Edição Especial - Experiências Exitosas em Vigilância à Saúde do Trabalhador
no Estado de Alagoas
Editorial
É com satisfação que apresentamos as
experiências exitosas e as produções técnicas
científicas da Diretoria de Vigilância em Saúde do
Trabalhador - DIVISAT nos anos de 2009 e 2010,
em Alagoas.
Nesta edição, os três Trabalhos abordados
referem-se aos seguintes temas: 1- Distúrbios
Vocais em professores: Perfil das licenças médicas
do estado de Alagoas; 2- Capacitação em Ações
de Saúde do Trabalhador na Atenção Básica Integrada com a Vigilância em Saúde Ambiental,
Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica e
Promoção da Saúde; 3- Estudos sobre
Intoxicações por Agrotóxicos: Uma contribuição na
organização
dos
serviços
de
Vigilância
Epidemiológica.
Destacamos a relevância dos temas apresentados
bem como podemos constatar nas evidências neles
descritas o quanto contribuem para melhoria da
qualidade da informação e consequentemente das
ações de Vigilância em Saúde.
Gardênia Souza Freitas de Santana
Diretora da DIVISAT/AL
relacionado ao uso excessivo da voz, ocasionando
trauma das pregas vocais, sendo a laringite o achado
mais frequente¹.
Autores
apontam
também
associações
significativas entre idade, sexo, profissão, hábitos de
vida e o problema de voz em professores. No entanto, é
importante ressaltar diversos fatores ambientais que
podem estar relacionados ao trabalho indiretamente e
contribuem para o problema, como por exemplo,
exposição a irritantes químicos condições inadequadas
de temperatura e umidade, ruídos de fundo e acústica
ruim².
Objetivo
Caracterizar o perfil das licenças médicas entre
professores do ensino público estadual e identificar as
características de subgrupos que concentrem maiores
quantidades de afastamentos das atividades em sala de
aula em decorrência dos distúrbios vocais.
Métodos
Ao universo de estudo foram agregadas
informações referentes às 57 licenças médicas cedidas
pela Diretoria de Perícias Médicas e Saúde Ocupacional
Estadual, publicadas em Diário Oficial no ano de 2007.
As tabulações dos dados e a análise estatística foram
realizadas por meio da utilização do aplicativo Epi Info
versão 3.3.2.
Resultados e Discussão
Distúrbios vocais em professores:
Perfil das licenças médicas do estado
de Alagoas
Maria da Conceição Pessoa-Santana*; Bárbara Niegia Garcia Goulart**;
Brasilia Chiari***
Introdução
O interesse em investigar a relação entre a
disfonia e o trabalho docente tem crescido nos últimos
anos. Estudos têm relacionado a atividade ocupacional a
esse sintoma e acredita-se que o principal fator esteja
Dos 57 professores entrevistados, 35(61,4%)
eram do gênero feminino e a média de idade foi de
45,88 anos (dp=5,37). Como em outros estudos,
verificou-se a maior suscetibilidade das laringes
femininas ao impacto vocal³.
As características da amostra referentes ao
estado civil, escolaridade, tipo de ensino e carga horária
semanal de trabalho podem ser visualizados na tabela
1. Os resultados foram análogos aos apresentados em
determinado estudo, que referiu que ser mulher,
professora, com idade entre 40-59, ter 16 ou mais anos
de professorado são uma associação de fatores que
aumentam o risco de alterações vocais³.
As comparações estatísticas deste estudo
verificaram associações significativas importantes em
relação aos fatores organizacionais: tipo de ensino
1
INFORME TRIMESTRAL DA VISAT
(fundamental e médio), carga horária semanal (maior que
40 horas semanais), tempo de docência (23,75 anos),
quantidade de escolas na carreira (4,63), quantidade de
escolas no período da realização da coleta dos dados (1,42)
e tempo na escola em que lecionava (9,47 anos). Os
nódulos vocais predominaram quanto ao motivo das
licenças médicas (49,1%). Outros autores também
,4
apontaram resultados semelhantes³ .
Quanto aos fatores ambientais, apenas as variáveis
escola ruidosa, fonte de ruído e poeira apresentaram
associações significativas com os distúrbios vocais, com
valores de p iguais a 0,01. A presença desses fatores pode
acarretar condições ambientais adversas à execução das
4,5
atividades docentes .
Conclusão
As licenças médicas entre professores do ensino
público estadual, no ano de 2007, caracterizaram-se por
profissionais com tipos de ensino fundamental e médio,
carga horária semanal superior a 40 horas semanais, média
de tempo de docência 23,75 anos, média de 4,63 escolas
durante carreira profissional e tempo na escola em que
lecionava em torno de 9,47 anos. O ruído, a poeira e o pó de
giz foram os fatores ambientais que mostraram relação
estatisticamente significante com distúrbios vocais.
É primordial que a análise dos dados referentes às
licenças dos professores seja efetivamente utilizada para o
planejamento de ações direcionadas à melhoria das
condições de trabalho, buscando a diminuição dos
afastamentos em virtude dos transtornos vocais e as
comorbidades associadas a estes. Outros estudos que
busquem
uma compreensão
mais
detalhada
das
relações de causa e efeito relacionadas ao ambiente de
trabalho e os distúrbios vocais devem ser realizados, a fim
de que contemos com evidências mais robustas para ações
de prevenção das disfonias relacionadas às atividades
laborais docentes.
ANO II
Nº 07 SETEMBRO/2010
Tabela 1 – Distribuição percentual de professores
segundo o estado civil, a escolaridade, o tipo de
ensino e a carga horária semanal
Variável
n (%)
Estado civil
Solteiro
3(5,3)
Casado
49(86)
Separado
5(8,8)
Escolaridade
Superior Completo
41(71,9)
Superior em andamento
7(12,3)
Superior incompleto
0
Médio completo
4(7)
Outros
5(8,8)
Tipo de ensino
Fundamental + médio
35(61,4)
Infantil + fundamental
3(5,3)
Médio
0
Fundamental
8(14)
Infantil
11(19,3)
Carga horária semanal de
trabalho
10 a 20 horas
5(8,8)
20 a 30 horas
11(19,3)
30 a 40 horas
13(22,8)
> 40 horas
15(26,3)
Não atua
13(22,8)
Expediente
O Informe Trimestral de Vigilância à Saúde do Trabalhador VISAT é uma publicação oficial do Serviço de Informação e
Análise da Diretoria de Vigilância à Saúde do Trabalhador
da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, divulgado por
meio eletrônico e impresso.
Governador do Estado: Teotônio Vilela Filho
Secretário de Estado da Saúde: Alexandre de Melo Toledo
Superintendente de Vigilância à Saúde: Sandra Tenório
Accioly Canuto
Diretora de Vigilância à Saúde do Trabalhador: Gardênia
Souza Freitas de Santana
Editoração Eletrônica: Maria das Graças Cajueiro Rêgo
Revisão: Gardênia Souza Freitas de Santana e Maria da
Conceição Pessoa Santana
Endereço para correspondência: [email protected]
Disponibilizado na página: www.saude.al.gov.br
Tiragem – 2.000 exemplares
Referências
1. Jones K, Sigmon J, Hock L, Nelson E, Sullivan M,
Ogren F. Prevalence and risk factors for voice problems
among telemarketers. Arch Otolaryngol Head Neck Surg.
2002;128:571-7.
2. Williams NR. Occupational groups at risk of voice
disorders: a review of the literature. Occup Med.
2003;53:456-60.
3. Schawrz K, Cielo CA. A voz e as condições de
trabalhos de professores de cidades pequenas do Rio
Grande do Sul. Rev Soc Bras Fonoaudiologia.
2005;10(2):83-90.
4. Roy N, Ryker KS, Bless DM. Vocal violence in actors:
an investigation into its acoustic consequences and the
effects of hygienic laryngeal release training. J Voice.
2000;14:215-30.
2
INFORME TRIMESTRAL DA VISAT
5. Ruotsalainen JH, Sellman J, Lehto L, Jauhiainen N,
Verbeek JH. Interventions for preventing voice disorders in
adults. Cochrane Database Syst Rev. 2007, oct 17;
(4):CD006372.
6. Roy N, Merril RM, Thibeault S, Parsa RA, Gray SD, Smith
EM. Prevalence of voice disorders in teachers and the
general population: efetts on work performance, attendance,
and future carrier choises. J Speech, Language and Hearing
Research. 2004;47:542-551.
*Mestre em Ciências pela UNIFESP; Especialista em
Linguagem pelo CFFa; Aperfeiçoamento em Gestão da
Atenção Primária pela Universidade de Toronto;
Fonoaudióloga e Preceptora de Estágio da UNCISAL e da
SESAU;
**Pós-Doutoranda em Ciências [Fonoaudiologia] pela
UNIFESP. Professora Adjunto da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul;
****Professora Titular e Livre Docente do Departamento de
Fonoaudiologia da UNIFESP.
Esta pesquisa é parte da dissertação apresentada à
Universidade Federal de São Paulo para obtenção do
título de mestre em Ciências de Maria da Conceição
Carneiro Pessoa de Santana.
Capacitação em Ações de Saúde do
Trabalhador na Atenção Básica –
Integrada com a Vigilância em Saúde
Ambiental, Vigilância Sanitária,
Vigilância Epidemiológica e Promoção
da Saúde.
ANO II
Nº 07 SETEMBRO/2010
Métodos
Verificou-se que a metodologia ativa facilita o
processo de ensino-aprendizagem com a elaboração
das técnicas de mapa falante, plano de ação e
dramatização.
Participaram da proposta os 12
municípios signatários dos Termos de Compromisso de
Gestão Municipal e os Termos de Adesão das
Unidades Sentinelas que constam na Portaria GB/SES
Nº 299 de 10/08/2009. As capacitações ocorreram no
período de 13/08 a 11/12/2009 e de 24/03/2010 até o
momento em execução.
Resultados
Dez meses após o início das capacitações,
avaliando o período de janeiro a julho dos anos 2008,
2009 e 2010, constatou-se um aumento das
notificações dos acidentes e das doenças relacionadas
ao trabalho com incremento de 28,71% em 2009 com
relação às de 2008, mantendo em 2010 a mesma
média de registro do ano anterior.
Conclusão
Apenas três agravos aparecem no SINAN, o que
não corresponde à realidade do perfil epidemiológico
do trabalhador alagoano, pois na Previdência Social
são registrados vários outros agravos relacionados à
atividade laboral, ratificando a necessidade de manter
as capacitações de forma sistemática.
Gardênia Souza Freitas de Santana, Carlos Eduardo Lyra Filho, Flávia
Lima, Ielda Vasconcelos, João Carlos Silva dos Santos, Josias Moraes
Pimentel, Maria Aparecida Martins, Maria da Conceição Carneiro Pessoa de
Santana, Maria das Graças Cajueiro Rego, Nicaula Lima, Sônia de
Mendonça Gama, Teresinha de Jesus Gomes Costa
Objetivo Geral
Capacitar em ações de Saúde do Trabalhador na
Atenção Primária os trabalhadores de nível médio e
universitário, com o propósito de instrumentalizá-los,
proporcionando a inserção na rotina das ações de Vigilância
à Saúde e o maior número de notificações.
Objetivos Específicos




Identificar as unidades produtivas e os fatores de
riscos dos trabalhadores;
Reconhecer a relação entre o trabalho e o processo
saúde – doença;
Definir ações de promoção da saúde do trabalhador;
Orientar e encaminhar o trabalhador adoecido ao
serviço de saúde.
3
INFORME TRIMESTRAL DA VISAT
Estudo sobre Intoxicações por
Agrotóxicos: uma contribuição na
organização dos serviços de
Vigilância Epidemiológica.
José Lourenço das Brotas Neto, Marlene Soares dos Prazeres,
Teresinha de Jesus Gomes Costa, Ticiano Gomes do Nascimento
Introdução
No estado de Alagoas, a principal atividade é a
cultura da cana-de-açúcar, seguida pelo cultivo de fumo.
Objetivo
Conhecer a magnitude das intoxicações por
agrotóxicos das regiões fumageira e canavieira do estado
de Alagoas.
ANO II
Nº 07 SETEMBRO/2010
internados por envenenamento acidental, 46,1% com
envenenamento por agrotóxicos e 30,2% por tentativa de
suicídio /envenenamento.
Sugestões
Realizar oficinas em comunidades agrícolas para
discutir as questões referentes aos agrotóxicos e os
cuidados que devem ser adquiridos pelos trabalhadores
expostos aos agrotóxicos; Promover reuniões periódicas
com a equipe de saúde local, com o propósito de
capacitá-los no serviço.
Avanços Conseguidos
A Superintendência em Vigilância à Saúde,
tem definido as responsabilidades que competem às
vigilâncias sanitária, epidemiológica, saúde ambiental
e promoção à saúde.
Métodos
Estudo Epidemiológico Retrospectivo, numa série
histórica de dez anos, (1998 a 2007).
Produção de Informações
Fonte Secundária por meio dos Sistemas Oficiais
de Informações: SIM, SINAN, SIA e AIH.
Tratamento dos Dados
Estatística Básica com tabelas e gráficos.
Resultados
No Sistema de Informação de Agravos de
Notificação - SINAN, foram notificados 519 casos de
intoxicações por agrotóxicos, distribuídos na maioria dos
municípios da região fumageira do estado de Alagoas.
Figura – Localização geográfica das regiões fumageira e
canavieira de Alagoas
Referências
Rouquayrol,M.Z. Almeida Filho, N. Epidemiologia e
Saúde. Rio de Janeiro, MEDSI, 2003.
No Sistema de Informação de Mortalidade - SIM,
a maioria dos óbitos (71%) ocorreram nos hospitais
estaduais, e o motivo principal foi pelos efeitos tóxicos
causados por substâncias de origem não medicinal e por
envenenamento acidental por outras substâncias
químicas nocivas.
Brasil. Organização Pan-americana da Saúde. Manual de
Vigilância da Saúde de Populações Expostas à
Agrotóxicos. Brasília, OPAS, 1997.
______. Programa de Treinamento em Epidemiologia
Aplicada aos Serviços do SUS. Intoxicação Aguda
Relacionada à Cultura do Tabaco. Relatório preliminar.
Brasília, 2007.
______. Diretrizes para Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador de Complexidade Diferenciada. Protocolo de
Atenção à Saúde dos Trabalhadores Expostos a
Agrotóxicos. Brasília, 2006.
Ao analisar o Sistema de Informação Hospitalar SIH, em um dos hospitais de emergência do Estado, nos
anos 2004 a 2007, foram atendidos 3.296 pacientes com
diagnóstico de
intoxicações
por
Agrotóxicos/
envenenamento. Sendo desses
pacientes (23,6%),
Faria N.M.X. et al. Intoxicação por Agrotóxicos no Brasil:
os sistemas oficiais de informação e desafios para
realização de estudos epidemiológicos. In: Ciência e
saúde Coletiva: Agrotóxicos, Saúde e Ambiente.
ABRASCO, v.12,n.1, janeiro-março 2007.
A predominância das intoxicações ocorreu na
faixa etária de 15 a 24 anos, no masculino com 52% dos
casos notificados.
4
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boletim_03-03-2015_10-44-11_Informe Visat_07_2010