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Português
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2º ano
Texto 02
João
João
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“Bebel”, a vilã que conquistou o público
Reunir-se em frente à televisão após o jantar para assistir à novela “das
oito” tornou-se um hábito nos lares brasileiros. Vista por milhões de
brasileiros, a novela dita moda, linguagem, hábitos e, principalmente,
influencia o comportamento dos mais jovens. É na adolescência que o jovem
vai formando sua personalidade e, portanto, fica mais suscetível a ser
influenciado. (Valéria Vanine, psicóloga, em Adolescência e telenovela: uma
perspectiva crítico-interpretativa, Dissertação de Mestrado – Unesp)
Antigamente, as novelas eram divididas em dois tipos de personagens: o
bandido ou vilão e o mocinho. Cada um deles tinha um perfil bem definido: o
bandido era mau, tinha uma cara feia e era capaz das piores atrocidades. O
mocinho, ao contrário, estava do lado do bem, protegia os mais fracos e se
comportava como um exemplo a ser seguido.
Mas será que os bandidos são sempre maus, feios e temidos? Não têm
amigos e não sentem amor por ninguém? E os mocinhos? São sempre justos e
bondosos? Não se irritam nem se vingam? Vejamos o que ocorre com nossos
personagens nas novelas de hoje.
Em busca de se ajustar aos tempos modernos e ao gosto do público, a
novela passou por transformações. Seus personagens, principalmente os
bandidos, passaram por mudanças. Conhecidos como vilões, passaram a ser
mais divertidos, bonitos e até capazes de boas ações, desde que obtenham
alguma vantagem. Essas novas características deixaram os bandidos mais
humanos e, portanto, mais parecidos com o espectador, que passou a torcer,
também, pelo, agora simpático, vilão.
Na última novela de enorme sucesso, Paraíso Tropical, o casal de vilões
Bebel e Olavo foram os queridinhos do público, desbancando os mocinhos,
que, de tão justos e bons, pareciam bobos. Estes eram capazes de alguma
vingança, mas não empolgavam muito.
No entanto, Bebel, com muita “catiguria”, caiu nas graças do povo. Era
engraçada, bonita, bem-humorada e, principalmente, tinha uma vontade
gigantesca de se dar bem na vida. Parecia mais humana e mais real. Com isso,
o espectador foi se identificando com ela, até transformar isso em torcida para
que a personagem conseguisse seus objetivos.
Esse processo de simpatia e de identificação com uma prostituta
charmosa, porém golpista, passa a ser perigoso, pois o público deixa de
perceber que suas atitudes não são honestas ou “politicamente corretas” e
acabam desculpando-a, dizendo que ela está apenas lutando por seus ideais.
Considerando que seja justo buscar realizar nossos sonhos, vale pensar:
é justo não medir esforços para alcançá-los? É justo agir de forma errada para
conseguir tudo? Bebel, por exemplo, no fim da novela, tornou-se amante de
um político corrupto, participou de diversas tramóias contra outras pessoas e
desejava virar celebridade posando nua em uma revista masculina. Podemos
chamar isso de se dar bem na vida?
Semelhante a um jogo de espelhos, a novela influencia o povo e pelo
povo é influenciada, criando um círculo perigoso de exemplos e de modelos.
Basta observar o slogan da emissora líder de audiência: “A gente se vê por
aqui.” Pense nisso e na torcida por quem você estará na próxima novela.
Por João Jonas V. Sobral, professor de Português do Ensino Médio.
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