CAMINHO DE SANTIAGO E C u l t u r a Medieval Galaico - P o r t u g u e s a AI ostra Bibliográjica CAMINHO DE SANTIAGO E CULTURA MEDIEVAL GALAICO - PORTUGUESA Estátua do Apóstolo Obra São Tiago imortal do no "parteluz" mestre Mateo do "Pórtico de la (séc. XI). Gloria", MINISTÉRIO DA E D U C A Ç Ã O E CULTURA CAMINHO DE SANTIAGO E CULTURA MEDIEVAL GALA ICO-PORTUGUESA Mostra Bibliográfica Organizada pelo Cónego Dr. Emilio Silva, sob o patrocínio da Embaixada da Espanha e do Imtituto Brasileiro de Cultura Hispânica. \ BIBLIOTECA NACIONAL DIVISÃO D E PUBLICAÇÃO E DIVULGAÇÃO RIO DE JANEIRO — 1966 Exposição realizada em colaboração com a S e ç ã o de E x p o s i ç õ e s da D i v i s ã o de Publicações e Divulgação da Biblioteca Nacional. APRESENTAÇÃO A Biblioteca Nacional prossegue, com esta exposição «Caminho d\e Santiago e Cultura Medieval Galaico-Portuguêsa», o trabalho de divulgação erudita já responsável por uma compreensão popular de setores especializados da cultura. Trata-se de exposição bibliográfica que, através dos títulos, ergue o levantamento de uma das bases de nossa formação lingüística e literária, O Cónego Dr. Emílio Silva, que sugeriu e colaborou, — respondendo assim pelo êxito dia exposição —, esclarece em sua introdução da significação e da importância do material que se mostra. E, à sombra dêsse material, reaparece a identificação de uma cultura comum que corresponde a» encontro, nas raízes, de espanhóis, portugueses e brasileiros. ADONIAS FILHO Diretor da Biblioteca N a c i o n a l O CAMINHO DE SANTIAGO A ond'irá aquel romeiro, meu romeiro adond'irá? C a m i n o de C o m p o s t e l a , non sei s'ali c h e g a r á . O s pes leva cheos de sangre, e non pode mais a n d a r . M a l p o c a d o ! Pobre vello. non sei s a l i c h e g a r á ! (Romance galego) . « L a postrera de las tierras hacia donde el sol se pone»; a que projeta, como ponta de lança, sôbre o oceano ignoto e tenebroso o cabo Finis terrae; a que encima, pelo lado setentrional, o nobre país lusitano, é a região g a l e g a . Galícia, formosa e sempre verde, b a n h a d a por dois mares e esmaltada de suaves montanhas, vales frondentes e rios sinuosos que a fazem meiga como sua fala e como o caráter dos seus habitantes, tem em seu centro geográfico uma cidade santa, a terceira dêste universal apelativo, que, com Jerusalém e Roma, forma desde a Idade M e d i a o triságio de lugares de indulgência e de peregrinação: S a n t i a g o de Compostela, que do santo Apóstolo, c u j a s relíquias conserva, recebeu seu n o m e . N o ano 814, descobriu-se, em Compostela, o sepulcro do filho de Z e b e d e u . A notícia, autorizada comi declaração oficial do P a p a reinante, correu célere pela E u r o p a . D e todos o s quadrantes da Cristandade, nobres e plebeus, bispos, monges e sacerdotes, reis e santos acudiram a S a n t i a g o . N a pele da E u r o p a , como vincos de unha em superfície branda, vão desenhando-se os Caminhos de Santiago. « D e p o i s do S a c r á r i o — dizia Pio X I I — depois de R o m a , não há, talvez, lugar ao qual tenha acorrido, no decurso dos séculos, tão — 8 — grande número de peregrinos, como à capital de Galícia, Santiago de Compostela, onde repousam as relíquias do Apóstolo T i a g o o Maior.» Ê s t e acontecimento, que pôs em comunicação os povos mais distantes e diferentes da E u r o p a , provocou um surto de cultura extraordinário. A Galícia, que já nos séculos I V e V alcançara nível intelectual invejável, recebeu nôvo e vigoroso impulso que lhe fêz, no dizer de Fidel Fita, « M a d r e fecunda de la cultura espanola en la alta E d a d M e d i a » , e cuja principal manifestação foi o rápido desenvolvimento e perfeição alcançados pela sua língua, que se tornou logo maravilhoso instrumento lírico para os poetas de tôdas as regiões da E s p a n h a . « O h tierra de la fabla antigua, hija de Roma, que tiene campesinos arrullos de p a l o m a . . . ! » diria mais tarde o maior V a l l e Inclán. romancista da Galícia, D . Ramón dei N o caso, é êste o ponto que mais interêsse oferece a todos os que falam a língua portuguesa e a razão, também, por que aos elementos do Caminho de S a n t i a g o juntamos na Exposição os da Cultura Medieval Galaico-Portuguêsa. Com efeito, é na Galícia e em relação estreita com a s peregrinações jacobéias, que nasce e se desenvolve êsse instrumento de comunicação, que é a língua galaico-portuguêsa. A f o n s o X , o Rei Sábio, nasce em Toledo, e em castelhano escreve suas grandes obras, dando quase forma definitiva a essa língua. É em galego, porém, que escreve seu grande Cancioneiro, Cantigas de Santa Maria. Como êle, por sua vez, o rei D o m Diniz de Portugal e outros muitos poetas de ambas a s margens do rio Minho, que fazem da lírica g a l e g a a mais rica de tôdas a s literaturas românicas medievais. A o estudo dessa lírica e dos Cancioneiros c o n s a g r a r á M e néndez P e l a y o algumas de suas p á g i n a s mais belas de crítica literária, na Historia de la poesia Castellana, en la Edad Media (Madrid, V . Suárez, 1911, p. 2 1 9 - 3 2 1 ) , glosando a célebre p a s s a g e m do M a r q u ê s de Santillana, em sua Carta Ó Prohemio al Condes- — 9 — table de Portugal: « E después fallaron esta arte que mayor se llama e el arte comun, creo, en los reynos de Galícia e Portugal, donde non es el dubdar que el exercício destas sciencias mas que en ningunas otras regiones e províncias de E s p a n a se acostumbró; en tanto grado, que non ha mucho tiempo qualesquier decidores e trovadores d e s t a s partes, a g o r a fuesen Castellanos, andaluces o de la E x t r e m a d u r a todas sus obras componian en lengua gallega e portuguesa.» A partir do século X V I I entra em franco declínio o movimento jacobeu para recuperar-se em nossos dias, em que os caminhos que levam à terceira cidade santa do orbe são novamente freqüentados d e s d e a s regiões mais longínquas do O c i d e n t e . C o m o êste movimento reveste o caráter religioso que outrora lhe deu origem, vamos relatar os fatos que dentro do mundo católico justificam o apelativo de « s a n t a » outorgado à velha capital da Galicia, S a n t i a g o de C o m p o s t e l a . T r ê s são, no mundo, a s cidades que ostentam o título de s a n t a s : Jerusalém, R o m a e S a n t i a g o . Jerusalém, «elegeu-a J a v é p a r a que nela estivesse seu nome» (2 P a r . V I , 6) . E , embora de eleita se haja convertido em deicida, levando à morte de cruz o Filho de Deus, nosso divino Redentor, salvou o apelativo de santa pelo simbolismo que dela tirou S . João p a r a representar o céu: « E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu. do lado de D e u s , ataviada como uma e s p o s a que se engalana p a r a seu e s p o s o » ( A p . X X I , 2 ) . E S . Paulo, por sua vez, fala-nos da «Jerusalémi celeste» ( H e b r . X I I , 2 2 ) . Além disto, para nós os cristãos, aquêle mesmo lugar onde o j u d a í s m o rebelde pediu a morte de seu Rei e onde executou-a, é por isto mesmo, já que Cristo ali morreu p a r a nos salvar, lugar santíssimo e de eterna veneração, fato que nos explica o fervor d a s C r u z a d a s e a s peregrinações de todos os tempos àqueles santos lugares, onde se encontram o sepulcro de Jesus Cristo e a s p e g a d a s do S a l v a d o r . Roma, a cidade eterna — prima inter urbes — , foi santifi- c a d a pela presença e pela p r e g a ç ã o dos A p ó s t o l o s P e d r o e Paulo. A Romia dos C é s a r e s , « C a b e ç a do orbe, como lhe chamava T i t o Lívio ( H i s t . I, 1 6 ) , converte-se na R o m a dos P a p a s . Se, nos — 10 — séculos do paganismo, foi seu destino a regência política dos povos — Tu regere império populos, romane, memento (Vir., Aeneis, V I , 852') — nos séculos cristãos terá ela a regência espiritual de todo o mundo. S e d e do Sumo Pontificado, é ela também g u a r d a do túmulo de S . P e d r o . A terceira cidade santa da trilogia é S a n t i a g o de Compostela, meta espiritual da E u r o p a medieval nascente e guardiã do sepulcro e das relíquias do Apóstolo S . T i a g o o M a i o r . Nenhuma outra nação teve privilégio comparável ao de « H i s p a n i a » : o próprio Apóstolo que a evangelizou quis que nela repousassem suas relíquias, e, o que mais é, numerosas vêzes no decurso da sua história quis intervir pessoalmente para ajudá-la a defender a fé contra inimigos seculares. R a z ã o temos, pois, para chamar santa à cidade que o mesmo Apóstolo escolheu para seu glorioso túmulo. M a s é que, além disto, o povo fiel, não s ó da E s p a n h a , senão de tôda a Cristandade, ouviu o imperioso apêlo da fé e da penitência, e, durante séculos, fêz de S a n t i a g o de Compostela o terceiro santuário de peregrinação religiosa do mundo, eixo espiritual da catolicidade e alicerce da E u r o p a . Ê s t e ano de 1965 particularmente é jubilar > de indulgência e de g r a ç a . O Ano S a n t o tem para todos os cristãos um valor de símbolo e de síntese, e o presente de 1965, S u a Eminência o Cardeal Arcebispo comipostelano, Q u i r o j a y Palacios, denominou-o « A n o S a n t o da Unid a d e » , mui de acordo com o destacado papel histórico de « F a r o l de unidade» que, através de longos séculos, vem desempenhando o Santuário do Apóstolo S . T i a g o , e muito emi consonância, também, com o espírito mais aberto e de convivência, hoje em dia imperante, entre todos os povos e tôda sorte de homens. V e j a m o s de que modo a Divina Providência, que orienta e dirige os grandes fatos da história, preparou os acontecimentos que fizeram de Compostela a terceira cidade s a n t a . S . T i a g o o Maior, luz e padroeiro d a s E s p a n h a s , era natural de Betsaida, na província de Galileia, irmão mais velho de J o ã o Evangelista, amibos filhos de Zebedeu e de Santa M a r i a Salomé, e por esta, seguramente, primos de Jesus Cristo. O s dois irmãos eram pescadores, como pescador era seu pai Zebedeu, que vivia à margem do mar de Galileia e devia de ser pescador rico, pois tinha embar- — 11 — cação própria nobres. e fâmulos. Afirma S. Jerônimo que êles eram Jesus fêz dêles, com Pedro, a tríade dos seus prediletos entre todos os discípulos. S ó a êles distinguiu com sobrenomes especiais, dando a Simão o sobrenome de Pedro, e a T i a g o e J o ã o o sobrenome de Boanerges, que quer dizer Filho do Trovão; só a êstes três concedeu estarem presentes na t r a n s f i g u r a ç ã o do T a b o r , e depois fê-los testemunhas da sua A g o n i a no Hôrto d a s Oliveiras . Pedro, o discípulo amante; João, o discípulo amado; e T i a g o , o discípulo a p a i x o n a d o , diz Pérez de Urbel, formam a tríade confidencia] de J e s u s nos momentos mais solenes da vida do Mestre, na terra. ( C f r . L . Merino, Perfiles jacobeos, p . 30 s g s . ) E fineza singular teve Cristo para com a E s p a n h a nisto que, d ê s s e s três discípulos prediletos, recomiandasse a Pedro sua Igreja, a João sua M ã e bendita, e a T i a g o a E s p a n h a , para que a evangelizasse e fôsse seu perpétuo protetor, como de todos os povos ibero-americanos que dela haveriam de receber a fé católica. A vinda do Apóstolo S . P a u l o à E s p a n h a , cujo centenário solenemente se celebrou o ano p a s s a d o em tôda a Península, é um fato historicamente certo, e que a crítica histórica não tem dificuldade em admitir. Assim j á não acontece quando se trata da p r e g a ç ã o de T i a g o na E s p a n h a . E m b o r a repouse em mui sólida tradição, da qual já dá testemunho o sábio Dídimo o C e g o , em meados do século I V , em Alexandria, tradição que perdura até os nossos temipos, não faltaram hipercríticos, especialmente franceses, p a r a fazerem denod a d o s esforços no sentido de destruir a base desta crença histórica. N ã o é aqui o lugar de entrarmos numa discussão pormenorizada sobre êste a s s u n t o . D e bom g r a d o aceitamos a tradição antiga e imemorial que com tanta devoção e piedade é g u a r d a d a por tôdas a s igrejas da E s p a n h a . N a partilha que do mundo fizeram os A p ó s t o l o s ao saírem para pregar o Evangelho, T i a g o escolheu a derradeira parte do Ocidente e p a r a ela veio. O tempo que o santo A p ó s t o l o ficou na E s p a n h a e o fruto da sua p r e g a ç ã o e de seus g r a n d e s traba- — 12 — lhos ignoram-se. Certo é, porém, que êle regressou a Jerusalém e ali, comio nos relatam os Atos dos Apóstolos, foi decapitado, na perseguição aos cristãos movida por H e r o d e s A g r i p a , rei da Judéia, no ano 44 da nossa era, tendo sido êle o primeiro dos apóstolos a selarem com seu s a n g u e a fé em' Jesus C r i s t o . A l g u n s de seus discípulos, que da E s p a n h a o haviam acompanhado a Jerusalém, entre os quais nomes de A t a n á s i o Mártir e, em a tradição conservou e de T e o d o r o , tomaram rápido batel, conduziram-no o os corpo do santo para Iria Flavia, na bela e sempre verde região g a l e g a . V e n e r a d o no comêço, depois perdeu-se a memória do seu túmulo, por efeito das constantes perseguições sofridas pela Igreja da E s p a n h a . O certo é que, ou guiados por indicações da tradição, nunca morta de todo, ou por mediação de algum fato milagroso, os fiéis e o bispo de Iria Flavia descobriram o sepulcro no século I X , imediatamente difundindo-se o seu culto e veneração por todas a s regiões da E u r o p a . U m relato do descobrimento do sepulcro, relato cheio de candura, conta-nos que, em princípios do século I X , sendo T e o d o miro bispo de Iria Flavia, um eremita de nome P e l a y o disse ter visto resplendores estranhos em certo lugar imediato a S a n Fiz e ao pé do monte chamado Libredón. P a r a lá se dirigiu o Bispo com grande acompanhamento de gente, e, guiado por uma estréia, a 25 de julho do ano de 814 achou um sepulcro onde jaziam os restos mortais do Apóstolo S . T i a g o e de seus discípulos A t a n á sio e T e o d o r o . O bispo comunicou o achado ao rei A f o n s o II, e êste mandou levantar naquele local uma igreja, que constituiu depois o centro da cidade de C o m p o s t e l a . E m tempos de A f o n s o M a g n o foi demolida a primitiva e modesta igreja, e construiu-se outra que perdurou até a s devastador a s incursões de Almanzor, que saqueou os tesouros e destruiu grande parte do templo e da cidade. A f o n s o V I e o bispo D i e g o Peláez iniciaram a s obras da majestosa catedral atual, verdadeira jóia do estilo romântico, com o — 13 — maravilhoso Pórtico da Glória, a mais bela oração emi pedra que a arte cristã criou. N a catedral, e próximoi ao primitivo túmulo romano, onde repousavam a s relíquias, situou-se o nôvo sepulcro, com uma bela e rica urna que g u a r d a tão precioso tesouro. Ê s t e sepulcro é o fundamento em que se apóia o nimbo de santidade que desfruta aquela c i d a d e . Q u e na catedral compostelana se acham a s relíquias do Apóstolo, seria temeridade histórica negá-lo, pois não há nenhum fundamento sério que p o s s a deslustrar uma tradição b a s e a d a em razões e documientos solidíssimos, e que suportou o pêso de tantos séculos. E m fins do século X V I , o arcebispo de S a n t i a g o , J o ã o Sanclemente, escondeu o corpo do Apóstolo, com mêdo de que o pirata inglês Drake, protestante, que cercara a cidade de L a C o runa com um exército de 1 4 . 0 0 0 homens, p r o f a n a s s e a q u e l a s sag r a d a s relíquias que o pirata considerava como «empório da superstição p a p a l » . F ê z um sepulcro provisório na abside da catedral, e ali permaneceram elas ocultas até que, em 1879, o C a r d e a l Arcebispo P a y á y Rico mandou proceder a escavações que lograram êxito feliz. P a r a a identificação do achado, nomeou o C a r d e a l uma comissão de varões doutíssimos, que submeteram o assunto a um rigoroso p r o c e s s o . Aduziram-se provas e d a d o s , intervieram historiadores, arqueólogos, médicos, antropólogos e canonistas eminentes, examinaram-se e discutiram-se documentos e testemunhos, d a t a s e citações, fatos e conjeturas, «com minuciosidade quase incrível». Recebido o parecer da Comissão, baixou S . E m a . um decreto em que dizia: « C a n o n i c a m e n t e declaro que a s ditas Relíquias pertencem verdadeira e realmente a o s corpos do santo Apóstolo T i a g o Zebedeu, irmão de S . João E v a n g e l i s t a , e aos corpos de seus discípulos os S a n t o s A t a n á s i o e T e o d o r o , e que, portanto, são dignas de culto religioso, s e g u n d o o prescrito pela Igreja, e da honra dos a l t a r e s . « T o d a v i a , para maior segurança, para muito mais eminente glória dos nobilíssimos S a n t o s , para alegria e consolo de todo o - Í4 - povo católico espanhol, para edificação de tôda a família cristã, espalhada por todo o mundo, e finalmente para maior glória e louvor de Deus, elevem-se estas atas à s Santíssimas M ã o s de n o s s o Beatíssimo P a d r e o P a p a L e ã o X I I I , intervindo a S a c r a C o n g r e g a ç ã o dos Ritos para que, guiada pela luz divina, com seu certo e infalível juízo decrete o que definitivamente se deva de ter.» Acolhendo as súplicas do Cardeal de S a n t i a g o e de S . M . o Rei A f o n s o X I I , L e ã o X I I I sem demora constituiu uma nova C o missão de C a r d e a i s e de outros prelados competentes, a qual com o maior cuidado e rigor crítico examinou o processo, ordenou novas inquisições e novos testemunhos, até que, por fim, na Bula Deus omnipotens, de 1-11-1884, L e ã o X I I I ratificou e confirmou a sentença da Comissão, n a qual eram declaradas autênticas as relíquias de S . T i a g o e de seus discípulos A t a n á s i o e T e o d o r o . S ã o impressionantes as palavras de que neste caso se serve o R o mano Pontífice: « T a m b é m nós, a c a b a d a s tôdas a s dúvidas e controvérsias, por ciência certa e mota proprio aprovamos e confirmamos com autoridade apostólica a sentença de N o s s o Venerável Irmão o C a r d e a l Arcebispo de Compostela, sobre a identidade dos corpos s a g r a d o s do Apóstolo S . T i a g o o M a i o r e dos seus santos discípulos A t a n á s i o e Teodoro, e decretamos tenha ela fôrça e valor perpètuamente.» A o mesmo tempo mandava a todos os bispos do mundo que comunicassem a seus fiéis êste faustíssimo acontemento, para que « d e nôvo empreendam peregrinações àquele sepulcro s a g r a d o , segundo o costume de nossos m a i o r e s » . A s recentes escavações e exames arquelógicos levados a efeito na basílica compostelana dissiparam muitas dúvidas, e trouxeram inesperado reforço e confirmação à autenticidade d a s relíquias: o sepulcro primitivo é, sem dúvida, romano, do primeiro século do Cristianismo; e com os restos humanos de S . T i a g o achami-se também ossos de outros dois homens, que, sem dúvida alguma, correspondem aos discípulos A t a n á s i o e T e o d o r o . A tradição antiga escrita é viva e d u r a d o u r a . O u ç a m o s tãosómente o sapientíssimo S . Jerônimo, que, como eco de tôda a — 15 — Igreja em breves p a l a v r a s dá testemunho dos dois principais fatos j a c o b e u s : a vinda de S . T i a g o à E s p a n h a , e o descanso de seus restos mortais nela: « O Espírito Santo, que os reunira ( a o s doze A p ó s t o l o s e antes da vocação de S . P a u l o ) , deu-lhes a cada um o lugar que lhes coubera por sorte, de tal maneira que um partiu para a índia, outro para a Espanha, outro p a r a o Ilírico, outro p a r a a Grécia, de modo que cada um r e p o u s a s s e na província onde p r e g a r a o E v a n g e l h o . » P a l a v r a s tais, enfàticamente reiteradas, a s e não referirem a S . T i a g o o Maior, careceriam totalmente de sentido e de aplicação histórica. Descoberto em 814 o túmulo do Apóstolo, cheio de alegria o bispo T e o d o m i r o participa ao S o b e r a n o a novidade. O monarca abandona seu trono e, partindo de Leão para Compostela, com tôda a sua côrte visita o venerável corpo; reconhece-o, venera-o, e certifica-o. S e g u n d o os cronistas d a época, o céu confirma o fato com maravilhas estupendas e repetidas. U m a cidade populosa e um santuário magnífico elevam-se em meio a um deserto, sôbre os alicerces da crença pública. O s p a p a s cumulam de g r a ç a s e pri- vilégios a santa Basílica, enriquecemi-na os reis com presentes e donativos, e a E s p a n h a inteira emociona-se com a plausível notícia de a c h a d o tão precioso. L o g o a notícia p a s s a a s fronteiras e é difundida por tôda a E u r o p a cristã numa C a r t a do P a p a Leão III ( t 8 1 6 ) , então reinante, o mesmo que poucos a n o s antes coroara o Imperador C a r l o s M a g n o : « S a b e i , diletíssimos Reitores de tôda a C r i s t a n d a de, dizia o P a p a , que o corpo do bem-aventurado Apóstolo S . T i a g o foi levado íntegro ao território d a Galícia, na E s p a n h a . . . » E s t a C a r t a , cuja autenticidade, no entender do moderno historiador da Igreja B . Llorca (Hist. de Ia Igl. Católica, 3 ( B A C ) I , p . 1 3 7 ) , «fica absolutamente livre de tôda suspeit a » , foi por assim dizer o grande sinal para as peregrinações jacobéias. E n t ã o começa a vinda impetuosa de fiéis de todo o ocidente a S a n t i a g o de Compostela que fêz dos Carreiros dêle os mais freqüentados da E u r o p a . O s sucessores de L e ã o III impulsionam êsse fervor com g r a n d e s privilégios: Calisto II, em 1119, outorga a Compostela — 16 — a s g r a ç a s do Jubileu, e isto duzentos anos antes de serem estabelecidos os jubileus romanos. O papa Alexandre III, por sua Bula de 25 de julho de 1179, confirmou e perpetuou êsse privilégio, em virtude do qual todos os anos em que a festa principal do A p ó s t o lo S . T i a g o , 25 de julho, cai em domingo são, em Compostela, A n o s Santos, ou sejam, anos de especialíssimas graças, de Indul gência plenária, de remissão de pecados reservados, de comutação de votos, etc. A fama leva o nome e a glória de S . T i a g o a todo o mundo cristão. O coração dos fiéis palpita de alegria; inflamam-se êstes com a devoção ao filho de Zebedeu; organizam-se peregrinações que, seguindo o «Caminho de S a n t i a g o » de estréias da Via Láctea, levam a Compostela gente de países os mais remiotos, e que, como a s C r u z a d a s aos S a n t o s L u g a r e s da Palestina, constituem manifestações capitais do caráter religioso e aventureiro da Idade M é d i a , e do intercâmbio e formação da cultura européia. Famílias inteiras deixam suas c a s a s para irem visitar o s a g r a d o corpo e derramar lágrimas de ternura ante aquêle venerando sepulcro. Q u e espetáculo edificante não apresentam a s filas de devotos peregrinos que, atravessando os A l p e s e os Pirinéus, vêm a entrar pelo templo de S . T i a g o cantando hinos ao Senhor e ao S a n t o Apóstolo, e considerando a glória de venerá-lo como o galardão de suas fadigas! « A peregrinação jacobéia», dizia Pio X I I na C a r t a do A n o S a n t o de 1954, «acelerou e aprofundou o ritmo da história, serviu de crisol à elaboração d a s ciências e d a s artes, espalhou pelo mundo umi desejo de purificação, e por tôda parte difundiu aquelas ânsias de pacificação e de união fraternal dos espíritos que foram e continuarão sempre sendo a única e segura b a s e da paz.» D e S . T i a g o deriva o tipo universal do peregrino, repetidas vêzes imortalizado com seu clássico bordão na mão e com a esclavina coberta de conchas. O s peregrinos de Jerusalém eram c h a m a d o s palmeiros, por causa da palma que, qual glorioso troféu, traziam consigo de volta dos S a n t o s L u g a r e s ; os de Roma eram c h a m a d o s romeiros, por causa do nome da C i d a d e Eterna; s ó a o s de S a n t i a g o que com o bordão e a esclavina visitavam a casa de — 17 — 5 . Tiago ou dela regressavam, eram denominados peregvírups no sentido rigoroso da palavra, como escreve D a n t e : In modo stretto non s'intende pellegrino se non chi va verso la casa dt San ]acopo, o riede ( D e modo estrito não se entende por peregrino senão quem vai à casa de S . T i a g o , ou dela volta) ( c f r . F e r n á n d e z Sanchez y Freire Barreiro, Santiago, Jerusalém, Roma, Diário de una peregrinación. Santiago, 1880, I, 6 s . ) N o s reinos cristãos da Península, o patrocínio de S . T i a g o , experimentado com diversos prodígios do Apóstolo, infundia grande coragem a o s seus guerreiros, que s ó entravam em batalha ao grito de: 5 . Tiago, fecha a Espanha! N a epopéia nacional da Reconquista, durante os sete longos séculos de duração, o heroísmo espanhol sempre achou na proteção do Apóstolo fôrça e entusiasmo para enfrentar a e x p a n s ã o islâmica e assim salvar a E u ropa . E r a fama entre os muçalmanos, consoante referem seus próprios cronistas, que, guiados por aquele Herói invictissimo, cujo nome mil vezes bendito invocavam em s u a s lutas, os cristãos haviam alcançado repetidos triunfos sobre a s hostes do Crescente, pelo que constituía objeto especial de seu ódio aquela C i d a d e S a n t a da G a l í c i a . E m fins do século X . empunha a s rédeas do poder, no Calif a d o de C ó r d o v a , o g r a n d e Caudilho árabe Almanzor, homem dotado de extraordinário talento, «firme e audaz, prudente e pouco escrupuloso quanto a o s meios de alcançar um fim brilhante» ( D o z y ) . Reorganiza o exército, supera a s discussões internas, p a r a consolidar sua posição de primeiro ministro e de valido do C a l i f a , e empreende a « g u e r r a s a n t a » contra os cristãos, chegando, em poucos anos, a realizar umas cinqüenta incursões d e v a s t a d o r a s contra os reinos da Península. A S a n t i a g o chega êle por duas v ê z e s . N a última ( a n o 9 9 7 ) , entra e saqueia a cidade, destrói a catedral e a s fortalezas, e s ó se detém ante o túmulo do Apóstolo, g u a r d a d o por um monge, conforme nos referem os cronistas árabes, monge que Almanzor respeitou, tendo m a n d a d o que ninguém lhe fizesse mal. N a sua volta a C ó r d o v a , levou Almanzor g r o s s a prêsa e 4 . 0 0 0 cativos cristãos, a quem fez carregar nos ombros a s portas da basílica — 18 — demolida e o s sinos menores, que serviram de l â m p a d a s na grande mesquita, até que Fernando III o Santo, no século X I I I , reconquistou Córdova e fêz devolver a Compostela os sinos, nos ombros de a g a r e n o s . A tomada de S a n t i a g o produziu sensação profunda em todo o mundo cristão, pois, como já dissemos, S a n t i a g o de Compostela já era meca de inúmeras peregrinações. Por felicidade nossa, governava então a diocese de Iria F l a via o extraordinário bispo S . Pedro Mesonzo, autor inspirado d e s s a oração da esperança cristã, a Salve Reiinha, prece belíssima que a Igreja adotou na Liturgia, e que o s lábios modulam em todos os idiomas, e que ressoa em todos os âmbitos do m u n d o . Depois que Almanzor voltou a C ó r d o v a , o primeiro cuidado dêsse santo bispo foi, com o auxílio do piedoso rei Bermudo II, reparar os grandes estragos feitos na basílica, que, de nôvo, foi c o n s a g r a d a . A s razias de Almanzor não lograram deter o a f l u x o de peregrinos a C o m p o s t e l a . O número dêstes foi aumentando, e, para facilitar a s peregrinações, abriram-se caminhos através da E s p a n h a , França, Itália, Portugal e de tôda a E u r o p a , até o ducado de Moscóvia; cruzaram-se de pontes rios e barrancos, levantaram-se hospícios e mosteiros, como o grandioso mosteiro do S . M a r c o s de León, e, assim, o nome do Senhor S . T i a g o ecoava pelo mundo todo. E m começos do século X I I , o P a p a Calixto II, sendo ainda arcebispo de V i e n a de F r a n ç a , visitou o túmulo do Apóstolo, observou e estudou os pormenores do culto de S . T i a g o , da cidade e dos caminhos que a ela conduziam. D e tudo isso deixounos memória no seu notabilíssimo Líder Sancti Jacobi, mais conhecido pelo nome de Código Calistino, verdadeiro Baedeker para a rota jacobéia. V a m o s transcrever a l g u m a s p a s s a g e n s em que êsse a u g u s t o viajor, possuído de entusiasmo, descreve-nos o espetáculo maravilhoso que em tôrno da A r c a S a n t a ofereciam aquelas legiões de fiéis, vindos de todas a s regiões da Cristandade, relato que nos d á razão de por que o «Caminho de S a n t i a g o » foi, de fato, o veículo e fator principal de d i f u s ã o e unidade cultural da E u r o p a — 19 — na Idade M é d i a : «Ali vão, de todos os climas do mundo, inúmeras p e s s o a s de todas a s línguas, tribos e nações, a s quais v ã o por companhias e falanges, e, com ações de graças, apresentam ao Senhor seus votos, recebendo o prêmio de seus louvores. N ã o se pode contemplar sem maravilhosa alegria o espetáculo que oferecem os coros dos peregrinos a velarem em torno do venerando altar do bem-aventurado S . T i a g o . D e um lado postam-se o s Alemães, de outro os F r a n c e s e s , mais além os Italianos, todos com velas a c e s s a s nas mãos, de sorte que a igreja tôda brilha como o sol no dia mais esplendente. E ali permanecem todos em vigília e o r a ç ã o . . . N ã o há línguas nem dialetos cujas vozes ali não ressoem. . . Dia e noite, é uma solenidade continuada, uma continuada alegria em honra do Senhor e do Apóstolo s a n t o . A s portas de sua basílica nunca se fecham, nem de dia nem de noite, fugindo a s trevas de noite do a u g u s t o recinto, que brilha como o meio-dia, com a esplêndida luz das l â m p a d a s e das v e l a s . Ali vão os pobres, o s ricos, os e s f o r ç a d o s cavaleiros, o s que combatem a pé, os s á t r a p a s , os cegos, os coxos, os optímates, os nobres, os heróis, os próceres, os governadores, os a b a d e s . . . E s t a é a linhagem escolhida, a gente santa, o povo de D e u s , a flor d a s nações.?/ E termina seu relato com estas belíssimas p a l a v r a s : « E i s aqui a cidade de Compostela, cidade s a g r a d a pelos s u f r á g i o s do bemaventurado S . T i a g o , s a l v a ç ã o dos fiéis, alcáçar dos que a ela vêm. O h ! comi quanta reverência deve ser honrado e reverenciado aquêle s a g r a d o lugar em que tantos milhares de milagres têm ocorrido, e onde se conserva o sacratíssimo corpo do A p ó s tolo que teve a ventura de ver e tocar o D e u s feito carne!» (Líber sãncti Jacobi. Codex Calixtinus. S a n t i a g o de Compostela, 1951, p . 198-202) O mesmo Calisto II, testemunha ocular e de maior exceção (pois, como diz F e r n a n d e z Sánchez, « s a b i d o é com quanto escrupulosidade o g r a n d e Pontífice investigou, examinou, inquiriu, consultou os homens mais sábios, e compulsou documentos» para a redação do seu precioso livro), refere que em Compostela os milagres se realizavam a o s milhares c a d a dia — multa miraculovum millia [acta referuntur — , o que provocava fervor e entusiasmo indescritível entre os peregrinos. N o livro II do Código dá o — 20 — autor conta pormenorizada de 22 miilagres estupendos operados por S . T i a g o . V o u copiar tão somente o relato de um deles, cuja fama percorreu o mundo com a rapidez do raio, e que o próprio P a p a Calisto apresentou ao I Concílio de Latrão, em 1123: «Dizem que, movidos de piedosa devoção, trinta Heróis da Lorena resolveram visitar a basílica de S a n t i a g o da Galícia no ano 1080 da Encarnação do Senhor, jurando ajudarem-se mutuamente e guardarem entre si fidelidade. U m , todavia, não quis comprometer-se sob juramento. Postos a caminho, chegaram sem novidade à cidade de G a s c o n h a . T e n d o adoecido gravemente, um deles de modo algum pôde prosseguir a viagem, pelo que seus companheiros, consoante a fé jurada, foram-no conduzindo a cavalo e nos braços até Portus Gisere, g a s t a n d o 15 dias num caminho que os que v ã o livres costumam percorrer em cinco. Finalmente, c a n s a d o s e tristes, abandonaram o doente todos, menos aquele que não quisera obrigar-se por juramento, o qual dêle não se separou um s ó instante, com êle continuando a f a n o s a m e n t e seu caminho, até que chegaram ao cimo de umi monte muito áspero ao cair da tarde, ponto e hora em que a bela alma do doente saiu dêste miserável século. Aterrorizado o caridoso peregrino pela soledade do lugar, pelas trevas da noite, pela vista do defunto, pela gente que habitava aqueles montes, e não esperando socorro humano, pôs todo o seu pensamento em D e u s , xogando-lhe fervorosamente seu auxílio por mediação do Apóstolo, o qual lhe apareceu em traje de guerreiro, montado a cavalo. « Q u e fazes aqui, irmão?» disse êle àquele infeliz, a quem a angústia estava a ponto de lhe arrancar a alma. «Senhor, respondeu-lhe, tenho desejo vivíssimo de dar sepultura a êste meu companheiro, mas não acho modos de fazê-lo no meio desta imensidão.» A o que respondeu aquêle: « D á - m e cá o cadáver, e monta tu também atrás de mim até que cheguemos ao lugar da sepultura.» Dito e feito. A n t e s do pôr do sol apeava-se o Apóstolo no monte da Alegria, uma milha aquém do seu mosteiro, e deixava em terra os que consigo trazia, ordenando ao que vivo estava fôsse pedir a o s cónegos de dita basílica que dessem sepultura àquele peregrino do bemi-aventurado S . T i a g o » (vid. Fernández Sanchez, o p . c i t . , I, 20-21) . — 21 O filho de Zebedeu, que assimi quis glorificar seu túmulo em Compostela durante os séculos medievais, e de tantas maneiras manifestar seu amor e predileção pelos filhos da Ibéria, menor m a g n a nimidade não teve p a r a com os espanhóis que, com seu nome nos lábios e no coração, e com sua efígie nos pendões, vieram evangelizar a s terras da América e d a s Filipinas. Daí a repetição onomástica da cidade do Apóstolo no continente ocidental, pois não se acha ali república onde não se encontrem reiteradamente cidades com o nome de S a n t i a g o . N o precioso livro de Z a c a r i a s de V i z carra, La vocación de América, podem ,ver-se a s g r a ç a s e milagres do Apóstolo S . T i a g o e a s s u a s vinculações espirituais com a América. Por outra parte, se, como reza o adágio, amor com amor se p a g a , g r a n d e há de ser o amor de espanhóis e americanos ao seu insigne Padroeiro, o filho de Zebedeu, porque, além de nos presentear com a cidade santa de seu nome, quis ser-lhes seu pai na fé. C o m efeito, nós, os fiéis ibero-americanos, alémi de o considerarmos nosso evangelizador, podemos muito a d e q u a d a m e n t e atribuir-lhe o nome de Pai, de modo a n á l o g o que ao Apóstolo d a s Gentes, o qual, escrevendo a o s fiéis de Corinto, que êle evangelizara, reclama para si êsse título, em virtude de os haver g e r a d o para Cristo: In Christo Jesit per Evangelium ego vos genui (I C o r . 4, 15) . O próprio S . T i a g o bem claramente indicou sua proteção à s E s p a n h a s quando as escolheu paternal p a r a g u a r d a da sua sepultura. N o século p a s s a d o , a fama e as peregrinações a S a n t i a g o haviam diminuído consideràvelmente, mas nestes últimos anos a devoção ao A p ó s t o l o reverdeceu v i g o r o s a . A E s p a n h a , que d e s d e Recaredo manteve o insigne privilégio da unidade da fé católica, do mesmo modo que os países iberoamericanos que dela a receberam, não arriarão fàcilmente esta bandeira, pois também no futuro não lhes há de faltar a proteção celeste. E m S a n t i a g o tem seu assento e fortaleza sua unidade de crença, e não pode esta estar mais bem personificada do que nesse galhardo ginete que veste esclavina e conchas de p i e d o s o peregri- — 22 — no, mas, igualmente, a r m a s defensivas e ofensivas de valoroso cavaleiro. Sim, pois isto sempre foi o povo hispânico: um a p ó s tolo a r m a d o . Q u a n t o ou mais do que a Idade M é d i a necessita mundo volver os olhos e peregrinar a Compostela! hoje o N ã o sei se os tempos que corremos são melhores ou piores do que qualquer tempo passado, mas aquilo emi que nós todos convimos é, sem dúvida, em que a nós nos coube viver numa época de profunda e tempestuosa transição, e, portanto, de inesperadas e temíveis surprêsas. H á , sem dúvida, extraordinários progressos técnicos, desfrutamos um sem-número de regalias e de comodidades que nem por sonhos puderam imaginar nossos maiores. Sem embargo, nossa vida não é s o s s e g a d a e tranqüila como outrora. Vivemos em constante sobressalto, descontentes do hoje e ainda mais temerosos do a m a n h ã . À nossa vista e em cinematográfica perspectiva p a s s a m - s e coisas e sucessos tão extraordinários e desconcertantes, que, como alucinados, nos deixamos levar por êsse torvelinho, sem tempo, nem lugar, nem ânimo p a r a sobre êles meditar, para discernir o bom do mau, o transitório do eterno, o que deve conservar-se e mielhorar-se daquilo que é efêmero ou rejeitável, embora o rótulo de moderno e atual nô-lo queira introduzir de contrabando. Perdemos, perdeu o mundo, a antiga e cristã serenidade, ante a vertigem da vida moderna. Sentimos que somos levados à mercê do vento que impetuoso nos impele para p l a g a s desconhecidas e singrando mares nunca dantes navegados, como já dizia Camões. M a s será que não poderemos fazer uma p a r a d a nesta desorbitada carreira da vida, na era atômica? N ã o nos será possível subtrair-nos à voragem, recolhermo-nos emi nós mesmos, meditarmos no camiinho percorrido e na direção seguida, a fim de que não nos absorva de todo a vida presente, mas antes nos permita ordenar o vertiginoso acontecer quotidiano em função do nosso destino eterno? Sim, é possível, e muito mais a o s povos que, como os nossos, ainda conservam o suave aroma da fé cristã e o alto aprêço dos — 23 — valores do espirito, povos que não esqueceram inteiramente que a vida humana não termina em si mesma, pois tem a transcendência que corresponde aos que, possuindo em plenitude o humano, ao mesmo tempo são portadores conscientes de valores eternos. E m S a n t i a g o tem assento o cavaleiro flamívoma que dirige a s hostes cristãs, armado com espada D e f e n s o r alme Hispaniae, Jacobe, vindex hostium, e que, há vinte séculos, com seus próprios lábios, nos ensinou os rudimentos da f é redentora. A s E s p a n h a s recolheram esta bandeira, e a transmitiram aos países ibero-americanos: bandeira de Cristo, bandeira do glorioso S . T i a g o ! Com a proteção do Apóstolo, não a deixarão cair em terra, e na cidade de C o m p o s tela encontrarão sempre motivos de revigoramento, pois dali irradia a fé ardente e o impulso brioso do Filho do T r o v ã o , que nela estabeleceu s u a s t e n d a s . « O x a l á » , exclama o insigne liturgista francês, D o m ger, « o x a l á que um impulso do alto torne a conduzir para tela os filhos dos antigos clientes de S . T i a g o . Q u e i r a o S a n t i a g o volte a ser, de verdade, p a r a todos os crentes dos da fé, a terceira C i d a d e S a n t a da C r i s t a n d a d e ! » * * GuéranComposcéu que e solda- * A n t e s de encerrar estas linhas quero manifestar o meu sincero e comovido agradecimento a várias p e s s o a s e entidades que com s u a generosa e desinteressada colaboração têm sua parte no êxito desta E x p o s i ç ã o . Emi primeiro lugar ao P r o f . Adonias A g u i a r Filho, Diretor da Biblioteca Nacional, que gentilmente colocou à nossa disposição o S a g u ã o do palácio da Biblioteca p a r a a realização da M o s t r a ; e a o s funcionários da S e ç ã o de E x p o s i ç õ e s que nos prestaram seus valiosos auxílios. A g r a d e c e m o s também ao E x m o . S r . E m b a i x a d o r da E s p a nha, D . Jaime Alba, e ao Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica a assistência que em todo o tempo nos p r e s t a r a m . — 24 — Contribuíram com diversos elementos bibliográficos p a r a a E x p o s i ç ã o : o P r o f . Celso Cunha, que pôs à nossa disposição várias preciosidades de sua rica biblioteca de filologia luso-galiziana; o Ministério de Información y Turismo e o Instituto de Cultura Hispânica, de M a d r i d ; o Instituto P a d r e Sarmiento de E s t ú d i o s Gallegos, de Santiago; a Real A c a d e m i a G a l l e g a , de Corunha; a Archicofradia dei Apóstol Santiago; a s editoriais Porto & Cia., de Santiago, e G a l a x i a , de V i g o ; o senhor Victoriano Lopez dei Palacio e o P r o f . Antenor N a s c e n t e s . A todos, nosso mais profundo agradecimento. Rio, 25-12-1965. Côn. Dr. EMILIO SILVA Catedrático da U . E . G . e da Pontifícia Universidade Católica, Coordenador da Exposição Vista panorâmica de Santiago de Compostela desde o passeio da Hetradura. 1 . A G U A D O , Lola — Camino de S a n t Y a g o . Gaceta da. Madrid 1 . X ( 1 9 6 5 ) 28-37 ilus. coloridas. 2 . A G U I R R E P R A D O , Luis — La Ruta J a c o b e a . sepulcro una estrella. 206 p . Madrid, Ediciones IlustraSobre el Cronos, 1965. ilus. 3 . A L A M O , M a t e o de y P E R E Z D E U R B E L , Justo — V i a j e a Galicia de F r a y Martin Sarmiento ( 1 7 5 3 - 1 7 5 5 ) M s . de la A b a d i a de S i l o s . T r a n s c r i t o p o r . . . Edición y notas de F . J . Sánchez Canton y J . M . Pita A n d r a d e . (Cuadernos de Estúdios Gallegos. A n e j o III) S a n t i a g o de Compostela, Instituto P . Sarmiento de Estúdios Gallegos, 1950. 144 p . 4 . A L B E R O L A , Jesús — Hitos Jacobeos Burgos. Revista de Obras Públicas. en la província de Madrid. C X I I I (1965) 295-312 ilus. 5 . A L E J A N D R O , José M a r i a — Compostela y Occidente. Correo Gallego. Santiago. 6 . A L E J A N D R O , J o s é M a r i a — Intimidad C o m p o s t e l a n a . Correo Gallego. Santiago. 7. A L M E I D A L U C A S , Poesia. El 25-VI1-1965. João de — Crestomatia Arcaica. I Lisboa, s / d . 8 . A M O R M E I L A N , M a n u e l — Historia Lugo. El 25-VII-1965. de la Provinda de Lugo, A l o n s o , 1927: V o l . V I , de A l f o n s o V a Al- fonso I X , V o l . V I I , el siglo X I I I . 9. A N N É E S A I N T E D E C O M P O S T E L L E de Compostela. 1954. Santiago 1954 — Santiago Pôrto, 1954. 18 p . 10. A N N O S A N T O COMPOSTELLANO de Compostela, Porto, 18 p . - 26 - 11. A R A G O N E S , Juan Emilio — D o s Espectáculos de teatro jacobeo. La Estafeta Literária. M a d r i d . 327 ( 1 9 6 5 ) 9-11. 12. A R R I B A Y C A S T R O , C a r d . Benjamin de — E l Camino de Santiago, In: A n o Santo Compostelano. Suplemento nacional de la prensa del Movimiento. Madrid. (1965) p . 11. 13. A Z C A R R A G A , José Luís y Bustamante — Camino de S a n t i a g o . (Peregrinaje lírico hacia C o m p o s t e l a ) C a r t a - E p í logo de José M a . P e m á n . Santiago. 1953. 150 p. ilus. 14. B A L L E S T E R O S Y B E R E T T A , D . Antonio — La predication del Cristianismo en Espana. In: Historia de E s p a n a y su influencia en la Historia U n v e r s a l . Barcelona, Salvat, 1919, t . I p . 429-435. 15. B A R R E I R O , Luís — El Camino de Santiago. E d . Manius, 1954. 36 p . ilus. 16. B A R R O S , João de — Pequena guêsa. Lisboa, 1941. Barcelona, História da Poesia Portu- 17. B A T I S T A P E R E I R A , Silvio — Vocabulário da C a r t a de Pero V a z Caminha (Dicionário da Língua Portuguêsa, textos e vocabulários 3 ) . Rio de Janeiro. Instituto N a cional do Livro, 1954. 80 p . com vários fac-similes. 18. B E L L , Aubrey F . G . — T h e O x f o r d Book of Portuguese V e r s e ( X I I th Century — X X th Century) . O x f o r d , 1925. E x p o s i t o r : P r o f . Celso C u n h a . 19. B E L L , Aubrey F . G . — T h e Seven S o n g s of Martin Codax. In M L R , X V I I I , 1923, p p . 162-167. E x p o s i t o r : P r o f . Celso C u n h a . 2 0 . B E N E ( p s e u d , de Benedicto C o n d e G o n z á l e z ) Panxolina Xacobea. (Vigo). Ano Santo. 1965. U m a fôlha. 2 1 . B E N E — Cantiga de Pelegrino, V i g o , 1965, uma fôlha. 2 2 . B E R A R D I N E L L I , Cleonice — A u t o de Vicente A n e s Joeira (Dicionário da Língua Portuguêsa, textos e vocabulários). — 27 — Rio de Janeiro. Instituto Nacional p . e 42 de fac-similés. do Livro. 1963, 2 3 . M A I Z B E R M E J O — Peregrinando a Compostela. Hispânico. Madrid. VII (1954) 28. 2 4 . B E R T O N I , Ginlio — Antiche liriche portoghesi. 112 Mundo Modena, 1937. 25. B I G G S , Anselm Gordon (O.S.B.) First Archbishop of C o m p o s t e l a . of America Press, W a s h i n g t o n , D . C . 26. B O L E T I N Mensário. — Diego Gelmírez, T h e Catholic University 1949. D E LA REAL A C A D E M I A L a Coruna, R o e l . GALLEGA. 2 7 . B O N I L L A , Luis — Historia de las peregrinaciones en el Mundo. S u s orígenes, rutas y religiones. M a d r i d , Biblioteca N u e v a , 1965. 252 p . ilus. 2 8 . B O R G E S D A C R U Z — E m terras de G a l i z a . de Compostela e seu A n o S a n t o . Auge. Santiago Rio de Janeiro. I ( m a r / a b r i l de 1965) 16-17 ilus. 29. B O T T I N E A U , Y v e s — L e s Chemins de Saint-Jacques. Paris-Grenoble, A r t h a u d , 1964. 406 p . com 204 ilus. e um mapa colorido. 3 0 . B R A G A , T e ó f i l o — Cancioneiro português da V a t i c a n a . E d i ç ã o crítica restituída sôbre o texto diplomático de Halle, a c o m p a n h a d a de um glossário e de uma introdução sôbre os trovadores e cancioneiros portuguêses, por . . . Lisboa, MDCCCLXXVIII. Expositor: Prof. Celso Cunha. 31. B U G E L L A , José Maria — In: A n o S a n t o C o m p o s t e l a n o . L o s caminos de la Suplemento Leyenda. nacional de la prensa dei Movimiento, M a d r i d ( 1 9 6 5 ) p . 5 7 . 3 2 . B U S C H M A N N , Sigrid — Beiträge zum etymologischen W ö r t e r b u c h des galizischen. Bonn, Romanisches Seminar der Universität Bonn, 1965. 316 p . E x p o s i t o r : P r o f . A n tenor N a s c e n t e s . - 2S - 3 3 . C A B E Z A D E L E Ó N , S a l v a d o r — Historia de la Universidad de Santiago de C o m p o s t e l a . S a n t i a g o de Compostela. Instituto P . Sarmiento de E s t ú d i o s G a l l e g o s . 1947. 624 p . 3 4 . C A B E Z A S , Juan Antonio — Al Jubileo de las Letras y las A r t e s : Jornadas Literarias por el Camino de S a n t i a g o . Estafeta Literaria. M a d r i d . 324 ( 1 9 6 5 ) La 198-202. 3 5 . C O R R E A , Calderon — índice de utopias gallegas. M a d r i d , C . I . A . P . , s . d . 284 p . 3 6 . C A N T E R A O R I V E , Julián — La Batalla d e C l a v i j o . Aparición en ella de N u e s t r o Patron S a n t i a g o . Trabajo precedido dç un Estúdio sobre la Rioja Á r a b e e ilustrado con 131 fotografias y 5 mapas dei mismo a u t o r . Vitoria, Editorial Social Católica, 1944. 348 + V I I I p . ilus. 37. C A M I N O DE SANTIAGO. ticiário T u r í s t i c o » . Suplemento n^ 74 do « N o - M a d r i d , 1965. p . 5 0 . 3 8 . C A M Ó N A Z N A R , José — E l culto a S a n t i a g o . Franciscano. 1965) S a n t i a g o de Compostela. El LXXXII. Eco (junio, 147-148. 3 9 . C A N C I O N E R O M U S I C A L D E G A L I C I A recogido por Don C a s t o S a m p e d r o y F o l g a r , reconstitución y estúdio por D o n José Filgueira V a l v e r d e . T o m o I. — T e x t o . Tomo I I . — Melodias « E l M u s e o de P o n t e - V e d r a » , 1942, E x p o sitor: Biblioteca N a c i o n a l . 40. C A N T I G A S D E S A N T A MARIA DE DON ALFON- S O E L S A B I O . — L a s publica la Real A c a d e m i a E s p a n o l a . Prefacio dei M a r q u ê s de V a l m a r . Madrid, 1889. 2 v i s . E x p o s i t o r : P r o f . Celso C u n h a . 41. C A R R É A L D A O , E u g ê n i o . Literatura G a l l e g a (con extensos apêndices bibliográficos y una gran antologia de 300 trabajos escogidos en prosa y verso de la m a yor parte de los escritores r e g i o n a l e s ) . S e g u n d a edición puesta al dia — » — y notablemente aumentada en el texto y apêndices, Barcelona ( C a s a Editorial M a u c c i ) , 1911. E x p o s i t o r : Prof. Celso C u n h a . 4 2 . C A R R É A L D A O , E u g ê n i o — Influencias de la literatura gallega en la Castellana. E s t ú d i o s críticos y bibliográficos. M a d r d , F . Beltrán ( 1 9 1 5 ) 373 p . E x p o s i t o r : Emilio S i l v a . 4 3 . C A R R É A L V A R E L L O S , Leandro — Diccionario G a l e g o castelán e vocabulario c a s t e l â n - g a l e g o . 3 ' e d . Cruna, Roel. 1951, 891 p . 4 4 . C A R R O G A R C I A , J e s ú s — Coronica de S a n t a M a r i a de Iria. ( C ó d i c e gallego dei siglo X V ) Edición, prólogo, notas y glosario d e . . . ( C u a d e r n o s de E s t ú d i o s G a l l e g o s . A n e j o V ) S a n t i a g o de Compostela, Instituto P . Sarmiento de E s túdios G a l l e g o s . 1951, 124 p . 4 5 . C A R R O G A R C I A , Jesús — E s t ú d i o s J a c o b e o s . A r c a M a r mórica, cripta, oratorio o confesión, supulcro y cuerpo dei Apóstol ( C u a d e r n o s de E s t ú d i o s G a l l e g o s . Anejo X) S a n t i a g o de Compostela, Instituto P . Sarmiento de E s t ú dios Gallegos, 1954. 134 p . 4 6 . C A R R O , Jesus — El Românico de la C a t e d r a l de S a n t i a g o . Mundo Hispânico. Madrid. VII (1954) 32. 4 7 . C A R R O G A R C I A , Jesús — A s esculturas empotradas da Porta Santa. Compostela. Boletin de Santiago. la V Universidad (1933) de Santiago de 67-80. 48.. C A R R O G A R C I A , Jesús — El libro de los M i l a g r o s S a n t i a g o . El Correo Gallego. S a n t i a g o . 2 4 - V I I - 1 9 5 5 . de 4 9 . C A S A S , A l v a r o de las — Antologia d e poetas gallegos (El ciclo trovadoresco. renacimiento. La rial S o p e n a ) , 1939. L a decadencia. poesia nova). L o s precursores. Buenos Aires El (Edito- 5 0 . C A S A S , A l v a r o de las — S a n t i a g o de Compostela C o r a zón de E u r o p a . Buenos Aires, E m e c é ( 1 9 3 9 ) . 118 p . — 30 — 51. C A S T E L A O , A l f o n s o — A s cruces de pedra (Publicacion 1964. da Real Academia Gallega) na Galiza. Cruna, Moret, 34 p . ilus. 52. C A S T I L L O ELEJABEYTIA, Compostela. Dictinio Murcia. 1949. 250 p . 5 3 . C A S T R O , Américo — E s t a máxima Compostela. La Noche. Santiago. 5 4 . C A S T R O , Rosalia de — O b r a s y estúdio biobibliográfico. de — ciudad Lírios de Santiago de 25-VII-1958. Completas. Recopilación Rosalia de C a s t r o o el Dolor de Vivir por Garcia Marti, M a d r i d , Aguilar, 1960. 1588 p . 5 5 . C A S T R O V I E J O , José M a r i a Prensa Hispana-Brasileira. — Diptico dei A n o S a n t o . São Paulo. 29-VII-1965. 5 6 . C A S T R O V I E J O , José M a r i a — El alma románico-barroca de C o m p o s t e l a . El Eco tela. 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Millán — A n d a n d o por ei camino de S a n t i a g o . M a d r i d , Pueyo, 1965, 308 p . 6 5 . C O B A S P A Z O S , V . — E s b o z o de un Estúdio sobre la gaita g a l l e g a . S a n t i a g o de Compostela, Porto ( 1 9 6 5 ) 320 p. 8 esp. 66. C O M P O S T E L A , T E R C E R S A N T U A R I O D E L A C R I S T I A N D A D . Blanco y Negro. L X X V ( 1 9 6 5 ) 66-74 p . ilus. coloridas. 6 7 . C O M P O S T E L A — Boletin de la Archiofradia dei Glorioso Apóstol S a n t i a g o . Revista bimensal. S a n t i a g o de C o m postela. Diretor Jesus Precedo L a f u e n t e . 6 8 . C O M P O S T E L A N U M — Revista trimestral de la Archidiócesis de S a n t i a g o de C o m p o s t e l a . S a n t i a g o de C o m p o s tela. Diretor, M a n u e l R e y M a r t i n e z . 6 9 . C O N T R E R A S , Juan de, M a r q u ê s de L o z y a — S a n t i a g o Apóstol Patron de las E s p a n a s . 2" edición, M a d r i d , biblioteca N u e v a , 1965. 161 p . 7 0 . C O R T Ê S , J . P . — L a S o c i e d a d de A m i g o s de S a n t i a g o de Compostela, de Paris. La Estafeta (1965) Literaria. Madrid. 324 203. 7 1 . C O U T O , Ricardo — Peregrino da S a u d a d e . Revista pano-Americana. São Paulo. XIII (1965) 20. His- 7 2 . C R E S P O P O Z O . José S . — Contribución a un V o c a b u l á rio C a s t e l l a n o - G a l l e g o . ( C o n indicación de fuentes) . Prólogo de Vicente Garcia de D i e g o . Número Monográfico da rev. Estúdios. M a d r i d , 1963. 1062 p . 7 3 . C R E S P O P O Z O , José S . — S a n t a M a r i a de P o n t e v e d r a . (Publicaciones dei Monasterio de P o y o . 6 ) M a d r i d . Edita revista Estúdios, 1962. 144 p . 14 p r a n c h a s . - - 74. C U A D R A , Pilar — Camino Maestro. Madrid. de S a n t i a g o en autocar. 131 (julio 1965) El 23-24. 7 5 . C U É R O M A N O , Ramón — U n a N o c h e en el Pórtico de La Gloria. (Interpretación Lírica de Compostela). La Coruna, Roel, 1954. 82 p . 7 6 . C U N Q U E I R O , Alvaro — El Camino de S a n t i a g o . Vigo, Imp. del « F a r o de V i g o » ( 1 9 6 5 ) . 107 p . ilus. e coloridas. 7 7 . C U N Q U E I R O , A l v a r o — L a s G r a n d e s P e r d o n a n z a s Jacobeas — Faro de Vigo. 78. C U N Q U E I R O , Vigo. Alvaro % V i g o , Imp. del Faro — Vigo 25-VII-1965. Le Chemiin 7 9 . C U N Q U E I R O , Alvaro — L o s Peregrinos Estafeta Liteiaria. de St. Jacques. ( 1 9 6 5 ) 107 p. ilus. e coloridas. Fabulosos. La M a d r i d . 320-321 ( 1 9 6 5 ) 8 - 9 . 8 0 . C U N Q U E I R O , A l v a r o — T h e W a y of Saint J a m e s . V i g o , Imp. del « F a r o de V i g o » ( 1 9 6 5 ) 107 p . ilus. e coloridas. 81. D A S H E I L I G E J A H R 1954. Santiago de Compostela, Pôrto, 1954, 18 p . 8 2 . D A U R O R A , C o n d e — Caminho Português para S a n t i a g o de Compostela. B r a g a , Livraria Cruz, 1965, 257 p . 8 3 . David, P . E t u d e s sur le Livre de Saint-Jacques atribué au P a p e Calixte II: I Le manuscrit de Compostelle et le manuscrit d'Alcobaça ( T i r a g e à part du Bulletin des E t u d e s Portugaises, Lisbonne, 1 9 4 6 ) ; I I . Les livres liturgiques et le livre des miracles ( T i r a g e à part du B E P . Lisbonne, 1 9 4 7 ) ; III. Le Pseudo-Turpin et le Guide du Pèlerin (Tirage part du B E P , Lisbonne 1 9 4 8 ) . I V Révision conclusion et ( T i r a g e à part du B E P Lisbonne, 1949) . E x p o s i t o r : à Prof. Celso Cunha. 8 4 . D E L G A D O V A R E L A , J . M . — S a n t i a g o en Compostela. La Merced. M a d r i d . X X I I I ( 1 9 6 5 ) 203-205. I - 33 — 8 5 . D E L H O Y O , C a r d . Jerónimo — M e m o r i a s dei A r z o b i s p a do de S a n t i a g o . S a n t i a g o de Compostela, Porto s . d . 568 p . 8 6 . D I E G O , G e r a r d o — A n g e l e s de C o m p o s t e l a . Mundo .pânico. Madrid. VII (1954) 33. 87. D I E G O , Gerardo — El Santiaguero. ria. M a d r i d . 320-321 ( 1 9 6 5 ) 8 4 . La Estafeta 88. D . D O M I N G O F O N T A N Y S U M A P A D E en el primer centenário de la publicación His- Liteva- GALICIA, (Cuadernos de E s t ú d i o s G a l l e g o s A n e j o I) S a n t i a g o de Compostela, Instituo P a d r e Sarmiento. 1946. 204 p . 89. E L H O S T A L D E L O S R E Y E S C A T Ó L I C O S , en el C a - mino de S a n t i a g o . Barcelona, Rieusset ( 1 9 6 5 ) Plaqueta de 16 p . ilus. 90. E L J U B I L E O C O M P O S T E L A N O . Santiago d e Compos- tela. Archicofradia dei A p ó s t o l . 1943. 16 p . 9 1 . E L O R R I A G A , Gabriel — El Camino de S a n t i a g o y su V o c a c i ó n de U n i v e r s a l i d a d . Prensa Hispana-Brasileira, São Paulo. 2 9 - V I M 9 6 5 . 92. E L O R R I A G A , Gabriel — E u r o p a y su Camino de Santiag o . In: Ano Santo Compostelano. Suplemento nacional de la prensa dei Movimiento, M a d r i d , ( 1 9 6 5 ) p . 93. E S C O L M A DE POESIA GALEGA — 60. 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F I G U E R O A , E l M a r q u ê s de — Libro de C a n t i g a s . En tierras G a l a i c o - L u s i t a n a s . M a d r i d , R e v . de Archivos, Biblioteca y M u s e o s , 1928. 182 p . E x p o s i t o r : Emilio S i l v a . 115. F I G U E I R A V A L V E R D E , J o s é — A z a b a c n e r i a . nos de A r t e G a l l e g o . 48 p . (Cuader- 17) V i g o , Ediciones C a s t r e l o s , 1965. ilus. 116. F I L G U E I R A V A L V E R D E , J o s é — C o m p o s t e l a , la C i u d a d dei A p ó s t o l . F o t o g r a f i a s de Jean M a r i e M a r e e i . M a d r i d . Ediciones Mundo Hispânico, 1954. — 36 — 117. F I L G U E I R A V A L V E R D E , J . — El libro de M a d r i d , Editora Nacional, 1958. 324 p . ilus. Santiago. 118. F I L G U E I R A V A L V E R D E , J o s é — L a canción en el « C a mino». F a r o de Vigo. V i g o . 25-VII-1965. 119. F I L G U E I R A V A L V E R D E , José — L a V e n e r a . S a n t i a g o de Compostela, Instituto P . Sarmiento de Estúdios Gallegos, 1965. 28 p . 120. F I L G U E I R A V A L V E R D E , José — Lengua N o b r e y P o p u l a r . L a Estafeta Literaria. M a d r i d . 320-321 ( 1 9 6 5 ) 10-11. 121. F I L G U E I R A V A L V E R D E , José — Lírica medieval gallega y p o r t g u e s a . In: Historia General de las Literaturas H i s p â n i c a s . Publicada bajo la dirección de D . Guillermo Diaz, P l a j a con una introducción de D . Ramón M e n e n dez Pidal, Barcelona, e d . Barna, ( 1 9 4 9 ) , t. I, p . 5 4 5 - 7 4 8 . ilus. E x p o s i t o r : Emilio S i l v a . 122. F I L G U E I R A V A L V E R D E , José — S a n t i a g o de C o m p o s tela. Guia de sus monumentos e itinerários. L a Coruna, E d . Moret, 1950. 192 p . 123. F I L G U E I R A V A L V E R D E , José — Cancioneirino de C o m postela. Escolma e anotación. In N ó s , I X , Ourense, 1932. 113-136 — 151-155 p . E x p o s i t o r : P r o f . Celso C u n h a . 124. 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N ú m . 460) M a d r i d . Publicaciones E s panolas, 1965, 26 p . ilus. 3 4 9 . V A Z Q U E S N Ú N E Z , Guillermo — Don D i e g o de M u r o s , Obispo de T u y y de C i u d a d - R o d r i g o . M a d r i d , Juan Pueyo, 1919, 140 p . E x p o s i t o r : Emilio S i l v a . 3 5 0 . V A Z Q U E Z S E N R A , José — Remembranzas paralelas entre el M a e s t r o M a t e o y D a n t e Alighieri — El Correo Gallego. S a n t i a g o . 2 5 - V I I - 1 9 6 5 . 3 5 1 . V E G A I N C L A N , M a r q u é s de la — G u i a dei viaje a S a n tiago (Libro V dei códice calixtino) M a d r i d , 1927. 80 p . 3 5 2 . V E L A S C O G Ó M E Z , Clodoaldo — Santiago y Espana. Orígenes dei Cristianismo en la Península. Léon, 1948. 266 p . 8 e s t . e um m a p a . 3 5 3 . V I D A L R O D R I G U E Z , Manuel — L a Salve e x p l i c a d a . Precedida d e un Estúdio acerca dei autor de esta plegaria por Javier V a l e s F a i l d e . 2" e d . S a n t i a g o T i p . de « E l E c o F r a n c i s c a n o » , 1923. 402 p . ( O E S T U D O prelimánar de V a l e s F a i l d e versa sõbre o grande arcebispo de S a n t i a g o , S ã o P e d r o de Mesonzo, s e c . X , autor da SaWe Regina) . 3 5 4 . V I D A L R O D R I G U E Z , M a n u e l — La T u m b a dei Apóstol S a n t i a g o . Ilustrada con cien F o t o g r a b a d o s . Santiago, T i p . del Seminário Central, 1924. 229 p . ilus. 3 5 5 . V I E L L I A R D , Jeanne — Le Guide du Pèlerin de SainteJacques de Compostelle. T e x t e latin du X I I e siecle, édité et traduit en français d'après les manuscrits de Compostelle et de Ripoll, 2" édition. M a ç o n (Imprimerie Protat F r è r e s ) , 1950. E x p o s i t o r : P r o f . C e l s o C u n h a . — 60 — 356. V I L L A R P O N T E , Ramón — História sintética de Galicia. 2" edición. Santiago de Galicia ( N ó s ) , 1932. 3 5 7 . V I N D E L , Pedro — Martin C o d a x — L a s siete canciones de amor, poema musical del siglo X I I . Publicase en facsímil, ahora por primera vez, con algunas notas recopiladas por... Madrid, M C M X V . Expositor: P r o f . Celso C u n h a . 358. V I Z C A I N O , José Antonio — D e Roncesvalles a Compostela. Madrid, e d . A l f a g u a r a ( 1 9 6 5 ) 356 p . 359. V I Z C A R R A , Zacarias de — América y el Apóstol Santiago. In: La Vocación de América. Buenos Aires, Libreria de A. Garcia Santos, 1933. 137 p . Caminho de DEPARTAMENTO DE IMPRENSA 1966 NACIONAL