Título: A Municipalização da Segurança Pública - Bases Legais e Teóricas e Experiências de Implementação no RS. Bolsista BPA PUCRS: [email protected] Professor Orientador: [email protected] Eduardo Rodrigo Pazinato Ghiringhelli da de Cunha Azevedo Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Faculdade de Direito – Bolsa de Pesquisa BPA – PUCRS Av. Ipiranga, 6681 – Partenon – Porto Alegre/RS – CEP: 90619-900 O tema da segurança pública tem despertado grande interesse da sociedade e, conseqüentemente, ocupado lugar de destaque na agenda política nacional e internacional. Historicamente, tanto em face do modelo de policiamento adotado no Brasil quanto por limitações de ordem constitucional, os municípios permaneceram à margem do debate sobre segurança pública. Via de regra, esta sempre foi uma incumbência dos governos estaduais e federal. Ocorre que, sobretudo na última década, o aumento objetivo dos índices de criminalidade, o crescimento do sentimento de insegurança pública por parte da população e a percepção coletiva de que o enfrentamento da violência e da criminalidade é responsabilidade de todas as instâncias governamentais (federal, estadual e municipal) precipitaram o desenvolvimento de importantes experiências de políticas de segurança pelas administrações municipais (KAHN e ZANETIC, 2005). Pode-se, pois, afirmar que essa tendência à municipalização da segurança tende a introduzir um debate mais amplo sobre o tema e a materializar a discussão de dois modelos de atuação no campo da segurança pública: o primeiro, centrado em iniciativas repressivas, e o segundo, em medidas de prevenção. A par do fortalecimento das cidades como lócus privilegiado na proposição, implementação e fiscalização das políticas públicas de segurança, seguiu-se um “alargamento conceitual” da questão da segurança pública, por meio do qual se deslocou a atenção do foco repressivo do Direito Penal e do sistema de justiça criminal (Polícias, Poder Judiciário, Ministério Público, Administração Prisional) para uma concepção preventiva da segurança. A nosso ver, esses dois processos, tanto a tendência à descentralização político-administrava estimulada pela Constituição Federal de 19881 quanto à emergência de novas possibilidades de compreensão e tratamento dos conflitos sociais para além do método penal, estabeleceram as bases para a constituição de um novo modelo de segurança pública, menos centrado no papel policialesco e repressivo, e mais na construção de alternativas democráticas e dialogais para a gestão e mediação dos conflitos e da violência. 1 Refiro-me ao fortalecimento do poder local, através dos municípios, mais visível, num primeiro momento, nas áreas de educação, saúde, assistência social, etc. do que propriamente na da segurança pública, bem como à instituição dos conselhos gestores como possibilidade de reordenação das políticas públicas brasileiras na direção de formas de governança democrática. A esse respeito: GOHN, Maria da Glória. Conselhos Gestores e Participação Sociopolítica. São Paulo: Cortez, 2001, sobretudo p. 83 e seguintes. Não há que se sustentar uma opção dicotômica entre dois modelos de segurança pública: o repressivo e o preventivo. Decerto, a complexidade do fenômeno criminal e a busca por respostas integradas e efetivas aos problemas geradores da criminalidade não nos permitem escolha tão simplória. Nessa direção, aponta Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo: “(...) Não se trata aqui de introduzir uma aporia entre prevenção e repressão, mesmo porque determinadas iniciativas repressivas podem cumprir um papel preventivo. O que importa é identificar duas racionalidades específicas cujos “pólos hegemônicos” insinuam, também, dois paradigmas.”2 Nesse contexto, a presente pesquisa pretende realizar um levantamento bibliográfico das bases legislativas e teóricas que corroboram a atual tendência à municipalização da gestão da segurança pública, bem como efetuar um estudo em profundidade das dimensões do fenômeno nas cidades de Porto Alegre e Região Metropolitana, fulcrado na coleta e análise dos documentos produzidos pelas administrações municipais e câmaras de vereadores desses municípios, atinentes ao processo de criação das secretarias municipais de segurança urbana, conselhos municipais de segurança, conversão das guardas municipais para o exercício de atividades de segurança pública e implementação de política específicas de segurança e, afinal, a realização de entrevistas com os principais atores do sistema de segurança pública municipal (os secretários municipais de segurança urbana, os comandantes das guardas municipais, os comandantes da Brigada Militar e os coordenadores dos conselhos municipais de segurança). 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