BRAZIL TRANSLATIONS
Número 14
BTS NEWS
Brasil\Setembro\2014
CADA EMOÇÃO
TEM VOZ PRÓPRIA
Os limites
da razão e da
emoção na
interpretação
simultânea
O conhecimento de causa sobre um
tema facilita muito o trabalho do
intérprete, especialmente quando se
trata de um assunto de que ele
gosta. Frequentemente, contudo,
trabalhamos com temas que nos são
novos ou que nos trazem algum tipo
de dificuldade. Nesses casos, a preparação
torna-se
fundamental,
exigindo muitas horas de estudo
para um bom trabalho.
É claro que cada um tem seus próprios limites, e também há de se
pesar a relação custo x benefício de
Estamos também:
www.brazilts.com.br
uma longa empreitada que trará
poucos frutos. Em situações extremas, há temas que são complexos
demais ou com os quais o intérprete
não tem afinidade alguma, caso em
que pode ser preferível não trabalhar
com eles. Conhecer nossas limitações
nos permite minimizar problemas
decorrentes de nossas debilidades.
Esse entendimento é muito claro
quando falamos de áreas de conhecimento extremamente específicas,
como implantologia canina ou engenharia naval para climas glaciais, por
Download: clique com botão direito do mouse e salve como
Você recebeu este e-mail porque seu endereço está cadastrado no banco de dados da BTS.
Para sair desta lista, envie um e-mail para [email protected] com a palavra ‘sair’.
BTS News - ©2014 Todos os direitos reservados.
BRAZIL TRANSLATIONS BTS News | N. 14 | Setembro | 2014
exemplo. Mas haverá limitações quando
tratamos de algo mais próximo de nós
mesmos e de nossa vida cotidiana? Tomemos o tema da vez, a política e a relação do
trabalho do intérprete com o ente político
cuja ideologia pode ser francamente contrária à dele. Como manter a necessária e
tão apregoada “neutralidade”? Será possível evitar que as opiniões pessoais do intérprete afetem a qualidade do seu trabalho?
Falemos primeiro da “neutralidade”, apontada como um dos princípios fundamentais
da profissão de intérprete. Será possível
sermos totalmente “neutros” nessas situações? Aliás, podemos mesmo ser neutros?
O próprio conceito de neutralidade está
ligado à ciência positivista do final do
século XIX, segundo a qual o estrito respeito ao método seria capaz de eliminar qualquer tipo de interferência ou viés do observador. Essa percepção, porém, é questionada, desde o surgimento do princípio da
incerteza, de Heisenberg. De acordo com
ele, não se pode determinar com precisão e
simultaneamente a posição e o momento
de uma partícula.
A interpretação simultânea, claro, não é uma
ciência exata. É, talvez, uma forma de arte,
praticada por seres humanos, que vivem,
riem, choram, comem, respiram, leem
jornais, acessam a Internet etc. Nesse particular, vale lembrar o que disse John Donne,
"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si
mesmo; todos são parte do continente". Ou
seja, vivemos no mundo do qual somos
parte e com o qual interagimos. Neste caso,
falamos das relações pessoais do intérprete
com a vida e com os elementos que a
moldam e fazem dela melhor ou pior. Podemos também tomar a concepção de Perls,
que afirma: “A realidade em si não existe
para o ser humano. É algo diferente para
cada indivíduo, cada grupo e cada cultura. A
realidade é determinada pelas necessidades
e interesses específicos do indivíduo."
Estamos também:
“Tudo o que ouvimos
é uma opinião, não um
fato. Tudo o que vemos
é uma perspectiva,
não a verdade”
Marco Aurélio, filósofo estóico e
imperador romano (161-180)
Assim, dois observadores jamais poderão ver exatamente a mesma coisa, pois
sempre a perceberão por ângulos diferentes. Essa é uma questão real e preocupante no universo da interpretação
simultânea, em que os profissionais
raramente conseguem se manter imparciais. Estaríamos, então, diante de um
problema insolúvel? Pensemos sobre o
conceito de comunicação. A palavra
provém do latim “communis”, que significa comum. Portanto, ao nos comunicarmos estabelecemos algo em comum
com alguém. Ou seja, ainda que todos
tenhamos um universo próprio individual e uma percepção única dele, há um
“núcleo interno” que é comum ao grupo
e que passa a ser o elemento a buscar
no trabalho de interpretação.
Para concluir, cito um trecho da obra “O
ator como atleta das emoções: o rasaboxes”, de Michele Minnick e Paula
Murray Cole: “Não podemos mais
pensar nas emoções como tendo menos
validade que a substância física, material; ao contrário, devemos vê-las como
sinais celulares que estão envolvidos no
processo de traduzir informações em
realidade física, literalmente transformando mente em matéria. Emoções são
as conexões entre matéria e mente,
transitando de uma para outra e
influenciando-se mutuamente.”
Marco Antonio Castilho, 48, é tradutor e
intérprete e faz parte do time de profissionais da Brazil Translations & Solutions
www.brazilts.com.br
Download: clique com botão direito do mouse e salve como
Você recebeu este e-mail porque seu endereço está cadastrado no banco de dados da BTS.
Para sair desta lista, envie um e-mail para [email protected] com a palavra ‘sair’.
BTS News - ©2014 Todos os direitos reservados.
Download

CADA EMOÇÃO TEM VOZ PRÓPRIA