Dia internacional de luta contra as barragens Os atingidos e ameaçados por barragens do estado de Goiás se mobilizam O modelo energético baseado na construção de barragens apresenta, somente para o estado de Goiás, 79 projetos de hidrelétricas. Considerando que a região Centro Oeste é o berço das águas, e estas irão formar importantes bacias em outras regiões, fica totalmente condenável a construção de barragens em rios do Cerrado. O impacto social não é menor e nem menos importante. Nos vales dos rios moram pequenos agricultores que abastecem as cidades da região com produtos de subsistência, mas muitos já foram expulsos de suas terras pela expansão da cultura da soja e pela construção das hidrelétricas. O impacto político também nos preocupa no momento em que aspectos importantes à soberania do Brasil, como energia e água, ficam sob o controle de empresas internacionais. E por fim o impacto econômico que causa grandes problemas ao país devido ao fato do próprio governo financiar barragens que estarão sob o controle do capital estrangeiro por 35 anos ou mais. Tractebel e Furnas, empresas que trouxeram a fome e a miséria para a região A situação dos atingidos pelas barragens de Cana Brava e Serra da Mesa, só piorou depois da construção das obras. Nas duas barragens, quase 3740 famílias moravam e trabalhavam próximas aos rios Tocantins, São Felix e Rio Preto, eram famílias de carpinteiros, meeiros, leiteiros, arrendatários, freteiros e também viviam da extração de ouro. Na sua maioria eram famílias descendentes de calungas que ali criaram seus filhos, netos e bisnetos. Em 1995, os atingidos pela Barragem de Serra da Mesa foram surpreendidos pelos funcionários de Furnas e a partir de 1998, foram os atingidos por Cana Brava que tiveram a presença dos funcionários da Tractebel. Estas pessoas chegaram fazendo propagandas de que na região construiriam barragens. As propagandas enganavam as pessoas dizendo que receberiam uma boa indenização. Mas até hoje as pessoas atingidas por Cana Brava e Serra da Mesa esperam a indenização que ainda não chegou. 70% das famílias ainda não receberam nem um tipo de ajuda. Não houve um processo de discussão, informação e negociação com as populações locais, anterior à construção da obra. Todos os levantamentos realizados pela empresas construtoras foram feitos sem o conhecimento e participação da população atingida. Os funcionários das empresas, sem o consentimento das famílias, “invadiram” as terras dos atingidos para abrir picadas e colocar as demarcações. Nós, atingidos, denunciamos as conseqüências da construção das barragens: Estradas: as estradas foram alagadas, sendo Água: a água do rio era fundamental para a que em muitos casos houve isolamento dos população sobreviver. Nas terras atingidas ribeirinhos. Hoje as poucas estradas encontramexistia um grande número de nascentes e pequese abandonadas e as promessas de abertura de nos riachos. A água era abundante, hoje é escasnovas estradas não foram cumpridas. sa, pois a água do lago não é de boa qualidade e os atingidos têm acesso restrito a ele. As empreCrédito para produzir alimentos: com a sas prometeram a perfuração de poços artesianotícia da obra, os atingidos nunca mais tiveram Nós, nos, mas até agora isso atingidos não aconteceu. pela barragem de Tucuruí, acesso ao crédito para o plantio de suas lavouras. denunciamos: famílias Terra: era dos pequenos lotes que as Situação dos pescadores e garimpeiros: a tiravam seu sustento, seu trabalho e sua renda. empresa não reconheceu o direito de garimpeiQuase a totalidade das famílias tem uma ligação ros, de pescadores e de meeiros. Hoje os mesmuito próxima com a terra. Mesmo os mineradomos estão nas favelas. res também plantavam durante certo período do ano, para a subsistência das suas famílias. A pauta de negociações de Cana Brava e Serra da Mesa até hoje não foi atendida Às empresas é solicitado: 1 Verba para manutenção das famílias: manter repasse de recursos sob rubrica “Verba Manutenção” para as famílias atingidas. 2 Terra para reassentamento das famílias. 3 Convênio para contratação de Equipe Técnica para prestação de assessoria técnica agrícola e social. 4 Instalação de infraestrutura mínima para as famílias, como casas, escolas, estradas, etc. Ao governo federal é solicitado: 1 Suspensão da Licença de Operação destas barragens por parte do Órgão Ambiental por descumprimento das exigências legais. 2 Manutenção por parte do governo federal do repasse de cestas básicas para as famílias. 3 Enquadramento das famílias na “Linha de Crédito Especial para os Atingidos Por Barragens”. 4 Programa de Educação - Alfabetização de Jovens e Adultos: continuação do convênio junto ao Ministério de Educação vinculado a Secretaria de Educação do Campo. Barragem de Serra do Facão A barragem de Serra do Facão, projetada para o Rio São Marcos, licenciada em 2002, atingirá cerca de 400 famílias dos municípios de Catalão, Davinópolis, Campo Alegre de Goiás, Ipameri, Cristalina, em Goiás e Paracatu em Minas Gerais. A obra é do Grupo de Empresas Associadas Serra do Facão, formado pelas empresas ALCOA, Votorantin, DME Energética, Companhia Brasileira de Alumínio / CBA, Cimentos Itambé. As comunidades ameaçadas, na sua grande maioria, são de pequenos agricultores, mineradores, meeiros e produtores de leite. O ano de 2004 foi particularmente importante para os atingidos de Serra do Facão. Com a luta do povo organizado no MAB e com Associação de Pescadores do Estado de Goiás, a licença de insta- lação foi suspensa, pois o projeto é predatório no que tange há procriação das espécies de piracema que não teriam como subir o rio, a montante da barragem, para encontrarem um local ideal para a desova. Isso motivou os atingidos a continuarem impedindo o início da construção desta barragem que trará inúmeros problemas a todos. E para fortalecer a luta, tivemos a inclusão dos moradores das margens do Rio Veríssimo, atingidos pelas barragens de Goiandira e Nova Aurora, que agora passam a conhecer a realidade do modelo energético brasileiro e saber de que forma toda a sociedade é atingida. Com a organização, o povo começa a entender e a se perguntar: o que está por trás da energia que consumimos? Qual a posição do governo? Quais as atitudes das empresas? Águas para a vida, não para a morte!