PROGRAMA DE REDUÇÃO DA POBREZA E GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS DO PARÁ Acordo de empréstimo 7414 BR EMMANUEL ERIC MARIE BAYLE ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DO AÇAÍ E CUPUAÇU Termo de Referência 005/2013 Relatório Final Belém – Pará 2015 1 Agradecimentos A realização deste trabalho, foi possível graça à participação de muitas pessoas, que mostraram grande disponibilidade. Para todas elas, aqui vão meus sinceros agradecimentos, por ter compartilhado conhecimentos e reflexões sobre o tema do presente estudo. 2 SUMÁRIO Introdução ................................................................................................................................................... 4 I-‐ O açaí ........................................................................................................................................................ 4 I.1-‐ Panorama geral da produção de açaí ...................................................................................................... 5 I.1.1-‐ No mundo ....................................................................................................................................................................... 5 I.1.2-‐ No Brasil ......................................................................................................................................................................... 5 I.1.3-‐ No Pará ............................................................................................................................................................................ 7 I.2-‐ Principais programas implementados ................................................................................................ 10 I.2.1-‐ Programa Nossa Várzea ........................................................................................................................................ 10 I.2.2-‐ Programa Estadual de Qualidade do Açaí (PEQA) .................................................................................. 11 I.2.3-‐ Plano Nacional da Sociobiodiversidade ......................................................................................................... 12 I.2.4-‐ Regulamentação sobre a produção artesanal do açaí .............................................................................. 12 I.2.5-‐ Outras iniciativas públicas ................................................................................................................................... 13 I.2.6-‐ O Projeto ParáRural ................................................................................................................................................ 13 I.3-‐ Aspectos vinculados com a produção de açaí ................................................................................... 13 I.3.1-‐ Características gerais da produção .................................................................................................................. 13 I.3.1.1-‐ Breve histórico ..................................................................................................................................................................... 13 I.3.1.2-‐ O açaí: cultura típica dos pequenos agricultores ribeirinhos .......................................................................... 14 I.3.1.3-‐ Caminhando para um sistema duplo ......................................................................................................................... 15 I.3.2-‐ Principais gargalos e dificuldades vinculados com a produção de açaí. .......................................... 16 I.3.3-‐ Recomendações operacionais ............................................................................................................................ 17 I.4-‐ Aspectos vinculados com o processamento ....................................................................................... 19 I.4.1-‐ Características gerais ............................................................................................................................................. 19 I.4.1.1-‐ Aspectos da colheita e pós-‐colheita ........................................................................................................................................ 19 I.4.1.2-‐ O intermediário na logística de distribuição .......................................................................................................... 20 I.4.1.3-‐ Exigências do mercado para os tipos de açaí ......................................................................................................... 21 I.4.1.4-‐ Tecnologias de processamento e atores envolvidos ........................................................................................... 21 I.4.1.5-‐ Exigências sanitárias ......................................................................................................................................................... 22 I.4.2-‐ A estrutura empresarial ........................................................................................................................................ 23 I.4.3-‐ Principais gargalos nas etapas de processamento .................................................................................... 24 I.4.4-‐ Recomendações operacionais ............................................................................................................................ 25 I.5-‐ Sobre o acesso ao mercado ...................................................................................................................... 25 I.5.1-‐ Os fluxos e tipos de produtos que estruturam o mercado ..................................................................... 25 I.5.2-‐ Comportamento da demanda e da oferta ...................................................................................................... 26 I.5.3-‐ Evolução dos fluxos de venda ............................................................................................................................. 27 I.5.4-‐ Estrutura do mercado de fruto do açaí ..................................................................................................................... 28 I.5.4.1-‐ O mercado no Pará ............................................................................................................................................................. 28 I.5.4.2-‐ O mercado nacional ........................................................................................................................................................... 29 I.5.4.3-‐ O mercado Internacional ................................................................................................................................................. 29 I.5.5-‐ Cenário futuro da produção e consumo de açaí .......................................................................................... 30 I.5.7-‐ Principais gargalos .................................................................................................................................................. 31 I.5.8-‐ Recomendações operacionais ............................................................................................................................ 32 I.6-‐ Diversificação e outros produtos oriundos do açaizeiro .............................................................. 33 I.7-‐ Conclusões sobre a cadeia produtiva do açaí .................................................................................... 33 II-‐ O cupuaçu ............................................................................................................................................. 33 II.1-‐ A produção de cupuaçu ........................................................................................................................... 33 II.1.1-‐ Características gerais da produção ................................................................................................................ 35 II.1.2-‐ Programas e projetos de apoio a produção de cupuaçu ....................................................................... 36 II.1.3-‐ Principais gargalos relacionados à produção de cupuaçu ................................................................... 36 II.1.4-‐ Recomendações operacionais sobre a produção de cupuaçu com pequenos produtores rurais ......................................................................................................................................................................................... 37 II.2-‐ O processamento do cupuaçu ............................................................................................................... 40 3 II.2.1-‐ Características gerais ........................................................................................................................................... 40 II.2.2-‐ Beneficiamento para indústria alimentícia ................................................................................................. 40 II.2.3-‐ Beneficiamento para a produção de óleos ................................................................................................. 40 II.2.4-‐ Principais gargalos ................................................................................................................................................ 41 II.2.5-‐ Recomendações operacionais sobre o beneficiamento ......................................................................... 41 II.3-‐ O acesso ao mercado do cupuaçu ........................................................................................................ 43 II.3.1-‐ Características gerais do mercado cupuaçu ............................................................................................... 43 II.3.2-‐ O mercado alimentício ......................................................................................................................................... 43 II.3.3-‐ O mercado dos cosméticos ................................................................................................................................. 44 II.3.4-‐ Principais atores e infraestruturas existentes ........................................................................................... 44 II.3.5-‐ Principais gargalos ................................................................................................................................................ 45 II.3.6-‐ Recomendações operacionais para melhorar a comercialização em nível dos pequenos produtores. ............................................................................................................................................................................. 45 II.4-‐ Conclusões sobre a cadeia do cupuaçu. ............................................................................................. 46 Referências Bibliográficas ................................................................................................................... 48 Anexos ......................................................................................................................................................... 49 4 Introdução A fruticultura no Estado do Pará é uma atividade de grande importância para a alimentação da população, o emprego e a atividade econômica que ela representa. No contexto da agricultura familiar ela tem uma função estruturante e encontra-se na maioria dos sistemas de produção. A demanda por frutos originários do bioma Amazônia está em pleno crescimento e o setor da fruticultura na sua globalidade ganha peso na economia do estado. As tendências e previsões apontam para que essa dinâmica continua à médio e longo prazo. Neste contexto, entre 2007 e 2013, o Projeto Pará Rural que apoiou, várias projetos de investimentos produtivos orientados para a fruticultura, identificou a necessidade e a relevância de realizar um trabalho mais aprofundado sobre algumas frutas, no intuito de poder orientar futuras intervenções e investimentos em prol da fruticultura, desenvolvida no âmbito de pequenos produtores. Para isso, foram identificadas duas cadeias produtivas prioritárias, por serem amplamente difundidas no Estado, trata-se do açaí e do cupuaçu. Sendo que as cadeias produtivas desses dois cultivos são bastante diferentes, elas fora tratadas separadamente para maior clareza. Cada vez que possível e relevante, a associação dos dois foi estudado e mencionado, isso diante da realidade do campo, na qual em muitos casos, os dois cultivos são conduzidos juntos. Para cada cadeia estudada, a abordagem se organizou em torno de 3 etapas: o nível do cultivo, da produção, em segundo lugar todas as questões vinculadas com o beneficiamento e o processamento das frutas e finalmente todos os pontos relativos ao acesso ao mercado. Para cada etapa, são apresentadas as principais características da evolução e da situação atual, em seguida são listadas as principais dificuldades o gargalos, e finalmente um último capítulo sugere as principais recomendações. I- O açaí O açaí é uma fruta pequena de cor roxa escura que cresce na palmeira conhecido informalmente como açaizeiro (Euterpe Oleracea). É nativa das áreas de várzea da Amazônia Brasileira. A fruta é conhecida por suas propriedades nutricionais, seu alto teor de antocianinas e por ser antioxidante, além do seu alto valor calórico com elevado percentual de lipídeos (gorduras), minerais (potássio, cálcio, magnésio, cobre, manganês), vitaminas (E e B1) e fibras (Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará). A fruta é tradicionalmente recolhida e diretamente consumida pelas populações ribeirinhas, das quais ela faz parte da dieta, além de contribuir com a geração de Box no 1: o açaí , base da alimentação emprego e renda. Mais recentemente, a fruta tem ganhado popularidade no Brasil todo e no mundo Nos municípios produtores, o açaí continua sendo a base alimentar das camadas pobres da população, devido às propriedades energéticas e nutricionais, juntamente com farinha e peixe. Essa combinação, o que vem contribuindo à demanda crescente. A segundo Santana et al. (1997) e Bentes (2003) fruta é consumida na forma de polpa, que é proporciona contingente de calorias e proteínas superiores aos níveis recomendados pela Organização conhecido localmente como “vinho de açaí”. Mundial de Saúde (OMS). 5 I.1- Panorama geral da produção de açaí I.1.1- No mundo Por ser nativo do bioma Amazônico, o açaizeiro se encontra, com expressividade muito variável, nos países que abriguem este bioma: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guianas. O Brasil é que detém a maior área produtiva. Embora a oferta do açaí no mercado mundial ainda origina do Brasil, hoje é possível observar a árvore sendo plantada em outras partes do mundo. Ainda não tem estatísticas sobre esses plantios, mas companhias como Açaí Palm Seeds (www.AçaíPalmSeeds.com - 2013) estão vendendo o BRS-Pará (uma variedade desenvolvida pela EMBRAPA) para a América do Norte (Florida), a Europa, a África, a Ásia e a Austrália desde 2007 principalmente para plantar em hortas e para fins comerciais. I.1.2- No Brasil No Brasil, a palmeira está principalmente distribuída em: - 6 estados da região Norte: Pará, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Acre e Amapá. 2 estados no Nordeste: naturalmente no Maranhão e mais recentemente alguns plantios foram desenvolvidos na Bahia. Até o final dos anos 90, a produção e consumo da fruta eram limitados principalmente ao Brasil e mais especificadamente à região Norte. Devido à sua imagem exótica e natural de fruta de origem amazônica e suas qualidades nutricionais, o consumo foi se expandindo progressivamente nas demais regiões do Brasil e em outros países, essencialmente nos Estados Unidos. Desde então vem ganhando popularidade cada vez mais forte no Brasil e no mundo em geral. Isso teve um impacto estimulador forte sobre a produção. Em 2010, foram extraídas 124.421 toneladas de açaí no Brasil, o equivalente a um valor de mercado de R$ 179.378 (IBGE 2010). Desta quantidade, 113.331 toneladas, ou seja, 91,09 % da produção total, veio do norte do país. A demais produção, 11.090 toneladas referente a 8,91 % da produção nacional, veio dos estados da Bahia e Maranhão. Em destaque é o estado do Pará que, sozinho, produziu 85,64 % da produção nacional (Tabela 1), se colocando assim como maior produtor nacional e até mundial. 6 Tabela 01: Quantidade e valor de açaí extraído no Brasil em 2010, por regiões estados produtores. Grande Região Unidade Federal Valor (1,000 R$) % produção nacional 113.331 169,139 91,09 106.562 161.826 85,64 Amazonas 3,256 4.298 2.62 Acre 1.674 924 1,35 Amapá 1.427 1.477 1,15 Rondônia 408 608 0,33 Tocantins 3 5 0,002 11.090 10.240 8,91 10.930 9.999 8,78 160 240 0,13 124.421 179,378 100 Norte Pará Nordeste Maranhão Bahia Total Brasil Quantidade (t) Fonte: IBGE Produção da extração vegetal e da silvicultura – 2010. Figura 01: Produção de açaí entre 1990 e 2010, por estados produtores Fonte: IBGE 2011 Em anos recentes, a popularidade da fruta e as perspectivas de mercado, tem aumentado o investimento no plantio além do Pará, em outras regiões do Brasil, especialmente nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, 7 Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo e Mato Gros do Sul com grandes plantios de açaizeiro nos Estados de Rondônia e Acre (UFPA 2013). Nos próximos anos a produção dessas novas regiões vai chegar no mercado. I.1.3- No Pará A grande quantidade de extração de açaí no norte do país e em particular no estado do Pará, se explica em parte por fatores geográficos, isto é, as áreas de extensas várzeas que favorecem a alimentação de açaizeiros (Euterpe oleracea), e em parte pela demanda regional deste alimento que historicamente é essencial na dieta da população local. Estima-se que o açaí é responsável pela geração de emprego para 25 mil pessoas, de forma direta e indireta no estado do Pará (Lopes & Santana 2005, apud Nogueira et al. 2013). No Pará, o nordeste Paraense é a região que mais produz açaí (plantados e espontâneos), seguido por Marajó, a região metropolitana de Belém, o Baixo Amazonas, o Sudoeste e o Sudeste do Pará (Tabela 2 e Tabela 3). A maioria da produção da região metropolitana de Belém vem de áreas cultivadas ou plantadas. Na mesorregião do Nordeste Paraense, se destaca a microrregião de Cametá que, em 2011, produziu 43.048 toneladas de açaí, ou seja, 39% da produção do estado todo. O município que mais produz açaí é Limoeiro de Ajurú . Tabela 02: Evolução da extração de açaí e valor da produção no estado do Pará em 2000, 2005, 2010 e 2011, por mesorregião Mesorregião Nordeste Paraense Marajó Metropolitana de Belém Baixo Amazonas Sudoeste Paraense Sudeste Paraense Total Pará Fonte, SAGRI (2011) Quantidade (toneladas) 2000 2005 produzida 2010 2011 Valor da (R$ 1000) 2000 2005 2010 produção 79.583 50.557 56.320 57.373 44.488 47.352 98.228 99.606 27.053 30.722 39.970 39.432 9750 20.976 50.567 66.515 5.129 7.235 7.636 9.588 1.705 5.511 9.752 12.745 508 2.403 1.224 1.456 180 1.301 1.617 2.228 363 581 550 589 111 410 494 593 48 597 867 910 34 485 1.172 1480 112.684 92.095 106.567 109.348 56.268 76.035 161.830 183.167 2011 8 Tabela 03: Produção de açaí no Pará em áreas plantadas, por mesorregião. Mesorregião Nordeste Paraense Metro. de Belém Marajó Sudeste Paraense Baixo Amazonas Sudoeste Paraense Pará Área plantada (hectares) 2005 2011 Área colhida (hectares) 2005 2011 Quantidade produzida (tonelada) 2005 2011 Valor da Produção (R$1.000) 2005 2011 27.744 61.087 27.744 61.087 333.427 540.927 306.243.460 845.613.828 3.370 9.705 3.370 9.705 42.804 111.340 33.298.520 157.816.480 2.496 5.690 2.496 5.690 34.044 55.100 32.043.700 68.600.960 308 2.655 308 2.655 3.080 27.990 3.087.000 41.821.200 200 625 200 625 1.520 5.126 1.376.000 7.596.320 85 330 85 330 1.046 2.001 947.040 2.053.350 34,203 80,092 34,203 80,092 415,921 742,484 376,995,720 1,123,502,138 Fonte: Tabela adaptada de dados fornecidos por LSP/IBGE e sistematizados e divulgados por SAGRI 2011 Localização das regiões produtores no Estado do Pará 9 Fonte: LSPA, PEVS, IBGE – 2013 Fonte: LSPA, PEVS, IBGE – 2013 10 As diferenças observadas sobre os dados para um mesmo período, as estatísticas durante este estudo chamaram a atenção sobre as estatísticas e suas fontes, principalmente quando se tratava de dados do IBGE e da SAGRI. Ao questionar sobre essas diferenças tivemos alguns elementos de esclarecimento. Um deles, é que a produção das áreas plantadas não está considerada pelo censo do IBGE que considera apenas nas estatísticas o açaí do extrativismo. Por esses motivos foram privilegiados, os dados compilados e adaptados pela SAGRI, que abrangem a totalidade da produção oriundo do extrativismo e de áreas plantadas, foram avaliados mais próximos da realidade do contexto e da sua evolução. Mesmo assim, se ao se considerar os rendimentos médios por hectare, podemos achar que a produção do extrativismo parece subavaliada e a produção do açaí plantado manifesta uma tendência optimista nos rendimentos. Essas considerações explicam também as diferenças com valores da produção do Pará quando comparada com outros estados (principalmente na figura 01 e na tabela 01, página 6). A grande quantidade de produção no Nordeste Paraense e a região metropolitana de Belém relativa aos outras regiões, se explica diante de uma série de fatores como apontam Santana e Carvalho (2008, p. 187): - A estruturação da cadeia produtiva ou rede de empresas, mediante a integração vertical, via aprofundamento das relações das empresas com fornecedores, clientes e instituições, - A existência e atuação de instituições públicas e privadas, embora de forma tímida, universidades, órgãos de pesquisa, assistência técnica, instituição financeira, secretarias de governo e ONG, - As organizações socioeconômicas e culturais, formadas e atuando localmente, criando capacidade para trocar informações e mover ações coletivas na direção do modelo de industrialização apropriado (sindicatos de empresas, sindicado de trabalhadores, cooperativa e associações de produtores, câmara de gestão do APL de fruticultura); - A disponibilidade de capital humano, envolvendo o conhecimento tácito e habilidades específicas de trabalhadores e a capacidade empresarial dos atores vinculados ao arranjo; - O estoque disponível de ciência e tecnologia (C & T) para vários níveis da atividade, faltando viabilizar a difusão e implantação da tecnologia apropriada (envolvendo novos sistemas de produção, novos produtos, novas técnicas de produção e de gestão); - A infraestrutura produtiva e comercial em operação (base industrial, energia, comunicação e transporte), faltando otimizar aspectos de logística. A partir das tabelas 02 e 03 (páginas 7 e 8), também é possível observar a quantidade de açaí produzido e o valor nas últimas décadas. Em 2011 a produção total de açaí (áreas manejadas e áreas não manejadas) no estado do Pará era 851.832 toneladas, o que representa uma aumenta de 168% na produção quando comparado a 2005. Porém, no mesmo período o valor total da produção passou de 377.071.755 mil reais para 1.123.685.305, ou seja um aumenta de 298%. Isso se deve ao crescente demanda pelo qual a oferta ainda não conseguiu alcançar (UFPA 2013) que tem o efeito de aumentar o valor da fruta. Observe-se também que o crescimento na produção de açaí é quase inteiramente devido ao aumento de áreas plantadas. I.2- Principais programas implementados No Pará, várias iniciativas e programas revelam os esforços e a mobilização do Governo do Estado confirmar o interesse do estado para fortalecer e desenvolver a cadeia produtiva do açaí, tantos para seus benefícios econômicos, sociais como ambientais. I.2.1- Programa Nossa Várzea O Estado do Pará possui área equivalente a 16% do território nacional. Cerca de metade desse percentual recebe a influência de marés – são, portanto, áreas do patrimônio da União, totalizando 8,5 milhões de hectares de áreas de várzeas e ilhas (RESCHKE, A. et al, 2010), dentre elas o Arquipélago do Marajó. 11 Para fazer frente a esta realidade, foi criado o Programa de Regularização Fundiária de Áreas de Várzeas Rurais (conforme Portaria nº 284, de 14 de outubro de 2005 - DOU de 17/10/2005) . O programa tem a coordenação da Secretaria de Patrimônio da União – SPU, por meio da Gerência da Secretaria do Patrimônio da União do Estado do Pará (GRPU/PA). Ao entregar o Termo de Utilização de Uso às famílias de comunidades ribeirinhas, a União reconhece o direito à ocupação e possibilita a exploração sustentável das áreas de várzeas. Além disso, o instrumento representa para a família beneficiada um comprovante oficial de residência e uma garantia de acesso à aposentadoria, a recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) e a outros programas sociais do Governo Federal (RESCHKE, A. et al, 2010). O Programa tem vários parceiros, operando em suas respectivas áreas de competência, tal como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra (apoio técnico e logístico), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama (fornece banco de dados para armazenamento das informações coletadas e autoriza a exploração sustentável da área de várzea), o Sistema de Proteção da Amazônia – Sipam (imagens de satélite atualizadas para identificação de áreas de várzeas), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (fornece as cartas-imagens dos municípios alcançados pelo Programa), a Secretaria Estadual do Meio Ambiente – Sema (concede as licenças ambientais, após a legalização das áreas de várzeas pela GRPU/PA), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater (veículos para locomoção fluvial e apoio técnico), Prefeituras Municipais (apoio logístico e estrutural às atividades de cadastramento) e a Associação Comunitária dos Ribeirinhos Agroextrativistas (apoio na execução das atividades em campo). I.2.2- Programa Estadual de Qualidade do Açaí (PEQA) Foi criado no ano de 2011 pelo Governo do Estado o Programa Estadual de Qualidade do Açaí (PEQA), objeto do Decreto Estadual nº 2.475/2010, que é coordenado pela Secretaria de Estado de Agricultura – SAGRI. As ações de Vigilância Sanitária são coordenadas pela Secretaria Estadual de Saúde PúblicaSESPA; ao todo são envolvidas 12 instituições, de natureza pública e privada, tem por objetivo a introdução de boas práticas em toda a extensão da cadeia produtiva (produção agrícola, transporte, comercialização, fabricação artesanal e industrial), de modo a garantir padrão de qualidade do produto. Sob essa ótica, são múltiplas e diversificadas as ações envolvidas, assim como as parcerias institucionais estabelecidas, dada a dimensão e importância econômica da cadeia do açaí, que mobiliza mais de 300 mil pessoas, em 54 municípios, representando somente a produção do fruto cerca de 70% da fonte de renda da população ribeirinha. Várias ações vem sendo executadas visando a implementação dos objetivos do programa, dentre elas: -‐ -‐ -‐ -‐ -‐ Cursos de Capacitação de Batedores artesanais de açaí, Distribuição de "kits açaí" composto de itens de higienização da manipulação do fruto, Definição das etapas do processamento do açaí, Desenvolvimento do equipamento que elimina as impurezas antes do processamento do fruto, Articulação com agentes financeiros para criação de linhas de créditos especiais para batedores de açaí. A implementação do programa está assumida por um grupo de trabalho composto pelas principais entidades do Estado, envolvidas nessa cadeia produtiva: -‐ -‐ -‐ Secretaria de Estado de Agricultura - SAGRI Secretaria de Estado de Saúde Pública - SESPA Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará - Adepará 12 -‐ -‐ -‐ -‐ -‐ -‐ -‐ -‐ -‐ Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará - EMATER-PA Universidade Federal do Pará - UFPA EMBRAPA Amazônia Oriental Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE/PA Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará - FETAGRI Representantes dos Batedores de Açaí de Vendas Direta ao Consumidor Sindicato das Indústrias Processadoras de Polpa de Frutas dos Estado do Pará - SINDFRUTAS Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Pará - SFA/PA Federação da Agricultura de Pecuária do Pará - FAEPA I.2.3- Plano Nacional da Sociobiodiversidade Os Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social lançaram o Plano Nacional da Sociobiodiversidade que tem como principal objetivo desenvolver ações integradas para a promoção e fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, com agregação de valor e consolidação de mercados sustentáveis. O Programa tem quatro eixos de atuação (Banco do Brasil 2010, p. 18): -‐ -‐ -‐ -‐ Promoção e apoio à produção e ao extrativismo sustentável; Estruturação e fortalecimento dos processos industriais; Estruturação e fortalecimento de mercados; Fortalecimento da organização social e produtiva. O açaí é uma das cadeias produtivas priorizadas no Plano Nacional da Sociobiodiversidade, um plano dos Ministérios do meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social, e tem como objetivo fortalecer as cadeias produtivas de produtos da sociobiodiversidade com a agregação de valor e consolidação de mercados (Banco do Brasil 2008, p. 18). Como explicado pelo relatório do Banco do Brasil (2008, p. 18) “O açaí foi incluído na Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM, um instrumento de sustentação de preço sob a tutela do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA e operacionalizado pela Companhia Nacional de Abastecimento - Conab. São beneficiários dessa política os extrativistas organizados em cooperativas e associações de diversas regiões do país. Para todos os produtos amparados no Programa poderão ser realizados Empréstimos do Governo Federal – EGF, além de subvenções econômicas, conforme a lei nº 11.775, de 17 de setembro de 2008”. I.2.4- Regulamentação sobre a produção artesanal do açaí O Decreto n⁰326 de 20 de Janeiro de 2012, regulamenta a produção artesanal do açaí, com cláusulas para o uso de água (potável), branqueamento, boas práticas, manipulação de alimentos e bebidas, limpeza, entre outros; obriga “o cadastramento semestral de todos os estabelecimentos artesanais que manipulam o açaí no Estado do Pará”; regulamenta a localização dos estabelecimentos que manipulam o açaí e bacaba; regulamenta a estrutura física dos pontos de venda de açaí; impõe regulamentos na higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios utilizados no processamento do açaí; impõe regulamentos no controle de vetores e pragas urbanas; regulamenta o manejo e destino dos resíduos; impõe condições higiênico-sanitárias e boas práticas de processamento; regulamenta o processamento dos frutos (açaí e bacaba); e estabelece atividades de inspeção e fiscalização pelas secretárias municipais de saúde. O Governo do Estado também concede incentivos fiscais para empresas que processem e beneficiem o produto em território paraense. 13 I.2.5- Outras iniciativas públicas Devido à sazonalidade da produção do açaí, isso cria problemas para atender a demanda constante do ano todo, além de influenciar a variação de preço. Para poder melhor atender a demanda do açaí durante o período da entressafra, a Embrapa Amazônia Oriental esta investindo em pesquisas sobre o plantio de novos cultivares de açaí que são adaptadas à terra firme, tem alta produtividade e se produzem durante o primeiro semestre do ano, isto é, na entressafra (Poll et al. 2013). Como parte do programa de melhoramento genético, em 2004 surgiu o cultivar BRS Pará e estimam que seja lançado até o final de 2013 (Poll et al. 2013; Embrapa Amazônia Oriental 2006). O Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo (PRODEX) tem como principal atividade manejar os açaizais nativos. O programa foi criado em junho de 1996, por tanto o crescimento na demanda da fruta do açaí, ao contrário do palmito, tem contribuído ao maneja para manter os açaizeiros em pé. O decreto n⁰8.017, publicada no dia 20 de Maio 2013, reduziu as alíquotas do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) em 50% para o extrato de semente de guaraná e açaí, e em 25% para os extratos utilizados na produção de refrigerantes e sucos (Banco do Brasil 2010). I.2.6- O Projeto ParáRural O projeto ParáRural (2007-2013) iniciativa do Governo de Estado com empréstimo do Banco Mundial, apoiou vários Projetos de Investimentos Produtivos, dentre eles a fruticultura, visto serem várias as suas atividades e atribuições, orientados para melhorar em 30 % a qualidade de vida dos proponentes. Esses projetos, orientados para pequenos produtores organizados em associação, com parte dos recursos reembolsáveis e outra como subvenção, permitiram a implantação de várias sistemas agroflorestais com açaí associado a outros cultivos. I.3- Aspectos vinculados com a produção de açaí I.3.1- Características gerais da produção I.3.1.1- Breve histórico No período entre 1980 e 2001, a produção e o valor da produção de açaí, praticamente se mantiveram em mesmo patamar, oscilando em torno da quantidade produzida e do valor da produção médios de 100.000 toneladas e R$ 55.000. No período subsequente de 2002 a 2004, produção e valor estouraram, sendo que eles foram multiplicados por 4 em 3 anos. Este efeito foi induzido pela expansão do mercado de fruto e polpa de açaí, criado pela divulgação do produto na mídia escrita e televisiva, tornando o produto conhecido nas demais regiões do Brasil e em vários países do mundo, mediante entre outros, exibição nas telenovelas. Este fenômeno se massificou a partir de 1997. Ato contínuo foi dado estímulo à produção manejada pelas comunidades ribeirinhas e à produção comercial por iniciativa privada de investidores migrantes de outras regiões e financiada com recursos públicos. Por exemplo no Estado do Pará, o Banco da Amazônia financiou entre 1990 e 2005 a implantação de 23.681 hectares de açaí. O total financiado até 2005 correspondeu a 8.288 contratos no valor global de R$ 31.177.245, em 67 municípios. O valor médio do contrato foi de R$ 3.761 ou R$ 1.316/ha, ou seja, três hectares por contrato. Em média, ao longo de 16 anos o BASA financiou a implantação e/ou manejo de apenas 518 ha de açaí por ano no Estado do Pará. 14 Os financiamentos do Banco da Amazônia se concentraram entre 2000 e 2005, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO). Com respeito à correlação entre os financiamentos e os municípios produtores, obteve-se uma correlação significativa de 0,6281, mostrando que os recursos do FNO foram aplicados nos municípios produtores próximos ao mercado consumidor. Em 2005, o Banco da Amazônia financiou projetos em apenas 17 municípios do Estado do Pará, sendo 668 ha em IgarapéMiri, 210 ha em Abaetetuba, 118 ha em Inhangapi e 100 ha em Tomé-Açu. Estes resultados mostram que 55,57% da área colhida de açaí foram implantadas e/ou manejadas com capital privado, em grande parte por produtores de fora da região amazônica. Esse movimento induziu a organização dos produtores extrativistas, com o apoio de ONG, em cooperativas para reivindicar o direito de uso das áreas de várzea, realizar o manejo coletivo dos açaizais, negociarem a venda do produto e verticalizar a produção (SANTANA, 2008). I.3.1.2- O açaí: cultura típica dos pequenos agricultores ribeirinhos O açaí é tradicionalmente um produto das várzeas ou das ilhas, como é conhecido na Amazônia. A produção sempre foi de base extrativista. Esta característica se manteve hegemônica até o final do século XX, quando a produção de açaí oriunda do extrativismo no Estado do Pará representou mais de 95% do total. Em 2008, estima-se que 86,71% dos 64.786 ha de área plantada no Estado do Pará seja monocultivo e os restantes 13,29% sejam de combinações diversas. Esta área é distribuída em 2.035 estabelecimentos que possuem até 50 pés de açaí e 26.496 estabelecimentos com mais de 50 pés (IBGE, 2009), trabalhados por famílias ribeirinhas e pequenos produtores que têm no açaí a principal atividade provedora de alimentos e renda. O manejo praticado pelos extrativistas nas áreas de várzea varia entre rudimentar e técnico/intensivo (SANTANA, 2011). Foi no inicio dos anos 200 que o manejo começou a se desenvolver nos açaizeiros de várzea e nas ilhas. No manejo rudimentar, limpam-se as vias de acesso aos açaizeiros e as plantas daninhas de modo a facilitar a colheita, afetando minimamente a floresta da várzea. O manejo técnico, realizado com ou sem a orientação técnica, apresenta padrões de intervenção na floresta. A mais amena mantém uma combinação aleatória de espécies no ecossistema. A mais drástica, além de retirar as demais espécies para aumentar a penetração da luz, reduzir a competitividade e aumentar a produtividade, padroniza o número de estirpes nas touceiras, caracterizando práticas de monocultivo. O manejo praticado na várzea também não obedece às técnicas de seleção de sementes, formação de mudas, espaçamento adequado, adubação e controle fitossanitário. Novos plantios baseiam-se na coleta de mudas na floresta e replantio em áreas abertas da várzea, áreas destinadas ao cultivo, ou áreas onde as estirpes de açaí foram cortadas para a extração de palmito. As mudas são obtidas a partir de sementes lançadas sob as árvores e nas proximidades das residências. O adensamento do açaizal é obtido por meio de sementes dispersas nas várzeas e igapós. A produção oriunda de plantios irrigados em terra firme no Pará, em 2011, é estimada em 7.000 ha (dados de campo), uma área relativamente pequena em comparação com a área ocupada pelos açaizais nativos. Em 2006, aquela área era de 2.001 ha, segundo dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2009), e a área colhida representava de 1.033 ha. A produtividade foi de 4.386 kg/ha, o que indica o início de produção, uma vez que a produtividade média estimada para esses açaizais irrigados varia entre 8 e 12 t/ha (EMBRAPA). O cultivo plantado, vem acompanhado do uso de adubos químicos e agroquímicos. Os dados do IBGE (2009) registram que 377 estabelecimentos utilizaram adubos químicos em uma área de 1.070 ha, e um número ainda maior, que chega a 547 estabelecimentos, fez controle de pragas e doenças com pesticidas em uma área de 1.669 ha, no ano agrícola de 2006. Comparando a área adubada com a área plantada, conclui-se que uma parcela da área plantada não foi adubada, sugerindo ser área de várzea. 15 I.3.1.3- Caminhando para um sistema duplo Além da atomização da oferta, convive-se com a sazonalidade anual da produção, que causa grandes variações de preço, explicado principalmente, pelo caráter sazonal da safra, a ação do clima sobre o nível de produção e a influencia da demanda do mercado internacional. Além disso, a oferta de fruto é inelástica a preço, ou seja, grandes variações nos preços produzem baixa alteração nas quantidades ofertadas. A sazonalidade contribui, pois, para as grandes flutuações na renda dos extrativistas, sendo os menores rendimentos no primeiro semestre, durante a entressafra. O interessante é notar que na várzea existem diversas outras palmeiras que produzem frutos utilizados na dieta alimentar dos ribeirinhos e para o comércio, como a bacaba e o buriti, que o manejo intenso do açaizal despreza, reduzindo a diversidade natural para usufruir as oportunidades do mercado. Deve-se ponderar, entretanto, que essas alterações para a exploração do açaí em sistemas agroflorestais ocupam uma fração marginal das populações nativas de açaí. A sazonalidade é consequência do modo de produção extrativista, que depende mais intensamente das condições climáticas e dos ciclos naturais, como o carreamento dos nutrientes transportados pelos rios (SANTANA; GOMES, 2005) e os ciclos de chuva. A produção em terra firme é, predominantemente, monocultivo, o que também reduz a diversificação da oferta de produtos complementares e/ou substitutos para abastecer o mercado ou a mesa dos produtores rurais. Ainda pouco desenvolvida, a produção intensiva está dando seus primeiros passos rumo à intensificação das técnicas, para incluir o emprego da biotecnologia, de fertilizantes e defensivos químicos e das boas práticas pós-colheita. Box no 2: Açaí e inclusão social e econômica Santana et al. (2003) mostraram que a produção manejada em área de várzea, requer incremento de mão-de-obra em 46 d/h por hectare, equivalente a 153 empregos diretos por 1000 hectares. Nos cultivos plantados, dada a impossibilidade de condução mecanizada de várias etapas da cultura, em cada 1000 ha, necessitam-se da ocupação direta de 273 pessoas. É clara, portanto a capacidade de inclusão social na produção de açaí para as famílias locais. O açaí das ilhas (incluindo as ilhotas em frente a Belém e Ilha do Marajó) é considerado um produto orgânico, por ser totalmente oriundo do extrativismo (fruto coletado diretamente do açaizal nativo), e o de melhor qualidade organoléptica, segundo os consumidores locais, que o prefere quando comparado ao açaí de terra firme. Antigamente o extrativismo de açaí era dominado por pequenos produtores e tinha poucos açaizais manejados e cultivados. Porém, desde o último senso agropecuário de IBGE em 2006, percebe uma mudança na produção de açaí de uma atividade extrativista com muitos pequenos produtores para uma atividade que ainda tem muitos pequenos produtores mas que também tem muitos produtores em grande escala que trabalham com áreas manejadas (Santana e Costa 2008). 16 I.3.2- Principais gargalos e dificuldades vinculados com a produção de açaí. PRINCIPAIS GARGALOS OBSERVADOSCOM CULTIVO DO AÇAÍ ⇒ Baixo nível de organização entre produtores: O isolamento das comunidades produtores e as dificuldades de deslocamento dificultam qualquer atividade de organização ou troca de informação entre produtores. Por isso, se observa um baixo nível de organização entre os produtores comparada a outras cadeias produtivas. Isso é um dos fatores que explica que a maioria dos produtores vende para intermediário, recebe um valor baixo e tem pouco poder de barganho. ⇒ Sistema de assessoria técnica insuficiente: Segundo dados levantados pelo Banco do Brasil “há uma dificuldade conjuntural de oferecer o serviço público devido ao seu alto custo de manutenção, quando comparado à assistência de outras regiões”. As distâncias entre comunidades produtores e o custo alto de transporte dificultam a assistência técnica aos agricultores ribeirinhos. Como resultado, a assistência técnica ainda é insuficiente e geralmente pouco preparada para assumir um conselho e acompanhamento de qualidade para os produtores. ⇒ Agricultores sem direitos possessórios sobre a terra: a falta de regularização de terras em algumas comunidades de várzea dificulta a introdução de práticas e técnicas orientadas. Apesar do Programa Nossa Várzea esteja atuando para inverter a situação, ainda há muito para fazer neste sentido. ⇒ Para atender o importante crescimento da demanda, a produção vai evoluindo deixando de ser uma atividade somente baseada em práticas extrativistas. Isso se traduz pelo desenvolvimento do cultivo fora do seu contexto natural, requerendo uso da irrigação (sem isso a produção cai de 70 a 80%) e de defensivos e fertilizantes químicos em áreas nas quais esses insumos não eram utilizados. Essas mudanças podem trazer novos riscos ambientais para essas áreas. Além de ambiental, os riscos podem também ser relacionados à redefinição da importância econômica e social dessa produção para os pequenos produtores. Eles não serão mais os únicos fornecedores desse mercado. ⇒ A colheita e a debulha realizada ao pé dos açaizeiros continua sendo uma fonte de contaminação. Apesar de vários cursos e cartilhas de informação tenham sido realizados (pela SAGRI, SEBRAE, SENAI, EMATER, EMBRAPA) e distribuídos, é necessário continuar a informação e o acompanhamento dos produtores para garantir boas práticas desde a colheita. ⇒ O aquecimento do mercado e o aumento da demanda tende a influenciar os produtores para orientar os açaizal num sistema de produção de monocultivo, diminuindo a presença de outros espécies espontâneas ou cultivadas. A médio e longo prazo essas evoluções podem ameaçar a sustentabilidade ambiental e econômica. ⇒ Outra fator ligado à introdução dessas novas práticas tem a ver com o perfil dos produtores. A implantação de cultivo intensivo, requer investimentos iniciais e custos de manutenção e funcionamento relativamente elevados quando comparados ao perfil econômico dos pequenos produtores da região. ⇒ Nos municípios distantes do mercado de Belém, a logística de transporte os impede de participar competitivamente do grande mercado. Em geral, a maior parte da produção se destina ao consumo das famílias e ao comércio local por meio de atravessadores, nos 17 moldes que sempre ocorreu, com mais de 60% da produção comercializada sendo entregue para atravessadores. ⇒ Tudo indica que a estrutura produtiva vai se consolidar num sistema com dois grandes tipos: o cultivo em áreas de várzea e o plantio irrigado de terra firme, caracterizando dois sistemas bastante diferentes e orientado para o mesmo mercado. I.3.3- Recomendações operacionais Em seguido vamos expor algumas recomendações para fortalecer a cadeia produtiva, em nível dos pequenos produtores mas não só. SUGESTÕES PARA FORTALECER A PRODUÇÃO DE AÇAÍ De ponto de vista técnico: ⇒ Fortalecer e atualizar os conhecimentos dos técnicos, das entidades prestadoras de serviços, com cursos modulares, aliando cursos teóricos, cursos práticos e visitas de campo. Existe no Estado, entidades (IDEFLOR, SAGRI, EMBRAPA, EMATER, SEBRAE, etc.) que elaboraram uma metodologia neste sentido e que poderia ser valorizada. Parcerias poderão ser construídas neste sentido, para manter, atualizar e desenvolver os conhecimentos sobre a produção de açaí. ⇒ Capacitar os produtores e garantir um dispositivo de assessoria técnica adequado para os pequenos produtores. Isto é um investimento necessário, de base, para continuar fortalecer de forma durável da cadeia produtiva. Um dos desafios da capacitação dos produtores, é a introdução de novas praticas de manejo e colheita do açaí. ⇒ Definir e apoiar a construção de novos sistemas de assessoria técnica: Existe no estado um potencial repartido entre entidades públicas (EMATER, IDEFLOR, SAGRI, SEBRAE, projetos do tipo do ParáRural, EMBRAPA, Universidades) não governamentais (ONGs) e privadas (empresas de beneficiamento e comercialização) a partir das quais seria possível construir um sistema de assessoria relevante, misto com recursos privados e públicos. O exemplo da CAMTA que dispões de técnicos que assumem visitas regulares aos produtores, mostra toda a pertinência que parte da assessoria possa ser assumida por entidades responsáveis pelo beneficiamento e a comercialização da produção. Existe nestes casos interesses mútuos tanto para o produtor como para a entidade, de garantir a qualidade da prestação. ⇒ Intensificar a produção: pelas razões acima mencionadas, o rendimento pode ser melhorado assim como a qualidade do produto final, com a implementação de um conjunto de práticas divulgadas nas capacitações e durante a assessoria técnica. ⇒ Desenvolver a prática dos SAF (Sistemas Agro Florestais): Uma grande variedade de consórcios entre cultivos (cupuaçu, buriti, cacau, seringueira, andiroba, jenipapo, ingá, etc.) pode ser constituído tendo como produção principal o açaí. Esses sistemas apresentam maior grau de sustentabilidade agronômica, económica, ambiental e de ponto de vista da segurança alimentar. Lembrando também que os SAF são bastante virtuosos para a agricultura sustentável. ⇒ Junto com o cultivo do açaí, a prática da apicultura o meliponicultura é algo particularmente relevante para produção de mel e/ou pólen de grande qualidade. Ademais a atividade das abelhas aumenta a produtividade do açaizeiro pelo fato que aumenta a polinização. 18 ⇒ Com os produtores que apresentam perfil e condições suficientes, o desenvolvimento do cultivo em terra firma tem viabilidade, considerando a queda de produção na entressafra e a demanda que permanece alta durante este período. De ponto de vista organizacional: ⇒ Apoiar a organização dos produtores: tendo em vista a dificuldade para os pequenos produtores de comercializar em boas condições, de forma individual e devido a uma produção muito atomizada e de pequena escala, organizar os produtores para enfrentar as complexidades do transporte, e aumentar o poder de barganha será uma etapa fundamental para o fortalecimento da cadeia na sua integralidade. De ponto de vista administrativo: ⇒ Dois pontos devem ser trabalhados no intuito de fortalecer a questão da produção: trata-se da obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e do Cadastro Rural Ambiental (CAR). Sendo que os pequenos produtores enfrentam grandes dificuldades para cumprir com as exigências administrativas, um dispositivo de apoio específica para orientar e ajudar esses produtores é algo imprescindível. De ponto de vista do financiamento: ⇒ Definir modalidades de financiamento adaptadas à situação dos pequenos produtores e que consideram as características da fruticultura em geral, ou seja que contempla as necessidades de investimento inicial e de custeio durante os anos que precedem o pleno ritmo de produção. Sobre outros aspectos: ⇒ Definir estratégias geográficas para o apoio à produção e aos produtores: i) com uma estratégia voltada nos municípios localizados numa área que permite comercializar o produto in natura em Belém; ii) para os municípios muito afastados o que não têm condições de comercializar o produto in natura para Belém / região metropolitana, a produção deverá ser considerada com abastecimento do mercado local, e com possibilidade de instalar de unidades de transformação primária em polpas congeladas para poder ser comercializadas dessa forma. ⇒ Essas estratégias geográficas devem tomar em consideração as dinâmicas dos Territórios da Cidadania assim como os Planos de Desenvolvimento Rurais Sustentáveis Territoriais assim como os Arranjos Produtivos Locais quando houver. O objetivo será de buscar sinergias e complementaridade com as ações em curso. ⇒ Em cada regiões a instalação de unidade demonstrativas em propriedades de agricultores, seria uma ferramenta de divulgação de novas práticas, baseado na experimentação conduzido conjuntamente pelos agricultores e os técnicos. Essas unidades poderão assim ser valorizadas por intercâmbios entre comunidades. ⇒ Nas diversas perspectivas comerciais, o mercado orgânico é uma delas. Isso necessita a preservação de técnicas compatível e autorizadas para a atribuição do selo orgânico, visando assim a comercialização no mercado de nicho. ⇒ De modo geral, o fortalecimento da produção deve permitir a evolução e a preservação dos sistemas de produção: 19 o o Desenvolver técnicas de plantio em áreas novas, inclusive quando viável com uso bem manejado da irrigação, Nas ilhas e várzeas, fortalecer e divulgar a partir do sistema tradicional, um sistema de manejo dos açaizais nativos, que intensificam a produção e melhoram os padrões sanitários, preservando suas funções ecológicas e social. I.4- Aspectos vinculados com o processamento I.4.1- Características gerais I.4.1.1- Aspectos da colheita e pós-colheita A colheita dos frutos de várzea é feita escalando-se os estipes para a retirada dos cachos, atividade que, em geral, é realizada pelos homens, ficando as mulheres e jovens responsáveis pelas atividades de debulha e beneficiamento do fruto. Tais atividades não são remuneradas. O cacho é destacado talhando-se sua base com um facão. Em seguida, é trazido para o solo por um homem que em uma das mãos trás o cacho e, geralmente, carrega o facão entre os dentes. Apesar de perigoso, o procedimento é rápido, requer muito pouco recurso, e o único acessório necessário, a peconha (espécie de cinto usado nos pés para possibilitar a subida na estipe), é leve e quase não ocupa espaço. Isso torna o procedimento bem adaptado às condições de colheita na várzea. Para reduzir o risco de acidentes, foram propostos novos procedimentos baseados em duas abordagens: i) aumentar a segurança do trabalhador durante a escalada; ii) tornar desnecessária a escalada. Ambas as abordagens são factíveis, mas esbarram na falta de capital e treinamento do ribeirinho para adquirir os acessórios. Ademais, há a resistência natural à adoção de uma nova tecnologia quando não está clara, por parte do usuário, a necessidade a ser satisfeita. Além dos benefícios à segurança do trabalhador, qualquer uma das duas abordagens de colheita criaria um mercado de acessórios de tamanho não desprezível. A adoção de métodos de transporte mais seguros, do ponto de vista do alimento, também aqueceria a economia. A embalagem padrão dos extrativistas é o paneiro (com capacidade para 14kg de fruto), cesto feito de palha de arumã (Ischnosiphon spp.) com algumas características muito desejáveis: i) é flexível, leve e portanto adapta-se bem ao transporte fluvial; ii) é manufaturado com recursos da própria floresta; iii) é de muito baixo custo; iv) é reutilizável. Entre as desvantagens, pode-se citar: i) não é paletizável, o que transfere o peso dos paneiros superiores aos de baixo e entra em contato com o piso facilitando a contaminação dos frutos; ii) sua estrutura fibrosa e entrelaçada facilita o alojamento de microrganismos e pequenos animais; iii) a mesma estrutura dificulta sua limpeza; iv) o formato e volume do paneiro favorece o aumento de temperatura dos frutos, o que reduz sua vida útil. A alternativa de utilizar caixas plásticas, apesar de satisfazer os requisitos de segurança do alimento, esbarra na rigidez do formato da caixa que não se adapta bem ao formato dos barcos, o que reduz o volume útil de transporte. Na prática, mesmo se a Vigilância Sanitária proíbe o uso dos paneiros autorizando apenas o uso das caixas de plástico (também denominadas basquetas), o cesto de palha tradicional continua predominante porque mais adaptado ao meio de transporte fluvial. As caixas de plástico são cada vez mais utilizadas, principalmente quanto o transporte é feito por camiões. 20 O transporte do açaí é feito por dois modais: fluvial e terrestre. A partir do local na várzea onde é colhido, o paneiro com os frutos é transportado em pequenas canoas chamadas de ‘casquinhos’ até o trapiche, onde os diversos fornecedores abastecem um barco contratado, ou um barco de linha, que transporta a produção para o local de destino. Para completar a logística de entrega, os frutos são transportados por via terrestre (cada vez mais com camiões refrigerados) em uma dessas três embalagens: paneiros, para entrega aos batedores; sacos de 60 kg; ou basquetas de plástico equivalentes a uma rasa de 14 kg, para entrega a uma das agroindústrias da região. Chegada do açaí em paneiros (razas) Mudança para as basquetas e controle de peso Fonte: BAYLE - 2013 Fonte: BAYLE - 2013 O transporte do fruto do açaí para os mercados de Belém e Macapá requer um grande volume de gelo que, geralmente, é comprado em locais distantes da região produtora. Conforme Santana (2011), a quantidade necessária é de 1 kg de gelo para até 3 kg de fruto, e cada tonelada de gelo custa R$ 90,00. Ou seja, de cada tonelada de frutos, empata-se e m t o r n o d e 20% para cobrir o custo do gelo. Adicionando-se este valor ao custo com óleo diesel, e considerando a distância do mercado, o custo de transporte pode ultrapassar 50% do valor da carga. I.4.1.2- O intermediário na logística de distribuição Devido à atomização da produção na várzea e à pequena quantidade colhida individualmente, é preciso um agente para organizar a colheita e viabilizar o transporte, tanto fluvial como rodoviário. Por isso, os intermediários da comercialização, que agem em função de negócio próprio ou a serviço de atacadistas, agroindústrias ou cooperativas, são fundamentais para reduzir o custo de transação. Além de dispor de condições de transporte a disponibilidade de capital de giro é outro fator chave da função e da capacidade de atuação desses atravessadores e sobre a definição do preço aos produtores, que recebem geralmente a totalidade do preço no ato da venda1. As atividades dos intermediários variam de acordo com o mercado para onde se destina o produto. Para o mercado local, os intermediários são, geralmente, pessoas da própria comunidade, proprietárias de barcos com capacidade para transportar de 50 a 100 rasas por viagem, e que agenciam a produção dos vizinhos. Para atender os mercados mais distantes, como o de Belém, o intermediário anuncia aos extrativistas os locais e data de ajuntamento dos frutos para carregamento do barco. Especialmente nesta situação, os intermediários informam o preço do produto de acordo com as condições de mercado do fruto. Quando a produção é destinada às agroindústrias, os dias em que o transporte passa nas comunidades são anunciados para então recolher o produto nas condições de qualidade e preço combinadas. 1 Não é raro, sobretudo em anos de grande demanda, que parte da venda seja paga diretamente pelos atravessadores antes da recolta. 21 I.4.1.3- Exigências do mercado para os tipos de açaí Existem três tipos de açaí processado, que se distinguem pela quantidade de água adicionada e portanto pela porcentagem de teor de sólidos (UFPA 2013, Banco do Brasil 2008). • • • Açaí grosso ou especial (tipo A), quando apresenta teor de sólidos totais superior a 14% e com uma aparência muita densa. Açaí médio ou regular (tipo B), quando apresenta teor de sólidos totais entre 11% e 14% e com uma aparência densa. Açaí fino ou popular (tipo C) é o produto com teor de sólidos totais entre 8% e 11% e uma aparência pouca densa. De acordo com os Padrões de Identidade e Qualidade (PIQ) mínima para polpa de açaí estabelecidos pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), as seguintes características físicas, químicas e organolépticas devem ser respeitadas: Característica pH Mínima 4,00 - Máxima 6,20 0,27 (fino) Acidez total expressa em ácido cítrico (g/100g) 0,40 (médio) Lipídios totais (g/100gramas de matéria seca) Proteínas (g/100gramas de matéria seca) Açúcares totais (g/100gramas de matéria seca) 0,45 (grosso) 60,0 40,0 20,0 6,0 - I.4.1.4- Tecnologias de processamento e atores envolvidos O principal produto industrial é a polpa de açaí pasteurizada e/ou congelada. Em menor escala existem os blends (açaí misturado com outros produtos naturais como guaraná, banana, soja, moranga, etc.), açaí em pó, geléia, licor, vinho, néctar, suco, flaconetes, bombons, sorvetes, café, etc. A polpa pasteurizada e os blends, agregaram qualidade e utilidades ao produto, voltados para o mercado externo e para nichos de mercados. Existem duas tecnologias de processamento do fruto do açaizeiro e similares (bacaba principalmente). Na primeira, o fruto é atritado contra uma primeira peneira para retirada da polpa, que, por sua vez, passa por uma segunda peneira, que retém as partículas maiores. Essa tecnologia encontra-se nas unidades extrativistas com poucos recursos. A segunda tecnologia utilizada é o despolpamento mecânico, em que os frutos são atritados entre si. É utilizada nas quitandas, supermercados e agroindústrias em duas versões: a de batelada e a de fluxo contínuo. Os preços de mercado do açaí popular negociados pelas quitandas atingem patamar muito superior ao do açaí pasteurizado. Durante a entressafra, os preços do fruto de açaí sobem, o que inviabiliza o processo industrial de grande parte das agroindústrias. Por isso, mesmo as empresas multiprodutos e de escala econômica não conseguem continuar com a mesma capacidade de processamento do açaí e diminuem drasticamente a atividade. Portanto, o fator sazonal é limitante para a competitividade da fruticultura regional. No período da safra, tais preços são reduzidos para limites inferiores às médias praticadas na entressafra. Logo, muitas empresas passam a processar o produto, operando, inclusive, na informalidade. 22 No caso dos supermercados, o fruto é batido, a bebida é embalada em saco plástico envasado e conservada a frio. A tecnologia é a mesma da quitanda, no que tange à máquina despolpadora do açaí, apenas muda a capacidade de processamento. O envasamento é realizado em máquinas para embalagens de 500 g e 1,0 kg. O nível sanitário é mais alto do que na maioria das quitandas, no que se refere à água, manipulação e acondicionamento do produto. Mesmo assim, as práticas de fabricação utilizadas ainda estão distantes do padrão de qualidade exigido pela Organização Mundial de Saúde. Nas agroindústrias, por sua vez, o produto é processado por meio de despolpadoras de grande capacidade. A polpa é pasteurizada (somente por algumas empresas exportadoras), envasada industrialmente e logo depois congelada. As embalagens mais comuns são de 100 g, 1 kg e tambores de 200 kg. Algumas empresas já implantaram o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), conforme Santana et al. (2008). No caso das quitandas e supermercados, o produto é destinado ao mercado local, uma vez que a capacidade instalada das batedeiras não permite processar grandes volumes de fruto e armazenar a polpa. Na Figura 2, apresenta-se o fruto e a polpa do açaí comercializados por quitandas, agroindústrias e supermercados. A Figura da esquerda, exibe o açaí da Ilha do Marajó, acondicionado em rasas de 14 kg, dentro dos padrões mínimos de qualidade. Na Figura do meio, o açaí exposto para a venda direta aos consumidores, sem atender às condições sanitárias. A Figura d a d i r e t a ilustra um tipo de embalagem de 1,0 kg de açaí especial (14% de matéria seca) congelado e pronto para distribuição no mercado nacional. Fotos: Santana, 2010. I.4.1.5- Exigências sanitárias Por ser um produto da alimentação de base da população do Pará, a questão da higiene do produto é um ponto fundamental e diretamente vinculado à saúde pública. O Ministério de Estado de Saúde Pública do Governo do Pará é responsável para definir as exigências sanitárias no processamento de açaí. Todo batedor de açaí deve seguir essas normas e as boas práticas para evitar a contaminação do açaí por microrganismos tais como Trypanosoma Cruzi, Salmonella Spp, e Coliformes Fecais. Segundo o manual de boas práticas para batedores de açaí e bacaba realizado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará, as etapas do processamento acontecem na ordem seguinte e com as características especificadas: o o o o o o Compra: A compra se realiza em feiras (em Belém se destaca a feira de açaí). Neste momento o comprador deve observar a qualidade e a procedência da fruta. Transporte para o batedor: Os veículos devem estar limpos e, caso sejam abertos, deve-se cobrir os frutos com algum material usado somente para este fim, previamente higienizado. Armazenamento: O fruto do açaí deve ser guardado em área específica do estabelecimento sobre estrados ou paletes. Peneiramento: Essa etapa tem como finalidade a retirada de perigos físicos, como pedaços de folhas, talos, areia, e de insetos ou partes desses, principalmente o “barbeiro”. 1⁰ lavagem com água corrente potável: essa etapa tem como finalidade retirar as sujidades e insetos e pode ser realizado nas basquetes. 2⁰ lavagem com uma solução de hipoclorito (150 ppm): Nessa etapa a fruta é imergido na solução hipoclorito (água sanitária) por 20 minutos e tem como finalidade higienizar o produto. 23 o o o o 3⁰ lavagem, enxágue com água para retirada do resíduo de cloro: Essa lavagem deve ser feito com água corrente tratada e tem como finalidade a retirada do resíduo de hipoclorito de sódio. Branqueamento: Esse processo consista de mergulhar as frutas em água potável aquecida a uma temperatura de 80⁰C por 10 segundos e tem como finalidade a redução de carga microbiana, o que é fundamental na eliminação do barbeiro (Trypanosoma cruzi) que causa a doença de chagas. Depois do branqueamento as frutas devem ser mergulhadas imediatamente em água potável. Despolpamento: O despolpamento é realizado por um batedor elétrico em aço inox, previamente higienizado, e usando água potável e uma solução clorada. Envase: Finalmente o açaí batido é colocado em sacos plásticos transparentes e novos. I.4.2- A estrutura empresarial A estrutura empresarial do arranjo produtivo de polpa de frutas paraense é heterogênea em tamanho (predomina o número de microempresas), em tecnologia (nem todas as empresas possuem tecnologia de pasteurização), na diversificação e diferenciação de produto (a maioria das empresas processam apenas açaí) e no grau de inserção nos mercados local, nacional e internacional. Todas as empresas constroem vantagens competitivas com base na dotação de fatores básicos como matéria-prima, mão-de-obra local, condições de clima e infra-estrutura pública disponibilizada. É reduzido o número de empresas que iniciaram a construção de vantagens competitivas sustentáveis, baseadas na qualificação de mão-de-obra, qualidade d o p r o c e s s o , i n v e s t i m e n t o s f í s i c o s a d e q u a d o s , e diferenciação dos produtos. O desempenho competitivo destas empresas é baixo em muitos casos. Parte desses resultados se explicam pela sazonalidade do produto e a especialização no beneficiamento do açaí como única atividade (muitas unidades de beneficiamento param a atividade na entressafra). Portanto o nível de capacidade ociosa ao longo do ano é relativamente elevado. Em 2000, excetuando-se as quitandas ou batedeiras de açaí espalhadas por toda Região Metropolitana de Belém (RMB), o número de agroindústrias se restringia a oito empresas, todas voltadas para os mercados local e nacional. Em 2004, o universo de empresas aumentou para cerca de 40 empresas, produzindo principalmente para os mercados nacional e internacional. Deste universo, 20 empresas estão ligadas ao Sindicado da Indústria de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindifrutas). Em 2012 a quantidade dessas empresas mais que dobrou. Algumas empresas de grande porte ocupem uma parte importante da produção, em grande parte para exportação, como a SAMBAZOM, BELAIAÇÁ, a CAMTA. A título de exemplo, a CAMTA, dobrou o volumem de produção de açaí entre 2008 e 2012, passando de 2.300 t para 4.600 t. 24 I.4.3- Principais gargalos nas etapas de processamento PRINCIPAIS GARGALOS DO BENEFICIAMENTO DO AÇAÍ ⇒ O açaí é altamente perecível e quando menor o prazo entre a safra e a colheita melhor a qualidade do produto beneficiado. O prazo máximo é de 24h. Isso é um limitante importante considerando a atomização da produção e a complexidade do transporte no Pará. O transporte refrigerado permite uma tolerância para transporte mais longo e em todos os casos é um fator que aumenta a qualidade do produto final para o consumidor. ⇒ Alto custo de transporte e escoamento da produção: As distâncias entre comunidades produtores e os mercados compradores também tem o efeito de agregar custos ao produto devido ao frete e ademais compromete a qualidade do produto quando chegar no seu destino. ⇒ A irregularidade do abastecimento em matéria prima é apontado como uma dificuldade pelas indústrias de beneficiamento. ⇒ o fator sazonal é limitante para a competitividade da fruticultura regional. Capacidade ausente grande , algumas empresas que somente processam açaí estão obrigadas a fechar na entressafra. ⇒ Alto custo de infraestruturas e equipamentos para cooperativas de produtores. ⇒ Ainda é importante a proporção de batedores e agroindústrias que não observam todas as recomendações sanitárias para garantir um produto com a qualidade sanitária exigida. ⇒ Dificuldade de obtenção dos licenciamentos ambientais necessárias vinculados à atividade de beneficiamento. 25 I.4.4- Recomendações operacionais SUGESTÕES PARA MELHORAR O BENEFICIAMENTO DO AÇAÍ ⇒ Existe um programa (implementado pela SAGRI em parceria com outras instituições do estado) de capacitação dos batedores artesanais sobre as boas práticas e para garantir a aplicação das recomendações sobre a qualidade sanitária. Iniciou na Região Metropolitana com aproximadamente um terço dos batedores capacitados. A capacitação de todos os batedores da RMP e do Estado deve ser a meta a alcançar devido ao impacto positivo que isso representa em termos de saúde pública. ⇒ Implantar pequenas unidades de despolpamento/beneficiamento, após estudos de viabilidade completas. A implantação dessas unidades deverá ser acompanhada da assessoria técnica necessária antes, durante e depois das implantação de tais infra estruturas. A questão da gestão dessas unidades é um ponto fundamental a ser abordado desde os estudos de viabilidade. A primeira vista, esse tipo de unidade deve ser localizado prioritariamente nas regiões mais distantes de Belém. ⇒ Em relação direta com o ponto anterior, a questão do transporte da polpa entre as áreas de beneficiamento e a capital do Estado deverá ser considerada: como garantir um transporte refrigerado de qualidade (regularidade) e de custo compatível com o mercado? Que tipo de apoio deverá ser definido e qual será a forma de organização dos pequenos produtores para garantir os volumes suficientes e regularidade no abastecimento? No caso de construção de novas unidades de beneficiamento, esses aspectos deverão ser abordados durante o estudo de viabilidade e as diferentes possibilidades definidas e quantificadas. ⇒ Em função das regiões pode ser relevante avaliar a viabilidade de instalar unidade móveis de processamento. ⇒ Licenciamento ambiental das unidades de beneficiamento deve ser considerado e apoiado durante os estudos de factibilidade e viabilidade. Parceria com a SEMA devem permitir o cumprimento das exigências legais. ⇒ Melhorar os prazos e condições de transporte (com regularidade, cadeia frigorífica garantida) : para isso será necessário considerar as características do Pará e definir ume estratégia dupla e complementar, entres o transporte rodoviária e o transporte fluvial. Várias possibilidades poderiam ser implementadas. Um apoio (com subvenções) a aquisição de meios de transporte em particular para o transporte fluvial. Uma outra possibilidade seria de atuar para uma estruturação redes verticais de provedores com alianças estabelecidas entre as principais empresas ou cooperativas estabelecidas. ⇒ Definir linhas de financiamentos específicas para os principais atores e tipos de investimento necessários. I.5- Sobre o acesso ao mercado I.5.1- Os fluxos e tipos de produtos que estruturam o mercado O fluxo de comercialização desse mercado é formado por três níveis. O primeiro nível é definido pelas transações comerciais entre produtores e compradores do fruto no local de produção. Este mercado opera, predominantemente, em concorrência perfeita. Casos especiais ocorrem quando a produção é negociada com agroindústrias, em que poucos compradores adquirem grande parte da produção de dado local, mediante preferências e compromissos para a entrega do produto, atendendo a critérios mínimos de qualidade. Neste caso, os produtores são tomadores de preços e as agroindústrias agem 26 com poder de definição de preço. Entre 2008 e 2012, o preço pago ao produtor em Tomé Açu, passou de R$ 0,75/kg de fruta para R$1,2, ou seja um aumento de 60%. Em 2013 com o nível muito alto da demanda e uma safra que não se anunciava das melhores em termos de rendimento, parte da produção foi comprada na folha, ou seja antes de ser colhida. O segundo nível do mercado é formado por atacadistas que reúnem grande volume de frutos para negociar com os compradores locais. Neste mercado, um pequeno número de agentes atacadistas define o preço de revenda do produto para um número grande de compradores: os microempresários que fornecem polpa para a grande Belém, os chamados “batedores de açaí”. No terceiro nível, observa-se a comercialização da bebida de açaí e derivados no varejo. Aqui, há um mercado de quitandas e batedeiras de açaí que opera em concorrência perfeita, distribuído em todos os bairros dos centros urbanos. Neste nível, são comercializados os demais produtos (blends, mix, polpa, sorvetes etc.) nos supermercados e locais especiais, que realizam a comercialização com o poder de fixar o preço de venda para os consumidores. O mercado nacional caracteriza-se pela distribuição da bebida congelada, onde a maior concentração de consumidores está localizada no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Portanto, o poder econômico entre demandantes e ofertantes define a característica do mercado quanto à formação do preço, por isso o mercado do fruto apresenta características diferentes de acordo com o nicho estudado. Nas transações com as microempresas processadoras (‘batedores’) tem-se características próximas da ‘concorrência perfeita’. Este mercado funciona com base na prevalência das seguintes características (SANTANA, 2005): a) Grande número de produtores e consumidores, cada qual transacionando uma pequena parcela do volume do total de açaí do mercado. Os produtores e consumidores são tomadores de preços, pois suas decisões individuais não influenciam o preço de equilíbrio do mercado de açaí; b) O produto é homogêneo na percepção dos compradores de açaí, uma vez que uma rasa comercializada por um produtor é idêntica às rasas ofertadas pelos demais produtores (são substitutos perfeitos, portanto, não há preferências específicas por um produto de um dado fornecedor, em dado local); c) O fluxo de informações sobre preço, custo de extração e transporte são do conhecimento dos principais agentes do mercado (empresas, produtores locais intermediários), assim como mobilidade de fatores (mão de obra) entre os locais produtores de açaí, em resposta a novas oportunidades de extração ou plantio do produto, d) Não existem barreiras à entrada e à saída dos agentes do mercado de fruto de açaí a qualquer tempo. Nas transações com as agroindústrias, supermercados e atacadistas, que apresentam maior poder de barganha em relação ao produtor extrativista, o mercado durante a safra é oligopsônio, com muitos fornecedores e poucos compradores. I.5.2- Comportamento da demanda e da oferta Como se comportará a oferta do fruto de açaí no longo prazo, levando em conta as condições de crescimento da produção observadas entre 1995 e 2000? Apresentamos em seguida resultados obtidos a partir de um trabalho realizado por Santana (2003). Para este trabalho, determinou-se a oferta de fruto de açaí no longo prazo para estimar-se a elasticidade de preço e custo, assim como a elasticidade de ajustamento da oferta atual em relação à oferta no longo prazo (para o ano 2020). 27 A elasticidade-custo, por sua vez, foi da ordem de -0,459, indicando que, para um incremento no valor do salário rural, a oferta de açaí tende a cair 4,59%, mantendo constante o efeito das demais variáveis. Finalmente, a elasticidade de ajustamento da oferta a longo prazo foi de 0,477, mostrando que a cada aumento de 10% na produção contemporânea, diminui-se o desvio em relação ao equilíbrio de longo prazo em 4,77%. Os resultados para as elasticidades mostram que a demanda de polpa de açaí das batedeiras é inelástica a preço (-0,1908), indicando que variações de 10% nos preços levam a uma diminuição na quantidade demandada de 1,91% em sentido contrário. Com relação à elasticidade-renda (0,16658), o açaí é enquadrado como um bem de primeira necessidade, pois em resposta a mudanças de 10% na renda, a demanda tende a aumentar em 1,66%. As elasticidades cruzadas do açaí em relação à farinha (-0,1602) e ao charque (-0,2036), confirmam uma relação de complementaridade no consumo, pois em resposta a aumentos de 10% nos preços destes produtos, a demanda de açaí diminui de 1,6% e 2,04%, respectivamente. Por fim, o consumidor de açaí classificou o suco de fruta como produto substituto, pois, conforme a elasticidade cruzada (0,1993), quando o preço do suco aumenta em 10%, o consumo de açaí aumenta em 1,99%. I.5.3- Evolução dos fluxos de venda Com relação considerando conforme os 2006 (IBGE, a fruta. à comercialização do fruto de açaí, as unidades com mais de 50 pés, registros do Censo Agropecuário de 2009), notam-se diversos destinos para Observa-se, por exemplo, que 82% da produção que se destina à venda é entregue a intermediários da comercialização, o que indica a importância deste agente para a inserção do produto ao mercado. Box no 3: Influência do circuito de comercialização Estudo revela que o açaí produzido na Ilha do Marajó e consumido no mercado local apresenta uma margem de comercialização de 60%, de modo que os extrativistas se apropriam de 40% do preço pago pelos consumidores (SANTANA, 2011). Esta margem varia em função da distância do mercado, pois considerando o Ver-o-Peso como mercado varejista final, a margem de comercialização atinge 85,71% (SANTANA; GOMES, 2005), ficando com o produtor em torno de 14,29%. Comparando a parcela da produção entregue a intermediários com a registrada no Censo Agropecuário de 1996 (IBGE, 1998), que foi de 65,25%, nota-se que este valor foi 16,75% inferior ao registrado em 2006. Tal resultado pode estar associado ao aumento da produção de áreas mais distantes e do interesse de intermediários da comercialização do fruto, diante das oportunidades de venda que se ampliaram com a implantação de agroindústrias de maior capacidade de processamento devido à demanda crescente. A venda direta ao consumidor foi de 10,4%, quase o dobro dos 5,28% registrados no Censo de 1996, revelando o significativo aumento das vendas realizadas diretamente pelos produtores. Box no 4: Importância das agroindústrias Por tanto, como Carvalho e Santana (2008, p.168) explicam, é provável que a quantidade atual vendido para agroindústrias seja maior devido ao fato das agroindústrias comprarem o açaí diretamente de organizações de produtores e de intermediários que recolham o produto nas áreas produtores, mediante contratos informais. Também aumentou a participação das vendas diretas para as agroindústrias, que saltou de 0,34%, em 1996, para 0,5%, em 2006. Este fato apesar de ainda representar uma proporção muito limitada, revela que a produção integrada, mediante contrato formal e/ou verbal, ainda é insignificante. Três pontos merecem destaque em relação à evolução dos dados entre o Censo Agropecuário de 1996 e aquele de 2006: 28 Ø o primeiro diz respeito à entrega da produção para cooperativas, que saiu de zero para 1,7%; Ø o segundo diz respeito à venda para o Governo, em porcentual de 0,5%, em função do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); Ø o terceiro foi o aparecimento de exportação do fruto, com participação de 0,1%. Neste caso, entendese a exportação como o volume de produto que foi destinado aos mercados do Amapá e do Maranhão, uma vez que ainda não houve exportação do fruto in natura. Por fim, nota-se que a parcela da produção não vendida, ou consumida na unidade d e produção, que representou 4,5%, em 2006, foi substancialmente inferior aos 29,13% registrados em 1996. Esta diferença pode estar relacionada ao fato de que, no Censo Agropecuário de 2006, a produção realizada em estabelecimentos com até 50 pés de açaizeiro, que representou 3,99% da produção comercializada, era considerada como consumo no estabelecimento. A diferença ainda persistente deve resultar da expansão da produção destinada ao mercado, relativamente a uma diminuição do consumo na unidade de produção, em função da oportunidade de venda do produto como fonte de renda, cuja importância para o orçamento da família aumentou significativamente neste período. Segundo Santana e Costa (2008) o mercado de açaí esta passando por uma transição de um produto tradicionalmente consumido por famílias de baixa renda por um produto de luxo. Um estudo recente feito por Nogueira et al. (2013) confirma a tendência e os resultados de Santana e Costa, constatando que a demanda por açaí responde positivamente e, mais do que proporcionalmente, ao aumento na renda do consumidor, caracterizando-o como bem de luxo. A grande e crescente demanda do produto no mercado nacional e internacional vem pressionando os preços locais. O açaí continua sendo um produto com demanda inelástico, ou seja, elevações nos níveis de preços tendem a provocar uma redução menos que proporcional nas quantidades demandadas. Nogueira et al. (2013, p. 327) confirmam, citando “isso evidência o padrão cultural do povo Paraense, que possui o hábito de consumir diariamente o vinho de açaí, principalmente as famílias do interior do estado, que mesmo com preços elevados, insistem em manter o fruto em sua dieta alimentar”. Nogueira et al. (2013, p. 329) concluem também que a oferta do açaí é inelástico, “ou seja, a quantidade de oferta varia menos que proporcionalmente às mudanças no preço, o que também tende a produzir forte instabilidade de renda dos produtores, diante de aumentos nas quantidades no período da safra”2. Embora eles constatem que o nível de inelasticidade esta diminuindo ao longo prazo. I.5.4- Estrutura do mercado de fruto do açaí O mercado de açaí pode ser classificado em função da sua distribuição espacial: regional, nacional e internacional. I.5.4.1- O mercado no Pará O mercado regional é caracterizado pelo consumo expressivo in natura da bebida. O açaí em função do hábito alimentar popular, continua sendo o alimento preferido das camadas mais pobres, porém, a escassez do produto forçou o aumento de preço para níveis que deixou de fora muitos consumidores. O consumo médio per capita da população da Região Metropolitana de Belém (RMB) foi estimado em 63,10 kg/hab na safra e em 22,5 kg/hab na entressafra, Box no 5: Impacto do mercado sobre a qualidade do açaí Para as populações de baixa renda do mercado paraense, o açaí continua sendo ofertado pelas quitandas, embora com preços mais elevados e . 2 inferior O açaí grosso deixou de ser Essas são características dos produtos com forte sazonalidade e qualidade alta perecibilidade. ofertado, o açaí médio apresenta maior teor de água e o açaí fino tornou-se mais fino ainda, na avaliação dos consumidores e dos donos de quitandas. 29 gerando um consumo médio de 42,8 kg/hab/ano, valor superior ao consumo de laticínios (15,3 l/hab/ano), carne bovina (39,16 kg/hab/ano), cereais (33,9 kg/hab/ano) e de farinha (34 kg/hab/ano). São comercializados diariamente, somente na RMB, cerca de 470 mil litros de açaí, em mais de 3.000 pontos de venda (batedores3), no período da safra (SAGRI, 2013). Mesmo assim, durante muito tempo se fez pouco caso da economia do açaí, que pelo vínculo à população pobre sempre foi uma economia invisível. O consumo não aparecia nas estatísticas oficiais. I.5.4.2- O mercado nacional As qualidades intrínsecas do fruto, relacionadas com o suprimento de vitaminas, minerais e, principalmente, como excelente energético, abriram ótimas alternativas para sua comercialização no país e no exterior. As camadas de maior poder aquisitivo passaram a consumir o açaí, sobretudo os frequentadores de academias em todo o Brasil. O açaí deixou de ser um bem de base e alcançou a categoria de bens superiores ou de luxo para os consumidores de baixa renda e um bem normal para os consumidores de renda média e alta. Os consumidores nacionais são atendidos pelas agroindústrias, que têm capacidade de atender as especificações dos distribuidores, normalmente limitadas ao teor de sólidos totais e às vezes, à pasteurização. Apesar de não se dispor de um estudo específico sobre o assunto, as avaliações qualitativas sugerem que o teor de sólidos totais da bebida comercializada no território nacional nas ‘tigelas de açaí’ deve ser de açaí popular (açaí com 9% a 11% de matéria seca). Box no 6: Açaí e bacaba A bacaba é o principal substituto do açaí para as camadas da população de menor renda. A produção da bacaba é totalmente extrativa e a safra se concentra no período da entressafra do açaí (de fevereiro a julho aproximadamente). Por ser um substituto para a polpa de açaí, faz sentido envidar esforços para identificar as regiões produtoras e estimular a racionalização mediante manejo destas áreas com vistas a aumentar a produtividade e a oferta do produto como forma de proteger o consumidor local no período da entressafra do açaí. No mercado nacional, Rio de Janeiro e São Paulo já consomem cerca de 650 toneladas/mês de polpa e mais de 1.000 toneladas/mês, na forma de mix com guaraná e granola com o total comercializado para outros estados alcançando cerca de 40 mil toneladas / ano (SAGRI, 2013). I.5.4.3- O mercado Internacional Nesses últimos 15 anos, a demanda do açaí no mercado internacional, devido às propriedades energéticas e nutricionais, assim como sua origem Amazônica, teve o efeito de aumentar tanto a produção e exportação, quanto o preço. O mercado internacional caracteriza-se pelo maior rigor nos critérios de segurança do alimento, onde são consideradas as condições sanitárias da agroindústria, a exigência de pasteurização, além de análises complementares de acordo com as determinações do cliente e as leis no país de destino. Nesse mercado, a oferta não é coordenada, isto é, as agroindústrias agem desarticuladas, sem cooperação quanto às decisões de venda, determinação de preço, planejamento da produção e definição de estratégias. As exportações de frutas e produtos elaborados a partir da polpa e suco do açaí evoluíram firmemente ao longo da última década. No Brasil como um todo, as exportações cresceram a uma taxa anual de 12,10% entre 2002 e 2009. 3 No estado do Pará são pouco mais de 4.000 batedores, sendo 75% na capital e região metropolitana (SAGRI, 2013). 30 Em 2010, as vendas para o mercado externo da polpa de açaí atingiram o montante de US$ 18,6 milhões, correspondendo a 65,5% do total da pauta de exportação de sucos do Estado. Em 2012 foram exportados mais de 6 mil toneladas de polpa de açaí , correspondendo a mais de US$- 17 milhões . Estimase que em torno 20% da produção é exportada para outros países sendo que 50% é consumido no próprio estado do Pará e 30% , em outros estados da federação. Os Estados Unidos são os maiores importadores de açaí e importaram 79% das exportações em 2012 e 77% em 2011, o que equivale mais de 5.000 toneladas de açaí em cada ano e um valor de mercado de mais de US$13 milhões em 2012 e mais de US$15 milhões em 2011, respectivamente (Tabela 04). O Japão é em segundo lugar dos países que mais importaram o açaí do Pará e é o mercado com demanda que mais cresceu entre 2011 e 2012. Tabela 04: Exportações mundiais de açaí do Pará em 2012 e 2011 2012 2011 País Quantidade (t) Valor ($US) EUA 5.131 13.688.366 Japão 614 Coreia do Sul Países Baixos Outros países Total Quantidade (t) Valor ($US) 79 5.311 15.587.249 77 2.422.901 14 455 1.336.050 6,6 67 328.166 1.9 - - - - - - 593 1.740.913 8,6 250 858.701 5.1 538 1.578.968 7,8 6.061 17.298.134 100 6.897 20.243.180 100 % % Fonte: SAGRI 2012 apud Poll et al.2013 Por exemplo a CAMTA, um dos principais atores para a exportação no mercado japonês, multiplicou por 2,6 seu volumem de polpa exportada, passando de 250 t em 2008 para 650 t em 2012. Como as exportações físicas cresceram à taxa inferior ao valor das exportações, isso indica que os preços do produto evoluíram no período. Esse fenômeno ocorre em função das características diferenciadas do açaí que, embora com baixo valor agregado, se comporta como produto de demanda elástica, em função de suas propriedades nutricionais e características de alimento funcional. Além disso, a demanda de empresas com lançamentos de novos produtos de sabor exótico força a tendência de aumento do preço do produto. A sazonalidade da produção, embora cada vez menos pronunciada pela chegada da produção do açaí de terra firme, influencia também a evolução dos preços, sendo que a demanda pelo produto no mercado nacional e internacional é constante ao longo do ano. A lista das principais empresas e organizações de produtores envolvidas na comercialização do açaí em nível nacional e internacional encontra-se no anexo 02. I.5.5- Cenário futuro da produção e consumo de açaí Além das informações geradas a partir dos modelos das elasticidades de preço e custo da oferta, e das elasticidades de preço e renda da demanda, assumiu-se que a taxa de evolução da produção de açaí deve se manter em torno dos 15% ao ano, à curto/médio prazo, em função da expansão dos plantios racionais e do avanço do manejo dos açaizais das várzeas paraenses. Para isso, os preços devem seguir uma trajetória de evolução mais suave do que na última década, em torno de 5,63% ao ano. Assume-se também que o curso das inovações em produtos com a participação do açaí não sofrerá descontinuidade significativa e que estratégias de políticas públicas serão desenhadas no sentido de assegurar a disponibilidade do produto para o mercado consumidor local e assegurar a garantia de renda dos extrativistas, com a inclusão do fruto na política de preços mínimos. Do lado da demanda, a economia deve continuar apresentando uma trajetória permanente de estabilidade da inflação, com evolução do poder de compra das populações de baixa renda, 31 a taxas em torno dos 5% ao ano. Com base dados dos censos agropecuários do Estado do Pará de 1996 e 2006, referentes aos anos de 1996 e 2006, e a produção computada pela Secretaria de Estado da Agricultura, estimou-se a parcela da produção destinada ao autoconsumo realizado nos estabelecimentos (pela família, na propriedade rural). Do restante, foram consideradas as pesquisas de consumo da polpa no Pará e o volume de polpa exportada. Com base nestas informações, se nada de excepcional ocorrer, o consumo internacional deve atingir o patamar de 60,26 mil t em 2020. O consumo local deve ficar em torno das 140,78 mil t e, para que não haja aumento de preço, o consumo nacional deve se estabilizar. Com a ampliação da produção e da capacidade da indústria da fruticultura, caminha-se para que o mercado local seja abastecido com o açaí pasteurizado e/ou congelado de origem não orgânica, mudando o hábito de consumo e diminuindo a qualidade do alimento, por incluir produtos químicos. Isto deve ocorrer em função das exigências do mercado internacional por produtos orgânicos, o que deve levar a uma preferência pelo produto oriundo das ilhas, ficando a produção irrigada para o mercado local e nacional. Com o controle na distribuição do produto pasteurizado realizado por empresas de porte médio e grande, cujo mercado apresenta características de oligopólio, os preços não devem baixar para atender o consumidor. Portanto, os ganhos de bem estar social, por essa via, tornam-se de difícil percepção por parte dos consumidores de baixa renda. Por fim, é algo incerto, por ausência de dados quantitativos, poder avaliar o impacto que os plantios de açaí realizados em outros países, poderiam ter sobre o nível de exportação do Brasil. Apesar do país ter significativas vantagens comparativas em relação as condições edafoclimáticas e a grande extensão da área de produção a produção de outros países será provavelmente um dado a integrar na evolução a longo prazo do mercado internacional de açaí. I.5.7- Principais gargalos PRINCIPAIS GARGALOS DA COMERCIALISAÇÃO DO AÇAÍ ⇒ O nível de organização dos produtores para chegar ao mercado é muito insipiente. A falta de organização dos produtores nas comunidades é sistematicamente apontada pelos compradores outros que os atravessadores, como o principal problema: disso resulta a dificuldade de respeitar compromissos comerciais em termo de qualidade e quantidade a fornecer. ⇒ Diretamente vinculado com o ponto precedente, existem poucas organizações de tipo cooperativas de produtores (em regra geral a mais adaptada). Entre daquelas que existem, poucas têm condições de funcionar e aportar um serviço ao produtor, por falta de capacidade de gestão, de conhecimento de base e em muitos casos por falta de capital de giro. Esse último ponto é determinante para garantir condições de pagamentos dos produtores semelhantes àquelas praticadas pelos atravessadores. As principais cooperativas no estado são : o A Cooperativa Agrícola Mista de Tomé- Açu (CAMTA), que trabalha com seus sócios e compra frutas num raio de até 150 km. o A cooperativa e Fruticultores de Abaetetuba (COFRUTA) o A Cooperativa e Resistência de Cametá (CART) ⇒ Extremamente baixa comercialização nas modalidades do mercado governamental (PAA, PNAE), por falta de conhecimento dos trâmites e por dificuldade em cumprir os 32 trâmites. Falta também de relações mais organizadas com as prefeituras neste quesito. ⇒ Ausência de uma assessoria técnica com capacidades (conhecimento, tempo, recursos) para realizar um apoio e acompanhamento das questões especificas à comercialização. ⇒ Os atravessadores, embora ocupam um função importante na cadeia produtiva, principalmente a partir da colheita, dificultam também a possibilidade de diversificar as formas de organização dos produtores e de portanto de comercialização. Eles concentram e fato a compra do produto in natura. A ausência de organização dos agricultores fortalece essa posição dos atravessadores. ⇒ As unidades de beneficiamento e principalmente aquelas com estatuto de cooperativa sofrem da falta de planejamento da comercialização (diretamente vinculado ao plano de trabalho/gestão ou negócio): isso dificulta um planejamento da atividade e uma gestão menos informal. I.5.8- Recomendações operacionais PRINCIPAIS SUGESTÕES PARA MELHORAR A COMERCIALIZAÇÃO ⇒ Apoiar e assessorar os produtores para se organizar e constituir e assumir a gestão de estruturas jurídicas adaptadas. ⇒ Elaborar estratégia de comercialização que contemplam e fortalecem todas as oportunidades de mercado: feiras locais, mercado do governo, venda para agroindústrias. Na elaboração de futuros projetos de apoio, estratégia de comercialização deverão ser definidas durante a fase de estudos de viabilidade e procurar alianças com os atores locais de comercialização. ⇒ No caso particular das compras governamentais (PAA, PNAE) estabelecer um dispositivo de capacitação e acompanhamento para ajudar os produtores para se inserir nesses mercados especialmente desenhados para eles e com condições favoráveis para eles. ⇒ Quando tiver organizações de produtores minimamente consolidadas, estabelecer parcerias com agroindústrias, supermercados e outros atores envolvidos na comercialização. Estabelecer essas parcerias de forma durável, depende em parte, da capacidade dos produtores para fornecer as quantidades negociadas nas condições definidas. . Em cada região de produção deverão ser mapeados os atores envolvidos com a compra e beneficiamento do açaí, no intuito de identificar as possíveis parcerias. ⇒ Estabelecer parcerias entre produtores e batedores. ⇒ Estabelecer parcerias com empresas de beneficiamento que possuam seus próprios cultivos mas que mesmo assim precisam comprar mais açaí in natura. Acordos podem ser encontrados com este tipo de ator interessado em trabalhar com outros produtores de proximidade. ⇒ Devido à atomização da produção as organizações de produtores deverão definir sistemas de permitem assumir o transporte de coleta e entrega. ⇒ Privilegiar e desenvolver relações comerciais de parceria, com empresas que assumem atividades complementares: capacitações, assessoria técnica, pagamento antecipado. ⇒ Na definição dos programas de capacitação e assessoria técnica, envolver e valorizar as competências localmente presentes: SAGRI, SEBRAE, associações dos batedores, Sindicado da Indústria de Frutas e Derivados do Estado do Pará, Prefeituras. 33 I.6- Diversificação e outros produtos oriundos do açaizeiro Como produtos derivados destacam-se, também, o palmito e, mais recentemente, o caroço do açaí. A produção de açaí do Pará abastece quase 90% da produção de palmito do País, assim como a demanda do exterior, onde o produto é conhecido como “heart of the palm”, com grande penetração nos Estados Unidos e Europa. A exploração do palmito para o qual existe ume demanda importante no mercado nacional e internacional, é uma atividade complementar à exploração do açaí. Ela é bastante regulamentada pelo IBAMA e deve portanto ser conduzida dentro do padrão legal, para não prejudicar o equilíbrio ecológico dos açaizais. A implantação de pequenas unidades de beneficiamento poderiam ser estudadas neste perspectiva que organizações de produtores possam realizar essa atividade dentro dos padrões legais. O caroço do açaí já começa, também, a ser processado como alimento funcional para misturar com o trigo na fabricação de pães, pizzas, biscoitos - e o café, assim como na fabricação de medicamentos, rações e briquetes para cerâmicas e corantes. I.7- Conclusões sobre a cadeia produtiva do açaí O açaí não é apenas um produto, mas o produto de maior importância na alimentação das populações de menor poder aquisitivo do Estado do Pará e na formação da renda de contingente expressivo de famílias extrativistas, atravessadores e pequenos comerciantes. É uma produção estruturante para o meio rural paraense e cada vez mais para a economia do Estado. A evolução dos últimos anos e as projeções para o médio prazo apontam para uma demanda cada vez mais forte e diversificada. É portanto uma cadeia dinâmica e segura se for considerados a possibilidade de realizar investimentos públicos e privados. O estudo da situação atual aponta também para riscos e fragilidades que devem ser resolvidos para garantir sustentabilidade social, económica e ambiental no desenvolvimento da cadeia. A capacitação e a organização dos atores e principalmente dos produtores está na raiz de toda melhoria. Sem investimentos nesses aspectos será difícil manter um desenvolvimento equilibrado . Esse conjunto de fatores advoga para fortalecer e ampliar a atuação do Estado do Pará, que poderia se articular em torno de um programa de fortalecimento da cadeia produtiva na sua integralidade. II- O cupuaçu O cupuaçu é uma fruta nativa da Amazônia. Tradicionalmente o cupuaçu era somente um produto alimentício, utilizado como fornecedora de polpa para o preparo caseiro de sucos e sorvetes. Com o mais recém desenvolvimento do consumo de cosméticos elaborados com produtos da Amazônia, o óleo extraído da semente do cupuaçu tem valor comercial. Por esses motivos, trataremos nos próximos capítulos da cadeia do cupuaçu para fins alimentícios e para uso cosmético. II.1- A produção de cupuaçu O cupuaçuzeiro no Brasil concentra-se principalmente na região Amazônica, sendo o Estado do Pará o principal produtor, seguido do Amazonas, Rondônia e Acre. Recentemente foi implantado na faixa litorânea da Bahia numa pequena escala. A produção do cupuaçu no Brasil é muito pequena ao nível nacional4. Segundo o Censo agropecuário mais recente do IBGE (2006), ao nível nacional a maioria dos estabelecimentos que produzem cupuaçu o extrai de 4 Isso explica certamente a escassez de dados e estatísticas desagregadas e específicas ao cupuaçu, que está na sombra das outras produções. 34 florestas nativas (35%) ou o produz junto com lavouras temporárias (31%) ou permanentes (16%) como parte duma sistema agroflorestal (ver Tabela 05). Tabela 05: Produção de cupuaçu no Brasil segundo os grupos de atividade econômicas Quantidade Colhida (t) Vendida (t) Valor da produção (R$1.000) 1.214 406 324 430 340 Horticultura e floricultura 70 11 9 14 12 Produção de lavouras permanentes 634 577 513 859 735 Sementes, mudas e outras formas de propagação vegetal 4 1 1 1 1 Pecuária e criação de outros animais 508 145 117 191 143 Produção florestal - florestas plantadas 42 8 5 12 9 1.365 1.868 1.652 2.461 2.141 Pesca 29 5 4 7 5 Aquicultura 12 4 2 4 2 Grupos da atividade econômica Estabelecimentos Produção de lavouras temporárias Produção florestal - florestas nativas Valor da Venda (R$1.000) Fonte: IBGE 2006, Censo agropecuário Tabela 06: Área colhida, quantidade produzido e valor do cupuaçu no Pará entre 2001 e 2011 Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Área Colhida 6.781 7.769 8.895 9.758 11,366 11,460 12,036 12,214 12,431 12,373 12,447 Quantidade (t) 26.089 29.733 30.417 32.504 38,488 39,045 39,907 41,633 41,274 41,142 41,449 Preço (R$/t) 516 503 483 504 428 586 619 616 665 673 917 Valor (mil R$) 13.462 14.956 14.691 16.382 16,468 22,864 24,712 25,627 27,466 27,668 38,027 Fonte: LSPA/IBGE, disponibilizado por SAGRI, 2011 No Pará a mesorregião que mais produz cupuaçu é o Nordeste Paraense (57%), seguido por o Sudeste Paraense (16%), o Sudoeste Paraense (9%), a Região Metropolitana de Belém (10%), o Baixo Amazonas (2%) e o Marajó. Tabela 07: Produção de cupuaçu por regiões Quantidade produzido Valor da produção (toneladas) (R$ 1.000) Mesorregião 2003 2006 2009 2011 2003 2006 2009 2011 35 Pará 30.417 39.045 41.274 41.449 14.739 22.864 27.466 38.027 Nordeste Paraense 13.562 21.028 21.924 23.633 4.986 11.305 14.666 21.461 Sudeste Paraense 5.621 7.870 8.098 6.679 3.488 5.571 5.957 5.417 Sudoeste Paraense 5.209 3.338 3.604 4.057 3.258 2.077 2.353 3.099 Metropolitana de Belém 3.386 3.706 3.903 4.144 1.411 2.257 2.243 4.176 Baixo Amazonas 2.071 2.007 2.460 2.168 1.427 1.286 1.773 3.460 568 1.096 1.285 768 169 368 473 414 Marajó Fonte: LSPA/IBGE, disponibilizado por SAGRI, 2011 Os dados das tabelas acima trazem várias informações sobre a produção de cupuaçu no Pará entre 2001 e 2011: - A área colhida dobrou em 10 anos, - O rendimento médio neste período, permaneceu idêntico, com aproximadamente 3,3 t /ha, - O preço de 2006 a 2010 aumentou 15%. Entre 2010 e 2011, o aumento foi bem mais significativo, atingindo 136%, o que se explica principalmente pela aumenta da demanda no mercado, - Os 2/3 da produção se concentram na região Nordeste do Estado. Isso se explica principalmente, pelo nível de organização, a presença e acessibilidade de infra estruturas de transporte e de beneficiamento, e a proximidade com Belém e a região metropolitana. De ponto de vista agronómico, é nesta região que foram desenvolvidas e implantadas as técnicas de produção mais intensificadas. II.1.1- Características gerais da produção Desde os tempos pré-colombianos, o cupuaçu era cultivado pelas populações indígenas amazônicas. A cultura começou a ter expressão econômica a partir da década de 1970, em particular quando foi utilizada para ocupar áreas de pimenteiras-do-reino que estavam sendo dizimadas pela fusariose. Até essa época a produção de frutos provinha basicamente de pequenos plantios em quintais agroflorestais, principalmente destinada ao auto consumo. O cultivo do cupuaçuzeiro organizado como cultura comercial é bastante recente. Atualmente, a maioria dos casos de pequenos produtores, a exploração ainda ocorre em bases extrativistas5. Isso significa que não é habitual realizar tratos culturais específicos para o cupuaçuzeiro, que seja em termo de seleção genética, adubação ou poda. Nas unidades familiares, a produção é associada a outras espécies de frutos (açaí, cacau, etc.) e/ou de espécies florestais. Não se encontra monocultivo. O material genético é muito diversificado com espécies locais. Mas apesar dessa diversidade genética apresentar boa adaptação às condições locais, essas espécies não são resistentes à vassoura-de-bruxa, que é o principal problema da produção, provocando perdas de frutas (entre 40% e 90%, são comuns) e uma gradual debilitação da planta que pode conduzir ao seu perecimento. Um outro fator importante tem estimulado fortemente a valorização, o melhoramento e o desenvolvimento do cultivo de cupuaçuzeiro. Efetivamente, a produção para fins alimentícios foi o único uso comercial do cupuaçu, valorizando a polpa da fruta. Há alguns anos, com o aumento da demanda de cosméticos inovadores, de origem natural e da Amazônia, a manteiga e o óleo de manteiga de cupuaçu, obtido a partir das sementes, entrou na composição de vários 5 O Censo Agropecuário de 1998 revela que 95% dos 15.207 estabelecimentos produtores, não utilizavam nenhuma tecnologia específica para os cupuaçuzeiros. 36 tipos de produtos cosméticos. As sementes, antes resíduos da agroindústria do cupuaçu, tornaram-se matéria prima para extração de óleo abrindo assim um novo canal de valorização e comercialização. A valorização das sementes para fins cosméticos ainda tem muito pouco expressividade, mas apresenta uma tendência forte de crescimento da demanda, o que estimula a produção. II.1.2- Programas e projetos de apoio a produção de cupuaçu A EMBRAPA Amazônia Oriental, foi quem mais investiu recursos na cadeia produtiva do cupuaçu. Iniciou nos anos 80 o programa de melhoramento genético do cupuaçuzeiro, que visava o desenvolvimento de materiais resistentes à vassoura-de-bruxa e com melhor potencial de produtividade. Em 2002, foram lançadas as primeiras quatro cultivares clonais que aliavam boa produtividade e resistência à doença. Atualmente são disponíveis 16 variedades. Além desses aspectos, vários trabalhos foram desenvolvidos no intuito de definir práticas culturais relevantes, como por exemplo a substituição de copa6. Este foi o principal programa dirigido ao melhoramento da produção de cupuaçu. O projeto ParáRural (2007-2013) iniciativa do Governo de Estado com empréstimo do Banco Mundial, apoiou vários Projetos de Investimentos Produtivos orientados para o fortalecimento da fruticultura. Esses projetos, orientados para pequenos produtores organizados em associação, com parte dos recursos reembolsáveis e outra como subvenção permitiram a implantação várias de sistemas agroflorestais com cupuaçu, a construção em equipamento de pequenas unidades de beneficiamento. II.1.3- Principais gargalos relacionados à produção de cupuaçu PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS NA PRODUÇÃO DE CUPUAÇU De ponto de vista técnico: ⇒ Faz parte das espécies nativas que os produtores não costumam “cultivar”, ou seja não se tem o costume de manejar o cupuaçu. Ele é ainda considerado como um produto do extrativismo. O manejo, quando praticado, é muito limitado (“atualmente quando o produtor planta cupuaçuzeiro, ele já faz muito”). ⇒ Irregularidade da produção devido em grande parte aos problemas e abordagem acima mencionados. ⇒ As espécies atualmente em produção não são resistentes a vassoura-de-bruxa (Moniliophtora Perniciosa) doença provocada por um fungo que ataca e destrói a fruta : isso aumenta a irregularidade de produção (até 90% de perda) e consequentemente da renda. ⇒ O potencial para valorizar a semente de cupuaçu não está considerado todavia. ⇒ Produção muito atomizada. De ponto de vista organizacional: ⇒ Ausência de uma assessoria técnica com proposta e perfil adequado as necessidades dos pequenos agricultores. ⇒ Ausência de organização entre os produtores que não têm a cultura de trabalhar em associação ou cooperativa: é um dos principais gargalos para o acesso ao beneficiamento e ao mercado em geral, tanto para produto in natura, como para produção já beneficiada (polpa 6 Essa técnica permite introduzir novas variedades aproveitando o sistema radicular implantado, o que reduz o prazo de alcance da plena produção. 37 principalmente). De ponto de vista do financiamento: ⇒ O preço das mudas das variedades melhoradas custam R$ 3,5 contra R$ 1 para as variedades tradicionais, o que tem limitado a renovação e a extensão dos pomares com material resistente. ⇒ O financiamento dos investimentos de implantação e do custeio (sabendo que são necessários vários anos entre o plantio/renovação de copa e as primeiras colheitas) é um fator limitante sério para os pequenos produtores. As taxas de inadimplência são altas (em muitos municípios superiores a 50% e até 60%). Este conjunto de entraves forma um círculo vicioso : Problemas sanitários, ausência de tratos culturais, produção muito atomizada II.1.4- Recomendações operacionais sobre a produção de cupuaçu com pequenos produtores rurais SUGESTÕES PARA MELHORAR A PRODUÇÃO DO CUPUAÇU De ponto de vista técnico: ⇒ Fortalecer e atualizar os conhecimentos dos técnicos, das entidades (publicas e privadas) prestadoras de serviços, com cursos modulares, aliando teoria, prática e visitas de campo. Existe no Estado, entidades (IDEFLOR, EMBRAPA) que elaboraram uma metodologia neste sentido e que poderia ser valorizada. Parcerias poderão ser construídas neste sentido. ⇒ Intensificar de forma sustentável a produção: pelas razões acima mencionadas, o rendimento médio atual é baixo e pode ser melhorado com a implementação de um conjunto de práticas divulgadas nas capacitações: o Cultivo consorciado e espaçamentos adequados, o Sombreamento balanceado, o Copa com altura controlada e com controle sobre a emissão de galhos, o Adubação, preferencialmente orgânica, suficiente e controlada, o Controle sistemático do mato e das pragas, o Colheitas diárias. ⇒ Trabalhar o melhoramento genético principalmente para enfrentar o risco da vassoura-debruxa. Isso pode se traduzir na implementação de duas estratégias paralelas e complementares: o Praticar uma seleção maçal e selecionar os melhores indivíduos nas propriedades familiares. o Apoiar (subsidiar) a aquisição de mudas de variedades resistentes a vassoura-debruxa ou a distribuição de sementes (para isso, é preciso definir com a EMBRAPA como produzir e distribuir essas sementes, porque isso constitua uma dificuldade atualmente). Inclusive alguns produtores / associações poderiam se especializar na produção de sementes/mudas das variedades melhoradas, com apoio das entidades 38 especializadas. o Apoiar (capacitações e assessoria técnica) a implementação progressiva de substituição de copa. Essa técnica relativamente recém, tem a vantagem de acelerar o processo de renovação (em 2 anos) que se torna mais rápido que o plantio (4 a 5 anos). Mas é preciso de um pessoal experimentado e, portanto, de um saber fazer específico, para realizar esta operação. ⇒ O cultivo de cupuaçu pode ser uma porta de entrada para fortalecer e desenvolver a prática dos Sistemas Agro Florestais (SAF), sendo que o sombreamento do cupuaçuzeiro de aproximadamente 25% é muito favorável. O bioma Amazônia oferece a possibilidade de implantar uma grande variedade de consórcios entre cultivos, com maior grau de sustentabilidade agronômica, económica e ambiental, lembrando que os SAF são bastante virtuosos para a agricultura sustentável: o Na fase adulta: com fruteiras ou essências florestais produtoras de frutas e óleos (açaizeiros, pupunheira, acerola, goiaba, coqueiro, taperebazeiro, cacau, castanheira, andirobeira, cumaruzeiro, murumurú, ucuúba, etc.) ou madeireiras nobres (mogno, jatobá, freijó, ingá, paricá, entre outras). o Na fase inicial, com: bananeiras, mamoeiros, feijão –guandu, maracujazeiro, etc. ⇒ Numa perspectiva de aumento e diversificação das fontes de renda, orientar a produção de cupuaçu (e portanto a organização dos produtores) como fornecedor de polpa e de sementes (escolha das variedades, dos canais comerciais, etc.). De ponto de vista organizacional: ⇒ Capacitar os produtores e garantir um dispositivo de assessoria técnica adequado para os pequenos produtores. Isto é um investimento necessário, de base, para permitir qualquer melhoria sustentável e durável da cadeia produtiva na sua integralidade. Um dos desafios centrais da capacitação dos produtores é a mudança de percepção em relação ao cupuaçu, para deixar de considerar a forma extrativista como a única forma de conduzir o cupuaçuzeiro. ⇒ Definir e apoiar a construção de novos sistemas de assessoria técnica: Existe no estado um potencial repartido entre entidades públicas (EMATER, IDEFLOR, SAGRI, SEBRAE, projetos do tipo do ParáRural, EMBRAPA, Universidades) não governamentais (ONGs) e privadas (empresas de beneficiamento e comercialização) a partir das quais seria possível construir um sistema de assessoria relevante. Os exemplos da CAMTA e da NATURA, mostram toda a pertinência que parte da assessoria seja também assumida pelas entidades responsáveis pelo beneficiamento e a comercialização da produção. Existe nestes casos interesses mútuos tanto para o produtor como para a entidade, de garantir a qualidade da prestação. ⇒ Apoiar a organização dos produtores: tendo em vista a dificuldade que eles têm para acessar ao mercado de forma individual e devido a uma produção muito atomizada e de pequena escala. Organizar os produtores desde a produção, para enfrentar as complexidades do transporte, e aumentar o poder de barganha será uma etapa fundamental para o fortalecimento da cadeia na sua integralidade. De ponto de vista administrativo: ⇒ Dois pontos devem ser abordados no intuito de fortalecer a questão da produção: trata-se da obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e do Cadastro Rural Ambiental (CAR). Frente às dificuldades dos pequenos produtores para atender as exigências 39 administrativas, um dispositivo de apoio específica para informar et orientar e ajudar esses produtores é algo imprescindível. De ponto de vista do financiamento: ⇒ Definir modalidades de financiamento adaptadas à situação dos pequenos produtores e que consideram as características da fruticultura em geral, ou seja que contemplam as necessidades de investimento inicial e de custeio durante os anos que precedem o pleno ritmo de produção. Sobre outros aspectos: ⇒ Mesmo se existe atualmente uma concentração da produção na região Nordeste, outras regiões apresentam também, as condições naturais a partir das quais a produção pode ser fortalecida. Nesses casos será necessário organizar a questão do beneficiamento e da comercialização. Definir estratégias geográficas diferenciadas para o apoio à produção: i) priorizando os municípios nos quais unidades de beneficiamento para polpa estão implantados (por exemplo naqueles vizinhos a Tomé Açu onde a CAMTA representa a maior capacidade instalada de processamento, armazenamento e comercialização do estado; ii) apoiando várias associações de uma mesma micro região, tendo em vista a constituição de uma massa crítica viabilizando assim a construção de novas unidades de beneficiamento. ⇒ Essas estratégias geográficas devem tomar em consideração as dinâmicas territoriais existentes: Territórios da Cidadania, Planos de Desenvolvimento Rurais Sustentáveis Territoriais assim como os Arranjos Produtivos Locais quando houver. O objetivo será de buscar sinergias e complementaridades. ⇒ Em cada regiões a instalação de unidades demonstrativas em propriedades de agricultores, seria uma ferramenta de divulgação de novas práticas, baseando-se na experimentação conduzida conjuntamente pelos agricultores e os técnicos. Essas unidades poderão assim ser valorizadas por intercâmbios entre comunidades. ⇒ É relevante buscar parcerias com empresas envolvidas no beneficiamento e na comercialização, como por exemplo a Natura, que tem interesse em assumir ou participar no monitoramento e acompanhamento de campo, para garantir a qualidade do produto final, boas práticas e rastreabilidade. Além do garantir um apoio sobre os aspectos técnicos vinculados com a produção, ela assume um apoio sobre a organização e a gestão das cooperativas de produtores, buscando um fortalecimento organizacional. ⇒ A integração dos jovens no desenvolvimento de novas técnicas de produção e formas de organização pode ser um fator estimulador. ⇒ Nas perspectivas comerciais, o mercado orgânico é uma delas. Isso necessita a implementação de um manejo específico da forma de organização dos produtores para atender as exigências requisitadas e obter assim os selos específicos. ⇒ As boas perspectivas comerciais tanto para a indústria alimentícia como para a indústria cosmética trazem uma certa garantia para realizar os investimentos necessários em nível da produção. 40 II.2- O processamento do cupuaçu II.2.1- Características gerais Trataremos neste capítulo de apresentar os processos de beneficiamento para a indústria alimentícia e para a produção de cosméticos. Em todos os casos, o processo consiste em quebrar a casca rígida da fruta, e depois proceder à separação da polpa que envolve as sementes. A partir dai começam dois processos distintos. II.2.2- Beneficiamento para indústria alimentícia A fabricação de polpa é a mais importante utilização do cupuaçu. Ela necessita de infraestruturas e equipamentos que permitem realizar o processamento e o armazenamento (polpas congeladas) dentro das exigências sanitárias. A colheita dos frutos maduros é quotidiana e ocorre durante 4 ou 5 meses. Mesmo se a casca rígida da fruta permite uma certa tolerância com as condições de transporte, quando mais curto o prazo entre a colheita e o beneficiamento melhor a qualidade do produto final. Assim a distancia entre o ponto de produção e a unidade de beneficiamento é um elemento determinante, como também a concentração de produtores em torno de cada unidade (por exemplo no caso da CAMTA em Tomé Açu, o raio de coleta é de aproximativamente 50 km). A tendência observada nos últimos anos é de aumento altíssimo das quantidades beneficiadas. Por exemplo entre 2008 e 2012, a quantidade de polpa processada pela CAMTA aumento 276 %, passando de 650 t para 1.800 t, ou seja um aumento médio de 69% por ano. Veremos no capítulo sobre a comercialização que o destino dessa produção: Ø continua centrado para abastecer o mercado local, constituído pela industries agroalimentares e os consumidores, Ø que a parte exportada fora do estado para outras regiões do pais está aumentando, Ø que a parte exportada para outros países está aumentando. II.2.3- Beneficiamento para a produção de óleos Vale a pena mencionar duas vantagens comparativas no caso da produção de óleo para cosméticos em relação a produção para polpas: i) é possível armazenar (sem custos elevados) as sementes após uma secagem realizada ao ar livre e juntar assim a produção até atingir um volume suficiente para realizar o beneficiamento, ii) o nível de investimento para instalar uma unidade é mais limitado devido ao fato que não se trata de um alimento e portanto não se aplica a legislação sanitária para produtos alimentícios. Atualmente a BERACA e a NATURA são as duas principais empresas compradoras de sementes como matéria prima para indústria cosmética. As duas empresas têm escolhido Belém para implantar suas unidades de beneficiamento que tratam de toda a produção da região amazônica, o que representa mais uma vantagem comparativa. Ao contrário das frutas frescas, o transporte das sementes é realizado num raio de coleta importante. Essas empresas compram geralmente as sementes, mas existe ume tendência para que o processamento primeiro ou seja a extração do óleo seja diretamente realizado pelos produtores. A Natura por exemplo assume a capacitação do pessoal e o acompanhamento da transformação nas comunidades, respeitando exigências predefinidas sobre as características do produto final. Fora desses dois principais atores, existem pequenas unidades de beneficiamento, que geralmente vendem a sua produção para essas indústrias maiores. 41 A demanda para este tipo de produto está em plena e forte expansão. Por exemplo a quantidade de manteiga de cupuaçu processada pela NATURA, passou de 6 t em 2008 para 40 t em 2012, ou seja, conheceu um aumento de 660 % em 4 anos (ou seja 165%/ ano). No mesmo período, passou a processar 14 t de amêndoas de murumurú em 2008 e 125 t em 2012, o que representou 890 % de aumento. II.2.4- Principais gargalos GARGALOS DO BENEFICIAMENTO DO CUPUAÇU De ponto de vista da organização e da gestão: ⇒ A produção muito atomizada e a ausência de uma organização de coleta, limita a possibilidade de negociar volumes para o processamento. O abastecimento regular com quantidades previsíveis é algo complicado para estruturar e organizar as unidades de beneficiamento e consequentemente planejar a comercialização. ⇒ Existem poucas unidades de beneficiamento, e as unidades existente são geralmente as mesmas que processam o açaí (CAMTA, COFRUTA). ⇒ Dificuldades de gestão por falta de conhecimento e experiência das pessoas que são escolhidas pelas organizações locais (cooperativas) para assumir a gestão de unidades de beneficiamento. ⇒ Ausência de assessoria técnica específica e orientada para acompanhar o funcionamento e a gestão de unidades de beneficiamento. ⇒ Produção pouco diversificada e principalmente concentrada na fabricação de polpa congelada. De ponto de vista do financiamento: ⇒ Devido as exigências sanitárias e aos processos e equipamentos utilizados (estocagem por congelamento), o nível de investimento inicial é alto e por isso precisa de fontes e formas de financiamento adequadas. ⇒ Dificuldade de constituir ou acessar a um capital de giro. Este motivo é frequentemente um dos limitantes principais, que provoca o baixo funcionamento das unidades de beneficiamento e até o encerramento de muitas delas. II.2.5- Recomendações operacionais sobre o beneficiamento COMO MELHORAR O BENEFICIAMENTO DO CUPUAÇU? Para fins alimentícias ⇒ Diversificar: atualmente a maioria da produção está destinada para produção de polpa. A 42 demanda do mercado e as técnicas de processamento permitem hoje de abordar o beneficiamento do cupuaçu tendo em vista uma possível diversificação valorizando as sementes, para produzir óleos e cupulate. ⇒ Para o mercado alimentício: construção de pequenas unidades de beneficiamento de polpa dentro do padrão sanitário, tendo em vista a comercialização local para os mercados privados (minimercados, padarias, restaurantes, etc.) e institucional (PNAE, PAA) até agora ainda pouco valorizados. ⇒ Nessas unidades, buscar trabalhar um beneficiamento diversificado: além da polpa que representa o caro chef, investigar possibilidade de transformação em geleias, doces, e recheios com cupuaçu, e cupulate. ⇒ Parceria/contratos com empresas de grande porte (Lacta, Garoto, empresas de sorvetes) pode ser uma possibilidade, desde que seja possível atender as exigências e as necessidades dessas. Para fins cosméticas: ⇒ O entusiasmo pelos óleos vegetais da Amazônia deve ser mais valorizado para os pequenos produtores. ⇒ É necessário pensar a produção de matéria prima para cosméticos junto com a instalação de unidades de beneficiamento para produção de alimentos. ⇒ Para o mercado dos cosméticos: ele apresenta vantagens em relação a polpa, na sua flexibilidade sobre a colheita e no seu armazenamento. As amêndoas secas podem ser armazenadas durante vários meses. A estratégia poderia seguir duas linhas: o Construção de pequenas unidades (coletivas ou familiares) para a fermentação, a secagem e o armazenamento da amêndoa (elas poderiam também servir para o cacau). Isso para a venda da amêndoa. o Construção de pequenas unidades de extração de óleo e fabricação de manteiga, o que permitiria agregar um valor para os produtores. Neste caso é importante mencionar que essas unidades poderiam também servir para a extração de óleos de várias outros espécies locais cultivados ou espontâneas (como o murmurú, a andiroba) .Assim sendo o cupuaçu entraria numa lógica de produção diversificada de óleos e manteigas (tema a trabalhar também na definição da composição dos SAF como mencionado anteriormente). ⇒ Na construção de unidades de beneficiamento para polpa, realizar estudos de viabilidade para definir a pertinência de instalar unidade de fabricação de óleos (áreas de secagem, unidade de beneficiamento) com sementes de cupuaçu e outras espécies(andiroba, murumurú, etc.). Existe uma demanda da empresas de comprar já beneficiado em vez de comprar as sementes (é o caso da Natura que está numa dinâmica de decentralizar esse beneficiamento primário para que ele seja realizado diretamente pelas cooperativas produtoras). Essa agregação de valor, além de valorizar o cupuaçu, se traduz pela geração de renda para os produtores e suas entidades. ⇒ Estabelecer parcerias com as industrias compradoras tipo NATURA, BERACA para que elas participam na assessoria, nas capacitações e no acompanhamento técnico. ⇒ Estabelecer e fortalecer a relação com as empresas privadas de extração e processamento dos óleos vegetais, instaladas em Belém. ⇒ Aproveitar e valorizar o fato que as principais impressas de compra de matéria prima para indústria cosmética estão instaladas em Belém para desenvolver relação com cooperativas de produtores. 43 De ponto de vista organizacional: ⇒ Realizar estudos de viabilidade e definir as localizações mais pertinente. ⇒ Desses estudos de viabilidade devem ser elaborados planos de gestão ou de negocio, que são ferramentas necessárias para a gestão no dia a dia. ⇒ A gestão de unidades de beneficiamento por grupos de pequenos produtores deve ser antecipado, tratado com formações adaptadas, e acompanhada por um dispositivo de assessoria técnica durante a fase de funcionamento. Um sistema de assessoria técnica deve ser garantido para acompanhar as equipes encarregadas da gestão. De ponto de vista do financiamento: ⇒ Definir sistemas de financiamento adaptados ⇒ Definir nos planos de negocio ou de gestão, o acesso ao capital de giro, considerando: i) a estratégia comercial e as condições de comercialização, ii) as possibilidades do sistema bancaria. TEMAS PRIORITÁRIOS ⇒ CAPACITAÇÕES E ASSESSORIA TÉCNICA EM GESTÀO E ELABORAÇÃO DE ESTRAÉGIAS COMERCIAIS. ⇒ IDENTIFICAÇÃO DAS DIFERENTES POSSIBILIDADES DE MERCADO. ⇒ ACESSO AO CAPITAL DE GIRO. II.3- O acesso ao mercado do cupuaçu II.3.1- Características gerais do mercado cupuaçu Segundo o último censo agropecuário do IBGE (2006), a metade da produção de fruta in natura está vendida à intermediários, e 30% diretamente à consumidores. A venda para indústria de beneficiamento é o terceiro destino com 10% do volume total. Durante muito tempo a totalidade da produção tinha apena uma só saída. Existe atualmente dois mercados distintos: o alimentício e o recém mercado dos cosméticos. O preço pago ao produtor em Tomé Açu, no coração da maior região de produção, aumentou 55 % em 4 anos, passando de 60 centavos/kg em 2008 para 90 centavos em 2012. II.3.2- O mercado alimentício Em polpa, o produto é principalmente consumido na região amazônica. Isso se explica em grande parte pelo sabor pronunciado dessa fruta, que restringe por enquanto, uma penetração mais importante fora da região Box no 7: Um consumo muito local Amazônica. A prova desse consumo muito localizado, foram as No caso do Pará, 75% da produção está consumido no tentativas de desenvolver a produção fora da região próprio estado, geralmente puro. Em torno de 21 % da Amazônica, no litoral Sul da Bahia por exemplo. A produção é escoada no mercado nacional, na forma de ausência de consumo local e portanto de mercado impediu que as áreas de produção se mantenha. Boa polpa e em menor proporção adicionado em produtos parte da colheita foi escoada no Pará. transformados (sorvetes, doces, recheios, etc.) o que limita 44 a quantidade necessária de cupuaçu. O mercado internacional representa aproximadamente 4 % da produção Paraense. Os principais países compradores são o Japão e os Estados Unidos. A demanda está progressivamente se desenvolvendo. Desde os anos 90, a EMBRAPA elaborou o cupulate, chocolate produzido a partir da amêndoa do cupuaçu. Ele concorre com o chocolate, conquistando as pessoas que precisam evitar estimulantes sendo que ele não contem teobromina, substancia presente no chocolate. Contudo, o processo de elaboração continua delicado, devido a complexidade de extrair a membrana que envolve a amêndoa . Não existe ainda técnicas eficientes para realizar essa operação, o que dificulta uma produção em grande escala. II.3.3- O mercado dos cosméticos O aumento da demanda nacional e internacional por produtos cosméticos originários da Amazônia e da produção familiar tem sido extremamente forte. Por exemplo a produção da manteiga de cupuaçu da empresa NATURA passou de 6 toneladas em 2008 para 40 toneladas em 2012. Em quatro anos essa produção foi multiplicada por 6,5. Por enquanto o mercado é concentrado em poucas empresas. Duas empresas brasileiras ocupam uma posição importante no mercado, a NATURA e a BERACA. O exemplo do cupuaçu abre o caminho sobre uma grande diversidade de plantas amazônicas que produzem matéria prima para a indústria cosmética: por exemplo a NATURA processo 14 t. de murumurú em 2008 e 125 t em 2012. Junto ao cupuaçu essa grande diversidade deve ser manejada e valorizada, procurando manter a sustentabilidade ambiental, desenvolvendo e diversificando as fontes de trabalho e de renda para a população rural Paraense. II.3.4- Principais atores e infraestruturas existentes Os agentes envolvidos na cadeia de comercialização do cupuaçu apresentam as seguintes características: - Produção: composta por produtores rurais responsáveis pela oferta do produto in natura, que são provenientes de cultivos e / ou de ocorrência natural. Em alguns casos os produtores realizam beneficiamento primário (despolpamento dos frutos feito com tesoura) para obtenção de melhor preço de venda. Essa transformação permite comercializar a polpa a um preço duas vezes superior ao preço da fruta in natura. - Varejo r u r a l : são atravessadores que compram o cupuaçu in natura (e a polpa com os produtores que já realizaram essa etapa). A maioria deles faz o despolpamento e vende para diferentes agentes. Esses atravessadores trabalham com a compra de vários outras frutas além do cupuaçu. Eles têm geralmente infraestruturas e equipamentos rudimentares e fora das normas sanitárias requeridas. - Indústria de transformação: são pequenas empresas que realizam transformação do cupuaçu in natura em outros produtos finais como sorvetes, sucos, doces entre outros. A maioria encontrase em Belém em região metropolitana; - Varejo Urbano: são pequenos comerciantes varejistas (supermercados ou feirantes) que transacionam o fruto in natura ou na forma de polpa e vendem para o consumidor final local. A formação do preço do cupuaçu do produtor local até os consumidores locais passando pelos atores intermediários locais apresenta grandes variações. O preço de venda praticado pelos varejistas rurais e varejistas urbanos locais com os consumidores da região estudada atinge o equivalente a 1,84 vezes do 45 preço médio recebido pelos produtores. A indústria de transformação local vende direto para o consumidor local ao preço 11,33 vezes maior, porque se trata de produtos com alto valor agregado. Em termo de agregação de valor, o varejo local agrega 50 % de valor ao produto comprado aos produtores, enquanto a indústria de transformação local aporte 87% de valor agregado. II.3.5- Principais gargalos PRINCIPAIS GARGALOS DO ACESSO AO MERCADO PARA OS PEQUENOS PRODUTORES ⇒ Como constatado para as etapas anteriores da cadeia, a falta de organização dos produtores é um dos principais problema: cada um efetua suas vendas de forma isolada. Isso fragiliza o poder de barganha e limita o pequeno produtor a vender localmente. ⇒ Em geral, o pequeno produtor escoa a totalidade da sua produção por meio dos atravessadores, que pagam a integralidade do valor na hora da compra e se encarregam do transporte. ⇒ Na situação atual, o atravessador se torna de fato, o único ator capaz de assumir a articulação entre o mercado e o produtor. ⇒ A irregularidade da produção e sua atomização são elementos que fragilizam o poder de negociação dos produtores e isso constitua também uma trava do lado dos compradores das indústrias de beneficiamento: eles dificilmente conseguem volumes regulares e dentro do padrão de qualidade exigida, ⇒ O cupuaçu não é objeto de marketing específico, tem uma falta de divulgação dos produtos e dos seus diferentes usos e por tanto isso não estimula o consumo. II.3.6- Recomendações operacionais para melhorar a comercialização em nível dos pequenos produtores. COMO ABORDAR AS DIFICULDADES DO ACESSO AO MERCADO? ⇒ Informar e capacitar os produtores sobre as formas de organização (principalmente em cooperativa) possíveis e que podem ser ferramentas de fortalecimento para acessar o mercado em melhores condições. Realizar um acompanhamento, um assessoria técnica na constituição e para o funcionamento dessas entidades. ⇒ Capacitar as equipes técnicas para que elas possam realizar uma assessoria adequada sobre o acesso ao mercado e as formas de organização. Isso inclui capacitações e assessoria sobre as exigências e os trâmites administrativos para que os produtores possam acessar os mercados públicos, entre outros. ⇒ Definir estratégias de comercialização desde a etapa da organização de produção e sobre tudo de beneficiamento. EM cada projeto de apoio para a cadeia do cupuaçu será necessário realizar os estudos de viabilidades que incluirão essas questão da definição de estratégia de comercialização. A partir dai, elaborar planos de comercialização, utilizados para guiar os 46 ⇒ ⇒ ⇒ ⇒ ⇒ produtores para negociar e se organizar da melhor forma possível Buscar construir essas estratégias diversificadas, valorizando os diferentes canais de comercialização: o Com o mercado local (fruto in natura, polpas) diretamente para consumidores, nas feiras locais, e/ou para as agro indústrias, o Com as diversas modalidades das compras públicas específicas para a agricultura familiar, tais como o PAA, PNAE. Aproximar os produtores dos consumidores, ou seja reduzir a importância dos intermediários quando isso é possível e assumir certas funções quando a viabilidade financeira está garantida. A proposta não é de eliminar as funções de certos atores, mas sim diversificar os canais comerciais. Essa possibilidade pode ser alcançada com a construção de pequenas unidades de beneficiamento de frutas produzidas localmente, em polpas, tendo em visto o mercado local privado e/ou institucional, bastante interessado em polpas de frutas. Considerar que a inserção no mercado é um processo progressivo, principalmente para organizações de produtores insipientes e com fragilidade na produção. Procurar negociar termos de compromissos com empresas que pagam um adiantamento (que pode chegar a 30% do valor definido) na assinatura. Privilegiar e desenvolver relações comerciais com empresas que assumem atividades complementares: capacitações, assessoria técnica, pagamento antecipado. No caso do mercado de óleos para indústria cosmética: ⇒ Na busca de parceria, privilegiar instituições ou empresas que praticam a repartição de benefícios (como o pratica a Natura por exemplo) com base os princípios da Convenção de Diversidade Biológica. A devolução de uma parte dos benefícios para as comunidades produtoras, representa uma fonte de financiamento e atua em favor de relações de parcerias sustentáveis. ⇒ Vale a pena lembrar que o cupuaçu pode entrar como um dos produtos carro-chefe numa estratégia para produzir óleo vegetais de várias espécies7 (murumuru, andiroba, etc.). Lembrando que a melhoria da comercialização está estreitamente ligada à melhoria no segmento produtivo e na organização dos produtores. Essas são condições imprescindíveis para poder construir novas relações com compradores, relações de parcerias e que remuneram melhor o trabalho dos pequenos produtores rurais. II.4- Conclusões sobre a cadeia do cupuaçu. Como melhorar as condições de vida dos pequenos produtores paraenses com o cupuaçu? Vamos lembrar aqui os principais pontos mencionados nas páginas acima. A análise da cadeia do cupuaçu mostrou o dinamismo e o crescimento importante nesses últimos 10 anos. As previsões e os sinais atuais indicam que a demanda em cupuaçu vai continuar aumentando tanto de ponto de vista quantitativo como qualitativo. 7 A empresa NATURA trabalha com 19 tipos de matérias primas oriundas da Amazônia. 47 Outro fator de peso nas perspectivas de desenvolvimento da cadeia é o crescente consumo de produtos cosméticos tendo como componente o cupuaçu. Isso abriu novos horizontes. Isso permite pensar o cultivo do cupuaçu tendo em vista esses dois mercados. O cupuaçu, tipicamente da Amazônia, bastante adaptado as condições edafoclimáticas, é também característico dos pequenos produtores. Esses últimos anos, os avanços da EMBRAPA Amazônia Oriental foram importante na evolução de material vegetal, tendo em vista concepção de espécies mais resistente à vassora-de-bruxa, principal ameaça da produção. Os primeiros melhoramentos devem se concentrar no fortalecimento do cultivo, que sofre atualmente de um manejo muito rudimentar, que limita qualquer possibilidade de poder oferecer um produto de qualidade, com a regularidade e os volumes necessários para valorizar o produto. Uma característica importante do cultivo é que ele é bastante adaptado para entrar na composição de uma grande diversidade de sistemas agroflorestais (incluindo com o açaí), o que permite uma diversificação das atividades e fontes de renda, além de garantir melhor sustentabilidade agronômica e ambiental. O fator limitante o mais importante, é a falta de um dispositivo de assessoria técnica que possa acompanhar todas as etapas, desde a produção e até a comercialização. Não se trata aqui de realizar apenas capacitações, mas também e sobre tudo, pode estar presente ao lado dos produtores nas diferentes fases. Essa assessoria é algo imprescindível, considerando a o perfil dos pequenos produtores e o nível de necessidades que eles apresentam. Essa assessoria se justifica também pela pouca estruturação da cadeia do cupuaçu, que demanda uma atenção reforçada. É necessário que a formação, o apoio e o acompanhamento dos produtores incorpora questões técnicas diretamente vinculadas ao cultivo, questões sobre a organização dos produtores em associação ou cooperativa, aspectos vinculados com a gestão técnica, administrativa e financeira de unidade de beneficiamento. Por fim, as formações e o acompanhamento dos produtores deve evidentemente abordar temas relativos à comercialização. No que diz respeito o beneficiamento do cupuaçu, é relevante desenvolver e fortalecer uma estratégia de duas mãos. Por um lado, poder multiplicar unidades de beneficiamento, administradas por cooperativas de produtores, dentro dos padrões sanitários exigidos, para realizar um primeiro processamento e agregar valor, lembrando que essas unidades podem beneficiar além do cupuaçu, uma grande variedade. Por outro lado e de forma complementar às unidades de beneficiamento da polpa, com a instalação de unidade de processamento das sementes para produção de óleos para indústria cosmética. A questão do acesso ao mercado é outro gargalo que apresenta possibilidades de evolução para melhorar a valorização do trabalho dos produtores rurais, em particular aqueles em situação de maior fragilidade. Isso depende de melhorias no cultivo, nas formas de organização e assessoria técnica principalmente. Deve-se considerar todas as formas de comercialização e a partir dai construir estratégias que diversificam os canais de venda, as oportunidades e os riscos. Existem possibilidades pouco valorizadas, com as feiras locais, as modalidades do mercado governamental e as agroindústrias locais, para as quais os produtores precisam de apoio. O objetivo para essas diversas possibilidades, é de assessorar também os produtores para reunir as condições e construir parcerias entre organizações de produtores e agroindústrias, e os atores envolvidos no beneficiamento e a comercialização em geral. Portanto o cupuaçu representa uma entrada para trabalhar a questão da fruticultura, e abarcar assim muitas outras espécies de frutas com o intuito de produzir polpas e óleos vegetais. É uma produção típica da agricultura familiar do Pará, que constitua uma alavanca para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Estado, integrando as competências e os recursos disponível nos atores públicos e privados que atuam no Pará. Neste sentido, definir um programa de fortalecimento e desenvolvimento da cadeia na sua integralidade seria relevante. 48 Referências Bibliográficas AçaíPalmSeeds.com. 2013. [cited 21/11 http://www.acaipalmseeds.com/international-acai-production/. 2013]. Available from Banco do Brasil. 2010. "Fruticultura - Açaí." In Desenvolvimento Regional Sustentável, 52. Brasília: Banco do Brasil. Carvalho, David Ferreira, and Antônio Cordeiro de Santana. 2008. "Dinâmica de Produção, Comercialização e Sazonalidade de Preços de Frutas Frescas no Estado do Pará." In Análise Sistêmica da Fruticultura Paraense: Organização, Mercado e Competitividade Empresarial, edited by Antônio Cordeiro de Santana, David Ferreira Carvalho and Fernando Antônio Teixeira Mendes, 147-180. Belém, PA: Banco da Amazônia. Embrapa Amazônia Oriental. 2013. Sistema de Produção do Açaí. Embrapa 2006 [cited 21/11 2013]. Available from http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Acai/SistemaProducaoAcai_2ed/. Ministerio da Agricultura Pecuário e Abastecimento (MAPA). 2013. Mato Groso e Pará têm as maiores áreas de orgânicos do país. Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento 2012 [cited 21/11 2013]. Available from http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos/regularizacaoproducao-organica. Poll, Heloísa, Benno Bernardo Kist, Cleiton Evandro dos Santos, Erna Regina Reetz, Cleonice de Carvalho, and Daniel Neves da Silveira. 2013. "Energia Pura." In Anuário Brasileiro da Fruticultura 2013, 43-45. Santa Cruz do Sul, RS: Editora Gazeta Santa Cruz Ltda. RESCHKE, A. et al. Experiência: Nossa Várzea: cidadania e sustentabilidade na Amazônia brasileira. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Santana, Antônio Cordeiro de, and David Ferreira Carvalho. 2008. "Estrutura, Concentração e Poder no Mercado de Frutas Frescas no Estado do Pará." In Análise Sistêmica da Fruticultura Paraense: Organização, Mercado e Competitividade Empresarial, edited by Antônio Cordeiro de Santana, David Ferreira Carvalho and Fernando Antônio Teixeira Mendes, 183-203. Belém, PA: Banco da Amazônia. Santana, Antônio Cordeiro de, and Francisco de Assis Costa. 2008. "Mudanças Recentes na Oferta e Demanda do A;a[i no Estado do Pará." In Análise Sistêmica da Fruticultura Paraense: Organização, Mercado e Competitividade Empresarial, edited by Antônio Cordeiro de Santana, David Ferreira Carvalho and Fernando Antônio Teixeira Mendes, 205-226. Belém, PA: Banco da Amazônia. Secretaria de Estado de Agricultura - SAGRI. 2013. Legislação. Governo do Pará 2013 [cited 21/11 2013]. Available from http://www.sagri.pa.gov.br/posts/subarea/programa_estadual_de_qualidade_do_acai_peqa/legislacao. Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará. Boas Práticas para Batedores de Açaí e Bacaba. In Governo do Pará. Belém, PA: Programa Estadual de Qualidade do Açaí. 49 Anexos 50 Anexo 01 Produção de cupuaçu por microrregião e municípios Mesorregião Quantidade produzido (toneladas) Microrregião Município 2003 2006 2009 Valor da produção (R$ 1000) 2011 2003 2006 2009 2011 Pará 30 417 39 045 41 274 41 449 14 738 940 22 863 789 27 466 150 38 027 081 Nordeste Paraense 13562 21028 21924 Cametá 23633 4985850 11304680 14666360 21461035 824 1272 1935 3089 436000 1107250 1701760 3013000 Abaetetuba 255 425 612 1 393 127 500 233 750 612 000 1 393 000 Igarapé-Mirí 140 300 476 760 70 000 150 000 242 760 684 000 Oeiras do Pará 264 282 282 470 132 000 141 000 282 000 470 000 Cametá 160 200 200 200 104 000 400 000 200 000 200 000 Mocajuba 0 0 300 200 0 0 300 000 200 000 Baião Limoeiro de Ajurú 0 60 60 60 0 180 000 60 000 60 000 Guamá São Domingos do Capim Irituia São Miguel do Guamá Nova Esperança do Piriá Capitão Poço Cachoeira do Piriá 5 5 5 6 2 500 2 500 5 000 6 000 97 146 184 303 54100 75800 147280 729 872 16 16 42 90 12 800 9 600 29 400 279 900 48 48 60 75 24 000 21 600 60 000 210 000 29 48 48 68 14 500 24 000 33 600 188 972 0 30 30 30 0 18 000 21 000 21 000 0 0 0 30 0 0 0 21 000 4 4 4 2 600 3 280 9 000 10 2 800 12 261 19 200 19 212 19 500 4 209 300 9 686 280 12 395 520 16 260 000 Tomé-Açu 6 000 10 800 10 800 11 880 1 800 000 6 480 000 8 100 000 10 692 000 Acará 3 408 3 408 3 420 3 600 1 022 400 1 022 400 1 710 000 2 160 000 Moju Concórdia do Pará Tailândia 2 025 3 726 3 726 2 400 1 012 500 1 863 000 1 937 520 2 400 000 576 1 116 1 116 1 440 172 800 200 880 558 000 864 000 252 150 150 180 201 600 120 000 90 000 144 000 167 305 315 310 109 100 280 000 215 000 784 173 0 62 62 85 0 62 000 31 000 248 200 8 5 15 64 4 000 15 000 12 000 180 480 0 20 20 45 0 30 000 20 000 132 615 62 12 12 36 62 000 36 000 6 000 107 352 Tomé açu Salgado (6) São Caetano de Odivelas Terra Alta Colares São João da Ponta Vigia 20 50 50 56 16 000 50 000 50 000 56 000 Maracanã 20 20 20 15 10 000 19 000 20 000 34 200 Marapanim 57 120 120 9 17 100 60 000 60 000 25 326 Curuçá Bragantina Augusto Corrêa Igarapé-Açu Primavera Santa Maria do Pará São Francisco do Pará 0 16 16 0 0 8 000 16 000 0 213 105 278 431 177350 155350 206800 673990 1 0 0 0 750 0 0 0 40 40 40 64 20 000 120 000 40 000 179 200 0 13 13 13 0 7 150 7 800 9 750 150 30 60 66 150 000 15 000 60 000 145 200 22 22 165 288 6 600 13 200 99 000 339 840 51 Sudeste Paraense Tucuruí 5621 7870 8098 6679 3487690 5571469 5957340 5417046 1578 2410 2845 2386 1117000 2141836 2505470 2612600 Breu Branco 198 858 858 910 99 000 894 036 858 000 1 365 000 Itupiranga 510 240 540 132 255 000 168 000 378 000 79 200 0 0 25 25 0 0 17 500 15 000 Nova Ipixuna 290 387 497 414 145 000 154 800 347 900 248 400 Novo Repartimento Tucuruí 280 455 455 455 168 000 455 000 434 070 455 000 300 470 470 450 450 000 470 000 470 000 450 000 337 675 360 0 225790 452250 108000 0 Jacundá Conceição do Araguaia Conceição do Araguaia Marabá Brejo Grande do Araguaia Marabá Palestina do Pará São Domingos do Araguaia São João do Araguaia Paragominas 337 675 360 0 225 790 452 250 108 000 0 1572 1916 1733 1721 816600 782480 1059500 1132600 120 24 21 21 84 000 19 200 14 700 16 800 312 384 432 396 156 000 26 880 302 400 277 200 66 44 44 44 39 600 30 800 30 800 28 600 774 864 936 720 387 000 345 600 561 600 432 000 300 600 300 540 150 000 360 000 150 000 378 000 581 1117 849 362 463400 992280 689970 264466 Abel Figueiredo Bom Jesus do Tocantins Goianésia do Pará 0 204 60 33 0 204 000 60 000 38 940 136 340 195 70 115 600 306 000 85 020 40 880 135 162 189 224 81 000 97 200 132 300 163 296 Paragominas 180 216 225 35 136 800 190 080 236 250 21 350 Rondon do Pará 130 195 180 0 130 000 195 000 176 400 0 1200 1347 1335 1200 694400 982500 1063500 825500 0 0 0 32 0 0 0 12 800 100 92 80 21 60 000 46 000 48 000 21 000 192 57 600 240 000 144 000 115 200 Parauapebas Água Azul do Norte Canaã dos Carajás Curionópolis Eldorado dos Carajás 72 240 240 200 140 140 80 80 000 84 000 84 000 64 000 Parauapebas 828 875 875 875 496 800 612 500 787 500 612 500 105 144 123 140 52500 97200 114000 91880 0 0 0 22 0 0 0 22 880 105 126 105 100 52 500 88 200 105 000 60 000 0 18 18 18 0 9 000 9 000 9 000 248 261 853 870 118000 122923 416900 490000 12 12 48 64 0 3 600 14 400 32 000 0 0 110 110 0 0 55 000 110 000 36 31 22 22 18 000 10 323 11 000 11 000 140 158 632 632 70 000 79 000 316 000 316 000 Redenção Pau D'Arco São Geraldo do Araguaia Xinguara São Felix do Xingu Bannach Cumaru do Norte Ourilândia do Norte São Félix do Xingu 60 60 41 42 30 000 30 000 20 500 21 000 Sudoeste Paraense Tucumã 5209 3338 3604 4057 3257500 2077000 2353250 3098600 Altamira 3680 2248 2534 3194 2481100 1461000 1609550 2277900 52 Altamira Anapu Brasil Novo 615 328 656 760 615 000 196 800 393 600 608 000 83 180 605 629 66 400 180 000 302 500 503 200 572 412 35 36 457 600 288 400 17 500 25 200 Medicilândia 1 584 637 457 881 792 000 382 200 342 750 440 500 Pacajá Senador José Porfírio 42 84 84 244 29 400 67 200 67 200 195 200 279 147 147 100 279 000 102 900 73 500 100 000 451 406 496 500 225 500 203 000 372 000 375 000 54 54 54 44 16 200 40 500 40 500 30 800 Uruará Vitória do Xingu Itaituba 1529 1090 1070 863 776400 616000 743700 820700 Aveiro 194 194 108 81 97 000 97 000 54 000 40 500 Itaituba 38 38 47 24 15 200 17 100 23 500 12 000 Jacareacanga 34 52 68 39 20 400 36 400 47 600 27 300 Novo Progresso 15 15 30 31 7 500 15 000 30 000 46 500 Rurópolis Trairão Metropolitana de Belém Belém Barcarena Belém Castanhal Bujaru Castanhal Santa Isabel do Pará Santo Antônio do Tauá Baixo Amazonas Óbidos (9) 246 246 246 208 135 300 123 500 246 000 416 000 1 002 545 571 480 501 000 327 000 342 600 278 400 3386 3706 3903 4144 1411300 2256900 2243100 4175800 695 834 1056 994 347500 500400 633600 994000 695 834 1 056 973 347 500 500 400 633 600 973 000 0 0 0 21 0 0 0 21 000 2691 2872 2847 3150 1063800 1756500 1609500 3181800 1 944 2 100 2 100 2 100 583 200 378 000 1 050 000 1 260 000 357 357 357 480 285 600 1 071 000 357 000 1 358 400 315 315 315 450 157 500 157 500 157 500 225 000 75 100 75 120 37 500 150 000 45 000 338 400 2071 2007 2460 2168 1427400 1285690 1772850 3460300 71500 110700 170800 168000 151 177 180 177 Faro 8 16 22 22 4 000 10 400 24 200 22 000 Juruti 27 17 24 29 13 500 11 900 28 800 34 800 Óbidos 70 70 70 72 35 000 42 000 70 000 72 000 Oriximiná 34 34 34 40 17 000 20 400 23 800 28 000 Terra Santa 12 40 30 14 2 000 26 000 24 000 11 200 Almerim 135 148 184 159 73800 91840 184000 238500 Porto de Moz 72 72 100 99 36 000 43 200 100 000 148 500 Almeirim 63 76 84 60 37 800 48 640 84 000 90 000 Santarém 1785 1682 2096 1832 1282100 1083150 1418050 3053800 Alenquer 73 58 58 89 43 800 40 600 29 000 133 500 Belterra 560 560 600 920 280 000 336 000 360 000 1 840 000 Curuá 18 0 0 0 5 400 0 0 0 Monte Alegre 250 160 160 160 200 000 80 000 80 000 480 000 Placas 137 137 137 63 342 500 75 350 75 350 37 800 Prainha 123 143 151 150 98 400 114 400 151 000 225 000 Santarém 624 624 990 450 312 000 436 800 722 700 337 500 568 1096 1285 768 169200 368050 473250 414300 0 0 144 120 0 0 72000 72000 0 0 144 120 0 0 72000 72000 375 625 655 344 111000 202500 217500 190400 300 300 300 240 90 000 105 000 105 000 96 000 75 325 325 80 21 000 97 500 97 500 80 000 Marajó Arari Muaná Furos de Breves Breves Curralinho 53 São Sebastião de Boa Vista Portel Bagre 0 0 30 24 0 0 15 000 14 400 193 471 486 304 58200 165550 183750 151900 105 130 130 54 29 400 39 000 39 000 18 900 Gurupá 13 16 31 30 7 800 12 800 31 000 45 000 Melgaço 75 125 125 60 21 000 43 750 43 750 24 000 0 200 200 160 0 70 000 70 000 64 000 Portel Fonte: IBGE, 2012. 54 Anexo 02 Principais organizações na cadeia produtiva do Açaí 1. Cooperativo Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA): A cooperativa foi fundada por Japoneses e se tornou cooperativo em 1969. Atualmente é o empreendimento cooperativo mais bem sucedido da Amazônia (Tafner Jr. e DA Silva). Em 2009 contou com 122 agricultores associadas. A fábrica de produção de sucos, no qual representa 70% do movimento da cooperativa, funcione 24 horas na linha de produção de polpa de açaí, cacau e cupuaçu e em 2010 atingiu vendas de 3,5 mil toneladas e um faturamento bruto de R$34.051.328,11 (Tafner Jr. e DA Silva). Os produtos da CAMTA são exportados para os Estados Unidos, o Japão e a Itália, além de 9 estados Brasileiras incluindo: i. Pará: Tomé-Açu, Santarém, Marabá, Belém ii. Maranhão: São luis, Santa Inés, Açaílândia iii. Rio Grande do Norte: Natal iv. Tocantins: Araguina, Palmas v. Goiás: Anápolis, Goiânia, Rio Verde vi. Distrito Federal: Brasília vii. Minas Gerais: Presidente Olegário, Belo Horizonte viii. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro ix. São Paulo: São Paulo FASE - Consórcio de associações e cooperativas de produtores, sem fins lucrativos, com foco na organização e no desenvolvimento local. Em 2000, foi estruturada entre os municípios de Abaetetuba, Barcarena, Cametá e Igarapé-Miri (Pagliarussi 2010). Entre os membros incluí: 2. Cooperativo de Fruticultores de Abaetetuba (COFRUTA): Teve 131 sócios em 2010 e trabalha com a venda de polpa de frutas para o mercado regional. As famílias membros da COFRUTA praticam o replantio de frutíferas e recuperação de áreas degradadas onde o extrativismo é praticado. A cooperativa administra uma unidade industrial de processamento de frutas com capacidade instalada de 800kg por dia. Desde 2010, a cooperativa vem ganhando mercado na comercialização de polpa congelada (principalmente o açaí), principalmente para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro (http://www.agroecologiaemrede.org.br/experiencias.php?experiencia=905). Endereço: Passagem Coração de Jesus, n°152, Algodual CEP: 68440-000 Abaetetuba, Pará. Telefone (91) 3751-4955 / 3751-1181 3. 4. Associação de Batedores de Açaí de Barcarena (COOPBAB): Cooperativa e Resistência de Cametá (CART): 5. Associação Mutirão dos Trabalhadores Rurais de Igarapé-Miri: 6. Instituto açaí: Surgiu em 1999, é uma ONG que foca no desenvolvimento socioeconômico e educacional das comunidades produtores de açaí. Desenvolve projetos nas cadeias produtivas da fruticultura, em especial do açaí, da mandiocultura e dos resíduos sólidos (lixo) sob a luz do cooperativismo (http://institutoacai.blogspot.com.br/p/conheca-o-instituto-acai.html). 7. O Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (SINDIFRUTAS): Atualmente SINDIFRUTAS conta com 24 empresas associadas, todas localizadas nas regiões Nordeste Paraense e Metropolitana de Belém (www.amazonflavoursbrazil.com). Segue as informações de contato: Presidente: Solange Motta 55 Trav. Quintino Bocaiúva, 1588, Bloco B, 6º andar - Nazaré 66.035-190 | Belém-Pa Fone: (91) 3212-2619 e-mail: [email protected] (Informações tirados daqui http://www.fiepa.org.br/pt/sistemafiepa/sindicatos-filiados.html) Principais empresas na cadeia produtiva do Açaí 1. SAMBAZON: SAMBAZON é uma empresa batedora de açaí, localizado no Amapá, e é focada na exportação para os Estados Unidos. Segundo o site oficial da empresa, o açaí deles é fornecido por 10 mil pequenos produtores rurais. 2. Amazonfrut: A empresa é uma das mais antigas e existe desde 1983. Amazonfrut é uma agroindústria localizada na ilha de Murucutú em Belém. Nesta ilha, a empresa tem uma plantação de açaí e uma fábrica de beneficiamento. O açaí e extraído na ilha, batido, e preparado para exportação. As principais mercados são os Estados Unidos, o Japão e a Europa. 3. Bony Açaí: Indústria. Atenda principalmente o mercado nacional, mas também exporta para os Estados Unidos. Vende derivados do açaí com a marca Bony açaí. 4. Açaí Frooty: Açaí Frooty é uma agroindústria direcionada tanto para os mercados nacionais quanto para os mercados internacionais. É o líder de mercado na produção, transformação e venda do açaí. A empresa tem fábricas no Pará e em São Paulo. Em Belém a fruta é beneficiada in natura e em São Paulo é realizado a empacotagem e a criação de derivados de açaí (sorvetes etc.). A empresa tem 15 mil pontos de venda no Brasil. Em 2014 terminaram a construção de um galpão com capacidade de armazenamento de 80 toneladas de açaí por mês. Os países que exportam são: a. b. c. d. e. f. g. h. i. j. China Uruguai Austrália (onde é chamada de Amazon Power) Estados Unidos França Singapura Inglaterra Suíça Isreael Rússia 5. Globalfruit Amazônia (membro do grupo Globalbev): Distribuidor e fornecedor, focada na produção de açaí e derivados, tais como sucos de açaí e mixes. Localizado em Marituba, Belém. 6. Amaçaí (Brasphil Alimentos compl. Exp. E imp.): Empresa de beneficiamento e exportador de açaí. A empresa tem sede em São Paulo, mas conta com fornecedores de Belém. Exporta para os Emirados Árabes Unidos. 7. Raja Frutas (Amazonfrutas Polpas de frutas da Amazônia Ltda.): Agroindústria. Trabalha com a produção e comercialização de polpas de frutas, principalmente o açaí e cupuaçu. A matriz e fábrica estão localizadas em Santa Bárbara, Pará (planta de produção). Em Santana do Amapá tem uma planta de produção em menor escala que produz 25 toneladas por dia (para atender o mercado na baixa estação no Pará). 8. Bela Iaçá: Produz açaí e cupuaçu.