Ética ambiental Introdução A ética consiste em teoria e prática sobre a preocupação apropriada com valores e deveres em relação ao mundo natural. A ética ambiental parte de preocupações humanas com uma qualidade ambiental. 1. A virada ambiental • Os humanos são os únicos agentes morais auto-reflexivos, deliberativos. A ética é para pessoas. Mas são os humanos os únicos agentes valorosos, avaliadores em um mundo, de resto, livre de valores? • Os humanos coabitam na Terra com cerca de 5 a 10 milhões de espécies. • A natureza equipou o Homo sapiens, a espécie • sabia, com uma consciência. Talvez a consciência seja menos sabiamente utilizada do que deveria ser quando exclui de consideração a comunidade global da vida, com o paradoxo resultante de que a espécie moral autoconsciente age somente em seu auto-interesse coletivo em relação ao restante. A ética ambiental sustenta que nós, humanos, não somos tão “iluminados” quanto seria de se supor, até que alcancemos uma ética mais respeitosa. • A ética ambiental permaneceu desconhecida até • • • meados da década de 1970. A preocupação ética sobre os usos humanos do ambiente natural. Embora haja uma ética implícita em muitas visões de mundo, isto jamais foi muito desenvolvido no Ocidente. A natureza era vista como um reino destituído de valores, regidos por causas mecânicas, os valores surgiram somente com os interesses e preferências dos humanos. • A ética ambiental aplica a ética ao ambiente de maneira análoga, é uma ética aplicada. Visões humanistas: advertir contra o aquecimento global • A qualidade ambiental é necessária para a qualidade da vida humana. Os humanos reconstroem dramaticamente seu ambientes; ainda assim, suas vidas, preenchidas com artefatos, são vividas em uma ecologia natural na qual recursos – solo, ar, água, fotossíntese, clima – são questões de vida e morte. • Os destinos da cultura e da natureza estão interligados, • • • de modo similar (e relacionado) à maneira pela qual as mentes são inseparáveis dos corpos. A ética contemporânea tem se preocupado em ser abrangente. A ética ambiental é mais abrangente por causas das ameaças: espécies animais (baleias, lobos, etc), a natureza (florestas), terra (aquecimento global). Estas questões éticas ligadas a valores destruídos na natureza, assim como instrumentalmente ligados a recursos humanos postos em risco. Os humanos precisam incluir a natureza em sua ética. Precisam incluir-se na natureza. • Exatamente quando os humanos, com suas cada vez mais avançadas tecnologias e indústria, pareciam cada vez mais distantes da natureza, dotados de mais conhecimento sobre processos naturais e mais capacidade de lidar com eles, o mundo natural surgiu como um foco de preocupação ética. - A capacidade humana de afetar a natureza - - aumentou de maneira dramática, assim como aumentou o desaparecimento de espécies ou o aquecimento global. Populações que crescem de maneira explosiva suscitam a preocupação de que os humanos não mantiveram uma relação sustentável com seu ambiente. E tampouco distribuíram de maneira equitativa os benefícios derivados dos recursos naturais. Por fim, tampouco tiveram sensibilidade suficiente para o bem-estar das outras espécies. • Abordagens da ética ambiental: ética humanista; ética do bem-estar animal; biocentrismo; ecologia profunda; ética da terra; ética da ecojustiça; ética da virtude ambiental, ética ambiental axiológica; ética política; ética do desenvolvimento sustentável; biorregionalismo; etc. • A ética ambiental: seis níveis de preocupação: humanos, animais, organismos, espécies, ecossistemas, Terra. 2. Humanos: as pessoas e seu mundo • Os humanos são ajudados ou prejudicados pela condição de seu ambiente. • A ética se preocupará com o que importa para os humanos (benefícios, custos e sua justa distribuição, riscos, níveis de poluição, sustentabilidade e qualidade, os interesses das futuras gerações). • Uma ética antropocêntrica defende que as • • pessoas são tantos sujeitos como objetos da ética. Os humanos não têm deveres em relação a pedras e rios, nem em relação a floras ou ecossistemas. Os humanos têm sérios deveres em relação a outros humanos. Os antropocentristas podem querer salvar essas coisas pelos benefícios que trazem. Porém, o meio ambiente é o tipo errado de alvo para uma ética. A natureza é um meio, não um fim sem si mesmo. O homem é a medida de todas as coisas. • Os humanos, de maneira deliberada e extensiva, • reconstroem o meio ambiente natural e moldam os ambientes em que residem. Preocupamo-nos com a qualidade de vida nesse hibrido de natureza e cultura. A ética surge para proteger vários bens em nossas culturas. A ética é uma característica do contrato social humano. As pessoas ordenam uma sociedade na qual elas e aqueles com quem vivem não (ou não devem) mentem, não roubam, não matam. • A ética ambiental pode ser feita dentro do contrato social. • A maior parte da política ambiental é desse tipo. • Os humanos precisam ser saudáveis. A saúde, porém, não é simplesmente uma questão de biologia. A saúde ambiental é igualmente importante. • É difícil ter uma cultura saudável em um ambiente doente. Os humanos desejam um ambiente de qualidade, em que usufruam da natureza: amenidades (paisagens, lugares), comodidades (madeira, água, solo, recursos naturais). • A manutenção de um meio ambiente saudável e de qualidade pode ser colocada como dever em um contrato social. - A ética ambiental, nessa visão, baseia-se no direito humano à natureza. - A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, afirma: “Todos os seres humanos têm o direito fundamental a um meio ambiente adequado para sua saúde e bem-estar)”. - Isto inclui os bens naturais básicos: ar, solo, água, ecossistemas, etc. Este direito podia ser dado como certo, mas agora precisa ser explicitado e defendido. - não se trata de nenhuma reivindicação feita contra ou a favor da natureza; é uma reivindicação feita contra outros humanos que podem nos privar dessa natureza. - As quatro questões mais críticas que os humanos enfrentam atualmente são: paz, população, desenvolvimento e meio ambiente. Todos entrelaçados. - Os interesses da ética ambiental a partir de perspectivas de ecologia política, desenvolvimento sustentável, ética da administração – todos tendem a ser humanistas e a reconhecer que a natureza e a cultura têm seus destinos entrelaçados 3. Animais: a ética dos direitos animais • A ética é para pessoas, mas será apenas para elas? • Os animais não fazem do homem a medida das coisas. • Nada melhor evidência de valores e formadores de valores não-humanos do que a vida selvagem-espontânea, nascida livre e vivendo por sua própria conta. Os animais mantêm uma valorizada auto-identidade enquanto enfrentam o mundo. Defendem suas próprias vidas porque têm um bem próprio. - Um animal valoriza sua vida pelo que é em si, sem uma referencial adicional. Os animais são capazes de valores, capazes de valorizar coisas em seu mundo, suas próprias vidas e seus recursos de maneira instrumental. Por isso deve haver uma ética do bem-estar animal, ou uma ética dos direitos animais. • Deve-se reconhecer que os prazeres e as dores • de sujeitos não-humanos devem ser levados em conta. Ninguém dúvida de que os animais têm fome, sede, calor, ficam cansados, etc. as seqüências de códigos protéicas do DNA para genes estruturais em chimpanzés é humanos são mais do que 99% idênticas. Aquilo que os humanos valorizam em si mesmo é encontrado em outros, eles devem também valorizá-los em outros não-humanos. • O princípio da universalidade requer que reconheça valores correspondentes em pessoas afins. Um aumento da sensibilidade ética pode nos ajudar a reconhecer os direitos dos animais. • A ética ambiental deve levar em conta o direito dos animais. 4. Organismos: respeito pela vida – A ética Biocêntrica • Uma ética biocêntrica requer respeito apropriado por todas as coisas vivas. • Além disso, a maior parte do mundo biológico ainda tem que ser levada em conta: animais inferiores, insetos, micróbios, plantas. • Mais de 96% das espécies são invertebrados ou plantas; somente uma pequena fração dos organismos individuais são animais sencientes. Considerar plantas faz a diferença entre o - Uma planta é um sistema de vida espontâneo, - - que se automantém com um programa genético de controle. Uma planta não é um sujeito, mas tampouco é um objeto inanimado, como uma pedra. O conjunto genético é um conjunto normativo, ele distingue o que é do que deve ser, mas no sentido de que o organismo é sistema axiológico. O genoma é um conjunto de moléculas de conservação. Uma vida é espontaneamente defendida pelo que ela é em si mesma. - Os biocentristas sustentam que a ética ambiental não é apenas uma questão de psicologia, mas de biologia. Todo organismo tem um bem em seu gênero. Talvez o homem seja o único que tenha a capacidade de medir e deliberar sobre as coisas, mas ele não precisa fazer de si mesmo a única medida a utilizar. A vida é uma melhor medida. 5. Espécies e biodiversidade: linhagens de vida ameaçadas • No nível das espécies, as responsabilidades aumentam. O mesmo ocorre com o desafio intelectual de defender deveres em relação às espécies. O que são as espécies? • A questão é científica a ser respondida por biólogos. Têm os humanos deveres em • No plano biológico as espécies são linhagens históricas. • O indivíduo representa uma espécie em cada nova geração. É um exemplar de um tipo, e o tipo é mais importante do que o exemplar. 6. Ecossistemas: a ética da terra • Em uma “ética holística”, esse nível • ecossistêmico no qual todos os processos sistêmicos geraram, continuam a apoiar e integram dezenas de milhares de organismos membros. A unidade apropriada para preocupação moral é a unidade fundamental do desenvolvimento e sobrevivência. Isto trata-se de linhagens de espécies. Mas uma espécie é o que é onde ela é, cercada por uma ecologia. • Em uma ética axiológica, trata-se de um valor sistêmico, assim como instrumental e intrínseco. • Valorizar indivíduos em meio à fauna e à flora. • Valioso é um ecossistema que gera milhões de • • espécies, ou mesmo, uma Terra que produz bilhões de espécies incluindo nós mesmos? Uma ética da terra (ética naturalista) as pessoas vivem nessa terra, e assim natureza e cultura se mesclam. Ao tentar mapear os ambientes humanos estamos valorizando três territórios principais: o urbano, o rural e o selvagem – todos os três necessários para que sejamos pessoas tridimensionais. A natureza está presente nos habitats híbridos das paisagens rurais; precisamos de uma ética para os agrossistemas. • Os humanos são geralmente levados a agir em seu auto-interesse; e eles o farão ao custo da degradação do meio ambiente menos que uma política ambiental lhes incentive a agir de outro modo. • Para respeitar ecossistemas, para assegurar qualidade ambiental, são necessárias princípios para regular o uso privado e empresarial, essas regras são impostas no interesse público em longo prazo por meio das forças democráticas. • Uma ética ambiental radical, inclusiva e abrangente, sustenta que os humanos podem e devem deixar de lado áreas selvagens pelo que são em si mesmas, áreas que tentamos administrar tão pouco quanto possível, ou administrar os usos humanos delas, de forma a deixar que a natureza tome o seu curso. • Respeitar a integridade, a liberdade da vida selvagem. O Biorregionalismo • Uma “ética do lugar” tende a ver os valores em grande medida como aqueles que seus habitantes humanos “põem” na natureza, e respeitar os valores que já estavam no lugar antes que nós humanos chegássemos para morar. • Respeitar a natureza tal como é encontrada em si mesma; • O biorregionaliso enfatiza a vida em paisagens regionais. A ética mais operacional é aquela em que as pessoas se identificam por sua geografia. • O biorreginalismo: os humanos precisam aprender a “repovoar” suas paisagens, uma ética ambiental em escala humana. Uma ética ambiental precisa estar enraizada na localidade. Conclusão • Para a maior parte do século XX, o apelo ético era dirigido em termos de justiça e direitos humanos. • No século XXI, o apelo ético é ampliado e precisa ser mais ecológico e mais global. Estamos expandindo a ética. Nós humanos somos terráqueos e devemos cuidar para que a Terra seja uma virtude humana última e em desenvolvimento