PROGRAMA DE REDUÇÃO DA POBREZA E GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS DO PARÁ
Acordo de empréstimo 7414 BR
EMMANUEL ERIC MARIE BAYLE
ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DO AÇAÍ E CUPUAÇU
Termo de Referência 005/2013
Relatório Final
Belém – Pará
2015
1
Agradecimentos
A realização deste trabalho, foi possível graça à participação de muitas pessoas, que mostraram grande
disponibilidade.
Para todas elas, aqui vão meus sinceros agradecimentos, por ter compartilhado conhecimentos e reflexões
sobre o tema do presente estudo.
2
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................................................... 4 I-­‐ O açaí ........................................................................................................................................................ 4 I.1-­‐ Panorama geral da produção de açaí ...................................................................................................... 5 I.1.1-­‐ No mundo ....................................................................................................................................................................... 5 I.1.2-­‐ No Brasil ......................................................................................................................................................................... 5 I.1.3-­‐ No Pará ............................................................................................................................................................................ 7 I.2-­‐ Principais programas implementados ................................................................................................ 10 I.2.1-­‐ Programa Nossa Várzea ........................................................................................................................................ 10 I.2.2-­‐ Programa Estadual de Qualidade do Açaí (PEQA) .................................................................................. 11 I.2.3-­‐ Plano Nacional da Sociobiodiversidade ......................................................................................................... 12 I.2.4-­‐ Regulamentação sobre a produção artesanal do açaí .............................................................................. 12 I.2.5-­‐ Outras iniciativas públicas ................................................................................................................................... 13 I.2.6-­‐ O Projeto ParáRural ................................................................................................................................................ 13 I.3-­‐ Aspectos vinculados com a produção de açaí ................................................................................... 13 I.3.1-­‐ Características gerais da produção .................................................................................................................. 13 I.3.1.1-­‐ Breve histórico ..................................................................................................................................................................... 13 I.3.1.2-­‐ O açaí: cultura típica dos pequenos agricultores ribeirinhos .......................................................................... 14 I.3.1.3-­‐ Caminhando para um sistema duplo ......................................................................................................................... 15 I.3.2-­‐ Principais gargalos e dificuldades vinculados com a produção de açaí. .......................................... 16 I.3.3-­‐ Recomendações operacionais ............................................................................................................................ 17 I.4-­‐ Aspectos vinculados com o processamento ....................................................................................... 19 I.4.1-­‐ Características gerais ............................................................................................................................................. 19 I.4.1.1-­‐ Aspectos da colheita e pós-­‐colheita ........................................................................................................................................ 19 I.4.1.2-­‐ O intermediário na logística de distribuição .......................................................................................................... 20 I.4.1.3-­‐ Exigências do mercado para os tipos de açaí ......................................................................................................... 21 I.4.1.4-­‐ Tecnologias de processamento e atores envolvidos ........................................................................................... 21 I.4.1.5-­‐ Exigências sanitárias ......................................................................................................................................................... 22 I.4.2-­‐ A estrutura empresarial ........................................................................................................................................ 23 I.4.3-­‐ Principais gargalos nas etapas de processamento .................................................................................... 24 I.4.4-­‐ Recomendações operacionais ............................................................................................................................ 25 I.5-­‐ Sobre o acesso ao mercado ...................................................................................................................... 25 I.5.1-­‐ Os fluxos e tipos de produtos que estruturam o mercado ..................................................................... 25 I.5.2-­‐ Comportamento da demanda e da oferta ...................................................................................................... 26 I.5.3-­‐ Evolução dos fluxos de venda ............................................................................................................................. 27 I.5.4-­‐ Estrutura do mercado de fruto do açaí ..................................................................................................................... 28 I.5.4.1-­‐ O mercado no Pará ............................................................................................................................................................. 28 I.5.4.2-­‐ O mercado nacional ........................................................................................................................................................... 29 I.5.4.3-­‐ O mercado Internacional ................................................................................................................................................. 29 I.5.5-­‐ Cenário futuro da produção e consumo de açaí .......................................................................................... 30 I.5.7-­‐ Principais gargalos .................................................................................................................................................. 31 I.5.8-­‐ Recomendações operacionais ............................................................................................................................ 32 I.6-­‐ Diversificação e outros produtos oriundos do açaizeiro .............................................................. 33 I.7-­‐ Conclusões sobre a cadeia produtiva do açaí .................................................................................... 33 II-­‐ O cupuaçu ............................................................................................................................................. 33 II.1-­‐ A produção de cupuaçu ........................................................................................................................... 33 II.1.1-­‐ Características gerais da produção ................................................................................................................ 35 II.1.2-­‐ Programas e projetos de apoio a produção de cupuaçu ....................................................................... 36 II.1.3-­‐ Principais gargalos relacionados à produção de cupuaçu ................................................................... 36 II.1.4-­‐ Recomendações operacionais sobre a produção de cupuaçu com pequenos produtores rurais ......................................................................................................................................................................................... 37 II.2-­‐ O processamento do cupuaçu ............................................................................................................... 40 3
II.2.1-­‐ Características gerais ........................................................................................................................................... 40 II.2.2-­‐ Beneficiamento para indústria alimentícia ................................................................................................. 40 II.2.3-­‐ Beneficiamento para a produção de óleos ................................................................................................. 40 II.2.4-­‐ Principais gargalos ................................................................................................................................................ 41 II.2.5-­‐ Recomendações operacionais sobre o beneficiamento ......................................................................... 41 II.3-­‐ O acesso ao mercado do cupuaçu ........................................................................................................ 43 II.3.1-­‐ Características gerais do mercado cupuaçu ............................................................................................... 43 II.3.2-­‐ O mercado alimentício ......................................................................................................................................... 43 II.3.3-­‐ O mercado dos cosméticos ................................................................................................................................. 44 II.3.4-­‐ Principais atores e infraestruturas existentes ........................................................................................... 44 II.3.5-­‐ Principais gargalos ................................................................................................................................................ 45 II.3.6-­‐ Recomendações operacionais para melhorar a comercialização em nível dos pequenos produtores. ............................................................................................................................................................................. 45 II.4-­‐ Conclusões sobre a cadeia do cupuaçu. ............................................................................................. 46 Referências Bibliográficas ................................................................................................................... 48 Anexos ......................................................................................................................................................... 49 4
Introdução
A fruticultura no Estado do Pará é uma atividade de grande importância para a alimentação da população, o
emprego e a atividade econômica que ela representa. No contexto da agricultura familiar ela tem uma
função estruturante e encontra-se na maioria dos sistemas de produção.
A demanda por frutos originários do bioma Amazônia está em pleno crescimento e o setor da fruticultura na
sua globalidade ganha peso na economia do estado. As tendências e previsões apontam para que essa
dinâmica continua à médio e longo prazo.
Neste contexto, entre 2007 e 2013, o Projeto Pará Rural que apoiou, várias projetos de investimentos
produtivos orientados para a fruticultura, identificou a necessidade e a relevância de realizar um trabalho
mais aprofundado sobre algumas frutas, no intuito de poder orientar futuras intervenções e investimentos
em prol da fruticultura, desenvolvida no âmbito de pequenos produtores.
Para isso, foram identificadas duas cadeias produtivas prioritárias, por serem amplamente difundidas no
Estado, trata-se do açaí e do cupuaçu.
Sendo que as cadeias produtivas desses dois cultivos são bastante diferentes, elas fora tratadas
separadamente para maior clareza. Cada vez que possível e relevante, a associação dos dois foi estudado e
mencionado, isso diante da realidade do campo, na qual em muitos casos, os dois cultivos são conduzidos
juntos.
Para cada cadeia estudada, a abordagem se organizou em torno de 3 etapas: o nível do cultivo, da produção,
em segundo lugar todas as questões vinculadas com o beneficiamento e o processamento das frutas e
finalmente todos os pontos relativos ao acesso ao mercado. Para cada etapa, são apresentadas as principais
características da evolução e da situação atual, em seguida são listadas as principais dificuldades o gargalos,
e finalmente um último capítulo sugere as principais recomendações.
I- O açaí
O açaí é uma fruta pequena de cor roxa escura que cresce na palmeira conhecido informalmente como
açaizeiro (Euterpe Oleracea). É nativa das áreas de várzea da Amazônia Brasileira. A fruta é conhecida por
suas propriedades nutricionais, seu alto teor de antocianinas e por ser antioxidante, além do seu alto valor
calórico com elevado percentual de lipídeos (gorduras), minerais (potássio, cálcio, magnésio, cobre,
manganês), vitaminas (E e B1) e fibras (Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará). A fruta é
tradicionalmente recolhida e diretamente consumida pelas populações ribeirinhas, das quais ela faz parte da
dieta, além de contribuir com a geração de
Box no 1: o açaí , base da alimentação
emprego e renda. Mais recentemente, a fruta tem
ganhado popularidade no Brasil todo e no mundo
Nos municípios produtores, o açaí continua sendo a
base alimentar das camadas pobres da população,
devido às propriedades energéticas e nutricionais,
juntamente com farinha e peixe. Essa combinação,
o que vem contribuindo à demanda crescente. A
segundo Santana et al. (1997) e Bentes (2003)
fruta é consumida na forma de polpa, que é
proporciona contingente de calorias e proteínas
superiores aos níveis recomendados pela Organização
conhecido localmente como “vinho de açaí”.
Mundial de Saúde (OMS).
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I.1- Panorama geral da produção de açaí
I.1.1- No mundo
Por ser nativo do bioma Amazônico, o açaizeiro se encontra, com expressividade muito variável, nos países
que abriguem este bioma: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guianas. O Brasil é que detém a
maior área produtiva.
Embora a oferta do açaí no mercado mundial ainda origina do Brasil, hoje é possível observar a árvore sendo
plantada em outras partes do mundo. Ainda não tem estatísticas sobre esses plantios, mas companhias como
Açaí Palm Seeds (www.AçaíPalmSeeds.com - 2013) estão vendendo o BRS-Pará (uma variedade
desenvolvida pela EMBRAPA) para a América do Norte (Florida), a Europa, a África, a Ásia e a Austrália
desde 2007 principalmente para plantar em hortas e para fins comerciais.
I.1.2- No Brasil
No Brasil, a palmeira está principalmente distribuída em:
-
6 estados da região Norte: Pará, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Acre e Amapá.
2 estados no Nordeste: naturalmente no Maranhão e mais recentemente alguns plantios foram
desenvolvidos na Bahia.
Até o final dos anos 90, a produção e consumo da fruta eram limitados principalmente ao Brasil e mais
especificadamente à região Norte. Devido à sua imagem exótica e natural de fruta de origem amazônica e
suas qualidades nutricionais, o consumo foi se expandindo progressivamente nas demais regiões do Brasil e
em outros países, essencialmente nos Estados Unidos. Desde então vem ganhando popularidade cada vez
mais forte no Brasil e no mundo em geral. Isso teve um impacto estimulador forte sobre a produção.
Em 2010, foram extraídas 124.421 toneladas de açaí no Brasil, o equivalente a um valor de mercado de R$
179.378 (IBGE 2010). Desta quantidade, 113.331 toneladas, ou seja, 91,09 % da produção total, veio do
norte do país. A demais produção, 11.090 toneladas referente a 8,91 % da produção nacional, veio dos
estados da Bahia e Maranhão. Em destaque é o estado do Pará que, sozinho, produziu 85,64 % da produção
nacional (Tabela 1), se colocando assim como maior produtor nacional e até mundial.
6
Tabela 01: Quantidade e valor de açaí extraído no Brasil em 2010, por regiões estados produtores.
Grande Região
Unidade
Federal
Valor
(1,000 R$)
% produção
nacional
113.331
169,139
91,09
106.562
161.826
85,64
Amazonas
3,256
4.298
2.62
Acre
1.674
924
1,35
Amapá
1.427
1.477
1,15
Rondônia
408
608
0,33
Tocantins
3
5
0,002
11.090
10.240
8,91
10.930
9.999
8,78
160
240
0,13
124.421
179,378
100
Norte
Pará
Nordeste
Maranhão
Bahia
Total Brasil
Quantidade
(t)
Fonte: IBGE Produção da extração vegetal e da silvicultura – 2010.
Figura 01: Produção de açaí entre 1990 e 2010, por estados produtores
Fonte: IBGE 2011
Em anos recentes, a popularidade da fruta e as perspectivas de mercado, tem aumentado o investimento no
plantio além do Pará, em outras regiões do Brasil, especialmente nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco,
7
Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo e Mato Gros do Sul com grandes plantios de açaizeiro nos Estados de
Rondônia e Acre (UFPA 2013). Nos próximos anos a produção dessas novas regiões vai chegar no mercado.
I.1.3- No Pará
A grande quantidade de extração de açaí no norte do país e em particular no estado do Pará, se explica em
parte por fatores geográficos, isto é, as áreas de extensas várzeas que favorecem a alimentação de açaizeiros
(Euterpe oleracea), e em parte pela demanda regional deste alimento que historicamente é essencial na dieta
da população local. Estima-se que o açaí é responsável pela geração de emprego para 25 mil pessoas, de
forma direta e indireta no estado do Pará (Lopes & Santana 2005, apud Nogueira et al. 2013).
No Pará, o nordeste Paraense é a região que mais produz açaí (plantados e espontâneos), seguido por Marajó,
a região metropolitana de Belém, o Baixo Amazonas, o Sudoeste e o Sudeste do Pará (Tabela 2 e Tabela 3).
A maioria da produção da região metropolitana de Belém vem de áreas cultivadas ou plantadas. Na
mesorregião do Nordeste Paraense, se destaca a microrregião de Cametá que, em 2011, produziu 43.048
toneladas de açaí, ou seja, 39% da produção do estado todo. O município que mais produz açaí é Limoeiro
de Ajurú .
Tabela 02: Evolução da extração de açaí e valor da produção no estado do Pará em 2000, 2005, 2010 e
2011, por mesorregião
Mesorregião
Nordeste
Paraense
Marajó
Metropolitana
de Belém
Baixo
Amazonas
Sudoeste
Paraense
Sudeste
Paraense
Total Pará
Fonte, SAGRI (2011)
Quantidade
(toneladas)
2000
2005
produzida
2010
2011
Valor
da
(R$ 1000)
2000
2005
2010
produção
79.583
50.557
56.320
57.373
44.488
47.352
98.228
99.606
27.053
30.722
39.970
39.432
9750
20.976
50.567
66.515
5.129
7.235
7.636
9.588
1.705
5.511
9.752
12.745
508
2.403
1.224
1.456
180
1.301
1.617
2.228
363
581
550
589
111
410
494
593
48
597
867
910
34
485
1.172
1480
112.684
92.095
106.567
109.348
56.268
76.035
161.830
183.167
2011
8
Tabela 03: Produção de açaí no Pará em áreas plantadas, por mesorregião.
Mesorregião
Nordeste
Paraense
Metro.
de Belém
Marajó
Sudeste
Paraense
Baixo
Amazonas
Sudoeste
Paraense
Pará
Área plantada
(hectares)
2005
2011
Área colhida
(hectares)
2005
2011
Quantidade
produzida (tonelada)
2005
2011
Valor da Produção
(R$1.000)
2005
2011
27.744
61.087
27.744
61.087
333.427
540.927
306.243.460
845.613.828
3.370
9.705
3.370
9.705
42.804
111.340
33.298.520
157.816.480
2.496
5.690
2.496
5.690
34.044
55.100
32.043.700
68.600.960
308
2.655
308
2.655
3.080
27.990
3.087.000
41.821.200
200
625
200
625
1.520
5.126
1.376.000
7.596.320
85
330
85
330
1.046
2.001
947.040
2.053.350
34,203
80,092
34,203
80,092
415,921
742,484
376,995,720
1,123,502,138
Fonte: Tabela adaptada de dados fornecidos por LSP/IBGE e sistematizados e divulgados por SAGRI 2011
Localização das regiões produtores no Estado do Pará
9
Fonte: LSPA, PEVS, IBGE – 2013
Fonte: LSPA, PEVS, IBGE – 2013
10
As diferenças observadas sobre os dados para um mesmo período, as estatísticas durante este estudo
chamaram a atenção sobre as estatísticas e suas fontes, principalmente quando se tratava de dados do IBGE
e da SAGRI. Ao questionar sobre essas diferenças tivemos alguns elementos de esclarecimento. Um deles, é
que a produção das áreas plantadas não está considerada pelo censo do IBGE que considera apenas nas
estatísticas o açaí do extrativismo. Por esses motivos foram privilegiados, os dados compilados e adaptados
pela SAGRI, que abrangem a totalidade da produção oriundo do extrativismo e de áreas plantadas, foram
avaliados mais próximos da realidade do contexto e da sua evolução. Mesmo assim, se ao se considerar os
rendimentos médios por hectare, podemos achar que a produção do extrativismo parece subavaliada e a
produção do açaí plantado manifesta uma tendência optimista nos rendimentos. Essas considerações
explicam também as diferenças com valores da produção do Pará quando comparada com outros estados
(principalmente na figura 01 e na tabela 01, página 6).
A grande quantidade de produção no Nordeste Paraense e a região metropolitana de Belém relativa aos
outras regiões, se explica diante de uma série de fatores como apontam Santana e Carvalho (2008, p. 187):
- A estruturação da cadeia produtiva ou rede de empresas, mediante a integração vertical, via
aprofundamento das relações das empresas com fornecedores, clientes e instituições,
- A existência e atuação de instituições públicas e privadas, embora de forma tímida, universidades, órgãos
de pesquisa, assistência técnica, instituição financeira, secretarias de governo e ONG,
- As organizações socioeconômicas e culturais, formadas e atuando localmente, criando capacidade para
trocar informações e mover ações coletivas na direção do modelo de industrialização apropriado (sindicatos
de empresas, sindicado de trabalhadores, cooperativa e associações de produtores, câmara de gestão do APL
de fruticultura);
- A disponibilidade de capital humano, envolvendo o conhecimento tácito e habilidades específicas de
trabalhadores e a capacidade empresarial dos atores vinculados ao arranjo;
- O estoque disponível de ciência e tecnologia (C & T) para vários níveis da atividade, faltando viabilizar a
difusão e implantação da tecnologia apropriada (envolvendo novos sistemas de produção, novos produtos,
novas técnicas de produção e de gestão);
- A infraestrutura produtiva e comercial em operação (base industrial, energia, comunicação e transporte),
faltando otimizar aspectos de logística.
A partir das tabelas 02 e 03 (páginas 7 e 8), também é possível observar a quantidade de açaí produzido e o
valor nas últimas décadas. Em 2011 a produção total de açaí (áreas manejadas e áreas não manejadas) no
estado do Pará era 851.832 toneladas, o que representa uma aumenta de 168% na produção quando
comparado a 2005. Porém, no mesmo período o valor total da produção passou de 377.071.755 mil reais
para 1.123.685.305, ou seja um aumenta de 298%. Isso se deve ao crescente demanda pelo qual a oferta
ainda não conseguiu alcançar (UFPA 2013) que tem o efeito de aumentar o valor da fruta. Observe-se
também que o crescimento na produção de açaí é quase inteiramente devido ao aumento de áreas plantadas.
I.2- Principais programas implementados
No Pará, várias iniciativas e programas revelam os esforços e a mobilização do Governo do Estado
confirmar o interesse do estado para fortalecer e desenvolver a cadeia produtiva do açaí, tantos para seus
benefícios econômicos, sociais como ambientais.
I.2.1- Programa Nossa Várzea
O Estado do Pará possui área equivalente a 16% do território nacional. Cerca de metade desse percentual
recebe a influência de marés – são, portanto, áreas do patrimônio da União, totalizando 8,5 milhões de
hectares de áreas de várzeas e ilhas (RESCHKE, A. et al, 2010), dentre elas o Arquipélago do Marajó.
11
Para fazer frente a esta realidade, foi criado o Programa de Regularização Fundiária de Áreas de Várzeas
Rurais (conforme Portaria nº 284, de 14 de outubro de 2005 - DOU de 17/10/2005) . O programa tem a
coordenação da Secretaria de Patrimônio da União – SPU, por meio da Gerência da Secretaria do
Patrimônio da União do Estado do Pará (GRPU/PA).
Ao entregar o Termo de Utilização de Uso às famílias de comunidades ribeirinhas, a União reconhece o
direito à ocupação e possibilita a exploração sustentável das áreas de várzeas. Além disso, o instrumento
representa para a família beneficiada um comprovante oficial de residência e uma garantia de acesso à
aposentadoria, a recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) e a
outros programas sociais do Governo Federal (RESCHKE, A. et al, 2010).
O Programa tem vários parceiros, operando em suas respectivas áreas de competência, tal como o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra (apoio técnico e logístico), o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama (fornece banco de dados para
armazenamento das informações coletadas e autoriza a exploração sustentável da área de várzea), o
Sistema de Proteção da Amazônia – Sipam (imagens de satélite atualizadas para identificação de áreas de
várzeas), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (fornece as cartas-imagens dos
municípios alcançados pelo Programa), a Secretaria Estadual do Meio Ambiente – Sema (concede as
licenças ambientais, após a legalização das áreas de várzeas pela GRPU/PA), a Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural – Emater (veículos para locomoção fluvial e apoio técnico), Prefeituras
Municipais (apoio logístico e estrutural às atividades de cadastramento) e a Associação Comunitária dos
Ribeirinhos Agroextrativistas (apoio na execução das atividades em campo).
I.2.2- Programa Estadual de Qualidade do Açaí (PEQA)
Foi criado no ano de 2011 pelo Governo do Estado o Programa Estadual de Qualidade do Açaí (PEQA),
objeto do Decreto Estadual nº 2.475/2010, que é coordenado pela Secretaria de Estado de Agricultura –
SAGRI. As ações de Vigilância Sanitária são coordenadas pela Secretaria Estadual de Saúde PúblicaSESPA; ao todo são envolvidas 12 instituições, de natureza pública e privada, tem por objetivo a introdução
de boas práticas em toda a extensão da cadeia produtiva (produção agrícola, transporte, comercialização,
fabricação artesanal e industrial), de modo a garantir padrão de qualidade do produto. Sob essa ótica, são
múltiplas e diversificadas as ações envolvidas, assim como as parcerias institucionais estabelecidas, dada a
dimensão e importância econômica da cadeia do açaí, que mobiliza mais de 300 mil pessoas, em 54
municípios, representando somente a produção do fruto cerca de 70% da fonte de renda da população
ribeirinha.
Várias ações vem sendo executadas visando a implementação dos objetivos do programa, dentre elas:
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Cursos de Capacitação de Batedores artesanais de açaí,
Distribuição de "kits açaí" composto de itens de higienização da manipulação do fruto,
Definição das etapas do processamento do açaí,
Desenvolvimento do equipamento que elimina as impurezas antes do processamento do fruto,
Articulação com agentes financeiros para criação de linhas de créditos especiais para batedores de
açaí.
A implementação do programa está assumida por um grupo de trabalho composto pelas principais entidades
do Estado, envolvidas nessa cadeia produtiva:
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Secretaria de Estado de Agricultura - SAGRI
Secretaria de Estado de Saúde Pública - SESPA
Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará - Adepará
12
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Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará - EMATER-PA
Universidade Federal do Pará - UFPA
EMBRAPA Amazônia Oriental
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE/PA
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará - FETAGRI
Representantes dos Batedores de Açaí de Vendas Direta ao Consumidor
Sindicato das Indústrias Processadoras de Polpa de Frutas dos Estado do Pará - SINDFRUTAS
Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Pará - SFA/PA
Federação da Agricultura de Pecuária do Pará - FAEPA
I.2.3- Plano Nacional da Sociobiodiversidade
Os Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social lançaram o
Plano Nacional da Sociobiodiversidade que tem como principal objetivo desenvolver ações integradas para a
promoção e fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, com agregação de valor e
consolidação de mercados sustentáveis. O Programa tem quatro eixos de atuação (Banco do Brasil 2010, p.
18):
-­‐
-­‐
-­‐
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Promoção e apoio à produção e ao extrativismo sustentável;
Estruturação e fortalecimento dos processos industriais;
Estruturação e fortalecimento de mercados;
Fortalecimento da organização social e produtiva.
O açaí é uma das cadeias produtivas priorizadas no Plano Nacional da Sociobiodiversidade, um plano dos
Ministérios do meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social, e tem como
objetivo fortalecer as cadeias produtivas de produtos da sociobiodiversidade com a agregação de valor e
consolidação de mercados (Banco do Brasil 2008, p. 18). Como explicado pelo relatório do Banco do Brasil
(2008, p. 18) “O açaí foi incluído na Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM, um instrumento de
sustentação de preço sob a tutela do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA e
operacionalizado pela Companhia Nacional de Abastecimento - Conab. São beneficiários dessa política os
extrativistas organizados em cooperativas e associações de diversas regiões do país. Para todos os produtos
amparados no Programa poderão ser realizados Empréstimos do Governo Federal – EGF, além de
subvenções econômicas, conforme a lei nº 11.775, de 17 de setembro de 2008”.
I.2.4- Regulamentação sobre a produção artesanal do açaí
O Decreto n⁰326 de 20 de Janeiro de 2012, regulamenta a produção artesanal do açaí, com cláusulas para o
uso de água (potável), branqueamento, boas práticas, manipulação de alimentos e bebidas, limpeza, entre
outros; obriga “o cadastramento semestral de todos os estabelecimentos artesanais que manipulam o açaí no
Estado do Pará”; regulamenta a localização dos estabelecimentos que manipulam o açaí e bacaba;
regulamenta a estrutura física dos pontos de venda de açaí; impõe regulamentos na higienização de
instalações, equipamentos, móveis e utensílios utilizados no processamento do açaí; impõe regulamentos no
controle de vetores e pragas urbanas; regulamenta o manejo e destino dos resíduos; impõe condições
higiênico-sanitárias e boas práticas de processamento; regulamenta o processamento dos frutos (açaí e
bacaba); e estabelece atividades de inspeção e fiscalização pelas secretárias municipais de saúde. O Governo
do Estado também concede incentivos fiscais para empresas que processem e beneficiem o produto em
território paraense.
13
I.2.5- Outras iniciativas públicas
Devido à sazonalidade da produção do açaí, isso cria problemas para atender a demanda constante do ano
todo, além de influenciar a variação de preço. Para poder melhor atender a demanda do açaí durante o
período da entressafra, a Embrapa Amazônia Oriental esta investindo em pesquisas sobre o plantio de novos
cultivares de açaí que são adaptadas à terra firme, tem alta produtividade e se produzem durante o primeiro
semestre do ano, isto é, na entressafra (Poll et al. 2013). Como parte do programa de melhoramento genético,
em 2004 surgiu o cultivar BRS Pará e estimam que seja lançado até o final de 2013 (Poll et al. 2013;
Embrapa Amazônia Oriental 2006).
O Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo (PRODEX) tem como principal atividade
manejar os açaizais nativos. O programa foi criado em junho de 1996, por tanto o crescimento na demanda
da fruta do açaí, ao contrário do palmito, tem contribuído ao maneja para manter os açaizeiros em pé.
O decreto n⁰8.017, publicada no dia 20 de Maio 2013, reduziu as alíquotas do Imposto sobre Produto
Industrializado (IPI) em 50% para o extrato de semente de guaraná e açaí, e em 25% para os extratos
utilizados na produção de refrigerantes e sucos (Banco do Brasil 2010).
I.2.6- O Projeto ParáRural
O projeto ParáRural (2007-2013) iniciativa do Governo de Estado com empréstimo do Banco Mundial,
apoiou vários Projetos de Investimentos Produtivos, dentre eles a fruticultura, visto serem várias as suas
atividades e atribuições, orientados para melhorar em 30 % a qualidade de vida dos proponentes. Esses
projetos, orientados para pequenos produtores organizados em associação, com parte dos recursos
reembolsáveis e outra como subvenção, permitiram a implantação de várias sistemas agroflorestais com açaí
associado a outros cultivos.
I.3- Aspectos vinculados com a produção de açaí
I.3.1- Características gerais da produção
I.3.1.1- Breve histórico
No período entre 1980 e 2001, a produção e o valor da produção de açaí, praticamente se mantiveram em
mesmo patamar, oscilando em torno da quantidade produzida e do valor da produção médios de 100.000
toneladas e R$ 55.000. No período subsequente de 2002 a 2004, produção e valor estouraram, sendo que eles
foram multiplicados por 4 em 3 anos.
Este efeito foi induzido pela expansão do mercado de fruto e polpa de açaí, criado pela divulgação do
produto na mídia escrita e televisiva, tornando o produto conhecido nas demais regiões do Brasil e em
vários países do mundo, mediante entre outros, exibição nas telenovelas. Este fenômeno se massificou a
partir de 1997. Ato contínuo foi dado estímulo à produção manejada pelas comunidades ribeirinhas e
à produção comercial por iniciativa privada de investidores migrantes de outras regiões e financiada com
recursos públicos.
Por exemplo no Estado do Pará, o Banco da Amazônia financiou entre 1990 e 2005 a implantação de
23.681 hectares de açaí. O total financiado até 2005 correspondeu a 8.288 contratos no valor global de
R$ 31.177.245, em 67 municípios. O valor médio do contrato foi de R$ 3.761 ou R$ 1.316/ha, ou seja,
três hectares por contrato. Em média, ao longo de 16 anos o BASA financiou a implantação e/ou manejo
de apenas 518 ha de açaí por ano no Estado do Pará.
14
Os financiamentos do Banco da Amazônia se concentraram entre 2000 e 2005, com recursos do Fundo
Constitucional de Financiamento do Norte (FNO). Com respeito à correlação entre os financiamentos e os
municípios produtores, obteve-se uma correlação significativa de 0,6281, mostrando que os recursos do
FNO foram aplicados nos municípios produtores próximos ao mercado consumidor. Em 2005, o Banco
da Amazônia financiou projetos em apenas 17 municípios do Estado do Pará, sendo 668 ha em IgarapéMiri, 210 ha em Abaetetuba, 118 ha em Inhangapi e 100 ha em Tomé-Açu.
Estes resultados mostram que 55,57% da área colhida de açaí foram implantadas e/ou manejadas com
capital privado, em grande parte por produtores de fora da região amazônica. Esse movimento induziu a
organização dos produtores extrativistas, com o apoio de ONG, em cooperativas para reivindicar o direito de
uso das áreas de várzea, realizar o manejo coletivo dos açaizais, negociarem a venda do produto e
verticalizar a produção (SANTANA, 2008).
I.3.1.2- O açaí: cultura típica dos pequenos agricultores ribeirinhos
O açaí é tradicionalmente um produto das várzeas ou das ilhas, como é conhecido na Amazônia. A produção
sempre foi de base extrativista. Esta característica se manteve hegemônica até o final do século XX, quando
a produção de açaí oriunda do extrativismo no Estado do Pará representou mais de 95% do total.
Em 2008, estima-se que 86,71% dos 64.786 ha de área plantada no Estado do Pará seja monocultivo e os
restantes 13,29% sejam de combinações diversas. Esta área é distribuída em 2.035 estabelecimentos que
possuem até 50 pés de açaí e 26.496 estabelecimentos com mais de 50 pés (IBGE, 2009), trabalhados por
famílias ribeirinhas e pequenos produtores que têm no açaí a principal atividade provedora de alimentos e
renda.
O manejo praticado pelos extrativistas nas áreas de várzea varia entre rudimentar e técnico/intensivo
(SANTANA, 2011). Foi no inicio dos anos 200 que o manejo começou a se desenvolver nos
açaizeiros de várzea e nas ilhas. No manejo rudimentar, limpam-se as vias de acesso aos açaizeiros e
as plantas daninhas de modo a facilitar a colheita, afetando minimamente a floresta da várzea. O manejo
técnico, realizado com ou sem a orientação técnica, apresenta padrões de intervenção na floresta. A mais
amena mantém uma combinação aleatória de espécies no ecossistema. A mais drástica, além de retirar as
demais espécies para aumentar a penetração da luz, reduzir a competitividade e aumentar a produtividade,
padroniza o número de estirpes nas touceiras, caracterizando práticas de monocultivo.
O manejo praticado na várzea também não obedece às técnicas de seleção de sementes, formação de
mudas, espaçamento adequado, adubação e controle fitossanitário. Novos plantios baseiam-se na coleta de
mudas na floresta e replantio em áreas abertas da várzea, áreas destinadas ao cultivo, ou áreas onde as
estirpes de açaí foram cortadas para a extração de palmito. As mudas são obtidas a partir de sementes
lançadas sob as árvores e nas proximidades das residências. O adensamento do açaizal é obtido por meio
de sementes dispersas nas várzeas e igapós.
A produção oriunda de plantios irrigados em terra firme no Pará, em 2011, é estimada em 7.000 ha
(dados de campo), uma área relativamente pequena em comparação com a área ocupada pelos açaizais
nativos. Em 2006, aquela área era de 2.001 ha, segundo dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2009), e a
área colhida representava de 1.033 ha. A produtividade foi de 4.386 kg/ha, o que indica o início de
produção, uma vez que a produtividade média estimada para esses açaizais irrigados varia entre 8 e 12 t/ha
(EMBRAPA).
O cultivo plantado, vem acompanhado do uso de adubos químicos e agroquímicos. Os dados do IBGE
(2009) registram que 377 estabelecimentos utilizaram adubos químicos em uma área de 1.070 ha, e um
número ainda maior, que chega a 547 estabelecimentos, fez controle de pragas e doenças com pesticidas em
uma área de 1.669 ha, no ano agrícola de 2006. Comparando a área adubada com a área plantada, conclui-se
que uma parcela da área plantada não foi adubada, sugerindo ser área de várzea.
15
I.3.1.3- Caminhando para um sistema duplo
Além da atomização da oferta, convive-se com a sazonalidade anual da produção, que causa grandes
variações de preço, explicado principalmente, pelo caráter sazonal da safra, a ação do clima sobre o nível de
produção e a influencia da demanda do mercado internacional. Além disso, a oferta de fruto é inelástica a
preço, ou seja, grandes variações nos preços produzem baixa alteração nas quantidades ofertadas. A
sazonalidade contribui, pois, para as grandes flutuações na renda dos extrativistas, sendo os menores
rendimentos no primeiro semestre, durante a entressafra.
O interessante é notar que na várzea existem diversas outras palmeiras que produzem frutos utilizados na
dieta alimentar dos ribeirinhos e para o comércio, como a bacaba e o buriti, que o manejo intenso do
açaizal despreza, reduzindo a diversidade natural para usufruir as oportunidades do mercado. Deve-se
ponderar, entretanto, que essas alterações para a exploração do açaí em sistemas agroflorestais ocupam
uma fração marginal das populações nativas de açaí.
A sazonalidade é consequência do modo de produção extrativista, que depende mais intensamente das
condições climáticas e dos ciclos naturais, como o carreamento dos nutrientes transportados pelos rios
(SANTANA; GOMES, 2005) e os ciclos de chuva.
A produção em terra firme é, predominantemente,
monocultivo, o que também reduz a diversificação
da oferta de produtos complementares e/ou
substitutos para abastecer o mercado ou a mesa dos
produtores rurais. Ainda pouco desenvolvida, a
produção intensiva está dando seus primeiros passos
rumo à intensificação das técnicas, para incluir o
emprego da biotecnologia, de fertilizantes e
defensivos químicos e das boas práticas pós-colheita.
Box no 2: Açaí e inclusão social e econômica
Santana et al. (2003) mostraram que a produção
manejada em área de várzea, requer incremento de
mão-de-obra em 46 d/h por hectare, equivalente a
153 empregos diretos por 1000 hectares. Nos cultivos
plantados, dada a impossibilidade de condução
mecanizada de várias etapas da cultura, em cada
1000 ha, necessitam-se da ocupação direta de 273
pessoas. É clara, portanto a capacidade de inclusão
social na produção de açaí para as famílias locais.
O açaí das ilhas (incluindo as ilhotas em frente a Belém e Ilha do Marajó) é considerado um produto orgânico,
por ser totalmente oriundo do extrativismo (fruto coletado diretamente do açaizal nativo), e o de melhor
qualidade organoléptica, segundo os consumidores locais, que o prefere quando comparado ao açaí de terra
firme.
Antigamente o extrativismo de açaí era dominado por pequenos produtores e tinha poucos açaizais
manejados e cultivados. Porém, desde o último senso agropecuário de IBGE em 2006, percebe uma mudança
na produção de açaí de uma atividade extrativista com muitos pequenos produtores para uma atividade que
ainda tem muitos pequenos produtores mas que também tem muitos produtores em grande escala que
trabalham com áreas manejadas (Santana e Costa 2008).
16
I.3.2- Principais gargalos e dificuldades vinculados com a produção de açaí.
PRINCIPAIS GARGALOS OBSERVADOSCOM CULTIVO DO AÇAÍ
⇒ Baixo nível de organização entre produtores: O isolamento das comunidades produtores e
as dificuldades de deslocamento dificultam qualquer atividade de organização ou troca de
informação entre produtores. Por isso, se observa um baixo nível de organização entre os
produtores comparada a outras cadeias produtivas. Isso é um dos fatores que explica que a
maioria dos produtores vende para intermediário, recebe um valor baixo e tem pouco poder
de barganho.
⇒ Sistema de assessoria técnica insuficiente: Segundo dados levantados pelo Banco do Brasil
“há uma dificuldade conjuntural de oferecer o serviço público devido ao seu alto custo de
manutenção, quando comparado à assistência de outras regiões”. As distâncias entre
comunidades produtores e o custo alto de transporte dificultam a assistência técnica aos
agricultores ribeirinhos. Como resultado, a assistência técnica ainda é insuficiente e
geralmente pouco preparada para assumir um conselho e acompanhamento de qualidade para
os produtores.
⇒ Agricultores sem direitos possessórios sobre a terra: a falta de regularização de terras em
algumas comunidades de várzea dificulta a introdução de práticas e técnicas orientadas.
Apesar do Programa Nossa Várzea esteja atuando para inverter a situação, ainda há muito
para fazer neste sentido.
⇒ Para atender o importante crescimento da demanda, a produção vai evoluindo deixando de ser
uma atividade somente baseada em práticas extrativistas. Isso se traduz pelo desenvolvimento
do cultivo fora do seu contexto natural, requerendo uso da irrigação (sem isso a produção cai
de 70 a 80%) e de defensivos e fertilizantes químicos em áreas nas quais esses insumos não
eram utilizados. Essas mudanças podem trazer novos riscos ambientais para essas áreas.
Além de ambiental, os riscos podem também ser relacionados à redefinição da
importância econômica e social dessa produção para os pequenos produtores. Eles não
serão mais os únicos fornecedores desse mercado.
⇒ A colheita e a debulha realizada ao pé dos açaizeiros continua sendo uma fonte de
contaminação. Apesar de vários cursos e cartilhas de informação tenham sido realizados
(pela SAGRI, SEBRAE, SENAI, EMATER, EMBRAPA) e distribuídos, é necessário
continuar a informação e o acompanhamento dos produtores para garantir boas práticas desde
a colheita.
⇒ O aquecimento do mercado e o aumento da demanda tende a influenciar os produtores para
orientar os açaizal num sistema de produção de monocultivo, diminuindo a presença de
outros espécies espontâneas ou cultivadas. A médio e longo prazo essas evoluções podem
ameaçar a sustentabilidade ambiental e econômica.
⇒ Outra fator ligado à introdução dessas novas práticas tem a ver com o perfil dos produtores. A
implantação de cultivo intensivo, requer investimentos iniciais e custos de manutenção e
funcionamento relativamente elevados quando comparados ao perfil econômico dos
pequenos produtores da região.
⇒ Nos municípios distantes do mercado de Belém, a logística de transporte os impede de
participar competitivamente do grande mercado. Em geral, a maior parte da produção se
destina ao consumo das famílias e ao comércio local por meio de atravessadores, nos
17
moldes que sempre ocorreu, com mais de 60% da produção comercializada sendo entregue
para atravessadores.
⇒ Tudo indica que a estrutura produtiva vai se consolidar num sistema com dois grandes tipos:
o cultivo em áreas de várzea e o plantio irrigado de terra firme, caracterizando dois
sistemas bastante diferentes e orientado para o mesmo mercado.
I.3.3- Recomendações operacionais
Em seguido vamos expor algumas recomendações para fortalecer a cadeia produtiva, em nível dos pequenos
produtores mas não só.
SUGESTÕES PARA FORTALECER A PRODUÇÃO DE AÇAÍ
De ponto de vista técnico:
⇒ Fortalecer e atualizar os conhecimentos dos técnicos, das entidades prestadoras de
serviços, com cursos modulares, aliando cursos teóricos, cursos práticos e visitas de campo.
Existe no Estado, entidades (IDEFLOR, SAGRI, EMBRAPA, EMATER, SEBRAE, etc.) que
elaboraram uma metodologia neste sentido e que poderia ser valorizada. Parcerias poderão
ser construídas neste sentido, para manter, atualizar e desenvolver os conhecimentos sobre a
produção de açaí.
⇒ Capacitar os produtores e garantir um dispositivo de assessoria técnica adequado para os
pequenos produtores. Isto é um investimento necessário, de base, para continuar fortalecer de
forma durável da cadeia produtiva. Um dos desafios da capacitação dos produtores, é a
introdução de novas praticas de manejo e colheita do açaí.
⇒ Definir e apoiar a construção de novos sistemas de assessoria técnica: Existe no estado
um potencial repartido entre entidades públicas (EMATER, IDEFLOR, SAGRI, SEBRAE,
projetos do tipo do ParáRural, EMBRAPA, Universidades) não governamentais (ONGs) e
privadas (empresas de beneficiamento e comercialização) a partir das quais seria possível
construir um sistema de assessoria relevante, misto com recursos privados e públicos. O
exemplo da CAMTA que dispões de técnicos que assumem visitas regulares aos produtores,
mostra toda a pertinência que parte da assessoria possa ser assumida por entidades
responsáveis pelo beneficiamento e a comercialização da produção. Existe nestes casos
interesses mútuos tanto para o produtor como para a entidade, de garantir a qualidade da
prestação.
⇒ Intensificar a produção: pelas razões acima mencionadas, o rendimento pode ser melhorado
assim como a qualidade do produto final, com a implementação de um conjunto de práticas
divulgadas nas capacitações e durante a assessoria técnica.
⇒ Desenvolver a prática dos SAF (Sistemas Agro Florestais): Uma grande variedade de
consórcios entre cultivos (cupuaçu, buriti, cacau, seringueira, andiroba, jenipapo, ingá, etc.)
pode ser constituído tendo como produção principal o açaí. Esses sistemas apresentam maior
grau de sustentabilidade agronômica, económica, ambiental e de ponto de vista da segurança
alimentar. Lembrando também que os SAF são bastante virtuosos para a agricultura
sustentável.
⇒ Junto com o cultivo do açaí, a prática da apicultura o meliponicultura é algo
particularmente relevante para produção de mel e/ou pólen de grande qualidade. Ademais a
atividade das abelhas aumenta a produtividade do açaizeiro pelo fato que aumenta a
polinização.
18
⇒ Com os produtores que apresentam perfil e condições suficientes, o desenvolvimento do
cultivo em terra firma tem viabilidade, considerando a queda de produção na entressafra e a
demanda que permanece alta durante este período.
De ponto de vista organizacional:
⇒ Apoiar a organização dos produtores: tendo em vista a dificuldade para os pequenos
produtores de comercializar em boas condições, de forma individual e devido a uma
produção muito atomizada e de pequena escala, organizar os produtores para enfrentar as
complexidades do transporte, e aumentar o poder de barganha será uma etapa fundamental
para o fortalecimento da cadeia na sua integralidade.
De ponto de vista administrativo:
⇒ Dois pontos devem ser trabalhados no intuito de fortalecer a questão da produção: trata-se da
obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e do Cadastro Rural Ambiental (CAR).
Sendo que os pequenos produtores enfrentam grandes dificuldades para cumprir com as
exigências administrativas, um dispositivo de apoio específica para orientar e ajudar esses
produtores é algo imprescindível.
De ponto de vista do financiamento:
⇒ Definir modalidades de financiamento adaptadas à situação dos pequenos produtores e que
consideram as características da fruticultura em geral, ou seja que contempla as necessidades
de investimento inicial e de custeio durante os anos que precedem o pleno ritmo de produção.
Sobre outros aspectos:
⇒ Definir estratégias geográficas para o apoio à produção e aos produtores: i) com uma
estratégia voltada nos municípios localizados numa área que permite comercializar o produto
in natura em Belém; ii) para os municípios muito afastados o que não têm condições de
comercializar o produto in natura para Belém / região metropolitana, a produção deverá ser
considerada com abastecimento do mercado local, e com possibilidade de instalar de
unidades de transformação primária em polpas congeladas para poder ser comercializadas
dessa forma.
⇒ Essas estratégias geográficas devem tomar em consideração as dinâmicas dos Territórios da
Cidadania assim como os Planos de Desenvolvimento Rurais Sustentáveis Territoriais assim
como os Arranjos Produtivos Locais quando houver. O objetivo será de buscar sinergias e
complementaridade com as ações em curso.
⇒ Em cada regiões a instalação de unidade demonstrativas em propriedades de agricultores,
seria uma ferramenta de divulgação de novas práticas, baseado na experimentação conduzido
conjuntamente pelos agricultores e os técnicos. Essas unidades poderão assim ser valorizadas
por intercâmbios entre comunidades.
⇒ Nas diversas perspectivas comerciais, o mercado orgânico é uma delas. Isso necessita a
preservação de técnicas compatível e autorizadas para a atribuição do selo orgânico, visando
assim a comercialização no mercado de nicho.
⇒ De modo geral, o fortalecimento da produção deve permitir a evolução e a preservação
dos sistemas de produção:
19
o
o
Desenvolver técnicas de plantio em áreas novas, inclusive quando viável com uso bem
manejado da irrigação,
Nas ilhas e várzeas, fortalecer e divulgar a partir do sistema tradicional, um sistema de
manejo dos açaizais nativos, que intensificam a produção e melhoram os padrões
sanitários, preservando suas funções ecológicas e social.
I.4- Aspectos vinculados com o processamento
I.4.1- Características gerais
I.4.1.1- Aspectos da colheita e pós-colheita
A colheita dos frutos de várzea é feita escalando-se os estipes para a retirada dos cachos, atividade que, em
geral, é realizada pelos homens, ficando as mulheres e jovens responsáveis pelas atividades de debulha e
beneficiamento do fruto. Tais atividades não são remuneradas.
O cacho é destacado talhando-se sua base com um facão. Em seguida, é trazido para o solo por um homem
que em uma das mãos trás o cacho e, geralmente, carrega o facão entre os dentes. Apesar de perigoso, o
procedimento é rápido, requer muito pouco recurso, e o único acessório necessário, a peconha (espécie de
cinto usado nos pés para possibilitar a subida na estipe), é leve e quase não ocupa espaço. Isso torna o
procedimento bem adaptado às condições de colheita na várzea.
Para reduzir o risco de acidentes, foram propostos novos procedimentos baseados em duas abordagens: i)
aumentar a segurança do trabalhador durante a escalada; ii) tornar desnecessária a escalada. Ambas as
abordagens são factíveis, mas esbarram na falta de capital e treinamento do ribeirinho para adquirir os
acessórios. Ademais, há a resistência natural à adoção de uma nova tecnologia quando não está clara, por
parte do usuário, a necessidade a ser satisfeita. Além dos benefícios à segurança do trabalhador, qualquer
uma das duas abordagens de colheita criaria um mercado de acessórios de tamanho não desprezível.
A adoção de métodos de transporte mais seguros, do ponto de vista do alimento, também aqueceria a
economia. A embalagem padrão dos extrativistas é o paneiro (com capacidade para 14kg de fruto), cesto feito
de palha de arumã (Ischnosiphon spp.) com algumas características muito desejáveis: i) é flexível, leve e
portanto adapta-se bem ao transporte fluvial; ii) é manufaturado com recursos da própria floresta; iii) é de muito
baixo custo; iv) é reutilizável. Entre as desvantagens, pode-se citar: i) não é paletizável, o que transfere o peso
dos paneiros superiores aos de baixo e entra em contato com o piso facilitando a contaminação dos frutos; ii)
sua estrutura fibrosa e entrelaçada facilita o alojamento de microrganismos e pequenos animais; iii) a mesma
estrutura dificulta sua limpeza; iv) o formato e volume do paneiro favorece o aumento de temperatura dos
frutos, o que reduz sua vida útil.
A alternativa de utilizar caixas plásticas, apesar de satisfazer os requisitos de segurança do alimento, esbarra
na rigidez do formato da caixa que não se adapta bem ao formato dos barcos, o que reduz o volume útil de
transporte. Na prática, mesmo se a Vigilância Sanitária proíbe o uso dos paneiros autorizando apenas o uso
das caixas de plástico (também denominadas basquetas), o cesto de palha tradicional continua predominante
porque mais adaptado ao meio de transporte fluvial. As caixas de plástico são cada vez mais utilizadas,
principalmente quanto o transporte é feito por camiões.
20
O transporte do açaí é feito por dois modais: fluvial e terrestre. A partir do local na várzea onde é colhido, o
paneiro com os frutos é transportado em pequenas canoas chamadas de ‘casquinhos’ até o trapiche, onde os
diversos fornecedores abastecem um barco contratado, ou um barco de linha, que transporta a produção
para o local de destino.
Para completar a logística de entrega, os frutos são transportados por via terrestre (cada vez mais com camiões
refrigerados) em uma dessas três embalagens: paneiros, para entrega aos batedores; sacos de 60 kg; ou
basquetas de plástico equivalentes a uma rasa de 14 kg, para entrega a uma das agroindústrias da região.
Chegada do açaí em paneiros (razas)
Mudança para as basquetas e controle de peso
Fonte: BAYLE - 2013
Fonte: BAYLE - 2013
O transporte do fruto do açaí para os mercados de Belém e Macapá requer um grande volume de gelo
que, geralmente, é comprado em locais distantes da região produtora. Conforme Santana (2011), a
quantidade necessária é de 1 kg de gelo para até 3 kg de fruto, e cada tonelada de gelo custa R$ 90,00. Ou
seja, de cada tonelada de frutos, empata-se e m t o r n o d e 20% para cobrir o custo do gelo.
Adicionando-se este valor ao custo com óleo diesel, e considerando a distância do mercado, o custo de
transporte pode ultrapassar 50% do valor da carga.
I.4.1.2- O intermediário na logística de distribuição
Devido à atomização da produção na várzea e à pequena quantidade colhida individualmente, é preciso um
agente para organizar a colheita e viabilizar o transporte, tanto fluvial como rodoviário. Por isso, os
intermediários da comercialização, que agem em função de negócio próprio ou a serviço de atacadistas,
agroindústrias ou cooperativas, são fundamentais para reduzir o custo de transação. Além de dispor de
condições de transporte a disponibilidade de capital de giro é outro fator chave da função e da capacidade de
atuação desses atravessadores e sobre a definição do preço aos produtores, que recebem geralmente a
totalidade do preço no ato da venda1.
As atividades dos intermediários variam de acordo com o mercado para onde se destina o produto. Para o
mercado local, os intermediários são, geralmente, pessoas da própria comunidade, proprietárias de barcos
com capacidade para transportar de 50 a 100 rasas por viagem, e que agenciam a produção dos vizinhos.
Para atender os mercados mais distantes, como o de Belém, o intermediário anuncia aos extrativistas os
locais e data de ajuntamento dos frutos para carregamento do barco. Especialmente nesta situação, os
intermediários informam o preço do produto de acordo com as condições de mercado do fruto. Quando a
produção é destinada às agroindústrias, os dias em que o transporte passa nas comunidades são anunciados
para então recolher o produto nas condições de qualidade e preço combinadas.
1
Não é raro, sobretudo em anos de grande demanda, que parte da venda seja paga diretamente pelos atravessadores
antes da recolta.
21
I.4.1.3- Exigências do mercado para os tipos de açaí
Existem três tipos de açaí processado, que se distinguem pela quantidade de água adicionada e portanto pela
porcentagem de teor de sólidos (UFPA 2013, Banco do Brasil 2008).
•
•
•
Açaí grosso ou especial (tipo A), quando apresenta teor de sólidos totais superior a 14% e com uma
aparência muita densa.
Açaí médio ou regular (tipo B), quando apresenta teor de sólidos totais entre 11% e 14% e com uma
aparência densa.
Açaí fino ou popular (tipo C) é o produto com teor de sólidos totais entre 8% e 11% e uma aparência
pouca densa.
De acordo com os Padrões de Identidade e Qualidade (PIQ) mínima para polpa de açaí estabelecidos pelo
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), as seguintes características físicas, químicas e
organolépticas devem ser respeitadas:
Característica
pH
Mínima
4,00
-
Máxima
6,20
0,27 (fino)
Acidez total expressa em ácido cítrico (g/100g)
0,40 (médio)
Lipídios totais (g/100gramas de matéria seca)
Proteínas (g/100gramas de matéria seca)
Açúcares totais (g/100gramas de matéria seca)
0,45 (grosso)
60,0
40,0
20,0
6,0
-
I.4.1.4- Tecnologias de processamento e atores envolvidos
O principal produto industrial é a polpa de açaí pasteurizada e/ou congelada. Em menor escala
existem os blends (açaí misturado com outros produtos naturais como guaraná, banana, soja, moranga,
etc.), açaí em pó, geléia, licor, vinho, néctar, suco, flaconetes, bombons, sorvetes, café, etc. A polpa
pasteurizada e os blends, agregaram qualidade e utilidades ao produto, voltados para o mercado
externo e para nichos de mercados.
Existem duas tecnologias de processamento do fruto do açaizeiro e similares (bacaba principalmente). Na
primeira, o fruto é atritado contra uma primeira peneira para retirada da polpa, que, por sua vez, passa
por uma segunda peneira, que retém as partículas maiores. Essa tecnologia encontra-se nas unidades
extrativistas com poucos recursos. A segunda tecnologia utilizada é o despolpamento mecânico, em que os
frutos são atritados entre si. É utilizada nas quitandas, supermercados e agroindústrias em duas versões: a de
batelada e a de fluxo contínuo.
Os preços de mercado do açaí popular negociados pelas quitandas atingem patamar muito superior ao do açaí
pasteurizado. Durante a entressafra, os preços do fruto de açaí sobem, o que inviabiliza o processo
industrial de grande parte das agroindústrias. Por isso, mesmo as empresas multiprodutos e de escala
econômica não conseguem continuar com a mesma capacidade de processamento do açaí e diminuem
drasticamente a atividade. Portanto, o fator sazonal é limitante para a competitividade da fruticultura
regional. No período da safra, tais preços são reduzidos para limites inferiores às médias praticadas na
entressafra. Logo, muitas empresas passam a processar o produto, operando, inclusive, na informalidade.
22
No caso dos supermercados, o fruto é batido, a bebida é embalada em saco plástico envasado e
conservada a frio. A tecnologia é a mesma da quitanda, no que tange à máquina despolpadora do açaí,
apenas muda a capacidade de processamento. O envasamento é realizado em máquinas para embalagens
de 500 g e 1,0 kg. O nível sanitário é mais alto do que na maioria das quitandas, no que se refere à água,
manipulação e acondicionamento do produto. Mesmo assim, as práticas de fabricação utilizadas ainda estão
distantes do padrão de qualidade exigido pela Organização Mundial de Saúde.
Nas agroindústrias, por sua vez, o produto é processado por meio de despolpadoras de grande capacidade.
A polpa é pasteurizada (somente por algumas empresas exportadoras), envasada industrialmente e logo
depois congelada. As embalagens mais comuns são de 100 g, 1 kg e tambores de 200 kg. Algumas empresas
já implantaram o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), conforme Santana
et al. (2008).
No caso das quitandas e supermercados, o produto é destinado ao mercado local, uma vez que a capacidade
instalada das batedeiras não permite processar grandes volumes de fruto e armazenar a polpa. Na Figura 2,
apresenta-se o fruto e a polpa do açaí comercializados por quitandas, agroindústrias e supermercados.
A Figura da esquerda, exibe o açaí da Ilha do Marajó, acondicionado em rasas de 14 kg, dentro dos
padrões mínimos de qualidade. Na Figura do meio, o açaí exposto para a venda direta aos consumidores,
sem atender às condições sanitárias. A Figura d a d i r e t a ilustra um tipo de embalagem de 1,0 kg de
açaí especial (14% de matéria seca) congelado e pronto para distribuição no mercado nacional.
Fotos: Santana, 2010.
I.4.1.5- Exigências sanitárias
Por ser um produto da alimentação de base da população do Pará, a questão da higiene do produto é um
ponto fundamental e diretamente vinculado à saúde pública. O Ministério de Estado de Saúde Pública do
Governo do Pará é responsável para definir as exigências sanitárias no processamento de açaí. Todo batedor
de açaí deve seguir essas normas e as boas práticas para evitar a contaminação do açaí por microrganismos
tais como Trypanosoma Cruzi, Salmonella Spp, e Coliformes Fecais. Segundo o manual de boas práticas
para batedores de açaí e bacaba realizado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará, as etapas do
processamento acontecem na ordem seguinte e com as características especificadas: o
o
o
o
o
o
Compra: A compra se realiza em feiras (em Belém se destaca a feira de açaí). Neste momento o
comprador deve observar a qualidade e a procedência da fruta.
Transporte para o batedor: Os veículos devem estar limpos e, caso sejam abertos, deve-se
cobrir os frutos com algum material usado somente para este fim, previamente higienizado.
Armazenamento: O fruto do açaí deve ser guardado em área específica do estabelecimento
sobre estrados ou paletes.
Peneiramento: Essa etapa tem como finalidade a retirada de perigos físicos, como pedaços de
folhas, talos, areia, e de insetos ou partes desses, principalmente o “barbeiro”.
1⁰ lavagem com água corrente potável: essa etapa tem como finalidade retirar as sujidades e
insetos e pode ser realizado nas basquetes.
2⁰ lavagem com uma solução de hipoclorito (150 ppm): Nessa etapa a fruta é imergido na
solução hipoclorito (água sanitária) por 20 minutos e tem como finalidade higienizar o produto.
23
o
o
o
o
3⁰ lavagem, enxágue com água para retirada do resíduo de cloro: Essa lavagem deve ser
feito com água corrente tratada e tem como finalidade a retirada do resíduo de hipoclorito de
sódio.
Branqueamento: Esse processo consista de mergulhar as frutas em água potável aquecida a
uma temperatura de 80⁰C por 10 segundos e tem como finalidade a redução de carga
microbiana, o que é fundamental na eliminação do barbeiro (Trypanosoma cruzi) que causa a
doença de chagas. Depois do branqueamento as frutas devem ser mergulhadas imediatamente em
água potável.
Despolpamento: O despolpamento é realizado por um batedor elétrico em aço inox,
previamente higienizado, e usando água potável e uma solução clorada.
Envase: Finalmente o açaí batido é colocado em sacos plásticos transparentes e novos.
I.4.2- A estrutura empresarial
A estrutura empresarial do arranjo produtivo de polpa de frutas paraense é heterogênea em tamanho
(predomina o número de microempresas), em tecnologia (nem todas as empresas possuem tecnologia de
pasteurização), na diversificação e diferenciação de produto (a maioria das empresas processam apenas
açaí) e no grau de inserção nos mercados local, nacional e internacional. Todas as empresas constroem
vantagens competitivas com base na dotação de fatores básicos como matéria-prima, mão-de-obra local,
condições de clima e infra-estrutura pública disponibilizada. É reduzido o número de empresas que
iniciaram a construção de vantagens competitivas sustentáveis, baseadas na qualificação de mão-de-obra,
qualidade d o p r o c e s s o , i n v e s t i m e n t o s f í s i c o s a d e q u a d o s , e diferenciação dos produtos. O
desempenho competitivo destas empresas é baixo em muitos casos. Parte desses resultados se explicam
pela sazonalidade do produto e a especialização no beneficiamento do açaí como única atividade (muitas
unidades de beneficiamento param a atividade na entressafra). Portanto o nível de capacidade ociosa ao
longo do ano é relativamente elevado.
Em 2000, excetuando-se as quitandas ou batedeiras de açaí espalhadas por toda Região Metropolitana de
Belém (RMB), o número de agroindústrias se restringia a oito empresas, todas voltadas para os
mercados local e nacional. Em 2004, o universo de empresas aumentou para cerca de 40 empresas,
produzindo principalmente para os mercados nacional e internacional. Deste universo, 20 empresas estão
ligadas ao Sindicado da Indústria de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindifrutas). Em 2012 a
quantidade dessas empresas mais que dobrou. Algumas empresas de grande porte ocupem uma parte
importante da produção, em grande parte para exportação, como a SAMBAZOM, BELAIAÇÁ, a CAMTA.
A título de exemplo, a CAMTA, dobrou o volumem de produção de açaí entre 2008 e 2012, passando de
2.300 t para 4.600 t.
24
I.4.3- Principais gargalos nas etapas de processamento
PRINCIPAIS GARGALOS DO BENEFICIAMENTO DO AÇAÍ
⇒ O açaí é altamente perecível e quando menor o prazo entre a safra e a colheita melhor a
qualidade do produto beneficiado. O prazo máximo é de 24h. Isso é um limitante importante
considerando a atomização da produção e a complexidade do transporte no Pará. O transporte
refrigerado permite uma tolerância para transporte mais longo e em todos os casos é um fator
que aumenta a qualidade do produto final para o consumidor.
⇒ Alto custo de transporte e escoamento da produção: As distâncias entre comunidades
produtores e os mercados compradores também tem o efeito de agregar custos ao produto
devido ao frete e ademais compromete a qualidade do produto quando chegar no seu destino.
⇒ A irregularidade do abastecimento em matéria prima é apontado como uma dificuldade
pelas indústrias de beneficiamento.
⇒ o fator sazonal é limitante para a competitividade da fruticultura regional. Capacidade
ausente grande , algumas empresas que somente processam açaí estão obrigadas a fechar na
entressafra.
⇒ Alto custo de infraestruturas e equipamentos para cooperativas de produtores.
⇒ Ainda é importante a proporção de batedores e agroindústrias que não observam todas as
recomendações sanitárias para garantir um produto com a qualidade sanitária exigida.
⇒ Dificuldade de obtenção dos licenciamentos ambientais necessárias vinculados à atividade
de beneficiamento.
25
I.4.4- Recomendações operacionais
SUGESTÕES PARA MELHORAR O BENEFICIAMENTO DO AÇAÍ
⇒ Existe um programa (implementado pela SAGRI em parceria com outras instituições do
estado) de capacitação dos batedores artesanais sobre as boas práticas e para garantir a
aplicação das recomendações sobre a qualidade sanitária. Iniciou na Região Metropolitana
com aproximadamente um terço dos batedores capacitados. A capacitação de todos os
batedores da RMP e do Estado deve ser a meta a alcançar devido ao impacto positivo que
isso representa em termos de saúde pública.
⇒ Implantar pequenas unidades de despolpamento/beneficiamento, após estudos de
viabilidade completas. A implantação dessas unidades deverá ser acompanhada da assessoria
técnica necessária antes, durante e depois das implantação de tais infra estruturas. A questão
da gestão dessas unidades é um ponto fundamental a ser abordado desde os estudos de
viabilidade. A primeira vista, esse tipo de unidade deve ser localizado prioritariamente nas
regiões mais distantes de Belém.
⇒ Em relação direta com o ponto anterior, a questão do transporte da polpa entre as áreas de
beneficiamento e a capital do Estado deverá ser considerada: como garantir um transporte
refrigerado de qualidade (regularidade) e de custo compatível com o mercado? Que tipo de
apoio deverá ser definido e qual será a forma de organização dos pequenos produtores para
garantir os volumes suficientes e regularidade no abastecimento? No caso de construção de
novas unidades de beneficiamento, esses aspectos deverão ser abordados durante o estudo de
viabilidade e as diferentes possibilidades definidas e quantificadas.
⇒ Em função das regiões pode ser relevante avaliar a viabilidade de instalar unidade móveis de
processamento.
⇒ Licenciamento ambiental das unidades de beneficiamento deve ser considerado e apoiado
durante os estudos de factibilidade e viabilidade. Parceria com a SEMA devem permitir o
cumprimento das exigências legais.
⇒ Melhorar os prazos e condições de transporte (com regularidade, cadeia frigorífica garantida)
: para isso será necessário considerar as características do Pará e definir ume estratégia dupla
e complementar, entres o transporte rodoviária e o transporte fluvial. Várias possibilidades
poderiam ser implementadas. Um apoio (com subvenções) a aquisição de meios de transporte
em particular para o transporte fluvial. Uma outra possibilidade seria de atuar para uma
estruturação redes verticais de provedores com alianças estabelecidas entre as principais
empresas ou cooperativas estabelecidas.
⇒ Definir linhas de financiamentos específicas para os principais atores e tipos de
investimento necessários.
I.5- Sobre o acesso ao mercado
I.5.1- Os fluxos e tipos de produtos que estruturam o mercado
O fluxo de comercialização desse mercado é formado por três níveis.
O primeiro nível é definido pelas transações comerciais entre produtores e compradores do fruto no local
de produção. Este mercado opera, predominantemente, em concorrência perfeita. Casos especiais ocorrem
quando a produção é negociada com agroindústrias, em que poucos compradores adquirem grande parte
da produção de dado local, mediante preferências e compromissos para a entrega do produto, atendendo a
critérios mínimos de qualidade. Neste caso, os produtores são tomadores de preços e as agroindústrias agem
26
com poder de definição de preço. Entre 2008 e 2012, o preço pago ao produtor em Tomé Açu, passou de R$
0,75/kg de fruta para R$1,2, ou seja um aumento de 60%. Em 2013 com o nível muito alto da demanda e uma
safra que não se anunciava das melhores em termos de rendimento, parte da produção foi comprada na folha,
ou seja antes de ser colhida.
O segundo nível do mercado é formado por atacadistas que reúnem grande volume de frutos para
negociar com os compradores locais. Neste mercado, um pequeno número de agentes atacadistas define o
preço de revenda do produto para um número grande de compradores: os microempresários que fornecem
polpa para a grande Belém, os chamados “batedores de açaí”.
No terceiro nível, observa-se a comercialização da bebida de açaí e derivados no varejo. Aqui, há um
mercado de quitandas e batedeiras de açaí que opera em concorrência perfeita, distribuído em todos os bairros
dos centros urbanos. Neste nível, são comercializados os demais produtos (blends, mix, polpa, sorvetes etc.)
nos supermercados e locais especiais, que realizam a comercialização com o poder de fixar o preço de venda
para os consumidores. O mercado nacional caracteriza-se pela distribuição da bebida congelada, onde a
maior concentração de consumidores está localizada no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Portanto, o poder econômico entre demandantes e ofertantes define a característica do mercado quanto à
formação do preço, por isso o mercado do fruto apresenta características diferentes de acordo com o
nicho
estudado.
Nas
transações com as microempresas processadoras (‘batedores’) tem-se
características próximas da ‘concorrência perfeita’. Este mercado funciona com base na prevalência das
seguintes características (SANTANA, 2005):
a) Grande número de produtores e consumidores, cada qual transacionando uma pequena
parcela do volume do total de açaí do mercado. Os produtores e consumidores são tomadores de
preços, pois suas decisões individuais não influenciam o preço de equilíbrio do mercado de açaí;
b) O produto é homogêneo na percepção dos compradores de açaí, uma vez que uma rasa
comercializada por um produtor é idêntica às rasas ofertadas pelos demais produtores (são
substitutos perfeitos, portanto, não há preferências específicas por um produto de um dado
fornecedor, em dado local);
c) O fluxo de informações sobre preço, custo de extração e transporte são do conhecimento dos
principais agentes do mercado (empresas, produtores locais intermediários), assim como mobilidade
de fatores (mão de obra) entre os locais produtores de açaí, em resposta a novas oportunidades de
extração ou plantio do produto,
d) Não existem barreiras à entrada e à saída dos agentes do mercado de fruto de açaí a qualquer tempo.
Nas transações com as agroindústrias, supermercados e atacadistas, que apresentam maior poder de
barganha em relação ao produtor extrativista, o mercado durante a safra é oligopsônio, com muitos
fornecedores e poucos compradores.
I.5.2- Comportamento da demanda e da oferta
Como se comportará a oferta do fruto de açaí no longo prazo, levando em conta as condições de crescimento da
produção observadas entre 1995 e 2000? Apresentamos em seguida resultados obtidos a partir de um trabalho
realizado por Santana (2003).
Para este trabalho, determinou-se a oferta de fruto de açaí no longo prazo para estimar-se a elasticidade de
preço e custo, assim como a elasticidade de ajustamento da oferta atual em relação à oferta no longo prazo
(para o ano 2020).
27
A elasticidade-custo, por sua vez, foi da ordem de -0,459, indicando que, para um incremento no valor do
salário rural, a oferta de açaí tende a cair 4,59%, mantendo constante o efeito das demais variáveis.
Finalmente, a elasticidade de ajustamento da oferta a longo prazo foi de 0,477, mostrando que a cada
aumento de 10% na produção contemporânea, diminui-se o desvio em relação ao equilíbrio de longo prazo
em 4,77%.
Os resultados para as elasticidades mostram que a demanda de polpa de açaí das batedeiras é inelástica a
preço (-0,1908), indicando que variações de 10% nos preços levam a uma diminuição na quantidade
demandada de 1,91% em sentido contrário. Com relação à elasticidade-renda (0,16658), o açaí é
enquadrado como um bem de primeira necessidade, pois em resposta a mudanças de 10% na renda, a
demanda tende a aumentar em 1,66%. As elasticidades cruzadas do açaí em relação à farinha (-0,1602) e
ao charque (-0,2036), confirmam uma relação de complementaridade no consumo, pois em resposta a
aumentos de 10% nos preços destes produtos, a demanda de açaí diminui de 1,6% e 2,04%, respectivamente.
Por fim, o consumidor de açaí classificou o suco de fruta como produto substituto, pois, conforme a
elasticidade cruzada (0,1993), quando o preço do suco aumenta em 10%, o consumo de açaí aumenta em
1,99%.
I.5.3- Evolução dos fluxos de venda
Com relação
considerando
conforme os
2006 (IBGE,
a fruta.
à comercialização do fruto de açaí,
as unidades com mais de 50 pés,
registros do Censo Agropecuário de
2009), notam-se diversos destinos para
Observa-se, por exemplo, que 82% da produção que
se destina à venda é entregue a intermediários da
comercialização, o que indica a importância deste
agente para a inserção do produto ao mercado.
Box no 3: Influência do circuito de comercialização
Estudo revela que o açaí produzido na Ilha do Marajó
e consumido no mercado local apresenta uma
margem de comercialização de 60%, de modo que
os extrativistas se apropriam de 40% do preço pago
pelos consumidores (SANTANA, 2011). Esta margem
varia em função da distância do mercado, pois
considerando o Ver-o-Peso como mercado varejista
final, a margem de comercialização atinge 85,71%
(SANTANA; GOMES, 2005), ficando com o
produtor em torno de 14,29%.
Comparando a parcela da produção entregue a intermediários com a registrada no Censo Agropecuário de
1996 (IBGE, 1998), que foi de 65,25%, nota-se que este valor foi 16,75% inferior ao registrado em 2006.
Tal resultado pode estar associado ao aumento da produção de áreas mais distantes e do interesse de
intermediários da comercialização do fruto, diante das oportunidades de venda que se ampliaram com a
implantação de agroindústrias de maior capacidade de processamento devido à demanda crescente.
A venda direta ao consumidor foi de 10,4%, quase o
dobro dos 5,28% registrados no Censo de 1996,
revelando o significativo aumento das vendas
realizadas diretamente pelos produtores.
Box no 4: Importância das agroindústrias
Por tanto, como Carvalho e Santana (2008, p.168)
explicam, é provável que a quantidade atual vendido
para agroindústrias seja maior devido ao fato das
agroindústrias comprarem o açaí diretamente de
organizações de produtores e de intermediários que
recolham o produto nas áreas produtores, mediante
contratos informais.
Também aumentou a participação das vendas diretas
para as agroindústrias, que saltou de 0,34%, em 1996,
para 0,5%, em 2006. Este fato apesar de ainda
representar uma proporção muito limitada, revela que
a produção integrada, mediante contrato formal e/ou verbal, ainda é insignificante.
Três pontos merecem destaque em relação à evolução dos dados entre o Censo Agropecuário de 1996 e
aquele de 2006:
28
Ø o primeiro diz respeito à entrega da produção para cooperativas, que saiu de zero para 1,7%;
Ø o segundo diz respeito à venda para o Governo, em porcentual de 0,5%, em função do Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA);
Ø o terceiro foi o aparecimento de exportação do fruto, com participação de 0,1%. Neste caso, entendese a exportação como o volume de produto que foi destinado aos mercados do Amapá e do
Maranhão, uma vez que ainda não houve exportação do fruto in natura.
Por fim, nota-se que a parcela da produção não vendida, ou consumida na unidade d e produção, que
representou 4,5%, em 2006, foi substancialmente inferior aos 29,13% registrados em 1996. Esta diferença
pode estar relacionada ao fato de que, no Censo Agropecuário de 2006, a produção realizada em
estabelecimentos com até 50 pés de açaizeiro, que representou 3,99% da produção comercializada, era
considerada como consumo no estabelecimento. A diferença ainda persistente deve resultar da expansão da
produção destinada ao mercado, relativamente a uma diminuição do consumo na unidade de produção, em
função da oportunidade de venda do produto como fonte de renda, cuja importância para o orçamento da
família aumentou significativamente neste período.
Segundo Santana e Costa (2008) o mercado de açaí esta passando por uma transição de um produto
tradicionalmente consumido por famílias de baixa renda por um produto de luxo. Um estudo recente feito
por Nogueira et al. (2013) confirma a tendência e os resultados de Santana e Costa, constatando que a
demanda por açaí responde positivamente e, mais do que proporcionalmente, ao aumento na renda do
consumidor, caracterizando-o como bem de luxo. A grande e crescente demanda do produto no mercado
nacional e internacional vem pressionando os preços locais. O açaí continua sendo um produto com demanda
inelástico, ou seja, elevações nos níveis de preços tendem a provocar uma redução menos que proporcional
nas quantidades demandadas. Nogueira et al. (2013, p. 327) confirmam, citando “isso evidência o padrão
cultural do povo Paraense, que possui o hábito de consumir diariamente o vinho de açaí, principalmente as
famílias do interior do estado, que mesmo com preços elevados, insistem em manter o fruto em sua dieta
alimentar”.
Nogueira et al. (2013, p. 329) concluem também que a oferta do açaí é inelástico, “ou seja, a quantidade de
oferta varia menos que proporcionalmente às mudanças no preço, o que também tende a produzir forte
instabilidade de renda dos produtores, diante de aumentos nas quantidades no período da safra”2. Embora
eles constatem que o nível de inelasticidade esta diminuindo ao longo prazo.
I.5.4- Estrutura do mercado de fruto do açaí
O mercado de açaí pode ser classificado em função da sua distribuição espacial: regional, nacional e
internacional.
I.5.4.1- O mercado no Pará
O mercado regional é caracterizado pelo consumo expressivo in natura da bebida. O açaí em função do
hábito alimentar popular, continua sendo o alimento preferido das camadas mais pobres, porém, a
escassez do produto forçou o aumento de preço para níveis que deixou de fora muitos
consumidores.
O consumo médio per capita da população da Região
Metropolitana de Belém (RMB) foi estimado em
63,10 kg/hab na safra e em 22,5 kg/hab na entressafra,
Box no 5: Impacto do mercado sobre a qualidade do
açaí
Para as populações de baixa renda do mercado
paraense, o açaí continua sendo ofertado pelas
quitandas, embora com preços mais elevados e
.
2
inferior O açaí grosso deixou de ser
Essas são características dos produtos com forte sazonalidade e qualidade
alta perecibilidade.
ofertado, o açaí médio apresenta maior teor de água
e o açaí fino tornou-se mais fino ainda, na
avaliação dos consumidores e dos donos de
quitandas.
29
gerando um consumo médio de 42,8 kg/hab/ano, valor superior ao consumo de laticínios (15,3 l/hab/ano),
carne bovina (39,16 kg/hab/ano), cereais (33,9 kg/hab/ano) e de farinha (34 kg/hab/ano).
São comercializados diariamente, somente na RMB, cerca de 470 mil litros de açaí, em mais de 3.000
pontos de venda (batedores3), no período da safra (SAGRI, 2013).
Mesmo assim, durante muito tempo se fez pouco caso da economia do açaí, que pelo vínculo à população
pobre sempre foi uma economia invisível. O consumo não aparecia nas estatísticas oficiais.
I.5.4.2- O mercado nacional
As qualidades intrínsecas do fruto, relacionadas com o suprimento de vitaminas, minerais e, principalmente,
como excelente energético, abriram ótimas alternativas para sua comercialização no país e no exterior.
As camadas de maior poder aquisitivo passaram a consumir o açaí, sobretudo os frequentadores de
academias em todo o Brasil. O açaí deixou de ser um bem de base e alcançou a categoria de bens
superiores ou de luxo para os consumidores de baixa renda e um bem normal para os consumidores de renda
média e alta.
Os consumidores nacionais são atendidos
pelas agroindústrias, que têm capacidade de
atender as especificações dos distribuidores,
normalmente limitadas ao teor de sólidos
totais e às vezes, à pasteurização. Apesar de
não se dispor de um estudo específico sobre o
assunto, as avaliações qualitativas sugerem
que o teor de sólidos totais da bebida
comercializada no território nacional nas
‘tigelas de açaí’ deve ser de açaí popular
(açaí com 9% a 11% de matéria seca).
Box no 6: Açaí e bacaba
A bacaba é o principal substituto do açaí para as camadas
da população de menor renda. A produção da bacaba é
totalmente extrativa e a safra se concentra no período da
entressafra do açaí (de fevereiro a julho aproximadamente).
Por ser um substituto para a polpa de açaí, faz sentido
envidar esforços para identificar as regiões produtoras e
estimular a racionalização mediante manejo destas áreas
com vistas a aumentar a produtividade e a oferta do produto
como forma de proteger o consumidor local no período da
entressafra do açaí.
No mercado nacional, Rio de Janeiro e São Paulo já consomem cerca de 650 toneladas/mês de polpa e mais
de 1.000 toneladas/mês, na forma de mix com guaraná e granola com o total comercializado para outros
estados alcançando cerca de 40 mil toneladas / ano (SAGRI, 2013).
I.5.4.3- O mercado Internacional
Nesses últimos 15 anos, a demanda do açaí no mercado internacional, devido às propriedades energéticas e
nutricionais, assim como sua origem Amazônica, teve o efeito de aumentar tanto a produção e exportação,
quanto o preço. O mercado internacional caracteriza-se pelo maior rigor nos critérios de segurança do
alimento, onde são consideradas as condições sanitárias da agroindústria, a exigência de pasteurização,
além de análises complementares de acordo com as determinações do cliente e as leis no país de destino.
Nesse mercado, a oferta não é coordenada, isto é, as agroindústrias agem desarticuladas, sem cooperação
quanto às decisões de venda, determinação de preço, planejamento da produção e definição de estratégias.
As exportações de frutas e produtos elaborados a partir da polpa e suco do açaí evoluíram firmemente ao
longo da última década. No Brasil como um todo, as exportações cresceram a uma taxa anual de 12,10%
entre 2002 e 2009.
3
No estado do Pará são pouco mais de 4.000 batedores, sendo 75% na capital e região metropolitana (SAGRI, 2013).
30
Em 2010, as vendas para o mercado externo da polpa de açaí atingiram o montante de US$ 18,6 milhões,
correspondendo a 65,5% do total da pauta de exportação de sucos do Estado. Em 2012 foram exportados
mais de 6 mil toneladas de polpa de açaí , correspondendo a mais de US$- 17 milhões . Estimase que em torno 20% da produção é exportada para outros países sendo que 50% é consumido no próprio
estado do Pará e 30% , em outros estados da federação.
Os Estados Unidos são os maiores importadores de açaí e importaram 79% das exportações em 2012 e 77%
em 2011, o que equivale mais de 5.000 toneladas de açaí em cada ano e um valor de mercado de mais de
US$13 milhões em 2012 e mais de US$15 milhões em 2011, respectivamente (Tabela 04). O Japão é em
segundo lugar dos países que mais importaram o açaí do Pará e é o mercado com demanda que mais cresceu
entre 2011 e 2012.
Tabela 04: Exportações mundiais de açaí do Pará em 2012 e 2011
2012
2011
País
Quantidade
(t)
Valor
($US)
EUA
5.131
13.688.366
Japão
614
Coreia do Sul
Países Baixos
Outros países
Total
Quantidade
(t)
Valor
($US)
79
5.311
15.587.249
77
2.422.901
14
455
1.336.050
6,6
67
328.166
1.9
-
-
-
-
-
-
593
1.740.913
8,6
250
858.701
5.1
538
1.578.968
7,8
6.061
17.298.134
100
6.897
20.243.180
100
%
%
Fonte: SAGRI 2012 apud Poll et al.2013
Por exemplo a CAMTA, um dos principais atores para a exportação no mercado japonês, multiplicou por
2,6 seu volumem de polpa exportada, passando de 250 t em 2008 para 650 t em 2012.
Como as exportações físicas cresceram à taxa inferior ao valor das exportações, isso indica que os preços
do produto evoluíram no período. Esse fenômeno ocorre em função das características diferenciadas do
açaí que, embora com baixo valor agregado, se comporta como produto de demanda elástica, em função
de suas propriedades nutricionais e características de alimento funcional. Além disso, a demanda de
empresas com lançamentos de novos produtos de sabor exótico força a tendência de aumento do preço do
produto. A sazonalidade da produção, embora cada vez menos pronunciada pela chegada da produção do açaí
de terra firme, influencia também a evolução dos preços, sendo que a demanda pelo produto no mercado
nacional e internacional é constante ao longo do ano.
A lista das principais empresas e organizações de produtores envolvidas na comercialização do açaí em nível
nacional e internacional encontra-se no anexo 02.
I.5.5- Cenário futuro da produção e consumo de açaí
Além das informações geradas a partir dos modelos das elasticidades de preço e custo da oferta, e das
elasticidades de preço e renda da demanda, assumiu-se que a taxa de evolução da produção de açaí deve se
manter em torno dos 15% ao ano, à curto/médio prazo, em função da expansão dos plantios racionais e do
avanço do manejo dos açaizais das várzeas paraenses. Para isso, os preços devem seguir uma trajetória de
evolução mais suave do que na última década, em torno de 5,63% ao ano. Assume-se também que o curso
das inovações em produtos com a participação do açaí não sofrerá descontinuidade significativa e que
estratégias de políticas públicas serão desenhadas no sentido de assegurar a disponibilidade do produto
para o mercado consumidor local e assegurar a garantia de renda dos extrativistas, com a inclusão do fruto na
política de preços mínimos. Do lado da demanda, a economia deve continuar apresentando uma trajetória
permanente de estabilidade da inflação, com evolução do poder de compra das populações de baixa renda,
31
a taxas em torno dos 5% ao ano.
Com base dados dos censos agropecuários do Estado do Pará de 1996 e 2006, referentes aos anos de 1996 e
2006, e a produção computada pela Secretaria de Estado da Agricultura, estimou-se a parcela da produção
destinada ao autoconsumo realizado nos estabelecimentos (pela família, na propriedade rural). Do restante,
foram consideradas as pesquisas de consumo da polpa no Pará e o volume de polpa exportada. Com base
nestas informações, se nada de excepcional ocorrer, o consumo internacional deve atingir o patamar de
60,26 mil t em 2020. O consumo local deve ficar em torno das 140,78 mil t e, para que não haja aumento de
preço, o consumo nacional deve se estabilizar.
Com a ampliação da produção e da capacidade da indústria da fruticultura, caminha-se para que o mercado
local seja abastecido com o açaí pasteurizado e/ou congelado de origem não orgânica, mudando o hábito de
consumo e diminuindo a qualidade do alimento, por incluir produtos químicos. Isto deve ocorrer em
função das exigências do mercado internacional por produtos orgânicos, o que deve levar a uma
preferência pelo produto oriundo das ilhas, ficando a produção irrigada para o mercado local e nacional.
Com o controle na distribuição do produto pasteurizado realizado por empresas de porte médio e grande,
cujo mercado apresenta características de oligopólio, os preços não devem baixar para atender o consumidor.
Portanto, os ganhos de bem estar social, por essa via, tornam-se de difícil percepção por parte dos
consumidores de baixa renda.
Por fim, é algo incerto, por ausência de dados quantitativos, poder avaliar o impacto que os plantios de açaí
realizados em outros países, poderiam ter sobre o nível de exportação do Brasil.
Apesar do país ter significativas vantagens comparativas em relação as condições edafoclimáticas e a grande
extensão da área de produção a produção de outros países será provavelmente um dado a integrar na
evolução a longo prazo do mercado internacional de açaí.
I.5.7- Principais gargalos
PRINCIPAIS GARGALOS DA COMERCIALISAÇÃO DO AÇAÍ
⇒ O nível de organização dos produtores para chegar ao mercado é muito insipiente. A falta
de organização dos produtores nas comunidades é sistematicamente apontada pelos
compradores outros que os atravessadores, como o principal problema: disso resulta a
dificuldade de respeitar compromissos comerciais em termo de qualidade e quantidade a
fornecer.
⇒ Diretamente vinculado com o ponto precedente, existem poucas organizações de tipo
cooperativas de produtores (em regra geral a mais adaptada). Entre daquelas que existem,
poucas têm condições de funcionar e aportar um serviço ao produtor, por falta de capacidade
de gestão, de conhecimento de base e em muitos casos por falta de capital de giro. Esse
último ponto é determinante para garantir condições de pagamentos dos produtores
semelhantes àquelas praticadas pelos atravessadores. As principais cooperativas no estado
são :
o A Cooperativa Agrícola Mista de Tomé- Açu (CAMTA), que trabalha com seus
sócios e compra frutas num raio de até 150 km.
o A cooperativa e Fruticultores de Abaetetuba (COFRUTA)
o A Cooperativa e Resistência de Cametá (CART)
⇒ Extremamente baixa comercialização nas modalidades do mercado governamental
(PAA, PNAE), por falta de conhecimento dos trâmites e por dificuldade em cumprir os
32
trâmites. Falta também de relações mais organizadas com as prefeituras neste quesito.
⇒ Ausência de uma assessoria técnica com capacidades (conhecimento, tempo, recursos) para
realizar um apoio e acompanhamento das questões especificas à comercialização.
⇒ Os atravessadores, embora ocupam um função importante na cadeia produtiva,
principalmente a partir da colheita, dificultam também a possibilidade de diversificar as
formas de organização dos produtores e de portanto de comercialização. Eles concentram e
fato a compra do produto in natura. A ausência de organização dos agricultores fortalece essa
posição dos atravessadores.
⇒ As unidades de beneficiamento e principalmente aquelas com estatuto de cooperativa sofrem
da falta de planejamento da comercialização (diretamente vinculado ao plano de
trabalho/gestão ou negócio): isso dificulta um planejamento da atividade e uma gestão menos
informal.
I.5.8- Recomendações operacionais
PRINCIPAIS SUGESTÕES PARA MELHORAR A COMERCIALIZAÇÃO
⇒ Apoiar e assessorar os produtores para se organizar e constituir e assumir a gestão de
estruturas jurídicas adaptadas.
⇒ Elaborar estratégia de comercialização que contemplam e fortalecem todas as
oportunidades de mercado: feiras locais, mercado do governo, venda para agroindústrias. Na
elaboração de futuros projetos de apoio, estratégia de comercialização deverão ser definidas
durante a fase de estudos de viabilidade e procurar alianças com os atores locais de
comercialização.
⇒ No caso particular das compras governamentais (PAA, PNAE) estabelecer um dispositivo
de capacitação e acompanhamento para ajudar os produtores para se inserir nesses
mercados especialmente desenhados para eles e com condições favoráveis para eles.
⇒ Quando tiver organizações de produtores minimamente consolidadas, estabelecer parcerias
com agroindústrias, supermercados e outros atores envolvidos na comercialização.
Estabelecer essas parcerias de forma durável, depende em parte, da capacidade dos
produtores para fornecer as quantidades negociadas nas condições definidas. . Em cada região
de produção deverão ser mapeados os atores envolvidos com a compra e beneficiamento do
açaí, no intuito de identificar as possíveis parcerias.
⇒ Estabelecer parcerias entre produtores e batedores.
⇒ Estabelecer parcerias com empresas de beneficiamento que possuam seus próprios cultivos
mas que mesmo assim precisam comprar mais açaí in natura. Acordos podem ser encontrados
com este tipo de ator interessado em trabalhar com outros produtores de proximidade.
⇒ Devido à atomização da produção as organizações de produtores deverão definir sistemas de
permitem assumir o transporte de coleta e entrega.
⇒ Privilegiar e desenvolver relações comerciais de parceria, com empresas que assumem
atividades complementares: capacitações, assessoria técnica, pagamento antecipado.
⇒ Na definição dos programas de capacitação e assessoria técnica, envolver e valorizar as
competências localmente presentes: SAGRI, SEBRAE, associações dos batedores, Sindicado
da Indústria de Frutas e Derivados do Estado do Pará, Prefeituras.
33
I.6- Diversificação e outros produtos oriundos do açaizeiro
Como produtos derivados destacam-se, também, o palmito e, mais recentemente, o caroço do açaí. A
produção de açaí do Pará abastece quase 90% da produção de palmito do País, assim como a demanda do
exterior, onde o produto é conhecido como “heart of the palm”, com grande penetração nos Estados Unidos e
Europa. A exploração do palmito para o qual existe ume demanda importante no mercado nacional e
internacional, é uma atividade complementar à exploração do açaí. Ela é bastante regulamentada pelo
IBAMA e deve portanto ser conduzida dentro do padrão legal, para não prejudicar o equilíbrio ecológico dos
açaizais. A implantação de pequenas unidades de beneficiamento poderiam ser estudadas neste perspectiva
que organizações de produtores possam realizar essa atividade dentro dos padrões legais.
O caroço do açaí já começa, também, a ser processado como alimento funcional para misturar com o trigo na fabricação de pães, pizzas, biscoitos - e o café, assim como na fabricação de medicamentos, rações
e briquetes para cerâmicas e corantes.
I.7- Conclusões sobre a cadeia produtiva do açaí
O açaí não é apenas um produto, mas o produto de maior importância na alimentação das populações de
menor poder aquisitivo do Estado do Pará e na formação da renda de contingente expressivo de
famílias extrativistas, atravessadores e pequenos comerciantes. É uma produção estruturante para o meio
rural paraense e cada vez mais para a economia do Estado.
A evolução dos últimos anos e as projeções para o médio prazo apontam para uma demanda cada vez mais
forte e diversificada. É portanto uma cadeia dinâmica e segura se for considerados a possibilidade de
realizar investimentos públicos e privados.
O estudo da situação atual aponta também para riscos e fragilidades que devem ser resolvidos para garantir
sustentabilidade social, económica e ambiental no desenvolvimento da cadeia.
A capacitação e a organização dos atores e principalmente dos produtores está na raiz de toda melhoria.
Sem investimentos nesses aspectos será difícil manter um desenvolvimento equilibrado .
Esse conjunto de fatores advoga para fortalecer e ampliar a atuação do Estado do Pará, que poderia se
articular em torno de um programa de fortalecimento da cadeia produtiva na sua integralidade.
II- O cupuaçu
O cupuaçu é uma fruta nativa da Amazônia. Tradicionalmente o cupuaçu era somente um produto
alimentício, utilizado como fornecedora de polpa para o preparo caseiro de sucos e sorvetes. Com o mais
recém desenvolvimento do consumo de cosméticos elaborados com produtos da Amazônia, o óleo extraído
da semente do cupuaçu tem valor comercial. Por esses motivos, trataremos nos próximos capítulos da cadeia
do cupuaçu para fins alimentícios e para uso cosmético.
II.1- A produção de cupuaçu
O cupuaçuzeiro no Brasil concentra-se principalmente na região Amazônica, sendo o Estado do Pará o
principal produtor, seguido do Amazonas, Rondônia e Acre. Recentemente foi implantado na faixa litorânea
da Bahia numa pequena escala.
A produção do cupuaçu no Brasil é muito pequena ao nível nacional4. Segundo o Censo agropecuário mais
recente do IBGE (2006), ao nível nacional a maioria dos estabelecimentos que produzem cupuaçu o extrai de
4
Isso explica certamente a escassez de dados e estatísticas desagregadas e específicas ao cupuaçu, que está na sombra
das outras produções.
34
florestas nativas (35%) ou o produz junto com lavouras temporárias (31%) ou permanentes (16%) como
parte duma sistema agroflorestal (ver Tabela 05).
Tabela 05: Produção de cupuaçu no Brasil segundo os grupos de atividade econômicas
Quantidade
Colhida
(t)
Vendida (t)
Valor da
produção
(R$1.000)
1.214
406
324
430
340
Horticultura e floricultura
70
11
9
14
12
Produção de lavouras permanentes
634
577
513
859
735
Sementes, mudas e outras formas de
propagação vegetal
4
1
1
1
1
Pecuária e criação de outros animais
508
145
117
191
143
Produção florestal - florestas
plantadas
42
8
5
12
9
1.365
1.868
1.652
2.461
2.141
Pesca
29
5
4
7
5
Aquicultura
12
4
2
4
2
Grupos da atividade econômica
Estabelecimentos
Produção de lavouras temporárias
Produção florestal - florestas nativas
Valor da
Venda
(R$1.000)
Fonte: IBGE 2006, Censo agropecuário
Tabela 06: Área colhida, quantidade produzido e valor do cupuaçu no Pará entre 2001 e 2011
Ano
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Área Colhida
6.781
7.769
8.895
9.758
11,366
11,460
12,036
12,214
12,431
12,373
12,447
Quantidade (t)
26.089
29.733
30.417
32.504
38,488
39,045
39,907
41,633
41,274
41,142
41,449
Preço (R$/t)
516
503
483
504
428
586
619
616
665
673
917
Valor (mil R$)
13.462
14.956
14.691
16.382
16,468
22,864
24,712
25,627
27,466
27,668
38,027
Fonte: LSPA/IBGE, disponibilizado por SAGRI, 2011
No Pará a mesorregião que mais produz cupuaçu é o Nordeste Paraense (57%), seguido por o Sudeste
Paraense (16%), o Sudoeste Paraense (9%), a Região Metropolitana de Belém (10%), o Baixo Amazonas
(2%) e o Marajó.
Tabela 07: Produção de cupuaçu por regiões
Quantidade produzido Valor da produção (toneladas) (R$ 1.000) Mesorregião 2003 2006 2009 2011 2003 2006 2009 2011 35
Pará 30.417 39.045 41.274 41.449 14.739 22.864 27.466 38.027 Nordeste Paraense 13.562 21.028 21.924 23.633 4.986 11.305 14.666 21.461 Sudeste Paraense 5.621 7.870 8.098 6.679 3.488 5.571 5.957 5.417 Sudoeste Paraense 5.209 3.338 3.604 4.057 3.258 2.077 2.353 3.099 Metropolitana de Belém 3.386 3.706 3.903 4.144 1.411 2.257 2.243 4.176 Baixo Amazonas 2.071 2.007 2.460 2.168 1.427 1.286 1.773 3.460 568 1.096 1.285 768 169 368 473 414 Marajó Fonte: LSPA/IBGE, disponibilizado por SAGRI, 2011
Os dados das tabelas acima trazem várias informações sobre a produção de cupuaçu no Pará entre 2001 e
2011:
- A área colhida dobrou em 10 anos,
- O rendimento médio neste período, permaneceu idêntico, com aproximadamente 3,3 t /ha,
- O preço de 2006 a 2010 aumentou 15%. Entre 2010 e 2011, o aumento foi bem mais significativo,
atingindo 136%, o que se explica principalmente pela aumenta da demanda no mercado,
- Os 2/3 da produção se concentram na região Nordeste do Estado. Isso se explica principalmente,
pelo nível de organização, a presença e acessibilidade de infra estruturas de transporte e de
beneficiamento, e a proximidade com Belém e a região metropolitana. De ponto de vista
agronómico, é nesta região que foram desenvolvidas e implantadas as técnicas de produção mais
intensificadas.
II.1.1- Características gerais da produção
Desde os tempos pré-colombianos, o cupuaçu era cultivado pelas populações indígenas amazônicas.
A cultura começou a ter expressão econômica a partir da década de 1970, em particular quando foi utilizada
para ocupar áreas de pimenteiras-do-reino que estavam sendo dizimadas pela fusariose.
Até essa época a produção de frutos provinha basicamente de pequenos plantios em quintais agroflorestais,
principalmente destinada ao auto consumo. O cultivo do cupuaçuzeiro organizado como cultura comercial é
bastante recente.
Atualmente, a maioria dos casos de pequenos produtores, a exploração ainda ocorre em bases extrativistas5.
Isso significa que não é habitual realizar tratos culturais específicos para o cupuaçuzeiro, que seja em termo
de seleção genética, adubação ou poda. Nas unidades familiares, a produção é associada a outras espécies de
frutos (açaí, cacau, etc.) e/ou de espécies florestais. Não se encontra monocultivo. O material genético é
muito diversificado com espécies locais. Mas apesar dessa diversidade genética apresentar boa adaptação às
condições locais, essas espécies não são resistentes à vassoura-de-bruxa, que é o principal problema da
produção, provocando perdas de frutas (entre 40% e 90%, são comuns) e uma gradual debilitação da planta
que pode conduzir ao seu perecimento.
Um outro fator importante tem estimulado fortemente a valorização, o melhoramento e o desenvolvimento
do cultivo de cupuaçuzeiro. Efetivamente, a produção para fins alimentícios foi o único uso comercial do
cupuaçu, valorizando a polpa da fruta.
Há alguns anos, com o aumento da demanda de cosméticos inovadores, de origem natural e da Amazônia, a
manteiga e o óleo de manteiga de cupuaçu, obtido a partir das sementes, entrou na composição de vários
5
O Censo Agropecuário de 1998 revela que 95% dos 15.207 estabelecimentos produtores, não utilizavam nenhuma
tecnologia específica para os cupuaçuzeiros.
36
tipos de produtos cosméticos. As sementes, antes resíduos da agroindústria do cupuaçu, tornaram-se matéria
prima para extração de óleo abrindo assim um novo canal de valorização e comercialização.
A valorização das sementes para fins cosméticos ainda tem muito pouco expressividade, mas apresenta uma
tendência forte de crescimento da demanda, o que estimula a produção.
II.1.2- Programas e projetos de apoio a produção de cupuaçu
A EMBRAPA Amazônia Oriental, foi quem mais investiu recursos na cadeia produtiva do cupuaçu. Iniciou
nos anos 80 o programa de melhoramento genético do cupuaçuzeiro, que visava o desenvolvimento de
materiais resistentes à vassoura-de-bruxa e com melhor potencial de produtividade. Em 2002, foram
lançadas as primeiras quatro cultivares clonais que aliavam boa produtividade e resistência à doença.
Atualmente são disponíveis 16 variedades. Além desses aspectos, vários trabalhos foram desenvolvidos no
intuito de definir práticas culturais relevantes, como por exemplo a substituição de copa6. Este foi o principal
programa dirigido ao melhoramento da produção de cupuaçu.
O projeto ParáRural (2007-2013) iniciativa do Governo de Estado com empréstimo do Banco Mundial,
apoiou vários Projetos de Investimentos Produtivos orientados para o fortalecimento da fruticultura. Esses
projetos, orientados para pequenos produtores organizados em associação, com parte dos recursos
reembolsáveis e outra como subvenção permitiram a implantação várias de sistemas agroflorestais com
cupuaçu, a construção em equipamento de pequenas unidades de beneficiamento.
II.1.3- Principais gargalos relacionados à produção de cupuaçu
PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS NA PRODUÇÃO DE CUPUAÇU
De ponto de vista técnico:
⇒ Faz parte das espécies nativas que os produtores não costumam “cultivar”, ou seja não se
tem o costume de manejar o cupuaçu. Ele é ainda considerado como um produto do
extrativismo. O manejo, quando praticado, é muito limitado (“atualmente quando o produtor
planta cupuaçuzeiro, ele já faz muito”).
⇒ Irregularidade da produção devido em grande parte aos problemas e abordagem acima
mencionados.
⇒ As espécies atualmente em produção não são resistentes a vassoura-de-bruxa
(Moniliophtora Perniciosa) doença provocada por um fungo que ataca e destrói a fruta : isso
aumenta a irregularidade de produção (até 90% de perda) e consequentemente da renda.
⇒ O potencial para valorizar a semente de cupuaçu não está considerado todavia.
⇒ Produção muito atomizada.
De ponto de vista organizacional:
⇒ Ausência de uma assessoria técnica com proposta e perfil adequado as necessidades dos
pequenos agricultores.
⇒ Ausência de organização entre os produtores que não têm a cultura de trabalhar em
associação ou cooperativa: é um dos principais gargalos para o acesso ao beneficiamento e ao
mercado em geral, tanto para produto in natura, como para produção já beneficiada (polpa
6
Essa técnica permite introduzir novas variedades aproveitando o sistema radicular implantado, o que reduz o prazo de
alcance da plena produção.
37
principalmente).
De ponto de vista do financiamento:
⇒ O preço das mudas das variedades melhoradas custam R$ 3,5 contra R$ 1 para as
variedades tradicionais, o que tem limitado a renovação e a extensão dos pomares com
material resistente.
⇒ O financiamento dos investimentos de implantação e do custeio (sabendo que são
necessários vários anos entre o plantio/renovação de copa e as primeiras colheitas) é um fator
limitante sério para os pequenos produtores. As taxas de inadimplência são altas (em muitos
municípios superiores a 50% e até 60%).
Este conjunto de entraves forma um círculo vicioso : Problemas sanitários, ausência de tratos
culturais, produção muito atomizada
II.1.4- Recomendações operacionais sobre a produção de cupuaçu com pequenos produtores rurais
SUGESTÕES PARA MELHORAR A PRODUÇÃO DO CUPUAÇU
De ponto de vista técnico:
⇒ Fortalecer e atualizar os conhecimentos dos técnicos, das entidades (publicas e privadas)
prestadoras de serviços, com cursos modulares, aliando teoria, prática e visitas de campo.
Existe no Estado, entidades (IDEFLOR, EMBRAPA) que elaboraram uma metodologia neste
sentido e que poderia ser valorizada. Parcerias poderão ser construídas neste sentido.
⇒ Intensificar de forma sustentável a produção: pelas razões acima mencionadas, o
rendimento médio atual é baixo e pode ser melhorado com a implementação de um conjunto
de práticas divulgadas nas capacitações:
o Cultivo consorciado e espaçamentos adequados,
o Sombreamento balanceado,
o Copa com altura controlada e com controle sobre a emissão de galhos,
o Adubação, preferencialmente orgânica, suficiente e controlada,
o Controle sistemático do mato e das pragas,
o Colheitas diárias.
⇒ Trabalhar o melhoramento genético principalmente para enfrentar o risco da vassoura-debruxa. Isso pode se traduzir na implementação de duas estratégias paralelas e
complementares:
o Praticar uma seleção maçal e selecionar os melhores indivíduos nas propriedades
familiares.
o Apoiar (subsidiar) a aquisição de mudas de variedades resistentes a vassoura-debruxa ou a distribuição de sementes (para isso, é preciso definir com a EMBRAPA
como produzir e distribuir essas sementes, porque isso constitua uma dificuldade
atualmente). Inclusive alguns produtores / associações poderiam se especializar na
produção de sementes/mudas das variedades melhoradas, com apoio das entidades
38
especializadas.
o Apoiar (capacitações e assessoria técnica) a implementação progressiva de
substituição de copa. Essa técnica relativamente recém, tem a vantagem de acelerar o
processo de renovação (em 2 anos) que se torna mais rápido que o plantio (4 a 5
anos). Mas é preciso de um pessoal experimentado e, portanto, de um saber fazer
específico, para realizar esta operação.
⇒ O cultivo de cupuaçu pode ser uma porta de entrada para fortalecer e desenvolver a prática
dos Sistemas Agro Florestais (SAF), sendo que o sombreamento do cupuaçuzeiro de
aproximadamente 25% é muito favorável. O bioma Amazônia oferece a possibilidade de
implantar uma grande variedade de consórcios entre cultivos, com maior grau de
sustentabilidade agronômica, económica e ambiental, lembrando que os SAF são bastante
virtuosos para a agricultura sustentável:
o Na fase adulta: com fruteiras ou essências florestais produtoras de frutas e óleos
(açaizeiros, pupunheira, acerola, goiaba, coqueiro, taperebazeiro, cacau, castanheira,
andirobeira, cumaruzeiro, murumurú, ucuúba, etc.) ou madeireiras nobres (mogno,
jatobá, freijó, ingá, paricá, entre outras).
o Na fase inicial, com: bananeiras, mamoeiros, feijão –guandu, maracujazeiro, etc.
⇒ Numa perspectiva de aumento e diversificação das fontes de renda, orientar a produção de
cupuaçu (e portanto a organização dos produtores) como fornecedor de polpa e de sementes
(escolha das variedades, dos canais comerciais, etc.).
De ponto de vista organizacional:
⇒ Capacitar os produtores e garantir um dispositivo de assessoria técnica adequado para os
pequenos produtores. Isto é um investimento necessário, de base, para permitir qualquer
melhoria sustentável e durável da cadeia produtiva na sua integralidade. Um dos desafios
centrais da capacitação dos produtores é a mudança de percepção em relação ao cupuaçu,
para deixar de considerar a forma extrativista como a única forma de conduzir o
cupuaçuzeiro.
⇒ Definir e apoiar a construção de novos sistemas de assessoria técnica: Existe no estado
um potencial repartido entre entidades públicas (EMATER, IDEFLOR, SAGRI, SEBRAE,
projetos do tipo do ParáRural, EMBRAPA, Universidades) não governamentais (ONGs) e
privadas (empresas de beneficiamento e comercialização) a partir das quais seria possível
construir um sistema de assessoria relevante. Os exemplos da CAMTA e da NATURA,
mostram toda a pertinência que parte da assessoria seja também assumida pelas entidades
responsáveis pelo beneficiamento e a comercialização da produção. Existe nestes casos
interesses mútuos tanto para o produtor como para a entidade, de garantir a qualidade da
prestação.
⇒ Apoiar a organização dos produtores: tendo em vista a dificuldade que eles têm para
acessar ao mercado de forma individual e devido a uma produção muito atomizada e de
pequena escala. Organizar os produtores desde a produção, para enfrentar as complexidades
do transporte, e aumentar o poder de barganha será uma etapa fundamental para o
fortalecimento da cadeia na sua integralidade.
De ponto de vista administrativo:
⇒ Dois pontos devem ser abordados no intuito de fortalecer a questão da produção: trata-se da
obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e do Cadastro Rural Ambiental
(CAR). Frente às dificuldades dos pequenos produtores para atender as exigências
39
administrativas, um dispositivo de apoio específica para informar et orientar e ajudar esses
produtores é algo imprescindível.
De ponto de vista do financiamento:
⇒ Definir modalidades de financiamento adaptadas à situação dos pequenos produtores e que
consideram as características da fruticultura em geral, ou seja que contemplam as
necessidades de investimento inicial e de custeio durante os anos que precedem o pleno ritmo
de produção.
Sobre outros aspectos:
⇒ Mesmo se existe atualmente uma concentração da produção na região Nordeste, outras
regiões apresentam também, as condições naturais a partir das quais a produção pode ser
fortalecida. Nesses casos será necessário organizar a questão do beneficiamento e da
comercialização. Definir estratégias geográficas diferenciadas para o apoio à produção: i)
priorizando os municípios nos quais unidades de beneficiamento para polpa estão
implantados (por exemplo naqueles vizinhos a Tomé Açu onde a CAMTA representa a
maior capacidade instalada de processamento, armazenamento e comercialização do estado;
ii) apoiando várias associações de uma mesma micro região, tendo em vista a constituição de
uma massa crítica viabilizando assim a construção de novas unidades de beneficiamento.
⇒ Essas estratégias geográficas devem tomar em consideração as dinâmicas territoriais
existentes: Territórios da Cidadania, Planos de Desenvolvimento Rurais Sustentáveis
Territoriais assim como os Arranjos Produtivos Locais quando houver. O objetivo será de
buscar sinergias e complementaridades.
⇒ Em cada regiões a instalação de unidades demonstrativas em propriedades de agricultores,
seria uma ferramenta de divulgação de novas práticas, baseando-se na experimentação
conduzida conjuntamente pelos agricultores e os técnicos. Essas unidades poderão assim ser
valorizadas por intercâmbios entre comunidades.
⇒ É relevante buscar parcerias com empresas envolvidas no beneficiamento e na
comercialização, como por exemplo a Natura, que tem interesse em assumir ou participar no
monitoramento e acompanhamento de campo, para garantir a qualidade do produto final,
boas práticas e rastreabilidade. Além do garantir um apoio sobre os aspectos técnicos
vinculados com a produção, ela assume um apoio sobre a organização e a gestão das
cooperativas de produtores, buscando um fortalecimento organizacional.
⇒ A integração dos jovens no desenvolvimento de novas técnicas de produção e formas de
organização pode ser um fator estimulador.
⇒ Nas perspectivas comerciais, o mercado orgânico é uma delas. Isso necessita a
implementação de um manejo específico da forma de organização dos produtores para
atender as exigências requisitadas e obter assim os selos específicos.
⇒ As boas perspectivas comerciais tanto para a indústria alimentícia como para a indústria
cosmética trazem uma certa garantia para realizar os investimentos necessários em nível da
produção.
40
II.2- O processamento do cupuaçu
II.2.1- Características gerais
Trataremos neste capítulo de apresentar os processos de beneficiamento para a indústria alimentícia e para a
produção de cosméticos. Em todos os casos, o processo consiste em quebrar a casca rígida da fruta, e depois
proceder à separação da polpa que envolve as sementes. A partir dai começam dois processos distintos.
II.2.2- Beneficiamento para indústria alimentícia
A fabricação de polpa é a mais importante utilização do cupuaçu. Ela necessita de infraestruturas e
equipamentos que permitem realizar o processamento e o armazenamento (polpas congeladas) dentro das
exigências sanitárias.
A colheita dos frutos maduros é quotidiana e ocorre durante 4 ou 5 meses. Mesmo se a casca rígida da fruta
permite uma certa tolerância com as condições de transporte, quando mais curto o prazo entre a colheita e o
beneficiamento melhor a qualidade do produto final. Assim a distancia entre o ponto de produção e a
unidade de beneficiamento é um elemento determinante, como também a concentração de produtores em
torno de cada unidade (por exemplo no caso da CAMTA em Tomé Açu, o raio de coleta é de
aproximativamente 50 km).
A tendência observada nos últimos anos é de aumento altíssimo das quantidades beneficiadas. Por exemplo
entre 2008 e 2012, a quantidade de polpa processada pela CAMTA aumento 276 %, passando de 650 t para
1.800 t, ou seja um aumento médio de 69% por ano.
Veremos no capítulo sobre a comercialização que o destino dessa produção:
Ø continua centrado para abastecer o mercado local, constituído pela industries
agroalimentares e os consumidores,
Ø que a parte exportada fora do estado para outras regiões do pais está aumentando,
Ø que a parte exportada para outros países está aumentando.
II.2.3- Beneficiamento para a produção de óleos
Vale a pena mencionar duas vantagens comparativas no caso da produção de óleo para cosméticos em
relação a produção para polpas: i) é possível armazenar (sem custos elevados) as sementes após uma
secagem realizada ao ar livre e juntar assim a produção até atingir um volume suficiente para realizar o
beneficiamento, ii) o nível de investimento para instalar uma unidade é mais limitado devido ao fato que não
se trata de um alimento e portanto não se aplica a legislação sanitária para produtos alimentícios.
Atualmente a BERACA e a NATURA são as duas principais empresas compradoras de sementes como
matéria prima para indústria cosmética. As duas empresas têm escolhido Belém para implantar suas unidades
de beneficiamento que tratam de toda a produção da região amazônica, o que representa mais uma vantagem
comparativa. Ao contrário das frutas frescas, o transporte das sementes é realizado num raio de coleta
importante.
Essas empresas compram geralmente as sementes, mas existe ume tendência para que o processamento
primeiro ou seja a extração do óleo seja diretamente realizado pelos produtores. A Natura por exemplo
assume a capacitação do pessoal e o acompanhamento da transformação nas comunidades, respeitando
exigências predefinidas sobre as características do produto final. Fora desses dois principais atores, existem
pequenas unidades de beneficiamento, que geralmente vendem a sua produção para essas indústrias maiores.
41
A demanda para este tipo de produto está em plena e forte expansão. Por exemplo a quantidade de manteiga
de cupuaçu processada pela NATURA, passou de 6 t em 2008 para 40 t em 2012, ou seja, conheceu um
aumento de 660 % em 4 anos (ou seja 165%/ ano). No mesmo período, passou a processar 14 t de amêndoas
de murumurú em 2008 e 125 t em 2012, o que representou 890 % de aumento.
II.2.4- Principais gargalos
GARGALOS DO BENEFICIAMENTO DO CUPUAÇU
De ponto de vista da organização e da gestão:
⇒ A produção muito atomizada e a ausência de uma organização de coleta, limita a
possibilidade de negociar volumes para o processamento. O abastecimento regular com
quantidades previsíveis é algo complicado para estruturar e organizar as unidades de
beneficiamento e consequentemente planejar a comercialização.
⇒ Existem poucas unidades de beneficiamento, e as unidades existente são geralmente as
mesmas que processam o açaí (CAMTA, COFRUTA).
⇒ Dificuldades de gestão por falta de conhecimento e experiência das pessoas que são
escolhidas pelas organizações locais (cooperativas) para assumir a gestão de unidades de
beneficiamento.
⇒ Ausência de assessoria técnica específica e orientada para acompanhar o funcionamento e a
gestão de unidades de beneficiamento.
⇒ Produção pouco diversificada e principalmente concentrada na fabricação de polpa
congelada.
De ponto de vista do financiamento:
⇒ Devido as exigências sanitárias e aos processos e equipamentos utilizados (estocagem por
congelamento), o nível de investimento inicial é alto e por isso precisa de fontes e formas de
financiamento adequadas.
⇒ Dificuldade de constituir ou acessar a um capital de giro. Este motivo é frequentemente um
dos limitantes principais, que provoca o baixo funcionamento das unidades de
beneficiamento e até o encerramento de muitas delas.
II.2.5- Recomendações operacionais sobre o beneficiamento
COMO MELHORAR O BENEFICIAMENTO DO CUPUAÇU?
Para fins alimentícias
⇒ Diversificar: atualmente a maioria da produção está destinada para produção de polpa. A
42
demanda do mercado e as técnicas de processamento permitem hoje de abordar o
beneficiamento do cupuaçu tendo em vista uma possível diversificação valorizando as
sementes, para produzir óleos e cupulate.
⇒ Para o mercado alimentício: construção de pequenas unidades de beneficiamento de polpa
dentro do padrão sanitário, tendo em vista a comercialização local para os mercados privados
(minimercados, padarias, restaurantes, etc.) e institucional (PNAE, PAA) até agora ainda
pouco valorizados.
⇒ Nessas unidades, buscar trabalhar um beneficiamento diversificado: além da polpa que
representa o caro chef, investigar possibilidade de transformação em geleias, doces, e
recheios com cupuaçu, e cupulate.
⇒ Parceria/contratos com empresas de grande porte (Lacta, Garoto, empresas de sorvetes) pode
ser uma possibilidade, desde que seja possível atender as exigências e as necessidades dessas.
Para fins cosméticas:
⇒ O entusiasmo pelos óleos vegetais da Amazônia deve ser mais valorizado para os pequenos
produtores.
⇒ É necessário pensar a produção de matéria prima para cosméticos junto com a instalação de
unidades de beneficiamento para produção de alimentos.
⇒ Para o mercado dos cosméticos: ele apresenta vantagens em relação a polpa, na sua
flexibilidade sobre a colheita e no seu armazenamento. As amêndoas secas podem ser
armazenadas durante vários meses. A estratégia poderia seguir duas linhas:
o Construção de pequenas unidades (coletivas ou familiares) para a fermentação, a
secagem e o armazenamento da amêndoa (elas poderiam também servir para o
cacau). Isso para a venda da amêndoa.
o Construção de pequenas unidades de extração de óleo e fabricação de manteiga, o
que permitiria agregar um valor para os produtores. Neste caso é importante
mencionar que essas unidades poderiam também servir para a extração de óleos de
várias outros espécies locais cultivados ou espontâneas (como o murmurú, a
andiroba) .Assim sendo o cupuaçu entraria numa lógica de produção diversificada de
óleos e manteigas (tema a trabalhar também na definição da composição dos SAF
como mencionado anteriormente).
⇒ Na construção de unidades de beneficiamento para polpa, realizar estudos de viabilidade para
definir a pertinência de instalar unidade de fabricação de óleos (áreas de secagem, unidade de
beneficiamento) com sementes de cupuaçu e outras espécies(andiroba, murumurú, etc.).
Existe uma demanda da empresas de comprar já beneficiado em vez de comprar as sementes
(é o caso da Natura que está numa dinâmica de decentralizar esse beneficiamento primário
para que ele seja realizado diretamente pelas cooperativas produtoras). Essa agregação de
valor, além de valorizar o cupuaçu, se traduz pela geração de renda para os produtores e suas
entidades.
⇒ Estabelecer parcerias com as industrias compradoras tipo NATURA, BERACA para que elas
participam na assessoria, nas capacitações e no acompanhamento técnico.
⇒ Estabelecer e fortalecer a relação com as empresas privadas de extração e processamento dos
óleos vegetais, instaladas em Belém.
⇒ Aproveitar e valorizar o fato que as principais impressas de compra de matéria prima para
indústria cosmética estão instaladas em Belém para desenvolver relação com cooperativas de
produtores.
43
De ponto de vista organizacional:
⇒ Realizar estudos de viabilidade e definir as localizações mais pertinente.
⇒ Desses estudos de viabilidade devem ser elaborados planos de gestão ou de negocio, que são
ferramentas necessárias para a gestão no dia a dia.
⇒ A gestão de unidades de beneficiamento por grupos de pequenos produtores deve ser
antecipado, tratado com formações adaptadas, e acompanhada por um dispositivo de
assessoria técnica durante a fase de funcionamento. Um sistema de assessoria técnica deve
ser garantido para acompanhar as equipes encarregadas da gestão.
De ponto de vista do financiamento:
⇒ Definir sistemas de financiamento adaptados
⇒ Definir nos planos de negocio ou de gestão, o acesso ao capital de giro, considerando: i) a
estratégia comercial e as condições de comercialização, ii) as possibilidades do sistema
bancaria.
TEMAS PRIORITÁRIOS
⇒ CAPACITAÇÕES E ASSESSORIA TÉCNICA EM GESTÀO E ELABORAÇÃO DE
ESTRAÉGIAS COMERCIAIS.
⇒ IDENTIFICAÇÃO DAS DIFERENTES POSSIBILIDADES DE MERCADO.
⇒ ACESSO AO CAPITAL DE GIRO.
II.3- O acesso ao mercado do cupuaçu
II.3.1- Características gerais do mercado cupuaçu
Segundo o último censo agropecuário do IBGE (2006), a metade da produção de fruta in natura está vendida
à intermediários, e 30% diretamente à consumidores. A venda para indústria de beneficiamento é o terceiro
destino com 10% do volume total.
Durante muito tempo a totalidade da produção tinha apena uma só saída. Existe atualmente dois mercados
distintos: o alimentício e o recém mercado dos cosméticos.
O preço pago ao produtor em Tomé Açu, no coração da maior região de produção, aumentou 55 % em 4
anos, passando de 60 centavos/kg em 2008 para 90 centavos em 2012.
II.3.2- O mercado alimentício
Em polpa, o produto é principalmente consumido na região amazônica. Isso se explica em grande parte pelo
sabor pronunciado dessa fruta, que restringe por enquanto,
uma penetração mais importante fora da região
Box no 7: Um consumo muito local
Amazônica.
A prova desse consumo muito localizado, foram as
No caso do Pará, 75% da produção está consumido no
tentativas de desenvolver a produção fora da região
próprio estado, geralmente puro. Em torno de 21 % da
Amazônica, no litoral Sul da Bahia por exemplo. A
produção é escoada no mercado nacional, na forma de
ausência de consumo local e portanto de mercado
impediu que as áreas de produção se mantenha. Boa
polpa e em menor proporção adicionado em produtos
parte da colheita foi escoada no Pará.
transformados (sorvetes, doces, recheios, etc.) o que limita
44
a quantidade necessária de cupuaçu.
O mercado internacional representa aproximadamente 4 % da produção Paraense. Os principais países
compradores são o Japão e os Estados Unidos. A demanda está progressivamente se desenvolvendo.
Desde os anos 90, a EMBRAPA elaborou o cupulate, chocolate produzido a partir da amêndoa do cupuaçu.
Ele concorre com o chocolate, conquistando as pessoas que precisam evitar estimulantes sendo que ele não
contem teobromina, substancia presente no chocolate. Contudo, o processo de elaboração continua delicado,
devido a complexidade de extrair a membrana que envolve a amêndoa . Não existe ainda técnicas eficientes
para realizar essa operação, o que dificulta uma produção em grande escala.
II.3.3- O mercado dos cosméticos
O aumento da demanda nacional e internacional por produtos cosméticos originários da Amazônia e da
produção familiar tem sido extremamente forte. Por exemplo a produção da manteiga de cupuaçu da empresa
NATURA passou de 6 toneladas em 2008 para 40 toneladas em 2012. Em quatro anos essa produção foi
multiplicada por 6,5.
Por enquanto o mercado é concentrado em poucas empresas. Duas empresas brasileiras ocupam uma posição
importante no mercado, a NATURA e a BERACA.
O exemplo do cupuaçu abre o caminho sobre uma grande diversidade de plantas amazônicas que produzem
matéria prima para a indústria cosmética: por exemplo a NATURA processo 14 t. de murumurú em 2008 e
125 t em 2012.
Junto ao cupuaçu essa grande diversidade deve ser manejada e valorizada, procurando manter a
sustentabilidade ambiental, desenvolvendo e diversificando as fontes de trabalho e de renda para a população
rural Paraense.
II.3.4- Principais atores e infraestruturas existentes
Os agentes envolvidos na cadeia de comercialização do cupuaçu apresentam as seguintes características:
- Produção: composta por produtores rurais responsáveis pela oferta do produto in natura, que
são provenientes de cultivos e / ou de ocorrência natural. Em alguns casos os produtores
realizam beneficiamento primário (despolpamento dos frutos feito com tesoura) para obtenção de
melhor preço de venda. Essa transformação permite comercializar a polpa a um preço duas vezes
superior ao preço da fruta in natura.
- Varejo r u r a l : são atravessadores que compram o cupuaçu in natura (e a polpa com os
produtores que já realizaram essa etapa). A maioria deles faz o despolpamento e vende para
diferentes agentes. Esses atravessadores trabalham com a compra de vários outras frutas além do
cupuaçu. Eles têm geralmente infraestruturas e equipamentos rudimentares e fora das normas
sanitárias requeridas.
- Indústria de transformação: são pequenas empresas que realizam transformação do cupuaçu
in natura em outros produtos finais como sorvetes, sucos, doces entre outros. A maioria encontrase em Belém em região metropolitana;
- Varejo Urbano: são pequenos comerciantes varejistas (supermercados ou feirantes) que
transacionam o fruto in natura ou na forma de polpa e vendem para o consumidor final
local.
A formação do preço do cupuaçu do produtor local até os consumidores locais passando pelos atores
intermediários locais apresenta grandes variações. O preço de venda praticado pelos varejistas rurais e
varejistas urbanos locais com os consumidores da região estudada atinge o equivalente a 1,84 vezes do
45
preço médio recebido pelos produtores. A indústria de transformação local vende direto para o
consumidor local ao preço 11,33 vezes maior, porque se trata de produtos com alto valor agregado.
Em termo de agregação de valor, o varejo local agrega 50 % de valor ao produto comprado aos produtores,
enquanto a indústria de transformação local aporte 87% de valor agregado.
II.3.5- Principais gargalos
PRINCIPAIS GARGALOS DO ACESSO AO MERCADO PARA OS PEQUENOS
PRODUTORES
⇒ Como constatado para as etapas anteriores da cadeia, a falta de organização dos produtores
é um dos principais problema: cada um efetua suas vendas de forma isolada. Isso fragiliza o
poder de barganha e limita o pequeno produtor a vender localmente.
⇒ Em geral, o pequeno produtor escoa a totalidade da sua produção por meio dos
atravessadores, que pagam a integralidade do valor na hora da compra e se encarregam do
transporte.
⇒ Na situação atual, o atravessador se torna de fato, o único ator capaz de assumir a
articulação entre o mercado e o produtor.
⇒ A irregularidade da produção e sua atomização são elementos que fragilizam o poder de
negociação dos produtores e isso constitua também uma trava do lado dos compradores das
indústrias de beneficiamento: eles dificilmente conseguem volumes regulares e dentro do
padrão de qualidade exigida,
⇒ O cupuaçu não é objeto de marketing específico, tem uma falta de divulgação dos produtos
e dos seus diferentes usos e por tanto isso não estimula o consumo.
II.3.6- Recomendações operacionais para melhorar a comercialização em nível dos pequenos produtores.
COMO ABORDAR AS DIFICULDADES DO ACESSO AO MERCADO?
⇒ Informar e capacitar os produtores sobre as formas de organização (principalmente em
cooperativa) possíveis e que podem ser ferramentas de fortalecimento para acessar o mercado
em melhores condições. Realizar um acompanhamento, um assessoria técnica na constituição
e para o funcionamento dessas entidades.
⇒ Capacitar as equipes técnicas para que elas possam realizar uma assessoria adequada sobre
o acesso ao mercado e as formas de organização. Isso inclui capacitações e assessoria sobre
as exigências e os trâmites administrativos para que os produtores possam acessar os
mercados públicos, entre outros.
⇒ Definir estratégias de comercialização desde a etapa da organização de produção e sobre
tudo de beneficiamento. EM cada projeto de apoio para a cadeia do cupuaçu será necessário
realizar os estudos de viabilidades que incluirão essas questão da definição de estratégia de
comercialização. A partir dai, elaborar planos de comercialização, utilizados para guiar os
46
⇒
⇒
⇒
⇒
⇒
produtores para negociar e se organizar da melhor forma possível
Buscar construir essas estratégias diversificadas, valorizando os diferentes canais de
comercialização:
o Com o mercado local (fruto in natura, polpas) diretamente para consumidores, nas
feiras locais, e/ou para as agro indústrias,
o Com as diversas modalidades das compras públicas específicas para a agricultura
familiar, tais como o PAA, PNAE.
Aproximar os produtores dos consumidores, ou seja reduzir a importância dos
intermediários quando isso é possível e assumir certas funções quando a viabilidade
financeira está garantida. A proposta não é de eliminar as funções de certos atores, mas sim
diversificar os canais comerciais. Essa possibilidade pode ser alcançada com a construção de
pequenas unidades de beneficiamento de frutas produzidas localmente, em polpas, tendo em
visto o mercado local privado e/ou institucional, bastante interessado em polpas de frutas.
Considerar que a inserção no mercado é um processo progressivo, principalmente para
organizações de produtores insipientes e com fragilidade na produção.
Procurar negociar termos de compromissos com empresas que pagam um adiantamento
(que pode chegar a 30% do valor definido) na assinatura.
Privilegiar e desenvolver relações comerciais com empresas que assumem atividades
complementares: capacitações, assessoria técnica, pagamento antecipado.
No caso do mercado de óleos para indústria cosmética:
⇒ Na busca de parceria, privilegiar instituições ou empresas que praticam a repartição de
benefícios (como o pratica a Natura por exemplo) com base os princípios da Convenção de
Diversidade Biológica. A devolução de uma parte dos benefícios para as comunidades
produtoras, representa uma fonte de financiamento e atua em favor de relações de parcerias
sustentáveis.
⇒ Vale a pena lembrar que o cupuaçu pode entrar como um dos produtos carro-chefe numa
estratégia para produzir óleo vegetais de várias espécies7 (murumuru, andiroba, etc.).
Lembrando que a melhoria da comercialização está estreitamente ligada à melhoria no
segmento produtivo e na organização dos produtores. Essas são condições imprescindíveis para
poder construir novas relações com compradores, relações de parcerias e que remuneram
melhor o trabalho dos pequenos produtores rurais.
II.4- Conclusões sobre a cadeia do cupuaçu.
Como melhorar as condições de vida dos pequenos produtores paraenses com o cupuaçu? Vamos lembrar
aqui os principais pontos mencionados nas páginas acima.
A análise da cadeia do cupuaçu mostrou o dinamismo e o crescimento importante nesses últimos 10 anos. As
previsões e os sinais atuais indicam que a demanda em cupuaçu vai continuar aumentando tanto de ponto de
vista quantitativo como qualitativo.
7
A empresa NATURA trabalha com 19 tipos de matérias primas oriundas da Amazônia.
47
Outro fator de peso nas perspectivas de desenvolvimento da cadeia é o crescente consumo de produtos
cosméticos tendo como componente o cupuaçu. Isso abriu novos horizontes. Isso permite pensar o cultivo do
cupuaçu tendo em vista esses dois mercados.
O cupuaçu, tipicamente da Amazônia, bastante adaptado as condições edafoclimáticas, é também
característico dos pequenos produtores. Esses últimos anos, os avanços da EMBRAPA Amazônia Oriental
foram importante na evolução de material vegetal, tendo em vista concepção de espécies mais resistente à
vassora-de-bruxa, principal ameaça da produção.
Os primeiros melhoramentos devem se concentrar no fortalecimento do cultivo, que sofre atualmente de um
manejo muito rudimentar, que limita qualquer possibilidade de poder oferecer um produto de qualidade, com
a regularidade e os volumes necessários para valorizar o produto.
Uma característica importante do cultivo é que ele é bastante adaptado para entrar na composição de uma
grande diversidade de sistemas agroflorestais (incluindo com o açaí), o que permite uma diversificação das
atividades e fontes de renda, além de garantir melhor sustentabilidade agronômica e ambiental.
O fator limitante o mais importante, é a falta de um dispositivo de assessoria técnica que possa acompanhar
todas as etapas, desde a produção e até a comercialização. Não se trata aqui de realizar apenas capacitações,
mas também e sobre tudo, pode estar presente ao lado dos produtores nas diferentes fases. Essa assessoria é
algo imprescindível, considerando a o perfil dos pequenos produtores e o nível de necessidades que eles
apresentam. Essa assessoria se justifica também pela pouca estruturação da cadeia do cupuaçu, que demanda
uma atenção reforçada.
É necessário que a formação, o apoio e o acompanhamento dos produtores incorpora questões técnicas
diretamente vinculadas ao cultivo, questões sobre a organização dos produtores em associação ou
cooperativa, aspectos vinculados com a gestão técnica, administrativa e financeira de unidade de
beneficiamento. Por fim, as formações e o acompanhamento dos produtores deve evidentemente abordar
temas relativos à comercialização.
No que diz respeito o beneficiamento do cupuaçu, é relevante desenvolver e fortalecer uma estratégia de
duas mãos. Por um lado, poder multiplicar unidades de beneficiamento, administradas por cooperativas de
produtores, dentro dos padrões sanitários exigidos, para realizar um primeiro processamento e agregar valor,
lembrando que essas unidades podem beneficiar além do cupuaçu, uma grande variedade. Por outro lado e de
forma complementar às unidades de beneficiamento da polpa, com a instalação de unidade de processamento
das sementes para produção de óleos para indústria cosmética.
A questão do acesso ao mercado é outro gargalo que apresenta possibilidades de evolução para melhorar a
valorização do trabalho dos produtores rurais, em particular aqueles em situação de maior fragilidade. Isso
depende de melhorias no cultivo, nas formas de organização e assessoria técnica principalmente. Deve-se
considerar todas as formas de comercialização e a partir dai construir estratégias que diversificam os canais
de venda, as oportunidades e os riscos. Existem possibilidades pouco valorizadas, com as feiras locais, as
modalidades do mercado governamental e as agroindústrias locais, para as quais os produtores precisam de
apoio. O objetivo para essas diversas possibilidades, é de assessorar também os produtores para reunir as
condições e construir parcerias entre organizações de produtores e agroindústrias, e os atores envolvidos no
beneficiamento e a comercialização em geral.
Portanto o cupuaçu representa uma entrada para trabalhar a questão da fruticultura, e abarcar assim muitas
outras espécies de frutas com o intuito de produzir polpas e óleos vegetais. É uma produção típica da
agricultura familiar do Pará, que constitua uma alavanca para o desenvolvimento econômico, social e
ambiental do Estado, integrando as competências e os recursos disponível nos atores públicos e privados que
atuam no Pará. Neste sentido, definir um programa de fortalecimento e desenvolvimento da cadeia na sua
integralidade seria relevante.
48
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21/11
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do Pará. Belém, PA: Programa Estadual de Qualidade do Açaí.
49
Anexos
50
Anexo 01
Produção de cupuaçu por microrregião e municípios
Mesorregião
Quantidade produzido
(toneladas)
Microrregião
Município
2003
2006
2009
Valor da produção
(R$ 1000)
2011
2003
2006
2009
2011
Pará
30 417 39 045 41 274 41 449 14 738 940 22 863 789 27 466 150 38 027 081
Nordeste Paraense
13562
21028
21924
Cametá
23633
4985850
11304680
14666360
21461035
824
1272
1935
3089
436000
1107250
1701760
3013000
Abaetetuba
255
425
612
1 393
127 500
233 750
612 000
1 393 000
Igarapé-Mirí
140
300
476
760
70 000
150 000
242 760
684 000
Oeiras do Pará
264
282
282
470
132 000
141 000
282 000
470 000
Cametá
160
200
200
200
104 000
400 000
200 000
200 000
Mocajuba
0
0
300
200
0
0
300 000
200 000
Baião
Limoeiro de
Ajurú
0
60
60
60
0
180 000
60 000
60 000
Guamá
São Domingos
do Capim
Irituia
São Miguel do
Guamá
Nova Esperança
do Piriá
Capitão Poço
Cachoeira do
Piriá
5
5
5
6
2 500
2 500
5 000
6 000
97
146
184
303
54100
75800
147280
729 872
16
16
42
90
12 800
9 600
29 400
279 900
48
48
60
75
24 000
21 600
60 000
210 000
29
48
48
68
14 500
24 000
33 600
188 972
0
30
30
30
0
18 000
21 000
21 000
0
0
0
30
0
0
0
21 000
4
4
4
2 600
3 280
9 000
10
2 800
12 261 19 200 19 212 19 500
4 209 300
9 686 280 12 395 520 16 260 000
Tomé-Açu
6 000 10 800 10 800 11 880
1 800 000
6 480 000
8 100 000 10 692 000
Acará
3 408
3 408
3 420
3 600
1 022 400
1 022 400
1 710 000
2 160 000
Moju
Concórdia do
Pará
Tailândia
2 025
3 726
3 726
2 400
1 012 500
1 863 000
1 937 520
2 400 000
576
1 116
1 116
1 440
172 800
200 880
558 000
864 000
252
150
150
180
201 600
120 000
90 000
144 000
167
305
315
310
109 100
280 000
215 000
784 173
0
62
62
85
0
62 000
31 000
248 200
8
5
15
64
4 000
15 000
12 000
180 480
0
20
20
45
0
30 000
20 000
132 615
62
12
12
36
62 000
36 000
6 000
107 352
Tomé açu
Salgado (6)
São Caetano de
Odivelas
Terra Alta
Colares
São João da
Ponta
Vigia
20
50
50
56
16 000
50 000
50 000
56 000
Maracanã
20
20
20
15
10 000
19 000
20 000
34 200
Marapanim
57
120
120
9
17 100
60 000
60 000
25 326
Curuçá
Bragantina
Augusto Corrêa
Igarapé-Açu
Primavera
Santa Maria do
Pará
São Francisco
do Pará
0
16
16
0
0
8 000
16 000
0
213
105
278
431
177350
155350
206800
673990
1
0
0
0
750
0
0
0
40
40
40
64
20 000
120 000
40 000
179 200
0
13
13
13
0
7 150
7 800
9 750
150
30
60
66
150 000
15 000
60 000
145 200
22
22
165
288
6 600
13 200
99 000
339 840
51
Sudeste Paraense
Tucuruí
5621
7870
8098
6679
3487690
5571469
5957340
5417046
1578
2410
2845
2386
1117000
2141836
2505470
2612600
Breu Branco
198
858
858
910
99 000
894 036
858 000
1 365 000
Itupiranga
510
240
540
132
255 000
168 000
378 000
79 200
0
0
25
25
0
0
17 500
15 000
Nova Ipixuna
290
387
497
414
145 000
154 800
347 900
248 400
Novo
Repartimento
Tucuruí
280
455
455
455
168 000
455 000
434 070
455 000
300
470
470
450
450 000
470 000
470 000
450 000
337
675
360
0
225790
452250
108000
0
Jacundá
Conceição do
Araguaia
Conceição do
Araguaia
Marabá
Brejo Grande do
Araguaia
Marabá
Palestina do
Pará
São Domingos
do Araguaia
São João do
Araguaia
Paragominas
337
675
360
0
225 790
452 250
108 000
0
1572
1916
1733
1721
816600
782480
1059500
1132600
120
24
21
21
84 000
19 200
14 700
16 800
312
384
432
396
156 000
26 880
302 400
277 200
66
44
44
44
39 600
30 800
30 800
28 600
774
864
936
720
387 000
345 600
561 600
432 000
300
600
300
540
150 000
360 000
150 000
378 000
581
1117
849
362
463400
992280
689970
264466
Abel Figueiredo
Bom Jesus do
Tocantins
Goianésia do
Pará
0
204
60
33
0
204 000
60 000
38 940
136
340
195
70
115 600
306 000
85 020
40 880
135
162
189
224
81 000
97 200
132 300
163 296
Paragominas
180
216
225
35
136 800
190 080
236 250
21 350
Rondon do Pará
130
195
180
0
130 000
195 000
176 400
0
1200
1347
1335
1200
694400
982500
1063500
825500
0
0
0
32
0
0
0
12 800
100
92
80
21
60 000
46 000
48 000
21 000
192
57 600
240 000
144 000
115 200
Parauapebas
Água Azul do
Norte
Canaã dos
Carajás
Curionópolis
Eldorado dos
Carajás
72
240
240
200
140
140
80
80 000
84 000
84 000
64 000
Parauapebas
828
875
875
875
496 800
612 500
787 500
612 500
105
144
123
140
52500
97200
114000
91880
0
0
0
22
0
0
0
22 880
105
126
105
100
52 500
88 200
105 000
60 000
0
18
18
18
0
9 000
9 000
9 000
248
261
853
870
118000
122923
416900
490000
12
12
48
64
0
3 600
14 400
32 000
0
0
110
110
0
0
55 000
110 000
36
31
22
22
18 000
10 323
11 000
11 000
140
158
632
632
70 000
79 000
316 000
316 000
Redenção
Pau D'Arco
São Geraldo do
Araguaia
Xinguara
São Felix do
Xingu
Bannach
Cumaru do
Norte
Ourilândia do
Norte
São Félix do
Xingu
60
60
41
42
30 000
30 000
20 500
21 000
Sudoeste Paraense
Tucumã
5209
3338
3604
4057
3257500
2077000
2353250
3098600
Altamira
3680
2248
2534
3194
2481100
1461000
1609550
2277900
52
Altamira
Anapu
Brasil Novo
615
328
656
760
615 000
196 800
393 600
608 000
83
180
605
629
66 400
180 000
302 500
503 200
572
412
35
36
457 600
288 400
17 500
25 200
Medicilândia
1 584
637
457
881
792 000
382 200
342 750
440 500
Pacajá
Senador José
Porfírio
42
84
84
244
29 400
67 200
67 200
195 200
279
147
147
100
279 000
102 900
73 500
100 000
451
406
496
500
225 500
203 000
372 000
375 000
54
54
54
44
16 200
40 500
40 500
30 800
Uruará
Vitória do
Xingu
Itaituba
1529
1090
1070
863
776400
616000
743700
820700
Aveiro
194
194
108
81
97 000
97 000
54 000
40 500
Itaituba
38
38
47
24
15 200
17 100
23 500
12 000
Jacareacanga
34
52
68
39
20 400
36 400
47 600
27 300
Novo Progresso
15
15
30
31
7 500
15 000
30 000
46 500
Rurópolis
Trairão
Metropolitana de Belém
Belém
Barcarena
Belém
Castanhal
Bujaru
Castanhal
Santa Isabel do
Pará
Santo Antônio
do Tauá
Baixo Amazonas
Óbidos (9)
246
246
246
208
135 300
123 500
246 000
416 000
1 002
545
571
480
501 000
327 000
342 600
278 400
3386
3706
3903
4144
1411300
2256900
2243100
4175800
695
834
1056
994
347500
500400
633600
994000
695
834
1 056
973
347 500
500 400
633 600
973 000
0
0
0
21
0
0
0
21 000
2691
2872
2847
3150
1063800
1756500
1609500
3181800
1 944
2 100
2 100
2 100
583 200
378 000
1 050 000
1 260 000
357
357
357
480
285 600
1 071 000
357 000
1 358 400
315
315
315
450
157 500
157 500
157 500
225 000
75
100
75
120
37 500
150 000
45 000
338 400
2071
2007
2460
2168
1427400
1285690
1772850
3460300
71500
110700
170800
168000
151
177
180
177
Faro
8
16
22
22
4 000
10 400
24 200
22 000
Juruti
27
17
24
29
13 500
11 900
28 800
34 800
Óbidos
70
70
70
72
35 000
42 000
70 000
72 000
Oriximiná
34
34
34
40
17 000
20 400
23 800
28 000
Terra Santa
12
40
30
14
2 000
26 000
24 000
11 200
Almerim
135
148
184
159
73800
91840
184000
238500
Porto de Moz
72
72
100
99
36 000
43 200
100 000
148 500
Almeirim
63
76
84
60
37 800
48 640
84 000
90 000
Santarém
1785
1682
2096
1832
1282100
1083150
1418050
3053800
Alenquer
73
58
58
89
43 800
40 600
29 000
133 500
Belterra
560
560
600
920
280 000
336 000
360 000
1 840 000
Curuá
18
0
0
0
5 400
0
0
0
Monte Alegre
250
160
160
160
200 000
80 000
80 000
480 000
Placas
137
137
137
63
342 500
75 350
75 350
37 800
Prainha
123
143
151
150
98 400
114 400
151 000
225 000
Santarém
624
624
990
450
312 000
436 800
722 700
337 500
568
1096
1285
768
169200
368050
473250
414300
0
0
144
120
0
0
72000
72000
0
0
144
120
0
0
72000
72000
375
625
655
344
111000
202500
217500
190400
300
300
300
240
90 000
105 000
105 000
96 000
75
325
325
80
21 000
97 500
97 500
80 000
Marajó
Arari
Muaná
Furos de Breves
Breves
Curralinho
53
São Sebastião de
Boa Vista
Portel
Bagre
0
0
30
24
0
0
15 000
14 400
193
471
486
304
58200
165550
183750
151900
105
130
130
54
29 400
39 000
39 000
18 900
Gurupá
13
16
31
30
7 800
12 800
31 000
45 000
Melgaço
75
125
125
60
21 000
43 750
43 750
24 000
0
200
200
160
0
70 000
70 000
64 000
Portel
Fonte: IBGE, 2012.
54
Anexo 02
Principais organizações na cadeia produtiva do Açaí
1.
Cooperativo Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA): A cooperativa foi fundada por Japoneses e
se tornou cooperativo em 1969. Atualmente é o empreendimento cooperativo mais bem sucedido da
Amazônia (Tafner Jr. e DA Silva). Em 2009 contou com 122 agricultores associadas. A fábrica de
produção de sucos, no qual representa 70% do movimento da cooperativa, funcione 24 horas na linha de
produção de polpa de açaí, cacau e cupuaçu e em 2010 atingiu vendas de 3,5 mil toneladas e um
faturamento bruto de R$34.051.328,11 (Tafner Jr. e DA Silva). Os produtos da CAMTA são exportados
para os Estados Unidos, o Japão e a Itália, além de 9 estados Brasileiras incluindo:
i. Pará: Tomé-Açu, Santarém, Marabá, Belém
ii. Maranhão: São luis, Santa Inés, Açaílândia
iii. Rio Grande do Norte: Natal
iv. Tocantins: Araguina, Palmas
v. Goiás: Anápolis, Goiânia, Rio Verde
vi. Distrito Federal: Brasília
vii. Minas Gerais: Presidente Olegário, Belo Horizonte
viii. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro
ix. São Paulo: São Paulo
FASE - Consórcio de associações e cooperativas de produtores, sem fins lucrativos, com foco na
organização e no desenvolvimento local. Em 2000, foi estruturada entre os municípios de Abaetetuba,
Barcarena, Cametá e Igarapé-Miri (Pagliarussi 2010). Entre os membros incluí:
2. Cooperativo de Fruticultores de Abaetetuba (COFRUTA): Teve 131 sócios em 2010 e trabalha
com a venda de polpa de frutas para o mercado regional. As famílias membros da COFRUTA
praticam o replantio de frutíferas e recuperação de áreas degradadas onde o extrativismo é praticado.
A cooperativa administra uma unidade industrial de processamento de frutas com capacidade
instalada de 800kg por dia. Desde 2010, a cooperativa vem ganhando mercado na comercialização
de polpa congelada (principalmente o açaí), principalmente para os estados de São Paulo e Rio de
Janeiro (http://www.agroecologiaemrede.org.br/experiencias.php?experiencia=905).
Endereço: Passagem Coração de Jesus, n°152, Algodual CEP: 68440-000 Abaetetuba, Pará.
Telefone (91) 3751-4955 / 3751-1181
3.
4.
Associação de Batedores de Açaí de Barcarena (COOPBAB):
Cooperativa e Resistência de Cametá (CART):
5.
Associação Mutirão dos Trabalhadores Rurais de Igarapé-Miri:
6.
Instituto açaí: Surgiu em 1999, é uma ONG que foca no desenvolvimento socioeconômico e
educacional das comunidades produtores de açaí. Desenvolve projetos nas cadeias produtivas da
fruticultura, em especial do açaí, da mandiocultura e dos resíduos sólidos (lixo) sob a luz do
cooperativismo (http://institutoacai.blogspot.com.br/p/conheca-o-instituto-acai.html).
7. O Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (SINDIFRUTAS):
Atualmente SINDIFRUTAS conta com 24 empresas associadas, todas localizadas nas regiões Nordeste
Paraense e Metropolitana de Belém (www.amazonflavoursbrazil.com). Segue as informações de contato:
Presidente: Solange Motta
55
Trav. Quintino Bocaiúva, 1588, Bloco B, 6º andar - Nazaré
66.035-190 | Belém-Pa
Fone: (91) 3212-2619
e-mail: [email protected] (Informações tirados daqui http://www.fiepa.org.br/pt/sistemafiepa/sindicatos-filiados.html)
Principais empresas na cadeia produtiva do Açaí
1. SAMBAZON: SAMBAZON é uma empresa batedora de açaí, localizado no Amapá, e é focada na
exportação para os Estados Unidos. Segundo o site oficial da empresa, o açaí deles é fornecido por 10 mil
pequenos produtores rurais.
2. Amazonfrut: A empresa é uma das mais antigas e existe desde 1983. Amazonfrut é uma agroindústria
localizada na ilha de Murucutú em Belém. Nesta ilha, a empresa tem uma plantação de açaí e uma fábrica
de beneficiamento. O açaí e extraído na ilha, batido, e preparado para exportação. As principais mercados
são os Estados Unidos, o Japão e a Europa.
3. Bony Açaí: Indústria. Atenda principalmente o mercado nacional, mas também exporta para os Estados
Unidos. Vende derivados do açaí com a marca Bony açaí.
4. Açaí Frooty: Açaí Frooty é uma agroindústria direcionada tanto para os mercados nacionais quanto para
os mercados internacionais. É o líder de mercado na produção, transformação e venda do açaí. A empresa
tem fábricas no Pará e em São Paulo. Em Belém a fruta é beneficiada in natura e em São Paulo é
realizado a empacotagem e a criação de derivados de açaí (sorvetes etc.). A empresa tem 15 mil pontos de
venda no Brasil. Em 2014 terminaram a construção de um galpão com capacidade de armazenamento de
80 toneladas de açaí por mês. Os países que exportam são:
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
h.
i.
j.
China
Uruguai
Austrália (onde é chamada de Amazon Power)
Estados Unidos
França
Singapura
Inglaterra
Suíça
Isreael
Rússia
5. Globalfruit Amazônia (membro do grupo Globalbev): Distribuidor e fornecedor, focada na
produção de açaí e derivados, tais como sucos de açaí e mixes. Localizado em Marituba, Belém.
6. Amaçaí (Brasphil Alimentos compl. Exp. E imp.): Empresa de beneficiamento e exportador de
açaí. A empresa tem sede em São Paulo, mas conta com fornecedores de Belém. Exporta para os
Emirados Árabes Unidos.
7. Raja Frutas (Amazonfrutas Polpas de frutas da Amazônia Ltda.): Agroindústria. Trabalha com
a produção e comercialização de polpas de frutas, principalmente o açaí e cupuaçu. A matriz e
fábrica estão localizadas em Santa Bárbara, Pará (planta de produção). Em Santana do Amapá tem
uma planta de produção em menor escala que produz 25 toneladas por dia (para atender o mercado
na baixa estação no Pará).
8. Bela Iaçá: Produz açaí e cupuaçu.
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