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INFLUÊNCIA DAS AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE NO AUTO-CUIDADO DE
MÃES E CUIDADOS COM RECÉM-NASCIDOS
THE INFLUENCE OF THE HEALTH EDUCATIONAL ACTIONS ON THE
MOTHERS’ SELF CARE AND ON THE CARE OF NEWBORNS
Thais Regina Silva Domingues
Enfermeira. Pós graduanda em Terapia Intensiva do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais –
Unileste. Enfermeira da Estratégia Saúde da Família, [email protected]
Simone de Pinho Barbosa
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela UFMG. Mestre em Saúde da Família pela UNESA.
Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste. [email protected]
RESUMO
No período gestacional e puerperal a mulher passa por uma série de mudanças e conseqüente
adaptação se faz necessária, podendo gerar ansiedade e medo para quem o vivencia. Uma das
opções para o enfrentamento dessa condição é a implementação de ações educativas em saúde em
grupo, afim de complementar a assistência ao pré-natal, melhorar a qualidade de vida dessas
mulheres e recém nascidos contribuindo para redução da mortalidade materno-infantil. A pesquisa
objetivou compreender como as ações educativas em saúde influenciaram as gestantes e puérperas
sobre o auto-cuidado e cuidados com recém nascidos, após participarem de um trabalho
extencionista, assim como identificar os fatores facilitadores e dificultadores na implementação de tais
ações. Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória, de natureza qualitativa. O estudo utilizou para
coleta dos dados um roteiro de entrevista semi-estruturado, teve como amostra os relatos de 17 gestantes
ou puérperas. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para efetiva analise descritiva
simples dos dados. Os resultados apontaram de forma unânime, influências satisfatórias no autocuidado das mulheres e cuidados com recém nascidos, especialmente no cuidado com a alimentação
durante a gestação e puerpério e nos cuidados com recém nascidos em relação à oferta e
manutenção do aleitamento materno exclusivo, assim como a aprovação e incentivo à continuidade
das atividades educativas desenvolvidas.
PALAVRAS-CHAVE: Educação em saúde. Gestantes. Puerpério. Auto-cuidado. Qualidade da Assistência
a Saúde.
ABSTRACT
In the length of pregnancy and in the postpartum period the woman goes through a series of changes
therefore the adaptation is necessary which can originate anxiety and fear to who experiences it. One
of the options to deal with this condition is the implementation of health educative actions in group
aiming to complement the prenatal care, improve these women’s and their newborns’ life quality
contributing to reduce maternal and child mortality. The research aimed to understand how the health
educative actions influenced the pregnant and postpartum women on their self care and on the
newborn’s care after them participating on an extension operation and also to identify factors that
facilitate or complicate the implementation of these actions. It is a descriptive exploratory research
with qualitative nature. It was used to collect data a semi structured interview script with a sample of
17 pregnant or postpartum women. The interviews were recorded and transcribed afterwards for an
effective simple descriptive analysis of the information. The results unanimously indicated positive
influences on the women’s self care and on the newborns’ care specially on the nutrition during the
pregnancy and postpartum and on the newborns’ care related to offering and maintenance of
exclusive breast feeding as well as the approval and the encouragement to the continuation of the
developed educational activities.
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V.5 - N.2 - Nov./Dez. 2012.
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KEY WORDS: Education in Health. Pregnant Women. Postpartum Women. Self Care. Health
Assistance Quality.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a atenção à saúde da mulher tem sido alvo de políticas
de intervenção como o Programa de Assistência à Saúde da Mulher (PASM) na
década de 70, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em
80 e a Política Nacional de Saúde da Mulher em 2004 com o intuito de atender a
mulher de forma integral, sendo um dos seus objetivos, reduzir os riscos referentes
ao pré-natal e ao parto. No entanto, embora pautado em diretrizes que pressupõe a
oferta de uma assistência integral à saúde da mulher, ainda nota-se nos serviços de
saúde que a assistência à gestante tem sido fragmentada, não atingindo totalmente
as diretrizes previstas como a atenção integral. Apesar de existirem programas
como o PAISM que visam garantir os direitos humanos das mulheres e redução da
morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis incluindo em suas definições a
integralidade e a promoção da saúde como princípios norteadores a assistência à
mulher, ainda não se implementou o conjunto das ações previstas na atenção
integral a gestante principalmente no que se refere as práticas de educação em
saúde no país (BRASIL, 2009; OASIS, 1998).
Após 19 anos de origem do PAISM, o campo da educação popular em saúde
passou a fazer parte da estrutura do Ministério da Saúde, em 2003, somente a partir
desta data, movimentos voltados à promoção da saúde e participação comunitária
começaram a ter maior ênfase nacionalmente. Porém atualmente percebe-se ainda
a distância entre as políticas implantadas e as práticas de educação em saúde
(ARAÚJO et al., 2005; PEDROSA, 2007).
A diminuição da mortalidade materna e neonatal no Brasil é uma meta para a
gestão de saúde brasileira e toda a sociedade envolvida. As altas taxas se
configuram como uma transgressão aos direitos humanos de mulheres e crianças.
Por ser uma tragédia evitável em 92% dos casos e ocorrer principalmente nos
países em desenvolvimento; torna-se um dos mais agravantes problemas na saúde
pública, atingindo com maior prevalência as mulheres e crianças brasileiras de
classes sociais desfavorecidas e com dificuldades de acesso aos bens sociais
(BRASIL, 2007b).
Considerando a ênfase dada pelo Ministério da Saúde à diminuição das taxas
de mortalidade materno e infantil e a atenção integral a saúde da mulher gestante e
da criança menor de um ano, torna-se fundamental o incentivo à promoção da saúde
através do desenvolvimento de ações educativas para gestantes e puérperas. A
ação de educação em saúde caracteriza-se uma importante ferramenta para a
diminuição das taxas de mortalidade e na melhoria da qualidade de vida dessas
mulheres.
A educação para a saúde é considerada um instrumento importante para
modificar a realidade, porém, nem sempre chega a ser transformada em práticas
concretas, que é mais agravado pelo desinteresse e pouca importância dada ao
campo da educação em saúde na formação de profissionais da saúde e pela
desarticulação dos fatos históricos relevantes e a realidade social (ARAÚJO et al.,
2005). Em todas as ações realizadas no campo do Sistema Único de Saúde (SUS) a
educação em saúde torna-se de fundamental importância, pois proporciona a
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articulação entre todos os níveis de gestão do sistema e representa uma ferramenta
essencial para a formulação da política de saúde e para a promoção da saúde
(BRASIL, 2007a).
A educação em saúde e a promoção de saúde se tornam intimamente
relacionadas, ou seja, a promoção da saúde depende da participação ativa da
população bem informada no processo de mudança, enquanto que a educação em
saúde é uma ferramenta essencial nesse processo (DERNTL; WATANABE, 2004). A
promoção da saúde é conceituada por Smeltzer e Bare (2005) como atividades que
auxiliam os indivíduos no desenvolvimento de recursos que possibilitarão a
manutenção e o estímulo ao bem-estar contribuindo para melhorias na qualidade de
vida, têm intuito de enfocar o potencial de um indivíduo para o seu bem-estar,
encorajando-os a alterar os hábitos de pessoais, ambientes e estilos de vida não
apropriados à manutenção da sua saúde de forma a diminuir os riscos e melhorar a
qualidade de vida.
O profissional de saúde desempenha importante função no desenvolvimento
da atenção aos serviços de pré-natal e na preparação da mulher e seu
acompanhante, proporcionando orientações e aconselhamentos específicos para o
período gestacional e parto (BRASIL, 2001). O papel do enfermeiro, segundo Ziegel
e Cranley (1985), é perceber as áreas que estão relacionadas à promoção de saúde,
a prevenção ou tratamento de agravos e principalmente transmitir informações,
aconselhamentos e promover educação para saúde.
O presente estudo é fruto de um projeto de extensão do Centro Universitário
do Leste de Minas Gerais denominado Escola da Gestante, desenvolvido por
discentes dos cursos de graduação em Enfermagem e Psicologia no ano de 2010. O
projeto desenvolveu-se em uma unidade de saúde do bairro Industrial localizada no
município de Santana do Paraíso – MG. Durante a execução da atividade
extencionista foram detectadas dificuldades no programa de pré-natal no que se
refere à adesão, continuidade, além do alto índice de gravidez na adolescência,
acompanhamento tardio e problemas relacionados ao fator cultural e
socioeconômico.
Após o término do projeto Escola da Gestante despertou-se interesse em
conhecer a influência das ações educativas em saúde sobre o auto-cuidado das
mães e nos cuidados com os recém-nascidos. O desenvolvimento das ações
educativas em saúde é considerado uma ferramenta indispensável para a mudança
do modelo biomédico tradicional e para o progresso da promoção da saúde.
Considerando a importância da temática, fez necessário pesquisar a valia
que tais ações educativas em saúde, tiveram no cotidiano das gestantes e
puérperas participantes do projeto. Essas ações impõem aos profissionais de saúde,
em especial aos de enfermagem, a importância de se desenvolver tais propostas
educativas no sentido de melhorar a qualidade de vida dessas mulheres e dos
recém nascidos e na contribuição da redução da mortalidade materno infantil.
Por tudo isso o estudo objetivou compreender como as ações educativas em
saúde influenciaram as gestantes e puérperas sobre o auto-cuidado e o cuidado
com recém nascidos, assim como identificar os fatores facilitadores e dificultadores
na implementação de tais ações desenvolvidas na Unidade de Saúde da Família do
bairro Industrial, Santana do Paraíso - MG
METODOLOGIA
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Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, de natureza qualitativa
realizada com gestantes e puérperas, cadastradas na Unidade de Saúde da Família
do bairro Industrial do município de Santana do Paraíso – MG.
A população do estudo envolveu um grupo de 35 mulheres, gestantes e
puérperas, que freqüentaram a Escola da Gestante. A amostra incluiu 13 gestantes
e 4 puérperas, totalizando 17 mulheres entrevistadas. A escolha da amostra foi
determinado de acordo com a ordem decrescente de assiduidade nas oficinas
temáticas, sendo o quantitativo da amostra determinado por saturação dos dados.
Como critério de inclusão foi definido que as pesquisadas fossem cadastradas
na Unidade de Saúde da Família do bairro Industrial, Santana do Paraíso e ter
participado do projeto Escola da Gestante. Como instrumento de coleta de dados, foi
elaborado um roteiro de entrevista semi-estruturado. Os relatos das participantes
foram gravados com um dispositivo eletrônico. A coleta de dados foi realizada no
período de maio a junho de 2011, em horários convenientes para as participantes
através de visita às residências localizadas no bairro Industrial, com tempo médio de
40 minutos para cada entrevista.
Para iniciar a coleta de dados encaminhou-se a Secretaria de Saúde do
município uma carta de autorização para realização da pesquisa, e autorização do
Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) municipal, instituição autora do
projeto de extensão. Os dados coletados foram transcritos e apresentados de forma
descritiva, respeitando a integralidade e expressividade dos relatos após escuta
cuidadosa dos mesmos. Posteriormente à transcrição, foi realizada análise descritiva
simples dos resultados.
Após explicações sobre os objetivos da pesquisa, as gestantes e puérperas,
maiores de 18 anos, assinaram em caráter voluntário um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Para as participantes menores de 18 anos seus pais ou
responsáveis assinaram o TCLE consentindo a sua participação. O anonimato das
participantes foi garantido através da utilização das letras “G” para gestante e “P”
para puérpera acompanhado de um número que indica a ordem de realização das
entrevistas, e os resultados utilizados somente para fins científicos. O
desenvolvimento da pesquisa respeitou a todo instante, a Resolução n.196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), diretrizes e normas regulamentadoras de
pesquisa envolvendo seres humanos, toda legislação vigente no país e respeitando
todos os direitos das pesquisadas como cidadãs (BRASIL, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O perfil das gestantes e puérperas participantes do estudo caracterizou-se por
um grupo de mulheres na faixa etária de 16 a 41 anos, predominantemente casadas,
primigestas ou em segunda gestação. Sobre o entendimento dessas mulheres em
relação ao que seriam ações educativas em saúde, a maioria foi capaz de
conceituar tal expressão a partir da utilização de termos ligados ao processo de
ensinar e aprender, e de descrevê-lo com exemplos de formas de cuidado, situações
do cotidiano e formas preventivas de doenças. Alguns relatos apresentaram-se
reducionistas no âmbito da promoção da saúde, ligadas apenas à prevenção de
agravos e doenças. A maioria abordou educação em saúde, de forma inclusiva e
participativa, relatando alterações nos hábitos de vida, compreensão das formas de
cuidado, socialização e didáticas de ensino, como se lê nos relatos abaixo:
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Acho que seriam ações que visam a prevenir doenças. Ações que vão
educar as pessoas, as formas de prevenção, como que elas vão atuar
dentro da própria casa pra poder ta educando-se pra pode previnir as
doenças (G9).
[...] jeito de ensinar a gente a reeducar a saúde da maneira correta (G13).
[...] educar as pessoas pra viver com hábitos melhor [...] (P2).
Serve pra ajudar a população a entender como agir [...] (G2).
Dinâmicas, ensinamentos pra cuidar melhor, saber melhor pra cuidar melhor
do bebê [...] (G8).
Há; pra gente aprender muita coisa [...] como cuidar da criança [...] (G6).
A definição de educação em saúde baseia-se em uma visão holística do
indivíduo, como um estado positivo e dinâmico na busca pelo bem-estar, que integra
os aspectos físico e mental, ambiental (ajustamento ao ambiente),
pessoal/emocional (auto-realização pessoal e afetiva) e sócio-ecológico
(comprometimento com a igualdade social e com a preservação da natureza);
integra a construção do conhecimento a partir da participação popular e propostas
pedagógicas libertadoras com intuito de encorajar os indivíduos a potencializar seu
bem-estar, alterar hábitos pessoais, ambientes e estilos de vida não apropriados a
manutenção da saúde (PASSEIRO, 2005; SCHALL; STRUNCHINER, s.d.;
SMELTZER; BARE, 2005; VASCONCELOS, 2001).
Quando solicitado uma descrição sobre como aconteciam as ações
educativas para saúde percebeu-se de um modo geral uma satisfação e também
aprovação de todas as entrevistadas que destacaram a importância da construção
do conhecimento de forma participativa e interativa, do convívio social, das
coletividades e da formação de vínculos entre si e com os profissionais integrantes
das equipes. Do mesmo modo positivo mencionaram quanto à didática de ensino
trabalhada nas oficinas temáticas; a abordagem através de brincadeiras, dinâmicas
e reflexões, o espaço reservado e preparado para a atividade educativa com os
grupos e destacaram o aprendizado obtido para realização do auto-cuidado no
período gestacional e pós-natal e nos cuidados com o bebê.
É um espaço que a gente tem pra gente reuni [...] é um espaço pra gente se
divertir, de lazer e a gente aprendeu também bastante! (G8)
Lá eles explicam, passam pra gente de um jeito mais fácil da gente aprender,
né? Bem ilustrativo. Têm dinâmicas, têm atividades. Uma também que é bom
pra ficar conhecendo mais pessoas, né? Eu gostei de tudo! [...] cada vez que
eu ia era um aprendizado diferente. (P2)
Os encontros foi bem dinâmico, foi assim, foi bem criativo! (G12)
Há eu descrevo de uma total excelência! Foi ótimo! Aprendi muita coisa, [...]
pretendo quando tiver outro bebe participar de novo! Lá a gente aprendia
sobre a vida do bebe, sobre a saúde do bebê da mãe... a gente aprendeu
como cuidar do bebê, como cuidar da gente também. (G13)
Pra mim foi muito proveitoso porque eu entrei na Escola da Gestante sem
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saber nada, sem saber nem trocar a frauda do bebê e sai de lá praticamente
uma mãe, sabendo como me alimentar direitinho, a posição certa que o
neném tem que ficar pra mamá, como fazer pro peito não racha, como cuidar
da saúde. (G2)
O planejamento das ações educativas e a observação do contexto social para
a implementação das atividades, às vezes entendida somente como trabalho em
grupo, não deve ser transformada em apenas mais uma atividade a ser feita, muito
menos com intuito de troca, e sim entendida como um aspecto indissociável das
atividades dos profissionais de saúde (MENESES; ROSA, 2004; PEDROSA, 2007).
Para Valla (2000) as ações de educação em saúde pressupõem que os
indivíduos detenham melhor controle sobre suas vidas e hábitos através da
participação em grupo, para transformação da realidade social e política. Distinguir
da abordagem tradicional que focava apenas a mudança de comportamento
individual, sem enfocar a melhoria da qualidade de vida alcançada em coletividade.
Pedrosa (2003) defende que as práticas educativas devem considerar a construção
compartilhada de saberes fundamentada nas visões de mundo das pessoas, nos
costumes, culturas e opiniões, pois se trata de uma discussão em conjunto sobre os
modos de vida, fatores de risco locais, dificuldades e particularidades do grupo
potencializando, dessa forma, o protagonismo das pessoas e dos coletivos sociais.
Uma das coisas mais importantes na educação em saúde é o envolvimento
das pessoas, a interação com a comunidade produz maiores chances de encontrar
soluções para evitar problemas e sensibilização da mesma (BRASIL, 2005). A
relevância das brincadeiras realizadas nas oficinas temáticas desenvolvidas pelo
projeto foi pontuada dentre os resultados positivos encontrados. Fazer referência às
brincadeiras como desafios, bem como um convite a participação, é uma forma de
alcançar entrosamento entre participantes. Esta é uma das idéias defendidas por
Alves (2005, p.65). Segundo o autor “a inteligência gosta de brincar, o brinquedo é
tônico para a inteligência [...] Todo conhecimento começa com desafio: um enigma a
ser decifrado” e, ainda destaca que, a memória guarda somente aquilo que
proporciona prazer de aprender.
Freire (1997) relata que o processo ensino-aprendizado envolve a troca de
saberes, possibilita compartilhar conhecimentos e construir possibilidades e
propostas de melhorias afins. Para o autor, quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina a aprender. Considera que ensinar não compreende somente
transferência de informações.
Quando indagadas a respeito da influência das ações educativas em saúde
desenvolvidas pelo serviço acerca do auto cuidado e cuidados com o recém
nascido, constatou-se de forma unânime a presença de influências positivas. As
formas mais mencionadas foram a modificação dos hábitos alimentares durante a
gestação e aleitamento, o preparo das mamas para amamentar, cuidados com a
beleza e auto-estima e no preparo físico e psicológico para o parto. No que se refere
aos cuidados com recém-nascidos, as influências mais citadas foram: a oferta e
manutenção do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida; os cuidados
adequados ao coto umbilical, banho e higiene bucal; importância da vacinação;
prática de massagem e introdução da alimentação complementar adequada,
conforme os relatos apresentados:
Há influenciou na minha alimentação, pra evitar dar rachadura no mamilo,
no cuidado com meu bebe influenciou. Igual eu mesma que passei a fazer a
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higiene, pra não dar infecção. [...] Meu bebe tá no peito, ele tem quatro
meses, está no peito. Eu sempre levava ele também pra dar as vacinas na
data certa, acho que isso também influenciou. (G12)
Comigo influenciou na higiene, no cuidado com o corpo, na relação marido
e mulher, o estado emocional, psicológico também pra pode tá recebendo o
bebê, eu acho que influenciou! No cuidado com o bebê influenciou no
banho, o cuidado com a amamentação, é porque ele continua mamando,
com o coto umbilical. Todo o aprendizado foi bom, graças a Deus. (G9)
Influenciou totalmente, no cuidado com umbiguim, na amamentação na hora
e da forma certa. Como colocar pra mamar, pra arrotar, dar da maneira
certa, o bainho, tudo que eu aprendi lá influenciou no meu cuidado com ela
e até hoje influência. Hoje influencia na comidinha que eu dô pra ela, na
alimentação que não pode dar pra ela, a limpeza dos dentinhos que ela já
tem, o bainho, os cuidados de higiene. (G13)
Influenciou porque eu aprendi mais a cuidar dela, na alimentação, sobre a
massagem, o Shantala né? Também foi importante. Se eu tivesse
aprendido as coisas que a gente aprendeu antes da Vitória nascer eu acho
que seria mais fácil, eu tive dúvidas nos primeiros dias pra amamentar. (P1)
Em relação aos efeitos das ações educativas durante o pré-natal, pode-se
dizer que este é o momento mais oportuno para uma atuação preventiva, devido ao
fato da gestante estar mais disposta e sensível às discussões e diretamente
envolvida com as orientações que devem ser fornecidas pelo profissional de saúde
sobre o ciclo gravídico-puerperal (BERETA; ANDRADE, 2004). As práticas
educativas em saúde atuam como um potencializador do auto-cuidado e possibilitam
a discussão da qualidade de vida das pessoas, constituindo um desafio permanente
para os profissionais da saúde que procuram minimizar os agravos à saúde
promovidos pelos diversos fatores sociais, econômicos, físicos e culturais
(MENEZES; ROSA, 2004). As atividades educativas com gestantes e puérperas têm
como objetivo incentivar o aleitamento materno e o parto normal, realizar trabalhos
corporais e proporcionar informações e métodos para contracepção (BRASIL, 2001).
A capacidade do auto cuidado é uma habilidade adquirida pelo indivíduo,
argumento postulado por Orem (1995). Além disso, ressaltam Meneses e Rosa
(2004) que a educação em saúde objetiva potencializar o indivíduo para o autocuidado e no preparo para cuidar com intuito de manter a qualidade de vida ou
alterar hábitos que colocam em risco a conservação do bem-estar e do estado de
saúde. Destaca-se que o preparo da mesma também envolve uma abordagem de
acolhimento da mulher e seu companheiro no serviço de saúde, incluindo o
fornecimento de informações que preparam o físico e psíquico para a fase
gestacional, trabalho de parto e puerpério (BRASIL, 2001).
Concernente às facilidades encontradas pelas gestantes e puérperas
participantes do estudo em relação as ações educativas em saúde, como facilidades
foram descritas principalmente, as práticas pedagógicas trabalhadas durante os
encontros; os materiais educativos utilizados; proximidade da residência ao serviço
de saúde onde ocorrerão as atividades; horários convenientes e comuns aos grupos;
acolhimento do serviço educativo; o lanche oferecido ao final de cada atividade
educativa e a interdisciplinaridade e a participação de profissionais da saúde além
do enfermeiro, como o psicólogo, nutricionista, odontólogo, médico, assistente
social, técnico em enfermagem e técnico em saúde bucal.
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Facilidade, a vontade de aprender. Lá tinha um lugar bom, só da gente! Um
espaço pra gente se divertir, de lazer e a gente aprendeu também
bastante!Tinha materiais pra gente ver, era muito legal. Gostei muito! (G8)
Facilito os professores que tinha também, né? Que os professor foi bão
mesmo! Brinco, igual, pra fazê uns projetos assim tem que ter umas
pessoas que trata a gente bem. Que saiba passar as coisas pra gente.
Gente igual a gente! (G7)
Há, foi muito bom! É um espaço que a gente tem pra gente reuni. [...] é um
espaço pra gente se divertir, de lazer e a gente aprendeu também bastante!
(G8)
E facilidade eu acho que teve porque foi muito bem acompanhado, foi tudo
acompanhado de perto, iam nas casas, mandava os convites e isso foi uma
das grandes facilidades, não deixava a pessoa esquecê. (G9)
E facilidade, ham, há os horários, né? Era um horário bom! Há e tinha o
lanche tamem. Era muito bom, todo mundo lanchava junto e conversava
também. Eu acho também que deu pra aprender melhor na Escola da
Gestante por ter material pra gente. (G6)
Facilitou também por terem o carinho que tinham com a gente, de vim na
casa da gente, de ser uma coisa nova, levar pessoas de profissão diferente.
(G2)
O trabalho educativo é facilitado quando há parcerias, o que amplifica a
percepção da complexidade de situações-problema. A prática de grupos de apoio de
variadas áreas de conhecimento, com a participação de diferentes profissionais da
equipe de saúde enriquecem e deixam as ações educativas mais interessantes
sendo essenciais à garantia de uma abordagem integral e peculiar no atendimento
às necessidades das mulheres, de seus parceiros e familiares durante a gravidez.
Quanto aos horários a literatura demonstra que há uma necessidade de o grupo
educativo possuí-los em comum e conveniente aos seus integrantes (BRASIL, 2001;
DIERCKS; PEKELMAN, 2007).
Enfatizado como facilitador na construção do conhecimento e
desenvolvimento do auto-cuidado, o material educativo é considerado um
instrumento que possibilita o diálogo comunicacional aos indivíduos participantes da
atividade educativa e que faz a intercessão entre conhecimentos teóricos e prática.
O material educativo é definido como uma ferramenta pedagógica e deve ser
construído, se possível em conjunto com as pessoas que estão inseridas no
processo de construção do conhecimento e voltadas para a realidade social
(CARVALHO, 2007). Consideraram importantes à utilização de recursos
pedagógicos lúdicos para ilustrar as orientações de saúde e para atrair a atenção
das pessoas. Destacaram ainda a necessidade de obtenção de um ambiente
favorável, na adequação de um espaço físico para promoção da ação educativa. O
espaço físico adequado para realização da atividade educativa facilitou o
aprendizado e chamou a atenção em especial do grupo de mulheres por se tratar de
um local somente delas, para diversão e aprendizados (MENESES; ROSA, 2004).
O lanche descrito pelas entrevistadas como um fator facilitador para
realização dos encontros educativos é considerado por Borges (2005) como um
incentivo à participação, além de proporcionar melhor interação entre as integrantes
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do grupo, permiti a troca de experiências, dados pessoais, endereços. Considerado
como um importante momento de recreação ao final de cada encontro.
O acolhimento e atenção fornecida pelos profissionais responsáveis pelas
ações educativas foram considerados fatores que as motivou a participar das
atividades, portanto entendido como um facilitador para realização das ações
educativas. O profissional da saúde, especialmente o de Enfermagem é parte
fundamental no processo das ações voltadas para a promoção da saúde da mãe e
do bebe. Através de um bom acolhimento e de uma comunicação efetiva, que é
base para desenvolver ações de educação em saúde, deve-se criar condições
favoráveis para efetivar a relação com a gestante, de forma que a mesma perceba
sua atenção, seu acolhimento e sinta-se confortável, encorajada para a prática de
ações de auto-cuidado e cuidados com o bebê (SALIMENA et al., 2003).
Relativo às dificuldades à participação das gestantes e puérperas na atividade
educativa as entrevistadas destacaram como fatores dificultadores as limitações
físicas do estado gestacional para deslocamento, o distanciamento da residência ao
serviço de saúde e duas entrevistadas apontaram os horários dos encontros
desfavoráveis para as mulheres trabalhadoras. Vale ressaltar que as dificuldades
apontadas pelas participantes referem-se a dificuldades pessoais e não ligadas
diretamente a implementação das oficinas educativas tornando gratificante a
realização da ação educativa.
Ah dificultou que o posto era muito longe, né? A única coisa, que o posto
era muito longe. A barriga era super pesada. (G2)
[...] eu tive dificuldade porque no momento que teve alguns encontros da
Escola da Gestante coincidiu que eu tava trabalhando. (G4)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As práticas educativas em saúde atuam como instrumento potencializador do
auto-cuidado e no preparo para o exercício do cuidado, possibilitando a discussão
da qualidade de vida das pessoas, a modificação de hábitos prejudiciais à saúde e
ao bem-estar e a construção do conhecimento de forma coletiva, proporcionando
além do aprendizado, um momento de lazer e descontração.
A pesquisa se propôs a compreender como as ações educativas em saúde
influenciaram as mulheres gestantes e puérperas sobre o auto-cuidado e o cuidado
com recém nascidos, assim como identificar os fatores facilitadores e dificultadores
na implementação de tais ações. Pode-se concluir que os objetivos foram
alcançados, o que foi demonstrado pelas influências da atividade educativa em
relação ao auto-cuidado, especialmente no cuidado com a alimentação durante a
gestação e puerpério, assim como no cuidado com seus bebês, principalmente na
oferta e manutenção do aleitamento materno exclusivo, cuidados com o coto
umbilical e higiene do recém nascido.
A pesquisa apontou o valor que tais atividades tiveram no cotidiano das
mulheres representado por exemplos e conceitos ligados aos processos ensinoaprendizado e saúde-doença emitidos pelas próprias.
As descrições dos encontros educativos foram unanimemente satisfatórias, as
pesquisadas demonstraram aprovação e incentivo à continuidade das atividades
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educativas desenvolvidas. Destacaram a importância da construção do
conhecimento em saúde de forma coletiva e participativa, do vínculo entre os
profissionais da saúde e o grupo educativo, da didática de ensino trabalhada nas
oficinas temáticas e dos recursos pedagógicos lúdicos. O fato das ações educativas
em saúde serem abordadas de forma coletiva e serem desenvolvidas de forma
didática e planejada torna-se um constante desafio para todos os profissionais
envolvidos uma vez que estimula-os a superar dificuldades e ter criatividade para
inovar e ousar, amplificando o conceito de saúde.
Foi demonstrado através da pesquisa que as influências da educação em
saúde se fizeram satisfatórias no que tange o auto-cuidado das mães e cuidados
com recém nascidos, o que confere aos profissionais de saúde, especialmente aos
de enfermagem a importância de desenvolver e fomentar novos formatos de
trabalho como as atividades coletivas de educação em saúde no sentido de agregar
e complementar a assistência ao pré-natal, melhorar a qualidade de vida dessas
mulheres e recém nascidos, movimentos capazes de contribuir e apoiar a redução
da mortalidade materno-infantil no contexto brasileiro.
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