de perda por armazenagem temos a adsorção de HPAs nas paredes dos frascos de vidro de amostras aquosas. Já em solventes orgânicos o HPA parece ser estável (Bjørseth, 1983). Como os HPAs se degradam facilmente na presença de radiação ultravioleta, deve-se evitar expor as amostras durante as etapas de extração e análise, a fim de evitar sua fotodecomposição. A degradação térmica e a Determinação de HPAs em peixes 54 sublimação também podem causar perdas de HPA durante a extração. É recomendado que sejam usados solventes relativamente voláteis em procedimentos de refluxo ou destilação para permitir a concentração do extrato em baixas temperaturas. Manter a temperatura abaixo de 45 oC reduz ou até elimina as perdas de HPAs. Mas, a perda de HPAs com dois anéis pode chegar até a 80% na concentração do extrato por evaporador rotativo (Bjørseth, 1983). Os métodos de extração mais comuns são: • Extração com solvente: Soxhlet, ultra-som, extração mecânica de alta intensidade e extração líquido-líquido; • Extração por métodos térmicos: sublimação e destilação; • Extração em fase sólida: carbono, resinas macroreticulares, sílica gel, florisil, alumina, fase sólida ligada a sílica; PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA • Métodos de digestão. Na extração com solvente, a eficiência da extração dos HPAs depende da polaridade do solvente usado, da natureza da matriz e da preparação das amostras. Matrizes complexas como alimentos contém uma série de compostos hidrofóbicos e é necessário que haja uma etapa de clean-up para que estes sejam removidos. Para o clean-up de amostras existe uma série de procedimentos que podem ser usados tais como: fracionamento solvente:solvente, extração em fase sólida, cromatografia de camada fina, cromatografia em coluna e cromatografia por exclusão. Um dos métodos mais eficientes e seletivos é a coluna cromatográfica com Al2O3·H2O de atividade IV. Eluentes como o hexano, extraem todos os hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos não polares enquanto os componentes que correspondem a maior quantidade de material dissolvido, como os lipídios, ficam adsorvidos na coluna. Este procedimento foi sugerido como método de escolha para o padrão ISO (Stolyhwo & Sikorski, 2005). Já para matrizes de alto teor de lipídio, foi demonstrado que o uso da cromatografia por permeação em gel, embora seja uma técnica mais cara, dá melhores resultados (Rizel, 2003). Determinação de HPAs em peixes 55 6.2. Determinação de HPAs em bílis de peixe Como o metabolismo de vertebrados é eficaz na biotransformação e eliminação de HPAs, eles não se acumulam no tecido de peixes. Assim, os níveis de HPAs no tecido não são considerados um bom marcador de bioacumulação destes compostos já que não refletem os níveis destes xenobióticos no meio ambiente (van der Oost et al., 2003). Assim, vários cientistas passaram a usar a análise de metabólitos de HPAs em bílis de peixe para monitorar o meio ambiente e demonstrar sua correlação com a exposição a estes compostos (Krahn et al, 1984; Beyer et al., 1996, 1998; Lin et al., 1996; Aas et al., 1998, 2000; Verweij et al., 2004; Haugland et al., 2005). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Neste tipo de análise os compostos presentes na bílis são metabólitos, produto da biotransformação dos HPAs no seu fígado, sendo compostos hidroxilados e conjugados. Estes metabólitos refletem a exposição dos peixes aos HPAs de 2 a 3 dias, onde a migração dos peixes não deve exercer influência nos resultados (Ariese et al., 1993). O primeiro trabalho onde os metabólitos de HPAs na bílis de peixe foram usados como biomarcadores foi publicado em 1984 por Krahn e colaboradores. Neste trabalho foi usada a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com detector de fluorescência (CLAE-F), sem a separação completa ou identificação dos metabólitos individuais. Os comprimentos de onda de excitação e emissão usados foram, respectivamente, 380/430 nm para medir metabólitos do tipo benzo(a)pireno e 290/335 nm para medir metabólitos do tipo naftaleno. Em 1993 Ariese e colaboradores, usando peixes contaminados em cativeiro, demonstraram existir correlação entre o método de determinação por CLAE-F e por fluorescência sincronizada (Synchronous Fluorescence Spectroscopy - SFS) para os comprimentos de onda de excitação e emissão de 380/430 nm. No ano seguinte, Lin e colaboradores publicam um segundo trabalho usando esta mesma técnica. Em 1996 Lin e colaboradores estudaram o uso da medição por fluorescência fixa (Fixed Fluorescence - FF) de metabólitos do tipo naftaleno e metabólitos do tipo benzo(a)pireno, comparando com análises por cromatografia. Neste estudo foram usados 3 diferentes tipos de peixes. Foi encontrada forte correlação entre as duas técnicas, sendo as medições por FF, em geral, Determinação de HPAs em peixes 56 menores que as medições feitas por CLAE-F. Além disso, foi demonstrado que com a utilização desta técnica foi possível discriminar locais impactados de outros não impactados. Atualmente, são empregadas usualmente 5 técnicas diferentes, sendo três semi-quantitativas: fluorescência com comprimentos de onda de excitação e emissão fixos (FF) e comprimentos de onda de excitação e emissão sincronizados (SFS) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com detector de Fluorescência (CLAE/F). Para a separação e quantificação dos HPAs podem ser usadas técnicas de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com detector de Fluorescência (CLAE/F) ou Cromatografia Gasosa acoplada a um espectrômetro PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA de Massas (CG/EM) (Figura 12) (Ariese et al., 2005b). Figura 12. Métodos de determinação de HPAs em bílis de peixe (adaptado de Ariese et al., 2005b). A vantagem de usar as técnicas semi-quantitativas é a sua rapidez e baixo custo, já que não é necessária uma etapa de “clean up”, sendo indicadas para o monitoramento ambiental em casos de derrame de óleo. No caso da CLAE, para que esta técnica seja quantitativa a bílis deve ser hidrolisada enzimaticamente, permitindo a detecção dos compostos hidroxilados livres. Para a análise por cromatografia gasosa é necessária uma etapa de extração para separar os HPAs hidrolisados da matriz e a derivatização pode ser usada para aumentar a separação e sensibilidade. Este método é o mais indicado para a Determinação de HPAs em peixes 57 análise de HPAs com 2 e 3 anéis por sua seletividade, sendo indicado para a análise de exposição à petróleo. Já o CLAE é mais indicado para a detecção de compostos com 4 ou 5 anéis, sendo indicado para contaminação por HPAs resultantes de processos de combustão (Ariese et al., 2005b). Além de sua simplicidade e baixo custo, alguns autores demonstraram que as análises de bílis de peixe por fluorescência fixa têm uma boa correlação com as análises feitas por CLAE com detetor de fluorescência, indicando que esta técnica é uma boa ferramenta para o monitoramento de HPAs na bílis de peixe. (Lin et al., 1996; Vuontisjärvi et al., 2004). Nesta dissertação foi usada a técnica espectroscópica de Fluorescência Fixa (Fixed Fluorescence) para o estudo semi-quantitativo dos metabólitos de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA HPAs na bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara. 6.3. Fluorescência molecular Quando orbitais atômicos se combinam formam um orbital molecular ligante, de energia mais baixa, e um orbital molecular anti-ligante, de energia mais alta. No estado fundamental, os elétrons de uma molécula ocupam os orbitais de energia mais baixos. A ligação dupla em uma molécula orgânica contém dois tipos de orbitais moleculares, um orbital sigma (σ), correspondente a um par de elétrons ligantes e um orbital molecular pi (π) associado a outro par. Os orbitais π são formados pela superposição paralela de orbitais p atômicos. Muitos compostos orgânicos contém elétrons não-ligantes e esses elétrons nãocompartilhados são designados pelo símbolo n. No estado fundamental, os HPAs são sistemas onde todos os orbitais π ligantes estão ocupados por dois elétrons com spins opostos e todos os orbitais π antiligantes (π*) estão desocupados e os orbitais estão em simetria. As energias dos orbitais mais externos são particularmente importantes para as propriedades físico-químicas dos HPAs, já que suas energias determinam as propriedades dos HPAs. Os elétrons responsáveis pela formação dos orbitais moleculares π são os elétrons 2pz do carbono (Bjørseth, 1983). Conforme mostrado na Figura 13, as energias dos vários tipos de orbitais moleculares diferem significativamente. Quase sempre o nível de energia de um elétron não-ligante situa-se entre os níveis de energia dos orbitais σ e π ligantes Determinação de HPAs em peixes 58 e antiligantes. As transições eletrônicas entre certos níveis de energia podem PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA ocorrer por absorção de radiação (Skoog, 2002). Figura 13. Diagrama parcial de energia de um sistema fotoluminescente (fonte: Skoog, 2002). Todos os compostos orgânicos são capazes de absorver radiação eletromagnética já que todos contém elétrons de valência que podem ser excitados a níveis de energia mais altos. As energias de excitação associadas a elétrons formando a maior parte ligações simples são altas, de modo que a absorção por elas está restrita à chamada região ultravioleta de vácuo (comprimento de onda (λ) < 185 nm). As dificuldades experimentais associadas com o ultravioleta de vácuo são significativas e como conseqüência, a maioria das investigações espectrofotométricas de compostos orgânicos envolve a região de comprimento de onda maior que 185 nm. A absorção de radiação visível e de ultravioleta de maior comprimento de onda está restrita a um número limitado de grupos funcionais (grupos cromóforos) que contém elétrons de valência com energia de excitação relativamente baixas. Como o estado excitado é instável os elétrons excitados pela absorção de fótons voltam ao seu estado fundamental (processo de relaxação ou desativação) (Figura 13). Os processos de relaxação podem ser Determinação de HPAs em peixes 59 não radiativos como a relaxação vibracional, a conversão interna e a conversão externa (Skoog, 2002). Quando ocorre o cruzamento intersistema o spin de um elétron excitado é invertido e se tornando não-emparelhado com o elétron no estado fundamental. A probabilidade dessa transição é aumentada se os níveis vibracionais dos dois estados se interpenetram (Figura 13). Após o cruzamento para um estado triplete pode ocorrer desativação do estado eletrônico excitado por conversão interna ou externa ou por emissão de fóton (fosforescência). Se a diferença de energia entre o estado singleto excitado e o estado fundamental é significativa, o retorno do estado excitado singleto para o estado fundamental pode ocorrer por emissão de fóton, fluorescência e o grupo cromóforo é chamado de fluoróforo. As moléculas aromáticas, com sua estrutura rígida, têm menos graus de liberdade vibracional que as moléculas alifáticas e são a classe de compostos que mais frequentemente apresentam fluorescência (Sharma & Schulman, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 1999). A intensidade de fluorescência (IF) é diretamente proporcional à intensidade do feixe de excitação (I0), a absorvância (εbC) e o rendimento quântico (ΦF) da espécie, definidos pela equação: IF = KF I0 ΦF ε b C (9) onde KF é uma constante de proporcionalidade, função da resposta instrumental no momento da detecção, ε é a absortividade molar, b é o comprimento percorrido pelo feixe na amostra e C a concentração da espécie fluorescente. O rendimento quântico é a razão do número de moléculas luminescentes pelo número total de moléculas excitadas. A maioria dos hidrocarbonetos aromáticos não-substituídos fluoresce em solução e a eficiência quântica aumenta com o número de anéis e seu grau de condensação. 7 Áreas de estudo 7.1. Baía de Guanabara, RJ A Baía de Guanabara encontra-se situada na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro (Figura 14) e ao longo das suas margens estão situadas a cidade do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São Gonçalo, Niterói, Petrópolis, entre outras. Ao redor da baía residem 7,6 milhões de pessoas, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA correspondendo a 2/3 da população da região metropolitana do Rio de Janeiro. Localizada na latitude S 22o 50’ e na longitude W 43o 10’, a baía tem uma área de 381 km2, espelho d’água de 328 km2 e 65 ilhas que somam 59 km2 de área. O perímetro da baía mede 131 km e o volume médio de água é de 1,87 x 109 m3 (Kjerfve et al., 1997; Weber, 2001, da Costa, 2003; Instituto Baía de Guanabara, 2006). Baía de Guanabara Figura 14. Mapa do estado do Rio de Janeiro, destacando em vermelho a região metropolitana e em azul a Baía de Guanabara. Áreas de estudo 61 A Baía de Guanabara pode ser considerada um estuário e sua bacia de drenagem mede 4.080 km2 sendo formada por 45 rios, onde apenas 6 são responsáveis por 100 m3 s-1 da descarga média total anual de água fresca , sendo os mais importantes os rios Acari, Sarapuí, Pavuna, Suruí, Roncador, Macacu, Guapimirim, Estrela e Iguaçu (Kjerfve et al., 1997; CEDAE, 199-; Weber, 2001). O clima na Baia de Guanabara é tropical úmido com verões quentes e chuvosos e invernos frios e secos, com grande influência marinha. A temperatura média anual é de 23,7 oC e a umidade relativa é 78% ao nível do mar (DENEMET, 1992 apud Kjerfve et al., 1997). A profundidade média da Baía de Guanabara é de 7,6 m, sendo 3 m no fundo da baía, 8,2 m no meio e 16,9 m na entrada sendo a profundidade máxima de 50 m (Weber, 2001; Instituto Baía de Guanabara, 2006). A Baía é caracterizada por alta salinidade e temperatura. Durante o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA período de 1980-1993 a salinidade média foi de 29,5 ± 4,8 o/oo variando de 9,9 a 36,8 o/oo. A salinidade decresce da entrada do oceano até o fundo da baía, em resposta a descarga de água doce nas margens do interior. A temperatura da água foi medida no mesmo período sendo sua temperatura média de 24,2 ± 2,6 o C, variando de 17,0 a 31,0 oC. A temperatura aumenta da entrada da baía até o fundo, em resposta a advecção de água do mar, mais fria, para a baía (Kjerfve et al., 1997). A maré na baía é classificada como semi-diurna, com período de cerca de 12,5 horas. Na superfície a duração da enchente é de 4,5 h aproximadamente, e a vazante é de 8 h. No fundo, a enchente e a vazante apresentaram a mesma duração, com aproximadamente 6 h (JICA, 1994 apud da Costa, 2003). No entorno da baía existem 6000 indústrias e mais 6000 na bacia de drenagem, 2 portos comerciais, 12 estaleiros, 16 terminais de óleo, além de duas refinarias de petróleo, o que demonstra a importância econômica da área. Comparando com outras baías que propiciaram o surgimento de importantes cidades como a Baía de Tóquio (cidade de Tóquio, espelho d’água: 1400 km2; extensão 800 km) e a Baía de Chesapeake (cidades de Baltimore e Washington; espelho d’água: 6.400 km2; extensão: 322 km), pode-se dizer que a importância da Baía de Guanabara não é proporcional à sua dimensão (da Costa, 2003). Embora invadida pela expansão urbana, o fundo da baía ainda é margeado por 68,7 km2 de manguezais dos quais 43 km2 pertencem a área de proteção ambiental de Guapimirim (Kjerfve et al., 1997; Weber, 2001; Instituto Baía de Guanabara, 2006). Os manguezais são áreas extremamente Áreas de estudo 62 importantes pois apresentam condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais. As principais fontes de poluição da Baía de Guanabara são o esgoto industrial, onde 80% dele é proveniente de apenas 52 indústrias, 7 t/dia de óleo, 20 m3/s de esgoto doméstico e 800 m3/dia de chorume (CEDAE, 199-). Dados da FEEMA (2006) sobre a demanda bioquímica de oxigênio, coliformes e clorofila-a de vários pontos da Baía de Guanabara indicam que, de 1990 a 2000 houve maior deterioração da qualidade da água da porção nordeste da baía, que, no entanto, tem ainda melhor qualidade do que as áreas noroeste e oeste. Em 1991, apesar dos grandes investimentos feitos no Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), apenas 15% do esgoto doméstico e industrial receberam alguma forma de tratamento. Atualmente este valor subiu para cerca de 25% (Marqueiro & Brandão, 2005). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Segundo Kjerfve e colaboradores (1997) a maior concentração de nutrientes é encontrada na margem oeste da baía por causa do enriquecimento do escoamento urbano de esgoto e da renovação de água menos eficiente, sendo as concentrações de nutrientes elevadas na superfície, com água menos salina, refletindo a fonte de escoamento urbano. A profundidade do disco de Secchi é menor que 0,75 m e a concentração de sólidos suspensos é maior que 25 mg L-1 (JICA, 1994 apud Kjerfve et al., 1997). As concentrações de oxigênio dissolvido mostram grande flutuações temporais e o valor médio não varia significativamente horizontalmente, com exceção dos locais perto de pontos de descarga do escoamento urbano poluído. A concentração média foi de 8,4 mg L-1 (124% de saturação) sendo a água da superfície freqüentemente supersaturada refletindo altas taxas de produção primária (Kjerfve et al., 1997). Os grandes aportes de nutrientes levaram a eutrofização das águas da baía e segundo a FEEMA o pescado diminuiu para 10% do que era há três décadas atrás (Kjerfve et al., 1997). Apesar disso, a Baía de Guanabara mantém uma produção pesqueira importante, tanto pelas quantidades desembarcadas como pelo número de pescadores envolvidos (IBAMA, 2002). No período de abril de 2001 a março de 2002 o IBAMA registrou que a pesca da tainha ao longo do ano foi um importante recurso pesqueiro, correspondendo a 6% do total pescado no período. Se for considerado apenas o grupo de peixes sem destinação industrial o número de tainhas e corvinas pescados/capturados passa a corresponder a 54% da produção (IBAMA, 2002). Áreas de estudo 63 7.1.1. Poluição por petróleo e derivados na Baía de Guanabara Em relação ao petróleo e seus derivados as fontes de poluição na baía podem ser crônicas ou agudas. Dentre as atividades realizadas na bacia da Baía de Guanabara que geram efluentes oleosos rotineiramente estão compreendidas as refinarias de petróleo, os estaleiros, os terminais marítimos e terrestres e os postos de serviço de combustível. Nos últimos cinco anos ocorreram 8 acidentes com petróleo e derivados na Baía de Guanabara. O vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo combustível ocorrido em um duto da Petrobrás em janeiro de 2000 foi o mais comentado na mídia e sua mancha se estendeu por mais de 50 km2, não sendo este o primeiro acidente, nem o mais grave com este duto. Em 1997 já haviam vazado 2,8 milhões de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA litros de óleo combustível deste mesmo duto. Por causa deste acidente a pesca foi proibida pelo IBAMA durante um mês e liberada quando as determinações de HPAs nos tecidos dos peixes (corvina e tainha) antes e depois do acidente não indicaram modificações nas concentrações de HPAs encontradas nas amostras (Meniconi et al., 2001). Abaixo estão listados os principais acidentes ocorridos na Baía (da Costa, 2003; de Cassia, 2005; Gomes, 2005 ; Ambientebrasil, 2006): 03/set/2005 vazamento de 2 mil litros de óleo na Baía de Guanabara após um acidente com o navio Saga Mascot durante sua atracação, atingindo as praias da Flecha e Icaraí em Niterói; 12/ago/2005 vazamento de óleo de um navio na altura do Cais do Porto, com a mancha atingindo cerca de 1,5 km; 31/mai/2005 vazamento de mais de 4 mil litros de óleo do navio Alminufiyah, na altura do Cais do Porto; 26/abr/2005 despejo de mais de 60 mil litros de óleo diesel no Rio Caceribu (rio afluente da Baía de Guanabara), na Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, pelo descarrilamento Áreas de estudo 64 de um trem da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), controlada pela Companhia Vale do Rio Doce, no Porto de Caxias; mar/2004 vazamento de 2 mil litros de petróleo de um navio desativado pertencente a uma empresa privada; fev/2002 vazamento de 50 mil litros de óleo combustível do transatlântico inglês Caronia; jun/2000 380 litros de óleo combustível foram lançados ao mar pelo navio Cantagalo, que presta serviços à Petrobrás; jan/2000 rompimento de um duto da Petrobrás que liga a Refinaria de Duque de Caxias (RJ) ao terminal da Ilha d’Água, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA provocando o vazamento de 1,3 milhões de litros de óleo combustível; ago/1997 vazamento de 2 mil litros de óleo combustível atingindo cinco praias da Ilha do Governador (RJ); mar/1997 rompimento de um duto da Petrobrás que liga a Refinaria de Duque de Caxias (RJ) ao terminal da Ilha d’Água, provocando o vazamento de 2,8 milhões de litros de óleo combustível; mar/1975 derramamento de 6 milhões de litros de óleo cru por um cargueiro fretado pela Petrobrás. Há um alto risco de acidentes por derramamento de petróleo e derivados já que os diversos ecossistemas da baía são atravessados por muitos quilômetros de oleodutos, através dos quais são continuamente bombeados dezenas de milhões de litros de óleo e derivados entre seus terminais, navios, petroleiros e balsas (da Costa, 2003). Como fonte crônica é registrado um aporte de 7t/dia de óleo proveniente do escoamento urbano e das indústrias, sendo 0,65 toneladas provenientes da REDUC (CEDAE, 199-). Ou seja, em menos de um ano teríamos quantidade comparável a do acidente ocorrido em janeiro de 2000. Áreas de estudo 65 7.1.2. Estudos de HPAs na Baía de Guanabara Na Tabela 4 estão relacionados os trabalhos envolvendo estudos de HPAs realizados na Baía de Guanabara, nos compartimentos água, sedimento ou biota. Deve-se tomar cuidado ao analisar estes resultados já que distintas técnicas analíticas nem sempre são comparáveis e muitas vezes foram usados pontos de coleta em diferentes pontos da Baía. Os resultados pré e pós derrame de janeiro/2000 mostram que não houve impacto significativo no sedimento e na coluna d’água da Baía de Guanabara (Meniconi et al., 2002). Comparando-se os valores obtidos para organismos vertebrados e invertebrados nota-se a diferença existente nos níveis de HPAs presentes no PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA tecido, como o esperado, já que o metabolismo de HPAs em invertebrados é mais lento do que em vertebrados. De acordo com o critério adotado pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) no acidente com o navio Exxon Valdez no Alasca em 1989, as amostras de tecido de peixe são divididas em quatro categorias como na Tabela 5. Levando-se em consideração a diferença entre peso seco e peso úmido, os valores de tecido de peixe da Baía de Guanabara estariam enquadrados nas amostras não contaminadas ou de contaminação mínima, não representando uma ameaça a saúde pública. Áreas de estudo 66 Tabela 4. Concentrações de HPAs encontrados na água, sedimento e biota da Baía de Guanabara. Concentrações Referência Observações de HPAs ÁGUA (µg L-1) 0,06 – 1,59 Silva, 2004 0,66 – 1,18 (F) Lima, 2001 0,79 – 2,79 (NF) 0,93 (F) amostras coletadas em 1999. Resultados em equivalentes de criseno. Lima, 2001 1,52 (NF) amostra coletada após o acidente de janeiro/2000. Resultados em equivalentes de criseno. <0,04 – 11,56 Meniconi et al., 2002 (NF) 0,05 – 1,09 (F) 10 dias após o acidente de 2000. Resultados em equivalentes de criseno. Azevedo, 1998 Resultados em equivalentes de criseno. Hamacher, 1996 Resultados em equivalentes de criseno. 0,12 – 1,75 (NF) 0,21 – 1,40 (F) 0,93 – 2,97 (NF) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA SEDIMENTO (µg Kg –1) 78,61 – 8781,52 Silva, 2004 200 – 9700 Meniconi et al., 2002 554 – 1894 Hamacher, 1996 1564 – 18438 Lima, 1996 1051 – 5861 10 dias após o acidente de 2000 Chalaux, 1995 apud Silva, 2004 BIOTA (peso seco) (µg Kg –1) INVERTEBRADOS Mexilhão Perna perna 500 Lima, 2001 Mexilhão Perna perna 900 Lima, 2001 Mexilhão Perna perna 68 - 432 Azevedo, 1998 Mugil liza 2,3 – 15,6 Silva, 2004 Micropogonias furnieri 9,8 – 52,6 Mugil liza 63 – 76 Micropogonias furnieri 16 – 37 Mugil liza 313 Micropogonias furnieri 80 após o acidente de 2000 VERTEBRADOS (Peixes) Meniconi et al., 2001 20 dias após o acidente de 2000. Meniconi et al., 2001 amostras de janeiro de 1999 F: filtrado ; NF: não filtrado Tabela 5. Valores de referência para o HPAs totais para estimar o nível de contaminação em tecido de peixes (peso úmido). -1 Valores de referência (µg kg ) amostras não contaminadas < 10 amostras de contaminação mínima 10 – 99 amostras com contaminação moderada 100 – 1000 amostras altamente contaminadas > 1000 Fonte: Meniconi et al., 2001. Áreas de estudo 67 7.1.3. Praia de Ipiranga, Magé A praia de Ipiranga localiza-se no município de Magé, RJ, e sua principal atividade econômica é a pesca. A produção de pescado é comercializada no local, adquirida por intermediários e destinada a feiras, peixarias e para o CEASA (IBAMA, 2002). O relatório do IBAMA de 2002 sobre a atividade pesqueira na Baía de Guanabara indica que de abril de 2001 a março de 2002 existiam 511 currais (Figura 15) em atividade, sendo 37 deles localizados na praia de Ipiranga (IBAMA, 2002). Como a vida útil de um curral varia de 11 a 12 meses, o número de armadilhas em operação efetiva pode variar ao longo do tempo. Os currais são artes de pesca fixas, confeccionados com esteiras de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA bambu e tendo como fundação, troncos de árvores dos manguezais ou de eucalipto. Para a construção de um curral são necessários 150 a 180 troncos, com diâmetro variando de 3 a 8 cm e altura entre 5 e 7 metros (IBAMA, 2002). Figura 15. Curral próximo a praia de Ipiranga, Magé. A praia de Ipiranga foi um dos locais afetados pelo derrame de óleo de janeiro de 2000 e por sua proximidade com o duto de transporte de óleo da Petrobrás é de interesse que sejam monitorados os peixes da região quanto a presença de HPAs no meio ambiente (Figura 16). Áreas de estudo 68 região dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA currais Figura 16. trecho da Carta náutica 1501 indicando a região dos currais próximos a praia de Ipiranga, Magé. 7.2. Itaipu, Niterói A praia de Itaipu é uma tradicional vila de pescadores que encontra-se situada na região oceânica da cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro (Figura 17). Localizada na latitude S 22o 58’ e longitude W 43o 05’, a praia de Itaipu é ligada a Lagoa de Itaipu por um canal construído em 1970 (IBAMA, 2000; Weber, 2001). Com a construção do canal o arco praial original de 3300 m foi dividido em duas praias denominadas Camboinhas e Itaipu (Santos et al., 2004). A profundidade da água varia de um mínimo de 3-4 m logo após a arrebentação até um máximo de 28 m. Itaipu é um ambiente clástico com ondas, tendo uma variação de maré semi-diurna com uma flutuação máxima de 1,4 m e Áreas de estudo 69 a velocidade das correntes raramente excedem 10 cm/s (Salvador et al., 2002; Santos et al., 2004). Segundo o Censo Demográfico de 1991, o bairro de Itaipu possui 11.136 habitantes, correspondendo a 2,55% do total de Niterói. Não existe uma rede geral de esgotos e a maioria dos moradores utilizam como alternativa o sistema de fossas sépticas (Prefeitura de Niterói, 2005). Assim, a lagoa de Itaipu recebe esgoto doméstico não tratado que pode atingir a praia já que a renovação de sua água é fortemente controlada pelas marés (Weber, 2001). Não existem relatos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA de acidentes com petróleo e derivados nesta região. Figura 17. Mapa do Estado do Rio de Janeiro, com destaque para a cidade de Niterói. Áreas de estudo 70 O tipo de pesca mais comumente usado na região é a rede de espera ou o arrastão de praia. A presença de tainhas é sazonal, dependendo do seu ciclo reprodutivo. Oliveira (1997) descreve que mugilídeos estudados na laguna de Itaipu entram no sistema lagunar durante o final do período quente e/ou início do frio e ao atingirem os maiores tamanhos saem do sistema, possivelmente para fins reprodutivos, correspondendo ao final do período frio e/ou início do quente. Esta freqüência também foi observada neste trabalho, onde a quantidade de peixes coletados no verão (janeiro/2005 e janeiro/2006) foi sensivelmente menor do que no inverno (setembro/2004 e agosto/2005). Dados fornecidos pelas indústrias pesqueiras dos municípios do Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo revelam que as maiores capturas de tainhas em alto mar correspondem ao PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA período quente (IBAMA, 1996 apud Oliveira, 1997). 8 Parte experimental 8.1. Coleta dos peixes e medição dos parâmetros físico-químicos O peixe escolhido para monitoramento foi a tainha, especificamente da espécie Mugil liza já que junto com a corvina este é um dos peixes mais pescados na região da Praia de Ipiranga, Magé, RJ (IBAMA, 2002). Os peixes foram coletados tanto em área de contaminação crônica por PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA óleo (Baía de Guanabara, RJ) quanto em área sem histórico de contaminação, área controle (Itapu, Niterói). Foram feitas duas amostragens iniciais, para reconhecimento dos pontos de coleta, na estação chuvosa (verão) em fevereiro/2005. Foram feitas mais três coletas, duas representando a estação seca (agosto/2005) e a outra representando a estação chuvosa (dezembro/2005). Também foi feita uma coleta em Itaipu, Niterói em setembro/2005, 4 dias após um derrame de óleo na entrada da Baía de Guanabara que atingiu as praias da Flecha e Icaraí em Niterói. Na Baía de Guanabara os peixes foram capturados em currais localizados na região próxima a praia de Ipiranga, Magé, tendo suas coordenadas registradas em um GSP Garmin 12 (S22o 44’, W43o 11’). Já os peixes da área controle foram capturados na praia de Itaipu, Niterói (S22o 56’, W43o 03’), usando-se rede de espera ou arrasto de praia. Segundo a tábua das marés da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN) para o Porto do Rio de Janeiro, as coletas foram feitas em maré baixa a enchente. Após a captura, os peixes foram conservados em gelo até a chegada no laboratório. No local de amostragem foram feitas medições de temperatura, pH, condutividade e oxigênio dissolvido usando-se uma sonda multi-parâmetros Insitu Troll 9000. A transparência foi medida com disco de Secchi. No laboratório foi feita a medição da turbidez usando um turbidímetro Alfa Tecnoquimica AT2K. Parte experimental 72 8.2. Amostragem dos peixes Para evitar grandes variações de metabolismo e buscando maior repetitividade dos resultados foram selecionados peixes da mesma espécie e tamanhos semelhantes. Pela semelhança entre as espécies de mugilídeos e para evitar que fossem usadas espécies diferentes foi feita a identificação de gênero e espécie das tainhas capturadas de acordo com o método de Menezes (1983). Para tal, foi verificada a presença de escamas na segunda nadadeira dorsal e na nadadeira anal. Em seguida, foram contadas as séries de escamas laterais que deveriam estar presentes em número de 29 a 34. Um indivíduo de cada local de coleta foi retirado para ser analisado por técnicos do setor de Ictiologia do Museu PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Nacional (UFRJ) para confirmação da espécie e para ser guardado como testemunho. O tamanho mínimo de captura foi 35 cm, tamanho permitido pelo IBAMA (portaria no 73/2003), até 51 cm. Após a identificação das espécies foram feitas medições morfométricas (comprimento total, comprimento padrão, comprimento da cabeça, altura da cabeça) utilizando-se um ictiômetro e um paquímetro calibrados pela Rede Brasileira de Calibração (RBC) e foi medido também o peso dos peixes utilizando-se uma balança analítica. Em seguida, os peixes foram abertos para dissecação (Figura 18), sendo feita a identificação do sexo de cada indivíduo (Figura 19). Após a localização da vesícula biliar (Figura 20) foi retirado o líquido biliar com o auxílio de uma seringa (Figura 21). A bílis foi estocada em geladeira (10 oC) até que todos os indivíduos fossem abertos e seu líquido biliar retirado, para em seguida proceder as diluições e análises. Figura 18. Abertura do indivíduo. Parte experimental Figura 19. Identificação do sexo do peixe pela análise visual das gônadas, neste caso, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA fêmea. Figura 20. Localização da vesícula biliar. Figura 21. Retirada do líquido biliar. 73 Parte experimental 74 8.3. Análise da bílis 8.3.1. Escolha do sistema solvente O solvente comumente usado para diluição da bílis para determinação de metabólitos de HPAs por fluorescência é o etanol diluído em água na proporção 48:52 v/v (Ariese et al., 1993, Lin et al.1994, Aas et al., 2000). Com o objetivo de avaliar o desempenho de outros sistemas solvente na presença de HPAs foi feito um planejamento experimental usando-se os solventes Etanol P.A. Merck, Propanol P.A. Merck e água deionizada. As proporções solvente/água usadas foram 25:75 v/v, 48:52 v/v e 75:25 v/v. Metanol não foi testado devido a sua alta PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA toxicidade. Solventes apolares também não foram testados já que a bílis é composta principalmente por água. O HPA utilizado como referência foi o Pireno da Sigma (St. Louis, EUA) com 97% de pureza. Apesar de o benzo[a]pireno ser o HPA mais estudado já que foi o primeiro HPA a ter seu potencial carcinogênico reconhecido, os HPAs menores são absorvidos, metabolizados e excretados em maior quantidade (Krahn et al., 1987). No caso do pireno, o metabólito de interesse é o 1hidroxipireno, principal metabólito formado pelas reações de FASE I da sua biotransformação. No entanto, este padrão não estava disponível durante o período deste trabalho devido a dificuldades de importação. Devido a sua alta hidrofobicidade, a solubilização do pireno em etanol/água exige agitação vigorosa, sendo testada também a influência no tempo de agitação no ultra-som utilizado durante o preparo das soluções estoque. A partir de soluções estoque independentes foram preparados padrões em duplicata e sua análise feita no espectrofluorímetro Perkin Elmer LS 55 Luminescence Espectrometer. Foram usadas bandas espectrais de passagem de 4 nm para excitação e emissão e cubetas de quartzo, em todas análises. A detecção foi feita no comprimento de onda de excitação de 341 nm e o comprimento de onda de emissão variou de 350 nm a 450 nm, de acordo com o descrito na literatura (Ariese et al., 1993, Lin et al.1994, Aas et al., 2000). Parte experimental 75 8.3.2. Determinação dos comprimentos de onda de excitação e emissão Após a escolha do sistema solvente, foram otimizados os comprimentos de onda de excitação e emissão através da análise dos espectros com comprimento de onda de emissão fixo, variando o comprimento de onda de excitação de 200 nm até 400 nm. Assim, é possível verificar qual o comprimento de onda de excitação dá a melhor resposta de intensidade de sinal. 8.3.3. Curva analítica PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA A curva analítica foi obtida com 8 pontos, incluindo o branco, com soluções padrão diluídas na faixa de 1 a 20 µg L-1, preparadas a partir de uma solução estoque de pireno em etanol/água 48% de concentração de aproximadamente 10 mg L-1. Foram feitas quatro replicatas de cada ponto. Foram feitas também curvas de adição padrão com amostras de bílis diluídas (1:2000). 8.3.4. Absorção molecular A fim de ter uma referência do status alimentar dos peixes coletados, vários autores indicam que deve ser feita a medição da concentração de biliverdina através de medições de absorção molecular (Ariese et al., 1997; Aas et al., 2000; Richardson et al., 2004). De acordo com estes autores, foram preparadas soluções de bílis diluídas em etanol 48% (1:100 v/v) e as absorvâncias medidas em 380 nm, em um espectrofotômetro UV-Visível DMS100 Intralab. Parte experimental 76 8.3.5. Estudo do efeito de matriz Com o objetivo de analisar se a concentração da amostra pode interferir na análises por fluorescência foram feitas quatro diluições diferentes para algumas amostras de bílis (1:2000, 1:1500, 1:1000, 1:500). Foram então feitas medições da transmitância das amostras diluídas em um espectrofotômetro Spec 20 MV Coml. Indl. Dourado Ltda. no comprimento de onda de 332 nm. A fim de observar se havia influência da densidade da bílis devida aos diferentes status alimentar dos peixes coletados foram escolhidas 5 amostras com cores variando do marrom ao verde musgo e valores diferentes de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA absorvância. 8.3.6. Determinação de HPAs total por fluorescência na bílis de peixe Antes das medições de fluorescência as amostras de bílis foram diluídas 1:2000 em etanol 48% a fim de obter uma amostra suficientemente transparente (Ariese et al., 1993). A detecção foi feita no comprimento de onda de excitação de 332 nm e o comprimento de onda de emissão variou de 350 nm a 450 nm. Foi usada uma curva analítica feita com padrões de pireno em etanol 48% na faixa de 1 a 20 µg L–1, sendo os resultados reportados em mg de equivalente de pireno L-1. Além do comprimento de onda de excitação de 332 nm, otimizado para o pireno (4 anéis), foram feitas leituras nos comprimentos de onda de excitação e emissão de 290/335 nm e 380/430 nm. Estes comprimentos de onda são recomendados na literatura para a análise do grupo de HPAs de 2-3 anéis e 5-6 anéis, respectivamente. Foram feitas também leituras onde os comprimentos de onda de excitação e de emissão variavam simultaneamente, com um intervalo fixo de comprimento de onda (∆λ). A varredura sincronizada pode fornecer espectros de fluorescência bem característicos, dependendo do metabólitos de HPAs presentes. Parte experimental 77 8.3.7. Limpeza do material Toda a vidraria volumétrica e os frascos usados para o armazenamento do líquido biliar foram lavados com detergente (Detertec 3%) e enxaguada com água. Em seguida, todo o material foi enxaguado três vezes com água deionizada e rinsado com etanol 48%. 8.4. Análise de HPAs totais em água PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 8.4.1. Determinação dos comprimentos de onda de excitação e emissão Como os padrões usados na análise de HPAs totais em água são preparados com o solvente diclorometano Mallinckrodt (grau HPLC) foi necessário otimizar os comprimentos de onda de excitação e emissão que dão a melhor resposta para o novo solvente. Foram analisados os espectros de emissão, com o comprimento de onda de emissão fixo, variando o comprimento de onda de excitação de 200 nm até 400 nm. 8.4.2. Curva analítica A curva analítica foi obtida com 8 pontos, incluindo o branco, com soluções padrão diluídas na faixa de 10 a 150 µg L-1, preparadas a partir de uma solução estoque de pireno em diclorometano de concentração de aproximadamente 10 mg L-1. Foram feitas triplicatas de cada ponto. Parte experimental 78 8.4.3. Coleta de água As amostras foram coletadas com o auxílio de uma garrafa coletora de acrílico de 1 L, a cerca de 50 cm abaixo da superfície e transferidas para garrafas de vidro previamente limpas. Parte da amostra inicial foi usada para rinsar a garrafa e desprezada em seguida. As amostras foram conservadas em gelo até a chegada ao laboratório. 8.4.4. Extração de HPAs totais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Após as amostras atingirem a temperatura ambiente, foi feita a extração dos HPAs segundo a metodologia adaptada do International Oceanographic Commission (IOC-UNESCO) (1984). Foi realizada a filtração de parte das amostras devido a grande quantidade de plâncton presente nas mesmas. Um litro da amostra de água filtrada foi transferida para funil de separação de 2 L, onde foram adicionados 50 mL de Diclorometano (Tedia grau HPLC), sendo a extração dos HPAs foi feita por agitação manual durante 5 minutos. Após a separação das fases, a fase orgânica foi recolhida em balão de vidro de fundo chato e armazenada em local abrigado de luz. Em seguida, realizou-se nova extração adicionando-se mais 50 mL de diclorometano que foi recolhida no mesmo frasco que o primeiro extrato. O extrato obtido foi centrifugado durante 3 minutos para separar a emulsão formada durante a agitação devido a grande quantidade de matéria orgânica presente na amostra, do diclorometano. Foi adicionado sulfato de sódio para a quebra da emulsão e centrifugado novamente (Petrobrás, 200?). O extrato final obtido foi concentrado em evaporador rotatório, à pressão reduzida de 200 mmHg e temperatura de aproximadamente 36 o C. O concentrado obtido foi transferido para balão volumétrico de 10 mL e avolumado com diclorometano. Parte experimental 79 8.4.5. Determinação de HPAs total por fluorescência em água A análise de fluorescência para determinação de HPAs totais foi realizada em um espectrofluorímetro Perkin Elmer LS 55 Luminescence Spectrometer. A banda espectral de passagem foi de 4 nm para excitação e emissão e foram usadas cubetas de quartzo em todas as análises. A detecção foi feita no comprimento de onda de excitação de 334 nm e o comprimento de onda de emissão foi variado de 350 a 450 nm. Foram feitos brancos do processo usandose água do mar artificial, preparada de acordo com a recomendação de Riley & Shirrow (1975), a qual passou pelo mesmo processo de extração das amostras. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 8.4.6. Limpeza do material Toda a vidraria volumétrica e os funis de separação foram lavados com detergente (Detertec 3%) e enxaguada com água. Em seguida, todo o material foi enxaguado três vezes com água destilada seguida de rinsagem com acetona. Após seco, todo o material foi rinsado com diclorometano. 8.5. Análise estatística dos dados Para a escolha do melhor sistema solvente para a diluição das amostras foi usado o Planejamento Fatorial, modelo 23, onde foram escolhidos 3 fatores diferentes para estudo, em dois diferentes níveis. Pela análise de variância (ANOVA) dos resultados, os efeitos que apresentam valores de p < 0,05 são considerados normalidade estatisticamente dos resíduos significativos. usando Foram o teste de também testadas Anderson-Darling e a a homogeneidade de variância pelo teste de Bartlett já que para o uso da ANOVA as premissas de normalidade e homocedasticidade não podem ser violadas. Para a análise dos parâmetros de desempenho analítico a curva analítica foi construída usando-se o método dos mínimos quadrados. Pela análise de variância testou-se a validade da regressão. Foram também testadas a Parte experimental 80 normalidade usando o teste de Anderson-Darling e a homogeneidade de variância pelo teste de Bartlett. Para a análise morfométrica dos peixes foram construídos gráficos de boxplot onde são mostrados os valores extremos (máximo e mínimo) dos dados, e sua mediana. Para comparação dos dados obtidos para os metabólitos de HPAs da bílis dos peixes da Baía de Guanabara e Itaipu foi usada a análise de variância onde a hipótese a ser testada, H0, seria aceita se os valores de p < 0,05. A rejeição da H0 leva a aceitação da hipótese H1. Neste caso, a hipótese H0 corresponde à hipótese de que as médias dos resultados da Baía de Guanabara e de Itaipu são iguais: H0: µBaía de Guanabara = µItaipu PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA H1: µBaía de Guanabara ≠ µItaipu A fim de atender ao critério de homogeneidade de variância foi necessário transformar os dados usando o logarítmo na base 10. A comparação das médias foi feita usando o teste de Tukey com intervalo de confiança de 95%. 9 Resultados e discussões 9.1. Otimização da análise de HPAs em bílis de peixe 9.1.1. Escolha do sistema solvente A fim de otimizar o sistema solvente para a diluição da bílis foi utilizado o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA modelo fatorial 23, em duplicata visando estudar o efeito de três fatores: tipo de solvente, proporções solvente/água e o tempo de ultra-som em minutos. Antes do uso do ultra-som partículas de pireno eram visíveis na solução. Estes fatores foram distribuídos nos seguintes níveis do Quadro 2: Quadro 2. Fatores e níveis do experimento. Níveis Fator Si Solvente Pj Proporção Tk Tempo de ultra-som -1 +1 Etanol Propanol 25% 48% 15 30 A análise de variância acusou como significativos: o tempo de ultra-som, as interações duplas e a interação tripla (p<0,05) (Tabela 6). A normalidade dos resíduos foi testada pelo teste de Anderson-Darlin, com o valor de p = 0,999 e para homogeneidade de variância foi usado o teste de Bartlett com o valor de p = 0,433. A partir da Tabela 7 é possível obter a estimativa do sinal para a equação de regressão ( x ): Ŷ = 41,000+ 10,576 T − 12,753 SP − 4,770ST + 10,637PT − 12,685 SPT, ( ±1, 248 ) ( ±1, 248 ) ( +1, 248 ) ( ±1, 248 ) ( ±1, 248) ( ±1, 248) R 2 = 97,88 ( 10 ) Resultados e discussões 82 Tabela 6. Análise de variância do experimento Causa de Variação Solvente (S) Grau de Soma dos Média dos F p liberdade Quadrados Quadrados 1 0,3 0,3 0,01 0,919 Proporção (P) 1 46,0 46,0 1,85 0,211 Tempo de ultra-som (T) 1 1789,7 1789,7 71,83 0,000 (S) x (P) 1 2602,2 2602,2 104,45 0,000 (S) x (T) 1 364,0 364,0 14,61 0,005 (P) x (T) 1 1810,2 1810,2 72,66 0,000 (S) x (P) x (T) 1 2574,6 2574,6 103,34 0,000 Resíduo 8 199,3 24,9 Total 15 9386,3 Tabela 7. Estimativas dos efeitos e coeficientes com os respectivos intervalos de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA confiança de 95%. Causa de variação Efeito t(8) p Coeficiente Erro-padrão ICI 95% ICS95% Média 41,000 32,856 0,000 41,000 1,248 38,123 43,878 Solvente (S) 0,262 0,105 0,919 0,131 1,248 -2,746 3,009 Proporção (P) -3,391 -1,359 0,211 -1,696 1,248 -4,573 1,182 Tempo (T) 21,152 8,475 0,000 10,576 1,248 7,699 13,454 (S) x (P) -25,506 -10,220 0,000 -12,753 1,248 -15,631 -9,875 (S) x (T) -9,540 -3,822 0,005 -4,770 1,248 -7,647 -1,892 (P) x (T) 21,273 8,542 0,000 10,637 1,248 7,759 13,514 (S) x (P) x (T) -25,370 -10,165 0,000 -12,685 1,248 -15,563 -9,807 Utilizando apenas os efeitos considerados significativos e substituindo as variáveis codificadas de acordo com o Quadro 2 na equação 10 a melhor resposta ou o melhor sinal ( Ŷ ), é para o solvente etanol, na proporção de 48% e tempo de ultra-som de 30 minutos (Tabela 8), sendo esta a condição otimizada utilizada na metodologia de análise de HPAs em bílis de peixe. Cabe ressaltar que a proporção etanol/água de 48% já vem sendo utilizada por muitos autores para a análise de metabólitos de HPAs na bílis de peixe (Beyer et al., 1996; Aas et al., 1998) mas não sendo informado como foi feita esta escolha. Resultados e discussões 83 3 Tabela 8. Valores de Ŷ para a equação de regressão obtida do experimento fatorial 2 . Média T (P) x (T) (S) x (T) (S) x (P) (S) x (T) x (P) 41,000 10,576 10,637 -4,770 -12,753 -12,865 -1 1 1 1 -1 1 -1 -1 -1 1 -1 -1 1 Ŷ T P S -1 36,223 -1 -1 -1 -1 1 45,899 -1 -1 1 -1 1 15,085 -1 1 -1 -1 1 -1 24,489 -1 1 1 -1 -1 1 1 20,271 1 -1 -1 1 -1 1 -1 -1 61,607 1 -1 1 1 1 -1 -1 -1 92,421 1 1 -1 1 1 1 1 1 32,005 1 1 1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 9.1.2. Determinação dos comprimentos de onda de excitação e emissão Para determinação do melhor comprimento de onda de excitação (λexc) e emissão (λem) foram obtidos espectros de excitação mantendo o λem fixo e variando o λexc de 200 a 400 nm. Apesar de vários autores reportarem o uso do λexc e λem de 341 nm e 383 nm, respectivamente, para os HPAs de quatro anéis, após o refinamento dos espectros podemos observar pelo espectro que o pico de excitação e emissão que têm intensidades correspondentes são os picos nos λexc e λem foram de 332 e 383 nm (Figura 22). Esta diferença observada dos valores reportados em literatura para os valores aqui obtidos pode estar relacionada a diferença da matriz usada e do composto de referência, já que o composto normalmente estudado é o 1-hidroxipireno. Ariese e colaboradores (2005b) reportaram que para otimizar o comprimento de onda foi usado a bílis de um peixe contaminado em laboratório com pireno a fim de ter apenas o metabólito de interesse em seu meio natural. Esta maneira de abordar o problema é a mais indicada já que os λexc e λem dos compostos de referência não serão exatamente os mesmos das espécies conjugadas. Um parâmetro que não foi otimizado foi a o tamanho da banda espectral de passagem de excitação e emissão. As bandas de 4 nm foram utilizadas neste trabalho uma vez que já vinham sendo utilizadas com sucesso em trabalhos prévios desenvolvidos no Laboratório de Estudos Ambientais da PUC-Rio (Melo et al., 2005). Além disso, alguns artigos reportam o uso de bandas espectrais de Resultados e discussões 84 passagem de 2,5 nm ou 5 nm como as ideais para este tipo de medição (Lin et al., 1996; Vuontisjärvi et al., 2004; Ariese et al., 2005b). 1000 f 900 332 800 383 Intensidade 700 600 Excitação 500 Emissão 400 300 200 100 0 300 320 340 360 380 400 420 440 comprimento de onda (nm) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Figura 22. Espectro de excitação (λem = 383 nm) e emissão (λex = 332 nm) do pireno em etanol 48%. 9.1.3. Parâmetros de desempenho analítico Para a determinação da faixa analítica de trabalho construiu-se uma curva analítica utilizando 7 soluções-padrão com concentrações entre 1 a 20 µg L-1, obtidos pela diluição da solução estoque de pireno. Esta faixa de trabalho foi escolhida já que todas as amostras coletadas se encontravam dentro desta faixa de trabalho, em sua maioria no meio da curva, região de menor incerteza da curva. Foram feitas 4 replicatas de cada concentração, obtendo-se a seguinte curva analítica (Figura 23): Yˆc = 5,401+ 9,653 x, ( ±0 ,300 ) ( ±0 , 030 ) R 2 = 99,98% ( 11 ) Resultados e discussões 85 Intensidade 200 100 Regressão Intervalo de Confiança 95% 0 0 10 20 Concentração (ug/L) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Figura 23. Curva analítica da solução de pireno em etanol 48% (n=4) em condições otimizadas. A Tabela 9 mostra a análise de variância da curva de regressão com p = 0,000. Os pressupostos de normalidade e homogeneidade de variância também foram testados apresentando p=0,216 e p=0,932 para o teste de AndersonDarling e Bartlett respectivamente. Tabela 9. Análise de variância da curva de regressão. Causa de Grau de Soma dos Média dos variação liberdade Quadrados Quadrados Regressão 1 131919,000 131919,000 Resíduo 30 37,000 1,233 Total 31 131956,000 F p 106961,351 0,000 Como os pressupostos de normalidade e homogeneidade de variância foram válidos, o mínimo valor detectável (ou limite de detecção) referente à concentração, x0, e o mínimo valor quantificável (ou limite de quantificação) referente à concentração x0, podem ser obtidos pelas equações (13) e (14): Resultados e discussões xD = 86 3,29 QME Bˆ ( 13 ) 1 onde B̂1 corresponde ao coeficiente angular da curva analítica calculada e QME corresponde a média do quadrado dos resíduos. xD = 3,29 1,233 = 0,3785µg ⋅ L−1 9,653 xQ = 10 QME Bˆ ( 14 ) 1 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA onde B̂1 corresponde ao coeficiente angular da curva analítica calculada e QME corresponde a média do quadrado dos resíduos (de Freitas, 2003). xQ = 10 1,233 = 1,504 µg ⋅ L−1 9,653 O cálculo do mínimo valor detectável (ou limite de detecção) foi baseado na teoria do teste estatístico de hipótese, com probabilidades de falso positivo (α) e falso negativo (β), considerando-se α = β = 5%. Os parâmetros de desempenho analítico se encontram no Quadro 3: Quadro 3. Parâmetros de desempenho analítico. Equação Yˆc = 5,401+ 9,653 x, ( ±0 , 300 ) R 2 = 99,98% ( ±0 , 030 ) -1 Faixa de trabalho 2 – 20 µg L Limite de detecção 0,3785 µg L Limite de quantificação 1,504 µg L -1 -1 Resultados e discussões 87 9.1.4. Efeito de matriz Outros constituintes da bílis, além dos HPAs, podem absorver a luz que chega na cubeta durante a medição de fluorescência das amostras. Para observarmos como o efeito de matriz pode afetar o sinal de fluorescência medido, foram feitas medições da transmitância, à 332 nm, comprimento de onda de excitação usado nas análises de fluorescência. Neste estudo foram usadas soluções com diferentes diluições do líquido biliar em etanol 48%. As amostras de bílis utilizadas neste teste foram escolhidas buscando variação de cor do líquido biliar e diferentes valores da absorvância das amostras diluídas a 1% medidas em 380 nm (Quadro 4 e Figura 24). Todas as bílis usadas neste teste foram retiradas de peixes coletados na Baía de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Guanabara. É importante monitorar os parâmetros de cor da bílis e absorvância à 380 nm já que, quanto maior o tempo que o peixe ficar sem se alimentar mais concentrada estará sua bílis. Isto ocorre porque quando o peixe se alimenta, a bílis é liberada no duodeno e a vesícula biliar se enche de água e concentrando ao longo do tempo em que o peixe estiver em jejum. Vários autores usam a concentração de biliverdina, pigmento presente na bílis, como indicativo do “status alimentar” do peixe (Ariese et al., 1997; Aas et al., 2000; Richardson et al., 2004). Para tal, medições espectrofotométricas das amostras foram feitas no comprimento de onda de 380 nm. Como o padrão de biliverdina não estava disponível para este trabalho foram feitas medições de absorvância para fins comparativos. Quadro 4. Cor e valores de absorvância à 380 nm das amostras utilizadas no teste do efeito de matriz. Código da amostra Cor do líquido biliar Absorvância 51 verde musgo 1,069 52 verde musgo 0,900 53 castanho 0,531 54 marrom 1,005 58 castanho claro 0,590 Resultados e discussões 51 52 88 54 53 58 Figura 24. Coloração do líquido biliar das amostras utilizadas no teste do efeito de matriz. Pela Figura 25 percebe-se que o efeito de matriz se torna mais acentuado a medida que a concentração do líquido biliar aumenta. Assim, neste trabalho foi adotada a diluição de 1:2000, já que, para todas as amostras coletadas, ela foi suficiente para obter valores dentro da faixa de trabalho da curva analítica e as amostras indicaram que estas eram suficientemente transparentes, evitando assim problemas de interferência de outros compostos presentes na bílis. Aas e colaboradores (2000) concluíram que uma diluição 1:1000 a 1:2000 deve ser, em geral, suficiente para evitar esse efeito mas, em alguns casos, pode ser necessária uma diluição maior para que o sinal medido esteja dentro da faixa de f 120.00 100.00 51 80.00 Transmitância PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA trabalho. 52 53 60.00 54 40.00 58 20.00 0.00 1:2000 1:1500 1:1000 1:500 Diluição Figura 25. Gráfico do aumento do efeito de matriz com a diminuição das diluições das amostras. Resultados e discussões 89 9.1.5. Adição de analito Outro teste que pode ser feito para estudar se a matriz afeta o sinal analítico dos compostos de interesse é a adição de analito. Uma curva analítica é feita com a adição da substância de referência na amostra e comparada com uma curva analítica sem a presença da matriz. Um indício de que não há interferência de matriz é o caso em que as curvas analíticas sejam paralelas (Ribani et al., 2004). Foram feitas três adições de analito tanto para amostras provenientes da Baía de Guanabara quanto para as oriundas de Itaipu. Foram escolhidas bílis com cores e valores de absorvância diferentes para uma maior heterogeneidade das amostras (Quadro 5 e Quadro 6). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA No gráfico da Figura 26 nota-se que há pouca interferência da matriz já que as curvas obtidas com as soluções contendo a bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara são aproximadamente paralelas à curva obtida para as soluções-padrão, mesmo para as bílis que apresentaram mais compostos fluorescentes. No caso das bílis de peixes de Itaipu, as retas foram praticamente coincidentes (Figura 27), independente da cor da amostra. Para a análise das amostras utilizou-se então, a curva analítica preparada somente com solvente, sem a presença da matriz, por ser uma técnica mais simples de análise. Quadro 5. Cor e valor de absorvância das amostras utilizadas no teste de adição de analito. Código da amostra Cor do líquido biliar Absorvância 51 verde musgo 1,069 53 castanho 0,531 54 marrom 1,005 31 marrom 0,654 38 verde musgo 0,908 40 castanho claro 0,237 Baía de Guanabara Itaipu Resultados e discussões 90 Quadro 6. Equações das regressões lineares das adições de analito e seu coeficiente de 2 correlação (R ). Amostra 99,20 % YˆBG = 141,386+ 8,1188 x 99,40 % YˆBG = 25,354+ 9,078 x 99,98 % YˆBG = 76,923+ 8,617 x 99,85 % 31 YˆItaipu = 10,109+ 8,939 x 99,94 % 38 YˆItaipu = 7,801+ 8,686 x 99,71 % 40 YˆItaipu = 14,699+ 8,826 x 99,94 % ( ±1, 510 ) 51 ( ±8,119) 53 ( ±0,588) 54 ( ±1, 437) ( ±1, 216 ) ( ±2, 372 ) ( ±7 , 511) ( ±0 ,181) ( ±0,353) ( ±0, 070) ( ±0,172) ( ±0 ,146 ) ( ±0 , 284 ) ( ±0 , 900 ) 350 f 300 250 Intensidade PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Itaipu R Yˆs = 6,248+ 9,503 x, Solvente Baía de Guanabara (BG) 2 Equação da reta soluções-padrão 200 adição de analito - amostra 51 150 adição de analito - amostra 53 100 adição de analito - amostra 54 50 0 0 5 10 15 20 25 Concentração ( µ g L-1) Figura 26. Gráfico de adição de analito usando a bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara. Resultados e discussões 91 Intensidade F 250 200 adição de analito - amostra 31 150 adição de analito - amostra 38 adição de analito - amostra 40 100 soluções-padrão 50 0 0 5 10 15 20 25 -1 Concentracao ( µ g L ) Figura 27. Gráfico de adição de analito usando a bílis dos peixes coletados em Itaipu. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA O teste de adição de analito também foi usado para verificação da exatidão do método. Para tal, usando-se a curva analítica obtida para os padrões diluídos com solvente, foram calculadas as concentrações das amostras fortificadas com padrões e comparadas com a concentração esperada. Foi obtido uma média de concentração correspondente a 86% da concentração esperada, com valores variando de 81% a 93%. Outra maneira de verificarmos a exatidão do método seria a análise de materiais certificados de referência. No entanto, apesar de Ariese e colaboradores (2005a, 2005b) terem desenvolvido materiais certificados de referência preparados com a bílis dos peixes Platichthys flesus (Linguado) e Pleuronectes platessa (Solha) coletados em locais considerados não-poluídos e expostos em laboratório a sedimentos contaminados e a óleo, respectivamente, este material ainda não está disponível para compra. Além disso, a exatidão do método também poderia ser estudada pela comparação de resultados obtidos com outras técnicas já estabelecidas. No entanto, está é a primeira vez que estão sendo feitas determinações de HPAs em bílis de peixes coletados na Baía de Guanabara e não foi possível organizar um ensaio interlaboratorial a fim de comparar os resultados obtidos pela impossibilidade de organizar o teste no tempo disponível para a conclusão deste trabalho. Resultados e discussões 92 9.2. Comparação entre Baía de Guanabara e Itaipu 9.2.1. Parâmetros físico-químicos Foram feitas 3 coletas na Baía de Guanabara e 3 coletas em Itaipu conforme o Quadro 7. A primeira coleta na Baía de Guanabara e a primeira coleta de Itaipu foram coletas de reconhecimento do local e os resultados obtidos não foram considerados para as conclusões desta dissertação. Como em setembro de 2005 houve o derrame de 2.000 L de óleo na Baía de Guanabara que atingiu as praias da Flecha e Icaraí em Niterói, foi feita uma coleta de peixes em Itaipu para avaliar se houve alteração nos valores de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA metabólitos de HPAs medidos, em relação aos valores de agosto. Quadro 7. Data e coordenadas da coletas. Local Data Coordenadas Baía de Guanabara 16/02/2005 S 22 44.696’ Itaipu 23/02/2005 S 22 58.359’ Baía de Guanabara 10/08/2005 S 22 44.654’ o W 43 11.483’ o o W 43 02.915’ o W 43 11.496’ o o o o Itaipu 17/08/2005 S 22 56.550’ W 43 03.030’ Itaipu 06/09/2005 - - Baía de Guanabara 27/12/2005 S 22 44.774’ o o W 43 11.529’ Pelos parâmetros físico-químicos medidos nos locais de amostragem (Tabela 10) vemos que há uma grande diferença entre a transparência e turbidez da Baía de Guanabara e Itaipu, indicando que existe mais material particulado em suspensão na Baía de Guanabara do que em Itaipu. A condutividade de Itaipu é mais alta do que na Baía de Guanabara, como esperado, já que em Itaipu a água é salina e na Baía de Guanabara a água é salobra. Nota-se também o aumento da temperatura da água de ~11% no verão em relação ao inverno. Resultados e discussões 93 Tabela 10. Parâmetros físico-químicos. Baía de Itaipu Baía de Itaipu Baía de Guanabara (fev/2005) Guanabara (ago/2005) Guanabara (fev/2005) temperatura (oC) 27,0 (ago/2005) 26,0 23,8 (dez/2005) 23,2 26,1 pH - 8,09 - - 8,02 condutividade (mS cm-1) - 52,8 - 41,8 33,8 5,7 oxigênio dissolvido (mg L-1) 5,8 - - 9,1 transparência (m) 0,66 2,70 0,64 3,78 0,66 turbidez (NTU) 11,7 4,2 17,4 0,38 - 9.2.2. Análise morfométrica dos peixes Na Figura 28 encontra-se a distribuição de frequência do comprimento PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA padrão dos indivíduos capturados na Baía de Guanabara e em Itaipu. A normalidade dos dados foi analisada pelo teste de Anderson-Darling (p = 0,394). Houve maior incidência de indivíduos (n=10) na faixa de tamanho de 42 a 44 cm. Apenas na coleta de setembro de 2005, em Itaipu, foram coletados indivíduos com comprimento total menor que 35 cm (Figura 29), tamanho menor que o permitido pelo IBAMA (Portaria no 73/2003). É importante ressaltar que esta foi uma coleta não programada, referente a um evento isolado decorrente de um derramamento de óleo que ocorreu acidentalmente em Itaipu. A intenção desta coleta foi aplicar a um caso real o método de determinação de metabólitos de HPAs em bílis de peixes. Excetuando-se a coleta de setembro, houve predominância de machos nas demais coletas, correspondendo a 76% do total de indivíduos capturados (Tabela 11 e Figura 30). Yender e colaboradores (2002) relatam que o risco de exposição de peixes de estuário aumenta em áreas com menor profundidade e durante a época de desova. Apesar de não ser conclusivo, este fato explicaria a predominância de fêmeas observada somente nesta coleta. Resultados e discussões 94 50 Comprimento total (cm) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Figura 28. Distribuição de frequência do comprimento total dos indivíduos coletados 40 30 BG Ago/2005 n=19 Itaipu Ago/2005 n=11 BG Dez/2005 n=8 Itaipu Set/2005 n=12 Figura 29. Gráfico de Boxplot do comprimento total, classificado por coleta (BG: Baía de Guanabara). Resultados e discussões 95 Tabela 11. Número de machos e fêmeas capturados. Local Mês Macho Fêmea Total Baía de Guanabara Agosto/2005 17 2 19 Itaipu Agosto/2005 6 5 11 Itaipu Setembro/2005 3 5 8 Baía de Guanabara Dezembro/2005 12 0 12 38 12 50 Total 24% PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 76% Macho Fêmea Figura 30. Proporção sexual dos indivíduos capturados em todas as coletas da Baía de Guanabara e Itaipu. Apesar de estarem presentes em maior número, os machos, em média, são menores e pesam menos que as fêmeas (Tabela 12 e Tabela 13, Figura 31 e Figura 32). Tabela 12. Estimativa da média do peso (kg) dos peixes coletados*. Local Mês Macho Fêmea Total Baía de Guanabara Agosto/2005 0,520 ±1,128 1,128 ± 0,045 0,584 ± 0,284 Itaipu Agosto/2005 0,707 ± 0,102 0,813 ± 0,106 0,755 ± 0,113 Itaipu Setembro/2005 0,308 ± 0,030 0,464 ± 0,124 0,406 ± 0,125 Baía de Guanabara Dezembro/2005 0,673 ± 0,216 Total * média ± desvio-padrão 0,581 ± 0,223 0,673 ± 0,216 0,720 ± 0,272 0,614 ± 0,240 Resultados e discussões 96 Tabela 13. Estimativa da média do comprimento total (cm) dos peixes coletados*. Local Mês Macho Fêmea Total Baía de Guanabara Agosto/2005 39,329 ± 5,018 50,800 ± 0,283 40,537 ± 5,955 Itaipu Agosto/2005 43,983 ± 2,301 45,560 ± 2,809 44,700 ± 2,546 Itaipu Setembro/2005 32,183 ± 2,426 36,880 ± 4,452 35,119 ± 4,350 Baía de Guanabara Dezembro/2005 42,208 ± 3,895 Total 40,409 ± 5,057 42,208 ± 3,895 42,817 ± 6,412 40,987 ± 5,442 * média ± desvio-padrão 1.2 1.1 1.0 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 Macho Fêmea Figura 31. Gráfico de Boxplot do peso, classificado por sexo. 50 Comprimento total (cm) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Peso (kg) 0.9 40 30 Macho Fêmea Figura 32. Gráfico de Boxplot do comprimento total, classificado por sexo. Resultados e discussões 97 Segundo Vazzoler (1996, in Costa, 2005) o valor do coeficiente angular de regressão entre peso total (W T) e comprimento padrão (LP) varia de 2,5 a 4,0. Pela equação 4 (seção 5.2.1.) foi calculado o modelo que relaciona W T, a partir de LP: Wˆ T = 0,0354 × L2P,790 , R 2 = 93,02% com ambas estimativas significativas e o valor de p = 0,735 para o pressuposto de normalidade dos resíduos. O valor de β foi 2,79, próximo de 3,0, valor característico de espécies que apresentam crescimento isométrico. A partir do cálculo de β foi possível calcular o fator de condição (K) para cada indivíduo usando-se a equação 6 (5.2.2) (Quadro 8). Pela análise de variância dos dados não foi encontrada diferença significativa entre os valores PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA obtidos para cada coleta (Tabela 14), indicando que os peixes coletados tinham mesmas condições de desenvolvimento. No entanto, é reportado que o fator de condição é variável durante o ciclo de maturidade sexual do indivíduo, reduzindo na época de reprodução, já que este pode ser influenciado, entre outros fatores, pela variação do peso das gônadas e estômago. Esta tendência foi vista neste trabalho nos peixes coletados na Baía de Guanabara em dezembro, época de reprodução observada para a Mugil liza (Oliveira, 1997). Quadro 8. Estimativa das médias dos valores do fator de condição (K)*. Local Mês K Baía de Guanabara Agosto/2005 0,037 ± 0,009 Itaipu Agosto/2005 0,037 ± 0,003 Itaipu Setembro/2005 0,039 ± 0,008 Baía de Guanabara Dezembro/2005 0,033 ± 0,003 * média ± desvio-padrão Tabela 14. Análise de variância do fator de condição em relação as coletas. Causa de Grau de Soma dos Média dos variação liberdade Quadrados Quadrados Local 3 0,0001932 0,0000644 0,0000519 Erro 46 0,0023885 Total 49 0,0025817 F p 1,24 0,306 Resultados e discussões 98 9.2.3. Análise da bílis Na Figura 33 observa-se a diferença entre os espectros da bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara e em Itaipu. Os espectros da Baía de Guanabara apresentam dois picos em 383 nm e 405 nm, respectivamente. Ariese e colaboradores, em seu artigo de 1993, reportam que o espectro da bílis do linguado (Platichthys flesus) também apresenta dois picos nos mesmos comprimentos de onda, que eles relacionaram com o espectro do metabólito 1pireno-glicuronídeo padrão, principal metabólito da fase II da biotransformação do pireno. Os cálculos das concentrações de HPAs totais foi calculado a partir da altura dos picos em 383 nm, comprimento de onda otimizado para o pireno, e as . 80 f 70 Intensidade PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA concentrações são reportadas em equivalentes de pireno. 383 nm 60 2 (Baía de Guanabara) 50 4 (Baía de Guanabara) 7 (Baía de Guanabara) 40 30 (Itaipu) 30 31 (Itaipu) 39 (Itaipu) 20 10 0 350 370 390 410 430 450 470 490 comprimento de onda (nm) Figura 33. Espectros de emissão fluorescente das bílis diluídas da Baía de Guanabara e Itaipu. O Quadro 9 apresenta as médias das concentrações de HPAs na bílis dos peixes (Mugil liza) capturados em cada coleta, em relação ao sexo dos indivíduos. Através da análise de variância verifica-se que não existe diferença significativa entre as médias (Quadro 9, Tabela 15, Tabela 16, Tabela 17) e portanto, os dados serão tratados como um todo, sem a separação por sexo. Resultados e discussões 99 -1 Quadro 9. Média da concentração de HPAs em mg L de equivalentes de pireno na bílis dos peixes (Mugil liza) capturados, separados por sexo*. Local Mês Macho Fêmea Baía de Guanabara Agosto/2005 7,4 ± 3,4 (n=17) 3,8 ± 0,7 (n=2) Itaipu Agosto/2005 1,8 ± 1,1 (n=6) 1,0 ± 0,4 (n=5) Baía de Guanabara Dezembro/2005 10,4 ± 6,4 (n=12) Itaipu Setembro/2005 1,7 ± 0,7 (n=3) 6,4 ± 3,3 (n=5) * média ± desvio-padrão Tabela 15. Análise de variância da média das concentrações de HPAs por sexo, coleta PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA da Baía de Guanabara, agosto/2005. Causa de Grau de Soma dos Média dos variação liberdade Quadrados Quadrados Sexo 1 23,3 23,3 Erro 17 187,9 11,1 Total 18 211,3 F p 2,11 0,164 Tabela 16. Análise de variância da média das concentrações de HPAs por sexo, coleta de Itaipu, agosto/2005. Causa de Grau de Soma dos Média dos variação liberdade Quadrados Quadrados Sexo 1 1,456 1,456 Erro 9 6,625 0,736 Total 10 8,081 F p 1,98 0,193 Tabela 17. Análise de variância da média das concentrações de HPAs por sexo, coleta de Itaipu, setembro/2005. Causa de Grau de Soma dos Média dos variação liberdade Quadrados Quadrados Sexo 1 40,83 40,83 Erro 6 45,50 7,58 Total 7 86,34 F p 5,38 0,059 No Quadro 10 são apresentadas as estimativas das médias das concentrações de HPAs na bílis dos peixes capturados em cada coleta e a Figura 34 apresenta a distribuição das medições em relação à mediana, mostradas na forma de boxplot. Medidas feitas na bílis diluídas de três peixes Resultados e discussões 100 coletados em Itaipu estavam abaixo do limite de detecção de 0,3785 µg L-1 e não foram utilizadas nos cálculos. Quadro 10. Estimativa das médias das concentrações de HPAs (µg de equivalentes de -1 pireno mL de bile) por coleta*. -1 HPAs (µg mL ) Local Mês Baía de Guanabara Agosto/2005 7,0 ± 3,4 Itaipu Agosto/2005 1,8 ± 0,7 Baía de Guanabara Dezembro/2005 10,4 ± 6,4 Itaipu Setembro/2005 4,6 ± 3,5 equivalentes de pireno * média ± desvio-padrão Concentração (ug/L) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA 30 20 10 0 BG Ago/2005 Itaipu Ago/2005 BG Dez/2005 Itaipu Set/2005 Figura 34. Gráfico de Boxplot da concentração de HPAs na bílis dos peixes, por coleta. Pela análise de variância dos resultados obtidos nas diferentes coletas verificou-se que existe diferença significativa entre os valores medidos (Tabela 18). Tabela 18. Análise de variância das concentrações de HPAs por coleta. Grau de Soma dos Média dos F liberdade quadrados quadrados Local 3 2,8798 0,9599 Erro 43 3,4081 0,0793 Total 46 6,2879 12,11 p 0,000 Resultados e discussões 101 Usando-se o teste de Tukey foi feita a comparação entre as médias par a par. Esta análise indicou que não existe diferença significativa, para um nível de confiança de 95%, entre os valores obtidos para a Baía de Guanabara nas diferentes estações do ano, inverno e verão. Já comparando os valores obtidos para a Baía de Guanabara e Itaipu antes do derrame de setembro/2005, vemos que há diferença significativa, para um nível de confiança de 95%. Comparando os valores obtidos para Itaipu antes e depois do derrame vemos que também houve diferença significativa entre os resultados. Assim, pelos resultados preliminares obtidos, pode-se dizer que o método utilizado foi capaz de diferenciar um local contaminado de um local não contaminado, tanto em casos de contaminação crônica (Baía de Guanabara) quanto em casos de contaminações acidentais (Itaipu, setembro/2005). A comparação dos valores de concentração obtidos neste trabalho com PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA os valores obtidos por outros autores fica prejudicada uma vez que os resultados são apresentados de formas distintas, além de, em muitas vezes, utilizarem metodologias e técnicas analíticas diferentes. O Quadro 11 apresenta o resultado de alguns trabalhos onde as concentrações são indicadas em equivalentes de 1-hidroxpireno. Verifica-se que os valores obtidos para os locais contaminados dos trabalhos de Lin e colaboradores (1994) e van der Oost e colaboradores (1994), encontram-se na mesma ordem de grandeza que os valores obtidos neste trabalho para os peixes coletados na Baía de Guanabara e em Itaipu após o derrame de setembro/2005. Com o objetivo de tentar minimizar possíveis variações nas concentrações de HPAs pela concentração dos compostos presentes na bílis, de acordo com o tempo de jejum de cada peixe (status alimentar), alguns autores tentaram normalizar as concentrações de HPAs pela concentração de biliverdina ou proteína das amostras. No entanto, foi observado que não houve diminuição na covariância dos resultados e aumentando a incerteza dos resultados (Ariese et al., 1997; Aas et al., 2000; Richardson et al., 2004). Ainda assim, recomendase que sejam feitas estas medições para fins comparativos. Neste trabalho foram feitas medições de absorvância em soluções de bílis diluídas em etanol 48% (1:100). Resultados e discussões 102 Quadro 11. Concentrações de HPAs em bílis de peixe em locais contaminados. Peixe Local Concentração Unidade Referencia Black river, rio que 27,9 – 126,1 (µg mg proteína-1) Lin et al., 1996 FF Ameiurus nebulosus desemboca no Lago equivalentes de Erie (Grandes Lagos, naftaleno EUA) FS Ameiurus nebulosus Black river, EUA. 2,63 – 19,5 (µg mLbílis-1) Lin et al., 1994 equivalentes de 1-hidroxipireno Anguilla anguilla Lago Nieuwe Meer, 9,4 ± 7,2 Holanda (µg mL bílis-1) van der Oost et equivalentes de al., 1994 1-hidroxipireno CLAE – F Paralichthys Marina del Rey, californicus Califórnia, EUA 1,8 – 4,6 (µg mL bílis-1) Brown & equivalentes de Steinert, 2003 benzo(a)pireno Pleuronectes vetulus canal de Duwamish, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Puget Sound, EUA 0,3-0,6 (µg mL bílis-1) Myers et al., equivalentes de 1998 benzo(a)pireno 9.2.4. Análise por fluorescência - método sincronizado Na fluorescência sincronizada, os comprimentos de onda de excitação e emissão são variados simultaneamente, com um intervalo fixo ∆λ ou ∆E, onde o máximo de sinal ocorrerá quando a varredura atingir o λexc. Ariese e colaboradores (1993) recomendam que se use a análise de fluorescência sincronizada já que o espectro obtido tem bandas mais bem definidas do que o espectro obtido com a fluorescência fixa. Já Lin e colaboradores (1996) indicam, para a análise de metabólitos de HPAs em bílis de peixe, o uso da análise por fluorescência fixa por ser uma técnica mais simples do que a fluorescência sincronizada. Atualmente, vários fluorímetros comercialmente disponíveis oferecem a possibilidade de registro deste tipo de espectro. Aas e colaboradores (2000) ao estudarem os metabólitos presentes na bílis de peixes expostos a determinados HPAs individualmente (naftaleno, pireno e benzo(a)pireno) demonstraram que existem diferentes espectros para as diferentes classes de HPAs, usando-se o mesmo ∆λ. Tendências espectrais Resultados e discussões 103 podem ser demonstradas com bílis de peixes expostos a HPAs de fontes petrogênicas e pirogênicas. Neste trabalho, ao analisarmos as bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara, os espectros de fluorescência sincronizada mostraram que existem duas classes de HPAs presentes, com picos nos comprimentos de onda característicos de compostos com 2-3 anéis (λ = 280 nm) e 4 anéis (λ = 332 nm) (Figura 35). Não foi observado nenhum pico no comprimento de onda característico de HPAs com 5-6 anéis (λ = 380 nm). Estes resultados seriam um indício de contaminação petrogênica já que a combustão incompleta de matéria orgânica dá origem preferencialmente a HPAs de alta massa molecular. Este resultado é esperado já que a Baía de Guanabara recebe diariamente 7 toneladas de óleo (CEDAE, 199-) e está em concordância com estudos realizados por Lima (2001) em mexilhões da Baía de Guanabara, onde os HPAs predominantes foram fenantrenos alquilados e dibenzotiofenos, os presentes nos mexilhões. No entanto, não se deve ignorar o aporte de HPAs provenientes da combustão incompleta de matéria orgânica, que podem chegar à Baía de Guanabara por deposição atmosférica, já que o grau de contaminação atmosférico está diretamente relacionado com a urbanização, ao tráfego de veículos automotores e com a industrialização da área (Pereira Netto et al., 2000) . HPAs de 5-6 anéis também foram detectados nos estudos em mexilhões feitos por Lima. 300 280 nm 250 Intensidade f PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA quais destacam a origem, preferencialmente, petrogênica dos hidrocarbonetos 200 51 332 nm 150 55 56 100 50 0 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400 comprimento de onda (nm) Figura 35. Espectro de fluorescência sincronizada (∆λ=51 nm) para bílis de peixes coletados na Baía de Guanabara. Resultados e discussões 104 9.2.5. Correlação entre as variáveis As variáveis categóricas deste estudo foram codificadas de acordo com o Quadro 12 a seguir. O critério utilizado para categorização do local levou em consideração também o derramamento de óleo ocorrido em Niterói em setembro de 2005. Quadro 12. Codificação das variáveis categóricas. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Sexo Local Cor da bílis Macho 1 Baía de Guanabara – Ago/2005 1 Verde musgo 1 Fêmea 2 Itaipu – Ago/2005 2 Marrom 2 Baía de Guanabara – Dez/2005 3 Castanho 3 Itaipu – Set/2005 4 Castanho claro 4 Assim, foi calculada a matriz de correlação das variáveis, onde é indicado o valor da correlação de Pearson entre cada variável e construído o dendograma de similaridade pelo método de Ward, utilizando distâncias euclidianas como medida de similaridade. Pode-se observar na Tabela 19 e Figura 36 que são significativas as correlações entre o peso, comprimento padrão e comprimento total, de acordo com o crescimento isométrico calculado anteriormente. Houve também correlação positiva entre o peso, comprimento total e comprimento padrão com o volume de bílis, indicando que quanto maior o peixe maior a quantidade de bílis encontrada. Tabela 19. Matriz de correlação das variáveis. WT WT 1 LT 0,921 LT LP K volume sexo local HPA Absorvância Cor 1 LP 0,825 0,907 1 K 0,293 -0,029 -0,254 1 volume 0,603 0,606 0,500 0,066 sexo 0,215 0,161 0,079 0,194 0,186 1 local -0,152 -0,235 -0,102 -0,022 -0,160 0,277 1 1 HPA 0,081 0,004 0,070 0,018 0,191 -0,237 0,025 1 Absorvância -0,040 -0,109 -0,118 0,208 -0,021 0,158 0,143 0,567 1 Cor 0,045 0,028 0,065 -0,038 -0,164 0,235 0,227 -0,488 -0,381 1 Resultados e discussões 105 Similaridade -123.10 -48.74 25.63 100.00 so Pe Lt Lp e lum Vo K xo Se l ca Lo A HP ão rç so b A r Co PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Figura 36. Dendograma de similaridade dos valores absolutos das correlações absolutas das distâncias pelo método de Ward. Além destas correlações, foram encontradas correlações entre o valor de absorvância em 380 nm, a cor da bílis e a concentração de HPAs medida, mostrando a relação que existe entre a maior densidade da bílis e concentrações maiores de HPAs, apesar de já ter sido demonstrado que normalizar as concentrações de HPAs pela concentração de biliverdina, medida por absorção molecular, não melhora a covariância dos resultados. Uma preocupação neste trabalho era saber se o tipo de pesca teria influência no status alimentar do peixe, afetando a concentração de HPAs medida. Neste estudo o tipo de pesca usado na captura de peixes da Baía de Guanabara foi o curral. O curral tem formato externo circular com um prolongamento que sai de um ponto determinado e que serve para direcionar o peixe para dentro do curral, até serem retirados com uma rede. Já em Itaipu o tipo de pesca usado para captura dos peixes foi o arrasto de praia onde o pescado se acumula na rede durante o arrasto. Dos peixes capturados na Baía de Guanabara, 50% apresentaram bílis com coloração verde musgo enquanto em Itaipu apenas 28% apresentaram esta mesma coloração, podendo indicar que os peixes que ficam presos no curral ficam maior tempo sem se alimentar. No entanto, estes dados não são conclusivos para se afirmar que há influência do tipo de pesca usado, curral ou arrasto, no status alimentar dos peixes capturados. Resultados e discussões 106 9.2.6. Determinação de HPAs totais em água Para a análise de HPAs totais em água foi obtida uma curva analítica utilizando soluções de pireno em diclorometano. Para a elaboração da curva analítica foram utilizados 6 soluções-padrão com concentrações entre 10 a 150 µg L-1, obtidos pela diluição da solução estoque de pireno. Foram feitas 3 replicatas de cada concentração, obtendo-se a seguinte curva analítica (Figura 23): Yˆc = 0,570+ 1,865 x, ( 11 ) R 2 = 99,80% ( ±0 , 020 ) 300 Intensidade PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA ( ±1, 639 ) 200 100 Regressão Intervalo de Confiança 95% 0 0 50 100 150 Concentração (ng/mL) Figura 37. Curva analítica de soluções de pireno em diclorometano (n=3). A Tabela 20 mostra a análise de variância da curva de regressão com p = 0,000. O pressupostos de normalidade e homogeneidade de variância também foram testados apresentando p=0,147 e p=0,131 para a estatística teste de Anderson-Darling e Bartlett respectivamente. Resultados e discussões 107 A linearidade da curva foi testada pelo teste do ajuste do modelo linear (erro puro), sendo a faixa de trabalho considerada linear com p = 0,788. Tabela 20. Análise de variância da curva de regressão. Causa de Grau de Soma dos Média dos variação liberdade Quadrados Quadrados Regressão 1 194.532 194.532 Resíduo 19 426 22 Total 20 194.958 F p 8.684,66 0,000 Como os pressupostos de normalidade e homogeneidade de variância foram válidos, o mínimo valor detectável referente à concentração, x0, e o mínimo valor quantificável referente à concentração x0, podem ser obtidos pelas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA equações (13) e (14): xD = 3,29 22 = 8,274µg ⋅ L−1 1,865 xQ = 10 22 = 25,15µg ⋅ L−1 1,865 O mínimo valor detectável e o mínimo valor quantificável foram, respectivamente, 8,274 µg L-1 e 21,15 µg L-1. Os HPAs foram medidos em amostras de água do mar filtradas e não filtrada. No entanto, os extratos obtidos para a água do mar não filtrada encontravam-se intensamente coloridos, verdes, devido ao fitoplâncton presente nas amostras, interferindo nas análises por fluorescência. e os resultados foram expressos em equivalentes de pireno (µg L-1) (Tabela 21). Foram preparados brancos do processo e seu valor de intensidade foi descontado do valor de intensidade obtido para as amostras. Resultados e discussões 108 Tabela 21. Concentração de HPAs medidos em amostras de água*. Local -1 Data Concentração (µg L ) equivalentes de pireno Baía de Guanabara agosto/2005 0,0921 ± 0,0053 Itaipu agosto/2005 0,0225 ± 0,0164 Baía de Guanabara dezembro/2005 0,1097 ± 0,0009 * média ± desvio-padrão Os valores obtidos neste estudo, apesar de reportados em equivalentes de pireno, tiveram a mesma ordem de grandeza dos menores valores reportados por Azevedo (1998) e Meniconi e colaboradores (2002), que reportaram seus resultados em equivalentes de criseno (Quadro 13). Quadro 13. Concentrações de HPAs na água da Baía de Guanabara. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Concentrações de HPAs Unidade 0,06 – 1,59 (µg L-1) -1 0,66 – 1,18 (F) (µg L ) 0,79 – 2,79 (NF) equivalentes de criseno 0,93 (F) (µg L-1) 1,52 (NF) equivalentes de criseno <0,04 – 11,56 (NF) (µg L-1) Referência Silva, 2004 Lima, 2001 Lima, 2001 (µg L-1) 0,12 – 1,75 (NF) equivalentes de criseno 0,21 – 1,40 (F) (µg L-1) 0,93 – 2,97 (NF) equivalentes de criseno F: amostra filtrada; NF: amostra não filtrada amostras coletadas em 1999. amostra coletada após o acidente de janeiro/2000. Meniconi et al., 2002 equivalentes de criseno 0,05 – 1,09 (F) Observações Azevedo, 1998 Hamacher, 1996 10 dias após o acidente de 2000. 10 Conclusões e Considerações finais No presente trabalho foi otimizada uma metodologia analítica simples e de baixo custo para a determinação de metabólitos de HPAs em bílis de peixes por fluorescência. Ao utilizar a análise por fluorescência deve-se ter em mente que esta não é uma técnica seletiva e não possibilita a quantificação dos HPAs individuais, sendo portanto, uma técnica semi-quantitativa. Entretanto, o enfoque principal deste estudo não foi a quantificação dos HPAs e sim desenvolver uma metodologia capaz de detectar a presença ou ausência de contaminação por petróleo no ambiente no qual os indivíduos foram PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA capturados (peixes). Assim, para fins de monitoramento ambiental preliminar, esta técnica é indicada já que não são necessárias etapas de extração e cleanup , tornando o processo de análise mais rápido e econômico se comparado a outros processos usualmente utilizado para a análise de HPAs. Para a análise de metabólitos de HPAs em bílis de peixe foram otimizados os principais parâmetros envolvidos na metodologia e na técnica analítica, sendo os resultados obtidos para o limite de detecção (LD = 0,3785 µg L-1) e de quantificação (LQ = 1,504 µg L-1) indicando uma aplicação favorável ao uso a que se destina. Após o uso de um planejamento experimental para determinar o melhor sistema solvente para preparação das soluções-padrão e para a diluição das amostras, verificou-se que a proporção etanol/água de 48% foi a condição mais adequada. Cabe ressaltar que esta já vem sendo utilizada por outros autores para a análise de metabólitos de HPAs na bílis de peixe. Deve ser enfatizado que ao utilizar a metodologia proposta deve-se tomar cuidado com a proporção da diluição das amostras devido o efeito de matriz ser significativo. A diluição sugerida neste trabalho é a proporção 1:2000, bílissolvente. A exatidão do método foi verificada através da adição de analito, onde o valor médio das concentrações determinadas para a adição de analito correspondeu a 86% da concentração esperada. Conclusões e Considerações finais 110 Pela análise dos resultados obtidos para a Baía de Guanabara e Itaipu conclui-se que o método proposto neste estudo é capaz de diferenciar um local contaminado de um local não contaminado por compostos de petróleo, tanto em casos de contaminação crônica (Baía de Guanabara) quanto em casos de contaminações acidentais (Itaipu, setembro/2005). Adicionalmente, apesar de não ser o objetivo principal do estudo, pôdese obter também informações preliminares da origem dos HPAs. Neste trabalho, ao analisarmos as bílis dos peixes coletados na Baía de Guanabara, os espectros de fluorescência sincronizada mostraram que existem duas classes de HPAs presentes, com picos nos comprimentos de onda característicos de compostos com 2-3 anéis (λ = 280 nm) e 4 anéis (λ = 332 nm). Não foi observado nenhum pico no comprimento de onda característico de HPAs com 56 anéis (λ = 380 nm). Estes resultados seriam um indício de contaminação petrogênica. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Cabe ressaltar ainda a importância dos cuidados tomados no planejamento amostral dos indivíduos capturados, selecionando e monitorando o tamanho dos peixes entre outros dados morfométricos. Se a cadeia de custódia das amostras não é bem estabelecida, principalmente neste tipo de estudo que envolve grande parte de trabalho de campo, o resultado do trabalho pode ser questionado, mesmo que estejam analiticamente corretos. Assim, estudos adicionais e informações sobre a distribuição de frequência do comprimento total dos indivíduos coletados, a proporção sexual dos indivíduos capturados, estágio de maturação, fator de condição, entre outros são extremamente relevantes para aplicações na área ambiental. O histórico e os dados (físico-químicos, geográficos, climatológicos, entre outros) sobre o ambiente onde os indivíduos foram capturados também devem fazer parte do estudo para uma melhor compreensão e discussão dos resultados. A análise de correlação entre os dados obtidos indicou que são significativas as correlações entre o peso, comprimento padrão e comprimento total, de acordo com o crescimento isométrico dos indivíduos. Houve também correlação positiva entre o peso, comprimento total e comprimento padrão com o volume de bílis, indicando que quanto maior o peixe maior a quantidade de bílis encontrada para a Mugil liza. Isto indica que em programas de monitoramento ambiental devam ser escolhidos para estudo indivíduos maiores, garantindo assim sua maturidade sexual e a fácil retirada do líquido biliar. Além destas correlações, foram encontradas correlações entre o valor de absorvância em 380 nm, a cor da bílis e a concentração de HPAs medida, Conclusões e Considerações finais 111 mostrando a relação que existe entre a maior densidade da bílis e concentrações maiores de HPAs, apesar de já ter sido demonstrado que normalizar as concentrações de HPAs pela concentração de biliverdina, medida por absorção molecular, não melhora a covariância dos resultados. Um aspecto importante que precisa ser mais estudado para alguma conclusão é verificar se o tipo de pesca influencia o status alimentar do peixe, afetando a concentração de HPAs medida. Para uma melhor compreensão e discussão dos resultados é fundamental a análise de HPAs no ambiente onde o biomonitor foi capturado. As concentrações de HPAs obtidas na água, tanto da Baía de Guanabara quanto em Itaipu, apresentaram a mesma ordem de grandeza dos menores valores reportados anteriormente por outros autores. A idéia inicial era tentar verificar a existência de alguma correlação entre as concentrações de HPAs na bílis do peixe com as concentrações no ambiente onde os mesmos foram capturados. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Entretanto, esta correlação não pode ser avaliada devido ao baixo número de amostragens de água para esse tipo de conclusão. É importante ressaltar que esta dissertação é o primeiro trabalho que relata a utilização dos metabólitos de HPAs em bílis de peixes como biomarcadores no monitoramento da contaminação por petróleo no Brasil. Este trabalho foi apresentado em dois congressos durante o seu desenvolvimento (SBQ/2005 e ENQA/2005), e atualmente outros grupos vem iniciando pesquisas na mesma linha. Todas essas pesquisas vão contribuir para geração de dados pretéritos que futuramente poderão gerar mais conhecimento dos ecossistemas brasileiros estudados. Salienta-se aqui que o uso da análise de HPAs na bílis de peixe já vem sendo usado com sucesso em outros países para o monitoramento ambiental da contaminação por petróleo. Pela primeira vez esta técnica foi usada para o monitoramento de peixes da Baía de Guanabara, RJ. Existem na literatura estudos que avaliam a quantidade de HPAs presentes no tecido de peixes coletados na Baía de Guanabara. No entanto, este não é considerado um bom biomarcador de HPAs no ambiente aquático devido ao seu rápido metabolismo em vertebrados, apesar de este tipo de estudo ser importante do ponto de vista de saúde pública. A tainha da espécie Mugil liza indicou ter potencial para ser um bom biomonitor para a região da Baía de Guanabara, já que foi facilmente capturada em épocas do ano distintas, pela fácil localização da vesícula biliar e por não haver diferenças significativas entre os valores de HPAs medidos nas diferentes estações do ano, inverno e verão. Conclusões e Considerações finais 112 Apesar da sua proximidade com o Rio de Janeiro, facilitando a coleta de indivíduos para o monitoramento, Itaipu não foi o local de controle mais adequado, já que o biomonitor escolhido não foi facilmente coletado na estação chuvosa (verão), época de sua reprodução em alto mar. Assim, é necessário buscar um novo local para capturada dos peixes usados como controle. Como conclusão geral, pode-se dizer que diante da crescente ameaça ambiental que a Baía de Guanabara vem enfrentando, este trabalho torna-se altamente interessante e com perspectivas muito promissoras para os protocolos de avaliação ambiental. Haja visto que esta avaliação, baseada na determinação de HPAs em peixes, pode fornecer dados pretéritos para a Baía de Guanabara, nos casos de acidentes futuros, e contribuir para o monitoramento das emissões crônicas por óleo, muitas vezes apresentando um potencial altamente tóxico, oferecendo um grande perigo ao meio ambiente. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA Os bons resultados obtidos fazem supor uma grande potencialidade para um uso mais amplo da metodologia otimizada para o biomonitoramento buscando outros possíveis biomonitores, ou seja, testando outras espécies de peixes. Entretanto, é necessário salientar uma limitação: o líquido biliar não pode ser sempre considerado um bioindicador ideal, uma vez que há espécies de peixes que não apresentam facilidade de localização e obtenção da bílis. Por último, vale ressaltar que praticamente inexistem dados sobre a contaminação de HPAs em peixes da espécie Mugil liza (tainha) na Baía de Guanabara; além de serem pouco conclusivos, visto que os peixes são transitórios no ambiente sendo, portanto, necessário um número maior de dados para sua caracterização e avaliação. Considera-se de fundamental importância para as discussões e conclusões dos resultados obtidos a continuidade das pesquisas com trabalho de campo baseado em um amplo planejamento amostral, com registros detalhados e que monitore in situ os parâmetros físico-químicos e biológicos georeferenciados. Finalmente, vale salientar que este trabalho contou com o apoio e a colaboração de vários pesquisadores de áreas distintas o que faz deste um trabalho de caráter interdisciplinar, contribuindo ainda mais para as discussões na área. Como trabalho futuro será estudada se existe correlação entre as determinações feitas usando-se a fluorescência fixa e a fluorescência sincronizada. Além disso, deverá ser pesquisada nova área de controle onde o Conclusões e Considerações finais 113 peixe Mugil liza esteja presente o ano inteiro e estudar como o ciclo reprodutivo das tainhas pode influenciar os resultados. Deve ser estudada também as possíveis relações entre o tipo de pesca e o status alimentar do peixe e a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA viabilidade do uso de novas espécies de peixes como biomonitores. 11 Referências bibliográficas AAS, E.; BEYER, J.; GOKSØYR, . PAH in fish bile detected by fixed wavelength Fluorescence. Marine Environmental Research, v. 46, n.1-5, p. 225-228, 1998. AAS, E.; BEYER, J.; GOKSØYR. Fixed wavelength fluorescence (FF) of bile as a monitoring tool for polyaromatic hydrocarbon exposure in fish: na evaluation of compound specificity, inner filter effect and signal interpretation. Biomarkers, v. 5, n. 1, p. 9-23, 2000. AMBIENTEBRASIL. Apresenta textos sobre meio ambiente. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br>. Acesso em: 05 jan. 2006. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410380/CA ARIESE, F. et al. Synchronous fluorescence spectrometry of fish bile: a rapid screening method for the biomonitoring of PAH exposure. 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