Nome: Português Português Turma: Nº: 2º ano Texto 02 João João fev/0 fev/08 /08 “Bebel”, a vilã que conquistou o público Reunir-se em frente à televisão após o jantar para assistir à novela “das oito” tornou-se um hábito nos lares brasileiros. Vista por milhões de brasileiros, a novela dita moda, linguagem, hábitos e, principalmente, influencia o comportamento dos mais jovens. É na adolescência que o jovem vai formando sua personalidade e, portanto, fica mais suscetível a ser influenciado. (Valéria Vanine, psicóloga, em Adolescência e telenovela: uma perspectiva crítico-interpretativa, Dissertação de Mestrado – Unesp) Antigamente, as novelas eram divididas em dois tipos de personagens: o bandido ou vilão e o mocinho. Cada um deles tinha um perfil bem definido: o bandido era mau, tinha uma cara feia e era capaz das piores atrocidades. O mocinho, ao contrário, estava do lado do bem, protegia os mais fracos e se comportava como um exemplo a ser seguido. Mas será que os bandidos são sempre maus, feios e temidos? Não têm amigos e não sentem amor por ninguém? E os mocinhos? São sempre justos e bondosos? Não se irritam nem se vingam? Vejamos o que ocorre com nossos personagens nas novelas de hoje. Em busca de se ajustar aos tempos modernos e ao gosto do público, a novela passou por transformações. Seus personagens, principalmente os bandidos, passaram por mudanças. Conhecidos como vilões, passaram a ser mais divertidos, bonitos e até capazes de boas ações, desde que obtenham alguma vantagem. Essas novas características deixaram os bandidos mais humanos e, portanto, mais parecidos com o espectador, que passou a torcer, também, pelo, agora simpático, vilão. Na última novela de enorme sucesso, Paraíso Tropical, o casal de vilões Bebel e Olavo foram os queridinhos do público, desbancando os mocinhos, que, de tão justos e bons, pareciam bobos. Estes eram capazes de alguma vingança, mas não empolgavam muito. No entanto, Bebel, com muita “catiguria”, caiu nas graças do povo. Era engraçada, bonita, bem-humorada e, principalmente, tinha uma vontade gigantesca de se dar bem na vida. Parecia mais humana e mais real. Com isso, o espectador foi se identificando com ela, até transformar isso em torcida para que a personagem conseguisse seus objetivos. Esse processo de simpatia e de identificação com uma prostituta charmosa, porém golpista, passa a ser perigoso, pois o público deixa de perceber que suas atitudes não são honestas ou “politicamente corretas” e acabam desculpando-a, dizendo que ela está apenas lutando por seus ideais. Considerando que seja justo buscar realizar nossos sonhos, vale pensar: é justo não medir esforços para alcançá-los? É justo agir de forma errada para conseguir tudo? Bebel, por exemplo, no fim da novela, tornou-se amante de um político corrupto, participou de diversas tramóias contra outras pessoas e desejava virar celebridade posando nua em uma revista masculina. Podemos chamar isso de se dar bem na vida? Semelhante a um jogo de espelhos, a novela influencia o povo e pelo povo é influenciada, criando um círculo perigoso de exemplos e de modelos. Basta observar o slogan da emissora líder de audiência: “A gente se vê por aqui.” Pense nisso e na torcida por quem você estará na próxima novela. Por João Jonas V. Sobral, professor de Português do Ensino Médio.